Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Alberto L. W. Kopittke 1
Para citar este artigo: Kopittke, Alberto. Cinco Princípios sobre o que funciona para reduzir a violência. In:
Anais Sociology of Law 2019: o direito na sociedade tecnológica. Coordenação Geral: Renata Almeida da Costa.
Dados Eletrônicos. Canoas, RS:Unilasalle, 2019. Pp 631-650.
Abstract: This paper presents the results of a review of the international literature on the
main features of programs that works to reduce violence, according to research developed
from the Crime Prevention Evidence-Based concept. We conclude that the international
evidence can be summarized in five main principles that guide the most different types of
Public Security programs that work, such as policing, social prevention, situational prevention
and rehabilitation: the prevention principle, the proactivity principle, the focus principle, the
principle of social legitimacy and the precautionary principle, presenting some of the most
recent evidence that demonstrates their effectiveness in reducing violence rates. Further
1
Alberto Liebling Winogron Kopittke. Doutor em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul e Mestre em Ciências Criminais pela PUCRS. Foi Diretor de Políticas e Projetos da Secretaria Nacional de
Segurança Pública, Secretário Municipal de Canoas (RS). É Diretor Executivo do Instituto Cidade Segura e
consultor do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID). Email: alberto@institutocidadesegura.org
studies are needed to assess whether these principles pointed out by international evidence
also demonstrate efficiency in Brazil.
Key words: Evidence Based Public Safety; Evidence; Violence prevention; Proactivity;
Legitimacy.
INTRODUÇÃO
2
As avaliações de impacto são pesquisas quantitativas, que buscam mensurar o impacto de um programa para
identificar qual foi o seu efeito (positivo, negativo ou nulo) sobre um determinado indicador da realidade
(TRONCO, 2018), permitindo que seja analisado se um programa produziu ou não resultados em relação aos
seus objetivos iniciais, independentemente da propaganda política, interesses institucionais ou econômicos e de
crenças, permitindo que os cidadãos saibam se o recurso público está sendo empregado em programas eficientes,
com o melhor custo-benefício, equitativo para todos os segmentos sociais e que não estão produzindo efeitos
colaterais (LUM; KOPER, 2018)
3
As Revisões Sistemáticas são uma metodologia de pesquisa que reúne através de um processo estruturado de
busca nos principais portais de estudos científicos de cada área, o conjunto de estudos existentes sobre um
determinado tipo de problema. Dessa forma, as Revisões buscam apresentar o estado da arte da pesquisa
científica sobre um determinado tema, reduzindo o viés do posicionamento do próprio autor da pesquisa. Além
disso, as Revisões apresentam um conjunto muito significativo de informações de forma simples, objetiva e
prática para os profissionais e para a população em geral (LUM et al, 2012), auxiliando a tradução do
conhecimento científico, sendo considerada o melhor nível de evidência para a tomada de decisões (LITTEL,
2013; WEISBURD; FARRINGTON; GILL, 2017; LUM et al, 2012).
lidar com o fenômeno da violência, que tem sido chamada de Segurança Pública Baseada em
Evidências (LUM; NAGIN, 2017; LUM; KOPER, 2017).
Territórios
Pessoas
Comportamentos
Circunstâncias
As evidências também têm mostrado como o foco aumenta a eficiência das diferentes
estratégias de prevenção à violência. Ao avaliar todas as estratégias de policiamento que já
tiveram uma avaliação de impacto, Lum e Koper (2017) concluíram que as estratégias com
foco foram 44% mais efetivas do que as estratégias genéricas, que não utilizam nenhum tipo
desses focos na sua elaboração.
Uma overview de Revisões Sistemáticas 4 (ABT; WINSHIP, 2016) que sistematizou os
resultados de 43 revisões sistemáticas que, juntas, reuniram 1.435 avaliações de impacto de
programas e analisaram 30 diferentes tipos de estratégias de segurança, identificou que dois
terços das estratégias de segurança apresentam resultados positivos de redução da violência,
porém a maioria com conclusões muito modestas, sendo que as estratégias que apresentam
efeitos positivos fortes e que se mantêm ao longo do tempo, são as altamente focadas em
pessoas, locais e comportamentos de alto risco, como as estratégias de repressão ligadas a
grupos violentos (BRAGA; WEISZBURD, 2012), a policiamento em pontos quentes
(BRAGA; PAPACHRISTOS; HUREAU, 2014), a terapia cognitivo comportamental
(LIPSEY et al, 2007, WASHINGTON STATE INSTITUTE FOR PUBLIC POLICY, 2016) e
ao modelo risco/necessidade/responsividade (ANDREWS; BONTA, 2006).
44
Overview de Revisões Sistemáticas é um método de pesquisa que realiza um processo de revisão sistemática
que tem como objetivo identificar todas as revisões sistemáticas (estudos secundários) já feitas sobre um
determinado assunto e não estudos primários. (Grande et al, 2012)
5
Cada uma dessas unidades possui 150 x 150 metros.
aconteceu, majoritariamente, nas mesmas áreas em que os crimes já ocorriam no período
anterior.
