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GLEYDSON RODRIGUES DANTAS

1º Ten. PM - Conteudista
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RIO GRANDE DO NORTE


SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA SOCIAL
POLÍCIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO

CRIMINOLOGIA

Natal/RN
2020
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GLEYDSON RODRIGUES DANTAS1

CRIMINOLOGIA

Conteúdo apresentado para o Curso de


Formação de Sargentos (CFS) da PMRN.

Natal/RN
2020

1
Mestrando em artes cênicas (UFRN, 2020 --); graduação em Segurança Pública pela Academia de
Polícia Militar Cel. Milton Freire de Andrade (Bacharel, PMRN, 2012); Especialização em Corpo e
Cultura de Movimento (Especialista, UFRN, 2006); Graduação em História pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (Bacharel/Licenciado, UFRN, 2005). Curso de Técnicas de Ensino Policial
(PMRN/2016). Tem experiência na área de Defesa, com ênfase em Segurança Pública, atuando
principalmente nos seguintes temas: Educação e Segurança Pública, com trabalhos publicados e
defendidos em nível internacional, nacional e estadual. Atualmente é Oficial da Polícia Militar (1ºTen.
PM) servindo na Academia de Polícia Militar Cel. Milton Freire de Andrade como Subchefe da Divisão
de Ensino e Pesquisa.
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VIDA COM PROPÓSITO!

DA MORTE Um dia… pronto!.., me acabo.


Pois seja o que tem de ser.
Morrer: que me importa?… O diabo
É deixar de viver!
(Mário Quintana)

Segunda-feira, seis da manhã. “Triiiiiimmmm, triiiiiimmmm…” O


despertador do seu celular toca e você não quer sair da cama. E isso
pode indicar dois estados de ânimo. Você gostaria de dormir mais
um pouquinho. O que é sinal de cansaço. Provavelmente o final de
semana foi movimentado, com festas, atividade física, viagem, e
você precisaria de mais algumas horas até o corpo se recuperar de
um esforço intenso. Se a vontade, no entanto, é de não sair da cama,
isso é sinal de estresse. Você não enxerga mais razão para fazer o
que faz. Há uma diferença marcante entre esses dois estados:
cansaço você resolve descansando, estresse você só consegue evitar
se compreender o motivo para fazer o que está fazendo. Um
questionamento a ser feito antes de levantar da cama: afinal de
contas, por que fazemos o que fazemos?

Mário Sérgio Cortella2

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Disponível em: https://docero.com.br/doc/58cx88. Acessado em: 10 jan. 2019
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APRESENTAÇÃO

O que é criminologia? Se partirmos apenas da etimologia, seria o estudo do


crime. Entretanto, para a formação de Sargentos, iremos utilizar o conceito que se
aproxima de uma ciência social empírica e interdisciplinar que se ocupa do estudo do
crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo.
O termo “ciência empírica” remete a empirismo, que é a formação do conhecimento a
partir da observação de fatos e de relações sociais, tendo por cerne, a violência e o
crime.
Violência, definida pela Organização Mundial da Saúde como "o uso intencional
de força física ou poder, ameaçados ou reais, contra si mesmo, contra outra pessoa ou
contra um grupo ou comunidade, que resultem ou tenham grande probabilidade de
resultar em ferimento, morte, dano psicológico, mau desenvolvimento ou privação",
embora o grupo reconheça que a inclusão de "uso do poder" em sua definição expande a
compreensão convencional da palavra. Ou seja, violência seria uma ação dolosa e
intencional.
Já o crime, é o conjunto de fatos que produzem um acontecimento reprovável ou
desumano, causado pelos autores de uma transgressão aos direitos, liberdades e
garantias. Segundo a Constituição Federal (1988), está tipificado no art. 5º, XXXIX,
que só há crime com lei anterior que o defina, e pena com previa cominação legal.
Esses conceitos de Violência e Crime tornam-se ainda mais complexos quando
decidimos aplicá-los ao processo formativo em Segurança Pública. Para tanto,
ressaltamos a peculiaridade profissional como justificativa das dificuldades inerentes a
esse imbricado sistema de ensino e aprendizagem sobre os temas. Nós, profissionais da
Segurança Pública, somos responsáveis pela qualidade do serviço prestado à população,
pois temos a árdua tarefa de por em risco a própria vida em função, quase todas às
vezes, de alguém desconhecido.
A reflexão gerada pela epígrafe – Vida com propósito! – deste material, nos
desperta a ter em mente uma reflexão sobre o propósito do conhecimento e não apenas
do conteúdo, ao qual nos propomos a lecionar, inserindo a reflexão sobre a prática como
exercício dos conteúdos a serem, preferencialmente, vivenciados em sala de aula. Sim,
mesmo conteúdos aparentemente teóricos podem ser vivenciados, visto que a reflexão é
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também uma forma de prática, ou como chamaria Paulo Freire, uma práxis, ou seja, o
exercício de refletir sobre o que se faz se confunde com o próprio fazer.
É sobre esse pensar sobre o fazer que nos propusemos a construir esse material
que irá subsidiar nosso dia a dia nas aulas. Um recorte de vivências e reflexões aliadas à
Matriz Curricular Nacional (MCN2014) para ações formativas dos profissionais da área
de segurança pública. Uma singela contribuição para auxiliar a cada profissional da
segurança pública no diálogo com conteúdos que lhe forem propostos.
Partiremos de uma perspectiva histórica da violência com ênfase na realidade
brasileira; uma introdução ao estudo da sociologia da violência e do crime; tipologia da
violência social; o crime como problema sociológico; a condição humana; perspectivas
teóricas psicológicas; o impacto da diversidade cultural, social e econômica na
segurança pública e na justiça criminal; os desafios da segurança pública no contexto da
diversidade e da desigualdade, em resposta à criminalidade, particularmente a violenta;
violência, crime e o papel da mídia; a formação da subjetividade e sua relação com a
violência e, por fim, trataremos sobre a violência policial.
Que tenhamos boas vivências!
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SUMÁRIO

1 Mapa da Disciplina 7
2 Psicossociologia: considerações 11
3 Correntes teóricas 14
4 Glossário 15
5 Comunicação Não-violenta 15
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1 MAPA DA DISCIPLINA3

