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Ano: 2019
1
Andressa Ignácio da Silva
2019
Curitiba, PR
2
Editora São Braz
Rua Cláudio Chatagnier, 112
Curitiba – Paraná – 82520-590
Fone: (41) 3123-9000
Revisão de Conteúdos
Sérgio Antonio Zanvettor Júnior
Revisão Ortográfica
Murillo Hochuli Castex
Desenvolvimento Iconográfico
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério
FICHA CATALOGRÁFICA
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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz!
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Sumário
5
Apresentação da disciplina
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desejado, por atacarem apenas a criminalidade, sem uma compreensão de
suas causas. Nesta aula serão abordadas, ainda, reflexões sobre os modelos
de policiamento e as necessidades de transformações nas instituições policias,
bem como atenção à saúde dos policiais.
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Aula 1 – Sociedade, cultura e controle social
Apresentação da aula 1
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habilidades e potencialidades. Casos de seres humanos privados do convívio
com seus semelhantes, como os meninos-lobo, demostram que estes
apresentam alterações drásticas em seu desenvolvimento.
Pesquise
Para um aprofundamento sobre os meninos-lobo e seu
desenvolvimento, acesse o link:
http://www.oarquivo.com.br/variedades/curiosidades/2612-
amala-e-kamala-a-historia-das-meninas-lobo.html
9
americano Clifford Geertz (1989), segundo o qual a cultura é uma teia de
significados tecida pelo homem, que orienta a existência humana.
A despeito das divergências, Roque de Barros Laraia (2001) sugere uma
definição segundo a qual:
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internalizam uma série de valores, formas de agir e maneiras de
pensar (GRIGOROWITSCHS, 2008, p. 40).
11
sociedades complexas emergem novos meios de controle social e novas
instituições. Nesse sentido, nas sociedades modernas o Estado atua no
controle social, buscando manter os comportamentos dos indivíduos dentro dos
padrões estabelecidos.
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É importante destacar que o monopólio da força é uma das principais
características do Estado Moderno. Porém, a violência não é o único meio de
exercício do poder por parte do Estado. Como aponta Marcos Augusto Maliska
(2006) a família e até mesmo a igreja, ao longo do tempo, usaram a força física
como instrumento de poder e dominação.
Ao longo do processo evolutivo, os seres humanos, em diferentes
sociedades, desenvolveram diferentes formas de sociabilidades e culturas. É
importante reforçar que cultura constitui padrões de comportamento
socialmente transmitidos, que, por sua vez, geram coerção sobre os
comportamentos individuais. Ou seja, o convívio em sociedade implica que os
indivíduos não ajam pautados apenas em suas vontades, desejos ou
interesses.
O processo civilizador, conforme análise de Elias (1994), teve como
característica o controle dos instintos, afetos e sentimentos dos indivíduos e a
incorporação de regras de comportamento e civilidade. De acordo com o autor,
houve um processo de ruptura com os padrões de comportamentos medievais,
como a crueldade, tortura, pilhagem e uso da força e violência para resolução
de conflitos (como por exemplo nos duelos) e a imposição de um controle das
emoções da agressividade. A manifestação individual de agressividade e
violência foi gradativamente restringida e deslegitimada pelo Estado, que
passou a proibir duelos, a restringir o uso de armas, a criminalizar justiceiros e
à agressão física.
A pacificação da conduta tornou-se um padrão dos “civilizados” e os atos
associados à violência passaram a ser regulados e repudiados. Com a
consolidação do Estado Moderno, este passa a deter o monopólio da força. Ou
seja, os indivíduos e demais instituições “abrem mão” do uso da violência, em
detrimento da ação do Estado como regulador da vida social.
O exercício do poder é definido por Max Weber (1982-1999) como
dominação. De acordo com o autor, existem três tipos básicos de dominação:
Dominação tradicional;
Dominação carismática;
Dominação racional-legal.
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Na dominação tradicional, o exercício do poder é legitimado pela
crença nas tradições e a autoridade baseada nos costumes. Na dominação
carismática, o exercício do poder é pessoal e a autoridade baseada na crença
nas qualidades do líder. Já a dominação racional-legal, típica do Estado
Moderno, é fundamentada no reconhecimento dos regulamentos estabelecidos
pela racionalidade e a autoridade legitimada pela lei (WEBER, 1999).
Como aponta Maliska (2006), um aspecto essencial no Estado Moderno
é a burocracia. Na medida em que o exercício do poder demanda a definição e
distribuição de competências e a aplicação de regulamentos e equipes
qualificadas para o exercício de diferentes funções. Para Weber (1999), a
burocracia representa uma organização racional, impessoal, eficiente e
pautada na legalidade para o exercício da autoridade racional-legal. Nesse
sentido, a burocracia na teoria weberiana favoreceria o cumprimento da lei, o
bem-estar e a manutenção da ordem social.
Para o exercício do poder e do monopólio legítimo da força, consolidam-
se instituições entre as quais podemos destacar o sistema prisional, o judiciário
e as polícias. Estas são instituições fundamentais no processo de controle
social, ou seja, conforme apontado anteriormente, no processo de regulação
social e na obediência aos padrões estabelecidos.
Cabe destacar a importância do Direito, que nas sociedades ocidentais
modernas substitui outros meios na solução dos conflitos de interesse, como a
violência. Nesse sentido, o Direito consolida orientações e parâmetros
racionais a serem aplicados nas relações sociais, atuando como um
mecanismo de controle. Entretanto, é necessária a consolidação de trâmites
burocráticos e instituições especificas:
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detrimento das formas medievais, como o suplício público e a tortura. A partir
do século XIX, a prisão impõe-se como principal mecanismo punitivo.
