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MANUAL DO ABORDAGEM SOCIOPSICOLÓGICA DA VIOLÊNCIA – CBFPM 2022/2023

PARTICIPANTE

17
UD I - Abordagem conceitual

Notas

Objetivos
Ao finalizar esta unidade o participante espera-se que o
participante tenha alcançado os seguintes objetivos:

1. Ampliar seus conhecimentos para compreender o


fenômeno da violência e da criminalidade;

2. Desenvolver habilidades de interrelacionar os conceitos,


de modo a utilizá-los em seu dia a dia na atividade policial
militar.

3. Fortalecer atitudes para refletir sobre os fatores e


situações inerentes à violência e à criminalidade, de acordo
com os conceitos básicos da unidade.

Atualizado 26 de agosto de 2022 - Abordagem Sociopsicológica da Violência -


CBFPM
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2. Introdução
A violência se constitui em uma temática que, há muito tempo,
preocupa a comunidade científica e tenta entender e descrever este fenômeno.
Áreas como História, Sociologia e Psicologia, vêm se voltando para o estudo
da criminalidade e da violência, de forma a elucidar o fenômeno em termos de
suas variações no tempo em relação às estruturas e processos mais amplos e de
longa duração. Poucos problemas sociais mobilizam tanto a opinião pública
como a criminalidade e a violência nos dias atuais, pois afetam toda a
população, independente de classe, raça, credo religioso, sexo ou estado civil.
São consequências que se repercutem tanto no imaginário cotidiano das
pessoas, como nas cifras extraordinárias a respeito dos custos diretos da
criminalidade violenta (BRASIL, 2014). Neste capítulo serão abordados
conceitos fundamentais que contribuirão na formação e prática do policial
militar.

3. Conceitos básicos
a) Sociedade: Tipo especial de sistema social que, como todos os
sistemas sociais, distingue-se por suas características culturais, estruturais e
demográficas/ecológicas. Especificamente, trata-se de um sistema definido por
um território geográfico, que poderá ou não coincidir com as fronteiras de
nações-estado, dentro do qual uma população compartilha de uma cultura e
estilo de vidas comuns, em condições de autonomia, independência e
autossuficiência relativas.

b) Indivíduo: Na democracia o indivíduo é considerado conforme seu


nível de empreendimento na participação social, sua importância e relevância
individual advém da consideração de seus pares a respeito dos seus atos em
favor do coletivo. No sistema capitalista a valoração do indivíduo também
considera os resultados do seu trabalho em prol do coletivo, lhe atribuindo
importância e valor positivo ou, na ausência de produção de forma
injustificada, valor negativo, por isso ele próprio será culpado de sua condição.
O conceito de indivíduo faz referência a cada pessoa que faz parte de uma
sociedade, reconhecendo que todos têm liberdade para decidir sobre suas
ações, assim como têm o conhecimento sobre as coisas que fazem. Na
sociologia, vários autores (como Beck, Bauman e Giddens) definem o
indivíduo – ou seja, a pessoa – como a célula da sociedade que, junto a outros
indivíduos, forma um conjunto histórico social diferente.

c) Sociologia: É o estudo da vida e do comportamento social, sobretudo


em relação a sistemas sociais, como funcionam, como mudam, suas
consequências e sua complexa relação com a vida dos indivíduos. É uma

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Ciência Social que estuda e analisa o conjunto de fenômenos, instituições,


grupos sociais, poderes e relações de força que se manifestam pelo fato de os
homens viverem em sociedade. Constitui-se num conjunto de conhecimentos
sistemáticos baseados, igualmente, na observação, análise e na pesquisa
objetiva dos fatos sociais. Neste sentido, a Sociologia é uma ciência que trata
das relações sociais, das formas de associação, destacando-se os caracteres
gerais comuns a todas as classes de fenômenos sociais, que se produzem nas
relações entre seres humanos. Estuda o homem e o meio ambiente em suas
interações recíprocas, se baseia em estudos objetivos que melhor podem
revelar a verdadeira natureza dos fenômenos sociais e, desta forma, o estudo e
o conhecimento objetivo da realidade social. Como exemplos, podemos citar a
formação e desintegração de grupos, a divisão da sociedade em camadas, a
mobilidade de indivíduos e grupos nas camadas sociais, processos de
competição e cooperação.