Disciplina Criminologia
Carga-horária Conforme Plano de Curso
 Já há algum tempo, esforços de pesquisa, tanto na
área da História, da Sociologia e da Psicologia,
vêm se voltando para o estudo da criminalidade e
da violência, de forma a elucidar o fenômeno em
termos de suas variações no tempo em relação às
estruturas e processos mais amplos e de longa
duração. De um modo geral, as mudanças
históricas acentuadas nos padrões de violência
estariam relacionadas a duas alterações de longo
curso: as profundas mudanças culturais que
modelam a sociedade moderna e a expansão do
Estado Moderno e seus aparatos de vigilância e
controle social, realizadas concomitantemente.
 Poucos problemas sociais mobilizam tanto a
opinião pública como a criminalidade e a violência
nos dias atuais, pois afetam toda a população,
independentemente de classe, raça, credo
religioso, sexo ou estado civil. São consequências
que se repercutem tanto no imaginário cotidiano
das pessoas, como nas cifras extraordinárias a
Contextualização respeito dos custos diretos da criminalidade
violenta.
 Sendo assim, torna-se indispensável conhecer os
modelos teóricos que abordam os eventos de
crimes nos seus três níveis de análise: individual,
micro e macroestrutural. O nível individual enfoca
o princípio da escolha racional em que ele pondera
sobre custos e benefícios de ações criminosas. O
nível micro enfoca os processos de socialização,
aprendizado e de introjeção de autocontrole
produzidos pelos grupos de referência. O nível
macroestrutural enfatiza os conflitos econômicos,
os conflitos morais e culturais, a pressão pela
aquisição de bens e a desigualdade de
oportunidades.
 Atualmente, as teorias científicas sobre a violência
e a criminalidade são utilizadas para a
compreensão e investigação do fenômeno
criminoso, indagando porque determinadas
pessoas são tratadas como criminosas;
vislumbrando o predomínio dos elementos sociais

3
PASSOS, A. S. [et al.]. Matriz curricular nacional para ações formativas do profissionais da área de
segurança pública. Brasília: Secretaria Nacional de Segurança Pública, 2014
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e situacionais sobre a personalidade e orientando


na formulação de políticas públicas.
 Compreender o fenômeno da violência e do crime
a partir de uma prévia visão do homem e da
sociedade, vislumbrando o predomínio dos
elementos sociais e situacionais sobre a
personalidade;
 Discutir as variáveis e os pressupostos dos
Objetivos da disciplina diferentes modelos teóricos que abordam a
violência e os eventos do crime, bem como as
formas de intervenção nas ações de segurança
pública;
 Refletir sobre os fatores e situações inerentes à
violência e à criminalidade, de acordo com o
espaço público de sua atuação.
 Conceitos de violência e de criminalidade em seus
vários aspectos (histórico sociológico e
psicológico);
 Definição de conflitualidades;
 Principais fatores (históricos, sociológicos e
psicológicos), considerando os vários grupos
sociais, em especial os vulneráveis;
Aspectos Conceituais
 Convergência e contradições existentes entre as
questões históricas sociais e os fenômenos da
violência;
 Influência da mídia no imaginário social;
 A formação da subjetividade e a relação com a
violência;
 Violência policial e sua estruturação social.
 Compreensão das manifestações da violência;
 Ações de prevenção e enfrentamento da violência
Aspectos Procedimentais baseadas em informações científicas;
 Estabelecimento de estratégias de prevenção e
enfrentamento a partir da análise das contradições.
 Segurança e equilíbrio na prevenção e
Aspetos Atitudinais enfrentamento dos fenômenos violentos;
 Desconstrução dos mitos sobre a violência.
 Perspectiva histórica da violência com ênfase na
realidade brasileira;
 Introdução ao estudo da sociologia da violência e
do crime;
 Tipologia da violência social;
 O crime como problema sociológico: evolução do
Conteúdo programático pensamento sociológico;
 A condição humana: agressividade, violência e
crime;
 Perspectivas teóricas psicológicas: causas, padrões
de sintomas e abordagens para o tratamento de
ordem psicológica;
 O impacto da diversidade cultural, social e
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econômica na segurança pública e na justiça


criminal; os desafios da segurança pública no
contexto da diversidade e da desigualdade, em
resposta à criminalidade, particularmente a
violenta;
 Violência, crime e o papel da mídia: uma análise
da contribuição dos meios de informação para a
educação social ou para a glamorização do crime;
 A formação da subjetividade e sua relação com a
violência: a relação da subjetividade do indivíduo
(construída socialmente) e as implicações no
aspecto da violência. Visão respaldada na
psicologia social;
 Violência policial: os aspectos sociais e
institucionais que estão envolvidos nesta questão;
 Comunicação Não Violenta.
 Aulas expositivas dialogadas com apoio de
audiovisuais;
 Projeção de vídeos e outras mídias;
Estratégias de Ensino-
 Estudo de textos de normas internacionais e
aprendizagem
nacionais, artigos de jornais, internet, reportagens
da imprensa em geral;
 Estudo de casos.
 Avaliação continuada a partir da execução dos
Avaliação da Aprendizagem exercícios propostos;
 Avaliação objetiva.
ADORNO, S. F. Criminalidade urbana violenta no
Brasil: um recorte temático. Rio de Janeiro: BIB, 1993.

BAUMAN, Zygmunt. Confiança e medo na cidade. Rio


de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

BRASIL. Ministério da Justiça/Senasp. Guia para a


prevenção do crime e da violência. Brasília: Senasp.
2005.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da


prisão; tradução de Raquel Ramalhete. 36. Ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2009.
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FEGHALLI, Jandira et al. (Orgs.). Segurança e
(des)esperanças. Rio de Janeiro: Mauad X, 2006.

ODALIA, Nilo. O que é violência. 6. ed. São Paulo:


Brasiliense, 2004.

PIEDADE JR., Heitor; LEAL, Cesar Barros. A violência


multifacetada: estudos sobre a violência e a segurança
pública. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

ROSEMBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta:


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técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e


profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.