Esse conjunto de informações fez Weisburd nomear esse fenômeno como Lei da
Concentração Territorial Criminal (WEISBURD, 2015), segundo a qual 25% dos crimes de
uma cidade ocorreriam entre 0,4% e 1,6% dos segmentos de rua de uma cidade, e 50% dos
crimes aconteceriam em 2,1% a 6% e, ainda, que essa concentração se mantém estável, nos
mesmos lugares, ao longo do tempo.
A realização de intervenções de policiamento e de prevenção situacional nesses
microterritórios tem ganhado destaque cada vez maior, pois, diferentemente de pessoas, os
territórios são fixos e, muitas vezes, podem ser modificados de forma mais célere e eficaz do
que intervenções voltadas para modificar o comportamento de pessoas (LUM; KOPER,
2017).
A partir dessas análises, tem se fortalecido as estratégias com foco territorial, assim
como as estratégias de policiamento em pontos quentes e as intervenções de prevenção
situacional e urbanismo, que têm demonstrado alta efetividade para reduzir os índices de
violência (NEWMAN; FRANCK, 1982). A revisão sistemática feita por Sherman, Farrington
e Welsh (2002) identificou que 90% das intervenções de prevenção com foco em locais
tiveram algum nível de redução de violência, sejam elas de policiamento ou de prevenção
situacional.
REFERÊNCIA
ABT, Thomas; WINSHIP, Christopher. What works in reducing community violence: A meta-review and
field study for the northern triangle. USAID Report, Task order AID-OOA-TO-13-00047, 2016.
ALEXANDER, J. F., BARTON, C., SCHIAVO, R. S., & PARSONS, B. V. (1976). Behavioral intervention
with families of delinquents: Therapist characteristics and outcome. Journal of Consulting and Clinical
Psychology, 44, 656–664
ANDREWS, Donald A.; BONTA, James). The psychology of criminal conduct (4th ed.). Newark, NJ:
Lexis/Nexis, 2006.
BEATO, Claudio. Crime and Social Policies in Latin America: Problems and Solutions. Woodrow Wilson
Center Update on the Americas. 2002.
BRAGA, Anthony A.; WEISBURD, David L. The effects of'pulling levers' focused deterrence strategies on
crime. Campbell systematic reviews, v. 6, 2012.
BRAGA, Anthony A.; PAPACHRISTOS, Andrew V.; HUREAU, David M. The effects of hot spots policing
on crime: An updated systematic review and meta-analysis. Justice quarterly, v. 31, n. 4, p. 633-663, 2014.
CHAIKEN, Jan M.; GREENWOOD, Peter W.; PETERSILIA, Joan. The criminal investigation process: A
summary report. Policy Analysis, p. 187-217, 1977.
CHAINEY, Spencer P.; MONTEIRO, Joana. The dispersion of crime concentration during a period of crime
increase. Security Journal, p. 1-18, 2019.
CLARKE, Ronald V.; WEISBURD, David. Diffusion of crime control benefits: Observations on the reverse
of displacement. Crime prevention studies, v. 2, p. 165-184, 1994.
DISHION, T. J., MCCORD, J., & POULIN, F. When interventions harm: Peer groups and problem
behavior. American Psychologist, 54(9), 755–764. 1999
FARRELL, Graham. Crime concentration theory. Crime prevention and community Safety, v. 17, n. 4, p.
233-248, 2015.
FARRINGTON, David; Mackenzie, Doris Layton; SHERMAN, Lawrence; WELSH, Brandon. Evidence-Based
Crime Prevention. Routledge, 2 de set de 2003 - 456 páginas
GOLDSTEIN, Herman. Policiando uma sociedade livre. São Paulo, Edusp, 2003. (série Polícia e Sociedade,
9).
GRANDE, Valter SilvaI; GRANDELL, Antonio José; MARTIMBIANCOLL, Ana Luiza Cabrera; RIERA,
Rachel; CARVALHO, Alan Pedrosa Viegas de. Overview de revisões sistemáticas – um novo tipo de estudo.
Parte I: Por que e para quem? Diagn Tratamento;17(4):195-200, 2012
ILLICH I. A expropriação da saúde: nêmesis da medicina. 4a Ed. São Paulo: Editora Nova Fronteira; 1981.
JOHNSON, S.D., GUERETTE, R.T. & BOWERS, K. J. Crime displacement: what we know, what we
don’t know, and what it means for crime reduction. Exp Criminol (2014) 10: 549.
KELLING, George L. et al. The Kansas City Preventive Patrol Experiment: A Tecnical Report.
Washington, DC: Police Foundation, 1974.
LIPSEY, Mark W. The primary factors that characterize effective interventions with juvenile offenders: A
meta-analytic overview. Victims and offenders, v. 4, n. 2, p. 124-147, 2009.
LISTWAN, Shelley Johnson et al. The pains of imprisonment revisited: The impact of strain on inmate
recidivism. Justice Quarterly, v. 30, n. 1, p. 144-168, 2013.
LITTELL, JH. Guest Editor’s Introduction to Special Issue: The Science and Practice of Research Synthesis. J
Society Social Work Res. 2013;4(4):292–9.
