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conhecimento. Desde a antiguidade até autores contemporâneos, tal categoria tem sido
adotada com significados certas vezes próximos, certas vezes profundamente divergentes. Em
sua concepção clássica, a “catarse” é entendida no sistema aristotélico como efeito último da
tragédia e tem como objetivo purgar os espectadores do sentimento socialmente não aceito
abordado no drama, reforçando assim a coesão e o status quo social (Boal, 1991).
à reação estética provocada pela arte. A arte é mais que o contágio emocional. Ela transforma
contraditórios que geram uma explosão afetiva, a qual terá como produto um novo
sentimento. Segundo ele, não se trata apenas de potencializar sentimentos já existentes, mas
arte como necessidade de relaxamento fisiológico diante de duro trabalho. Mesmo hoje a arte
ainda visa aliviar e organizar sentimentos sociais. Seria a arte uma técnica social dos
leva a uma ação especifica, mas é capaz de potencializar e energizar o corpo. O autor
defende que a arte deve desempenhar um papel de grande importância no momento de
revolução social pelo qual passa a União Soviética dos anos 20 do século passado. De acordo
com Vigotski (1998), a arte é imprescindível para a criação do “novo homem”, o homem
Gramsci (2007), por sua vez, entende que a discussão sobre a transformação da arte
transformação da cultura e da vida moral se faz imprescindível para a mudança social em sua
relacionado às artes, mas sim a política. Política no sentido “amplo” gramscinano está presente
em qualquer forma de práxis que supere a recepção ou manipulação passiva dos dados imediatos
e se dirija conscientemente a níveis mais universais da totalidade do real. Além disso, nessa
acepção ampla, a política se dá também nos momentos nos quais é possível, a partir da cadeia de
causalidades impostas pelas necessidades, alcançar o nível da teleologia, ou seja, ser capaz de
com liberdade, e assim sendo, é elemento (real ou potencial) ineliminável de todas as esferas do
ser social e sinônimo de “catarse”. Segundo Gramsci, a “catarse” se refere ao processo pelo
ético-político. Ou seja, ele defende que por meio da “catarse” os sujeitos deixariam de ser
históricas concretas.
podemos realizar algumas ponderações. Vigotski escreve sua obra em uma sociedade “pós-
da arte naquele contexto em movimento. Gramsci, por sua vez, está escrevendo no cárcere de
uma sociedade dirigida pelo fascismo. Provavelmente tal conjuntura política influencia
profundamente a concepção que o autor italiano possui sobre o papel revolucionário da arte,
social.
que gerem uma organização social de caráter emancipador, passa necessariamente não apenas
pelos conceitos e/ou saberes dos sujeitos, mas também pelas formas de tais sujeitos sentirem a
realidade. Gramsci (Coutinho, 2011, p. 322) escreve: “É fato pacífico que a ‘clareza’
intelectual dos termos da luta é indispensável, mas esta clareza é um valor político quando se
torna paixão difundida e é premissa de uma forte vontade”. Nesse e em outros trechos
Vigotski (2001), por sua vez, defende a necessidade de entender a subjetividade como
um sistema no qual diversas funções psicológicas relacionam-se entre si, compondo diferentes
dramas subjetivos. Os afetos, assim como outras funções psicológicas superiores, comporiam
o drama subjetivo e seriam compostos a partir das relações sociais e da realidade história na
qual o indivíduo está inserido. Ou seja, o comportamento humano não pode ser compreendido
fora do campo dos afetos. No que diz respeito especificamente ao meio político, o autor
soviético escreve – corroborando com os relatos de John Reed (2010) - como a revolução
russa foi levada a cabo em última instancia não por heróis ou líderes, mas sim, pelo povo. Em
sua resenha ao livro de Reed, Vigotski relata que o povo era o coração apaixonado que
Por fim, a partir dos elementos destacados das obras de Vigotski e Gramsci, podemos
propostas. Porém, até o momento entendemos que o processo de catártico gramsciano pode
ser entendido como uma ampliação da ideia de conscientização, pois esse não se refere apenas
sua práxis política. A “catarse” vigotskiana aborda a potencialidade existente nos afetos, mas
ressalta que, assim como uma navalha, os afetos podem ser utilizados para fins diversos – não
sociais e políticos específicos, possa abrir possibilidades para superar o momento meramente
Palavras chaves: Vigotski; Gramsci; catarse; psicologia política; participação politica; afeto.
BIBLIOGRAFIA
Coutinho, C. N. (2007). Gramsci: Um estudo sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro,
RJ: Civilização Brasileira.
Coutinho, C. N. (Org.). (2011). O leitor de Gramsci: Escritos escolhidos. Rio de Janeiro, RJ:
Civilização Brasileira.
Gramsci, A. (2007) Quaderni del Carcere. Edizione crítica dell’ Istituto Gramsci (Vols. 2 e
3). Torino: Einaudi.
Reed, J. (2010). Os dez dias que abalaram o mundo. São Paulo : Penguin Classics Companhia
das Letras