A polícia, por sua vez, deve ser compreendida como instituição essencial
no uso da força legítima por parte do Estado, na medida em que outras
instituições podem recomendar medidas coercivas e mesmo direcionar seu
uso, como fazem, respectivamente, as legislações e cortes, mas os policiais
são os agentes executivos da força (BAYLEY, 2001, p. 20).
É importante destacar, para os fins desta disciplina, que a consolidação
de instituições e mecanismos de controle social são essenciais nas sociedades
ocidentais modernas. Para tal, são definidas e distribuídas competências,
aplicações de regulamentos, bem como constituídas equipes para o exercício
de diferentes funções. Ou seja, o controle social demanda a organização
burocrática do Estado.
Entretanto, tendo em vista o conceito weberiano de burocracia, é
evidente a discrepância entre a realidade, em especial a brasileira e o tipo ideal
desenvolvido pelo autor. Cabe ressaltar que a Sociologia e mais
especificamente a Sociologia da Violência apontam a importância do bom
funcionamento do Estado, das instituições e da burocracia para a ordem social.
Por outro lado, demostram como a ineficiência do Estado, das instituições de
controle social e da burocracia podem favorecer a violência.
Resumo da aula 1
15
A vida social exige previsibilidade e padrões de comportamento. Nesse
sentido, na vida em sociedade as vontades individuais são limitadas pelo
coletivo. As regras sociais são criadas e aceitas com base na compreensão da
necessidade de organizar as relações sociais.
O processo civilizador levou ao controle dos instintos, afetos e
sentimentos dos indivíduos e à incorporação de regras de comportamento e
civilidade. Houve, portanto, uma ruptura com os padrões de comportamentos
medievais, como a crueldade, a tortura, a pilhagem e o uso da força e violência
para resolução de conflitos (como por exemplo nos duelos) e a imposição de
um controle das emoções da agressividade. A manifestação individual de
agressividade e violência foi gradativamente restringida e deslegitimada pelo
Estado, que passou a proibir duelos, a restringir o uso de armas, a criminalizar
justiceiros e promover a agressão física.
O Estado, por sua vez, é fruto do processo de racionalização
característico da modernidade. Este se caracteriza pelo monopólio legítimo da
força, pela prevalência da dominação racional legal e pela organização da
burocracia. No campo do controle social, o Estado Moderno atua por meio do
Direito, do poder judiciário, do sistema prisional e da polícia.
Entretanto, o mal funcionamento das instituições acima podem favorecer
a violência e colocar em risco o bom funcionamento da sociedade, conforme
será abordado nas aulas a seguir.
Atividade de Aprendizagem
Com base nos argumentos apresentados nesta aula,
discorra sobre como o monopólio da violência por parte do
Estado favorece a manutenção da ordem nas sociedades
modernas.
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Aula 2 – O crime como problema social e sociológico
Apresentação da aula 2
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A Revolução Industrial foi o conjunto de mudanças que aconteceram na
Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal característica desta revolução foi o
processo de inovação tecnológica. A construção de máquinas a vapor leva a
substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas.
Cabe ressaltar que até o final do século XVIII, a maioria da população europeia
vivia no campo, atuava na agricultura de subsistência ou na manufatura.
Com a Revolução Industrial, alteraram-se as relações econômicas,
sociais e de produção da época. O concomitante processo de cercamento
transformou as terras comunais em propriedades privadas, levando ao êxodo
rural e à ruptura com a organização econômica de base agrária. Os
camponeses dirigiram-se aos núcleos urbanos, propiciando mão de obra barata
e abundante. Entretanto, como dito anteriormente, as inovações tecnológicas e
o uso de máquinas no processo produtivo diminuíram significativamente a
oferta de postos de trabalho.
Um alto índice de desemprego, condições de trabalho aviltantes,
jornadas de trabalho que poderiam ultrapassar 16 horas diárias, acidentes de
trabalho, baixos salários são apenas alguns dos graves problemas sociais
gerados pela Revolução Industrial. As epidemias, altas taxas de violência, falta
de moradias, aumento da mendicância e criminalidade também colocavam a
sociedade da época em alerta.
A Revolução Francesa, por sua vez, corresponde ao conjunto de
agitações, de revoltas ocorridas entre 1789 a 1799 na França. O grande legado
desta revolução foi a mudança na concepção e na prática da política, fruto da
insatisfação com a monarquia absolutista e com os privilégios da aristocracia e
dos religiosos. A burguesia francesa, com apoio de trabalhadores urbanos e
camponeses, promoveu uma série de protestos e revoltas que culminaram com
o fim do Antigo Regime.
A Revolução Francesa buscou novos princípios para a ação política,
simbolizados no lema revolucionário: liberdade, igualdade e fraternidade.
Nesse contexto, a reorientação dos princípios do Estado, bem como a
participação da burguesia no poder político se consolidam. Entretanto, o
princípio de igualdade, tão caro aos revolucionários, não anula as
desigualdades sociais que permanecem, apesar do novo ordenamento jurídico.
18
É nesse contexto de surgimento de novos conflitos que as Ciências
Sociais e em especial a Sociologia se desenvolvem. Em tal conjuntura, a
Sociologia foi compreendida como uma forma de buscar soluções para os
conflitos e problemas sociais europeus.
Vídeo
Tempos Modernos (1936, Charles Chaplin).
Este clássico do cinema apresenta uma
abordagem dos dilemas e conflitos da
sociedade moderna, bem como dos dramas e
dificuldades enfrentados pelos indivíduos que
buscam se adequar às novas normas, práticas
e comportamentos.
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pensamento da criminologia, o criminoso escolheria de forma livre e soberana
infringir a lei.
