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CINCO PRINCÍPIOS SOBRE O QUE FUNCIONA

PARA REDUZIR A VIOLÊNCIA

Alberto L. W. Kopittke 1

Para citar este artigo: Kopittke, Alberto. Cinco Princípios sobre o que funciona para reduzir a violência. In:
Anais Sociology of Law 2019: o direito na sociedade tecnológica. Coordenação Geral: Renata Almeida da Costa.
Dados Eletrônicos. Canoas, RS:Unilasalle, 2019. Pp 631-650.

Resumo: O presente artigo apresenta o resultado de uma revisão da literatura internacional


sobre as principais características dos programas que funcionam para reduzir a violência,
segundo as pesquisas desenvolvidas a partir do paradigma da Segurança Pública Baseada em
Evidências. Concluímos que as evidências internacionais podem ser resumidas em cinco
grandes princípios que orientam as ações exitosas de Segurança Pública, nas áreas de
policiamento, prevenção social, prevenção situacional, justiça criminal e de ressocialização,
que são: o princípio da prevenção, o princípio da proatividade, o princípio do foco, o princípio
da legitimidade social e o princípio da precaução. Apresentamos algumas das mais recentes
evidências internacionais que demonstram a efetividade desses princípios para reduzir os
índices de violência. Novos estudos são necessários para avaliar se esses princípios apontados
pelas evidências internacionais também demonstram eficiência no Brasil.
Palavras-chave: Segurança Pública Baseada em Evidências; Evidências; Prevenção à
violência; Proatividade; Legitimidade.

Abstract: This paper presents the results of a review of the international literature on the
main features of programs that works to reduce violence, according to research developed
from the Crime Prevention Evidence-Based concept. We conclude that the international
evidence can be summarized in five main principles that guide the most different types of
Public Security programs that work, such as policing, social prevention, situational prevention
and rehabilitation: the prevention principle, the proactivity principle, the focus principle, the
principle of social legitimacy and the precautionary principle, presenting some of the most
recent evidence that demonstrates their effectiveness in reducing violence rates. Further

1
Alberto Liebling Winogron Kopittke. Doutor em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul e Mestre em Ciências Criminais pela PUCRS. Foi Diretor de Políticas e Projetos da Secretaria Nacional de
Segurança Pública, Secretário Municipal de Canoas (RS). É Diretor Executivo do Instituto Cidade Segura e
consultor do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID). Email: alberto@institutocidadesegura.org
studies are needed to assess whether these principles pointed out by international evidence
also demonstrate efficiency in Brazil.

Key words: Evidence Based Public Safety; Evidence; Violence prevention; Proactivity;
Legitimacy.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, as políticas de Segurança Pública nas sociedades democráticas


sofreram uma profunda mudança, com o início da utilização intensiva de evidências
científicas para identificar o que funciona e o que não funciona a fim de reduzir a violência,
auxiliando muitos países a diminuírem os seus índices de violência, melhorarem a eficiência
do gasto público e aperfeiçoarem a legitimidade das instituições junto a grupos vulneráveis
(SHERMAN, 2013).
O acúmulo de cinco décadas de produção de evidências permite que hoje sejam
identificadas algumas das principais características que orientam os projetos que têm
conseguido maior sucesso para reduzir a violência e aqueles que não têm o mesmo sucesso,
nos mais diferentes tipos de ações de prevenção social, prevenção situacional, policiamento,
justiça criminal e ressocialização (SHERMAN et al., 2002; WEISBURD; FARRINGTON;
GILL, 2017).
No Brasil, a Segurança Pública Baseada ainda é incipiente e a compreensão dessas
características, que chamaremos de princípios da Segurança Pública Baseadas em Evidências,
pode auxiliar o país a qualificar suas políticas na área de segurança e reduzir os elevados
índices de violência que o país convive, fortalecendo os marcos democráticos (BEATO, 2002;
BEATO; SILVEIRA, 2014; ROLIM, 2006).