STREY, Marlene Neves et al. Violência gênero e


políticas públicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
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2 PSICOSSOCIOLOGIA: considerações

O crime e o medo do crime são, para o leigo, algo se só se manifesta quando se é


vítima. Estudar as causas e características do desequilíbrio social que leva a
criminalidade, não faz parte do metiè da população em comum.
Existe uma crença generalizada de que todos nós somos psicólogos e sociólogos
práticos, o que se costuma comprovar pela nossa quase infalível capacidade de julgar as
pessoas, mas, apesar de conhecermos alguma coisa sobre a “natureza humana” estes
conhecimentos não são científicos. Psicologia e a Sociologia são ciências e o estudante
precisa adotar uma postura cientifica, nesse contexto, trataremos por psicossociologia.
Em suma, precisa adotar um espírito crítico que desconfie de conhecimentos „naturais‟
sobre a mente humana e a sociedade.
Outra crença é a de que é impossível estabelecer-se algum conhecimento válido
para todos os seres humanos tendo estes dois argumentos: que o ser humano é dotado de
livre-arbítrio: que a natureza humana é por si mesma, misteriosa, insondável, complexa
demais. Desacreditando a possibilidade de uma ciência sobre o homem. O que se
verifica, entretanto, é que a psicossociologia vem se desenvolvendo.
A psicossociologia é uma das vertentes mais jovens de análise, as primeiras
explicações sobre o ser humano e sua conduta em sociedade foram de natureza
sobrenatural, o homem primitivo acreditava que um comportamento estranho e insólito
era causado por um “mau espírito” que habitava o corpo da pessoa. Sócrates e Platão
despertaram o interesse pela natureza do homem e trouxeram ao centro do
questionamento filosófico da época inúmeras questões sendo, apenas, uma explicação
moralista e ética, com uma abordagem racionalista. Aristóteles, também racionalista, foi
quem, pela primeira vez, usou a observação como forma de explicar os eventos naturais,
acreditava que as ideias e, consequentemente, a alma, seriam independentes do tempo,
do espaço e da matéria e, portanto, imortais. Tomás de Aquino usando-se das obras de
Aristóteles fez uma união quase total da psicologia aristotélica com as doutrinas da
igreja, obtendo uma ligação com as crenças religiosas.
Para René Descartes (século XIII), o homem seria constituído de duas
realidades: um material, corpo, comparável a uma máquina (pensamento mecanicista),
estudada pela ciência; e outra imaterial, a alma, livre de determinismos físicos, estudada
pela filosofia. Nos séculos XVIII e XIX surgiram o Empirismo e o Racionalismo. Para
o primeiro o conhecimento tem base sensorial na qual as associações fundamentam a
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memória e as ideias, sendo grande a importância do meio ambiente, ai vislumbra-se o


que viria a germinar como psicossociologia. Encontra-se, aqui, a raiz filosófica das
investigações biológicas dos fenômenos mentais. O empirismo tem como fundador John
Lucke que comparou a mente com uma “tabula rasa” onde seriam impressas, pela
experiência, todas as ideias e conhecimentos.
Os racionalistas acreditavam que a mente tem capacidade nata para gerar ideias,
independentes dos estímulos do meio. Diminuindo a importância da percepção
sensorial. Preocupavam-se mais com as atividades da mente como as de perceber,
recordar, raciocinar e desejar. Para os empiristas, a percepção ou uma ideia complexa
era composta de partes, ou elementos mais simples. Para os racionalistas, cada
percepção é uma entidade indivisível, global, cuja analise destruiria suas características
próprias. Esta controvérsia é importante porque vai se constituir no ponto chave do
desacordo entre estudiosos do início do século XX.
O desenvolvimento da fisiologia do século XIX contribuiu grandemente para o
desenvolvimento da psicossociologia, principalmente pelos novos conhecimentos que
proporcionou e pela metodologia de laboratório que empregou. Outro campo científico
que está relacionado com o desenvolvimento é a Psicofísica, a qual mostra que é
possível aplicar técnicas experimentais e procedimentos matemáticos ao estudo dos
problemas psicológicos.
O nascimento da Psicologia propriamente dita ocorreu no ano de 1879, quando
Wilhelm Wundt criou o primeiro laboratório de Psicologia da Universidade de Leipzig,
na Alemanha. Para Wundt, o objeto da Psicologia era a análise a da experiência
consciente nos seus componentes básicos e a determinação dos princípios pelos quais
estes elementos simples se relacionam para formar a experiência completa. Ele fez
nascer o estruturalismo, pois, buscava a estrutura da mente, isto é, compreender os
fenômenos mentais pela decomposição dos estados de consciência produzidos pela
estimulação ambiental. O método utilizado era a introspecção que exigia sujeitos
treinados. Devido a isto, não possibilitava o emprego de crianças, indivíduos
psicologicamente anormais e animais como sujeitos. Por este e outros problemas o
estruturalismo deixou de existir.
O funcionalismo nasceu como reação ao estruturalismo, a respeito do qual
criticavam, principalmente, a artificialidade da introspecção, a decomposição dos
fenômenos mentais complexos em elementos simples e a estreiteza no âmbito da
investigação. Os funcionalistas se interessam mais no que a mente faz, nas suas funções,
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do que no que a mente é, ou em como se estrutura. A importância esta na amplitude de


interesses que trouxe para a Psicologia como: o ensino das crianças, a medida das
diferenças individuais, o efeito das condições ambientais, o comportamento anormal e
etc. Ambos não existem hoje, pelo menos com as características que se apresentavam
inicialmente.
A Problemática da Segurança Pública parece se coadunar com o modo pensar de
alguns que entendem a violência, o medo e os Direitos Humanos como elementos de
barganha. Com isso, a insegurança passa a conviver no cotidiano das pessoas, causando
um entorpecimento da ação que iria dirimir a questão, restringindo a segurança pública
ao insolúvel. O sistema público de segurança fica a mercê da vontade de uns poucos, em
detrimento das demandas gerais da população que, por equidade, precisa de maior
atenção.
A política pública para a segurança é antes de tudo plural e, portanto,
transdisciplinar, pois transcende a esfera apenas do poder político. É premente a ação
conjunta para resolver os vetores da violência, tão diversos quanto suas soluções. A
manutenção da violência, do medo e do crime alimenta a ambição dos setores que
enxergam na ineficiência do Estado um lucrativo meio para sua sobrevivência, e o
Estado por sua vez, transfere, convenientemente, à iniciativa privada a resolução para a
questão da segurança.
O paradigma da Segurança Pública com Direitos Humanos encontra resistência
no ranço de certas tradições, que restringem a questão a apenas manutenção da ordem e,
para tanto, basta saber como empregar os agentes da Segurança Pública. O uso
inteligente, técnico e profissional da força outorgada pelo Estado parece não convencer,
a ação truculenta prevalece à ação enérgica dentro da legalidade. O senso febril de
justiça faz delirar a justa-medida e o bom senso. Preservar a ordem pública através das
técnicas e das táticas policiais, respeitando a legalidade, a dignidade da pessoa humana,
empregando o uso diferenciado e legítimo da força quando necessário, conforme
orientações dos Direitos Humanos faz parecer uma utopia.
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3 CORRENTES TEÓRICAS

