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Ensaio Filosófico - Arte, sociedade e política

Filosofia

Autores: Maria Almeida, nº 10; Maria Silva, nº 17; 11º C

Problema Filosófico: De que maneira é que a sociedade e a política influenciam a arte?

Será que a arte é algo que não se confunde e que não é influenciado? Será que é minimamente condicionada? Ou
será que a arte é totalmente influenciada pelo contexto que a rodeia? Neste ensaio vamos debater sobre este
problema filosófico, adotando uma posição face ao mesmo. Focando estes temas numa determinada época: a
segunda metade do séc. XIX e a primeira metade do século XX, em Portugal.

Para começar, o primeiro passo para melhor compreendermos e interiorizarmos o conceito de arte, sociedade e
política leva-nos a uma distinção dos conceitos entre arte, sociedade e política.

Dicionário (no contexto do problema filosófico escolhido):

Conceitos:

Arte - Expressão de um ideal estético através de uma atividade criadora. É um tipo de manifestação humana
universal (existe em todas as culturas) que se comunica de forma simbólica e criativa com a sociedade. Uma obra de
arte transmite ideias, sentimentos, crenças ou emoções.

Sociedade - Um grupo de indivíduos que se relacionam, a fim de conseguir e preservar seus objetivos comuns. Os
objetivos comuns, compartilhados pelos membros da sociedade, são os próprios objetivos da sociedade, ou seja, o
bem comum.

Política - Algo relacionado com grupos sociais que integram a “Pólis”, algo que tem a ver com a organização, direção
e administração de nações ou Estados.

No início da segunda metade do séc. XIX, Portugal era um reino pobre e desorganizado, principalmente devido a três
acontecimentos: Invasões napoleónicas, Guerra civil entre liberais e absolutistas e Independência do Brasil. Época
marcada essencialmente pelo realismo, em oposição ao romantismo.

O realismo é um movimento artístico e literário que se caracteriza pela representação fiel da realidade e, portanto,
da sociedade. Junta-se muitas vezes ao naturalismo, ao retratar tudo com uma elevada objetividade e cientificidade.
Uma outra característica do realismo é o facto de abordar diversos temas sociais presentes na respectiva época, de
uma forma crítica, baseando-se, portanto, no quotidiano. O facto de o realismo pretender mudar a sociedade com as
suas ideias e expressões artísticas transforma esta corrente também num movimento político e social.

Por outro lado, o romantismo caracteriza-se por uma subjetividade extrema, aliada a um certo exagero, o que
significa que não retrata a realidade tal como ela é, apenas uma ilusão ou uma fantasia. Ou seja, realismo e
romantismo são correntes antagônicas, por um lado o realismo com uma visão mais objetiva sobre as relações
humanas e, por outro lado, o romantismo que se apoia numa visão idealizada da vida. É importante também referir
que o movimento realista surgiu em França, tendo-se rapidamente alastrado pela Europa, e coincidiu com uma nova
fase da Revolução Industrial e com uma época de descobertas nas diferentes áreas e de revoluções. Mais
especificamente, neste ensaio, ainda vamos ter por base a cultura e sociedade portuguesas na segunda metade do
século XIX, sendo importante salientar que esta corrente do realismo chegou a Portugal em 1865, com o início da
Questão Coimbrã, uma polémica literária fortemente marcada pelos ideais realistas e liderada por Antero de
Quental.