1 A CRISE DO MODELO TRADICIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA

Ao longo da modernidade, estruturou-se um modelo de atuação do poder público


sobre a violência social baseado na crença da capacidade da Justiça Criminal em prevenir o
comportamento violento, de formas específica (do indivíduo criminoso) e geral (do conjunto
da sociedade), pelo temor à sanção. Esse modelo se estruturou com base na atuação de três
subsistemas: o subsistema policial, o subsistema de justiça e o subsistema prisional. Dessa
forma, com a consolidação do Estado moderno, o sistema criminal monopolizou a política de
Segurança Pública, trazendo avanços importantes na redução dos índices de violência
interpessoal.
No entanto, esse sistema entrou em profunda crise, nos anos 1960, nas sociedades
desenvolvidas, enfrentando, ao mesmo tempo, uma grave crise de legitimidade em relação a
grupos sociais vulneráveis, uma grave crise de eficácia, pois seus métodos tradicionais
deixaram de ter sucesso na contenção da criminalidade, e uma crise econômica, que os levou
a ter que realizar fortes reduções de custos. Nos países com democracias sólidas e forte
cultura científica, essa crise do modelo tradicional impulsionou o início dos estudos de
avaliação de impacto, para tentar compreender o que funcionava e o que não funcionava para
reduzir a violência (WILLIS, 2014; REINER, 2004; MONET, 2006; GOLDSTEIN, 2003).
As primeiras grandes avaliações de impacto 2 sobre diferentes tipos de programas de
prevenção à violência demonstraram que as crenças do modelo tradicional de Segurança
Pública não passavam de mitos que, na prática, não conseguiam reduzir os índices de
violência (REINER, 2004), como o aumento do número de viaturas policiais realizando
patrulhas nas ruas (KELLING et al., 1974), a velocidade no atendimento de chamados de
emergência (GREENWOOD; PETERSILIA; CHAIKEN, 1977) e o número de prisões
realizadas (Spelman e Brown, 1984), além de serem extremamente caras e, o que é pior,
muitas vezes provocavam, até mesmo, o aumento das taxas de criminalidade (SHERMAN,
1985; 2003)
No entanto, além de apontar as falhas do modelo tradicional, o uso de evidências
impulsionou o surgimento de intervenções inovadoras que começaram a produzir resultados
positivos. Conforme esse conhecimento foi sendo acumulado e sistematizado por Revisões
Sistemáticas 3, as evidências começaram a demonstrar que existiam algumas características
que eram comuns às intervenções exitosas, fazendo surgir uma nova concepção sobre como

2
As avaliações de impacto são pesquisas quantitativas, que buscam mensurar o impacto de um programa para
identificar qual foi o seu efeito (positivo, negativo ou nulo) sobre um determinado indicador da realidade
(TRONCO, 2018), permitindo que seja analisado se um programa produziu ou não resultados em relação aos
seus objetivos iniciais, independentemente da propaganda política, interesses institucionais ou econômicos e de
crenças, permitindo que os cidadãos saibam se o recurso público está sendo empregado em programas eficientes,
com o melhor custo-benefício, equitativo para todos os segmentos sociais e que não estão produzindo efeitos
colaterais (LUM; KOPER, 2018)
3
As Revisões Sistemáticas são uma metodologia de pesquisa que reúne através de um processo estruturado de
busca nos principais portais de estudos científicos de cada área, o conjunto de estudos existentes sobre um
determinado tipo de problema. Dessa forma, as Revisões buscam apresentar o estado da arte da pesquisa
científica sobre um determinado tema, reduzindo o viés do posicionamento do próprio autor da pesquisa. Além
disso, as Revisões apresentam um conjunto muito significativo de informações de forma simples, objetiva e
prática para os profissionais e para a população em geral (LUM et al, 2012), auxiliando a tradução do
conhecimento científico, sendo considerada o melhor nível de evidência para a tomada de decisões (LITTEL,
2013; WEISBURD; FARRINGTON; GILL, 2017; LUM et al, 2012).
lidar com o fenômeno da violência, que tem sido chamada de Segurança Pública Baseada em
Evidências (LUM; NAGIN, 2017; LUM; KOPER, 2017).

2 OS CINCO PRINCÍPIOS DA SEGURANÇA PÚBLICA BASEADA EM


EVIDÊNCIAS

A utilização de evidências demonstrou que a concepção tradicional de segurança se


resumia a uma atuação reativa, dando muita atenção às atividades meio, sem foco definido de
atuação e sem se preocupar com a forma que afetaria a sua legitimidade em relação aos mais
diferentes grupos sociais ou outros efeitos colaterais das suas ações. No entanto, centenas de
experimentos científicos de alta qualidade, realizados em parcerias inovadoras entre polícias,
escolas, universidades e organizações da sociedade civil, demonstraram que programas
proativos, voltados a resultados efetivos de redução da violência, altamente focados e
preocupados com sua legitimidade social e em não produzirem outros efeitos colaterais, são,
muitas vezes, mais eficientes e baratos do que o modelo tradicional.