O crime é o resultado normal do funcionamento do


sistema e da atualização dos seus valores. O sistema
produz o crime e o produz como resultado normal
(esperado) do seu próprio funcionamento. A teoria da
Anomia
anomia caracteriza-se pela sua natureza estrutural, pelo
determinismo sociológico, pela aceitação do caráter
normal e funcional do crime e pela adesão à ideia de
consenso em torno de valores fundamentais para a
sociedade.
Há pessoas predispostas para o crime. A explicação do
crime depende de variáveis congênitas (relativas à
Bioantropológica
estrutura orgânica do indivíduo). O criminoso é um ser
organicamente diferente do cidadão normal.
O crime não é uma entidade de fato, mas de direito. O
homem, dotado de razão e livre-arbítrio, atua movido
pela procura do prazer (hedonismo) e a ordem social
resulta de um consenso em torno de valores
fundamentais, visando o bem-estar de todos (contrato
Clássica
social). Assim, a conduta criminosa é uma escolha
racional, uma opção do criminoso que avalia os riscos e
benefícios da empreitada criminosa. Logo, a pena
(castigo) é necessária e suficiente para acabar com a
criminalidade, sendo determinada segundo a utilidade
para manter ou não o pacto social.
A cidade moderna caracteriza-se pela ruptura dos
mecanismos tradicionais de controle (família,
Desorganização social
vizinhança, religião, escola) e pela pluralidade das
alternativas de conduta.
Nega o livre-arbítrio e afirma a previsibilidade do
comportamento humano (determinismo), passando a
investigar as causas dos crimes a partir dos criminosos.
O crime é uma entidade de fato. Um fenômeno da
Positiva natureza, sujeito a leis naturais (biológicas, psicológicas
e sociais) que podem ser identificas, estudando-se o
homem criminoso. A pena (castigo) é inútil, pois a
conduta criminosa é sintoma de uma doença e como tal
deve ser tratada, em nome da defesa da sociedade.
O criminoso é diferente do não-criminoso, mas essa
diferença não é congênita. Decorre de falhas no
processo de aprendizado e socialização do criminoso,
uma vez que o homem é, por natureza, um ser a-social
Psicodinâmica (homo lupus hominis). Para compreender as causas do
crime, investiga porque a generalidade das pessoas não
comete crimes. O crime decorre do conflito interior
entre os impulsos naturais e as resistências adquiridas
pela aprendizagem de um sistema de normas.
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As causas do crime na sociedade. O crime é analisado


como um fenômeno coletivo, sujeito às leis do
determinismo sociológico e, por isso, previsível. A
Sociologia Criminal sociedade contém em si os germes de todos os crimes. O
criminoso é mero instrumento no comportamento
criminoso. A solução para o problema do crime está na
reforma das estruturas sociais.
O crime resulta da interiorização (aprendizagem,
socialização e motivação) de um código moral ou
Subcultura delinquente cultural que torna a delinquência imperativa. As teorias
da subcultura partem do princípio de que delinquentes
são as culturas e não as pessoas.

4 GLOSSÁRIO

Ato deliberado de violência praticado por pais,


responsáveis ou intuição exercida através de atitudes
arbitrárias, agressões verbais, ameaças, humilhações,
Coerção
desvalorização, estigmatização, desqualificação,
rejeição e isolamento, ocasionando imensuráveis danos
emocionais e sofrimento psíquico.
É uma infração considerada de menor gravidade que o
crime. Esse julgamento pode variar ao longo do tempo
pelo legislador, consoante a evolução da sociedade. Por
Contravenção exemplo: no Brasil, o porte ilegal de armas já foi
considerado contravenção penal: com o advento do
Estatuto do Desarmamento, em 2003, passou a ser
considerado crime.
É a lesão de algum bem jurídico protegido pela lei
penal, ou seja, “não há crime sem lei anterior que o
defina.” (art. 1º). Considera-se praticado o crime no
momento da ação ou omissão, ainda que seja outro o
momento do resultado (art. 4º). Em quase todas as
ações envolvendo crime, faz-se necessária para dar
prosseguimento à ação policial à presença dos
elementos: vítima, acusado e materialidade.

Modalidades: Culposo: Quando há imprudência,


Crime
negligência ou imperícia; Doloso: O agente quis o
resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; Tentado: É
quando inicia a execução, não se consuma por
circunstancias alheias à vontade do agente.

É um fenômeno complexo cujo conceito envolve


aspectos morais, religiosos, econômicos, filosóficos,
políticos, jurídicos, históricos e geográficos na
medida que modificam os sistemas políticos e jurídicos
dos povos.
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É o conjunto formado de variados tipos de delitos


(homicídio, latrocínio, roubo, furto, estupro, sequestro,
Criminalidade tráfico de drogas, etc), que ocorrem em uma
determinada área geográfica no decorrer de um
limitado espaço de tempo.
A desigualdade social, chamada também de
desigualdade econômica, é um problema social
presente em todos os países do mundo. Ela decorre,
principalmente, da má distribuição de renda e da falta
de investimento na área social, como educação e saúde.
Desigualdade social Sendo assim, a desigualdade social é a diferença
econômica que existe entre determinados grupos de
pessoas dentro de uma mesma sociedade. Em tese,
sempre haverá desigualdade social, pois é impossível
que cada um tenha exatamente as mesmas quantidades
de bens materiais.
A perseguição e morte intencional de pessoas do sexo
feminino, classificado como um crime hediondo no
Brasil. O feminicídio se configura quando é
Feminicídio
comprovada as causas do assassinato, devendo este ser
exclusivamente por questões de gênero, ou seja, quando
uma mulher é morta simplesmente por ser mulher.
É uma série de atitudes e sentimentos negativos em
relação a pessoas homossexuais, bissexuais e, em
alguns casos, contra transgêneros e pessoas
intersexuais. As definições para o termo referem-se
variavelmente a antipatia, desprezo, preconceito,
aversão e medo irracional. A homofobia é observada
como um comportamento crítico e hostil, assim como a
discriminação e a violência com base na percepção de
que todo tipo de orientação sexual não-heterossexual é
negativa.