Os principais representantes desta escola foram: Gian Domenico
Romagnosi (1761-1835), na Itália, Jeremias Bentham (1748-1832), na
Inglaterra e Paul Johann Anselm Ritter Von Feuerbach (1775-1833), na
Alemanha (GOMES, 2002, p. 176). Ainda de acordo com Gomes (2002), a
Escola Clássica, apesar de suas contribuições, não aprofundava suas
investigações nas causas do crime, na medida em que considerava a livre
decisão do autor como foco de análise.
A Escola Positiva, por sua vez, teve como maior representante o
médico italiano Cesare Lombroso. Este autor desenvolveu, com base na teoria
da evolução das espécies de Darwin, a tese do criminoso nato. De acordo com
Gomes (2002), para Lombroso, o criminoso era um homem menos civilizado
que os demais membros da sociedade. A teoria lombrosiana partia do princípio
de que o comportamento era biologicamente determinado. Para construir sua
teoria, Lombroso utilizou o método da antropometria (medição de corpos),
com vistas a encontrar evidências no formato de crânios, olhos, nariz e boca
que apontassem para um padrão fenotípico (aparência) dos criminosos.
Vocabulário
Antropometria: método de identificação dos criminosos
apoiado na descrição do corpo humano (medidas, fotografias,
impressões digitais).
20
2.3 As concepções sociológicas clássicas sobre conflitos, crime e
violência
21
criar o primeiro curso de Ciências Sociais e, em 1990, fundando o
departamento de Sociologia nesta universidade. O positivismo, a abordagem
científica dos fenômenos sociais e a busca por uma metodologia para o estudo
da sociedade são parte do legado de Comte no pensamento durkheimiano.
É fundamental destacar que a sociedade, para Émile Durkheim, é mais
do que a soma dos indivíduos, é um sistema formado pela associação deles.
Não existe ser humano sem interação, não há, entretanto, uma decisão
deliberada por existir ou não interação. Pode-se afirmar que tanto os fatos
sociais quanto a própria sociedade são fruto das interações entre os indivíduos.
De acordo com Sidnei Ferreira Vares (2011), a sociedade, na concepção
durkheimiana, é um conjunto de regras, normas e padrões de conduta
produzidos pelos indivíduos em suas interações. Ou seja, uma síntese de
relações entre seus membros. Sendo assim, a sociedade, na perspectiva de
Durkheim, não pode ser compreendida com base em critérios biológicos ou
psicológicos. Nesse sentido, Durkheim sugere que a Sociologia tome como
objeto de análise os fatos sociais:
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sociedades modernas geram um alto grau de interdependência entre os
indivíduos, ou seja, na medida em que há maior divisão social do trabalho,
cada indivíduo especializa-se em uma função/profissão, dependemos dos
demais membros da sociedade para sobreviver.
Além disso, para Durkheim, as sociedades se mantêm integradas em
função da existência da consciência coletiva, esta pode ser definida como um
conjunto de valores, normas, regras de conduta e prescrições. Nesta
perspectiva, o crime pode ser compreendido como uma ação que, vai contra as
normas estabelecidas, contra a consciência coletiva. Cabe ressaltar que, de
acordo com Quintaneiro, Barbosa e Oliveira (2002), Durkheim aponta que a
consciência coletiva e, portanto, a compreensão das regras e, por conseguinte,
o que é considerado crime, mudam ao longo do tempo e variam de sociedade
para sociedade.
Mais do que isso, o crime, para Durkheim, é normal e tem uma função
social, na medida em que a punição reforça a consciência coletiva e fortalece a
regra. Entretanto, se a taxa de criminalidade aumenta a cada dia ou assume
proporções que comprometem a vida social, isso indica que a sociedade está
em estado de anomia.
A anomia é definida por Durkheim (2010) como estado de ausência ou
desintegração das normas sociais, desrespeito às regras comuns, às tradições
e práticas estabelecidas. Sendo assim, o crime não é causa da desintegração
social, mas reflexo dela. As altas taxas de criminalidade, de acordo com a
abordagem de Durkheim, apontam que existem falhas nas regras de conduta
ou nos valores morais. Por outro lado, podem apontar que as instituições que
regulamentam o combate ao crime estão falhando.
A compreensão de Weber se distingue consideravelmente da
perspectiva de Durkheim. O pensador alemão Max Weber, nascido em 1864 e
jurista de formação, desenvolveu abordagem distinta sobre a própria
Sociologia, seus métodos e objetivos.
Para Weber, a ciência é procedimento racional, que busca explicar os
fatos. As ciências sociais, por sua vez, têm por objetivo reconstituir os atos
humanos, compreender o significado que estes tiveram para os agentes, o
universo de valores adotados por um grupo social ou indivíduo enquanto
membro de uma determinada sociedade.
23
Nesse sentido, a teoria weberiana se afasta de abordagens que utilizam
conceitos amplos, genéricos ou buscam por estabelecer leis gerais. Tais
abordagens, na perspectiva de Weber, afastam o cientista social da realidade e
da materialidade dos fenômenos. As construções teóricas devem ter coerência
com fatos e ações reais, caso contrário, são apenas hipóteses. Portanto, a
partir da realidade social infinita, cabe ao cientista social observar, selecionar,
organizar e identificar regularidades, com o intuito de compreender as
especificidades do objeto estudado e seus significados.
O crime e a violência não são objeto direito de análise de Weber. Porém,
uma contribuição fundamental da teoria de Weber para a compreensão dos
fenômenos do crime e da violência é sua análise do Direito. Jurista de
formação, Max Weber (1999) compreende o Direito Moderno como fruto de um
processo de racionalização, que contribui para diminuir o poder dos sistemas
tradicionais de dominação.