d) Estrutura social: É a trama, a rede de relações de interdependência


relativamente estáveis que existem em um determinado conjunto de posições
sociais, papéis, instituições, grupos, classes ou outros componentes da
realidade social, de nível igual (como membros de uma família) ou de nível
diferente (como acontece numa formação econômico-social),
independentemente da identidade dos componentes que se revezam como
sujeitos das relações. Trata-se de um conjunto dinâmico de disposições
sobrepostas que grava, armazena e prolonga a influência dos diversos
ambientes sucessivos da vida de uma pessoa. Diz respeito à forma como a
sociedade se organiza.

e) Ordem social: Seu conceito de pode apresentar vários significados,


embora relacionados. A primeira definição destaca que esta seria a coesão
social pela qual os sistemas se mantém integrados, o que constitui um dos
interesses básicos da perspectiva funcionalista. No segundo sentido, pode ser
tratado como sinônimo de controle social, de meios institucionais e de outros
métodos usados para assegurar que indivíduos obedeçam às normas e
sustentem valores. No terceiro, refere-se aos padrões relativamente previsíveis
de comportamento e experiências que caracterizam a vida nos próprios
sistemas (referidos também como organização social). Se combinássemos
todos esses significados poderíamos dizer que todo sistema social é uma ordem
social.

f) Controle social: É o conjunto das sanções positivas e negativas a que


uma sociedade recorre para assegurar a conformidade das condutas aos
modelos estabelecidos. O controle social pode ser informal (natural,
espontâneo, baseado nas relações pessoais e íntimas que ligam os componentes
do grupo) e formal (artificial, organizado, exercido principalmente pelos
grupos secundários). No Brasil, a expressão controle social tem sido utilizada
como sinônimo de controle da sociedade civil sobre as ações do Estado,
especificamente no campo das políticas sociais, desde o período da

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redemocratização dos anos de 1980.

g) Senso comum: É o conjunto diversamente sistemático e coerente de


representações da realidade do homem, da sociedade, da natureza e do
sobrenatural, de juízos morais e afetivos sobre suas ações e condições, de
crenças sobre a relação das causas e efeitos entre os eventos humanos, naturais
e sobrenaturais, de esquemas interpretativos úteis para orientar e conferir
ordem e significado à vida quotidiana, e que cada ser humano forma
naturalmente e inconscientemente no curso da socialização primária e
secundária. Da mesma forma, o senso comum seria um saber que nasce da
experiência cotidiana, da vida que os homens levam em sociedade. É, assim,
um saber acerca dos elementos da realidade em que vivemos; um saber sobre
os hábitos, os costumes, as práticas, as tradições e as regras de conduta. Há de
se considerar, também, o conceito de senso comum como oposição, o que para
um grupo de teóricos, é definido de maneira geral como um pensamento
simples e superficial oposto ao conhecimento científico (DOURADO, 2018).

h) Teoria: Forma de pensar e entender algum fenômeno a partir da


observação. Em ciência, a definição de teoria científica difere bastante da
acepção de teoria em senso comum ou de simples especulação; o conceito
moderno de teoria científica se estabelece, entre outros, como uma resposta ao
problema da demarcação entre o que é efetivamente científico e o que não o é.

i) Cultura: É o conjunto acumulado de símbolos, ideias e produtos


materiais associados a um sistema social, seja ele uma sociedade inteira ou
uma família. Há três concepções fundamentais de entendimento da cultura, tais
sejam: 1) modos de vida que caracterizam uma coletividade; 2) obras e práticas
da arte, da atividade intelectual e do entretenimento; e 3) fator de
desenvolvimento humano.

j) Diversidade cultural: Fatores de identidade que distinguem o


conjunto dos elementos simbólicos presentes nas culturas, os quais reforçam as
diferenças entre grupos de seres humanos. Representa o conjunto das distintas
culturas que existem no planeta.

k) Alteridade: O conceito de alteridade nos fala sobre ser capaz de


notar as diferenças entre as pessoas, do respeito que se deve ter pelo outro em
suas particularidades e de como seria bom se, ao invés de repudiarmos algo
diferente, pudéssemos tentar compreender, possibilitando, assim, a propagação
de culturas diversas.