Entre as formas mais discutidas estão a homofobia


institucionalizada (por exemplo, patrocinada por
religiões ou pelo Estado), a lesbofobia (a homofobia
Homofobia
como uma intersecção entre homofobia e sexismo
contra as lésbicas), e a homofobia internalizada, uma
forma de homofobia entre as pessoas que
experimentam atração pelo mesmo sexo,
independentemente de se identificarem como LGBT.

Em 1998, Coretta Scott King, autora, ativista e líder


dos direitos civis, declarou em um discurso: "A
homofobia é como o racismo, o antissemitismo e outras
formas de intolerância na medida em que procura
desumanizar um grande grupo de pessoas, negar a sua
humanidade, dignidade e personalidade." Em 1991, a
Anistia Internacional passou a considerar a
discriminação contra homossexuais uma violação aos
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direitos humanos. Em maio de 2011, em referência ao


Dia Internacional contra a Homofobia, a Alta
Comissária das Nações Unidas para os Direitos
Humanos, Navi Pillay, declarou:

"[...] Em última análise, a homofobia e a transfobia não


são diferentes do sexismo, da misoginia, do racismo ou
da xenofobia. Mas enquanto essas últimas formas de
preconceito são universalmente condenadas pelos
governos, a homofobia e a transfobia são muitas vezes
negligenciadas. A história nos mostra o terrível preço
humano da discriminação e do preconceito. Ninguém
tem o direito de tratar um grupo de pessoas como sendo
de menor valor, menos merecedores ou menos dignos
de respeito. [...]"
É um conceito jurídico concebido para designar os
crimes de menor relevância, com ações julgadas e
processadas pelos Juizados Especiais Criminais.
Infração de menor potencial Conforme a Lei n.º 10.259/01, combinada com a Lei n.º
ofensivo 11.313/06, ampliou o leque da competência dos
Juizados Especiais, para a apreciação de processos
penais de crimes com penas cominadas em até dois
anos.
Trata-se da intervenção por agente legal público, isto é,
representante do Estado, polícia ou de outro agente da
lei no exercício da sua função. Segundo a CID-10, pode
ocorrer com o uso de armas de fogo, explosivos, uso de
Intervenção legal gás, objetos contundentes, empurrão, golpe, murro,
podendo resultar em ferimento, agressão,
constrangimento e morte. A Lei Federal nº. 4.898/65
define o crime de abuso de autoridade e estabelece as
punições para esta prática.
Descreve a atitude mental caracterizada pela falta de
habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar
diferenças ou crenças religiosas de terceiros. Pode-se
constituir uma intolerância ideológica ou política,
sendo que, ambas têm sido comuns através da história.
A maioria dos grupos religiosos já passou por tal
situação numa época ou outra. Floresce devido à
Intolerância religiosa ausência de liberdade de religião e pluralismo religioso.
Perseguição, neste contexto, pode referir-se a prisões
ilegais, espancamentos, torturas, execução injustificada,
negação de benefícios e de direitos e liberdades civis.
Pode também implicar em confisco de bens e
destruição de propriedades, ou incitamento ao ódio,
entre outras coisas, que são atitudes de grande
barbaridade.
É a delinquência em bloco conexo e compacto, incluída
Macrocriminalidade no contexto social de modo pouco transparente (tráfico
de drogas, armas) ou sob rotulagem econômica lícita
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(improbidade administrativa) alicerçada na certeza ou


quase certeza, da impunidade. A Macrocriminalidade
visa exclusivamente o lucro. São dois os fatores da
macrocriminalidade: o lucro e a impunidade. É
sistemática e estrutural.
É aquela resultante do clima de adversidade e mesmo
violência que impregna a desvairada sociedade de
consumo suscitando injustiças sociais e desigualdades
econômicas, além do taciturno horizonte de niilismo
Microcriminalidade
em que a vida perde seu significado maior e pouco ou
nada representa. É conjuntural (furto, roubo, homicídio,
latrocínio, estupro, ameaça, calúnia, injúria, lesões
corporais).
É uma expressão em latim que significa "modo de
operação". Utilizada para designar uma maneira de
agir, operar ou executar uma atividade seguindo
geralmente os mesmos procedimentos. Tratando esses
procedimentos como se fossem códigos.

Em administração de empresas, modus operandi


designa a maneira de realizar determinada tarefa
Modus operandi segundo um padrão pré-estabelecido que dita a forma
esperada de como proceder nos seus processos, rotinas
etc.

No caso dos assassinos em série, o mesmo modo é


usado para matar as vítimas: este modo identifica o
criminoso como o mesmo autor de vários outros
crimes.
É a omissão pela qual se deixou de prover as
necessidades e cuidados básicos para o
desenvolvimento físico, emocional e social da pessoa
atendida/vítima. Ex.: privação de medicamentos; falta
de cuidados necessários com a saúde; descuido com a
Negligência/Abandono
higiene; ausência de proteção contra as inclemências do
meio, como o frio e o calor; ausência de estímulo e de
condições para a frequência à escola. O abandono é
uma forma extrema de negligência, é o tipo mais
comum de violência contra crianças.
É um transtorno psiquiátrico em que um adulto ou
adolescente mais velho sente uma atração sexual
primária ou exclusiva por crianças pré-púberes,
geralmente abaixo dos 11 anos de idade. Tal como um
diagnóstico médico, critérios específicos para o
Pedofilia transtorno classificam a pré-puberdade até os 13 anos.

Uma pessoa que é diagnosticada com pedofilia deve ter


ao menos 16 anos de idade, mas adolescentes devem
ser pelo menos cinco anos mais velhos que a criança
pré-púbere para que a atração possa ser diagnosticada
19

como pedofilia.