2.1 Princípio da Prevenção


O modelo tradicional de Segurança Pública, baseado na crença de que a Justiça
Criminal era a única e fundamental forma para lidar com o problema do crime e da violência
na sociedade, estava voltado para o controle do crime, por meio da identificação, prisão e
punição do indivíduo criminoso, atuando caso a caso, sem pensar estratégias mais amplas
voltadas à prevenção da violência na sociedade (SCHNEIDER, 2009).
Por isso, o modelo tradicional considerou, por muito tempo, indicadores de atuação
dos órgãos de segurança, como a velocidade de resposta aos chamados de emergência, a
quantidade de viaturas nas ruas e o número de prisões realizadas, de apreensões de drogas e
de julgamentos realizados, como a melhor foram para mensurar o que o Poder Público estava
fazendo contra a violência, independente do resultado final que era alcançado. Conforme esse
modelo passou a ser contestado e as evidências foram demonstrando que essas atividades não
conseguiam reduzir os índices de violência, começou a se perceber que os programas de
segurança deveriam ser avaliados pela redução de violência que conseguiam produzir e não
por atividades-meio que os órgãos de segurança faziam (LUM; KOPER, 2017).
Essa nova forma de compreender que as ações de Segurança deveriam estar
primordialmente voltadas para a prevenção à violência e não para o controle da criminalidade
provocou uma reinvenção da Segurança Pública (LUM; NAGIN, 2017). Ao mudar o foco das
consequências para as causas da violência, a concepção prevencionista aproximou a prática
cotidiana das instituições de segurança das teorias e evidências sobre as causas da violência e
ampliou o leque de conhecimentos que poderiam produzir estratégias para reduzir a violência.
(LAB, 2014).
Como explicam Lum e Nagin (2017), de forma alguma isso quer dizer que a polícia
deva parar de fazer prisões e os tribunais de julgarem, mas, sim, que essas ações não têm um
fim em si mesmas, exigindo que o uso da autoridade e da força do Estado seja remodelado,
passando a ser exercido com foco e estratégia muito mais qualificados.
Uma exemplo muito importante que ajuda a compreender a relevância dessa mudança
de visão pode ser vista na área de saúde pública, onde a concepção prevencionista modificou
completamente as políticas públicas da área, que deixaram de ter como foco único o
atendimento de situações graves por médicos e passaram a estruturar um conjunto amplo e
multidisciplinar de ações preventivas, que vão desde o saneamento básico, estratégia de saúde
da família, vacinas e campanhas de promoção da saúde, que têm ajudado a melhorar os
indicadores de saúde da população, sem que isso queira dizer que hospitais e Centros de
Terapia Intensiva tenham deixado de ser relevantes.
Nessa nova concepção, as diferentes formas de atuação do poder público na área de
Segurança Pública, como policiamento, justiça criminal, prevenção social, prevenção
situacional e ressocialização, embora empreguem meios diferentes e atuem em níveis de risco
diferentes, devem sempre ser avaliadas para que se verifique se estão conseguindo prevenir a
violência. Por isso, segundo a nova concepção de Segurança Pública Baseada em Evidências,
não existem programas de prevenção e programas de repressão, mas programas de prevenção
eficientes ou não eficientes para reduzir a violência.
Como as pesquisas têrm demonstrado, existem programas de prevenção que agravam
os comportamentos de risco, assim como existem estratégias de policiamento que têm alto
potencial preventivo. Por isso, os mais diferentes programas de Segurança Pública devem ser
avaliados pelos seus resultados efetivos de prevenção à violência e não pelas suas intenções
ou forma de aplicação (FARRINGTON et al, 2003).

2.2 Princípio da proatividade


Além de não ter uma concepção voltada à prevenção, o modelo tradicional de
segurança pública passou a atuar de forma cada vez mais reativa ao crime, com toda a
estrutura de segurança voltada para atuar após a ocorrência dos crimes, por meio do
atendimento de chamados de emergência, a investigação de crimes, a punição judicial e o
aprisionamento de criminosos. A partir da realização das primeiras avaliações de impacto, os
pesquisadores começaram a perceber a ineficiência desse modelo, que levava as polícias a
uma atuação orientada para emergências, sem tempo para tentar identificar os padrões e os
fatores que estavam potencializando a recorrência de crimes semelhantes. (LUM; TELEP,
2018)
Os primeiros a destacarem a diferença entre proatividade e reatividade do modelo de
segurança pública foram Reiss e Bordua (1967). Os autores perceberam que a polícia vinha
atuando majoritariamente de forma reativa, atendendo aos chamados de emergência dos
cidadãos que chegavam pelos telefones, e muito pouco de forma proativa, isto é, por iniciativa
própria. Os autores perceberam que essa atuação reativa das polícias e do sistema de justiça os
fazia agir sem analisar o que estava causando os crimes e sem a preocupação se estavam
implementando estratégias eficazes para prevenir a ocorrência dos crimes, uma vez que o seu
objetivo era apenas atender a um problema pontual e não atuar sobre um problema mais
amplo que se repetia de forma incessante.
Essa descoberta da diferença entre reatividade e proatividade foi uma das mais
importantes para modificar a concepção de Segurança Pública (SHERMAN, 2003), pois ela
estimulou governos, polícias, escolas, serviços sociais, órgãos de Justiça, universidades e
muitos outros atores sociais a se lançarem numa fase de experimentação de estratégias
inovadoras de prevenção à violência - que não mais respondiam apenas aos crimes, mas
atuavam proativamente a partir da análise sobre os mais diferentes fatores que prediziam a
violência, ampliando de forma inédita o cardápio de estratégias de prevenção à violência,
reformulando as antigas áreas que, até então, monopolizavam a Segurança Pública e passando
a incluir muitas novas áreas de conhecimento. (WILLIS, 2014).
A chegada dos computadores e, posteriormente, a disseminação dos sistemas de
georreferenciamento, nos anos 1990, foram um ponto decisivo desse processo, pois
permitiram a análise de séries criminais cada vez mais longas e de forma cada vez mais
rápida, permitindo estudos ainda mais qualificados sobre os padrões da violência e o
monitoramento mais veloz e preciso dos resultados das estratégias, propiciando, assim, uma
atuação cada vez mais antecipada, com melhores resultados e custos mais baixos, em todas as
áreas de prevenção à violência (SHERMAN, 2003).
As evidências têm demonstrado como a proatividade aumenta a eficiência das ações
de prevenção à violência. Ao reunir todas as avaliações de impacto já feitas sobre estratégias
de policiamento, Lum e Koper (2017) identificaram que os métodos de policiamento proativo
têm 47% mais chances de reduzir a violência do que os métodos reativos, comprovando a
relevância desse princípio na prática.