LUM, C., TELEP, C. W., KOPER, C. S., & GRIECO, J. Receptivity to Research in Policing. Justice Research
and Policy, 14(1), 61–95, 2012.
_____________; NAGIN, Daniel S. Reinventing american policing. Crime and justice, v. 46, n. 1, p. 339-393,
2017.
MAZEROLLE, L., BENNETT, S., DAVIS, J., SARGEANT, E., & MANNING, M. Legitimacy in policing: A
systematic review. Campbell systematic reviews, 9(1), 2013.
MONET, Jean-Claude. Polícias e sociedades na Europa. São Paulo, Edusp, 2001. (série Política e Sociedade,
3).
NAÇÕES UNIDAS. Convention sur la diversité biologique signée le 5 juin 1992 à Rio de Janeiro. Recueil des
Traités des Nations Unies, vol. 1760, Numéro de l’enregistrement: 30619. 1992, recepcionada no Direito
Brasileiro por meio do Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998.
NEWMAN, Oscar; FRANCK, Karen A. The effects of building size on personal crime and fear of
crime. Population and environment, v. 5, n. 4, p. 203-220, 1982.
ORTEGA, Daniel; MEJÍA, Daniel; ORTIZ, Karen. Un análisis de la criminalidad urbana en Colombia. CAF
Development Bank Of Latinamerica, 2015.
PIQUERO, Alex R.; JENNINGS, Wesley G.; BARNES, J. C. Violence in criminal careers: A review of the
literature from a developmental life-course perspective. Aggression and Violent Behavior, v. 17, n. 3, p. 171-
179, 2012.
REINER, Robert. A política da polícia. São Paulo: Edusp, 2004. (Série “Polícia e Sociedade”, n.11).
REISS, Albert J.; BORDUA, David J. Organization and environment: A perspective on the police. The
Police: Six Sociological Essays, edited. New York: Wiley, p. 28-40, 1967.
REPPETTO, Thomas A. Crime prevention and the displacement phenomenon. Crime & Delinquency, v. 22,
n. 2, p. 166-177, 1976.
ROLIM, Marcos. A síndrome da rainha vermelha: policiamento e segurança pública no século XXI. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
SHERMAN, Lawrence W. The rise of evidence-based policing: Targeting, testing, and tracking. Crime and
justice, v. 42, n. 1, p. 377-451, 2013.
_________________. Combatendo o crime: a polícia e o controle do crime. In: TONRY, Michael; MORRIS,
Norval (orgs). Policiamento Moderno. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003.
_____________, FARRINGTON, D.P., WELSH, B.C. and MACKENZIE, D.O., Evidence-based crime
prevention. New York: Routledge, 2002.
________________.; WEISBURD, David. General deterrent effects of police patrol in crime “hot spots”: A
randomized, controlled trial. Justice quarterly, v. 12, n. 4, p. 625-648, 1995.
_________________; GARTIN, Patrick R.; BUERGER, Michael E. Hot spots of predatory crime: Routine
activities and the criminology of place. Criminology, v. 27, n. 1, p. 27-56, 1989.
SCHNEIDER, Stephen. Crime Prevention: theory and practice. Taylor & Francis Groups, 2010.
SOOHYUN O; MARTINEZ, Natalie N.; LEE, Yong Jei; ECK, John. How concentrated is crime among
victims? A systematic review from 1977 to 2014. Crime Science An Interdisciplinary Journal, 6:9, 2017
TRONCO, Giordano. O Guia de Políticas Públicas para Estudantes e Gestores. Jacarta Produções. Porto
Alegre, 2018.
WASHINGTON STATE INSTITUTE FOR PUBLIC POLICY. Cognitive behavioral therapy (CBT) (for
individuals classified as highor moderate-risk). Benefit-cost methods last updated December 2018. Literature
review updated December 2016. Olympia, WA, 2016.
WEISBURD, David; FARRINGTON, David P; GILL, Charlotte. What works in crime prevention and
rehabilitation: An assessment of systematic reviews. Criminology & Public Policy, v. 16, n. 2, p. 415-449,
2017.
_________________; GROFF, Elizabeth R.; YANG, Sue-Ming. The criminology of place: Street segments
and our understanding of the crime problem. Oxford University Press, 2012.
________________. The law of crime concentration and the criminology of place. Criminology, v. 53, n. 2,
p. 133-157, 2015.
Welsh, B. C., & Rocque, M. When crime prevention harms: a review of systematic reviews. Journal of
Experimental Criminology, 10(3), 245–266, 2014.
WILLIS, James J. A recent history of the police. In: REISIG, Michael Dean; KANE, Robert J. (Ed.). The
Oxford handbook of police and policing. Oxford Handbooks in Criminolog, 2014, p. 03-33.
WILSON, D. B.. Missing a critical piece of the pie: Simple document search strategies inadequate for systematic
reviews. Journal of Experimental Criminology, 5, 429–440, 2009.
WOLFGANG, M. E.; FIGLIO, R. M. Sellin Th Delinquency in a birth cohort. Chicago: The University of
Chicago Press. Bilaga, v. 2, p. 20-64, 1972.