É denominada como "transtorno pedófilo" no Manual


Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM-5), que define a pedofilia como uma parafilia em
que adultos ou adolescentes com 16 anos de idade ou
mais velhos têm impulsos sexuais intensos e
recorrentes em relação a crianças. A Classificação
Internacional de Doenças (CID-10) define como uma
preferência sexual por crianças pré-púberes ou no início
da puberdade.
Representação, por qualquer meio, de uma criança
envolvida em atividades sexuais explícitas reais ou
simuladas, ou qualquer representação dos órgãos
sexuais de uma criança para fins primordialmente ou
ainda a prática de apresentar, produzir, vender,
Pornografia infantil
fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer meio de
comunicação, inclusive rede mundial de computadores
ou internet, fotografias ou imagens com pornografia ou
cenas de sexo explícito envolvendo criança ou
adolescente.
É uma opinião desfavorável que não é baseada em
dados objetivos, mas que é baseada unicamente em um
sentimento hostil motivado por hábitos de julgamento
ou generalizações apressadas. A palavra também pode
significar uma ideia ou conceito formado
antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial.

O preconceito pode ocorrer para com uma pessoa ou


um grupo de pessoas de determinada afiliação política,
sexo, género, crenças, valores, classe social, idade,
deficiência, religião, sexualidade, identidade de género,
raça/etnia, linguagem/língua, nacionalidade, beleza,
ocupação, educação, criminalidade, apoio a uma equipa
Preconceito desportiva ou outras características pessoais. Neste
caso, refere-se a uma avaliação positiva ou negativa de
outra pessoa baseada na percepção da associação de
grupo dessa pessoa.

Gordon Allport definiu preconceito como um


“sentimento, favorável ou não, para com alguém ou
algo anterior a, ou não baseada na verdadeira
experiência”. Auestad (2015) define preconceito como
caracterizado pela transferência simbólica,
transferência de um conteúdo de significado carregado
de valor a uma categoria formada socialmente e então a
indivíduos que são considerados pertencentes a tal
categoria, resistência a mudança e sobre generalização.
É um fenômeno decorrente do sofrimento continuado
Revitimização
ou repetido da vítima de um ato violento, após o
20

encerramento deste, que pode ocorrer


instantaneamente, dias, meses ou até anos depois. A
revitimização acontece principalmente em uma esfera
institucional, a exemplo, a vítima de abuso sexual que,
após o sofrimento da violência própria do ato, é
interrogada de maneira inescrupulosa de modo a
lembrar, de maneira dolorosa, os momentos em que
esteve sob o jugo do agressor.
É uma palavra originada da união de duas palavras em
inglês: sex (sexo) + texting (envio de mensagens). O
Sexting descreve um fenômeno recente no qual
adolescentes e jovens usam seus celulares, câmeras
fotográficas, contas de email, salas de batepapo,
comunicadores instantâneos e sites de relacionamento
Sexting
para produzir e enviar fotos sensuais de seu corpo (nu
ou seminu). Envolve também mensagens de texto
eróticas (no celular ou Internet) com convites e
insinuações sexuais para namorado(a), pretendentes
e/ou amigos(as). Em suma, trata-se de uma Exposição
de nudez sem consentimento.
É o ato de constranger alguém com emprego de força
ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental com fins de obter informação, declaração ou
confissão da vítima ou de terceira pessoa; provocar
ação ou omissão de natureza criminosa; em razão de
Tortura discriminação racial ou religiosa. (Lei 9.455/1997).
Também pode ser o ato de submeter alguém, sob sua
guarda, poder ou autoridade, com emprego de força ou
grave ameaça, provocando intenso sofrimento físico ou
mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou
medida de caráter preventivo.
É o conjunto de ações e atividades desempenhadas por
crianças (com valor econômico direto ou indireto)
inibindo-as de viver plenamente sua condição de
infância e adolescência. Refere-se a qualquer tipo de
atividade efetuada por crianças e adolescentes de modo
obrigatório, regular, rotineiro, remunerado ou não, em
condições por vezes desqualificadas e que põem em
risco o seu bem estar físico, psíquico, social e moral,
limitando suas condições para um crescimento e
Trabalho Infantil desenvolvimento saudável e seguro. A Constituição
Federal estabelece a proibição de trabalho noturno,
perigoso ou insalubre a pessoas menores de 18 anos e
de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir de 14 anos (artigo 7º,
inciso XXXIII). Quando na condição de aprendiz, a
atividade laboral deve ocorrer em horários e locais que
não impeçam a frequência à escola e não prejudiquem a
formação e o adequado desenvolvimento físico,
psíquico, moral e social.
21

Inclui o recrutamento, o transporte, a transferência, o


alojamento de pessoas, recorrendo à ameaça, ao rapto, à
fraude, ao engano, ao abuso de autoridade, ao uso da
força ou outras formas de coação, ou à situação de
vulnerabilidade, para exercer a prostituição, ou trabalho
sem remuneração, incluindo o doméstico, escravo ou de
servidão, casamento servil ou para a remoção e
Tráfico de seres humanos
comercialização de seus órgãos, com emprego ou não
de força física. O tráfico de pessoas pode ocorrer dentro
de um mesmo país, entre países fronteiriços ou entre
diferentes continentes. Toda vez que houver
movimento de pessoas por meio de engano ou coerção,
com o fim último de explorá-las, estaremos diante de
uma situação de tráfico de pessoas.
É a “ação ou efeito de violentar, de empregar força
física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral
contra (alguém); ato violento, crueldade, força”. No
aspecto jurídico o termo é definido como
“constrangimento físico ou moral exercido sobre
alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de
Violência
outrem; coação”.