2.3 Princípio do foco


Além da importância da concepção preventiva e da proatividade, uma das descobertas
científicas mais importantes na área de Segurança Pública Baseada em Evidências, feita nas
últimas três décadas, é que a violência é altamente focada em termos territoriais, de pessoas,
comportamentos e fatores de risco, formando aquilo que é chamado hoje de teoria da
concentração da violência (FARREL, 2015) e, portanto, quanto mais focadas as estratégias
proativas, maior será o seu resultado preventivo e menor será os seus custos, conforme
apresenta a Figura 1.

Figura 1- Tipos de foco da violência

Territórios

Pessoas

Comportamentos

Circunstâncias

Fonte: Elaborado pelo autor.

As evidências também têm mostrado como o foco aumenta a eficiência das diferentes
estratégias de prevenção à violência. Ao avaliar todas as estratégias de policiamento que já
tiveram uma avaliação de impacto, Lum e Koper (2017) concluíram que as estratégias com
foco foram 44% mais efetivas do que as estratégias genéricas, que não utilizam nenhum tipo
desses focos na sua elaboração.
Uma overview de Revisões Sistemáticas 4 (ABT; WINSHIP, 2016) que sistematizou os
resultados de 43 revisões sistemáticas que, juntas, reuniram 1.435 avaliações de impacto de
programas e analisaram 30 diferentes tipos de estratégias de segurança, identificou que dois
terços das estratégias de segurança apresentam resultados positivos de redução da violência,
porém a maioria com conclusões muito modestas, sendo que as estratégias que apresentam
efeitos positivos fortes e que se mantêm ao longo do tempo, são as altamente focadas em
pessoas, locais e comportamentos de alto risco, como as estratégias de repressão ligadas a
grupos violentos (BRAGA; WEISZBURD, 2012), a policiamento em pontos quentes
(BRAGA; PAPACHRISTOS; HUREAU, 2014), a terapia cognitivo comportamental
(LIPSEY et al, 2007, WASHINGTON STATE INSTITUTE FOR PUBLIC POLICY, 2016) e
ao modelo risco/necessidade/responsividade (ANDREWS; BONTA, 2006).

2.3.1 Foco territorial


A concentração da violência em determinados territórios tem sido objeto de estudo
desde o século XIX. A partir dos anos 1980, com a utilização de computadores, os padrões de
concentração começaram a ser identificados com mais precisão, e demonstraram que eram
muito maiores do que se imaginava, até então. Um estudo que se tornou marco nessa área foi
feito, em 1986, na cidade de Minneapólis (EUA). Este estudo analisou 323 mil chamados para
a polícia e descobriu que apenas 3% das residências haviam sido responsáveis por mais de
50% dos chamados de emergência (SHERMAN; GARTIN; BUERGER, 1989). Esses
resultados foram encontrados em diversas outras cidades do mundo, como em Seattle, onde
5% das quadras concentraram 50% dos crimes, entre 1989 e 2004 (WEISBURD; GROFF;
YANG, 2012), e nas cidades de Bogotá, Cali, Medellin, Barranquilla e Caracas, entre 2011 e
2012, locais em que um estudo identificou que o total de crimes registrados concentrou entre
2,5% a 4,6¨% das quadras (ORTEGA; MEJIA; ORTIZ, 2015).
Os estudos também têm demonstrado a existência da concentração criminal no Brasil.
Um estudo publicado em 2019 (CHAINEY; MONTEIRO, 2019) analisou a concentração de
roubos em sete cidades do Rio de Janeiro e identificou que, na capital do estado, 50% dos
roubos ocorreram em 3,3% das microunidades geográficas 5 da cidade, em 2015; e de 3,5%,
em 2016, padrão semelhante transcorrido nas demais cidades. A pesquisa também identificou
que o forte crescimento dos roubos ocorridos nesse período, nas cidades analisadas,