l) Etnocentrismo: É a superestimação do grupo a que se pertence,


examinando todo e qualquer assunto com os preconceitos desse grupo.
Conceito antropológico usado para definir atitudes nas quais consideramos
nossos hábitos e condutas como superiores aos de outrem. Fenômeno que
possui dimensões intelectuais (racionais) e afetivas (psicológicas) que estão na

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gênese de quase todas as atitudes e comportamentos preconceituosos, radicais e


xenófobos.

m) Relativismo: É uma doutrina que prega que algo é relativo,


contrário de uma ideia absoluta, categórica; atitude ou doutrina que afirma que
as verdades (morais, religiosas, políticas, científicas, etc.) variam conforme a
época, o lugar, o grupo social e os indivíduos de cada lugar. Na filosofia e na
antropologia, o relativismo é a postura segundo qual toda avaliação é relativa a
algum padrão, seja qual for, e os padrões derivam de culturas. O relativismo,
dessa forma, leva em consideração diversos tipos de análise, mesmo sendo
aparentemente contraditórias. As diversas culturas humanas geram diferentes
padrões segundo os quais as avaliações são geradas. Este conceito difere, pois,
do etnocentrismo, que leva em consideração apenas um ponto de vista em
detrimento aos demais. Assim, podemos concluir que o relativismo é um termo
filosófico que se baseia na relatividade do conhecimento e repudia qualquer
verdade ou valor absoluto. Todo ponto de vista é válido.

n) Relativismo cultural: Traz a reflexão na qual a humanidade não


deve, necessariamente, atingir o mesmo patamar tecnológico de outro povo
para ser "melhor" ou "pior". Ao invés de utilizar termos como “superior” ou
“inferior”, busca compreender certos comportamentos de acordo com a
dinâmica social da população considerada.

o) Vínculo social: Resulta de um relacionamento lógico, ou de


dependência, ou de ligação afetiva ou moral entre duas ou mais pessoas.

p) Habitus: Sistema de disposições duráveis e transponíveis que


considera as experiências passadas e funciona como uma matriz de percepções,
apreciações e ações.

q) Adaptação: Refere-se a um conjunto de respostas de um organismo


vivo que, a todo o momento, precisa lidar com situações que o modificam,
permitindo a manutenção de sua organização e assegurando compatibilidade
com a vida.

r) Resiliência: Diz respeito à capacidade do sujeito de enfrentar


situações problemáticas ou perturbadoras de forma saudável, apresentando
comportamentos adaptativos frente a elas.

s) Teoria da Identidade Social: De acordo com esta visão, o fato de


pertencer a um grupo social cria, no indivíduo, o sentimento de “nós” e a
percepção de uma identidade coletiva. Quanto mais a pessoa se engaja na
organização, mais se identifica com este segmento da sociedade e mais
facilmente aceita as suas normas e valores. O foco das ações desse grupo pode
variar, desde o desenvolvimento, a criação ou a construção de algo, até uma
eventual autodestruição.

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t) Prevenção primária: Refere-se às intervenções que objetivam


prevenir violência e crime antes que ocorram. Tem como alvo a população em
geral, atuando através de intervenções que educam, promovem a competência
social, incentivam mudanças e ampliam as redes sociais.

u) Prevenção secundária: Refere-se às estratégias voltadas para


pessoas mais vulneráveis ou suscetíveis de práticas ou de serem vítimas de
algum tipo de violência.

v) Prevenção terciária: Trata-se das estratégias que envolvem


programas e projetos direcionados a pessoas que já tenham praticado violência
e crimes. A prevenção é instituída após ter ocorrido uma condição de abuso, e
cujas ações visam a reduzir sequelas e a evitar reincidências.

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PARTICIPANTE

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UD II - Estudos contemporâneos

Notas

Objetivos
Ao finalizar esta unidade o participante espera-se que o
participante tenha alcançado os seguintes objetivos:

1. Refletir sobre a complexidade dos fenômenos criminais,


entendendo o conceito de crime sob o aspecto formal;

2. Analisar e entender os diferentes conceitos sobre


violência.

3. Fortalecer atitudes para refletir sobre os fatores e


situações inerentes à violência e à criminalidade, de acordo
com as informações recebidas.

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CBFPM 2022/2023 – Estudos contemporâneos NOTAS DE AULA

1. Introdução
Atualmente, as teorias científicas sobre a violência e a criminalidade
são utilizadas para a compreensão e investigação do fenômeno criminoso,
indagando porque determinadas pessoas são tratadas como criminosas;
vislumbrando o predomínio dos elementos sociais e situacionais sobre a
personalidade e orientando na formulação de políticas públicas.