Fenômeno representado por ações Humanas, realizada


por indivíduos, grupos, classes, nações, numa dinâmica
de relações, ocasionando danos físicos, emocionais,
morais e espirituais a outrem.
Violência A violência autoprovocada/auto infligida compreende
Autoprovocada/Auto ideação suicida, autoagressões, tentativas de suicídio e
Infligida suicídios.
É pouco conhecida e constitui na substituição de uma
cultura por um conjunto de valores importados e
forçados. O exemplo clássico é a europeização dos
indígenas americanos, principalmente nas regiões onde
se instalaram missões católicas (América do Sul,
Violência Cultural
México). Mais recentemente muitas missões religiosas
(essencialmente as cristãs) podem danificar a estrutura
de tribos mais primitivas, provocando a longo prazo um
esfacelamento de sua identidade cultural. É um tipo de
violência intensa, perene e pouco instantânea.
É todo tipo de violência que é praticada entre os
membros que habitam um ambiente familiar em
comum. Pode acontecer entre pessoas com laços de
sangue (como pais e filhos), ou unidas de forma civil
(como marido e esposa ou genro e sogra).
Violência Doméstica
A violência doméstica pode ser subdividida em
violência física, psicológica, sexual, patrimonial e
moral. Também é considerada violência doméstica o
abuso sexual de uma criança e maus tratos em relação a
idosos.
22

Caracteriza-se pelo destaque na atuação das classes,


grupos ou nações econômica ou politicamente
Violência Estrutural dominantes, que se utilizam de leis e instituições para
manter sua situação privilegiada, como se isso fosse um
direito natural.
É o ato de violência que implica dano, perda, subtração,
destruição ou retenção de objetos, documentos
pessoais, instrumentos de trabalho, bens e valores da
pessoa atendida/vítima. Consiste na exploração
Violência imprópria ou ilegal, ou no uso não consentido de seus
Financeira/Econômica recursos financeiros e patrimoniais. Esse tipo de
violência ocorre, sobretudo, no âmbito familiar, sendo
mais frequente contra as pessoas idosas, mulheres e
deficientes. Esse tipo de violência é também conhecida
como violência patrimonial.
Também denominada sevícia física, maus-tratos físicos
ou abuso físico. São atos violentos, nos quais se fez uso
da força física de forma intencional, não-acidental, com
o objetivo de ferir, lesar, provocar dor e sofrimento ou
destruir a pessoa, deixando, ou não, marcas evidentes
no seu corpo. Ela pode se manifestar de várias formas,
Violência Física
como tapas, beliscões, chutes, torções, empurrões,
arremesso de objetos, estrangulamentos, queimaduras,
perfurações, mutilações, dentre outras. A violência
física também ocorre no caso de ferimentos por arma
de fogo (incluindo as situações de bala perdida) ou
ferimentos por arma branca.
Considera-se violência doméstica/intrafamiliar a que
ocorre entre os parceiros íntimos e entre os membros da
família, principalmente no ambiente da casa, mas não
unicamente. É toda ação ou omissão que prejudique o
bem-estar, a integridade física, psicológica ou a
liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outra
pessoa da família. Pode ser cometida dentro ou fora de
Violência Interpessoal – casa por algum membro da família, incluindo pessoas
Violência que passam a assumir função parental, ainda que sem
doméstica/intrafamiliar laços de consanguinidade, e que tenha relação de poder.
A violência doméstica/intrafamiliar não se refere
apenas ao espaço físico onde a violência ocorre, mas
também, às relações em que se constrói e efetua. Este
tipo de violência também inclui outros membros do
grupo, sem função parental, que convivam no espaço
doméstico. Incluem-se aí empregados(as), pessoas que
convivem esporadicamente, agregados.
A violência extrafamiliar/comunitária é definida como
aquela que ocorre no ambiente social em geral, entre
Violência Interpessoal -
conhecidos ou desconhecidos. É praticada por meio de
Violência
agressão às pessoas, por atentado à sua integridade e
extrafamiliar/comunitária:
vida e/ou a seus bens e constitui objeto de prevenção e
repressão por parte das forças de segurança pública e
23

sistema de justiça (polícias, Ministério Público e poder


Judiciário).
Entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos
Violência Patrimonial
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades.
É toda forma de rejeição, depreciação, discriminação,
desrespeito, cobrança exagerada, punições humilhantes
e utilização da pessoa para atender às necessidades
psíquicas de outrem. É toda ação que coloque em risco
ou cause dano à autoestima, à identidade ou ao
desenvolvimento da pessoa. Esse tipo de violência
também pode ser chamado de violência moral. No
assédio moral, a violência ocorre no ambiente de
trabalho a partir de relações de poder entre patrão e
empregado ou empregado e empregado. Define-se
Violência Psicológica/Moral
como conduta abusiva, exercida por meio de gestos,
atitudes ou outras manifestações, repetidas,
sistemáticas, que atentem, contra a dignidade ou a
integridade psíquica ou física de uma pessoa, que
ameace seu emprego ou degrade o clima de trabalho.
Portanto, a violência moral é toda ação destinada a
caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação da
pessoa. O bullying é outro exemplo de violência
psicológica, que se manifesta em ambientes escolares
ou outros meios, como o ciberbullying.
É qualquer ação na qual uma pessoa, valendo-se de sua
posição de poder e fazendo uso de força física, coerção,
intimidação ou influência psicológica, com uso ou não
de armas ou drogas, obriga outra pessoa, de qualquer
sexo e idade, a ter, presenciar, ou participar de alguma
maneira de interações sexuais ou a utilizar, de qualquer
modo a sua sexualidade, com fins de lucro, vingança ou
outra intenção. Incluem-se como violência sexual
situações de estupro, abuso incestuoso, assédio sexual,
sexo forçado no casamento, jogos sexuais e práticas
eróticas não consentidas, impostas, pornografia infantil,
Violência Sexual
pedofilia, voyeurismo, manuseio, penetração oral, anal
ou genital, com pênis ou objetos, de forma forçada.
Inclui também exposição coercitiva/constrangedora a
atos libidinosos, exibicionismo, masturbação,
linguagem erótica, interações sexuais de qualquer tipo e
material pornográfico. Igualmente caracterizam a
violência sexual os atos que, mediante coerção,
chantagem, suborno ou aliciamento impeçam o uso de
qualquer método contraceptivo ou forcem a
matrimônio, à gravidez, ao aborto, à prostituição; ou
que limitem ou anulem em qualquer pessoa a
24