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Overview de Revisões Sistemáticas é um método de pesquisa que realiza um processo de revisão sistemática
que tem como objetivo identificar todas as revisões sistemáticas (estudos secundários) já feitas sobre um
determinado assunto e não estudos primários. (Grande et al, 2012)
5
Cada uma dessas unidades possui 150 x 150 metros.
aconteceu, majoritariamente, nas mesmas áreas em que os crimes já ocorriam no período
anterior.
Esse conjunto de informações fez Weisburd nomear esse fenômeno como Lei da
Concentração Territorial Criminal (WEISBURD, 2015), segundo a qual 25% dos crimes de
uma cidade ocorreriam entre 0,4% e 1,6% dos segmentos de rua de uma cidade, e 50% dos
crimes aconteceriam em 2,1% a 6% e, ainda, que essa concentração se mantém estável, nos
mesmos lugares, ao longo do tempo.
A realização de intervenções de policiamento e de prevenção situacional nesses
microterritórios tem ganhado destaque cada vez maior, pois, diferentemente de pessoas, os
territórios são fixos e, muitas vezes, podem ser modificados de forma mais célere e eficaz do
que intervenções voltadas para modificar o comportamento de pessoas (LUM; KOPER,
2017).
A partir dessas análises, tem se fortalecido as estratégias com foco territorial, assim
como as estratégias de policiamento em pontos quentes e as intervenções de prevenção
situacional e urbanismo, que têm demonstrado alta efetividade para reduzir os índices de
violência (NEWMAN; FRANCK, 1982). A revisão sistemática feita por Sherman, Farrington
e Welsh (2002) identificou que 90% das intervenções de prevenção com foco em locais
tiveram algum nível de redução de violência, sejam elas de policiamento ou de prevenção
situacional.

2.3.2 Concentração da Carreira Criminal


Estudos feitos desde 1942 vêm demonstrando que, embora o número de pessoas que
comete crimes seja muito mais amplo do que as teorias determinísticas sobre o homem
criminoso, apenas parte delas comete muitos crimes, dos quais poucas passam a praticar
crimes violentos e um pequeno número cometerá grande número de crimes violentos
(PIQUERO; JENNINGS; BARNES, 2012) ao longo da sua carreira criminal.
Uma das primeiras pesquisas a demonstrar essa concentração foi realizada na cidade
de Denver, (KRISBERG; HAWKINS; CATALANO, 1986), demonstrando que os
adolescentes infratores não crônicos cometiam algo em torno de 3,9 atos violentos ao longo
de um ano, enquanto que os infratores múltiplos cometiam uma média de 33,4 atos no mesmo
período. Outra pesquisa, publicada em 1972, considerada um marco por ser a primeira
realizada numa coorte de nascimentos, identificou que 6% dos meninos acompanhados pela
coorte de nascidos, em 1945, correspondiam a 52% dos contatos com a polícia entre os
meninos com a mesma idade, os quais foram chamados de criminosos crônicos (WOLFGAN;
FIGLIO; SELLIN, 1972).
Essa constatação trouxe profundo impacto nas estratégias de prevenção social
secundárias e terciárias. Após diversas avaliações de impacto, os pesquisadores perceberam
que as diferentes estratégias de prevenção produzem melhores resultados quando as
intervenções são focadas nos indivíduos com maiores riscos de comportamento violento
(ANDREWS; BONTA, 2006).
Uma overview sobre projetos de prevenção social analisou os dados de 548 diferentes
estudos de prevenção, realizados entre 1958 e 2002, sendo 42% deles randomizados,
identificando que o perfil de comportamento dos jovens é o fator que mais impacta nos
resultados das intervenções, uma vez que as intervenções realizadas em jovens com trajetória
de violência mais agravada são aquelas que apresentam os melhores resultados na redução dos
índices de violência (LIPSEY, 2009).
Uma overview sobre projetos de ressocialização identificou a existência de cinco
revisões sistemáticas que reuniram e analisaram os resultados de intervenções voltadas à
ressocialização que utilizam a concepção focada em indivíduos altamente violentos. As cinco
revisões indicaram resultados positivos muito consistentes das intervenções focadas em
comparação com intervenções não focadas, demonstrando que os programas de
ressocialização que não são focados praticamente não tiveram queda nos índices de
reincidência, enquanto que aqueles que são evidenciados conseguiram uma redução de até
50% nos índices de violência (ANDREWS; BONTA, 2006).