Nas sociedades ocidentais modernas, o Direito substitui outros meios na
solução dos conflitos de interesse, como a violência. Nesse sentido, o Direito
consolida orientações e parâmetros racionais a serem aplicados nas relações
sociais, atuando como um mecanismo de controle.
O conflito social é a base da análise da sociedade desenvolvida por Karl
Marx, pensador alemão nascido em 1818. Para o autor, as sociedades são
historicamente divididas em grupos em constante conflito. Tal conflito é
motivado pela disputa por poder e riqueza.
Cabe ressaltar que a violência e a exploração são, de acordo com Marx
e Engels (2007), características estruturais do capitalismo. Para os autores,
este sistema estaria pautado na propriedade privada dos meios de produção e
na exploração dos trabalhadores. Além disso, tal sistema geraria
desigualdades, miséria e exploração dos mais pobres.
Para Marx, o Estado configura-se como uma instituição de defesa dos
interesses da burguesia. Da mesma forma, o Direito atuaria como uma
ferramenta de legitimação da classe dominante. Um fator apontado por Marx e
Engels (2007) é a atuação do Estado e do Direito na tutela e proteção da
propriedade privada.
Nesse sentido, na perspectiva marxista, o crime pode ser compreendido
como fruto das condições da sociedade de classes. Porém, o crime como
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reação individual à opressão é facilmente reprimido pelo Estado, pelo Direito e
pelas demais instituições de controle social. Entretanto, a repressão do crime
não o elimina, na medida em que suas causas remontam às características
estruturais da sociedade capitalista.
A principal contribuição das Ciências Sociais para a compreensão do
conflito, do crime e da violência é a ruptura com explicações religiosas,
biológicas ou estritamente psicológicas. Sendo assim, a despeito das
divergências quanto à compreensão do fenômeno, busca-se analisá-lo com
foco nos fatores sociais. Nesse sentido, o crime deixa de ser pensando como
desvio moral, psicológico para ser compreendido como problema social e
sociológico, conforme abordado pelos teóricos clássicos da Sociologia, em
especial por Émile Durkheim.
Resumo da aula 2
25
interdependência entre os indivíduos em função divisão social do trabalho. O
crime, para Durkheim, é normal e tem uma função social, na medida em que a
punição reforça a consciência coletiva, ou seja, fortalece a regra.
Por fim, foi abordada a perspectiva de Karl Marx segundo a qual o crime
pode ser compreendido como fruto das condições da sociedade de classes.
Como reação individual à opressão, o crime é facilmente reprimido pelo
Estado, pelo Direito e pelas demais instituições de controle social, fato que não
o elimina, na medida em que suas causas remontam às características
estruturais da sociedade capitalista.
Atividade de Aprendizagem
Com base nas contribuições de Émile Durkheim abordadas
nesta aula, discorra sobre a relação entre crime e anomia para
o autor.
Apresentação da aula 3
26
fortaleceriam o senso de identidade dos grupos e impediria a construção de
uma sociedade pautada em um poder centralizado, hierárquico e com figura de
um líder.
A pesquisa de Clastres oferece perspectivas sobre a pergunta frequente
no que diz respeito ao crime e à violência: Seriam o crime e a violência
universais? Estariam presentes em todas as sociedades e épocas? Com base
nessas reflexões, serão abordados os diferentes usos da violência ao longo da
história do Brasil. Por fim, com base em alguns dados sobre a violência no
Brasil contemporâneo, buscaremos demostrar como estes apontam para a
necessidade de reflexão sobre a ação do Estado, das instituições e sobre o
modelo de segurança pública.
A intencionalidade;
A legitimidade;
Os meios.
27
Quanto à intencionalidade, é importante considerar não apenas a
intenção explícita do autor, cabe também considerar as consequências dos
atos cometidos. Nesse sentido, para Arblaster (1996), ato de violência não é
apenas aquele em que se tem a intenção de gerar dano a outrem; também o
são atos que têm como consequência danos a outras pessoas.
No que diz respeito à legitimidade, é preciso considerar os aspectos
legais e/ou morais do uso da violência. Como abordamos anteriormente, com a
consolidação do Estado Moderno, esta passa a deter o monopólio da força, ou
seja, os indivíduos e demais instituições “abrem mão” do uso da violência em
detrimento da ação do Estado como regulador da vida social. Além disso,
conforme aponta Weber (1999), o Estado atua no campo da dominação
racional legal, ou seja, fundamentado no reconhecimento dos regulamentos
estabelecidos pela racionalidade e a autoridade legitimada pela lei. Sendo
assim, o uso da força legitimado pela lei não seria considerado violência, na
medida em que, de acordo Arblaster (1996), violência designa apenas o uso
ilegítimo da força.
Por fim, quanto aos meios de exercício da violência, Arblaster (1996)
aponta que esta não se limita aos meios que geram dano físico, ou ações que
possam gerar dano físico ou psicológicos indiretamente (como privação de
água, alimento ou sono, trabalhos forçados, entre outros) também são
considerados violência.
O crime, assim como a violência, não tem uma definição unânime. De
acordo com Paul Rock (1996), o crime pode ser compreendido como uma
infração do direito penal, ou uma infração ao bem público, passível de punição.
Esta definição, no entanto, tem caráter fortemente legalista e institucional. É
importante destacar de acordo com o autor, que mesmo em sociedade, sem a
figura do Estado e de códigos jurídicos, a concepção de crime está presente.
Sendo assim, uma concepção mais abrangente e cultural entende o
crime como uma violação de hábitos e costumes (ROCK, 1996, p. 150). Outro
aspecto importante é que, ao violar os hábitos e costumes estabelecidos, o
crime representa um ultraje à sociedade, gerando danos a comunidade.