autonomia e o exercício de seus direitos sexuais e


reprodutivos. A violência sexual é crime, mesmo se
exercida por um familiar, seja ele, pai, mãe, padrasto,
madrasta, companheiro(a), esposo(a).
É um conceito social elaborado pelo sociólogo francês
Pierre Bourdieu, o qual aborda uma forma de violência
exercida pelo corpo sem coação física, causando danos
morais e psicológicos. É uma forma de coação que se
apoia no reconhecimento de uma imposição
determinada, seja esta econômica, social, cultural,
institucional ou simbólica. A violência simbólica se
funda na fabricação contínua de crenças no processo de
Violência simbólica
socialização, que induzem o indivíduo a se posicionar
no espaço social seguindo critérios e padrões do
discurso dominante. Devido a esse conhecimento do
discurso dominante, a violência simbólica é
manifestação desse conhecimento através do
reconhecimento da legitimidade desse discurso
dominante. Para Bourdieu, a violência simbólica é o
meio de exercício do poder simbólico.
Brota da prática do autoritarismo, profundamente
enraizada, apesar das garantias democráticas tão
claramente expressas na Constituição de 1988. Suas
raízes, no Brasil, encontram-se no passado colonial.
Violência Sistêmica
Ainda hoje, as manifestações da violência sistêmica são
inúmeras, e o Estado tem se mostrado bastante ineficaz
no combate à tortura legal e aos maus-tratos aos presos,
bem como à ação dos grupos de extermínio.
É quando uma pessoa ataca outra violentamente com
Violência Verbal
palavras de baixo calão ou palavras injuriosas.

5 COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA

A Comunicação Não-Violenta (CNV) é uma metodologia comunicacional


desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg voltada para
aprimorar os relacionamentos interpessoais e diminuir a violência no mundo. No início
dos anos 60, durante o auge do movimento a favor dos diretos civis e contra a
segregação racial nos Estados Unidos, o psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg
atuava como orientador educacional em instituições de ensino que eliminavam a
segregação. O papel de Rosenberg, durante essa conturbada transição, era ensinar
mediações e técnicas de comunicação. Nesse contexto, ele elaborou o método da
Comunicação Não-Violenta (CNV).
25

Em seu livro homônimo, Rosenberg define a Comunicação Não-Violenta como


uma abordagem da comunicação, que compreende as habilidades de falar e ouvir, que
leva os indivíduos a se entregarem de coração, possibilitando a conexão com si mesmos
e com os outros, permitindo assim que a compaixão se desenvolva. Quanto à expressão
Não-Violenta, o psicólogo faz uso da definição de Gandhi, se referindo a uma condição
compassiva natural que aparece quando a violência é afastada do coração.
A técnica é baseada em competências de linguagem e comunicação que auxiliam
na reformulação da forma como cada um se expressa e ouve os demais. O pesquisador
propõe que, com a Comunicação Não-Violenta (CNV), as respostas a estímulos
comunicacionais deixem de ser automáticas e repetitivas e passem a ser mais
conscientes e baseadas em percepções do momento, por meio da observação de
comportamentos e fatores que tem influência sobre cada um. Por meio da escuta ativa e
profunda, o método faz com que as interações ocorram com mais respeito, atenção e
empatia, como defende o psicólogo.
Para que a Comunicação Não-Violenta (chamada também de comunicação
empática) ocorra, Rosenberg explica que é preciso os praticantes se concentrem em
quatro componentes, que devem ser expressados de forma clara:

1. Observação
Em primeiro lugar, é necessário observar o que realmente está acontecendo em
determinada situação. O psicólogo sugere questionar se a mensagem que está sendo
recebida, seja por meio de fala ou de ações, tem algo a acrescentar de forma
positiva. O segredo é fazer essa observação sem criar um juízo de valor, apenas
compreender o que se gosta e o que não no que está acontecendo e no que o outro
faz.
2. Sentimento
Depois, é preciso entender qual sentimento a situação desperta depois da
observação. É importante nomear o que se sente, por exemplo, mágoa, medo,
felicidade, raiva, entre outros. O psicólogo ainda afirma que é importante se permitir
ser vulnerável para resolver conflitos e saber a diferença entre o que se sente e o que
se pensa ou interpreta.
3. Necessidades
A partir da compreensão de qual sentimento foi despertado, é preciso reconhecer
quais necessidades estão ligadas a ele. Rosenberg ressalta que quando alguém
26

expressa suas necessidades, há uma possibilidade maior de que elas sejam atendidas
e que a consciência desses três componentes vem de uma análise pessoal clara e
honesta.
4. Pedido
Por meio de uma solicitação específica, ligada a ações concretas, é possível deixar
claro o que se quer da outra pessoa. O especialista recomenda usar uma linguagem
positiva, em forma de afirmação, para fazer o pedido. Evite frases abstratas, vagas
ou ambíguas.

A Comunicação Não-Violenta também pode ser usada no desenvolvimento da


autocompaixão. O psicólogo ressalta que esse processo deve ser utilizado para se
expressar de forma honesta, mas também para receber com empatia a mensagem do
outro. É possível perceber que a empatia foi recebida quando há um alívio de tensão ou
quando o fluxo de palavras acaba. Para isso, é preciso se fazer presente e escutar
atentamente.
O método pode ser aplicado em relacionamentos pessoais, familiares,
organizacionais, educacionais, em negociações, disputas e conflitos de qualquer
natureza. Rosenberg exemplifica que a Comunicação Não-Violenta pode estabelecer
relações mais profundas, afetivas e eficazes, inclusive tendo sido utilizada em
comunidades localizadas em regiões de conflitos e tensões graves, como Israel, Ruanda
e Serra Leoa.
Quais os desafios para a Comunicação Não-Violenta? Para Rosenberg, é na
forma como as pessoas se comunicam entre si que se encontra a solução para resolver
desentendimentos e discussões. Mas ele aponta que existem algumas maneiras de se
comunicar que fazem com que as pessoas apresentem comportamentos violentas, o que
definiu como “comunicação alienante da vida”. Exemplos disso são julgamentos
moralizantes (que trazem sentimentos como culpa, depreciação, rotulação e crítica),
comparações, negação de responsabilidade e transformação de desejos em exigências.
Além disso, quando se está na posição de ouvinte existem alguns
comportamentos que impedem as pessoas de estarem presentes o suficiente para se
conectarem com empatia. São eles os impulsos de educar, competir pelo sofrimento,
educar, consolar, contar história, ser solidário ou encerrar o assunto.

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