Sendo assim, torna-se indispensável conhecer os modelos teóricos que


abordam os eventos de crimes nos seus três níveis de análise: individual, micro
e macroestrutural. O nível individual enfoca o princípio da escolha racional em
que ele pondera sobre custos e benefícios de ações criminosas. O nível
microestrutural enfoca os processos de socialização, aprendizado e de
introjeção de autocontrole produzidos pelos grupos de referência. O nível
macroestrutural enfatiza os conflitos econômicos, os conflitos morais e
culturais, a pressão pela aquisição de bens e a desigualdade de oportunidades.

Espera-se que com este módulo, o policial militar tenha condições de


compreender de forma mais ampla o fenômeno da violência e do crime a partir
de uma prévia visão do homem e da sociedade; desenvolva habilidades de
discutir as variáveis e pressupostos dos diferentes modelos teóricos que
abordam a violência e os eventos do crime, bem como as formas de
intervenção nas ações de segurança pública; e, ainda, refletir sobre os fatores e
situações inerentes à violência e à criminalidade, de acordo com o espaço
público de sua atuação.

2. Abordagem sobre o crime


O crime é um dos conceitos mais intrincados e discutíveis, haja vista
que depende da época e do lugar para que seja considerado como tal. De regra,
nos meios policiais, prevalece o conceito de crime em seu sentido formal, em
que o mesmo é visto como um ato ou omissão que viola uma lei penal
incriminadora. Por esta perspectiva, o crime é um comportamento que foi
tipificado por um código, um código penal, um produto de convenções
localizadas no tempo e no espaço.

Entender o que leva as pessoas a cometer crimes é uma tarefa árdua.


Afinal, não há consenso sobre uma verdade universal, mesmo que esta se refira
a uma determinada cultura, em um dado momento histórico. Como explicar
que em uma comunidade onde haja dois irmãos gêmeos, um deles enverede
pela via do narcotráfico, ao passo que o outro prefira seguir o caminho da

Atualizado em 26set-22 Análise Criminal - CBFPM MP 3–2


CBFPM 2022/2023 – Estudos contemporâneos NOTAS DE AULA

legalidade?
Os criminólogos que, principalmente a partir do início do século XX,
estudaram o assunto identificaram uma série de fatores criminogênicos que,
combinados em proporções e situações específicas, poderiam explicar a
causação do crime. Desse modo, o que há na literatura são inúmeros modelos
que focalizam alguns fatores em particular. Portanto, melhor do que perceber
cada um dos modelos como uma panaceia que explique situações tão díspares,
ou mesmo como modelos que deem conta da generalidade do mundo criminal,
menos ingênuo seria interpretá-los como matizes que podem ajudar a compor
um quadro.
Do ponto de vista da intervenção pública para a manutenção da paz social, não
importa conhecer a verdade. Importa, antes de mais nada, reconhecer se em
uma determinada região há alguma regularidade estatística entre aqueles
fatores criminogênicos, concretos (presença de armas, drogas etc.), ou
imaginários (supervisão familiar, reconhecimento etc.), e, além disso, saber se
o Estado possui instrumentos para intervir nessa regularidade, direta ou
indiretamente, com a participação da própria sociedade. As teorias de causação
do crime, ao lançarem luz sobre determinadas variáveis e sua epidemiologia,
permitem que o planejador do Estado escolha dentre inúmeras variáveis
aquelas que supostamente devem ser as mais importantes. Os modelos
empíricos, ao detalharem a metodologia de aferição, possibilitam a
centralização das atenções e dos escassos recursos públicos em algumas
poucas variáveis, que podem não explicar uma verdade universal, mas
interferem decisivamente (com maior probabilidade) na dinâmica criminal
daquela região onde se quer intervir. Desse modo, o planejador público que
acreditar piamente em um único modelo de causação criminal (seja qual for)
para tomar suas decisões e orientar suas ações e recursos estará fadado a
utilizar um "leito de Procusto", algumas vezes com êxito, outras não, a
depender do "cliente" ou da situação em particular. Daí a necessidade da
multidisciplinaridade: um meio de aumentar o conjunto de instrumentos de
análise e de intervenção pública para um objeto extremamente complexo.
É evidente a complexidade do fenômeno e a dificuldade em creditar a umas
poucas variáveis os determinantes da criminalidade, que tem raízes na primeira
infância até a pré-adolescência, passando pela supervisão e elos com a família,
com os amigos e com a escola, e terminando com outras virtuais fontes de
tensão social inerentes a um espectro mais amplo que envolve as instituições e
a forma de organização macroestrutural. Por outro lado, desse ambiente micro
e macroestrutural decorrem os resultados acerca da distribuição do produto da
economia, aferido objetivamente a partir de variáveis, como renda per capita,
graus de desigualdade da renda, probabilidade de se estar empregado e acesso
às oportunidades e serviços que possibilitem a obtenção de moradia, saúde (e
alimentação) e cultura pelos indivíduos, condições necessárias para a inclusão
social.