Na atualidade, são comuns os debates sobre a violência e criminalidade.
Nos meios de comunicação ou nas redes sociais repercutem-se
cotidianamente crimes e casos de violência. Muitas vezes, diante desta
28
exposição, cria-se a impressão de que a sociedade está à beira de um colapso
e a criminalidade fora do controle.
Entretanto, análises mais aprofundadas produzidas no campo da
Sociologia da Violência podem contribuir para melhor compreensão do
fenômeno. Não se trata, portanto, de minimizar a criminalidade como problema
social. Assim, nos termos sugeridos por Émile Durkheim, compreender o crime
como fato social é questão sociológica.
Cabe, portanto, relembrar, que para Durkheim, o crime não é causa da
desintegração social, mas reflexo dela. Ou seja, as altas taxas de criminalidade
apontam que existem falhas nas regras de conduta, nos valores morais ou nas
instituições que regulamentam o combate ao crime.
29
De acordo com Prudente (1988), a violência no contexto escravocrata,
além de amplamente utilizada era considerada moral e juridicamente legítima.
Assim como a escravização de indígenas e africanos, além de ser um negócio
lucrativo, era legalmente regulamentado. Além disso, os castigos físicos como
forma de controle e punição dos escravizados era considerado prerrogativa do
senhor de escravos.
No período Imperial (1822-1889), destaca-se o uso da força para
controlar revoltas e rebeliões no território brasileiro. De acordo com Almeida
(2015), a repressão aos movimentos revoltosos se dava, via de regra, de forma
violenta e com muitas baixas. O autor destaca que a disparidade numérica e de
recursos bélicos transformava, muitas vezes, as batalhas em chacinas de
opositores. Além disso, a tortura, a execução e, em alguns casos, a exposição
dos líderes reforçava o uso da violência e do medo como forma de exercício do
poder.
Se a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República marcam a
modernização do Brasil, levam também ao surgimento de novos agentes e
formas de violência. No campo, os coronéis emergem como figuras que
mobilizam a violência como forma de dominação. No meio urbano, por sua vez,
os escravizados recém libertos enfrentam um contexto de pobreza, falta de
empregos e habitação que levaram ao surgimento das favelas.
30
repressão violenta de revoltas e protestos, a perseguição, prisão, tortura e
execução de opositores foi usada como forma de controle e poder.
Podemos observar que as formas, meios e agentes se alteram ao longo
dos diferentes períodos, porém, a violência é onipresente na História do Brasil.
No bojo do processo de redemocratização, a Constituição de 1988 lança novos
paradigmas para as relações sociais e políticas no Brasil. Porém, as mazelas
geradas pelo violento processo histórico permanecem e constituem desafios
para a democracia brasileira.
31
Fonte: BRASIL, 2018, p. 39.
32
De acordo com o Atlas da Violência (IPEA, 2018), os homicídios
representam 10% das mortes no Brasil, sendo os homens e jovens as
principais vítimas. Ainda de acordo com dados do Atlas, a taxa de homicídios
no Brasil apresentou aumento de 14% entre 2006 e 2016. Cabe ressaltar,
entretanto, as enormes disparidades nos dados quando são distribuídos por
estado. Pois enquanto o estado de São Paulo teve uma redução de 46,7% na
taxa de homicídio no período analisado, o estado do Maranhão apresentou
aumento de 121%. Cabe destacar ainda que 71% dos homicídios são
cometidos como uso de armas de fogo.
A Lei 11.343/2006, conhecida como Lei Antidrogas, alterou a legislação
vigente e incluiu a distinção entre usuário e traficantes. Entretanto, não há
definição dos parâmetros da distinção entre o uso e o tráfico. A indefinição ou
brechas na lei é apontada por Cortina (2015) como um dos elementos que
podem explicar o aumento da taxa de encarceramento por tráfico de drogas.
Como destaca a autora, dados apontam para um aumento na taxa de
encarceramento por tráfico tanto entre os homens quanto entre as mulheres.
Ainda de acordo com Cortina (2015), pesquisas apontam para o
aumento do encarceramento feminino. No sistema prisional, 62% das mulheres
em privação de liberdade foram enquadradas no tipo penal de tráfico de
drogas.
É importante destacar que os dados de violência e criminalidade no
Brasil contribuem para o aumento da sensação de insegurança e para o medo
na população brasileira. O medo pode ser definido como o hábito que se tem,
em um grupo humano, de temer uma ameaça real ou imaginária (DELUMEAU,
1989, p. 24). Partindo desta definição, pode-se estabelecer uma distinção entre
medo e angústia, sendo o primeiro referente a algo que se pode fazer frente a
angústia referente ao desconhecido, a algo temido justamente por não ser
identificável.
Segundo o mesmo autor, a angústia no século XX tornou-se a
contrapartida da liberdade, na medida em que aventurar-se é abandonar a
segurança e enfrentar riscos. Sendo a angústia um “medo sem objeto”, o
homem incapaz de lidar com essa situação precisa transformá-la em medo de
algo ou alguém. Ou seja, o homem fabrica o medo, elege determinadas coisas,
pessoas ou grupos para evitar a angústia.
33
Contemporaneamente, a mídia tem importante papel na disseminação
do medo, como demonstra Glassner (2003), no que diz respeito à cobertura
dada ao crime, em grande medida sensacionalista, generalizadora, tomando
fatos isolados como tendências e espetacularizando a violência. De acordo
com o autor, pesquisas realizadas nos Estados Unidos constataram que os
principais medos dos americanos são baseados em dados/notícias veiculadas
pelos meios jornalísticos.