2.3.3 Concentração da vitimização

Os estudos sobre vitimização demonstraram que o número de vítimas também é muito


concentrado na sociedade, assim como o número de vítimas que sofre crimes reiteradas vezes.
Apenas algumas lojas e algumas casas serão vítimas de roubos, algumas pessoas serão vítimas
mais reiteradas de roubos nas ruas e um número pequeno de pessoas corre mais risco de ser
vítima de homicídio. No final dos anos 1970, os pesquisadores denominaram esse fenômeno
de “vitimização múltipla” (SPARKS et al. 1977) e passaram a chamar a atenção sobre a
importância de estudar os padrões de vitimização para formular estratégias de prevenção ao
crime. A partir dos anos 1990, com o fortalecimento da Segurança Pública Baseada em
Evidências, muitos governos passaram a utilizar essas informações para elaborar estratégias
de prevenção à violência com foco nas vítimas, implementando medidas protetivas a esses
alvos preferenciais.
Essa informação tanto pode servir para a aplicação de programas de prevenção mais
focados, como o programa de empoderamento de mulheres, ou de prevenção situacional, para
a instalação de trancas ou outras estratégias em casas e lojas. Na Inglaterra, por exemplo, uma
das estratégias com esse enfoque, voltada para roubos e furtos de veículos, analisa anualmente
os veículos mais roubados e furtados e a forma de atuação e utilização dos veículos por parte
dos criminosos, e define um plano de ação em conjunto com as montadoras de veículos para
auxiliar a proteger os proprietários e dificultar as ações criminosas em cada tipo de veículo, o
que vem provocando quedas nesse tipo de crime.
Os estudos sobre vitimização múltipla, em geral, são realizados com os dados de
pesquisas de vitimização e, em alguns casos, com os registros policiais, embora não sejam
muito adequados, pois uma pessoa vítima de múltiplos crimes tende a deixar de fazer o
registro dos crimes que sofre.
Uma revisão sistemática sobre estudos de vitimização múltipla identificou 40
pesquisas de alta qualidade científica já elaboradas sobre o tema em todo o mundo, entre 1977
e 2016, indicando que, em média, 5% da população sofre 61,5% de todos os crimes, enquanto
que 5% das vítimas que mais sofreram crimes corresponde a 17,3% deles. Essa concentração
também ocorre em relação aos tipos de locais em que os crimes acontecem, em torno de 5%
das casas e dos locais de negócios sofrem 60% dos crimes e 10% das casas sofreram 80% dos
crimes; porém, o número de comércios que sofrem reiterados crimes é maior (5% sofrem
30,7% dos crimes), do que as moradias (5% sofrem 18,5%), indicando que a vitimização
múltipla é maior no comércio e, portanto, mais ações de prevenção devem ser realizadas em
relação a suas vítimas para evitar novos casos (SOOHYUN et al, 2017).

2.3.4 Difusão do Efeito Preventivo X Deslocamento Criminal

Um argumento muito utilizado para tentar desacreditar a teoria da concentração


criminal é uma crença muito poderosa, chamada de deslocamento criminal, que é uma das
maiores fontes de resistência à possibilidade de se realizar intervenções focadas (ABT;
WINSHIP, 2016). Segundo essa crença, a atuação sobre determinado foco criminal
simplesmente faz com que os criminosos mudem de lugar, de modus operandi, ou que novos
criminosos violentos surjam, o que faz chegar à conclusão de que não há o que fazer para
prevenir o crime, sendo necessário simplesmente contê-lo por meio da contratação de mais
policiais, comprando mais armas e viaturas e elevando as taxas de encarceramento.
Em 1976, quando se iniciavam os estudos de maior porte sobre a criminalidade,
Thomas Reppetto escreveu um livro (REPPETTO, 1976) no qual abordou a dificuldade de
uma concepção preventiva focada, em razão da existência de cinco tipos diferentes de
deslocamento criminal: a mudança de momento, a mudança de território, a mudança no
método de atuação, a mudança no alvo e a mudança de tipo de crime.
Desde então, esse assunto passou a ser objeto de inúmeros estudos científicos e,
embora venham demonstrando eficiência prática das intervenções focadas, a ideia do
deslocamento criminal continua muito forte no imaginário social e das próprias instituições de
segurança, onde a cultura do uso de evidências ainda não se consolidou.
As avaliações de impacto sobre atuações focadas passaram a demonstrar que elas não
só não provocam o deslocamento criminal, como produzem um efeito inverso, chamado de
“difusão do efeito preventivo” (crime prevention diffusion beneffit) (CLARKE; WEISBURD,
1994), que faz com que o efeito preventivo das ações focadas se espalhe para outras áreas,
crimes, indivíduos ou grupos, elevando a redução da criminalidade.
Efetivamente, alguns tipos de intervenção eventualmente podem produzir
deslocamento criminal, mas o volume desse deslocamento é menor do que a difusão do efeito
preventivo. Alguns estudos mais recentes começaram a chamar a atenção para a importância
de se estudar, de forma mais detalhada, o próprio movimento criminal, com o objetivo de
também compreender os seus padrões de funcionamento e, assim, desenvolver estratégias
focadas cada vez mais eficazes, potencializando a sua capacidade preditiva e preventiva
(JOHNSON et al, 2014).