Atualizado em 26set-22 Análise Criminal - CBFPM MP 3–3


CBFPM 2022/2023 – Estudos contemporâneos NOTAS DE AULA

Em uma outra mão, existem as variáveis dissuasórias que levariam o


indivíduo a se abster de cometer crimes. Dentre essas há, em primeiro lugar, o
controle interno individual (controle social), traduzido aqui pela percepção e
sentimento de concordância do indivíduo para com o conjunto vigente de
normas e valores sociais, que faz estreitar os elos desse para com a sociedade.
Por fim, há o controle externo, imposto pelas instituições pertencentes ao fluxo
de justiça criminal, que se inicia pela polícia, passando pela justiça e
terminando nos sistemas punitivos, que indicariam as probabilidades de
aprisionamento e a magnitude das punições.
A depender da cultura, da região e do momento histórico vivido, algumas
dessas variáveis podem incidir de forma mais decisiva para explicar
determinada dinâmica criminal. Muitas vezes elas interagem em vários níveis,
conforme apontado no modelo ecológico, fazendo com que as próprias
dinâmicas criminais funcionem como motivadoras de outras.

3. Abordagem sobre a violência

O comportamento classificado como violento, da mesma forma as ações


denominadas violentas, tem feito parte ao longo da história da humanidade.
Violência não se refere a um evento homogêneo, porquanto assume diversas
formas e práticas sociais: política, física, psicológica, moral, cultural,
econômica, sexual, ecológica, educacional etc. De acordo com a época e o lugar,
há diferentes teorias e explicações sobre os atos reputados como violentos.

Inicialmente, pode-se destacar que a violência pode ocorrer de forma


explícita ou implícita. Explícita é aquela relacionada com assaltos, homicídios,
estupros, sequestros, lesões corporais. Este tipo de violência está diretamente
relacionado com o dia a dia da atividade polícia militar. Além do mais, existe
também a denominada violência implícita que diz respeito à fome,
analfabetismo, baixo salário, desemprego, impunidade, corrupção, preconceito,
falta de saneamento básico, mortalidade infantil, etc.

Nesse sentido, a Brigada Militar, como dito, atua na maioria das vezes na
violência explícita, porém, segundo Hoffmann (2012):

[....] os atos de violência implícita, na maioria das vezes praticados


pelas classes que detêm o poder, não são facilmente percebidos como
violência e requerem um exercício de reflexão para que seja detectado
o seu grau de nocividade ao meio social.

Atualizado em 26set-22 Análise Criminal - CBFPM MP 3–4


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A filósofa brasileira Chauí (1999) conceitua violência da seguinte


maneira:

[...] violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou


psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e
sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror.
A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis,
dotados de linguagem e de liberdade, como se fossem coisas, isto é,
irracionais, insensíveis, mudos e inertes ou passivos.

Vista da perspectiva da saúde pública, a violência é definida pela


Organização Mundial da Saúde, como “o uso deliberado da força física ou do
poder”, seja em grau de ameaça ou efetivo, contra si mesmo, outra pessoa ou um
grupo ou comunidade, que cause ou tenha muitas probabilidades de causar
lesões, morte, danos psicológicos, transtornos de desenvolvimento ou privações.

Conforme o Dicionário de Ciências Sociais, de Alain Birou:

De modo geral, diz-se que há violência na sociedade e no exercício


da vida social sempre que uma pessoa ou grupo, constituindo uma
força, emprega meios de coação para obrigar materialmente os
outros a adotarem atitudes contra a vontade ou a realizarem atos que
não realizariam se a isso não fossem coagidos. Constitui um atentado
direto e consciente à liberdade, com emprego da força ou da ameaça.
Nem toda a coação é violenta, mas toda a forma de violência implica
em coação.