Agora que já desmistificamos os conceitos e está contextualizada a época em que este ensaio vai partir,
consideramos relevante demonstrar a importância deste problema filosófico, ou seja, a importância desta reflexão.
Primeiramente, a arte é uma forma de expressão humana a diversos níveis. A filosofia, por sua vez, tem como
principal objeto de estudo a ação humana e daí que seja importante, através da filosofia, estudar a arte e estudar as
suas influências, o seu funcionamento e o seu conceito, já que a mesma consiste numa forma de ação humana. Para
além disso, a arte obriga, de forma espontânea, a uma reflexão por parte do homem, quer seja o autor da obra ou
mesmo o observador. Isto remete para a essência da filosofia, que é refletir. Ou seja, este aspeto comum, a reflexão,
reforça a união destas duas vias, o que, por conseguinte, reforça a necessidade de conhecer verdadeiramente a arte
e se esta é realmente influenciada, nomeadamente, pela sociedade e pela política. Uma outra visão consiste no facto
de a arte nos ajudar a conhecer o passado. Este conhecimento do passado consideramos crucial para o
desenvolvimento do futuro (não nos vamos alongar em justificações face a esta afirmação, pois isso implicaria entrar
noutro problema filosófico). Ou seja, se a arte for realmente influenciada pela sociedade e pela política, o seu estudo
permite-nos conhecer melhor estes dois domínios ao longo das diferentes épocas históricas, o que significa adotar
uma perspetiva de cognitivismo estético, que defende que uma obra de arte para além de proporcionar prazer
estético também permite alargar o conhecimento do ser humano e do mundo. Em suma, consideramos importante
o debate sobre este problema porque a arte é uma forma de ação humana, a mesma obriga a uma reflexão e o seu
estudo permite-nos conhecer melhor o passado e as mentalidades das diferentes épocas, se for realmente
influenciada e é isso que vamos demonstrar aqui.

Para nós, a arte é influenciada pela sociedade e política. Acreditamos e defendemos, que os artistas são fortemente
influenciados pelo contexto social, político e, de certa forma, também histórico em que se encontra. Isso vai levar a
que o artista se possa inspirar no que o rodeia. Pode-se, também, através da arte transmitir-se sentimentos de
admiração e/ou desgosto.

A fim de fundamentarmos a nossa opinião, devemos analisar cuidadosamente os seguintes argumentos:

1ºargumento

Com este argumento que iremos tentar provar que o artista é influenciado pelo contexto político-social que o
rodeia baseando-se nas características das obras de arte realistas. Como o próprio nome indica, estas retratam, a
realidade, ou seja, a sociedade da forma mais rigorosa e objetiva possível. O facto de as obras realistas retratarem a
sociedade prova a influência da mesma, ou seja, a existência de determinadas características, comportamentos e
ações do quotidiano que cercam o artista e, que, consequentemente, acabam por condicionar e definir o que será
abordado na obra. Temos como exemplo a obra “O Fado”, de José Malhoa, um pintor realista português, que
retrata uma forma de lazer do povo português: ouvir e cantar o fado.

De uma forma geral:

(1) O artista é influenciado pelo contexto político-social que o rodeia baseando-se nas características das obras
de arte realistas.
(2) Se as obras realistas retratam a sociedade, então estas terão algumas características, comportamentos e
ações do quotidiano que cercam o artista.
(3) Logo, a sociedade condiciona e define o tema da obra.

Objeção:

Aqui baseamo-nos, essencialmente, que a arte representa a realidade social. Contudo existem obras de arte que
embora representem a realidade, algo que pode ir além da sociedade (universal e independente de valores sociais).
Por exemplo, se for pintado por um artista um animal, isso não nos dirige, efetivamente a uma só sociedade, neste
caso, a sociedade que o artista pertence mas é algo universal e igual para todas.

Contra-objeção

Para nós, esta objeção não nos é muito prejudicial ao argumento porque isto aplica-se a um reduzido número de
casos. Não esquecendo que focámos este ensaio na segunda metade do século XIX e primeira metade de XX, a
objeção é ainda menos relevante. Pois o artista realça muitos aspetos quotidianos, caracterizadores de cada
sociedade e cultura.