A produção deste clima de medo é fundamental para “legitimar” junto à
população as ações dos aparelhos estatais contra a violência. Porém,
conforme abordamos ao longo desta disciplina, os estudos sociológicos
sugerem que o enfretamento à ocorrência de altas taxas de criminalidade e
violência aponta para problemas de ordem estrutural na sociedade. Pode-se
observar que, sendo um sintoma da desregulação social e da falha das
instituições, o combate ao efeito não alcança os resultados necessários se não
são encarados os causadores do crime da violência. Diante deste cenário,
fazem-se necessárias reflexões sobre a eficiência das instituições de controle
social e de seus mecanismos. Nesse sentido, as últimas décadas têm sido
marcadas por discussões acerca do papel das polícias e a necessidade de
alterações nos modelos e padrões de policiamento.
O processo arqueológico de compreensão dos fenômenos sociais
pressupõe uma análise de múltiplas dimensões entre as quais: históricas, das
relações sociais, das transformações da sociedade, das visões de mundo e
ideologias.
Embora a violência esteja presente ao longo do processo histórico
brasileiro, suas formas de manifestação se alteram ao longo de tempo. Um
fator fundamental é a compreensão da legitimidade, dos agentes e instituições
que utilizam e controlam o uso da violência.
Sendo assim, ganha importância o papel do Estado na regulamentação,
em acordo com sua função social, dos conflitos ocorridos na sociedade, bem
como na construção de mecanismos burocráticos para controle da vida social.
Os dados sobre violência, crimes e o sistema carcerário podem nos oferecer
uma breve visão da dinâmica complexa do controle social da violência, bem
como reforçar a necessidade de reformulação da política de segurança diante
34
das demandas sociais, das mudanças de paradigma nos sistemas de
policiamento e no papel da repressão.
Resumo da aula 3
Atividade de Aprendizagem
Com base no conteúdo desta aula e em seus conhecimentos
prévios, discorra sobre um episódio, situação, fato da História
do Brasil em que a violência tenha sido utilizada. Aponte quais
foram as motivações do uso da violência, os meios utilizados,
a intencionalidade, bem como os agentes/autores da violência
e os principais afetados.
35
Aula 4 – Estado, Direito e polícia: perspectivas sobre segurança pública
Apresentação da aula 4
36
Como aponta Glassner (2003), a sensação de insegurança da
população e o medo podem ser frutos da difusão de notícias, dados sobre a
violência, de forma exacerbada ou sensacionalista. É importante destacar que
isso não significa que o medo da violência seja infundado, já que os dados
estatísticos apontam para a elevada taxa de criminalidade. O ponto levantado
pelo autor é que a propagação de casos de violência pode gerar ansiedade e
medo desproporcional nos indivíduos.
De acordo com o mesmo autor, pesquisas realizadas nos Estados
Unidos constataram que os principais medos dos americanos são baseados
em dados/notícias vinculadas pelos meios jornalísticos.
A produção deste clima de medo gera, em muitos casos, o clamor
popular pelo enfrentamento à violência e é usado para fundamentar e legitimar
as ações do Estado contra a violência. Entretanto, o enfrentamento, quando
realizado com base na repressão pode fortalecer a sensação de medo e
fomentar o aumento da criminalidade.
Com isso, a sensação de medo generalizado pode levar a uma cobrança
de ação cada vez mais “repressora” do Estado naturalizando-se as práticas
violentas e muitas vezes extremistas deste, dissimulando as causas da
violência. Além disso, observa-se que em contexto de medo generalizado há a
valorização do papel “combativo”, ao invés de preventivo da polícia.
Configura-se, então, um círculo vicioso, na medida em que o medo
generalizado legitima ações repressivas por parte do Estado. Estas ações, por
sua vez, podem ser violentas e, sendo amplamente divulgadas na mídia,
aumentam ainda mais a sensação de medo.
Como afirma Glassner (2003), é preciso considerar ainda que muitos
grupos se beneficiam desta sensação de medo generalizado, surgindo daí o
que alguns autores chamam de “indústria do medo”, que tem como objetivo
lucrar com a venda de produtos e serviços que passem uma impressão de
segurança aos seus consumidores.
De acordo com Breunig (2018), uma das explicações para as altas taxas
de criminalidade seria a ocorrência de uma crise ética na sociedade brasileira.
37
Ou seja, os indivíduos não adotam valores, práticas e normas previstas. Sendo
assim, as taxas de violência e criminalidade seriam sintoma de uma crise
profunda na sociedade.
Outro aspecto fundamental decorrente desta compreensão é que, se a
violência e a repressão são os únicos meios adotados no enfretamento à
criminalidade, isso denota a falta de adesão da população às regras. Isto é, se
o uso da força, da repressão e da polícia são os únicos meios de manter a
ordem, os indivíduos obedecem por medo e não por consciência ou
concordância com a norma. Além disso, como aponta Max Weber, existem
diferentes formas de dominação (dominação racional-legal, dominação
tradicional e dominação carismática) e alerta que o uso da força não pode ser a
única forma de gerar obediência.
De acordo com Aranão (2013), a nação brasileira enquadra-se na
categoria do Estado Democrático de Direito. Este caracteriza-se pela soberania
popular, pela democracia representativa e participativa e por sistemas de
garantia de direitos. No Estado Democrático de Direito, as leis são criadas pelo
povo, para o povo e respeitando a dignidade da pessoa humana.
Como apontando anteriormente, a consolidação do Estado-Nação foi
precedido pelo processo de pacificação da sociedade que, conforme citado
anteriormente, é um processo de ruptura com os padrões de comportamentos
medievais e a imposição de um controle das emoções da agressividade. A
manifestação individual de agressividade e violência foi gradativamente
restringida e deslegitimada pelo Estado, que passa a ter o monopólio do uso
legítimo da força.