Segundo Costa (1987, p. 238) estudos de Sociologia da Violência


demonstram que:

Não existe na sociedade humana uma violência instintiva como entre


os animais. Também não existe uma noção absoluta de violência.
Existem violências sob formas diversas, em diferentes
circunstâncias. Há a violência institucionalizada oficial, praticada
pela policia, pelo Estado; a violência internacional entre dois
mundos em conflito; a violência não oficial, mas também
organizada, entre bandos armados que se defrontam pelo domínio de
atividades ilegais (drogas, jogos etc.), ou pelo domínio de terras
como os bandos de jagunços dos proprietários rurais; a violência
como explosão de movimentos de massa, como os linchamentos; a
violência resultante do preconceito contra mulheres, negros,
homossexuais, sob a forma individual ou organizada, a exemplo da
Ku Kux Klan, organização direitista e racista norte-americana.

Ao falarmos em estudos contemporâneos, título proposto pela presente


unidade didática, não se pode esquecer da relação entre violência e mídia.
Nos dias atuais, a mídia oficial e não oficial, está cada vez mais presente
nas diversas dimensões da sociedade e em todos os seus estratos. Padrões de
comportamento, valores, condutas certas ou erradas, são criadas, principalmente,
via televisão, redes sociais, graças à facilidade de acesso e a seus recursos de
áudio e vídeo.

Atualizado em 26set-22 Análise Criminal - CBFPM MP 3–5


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Segundo nos ensina Hoffmann (2012), no que se refere à Segurança


Pública, as relações com a mídia podem ser especialmente verificadas: I - na
construção do que a sociedade considera ou não como violência e crime; II - na
sensação de segurança e de insegurança; III - nas situações de investigação em
que pode atuar como parceira ou obstáculo; e IV - na divulgação ou omissão de
notícias de interesse da coletividade, além da participação em possíveis
encaminhamentos para a busca de soluções.
Em grande proporção, a mídia constrói a realidade que conhecemos. Para
um evento “existir” ou não, ele necessita de divulgação pela grande imprensa.
Desse modo, torna-se público o que é alvo de seus enfoques.
Em contrapartida, mantém-se “privado” o que não passa pelos veículos
de comunicação. Se algo não é divulgado, é como se não existisse,
sociologicamente falando.
De acordo com Rondelli (1998), citado por Hoffmann (20212), se a
violência é também linguagem ou forma de comunicar alguma coisa, a mídia age
como amplificadora da linguagem primeira da violência. Frequentemente, os
meios de comunicação criam e/ou alteram a imagem que o leitor tem dos fatos,
uma vez que a cobertura não chega a representá-los fielmente e sim os aspectos
que pretendem divulgar.
Os eventos considerados violentos extrapolam a sua condição de
fenômenos sociais e psicológicos: são transformados em matéria-prima, como
produtos comerciais, para assegurar audiência e anunciantes. Diga-se, a receita
obtida por meio de anúncios costuma ser maior que aquela fruto das vendas de
exemplares. Diante disso, a mídia acaba atuando como agente de divulgação e,
muitas vezes, de exaltação à violência.
A complexidade dos fatos é reduzida à superficialidade maniqueísta e
linear, em que alguém é rotulado como bom e um outro alguém seria mau. No
lugar de estudos sobre origens, situações, contextos, influências, possibilidades e
soluções, são reencarnados, à exaustão, personagens como vilão versus mocinho,
agressor versus vítima.
Não obstante, a mídia acaba funcionando como um tribunal, que apura,
julga e sentencia, constrói uma justiça e uma ética próprias, paralelamente às
instituições oficiais. Considerando as finalidades comerciais dos meios de
comunicação, não é difícil imaginar os prejuízos decorrentes de tal prática. Entre
eles, o aumento da exclusão e da separação entre os diversos estratos da
sociedade, uma vez que a mídia tende a dar ênfase somente a alguns tipos de
delitos e a determinados autores desses eventos.
Por fim, ainda nos ensinamentos de Hoffmann (2012), em vez de
explorar as tragédias como espetáculo, a mídia poderia detalhar o ocorrido com
diferentes opiniões e pareceres, formados por profissionais da área,
pesquisadores e representantes dos envolvidos. Em lugar do sensacionalismo
demagógico, a mídia deveria privilegiar a busca de soluções e mudanças que
previnam contra novas desgraças. O grande desafio parece consistir na definição
do que possa ser considerada, de um lado, liberdade de expressão e, de outro,
respeito ou limitação ao que convém que seja preservado.