2º argumento

O segundo argumento assenta, essencialmente, nas características de uma corrente artística, um conjunto de ideias
que constituem a teoria de pensamento de uma doutrina ou grupo. Existir uma corrente realista, significa que
diversas obras de arte e indivíduos, aderem a um conjunto de características do realismo e os seus ideias que
fundamentavam na mudança da sociedade. Apenas através da influência social, que a adesão foi possível, o que vai
permitir que, a arte seja influenciada pela sociedade e também pela política, caso contrário, não era possível a
existência de correntes artísticas. Como exemplo temos as Conferências no Casino, realizadas por um grupo de
intelectuais portugueses, que estabeleceram contacto com países europeus e, então, com a corrente realista. O
objetivo destas conferências era ligar Portugal a um movimento moderno realista. O que iria permitir agitar a
sociedade no que toca às grandes questões filosóficas e da ciência moderna e simultaneamente, encontrar e criticar
certos aspetos da sociedade portuguesa a nível político, económico e religioso. Ou seja, para eles a corrente realista
era entendida como o ideal moderno de justiça e de verdade e era importante ser divulgado. A literatura, tinha
também como objetivo transmitir determinada informação, revelando-se, assim, a função da arte no que toca ao seu
caráter de denúncia social.

De uma forma geral:

(1) Existir uma corrente realista, significa que diversas obras de arte e indivíduos, aderem a um conjunto de
características do realismo e os seus ideias que fundamentaram na mudança da sociedade.
(2) A influência social permitiu que houvesse uma adesão à existência de correntes artísticas.
(3) Logo, a arte vai ser influenciada pela sociedade e pela política devido às diversas ideologias.

Objeção:

Contra-objeção:

3º argumento

Este último argumento pretende abordar a integração do artista na sociedade. Um artista passa independentemente
por um processo de integração numa sociedade, assimilando, assim a sua cultura. Isso leva a que esteja já
comprometido com um conjunto de valores sociais, culturais, estéticos e políticos que definem a sua sociedade. Tal
como a tecnologia, as sociedades também vão evoluindo. Por exemplo, um artista nasceu na segunda metade do
século XIX, terá um contexto histórico totalmente diferente de um que poderá ter nascido na primeira metade do
mesmo século (realismo- romantismo). Então, a sua obra sofrerá inevitavelmente de uma influência por
determinada corrente. Ou seja, os artistas ao serem influenciados pelos acontecimentos, valores e angústias da
sociedade, vai permitir que a obra sofra então nos 4 valores que definem a sociedade. Logo, a arte está dependente
de quatro valores condicionantes.

De uma forma geral:

(1) Um artista passa por um processo de integração numa sociedade, assimilando, assim, a sua cultura.
(2) Involuntariamente fica comprometido com um conjunto de valores sociais, culturais, estéticos e políticos
que definem a sua sociedade.
(3) Se um artista fica comprometido com os valores condicionantes que definem a sua sociedade, então, a sua
obra sofrerá inevitavelmente de uma influência.
(4) Logo, a arte está dependente de quatro valores condicionantes: sociais, culturais, políticos e estéticos.

Objeção

Este terceiro argumento pode-nos levar a entrar num ramo mais condicionante para cada indivíduo. Não nos é
possível afirmar que apenas só a sociedade influência o artista mas também este pode ser influenciado pelas
emoções e a sua visão sobre determinadas ações. Entramos então no campo da mente humana. A mente humana é
muito complexa e, assim sendo, não é possível observar e ter provas concretas e fiáveis que as obras sofrem dessa
influência devido aos valores da sociedade que rodeiam o artista.

Contra-objeção

Esta objeção faz-nos pensar que, apesar de, estarmos constantemente comprometidos com a mente, essa está
também comprometida pela ideia. E apenas temos ideia, pelo menos, uma ideia mais real e verdadeira, quando
conhecemos ou presenciamos determinadas situações. E são essas situações que permitem uma mudança de
comportamento por parte de indivíduos. Ou seja, o artista continua ser influenciado pelos valores políticos, sociais,
culturais e estéticos da sociedade.
Para terminar o nosso ensaio, na nossa visão, a arte é sempre influenciada pela sociedade e política. Para nós, o
debate deste assunto é necessário porque obriga-nos a refletir e ao mesmo tempo, a perceber e conhecer melhor
todas as diferentes épocas, mentalidades e sociedades. Ou seja, a arte para nós vai além de prazer estético e
pretende também alargar o nosso conhecimento sobre o mundo. A arte vai para além de um quadro bonito ou de
um livro bem escrito, a arte transmite-nos mensagens, sabedoria, prazer,…, e todas estas mostram alguns aspetos da
sociedade e da política.

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