Além de abrir mão do uso da força, nesse processo, os indivíduos abrem
mão de certas liberdades em prol da coletividade. Para Aranão (2013), diante
desta renúncia às liberdades individuais, caso os indivíduos não enxerguem
razões ou vantagens em obedecer ao pacto social, o crime e a violência podem
ocorrer.
Da mesma forma, ainda de acordo com o autor, a falha no cumprimento
dos direitos fundamentais garantidos nos instrumentos legais resulta em
desigualdades, discriminação e marginalidade. Nesse sentido, esses
fenômenos são efeitos da ineficiência de aplicação de políticas de garantia do
bem-estar social. Com isso, a falta de acesso à educação, saúde, emprego,
38
moradia, alimentação de qualidade caracterizam-se como violações aos
direitos fundamentais e dignidade de pessoa humana (ARANÃO, 2013).
A situação de violações de direitos e ineficiência das instituições pode
fomentar a violência e a criminalidade, na medida em que os indivíduos deixam
de ver benefício na adesão ao pacto social. É fundamental destacar que esta
perspectiva não equivale a dizer que a pobreza e as desigualdades são a
causa direta da criminalidade, ou que as populações pobres sejam por suas
condições sociais essencialmente criminosas e violentas, ou ainda que todos
os indivíduos em situação de exclusão social atuem de forma criminosa ou
violenta.
Como sugere Aranão (2013), em acordo com a perspectiva sociológica,
o crime e a violência são consequências, na perspectiva do autor das violações
de direitos. [Entretanto, historicamente, o enfretamento à criminalidade e à
violência se dão mediante políticas públicas de repressão do crime e não com
políticas públicas que ataquem as suas causas, ou seja que promovam os
direitos fundamentais].
De acordo com Dias (2012), as definições de “políticas públicas” são
diversas, mas guardam o ponto comum de identificá-las com a ação do Estado.
Estas estão, segundo o autor, identificadas com o poder social e correspondem
a formas e/ou estratégias de lidar com assuntos públicos.
O autor destaca a importância no campo dos estudos de políticas
públicas da distinção entre dois termos no idioma inglês: politics e policies. O
primeiro diz respeito aos processos de construção de consenso e às lutas pelo
poder relacionados, por exemplo, à dinâmica eleitoral e partidária. O segundo é
entendido como as ações do governo, que buscam assegurar a solidariedade
interna de determinado Estado.
O Estado é, por sua vez, ao mesmo tempo sujeito e objeto das políticas
públicas. Enquanto sujeito, cabe ao Estado comandar, legislar e normatizar,
impondo normas, arrecadando e distribuindo recursos etc, por outro lado, o
Estado é sujeito na medida em que é influenciado pela sociedade civil em suas
ações.
39
4.3 Polícia e novas perspectivas sobre segurança pública
40
suspeitos presos. Estes resultados, entre outros demonstraram que o modelo e
estratégias da polícia tradicional necessitavam ser revistos.
Já a polícia comunitária, de acordo com o mesmo autor, amplia o
conceito original de polícia, passando a compreendê-la como parte dos
serviços públicos de atenção integral aos cidadãos. Nesta perspectiva, o papel
da polícia vai além da solução de crimes e sua eficiência avaliada pela
ausência de crime e desordem. Nesse modelo, as relações com a comunidade
são vistas como essenciais e serviço policial amigável nos contatos nas ruas.
Um modelo de polícia comunitária pode ser uma forma de enfretamento
à violência policial e aos abusos de autoridade, tendo em vista que, muitas
vezes ocorrem divergências entre a lei e a prática policial efetiva. De acordo
com Vasconcelos (2011), este descompasso ocorre muitas vezes em função
da atividade prática contrastar fortemente com o conhecimento adquirido nos
cursos formais da Academia de Polícia.
Nesse sentido, assim como o crime na sociedade pode ser
compreendido como abordado ao longo desta disciplina, como um sintoma de
desregulação social, a violência policial, a corrupção e os conflitos com a lei por
parte de membros de corporações podem ser compreendidos como
sintomáticos da necessidade de reorganização dos modelos de polícia e
policiamento.
Assim, é necessária a construção de um consenso acerca da função
social da polícia, passando de um modelo guiado pela manutenção repressiva
da ordem para um modelo de diálogo com a sociedade, baseado no respeito
aos direitos humanos (VASCONCELOS, 2011, p. 95). Ainda de acordo com o
autor, o policial foi instituído pela sociedade para ser o principal defensor dos
direitos humanos.
Entretanto, como apontam Minayo, Assis e Oliveira (2011), pode-se
afirmar que os policias também têm seus direitos fundamentais violados. Um
indício é que um aspecto corriqueiramente negligenciado é a saúde física e
mental dos policiais. De acordo com as autoras, mesmo no campo de
pesquisas sobre segurança pública, são raros os estudos que abordam o tema:
41
planejamento das atividades – com excessiva jornada de trabalho,
pouco tempo para descanso e lazer, precárias condições materiais e
técnicas e baixos salário (MINAYO, ASSIS e OLIVEIRA, 2011, p.
2206).
42
A formulação e efetivação de políticas públicas de segurança são
fundamentais para a manutenção da ordem social. Nesse campo, destaca-se,
portanto, o Estado como agente promotor destas políticas.
As polícias integram o sistema de controle social e são agentes de
efetivação de politicas de segurança. Entretanto, historicamente no Brasil, as
instituições policiais são utilizadas prioritariamente em ações de repressão.
Como disto anteriormente, a busca pela diminuição da criminalidade demanda
ações integradas com vistas, à compreensão das causas e atuação na ampla
garantia de direitos.