MODELO ECOLÓGICO (Segundo Cerqueira e Lobão, 2003):

Atualizado em 26set-22 Análise Criminal - CBFPM MP 3–6


CBFPM 2022/2023 – Estudos contemporâneos NOTAS DE AULA

Vários autores procuraram elaborar um modelo integrado para explicar a


violência, cujo enfoque se dá nos vários níveis, estrutural, institucional,
interpessoal e individual. Tais anseios decorreram da percepção empírica que a
violência e a sua tolerância variam significativamente entre as sociedades, entre
as comunidades e entre os vários indivíduos. Um primeiro uso foi de
Bronfenbrenner (1977), que procurou explicar o desenvolvimento humano e a
psicologia social. Outros autores buscaram explicar, por meio dessa abordagem,
a etiologia de dinâmicas criminais específicas, como Belsky (1980), que se
preocupou com o abuso infantil; Dutton (1988) e Edelson e Tolman (1992), que
estudaram a violência doméstica contra a mulher; e Brown (1995), cujo estudo
foi voltado para a coersão sexual. Segundo essa abordagem, mais do que atribuir
importância a determinadas características isoladas, o modelo — que ficou
conhecido como modelo ecológico [ver Shrades (2000)] — considera que a
combinação de tais atributos pertencentes àqueles diferentes níveis ocuparia um
papel central para explicar a violência. Por outro lado, esses vários níveis se
reforçariam a depender da sua combinação. Dentre as variáveis que
constituiriam os níveis supramencionados, no plano individual há o histórico
pessoal, os fatores ontogenéticos e as respostas da personalidade individual
diante de situações de tensão. No contexto mais íntimo do indivíduo, onde a
violência poderia se processar, há as relações interpessoais com familiares e com
outros conhecidos íntimos. No plano institucional figuram as associações
formais e informais comunitárias, profissionais, religiosas, ou outras redes
sociais em que haja a identidade dos grupos. No nível macroestrutural inserem-
se as estruturas econômica, política e social que incorporam crenças e normas
culturais que permeiam a sociedade, conforme apontado na Figura 1, baseada em
Moser e Shrader (1999):

Figura 1 – Arcabouço integrado para a causalidade da violência.

Atualizado em 26set-22 Análise Criminal - CBFPM MP 3–7


MANUAL DO ABORDAGEM SOCIOPSICOLÓGICA DA VIOLÊNCIA – CBFPM 2022/2023
PARTICIPANTE

17
UD III – Principais Teorias e análise
psicossocial da violência

Notas

Objetivos
Ao finalizar esta unidade o participante espera-se que o
participante tenha alcançado os seguintes objetivos:

1. Ampliar seus conhecimentos para compreender o


fenômeno da violência, a partir de uma visão sobre as
principais teorias que explicam o crime.

2. Desenvolver e exercitar habilidades para discutir as


variáveis e os pressupostos das diferentes estruturas do
aparelho psíquico humano sob o aspecto da criminalidade.

3. Fortalecer atitudes para refletir sobre os fatores e


situações inerentes à violência e à criminalidade, de acordo
com o comportamento humano.

Atualizado em 26 set-22 Teorias e análise CBFPM MP 11–1


CBFPM 2022/2023 – Teorias e análise NOTAS DE AULA

2. Introdução
Apresentamos neste capítulo as causas sociopsicológicas da violência,
suas principais teorias e, com o apoio de textos pesquisados nos sites de buscas
da internet, as principais explicações sociológicas para a violência e a
criminalidade na sociedade brasileira: causas estruturais (econômicas), causas
políticas (impossibilidade de constituição da cidadania plena), causas
institucionais (inexistência de agências mediadoras democráticas) e causas
culturais (quebra de redes de sociabilidade) e também as instituições prisionais.

