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Campo de potência

- O que pode a psicologia para contribuir com a transformação social? Atuar junto a movimentos populares.

- Qual pode ser a contribuição específica da psicologia? (assessoria de engenheiros, biólogos, guerrilheiros)

- Proposta de orientação prática multiteórica com base em Gramsci e Vigotski.

Definição

Tal campo1 se caracteriza como um espaço/tempo – físico e social - no qual são favorecidos: a)a realização
de práxis política criativa e reflexiva; b) o acontecimento de bons encontros; c) a produção de relações e
subjetividades democráticas e democratizantes. Estes objetivos atribuídos ao campo de potência estão atrelados às
suas três dimensões indissociáveis: práxis política; potência de agir; aprendizado e desenvolvimento.

As dimensões cognitivas, afetivas e comportamentais se dão de forma indissociável.

Potência de agir / saúde ético-política (isolada: esquerda cirandeira)

Aquilo [ocupação] era sério pra caralho, mas se a gente só ficasse sério todo o tempo aquilo ia cansar. (...)
gente ia achar bosta e já ia querer ir embora. (Amélia)

Elaboração da ira como desejo e produção de afetos alegres. Alegria como fortalecimento para a luta.

Exemplo: espaços de expressão de identidade coletiva, momentos de acolhimento mútuo entre os militantes,
formações, humor, arte, místicas, situações festivas, atividades lúdicas planejadas ou não e etc.

Ferramentas: Sawaia, Espinosa, Rogers, Fanon, etc.

“Não imaginem que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo se o que se combate é
abominável” (Foucault).

Aprendizado e Desenvolvimento / conscientização (isolada: retórica e academicista)

“Dizem que a gente aprende mais na ocupação que às vezes na escola. E é verdade” (Marcela).

“Qualquer um que passou por um desses acampamentos reconhece como novos conhecimentos e novos afetos
políticos são criados na intensidade corpórea e intelectual das interações” (Negri e Hardt, 2016, p. 58-59)

No que se refere à atuação do psicólogo político, defendemos a importância de construir situações em que
produções subjetivas e relacionais democráticas e democratizantes sejam suscitadas, ou seja, situações que
favoreçam a imersão de subjetividades mais potentes, diversas, conscientes e ativas.

Exemplos: Escolas de Formação do MST, formações nas ocupações estudantis, teatro do oprimido, oficinas,
yoga, roda de conversas, etc.

Ferramentas: Paulo Freire, Martin-Baró, Sandoval, Kurt Lewin, Análise Institucional, Gramsci, Vy.

1
Um campo será entendido como “uma totalidade de fatos coexistentes que são concebidos como mutuamente dependentes”
(Lewin, 1951, p. 240, tradução nossa)
No que se refere à transformação do autoritarismo em democracia dentro de um grupo, fica “claro que
palestras e propaganda não são de fato suficientes para se obter a transformação desejada. Por mais que estas
possam parecer substanciais, se mostrarão eficazes somente quando são acompanhados de uma mudança real nas
relações de poder e de direção dentro do grupo” (Kurt Lewin, 2005)

Práxis Política (isolada: ativismo vazio e adoecedor)

“Tem muita gente que acha que política é só lá com os deputados e senadores e tals em Brasília e tals e os
prefeitos, mas não. A nossa vida é uma política cotidiana. Assim, tá nas pequenas coisas, sabe? (...) as relações acho
que é a política” (Marcela).

A práxis política será entendida como ação intencional que visa atuar sobre o humano enquanto ser social,
ou seja, sobre relações sociais, políticas e/ou econômicas. Deve-se evidenciar que a forma de práxis a ser produzida
pela atuação crítica do psicólogo político é criativa, reflexiva, democrática, emancipadora, focada na potência
(potentia) e não no poder (potestas).

Ferramentas: Klandermans, Sanchez-Vasquez, Hardt & Negri.

“Quando dizemos que a multidão decide, não queremos dizer que a multidão é um sujeito homogêneo ou
unificado. Achamos o termo multidão útil, na verdade, precisamente porque indica uma multiplicidade interna
irredutível (...) o processo político não deve procurar reduzir essa pluralidade de subjetividades em um único sujeito,
mas criar mecanismos de articulação que permitam a multidão, em toda a sua multiplicidade, agir politicamente e
tomar decisões políticas” (Hardt & Negri, 2017, p. 292-293)

Conclusão

Importância das dimensões não isoladas. Manual de Guerrilha Psicossocial

Nossa proposta não deve ser entendida como a defesa de uma posição passiva diante dos adversários, a luta
e a resistência são fundamentais no processo de práxis política. O que se propõe é que a força dos movimentos –
inclusive a força para se defender pelas mais diferentes formas dos mais diversos ataques– vem de sua organização
interna, é resultado de seu momento criativo de produção de novas formas de pensar, sentir e agir no mundo.

“Através da transformação do meio ambiente, as próprias pessoas se transformaram. Aqueles que nunca se
atreveram a dizer nada, de repente sentiam como se seus pensamentos fossem os mais importantes do mundo – e
então os expressavam. O tímido tornou-se comunicativo. O desamparado e isolado de repente descobriu que a força
coletiva se encontra em suas mãos. O tradicionalmente apático de repente se engajou intensamente. Uma tremenda
onda de comunidade e coesão apanhou aqueles que anteriormente se achavam impotentes e isolados como se
fossem marionetes dominadas por instituições que eles não poderiam compreender nem controlar”. (Solidarity,
2008, p. 48-49).

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