Diante de um processo dinâmico e multicausal, as forças policias não
podem ser responsáveis sozinhas pela resolução da criminalidade. Além disso,
é preciso a reflexão sobre o modelo de polícia e policiamento, bem como da
garantia de direitos dos profissionais ligados à segurança pública.
Resumo da aula 4
43
A respeito disso, o enfretamento à criminalidade e à violência é feito por
meio de políticas públicas de repressão do crime e não com políticas públicas
que ataquem as suas causas, ou seja, que promovam os direitos fundamentais.
Nesse contexto, ganha importância a polícia e sua ação. Entretanto as
formas de organização e atuação das polícias variam de acordo com o país.
Além disso, existem diferentes visões sobre a polícia, sua função, formas de
atuação, de avaliação e monitoramento de sua eficiência.
Atividade de Aprendizagem
Com base nas informações apresentadas ao longo desta
aula, explique as principais características do modelo de
polícia tradicional e do modelo de polícia comunitária.
44
Resumo da disciplina
45
Max Weber possuem importantes contribuições para a compreensão da
violência e do crime.
Como apontado, para Durkheim, o crime pode ser compreendido como
uma ação que vai contra as normas estabelecidas, então, contra a consciência
coletiva. Mais do que isso, o crime, para Durkheim, é normal e tem uma função
social, na medida em que a punição reforça a consciência coletiva. Entretanto,
se a taxa de criminalidade aumenta ou assume proporções que comprometem
a vida social, isso indicaria que a sociedade está em estado de anomia. Para o
autor, o crime, portanto, não é causa da desintegração social, mas reflexo dela,
sendo que altas taxas de criminalidade indicam que existem falhas nas regras
de conduta ou nos valores morais. Por outro lado, podem apontar que as
instituições que regulamentam o combate ao crime estão falhando.
Max Weber, por sua vez, embora não tenha tomado o crime e a
violência como objeto direito de suas obras, analisou o Direito e seu papel nas
sociedades modernas. O autor considera que o Direito consolida orientações e
parâmetros racionais a serem aplicados nas relações sociais, atuando como
um mecanismo de controle. Por fim, para Karl Marx, a violência e a exploração
são características estruturais do capitalismo. Para o teórico alemão, este
sistema estaria pautado na propriedade privada dos meios de produção e na
exploração dos trabalhadores. Além disso, tal sistema geraria, de acordo com
os autores, desigualdades, miséria e exploração dos mais pobres. Nesse
sentido, na perspectiva marxista, o crime pode ser compreendido como fruto
das condições da sociedade de classes.
Na terceira aula foram abordados diferentes usos da violência ao longo
da história do Brasil, demostrando que a violência é um fenômeno social
presente em diversos contextos da história brasileira, da colonização à
Ditadura Militar. Embora as formas, meios e agentes se alteram ao longo dos
diferentes períodos, a violência é onipresente na História do Brasil. Assim
mesmo com a redemocratização e a Constituição de 1988 que lançou novos
paradigmas para as relações sociais e políticas no Brasil, muitas mazelas
geradas pelo violento processo histórico permanecessem e constituem
desafios para a democracia brasileira.
Apontou-se ainda que, em 2018, o Brasil contava com aproximadamente
602 mil pessoas privadas de liberdade, sendo que homens representam 95%
46
deste total. Quanto à faixa etária, 53,91% eram jovens com idade entre 18 e 29
anos, sendo que 54,96% negros. Quanto à tipificação penal, 27,58% das
pessoas privadas de liberdade no Brasil respondem por roubo, cerca de
24,74% respondem por tráfico de drogas e 11,27% respondem por homicídio.
Por fim, na quarta aula destacou-se que a sensação de insegurança da
população e o medo podem ser explicadas pela difusão de notícias, ou dados
sobre a violência, de forma exacerbada ou sensacionalista. Destacou-se ainda
que a nação brasileira se enquadra na categoria do Estado Democrático de
Direito, caracterizado pela soberania popular, pela democracia representativa e
participativa e por sistemas de garantia de direitos. Nesse sentido, no Estado
Democrático de Direito, as leis são criadas pelo povo, para o povo e
respeitando a dignidade da pessoa humana.
Entretanto, como destacou-se, falhas no cumprimento dos direitos
fundamentais garantidos nos instrumentos legais resultam em desigualdades,
discriminação e marginalidade. A situação de violações de direitos e
ineficiência das instituições, por sua vez, podem fomentar a violência e a
criminalidade.
O aumento da sensação de medo e insegurança e das taxas de
criminalidade geram a demanda pela ação da polícia que, conforme destacado
anteriormente, pode ser definida como o grupo de pessoas autorizadas pelo
Estado para regular as relações interpessoais dentro de uma comunidade por
meio da aplicação da força física.
Entretanto, assim como o crime na sociedade pode ser compreendido
como abordado ao longo desta disciplina, como um sintoma de desregulação
social, a violência policial, a corrupção e os conflitos com a lei por partes de
membros de corporações podem ser compreendidos como sintomáticos da
necessidade de reorganização dos modelos de polícia e policiamento, tendo
em vista que, como apontado, os policiais, muitas vezes, também têm seus
direitos fundamentais violados.
47
Índice Remissivo
48
Referências
DEL PRIORI, Mary del Priore, MULLER, Angélica Müller. História dos
Crimes e da Violência no Brasil. São Paulo: UNESP, 2017.
49
DURÃO, Aylton Barbieri. Habermas: os fundamentos do Estado Democrático
de Direito. In: Trans/Form/Ação, São Paulo, 32(1): 119-137, 2009
GOMES. Luiz Flavio. Criminologia. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002.
50
MARX, Karl; e ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo:
Boitempo, 2007.
51