2.4 Princípio da legitimidade social


No modelo tradicional de segurança pública, pouca atenção era dada sobre as
consequências da forma como as instituições de segurança atuavam para alcançar o seu
objetivo de prender criminosos. No entanto, as evidências começaram a demonstrar que a
forma de implementar as estratégias em relação aos mais diferentes grupos sociais produz
consequências relevantes aos próprios índices de violência.
Evidências demonstraram que pessoas que foram tratadas de forma inadequada pelas
instituições de segurança tendem a cometer mais atos violentos. Por isso, não basta aplicar as
melhores estratégias de policiamento e Justiça Criminal se grupos relevantes da sociedade
percebem que essas ações não são implementadas de forma justa e equitativa para o conjunto
da sociedade, pois essa sensação faz com que aumente o descrédito com a lei e provoque o
aumento os índices de violência (TYLER, 1997).
Outra concepção que as pesquisas demonstraram ser equivocada é que a legitimidade
da polícia estaria associada ao número de crimes resolvidos por ela ou de pessoas condenadas
pelo Judiciário, como se imaginava no modelo tradicional. Na verdade, a eficiência das
instituições de segurança é apenas um dos itens que formam a confiança das pessoas nessas
instituições. As evidências demonstraram que a legitimidade das instituições de segurança
está muito mais relacionada com os seguintes aspectos da forma com que são tratadas:
1. neutralidade da atuação das instituições e ausência de qualquer tipo de preconceito;
2. justiça na aplicação da lei e adequação no uso da força;
3. capacidade da polícia explicar o que está fazendo;
4. concessão de oportunidade para as pessoas explicarem suas ações.
As pesquisas sobre procedimento justo têm demonstrado que uma das ações mais
importantes e mais baratas que as instituições de segurança podem fazer para reduzir o crime
numa sociedade é tratar as pessoas segundo os preceitos do procedimento justo, pois isso faz
as pessoas acreditarem e respeitarem mais as leis e, por consequência, cometerem menos
crimes e, assim, cooperarem mais com a polícia.
Uma revisão sistemática localizou a existência de 30 estudos que avaliaram o impacto
da forma de atuação das instituições de segurança nos índices de violência e identificou que a
forma de procedimento das polícias tem impacto direto nos índices de satisfação, de
confiança, de adesão à lei, de cooperação das pessoas com as autoridades e também dos
índices de perturbação do sossego, de reincidência criminal e de violência (MAZEROLLE et
al, 2013).
Importante destacar que esse tema não diz respeito apenas às polícias. Uma pesquisa
realizada com 1.642 presos do Estado de Ohio demonstrou que aqueles que afirmaram ter
sofrido algum tipo de violência do agente prisional voltavam a cometer crimes mais
rapidamente, mesmo em comparação com outros presos com igual nível de comportamento
violento e trajetória criminal (LISTWAN et al., 2013). As evidências demonstram que o nível
de legitimidade afeta também o sucesso dos programas de prevenção social e de
ressocialização, pois o grau de vínculo que os aplicadores dos programas conseguem
estabelecer com as pessoas que estão participando dos programas tem um grande impacto nos
resultados alcançados (ALEXANDER et al, 1976, ABT; WINSHIP, 2016).
Figura 2: Evidências existentes sobre a relação entre legitimidade e violência

Princípios do Resultados Diretos Resultados Indiretos


procedimento justo

•Neutralidade nas •Cooperação •Queda da


decisões •Adesão a lei perturbação do
•Diálogo com os •Satisfação sossego e
cidadãos pequenos delitos
•Confiança
•Dignidade e •Queda da
respeito reincidência
•Motivos justos •Queda da
criminalidade

Fonte: adaptado de MAZEROLLE, 2014.

2.5 Princípio da Precaução


Muitas vezes, em decorrência da gravidade das situações de violência e do apelo da
sociedade para que algo seja feito imediatamente, os governos não avaliam as consequências,
a médio e longo prazos, das ações realizadas, resultando em ações reativa, sem foco, sem
preocupação com a legitimidade social e sem avaliação, como visto acima.
Com o desenvolvimento das evidências, os estudos científicos começaram a
demonstrar que algumas das ações realizadas para reduzir a violência não só não produzem
queda nos índices de violência, como provocam diversos efeitos indesejados e, algumas
vezes, até mesmo aumentam a violência (DISHION, 1999).
A preocupação com a possibilidade de ações financiadas com recursos públicos
provocarem danos colaterais para o conjunto da sociedade ou para determinados grupos
sociais tem aumentando e, além de diversas outras dimensões ambientais, os efeitos colaterais
têm sido avaliados, pelo menos, nas seguintes dimensões (ILICH, 1981):
I – físicos: quando as intervenções produzem mortes e ferimentos desproporcionais à
necessidade da intervenção;
II – psicológicos: quando as intervenções produzem consequências psicológicas
danosas, seja em nível individual, seja em nível coletivo, como numa comunidade;
III – culturais: quando a própria intervenção de segurança é criminógena, isto é,
quando ela tem por consequência produzir um aumento dos índices de violência ou o
agravamento de diversos fatores de risco.
Em razão da existência desses efeitos colaterais, muitos autores têm destacado a
importância da Segurança Pública adotar o chamado princípio da precaução. Esse princípio se
tornou uma base jurídica formalmente, pela primeira vez, na Convenção Mundial sobre
Diversidade Biológica (Nações Unidas, 1992), promulgada na Eco 92, mas, hoje, é cada vez
mais utilizado em diferentes áreas, determinando que o Poder Público somente implemente,
financie ou autorize programas que possuam evidências científicas de que essa ação, além de
ser eficaz, não produz danos colaterais.
Uma overview publicada em 2014 sobre efeitos colaterais de programas de prevenção
à violência, que utilizou como referência as 15 revisões sistemáticas Campbell publicadas até
aquele momento, as quais analisaram um total de 574 avaliações de impacto, identificou um
total de 22 programas que apresentaram efeitos colaterais (4%) (WILSON, 2009). Os tipos de
programas que apresentaram efeito colateral foram: campos de treinamento de estilo militar
(cinco estudos), coorte de drogas (cinco estudos), tratamento de drogas em ambiente fechado
(três estudos), scared straight (dois estudos), visitas domiciliares de policiais (dois estudos) e
antibullying (um estudo). Os autores da pesquisa destacam que esses não são os únicos
estudos com efeitos colaterais conhecidos, mas apenas os que foram analisados pelas revisões
Campbell por ele avaliadas (WELSH; ROCQUE, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

