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Restaurativa
1.2.1 Definição
(JR), mas tenha finalizado o estudo sem uma compreensão precisa do conceito
ser – como algo a definir, que pode variar conforme o tempo, o contexto e os
chega a ser enfático quando diz: “muitas ideias equivocadas cercam o termo e
penso que é cada vez mais importante definir aquilo que a Justiça Restaurativa
voltada a atos infracionais e crimes de menor potencial ofensivo; algo novo com
retributiva.
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Muitos programas adotam a Justiça Restaurativa em todo ou em parte.
Contudo, não existe um modelo puro que possa ser visto como ideal
As práticas mais interessantes que têm surgido nos últimos anos não
e experimentação futuros.
e à experimentação.
Desse modo, o que garante que uma prática é restaurativa não é sua
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sujeitos direta e indiretamente envolvidos, por exemplo, não será uma prática
restaurativa.
que atendem em maior ou menor grau aos princípios da JR, admitindo-se ações
valores da JR. Por enquanto, gostaria que você entendesse que não há um
conceito rígido.
Restaurativa e que acredito que pode ter utilidade didática. Percebo na maior
querer reduzir a JR a algo, acredito que apresentar o que entendo por Justiça
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A Justiça Restaurativa é uma visão de justiça voltada à satisfação de
novo começo.
protagonismo dos sujeitos. Isso porque ela tanto é centrada nesses mesmos
e “réu”, mas que contribuem diretamente para que a situação tenha o resultado
apresentado.
também contemple outras pessoas que são referência de afeto e apoio para eles.
Essas pessoas, por óbvio, não podem ser supostas: é preciso que sejam
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dessas narrativas possibilita melhor compreensão de impactos, sentimentos e
necessidades em questão.
Porque sei que tenho oportunidade legítima de fala, consigo ouvir os outros com
ativa. Agora que ouço e compreendo impactos, agora que sei as necessidades
mesmo que não sejam determinantes, os contextos e relações que nos cercam
capazes de agir.
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A Justiça Restaurativa é uma visão de justiça voltada tanto a resolver e
comunidade.
Comunidade é algo que todo e qualquer ser humano precisa ter em alguma
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Comunidade demanda responsabilidade diante dos demais sujeitos
comunidade não pode ter um rol prévio de incluídos e excluídos, não pode pautar-se
em ódio ou distinção.
apresentei até aqui sobre comunidade. Isso porque a comunidade tanto é parte dessa
materiais da responsabilidade.
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Na JR, a responsabilidade é centrada no sujeito e contempla danos,
possibilidades.
2019).
Confira:
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Uma abordagem de baixo apoio e alto controle costuma ser punitiva, acreditando
que quem fez algo indevido é individual e isoladamente culpado pelo ato. Essa
Também não está interessada em saber sobre danos revelados pelo ato lesivo. Olha
exclusivamente para os danos que o ato causou e busca punir por isso o sujeito.
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A contrário senso, se oferecemos alto apoio e baixo controle, somos permissivos.
Popularmente nos referimos a essa situação como “passar a mão na cabeça”. Essa
perspectiva não permite que o sujeito compreenda os impactos dos próprios atos e que
posição negligente. É o não ver, não agir, deixar o sujeito entregue à própria sorte. Seria
em comunidade:
[...] o mal propriamente dito hoje existente na vida política consiste [...]
no fato de o homem ver seu semelhante como algo que ele pode
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juventude atual. Esta juventude apraz-se em representar as coisas da
seguinte maneira: tem-se um ideal das coisas como devem ser, por
portanto, não pode ser realizado aqui e agora. Com este adiamento
ganha-se a base para uma vida fora da realização. Assim, aqui e agora,
fuga. [...]
Hoje isto pode ser realizado por mim, entre nós, nesta vida que nos é
Ao considerar outra pessoa como ser vivo para o qual estou aqui, assim como
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Por tratar-se de uma visão de justiça enquanto satisfação de necessidades, a JR
sujeito é lembrado pela presença de pessoas de sua rede afetiva de que, por mais
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transformação não só da situação conflitiva, mas também dos
jurídico em questão. No Ocidente, sua utilização oficial teve início nos casos de atos
infracionais, crimes e conflitos violentos, mas logo foi estendida para conflitos cíveis.
Dentre estes, tem sido bastante presente em conflitos familiares, de grupos de trabalho
ou societários.
Isso acontece porque, embora possa ser utilizada em qualquer conflito, a Justiça
e coletivos culturais.
potencial restaurativo, uma vez que, diante de uma grande dor, é imprescindível que se
Por isso, a Justiça Restaurativa pode ser bastante útil em casos envolvendo
contrário, pode-se acentuar dor e danos, o que feriria um dos princípios básicos para a
atuação restaurativa.
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É o caso, por exemplo, da violência doméstica. É possível e mesmo desejado
restaurativa precisa ser intencional e cuidadosa, para não correr o risco de contribuir
Na JR, não há espaço para sugestões, conselhos ou mesmo para “dar lição” ou
advertência. Todo o processo restaurativo, seja nos encontros individuais, seja nos
reflexão.
restaurativa; c) caso queira contar algo que ouviu no encontro, pedir expressa
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autorização de seu autor; d) não voltar a comentar sobre alguma história de outro sujeito
que tenha sido por ele compartilhada no espaço seguro do círculo se ele não iniciar o
positiva ou negativa. Se é algo que outra pessoa narrou, precisamos pedir permissão
A voluntariedade, por sua vez, diz respeito à autonomia de cada um dos sujeitos
sigilo, se o processo não for cooperativo, não é possível falar em Justiça Restaurativa.
Como dito anteriormente, mais do que forma, a prática restaurativa exige substância; e
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REFERÊNCIAS
MACKAY, Robert E. The nexus between rights and restorative justice. In.:
ZEHR, Howard. Justiça restaurativa. São Paulo: Palas Athena, 2012. Tradução
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