A realização de avaliações de impacto demonstrou que as premissas que embasavam o


modelo tradicional de segurança pública não eram efetivas para reduzir os índices de
violência e impulsionou o surgimento de novas metodologias de prevenção à violência,
incentivando uma onda de inovação nas áreas de prevenção social, policiamento, prevenção
situacional, justiça criminal e ressocialização,
O acúmulo de evidências sobre essas experiências permite que sejam identificadas
cinco características estruturais das políticas de segurança que conseguem ter sucesso para
reduzir os índices de violência: i) são permanentemente avaliadas para verificar se estão
produzindo redução dos números de violência; ii) são proativas, pois atuam a partir de uma
intensa análise dos indicadores de violência e os principais fatores que potencializam esses
índices; iii) são altamente focadas em temas específicos, em territórios e grupos específicos;
iv) se preocupam com a forma como a sua atuação afeta a sua legitimidade junto a grupos
socialmente vulneráveis; v) utilizam o princípio da precaução, não aplicando estratégias que
não sejam comprovadamente eficientes, sem gerar efeitos colaterais.
Figura: Concepção tradicional de Segurança x Concepção Baseada em Evidências

CONCEPÇÃO TRADICIONAL DE CONCEPÇÃO DE SEGURANÇA


SEGURANÇA PÚBLICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS
CONTROLE PREVENÇÃO
avalia eficácia pelas ações feitas: avalia eficácia pelo número de
Número de prisões efetuadas, crimes prevenidos, pelo custo-
drogas apreendidas, julgamos benefício e pela legitimidade social.
realizados. Atua nas Atua nas causas.
consequências.
REATIVA PROATIVA
Age depois da violência, Atua a partir das suas estratégias, a
respondendo a emergências partir da identificação dos
problemas, buscando atuar nas
causas, se antecipando ao crime
GENÉRICO FOCADO
sem foco (tenta resolver tudo ao geográfico
mesmo tempo) autores (indivíduos e grupos
altamente violentos)
vítimas
FORMA DE FAZER NÃO IMPORTA A LEGITIMIDADE SOCIAL IMPORTA
Não se preocupa com a A forma de implementar as ações e a
legitimidade social com grupos confiança dos diferentes grupos
sociais vulneráveis, o importante sociais importa, pois tem
é fazer suas ações. consequência nos índices de
violência
INADVERTÊNCIA PRECAUÇÃO
Não se preocupa com efeitos só deve ser implementado o que se
colaterais sabe que funciona e que não gera
efeitos colaterais

É fundamental que os diferentes poderes, a níveis federal, estadual e municipal,


utilizem esses princípios na formulação de planos e estratégias de Segurança Pública,
superando as concepções do modelo tradicional, que seguem se mostrando ineficientes no
Brasil. Esse conhecimento também pode ser utilizado na área de formação dos professionais
que atuam nos diferentes setores que trabalham com prevenção à violência, para que se possa
aprimorar a formulação de estratégias inovadoras e, também, aumentar a adesão desses
profissionais à novas metodologias de trabalho.
Os organismos internacionais e fundações privadas também podem ter um papel muito
relevante financiando programas que utilizem esse conhecimento, além de realizar pesquisas
que produzam novas evidências no país.
Na área acadêmica, a concepção de Segurança Pública Baseada em Evidências
também pode impulsionar a produção de novas pesquisas voltadas a avaliar o impacto das
estratégias atualmente desenvolvidas no país, bem como propor e desenvolver parcerias com a
sociedade civil, fundações, organismos internacionais e órgãos governamentais, visando o
desenvolvimento de novos programas que utilizem essas evidências e possam produzir, dessa
forma, resultados mais exitosos de redução da violência. Novas pesquisas poderiam,
inclusive, verificar se esses princípios se mostram válidos também no país.

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