1.1 Principais teorias

O que leva as pessoas a cometerem crimes e comportamentos


desviantes dos socialmente aceitos? Seriam tais comportamentos frutos de
traços pessoais e idiossincráticos, ou resultado de um processo deformado de
aculturação na fase pré-adulta? Ou, ainda, seria o resultado de um ambiente de
desagregação e injustiças sociais? É possível aventar, por outro lado, a hipótese
de tal fenômeno ser meramente um resultado do processo de racionalização,
onde a cultura moderna da individualização seria uma base ética para contrapor
à Lei de Ouro (fazer para o próximo o que quero que seja feito para mim).
Então, como explicar a ocorrência de tais fenômenos ao longo da história?

1.2 Teorias Focadas Nas Patologias Individuais

Dentre as teorias que explicam o comportamento criminoso a partir de


patologias individuais, se poderia dividi-las em três grupos: de natureza
biológica; psicológica; e psiquiátrica. Tais desenvolvimentos encontram-se no
limiar da criminologia, sendo uma das abordagens mais conhecidas, conforme
já salientado anteriormente, aquela devida a Lombroso [1893; 1910 (editada
em 1968)], em que a formação óssea do crânio e o formato de orelhas, entre
outras características, constituiriam indicadores da patologia criminosa. Tal
perspectiva lombrosiana inspirou ainda trabalhos no campo da psiquiatria, cuja
hipótese era de que criminosos constituíam um tipo de indivíduo inferior,
caracterizado por desordens mentais, alcoolismo, neuroses, entre outras
características. Muitos trabalhos foram desenvolvidos logo após a 1ª Guerra,
em que se tentava medir objetivamente o grau em que criminosos eram
psicologicamente diferentes de não-criminosos.

Após a Segunda Guerra, tais teorias sobre as características


psicológicas intrínsecas que criminosos teriam foram abandonadas,
principalmente em função do seu conteúdo racista, além do que novos estudos
e experimentos trataram de mostrar que não havia nenhuma distinção entre
criminosos e não-criminosos, seja por grau de inteligência ou outro traço
psicológico intrínseco.

Atualizado em 26 set-22 Teorias e análise CBFPM MP 11–2


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1.3 Teoria Da Desorganização Social

Trata-se de uma abordagem sistêmica cujo enfoque gira em torno das


comunidades locais, sendo essas entendidas como um complexo sistema de
redes de associações formais e informais, de relações de amizades, parentescos
e de todas as outras que de alguma forma contribuam para o processo de
socialização e aculturação do indivíduo. Tais relações seriam condicionadas
por fatores estruturais, como status econômico, heterogeneidade étnica e
mobilidade residencial. Além desses a teoria tem sido estendida para
comportar outras variáveis, como fatores de desagregação familiar e
urbanização. Sob esse ponto de vista, a organização social e a desorganização
social constituiriam laços inextricáveis de redes sistêmicas para facilitar ou
inibir o controle social [Sampson (1997)]. Desse modo, a criminalidade
emergiria como consequência de efeitos indesejáveis na organização dessas
relações sociais em nível comunitário e das vizinhanças [Entorf e Spengler
(2002)] como, por exemplo, redes de amizades esparsas, grupos de
adolescentes sem supervisão ou orientação, ou baixa participação social.

1.4 Teoria da Associação Diferencial (Teoria do Aprendizado


Social)

Essa abordagem, inaugurada por Sutherland (1942), centra seu foco de


análise no processo pelo qual as pessoas, principalmente os jovens,
determinavam seus comportamentos a partir de suas experiências pessoais com
relação a situações de conflito. Essas determinações de comportamentos
favoráveis ou desfavoráveis ao crime seriam apreendidas a partir das
interações pessoais, com base no processo de comunicação. Nesse sentido, a
família, o grupo de amizades e a comunidade ocupam papel central. Contudo,
os efeitos decorrentes da interação desses atores são indiretos, cujas influências
seriam captadas pela variável latente “determinação favorável ao crime
(DEF)”, uma vez que essa variável não pode ser mensurada diretamente e, sim,
resulta da conjunção de uma série de variáveis. Dentre as variáveis mensuradas
normalmente utilizadas para captar essa variável latente DEF estão: grau de
supervisão familiar; intensidade de coesão nos grupos de amizades; existência
de amigos que foram, em algum momento, pegos pela polícia; percepção dos
jovens acerca de outros jovens na vizinhança que se envolvem em problemas;
e se o jovem mora com os dois pais.

1.5 Teoria do Controle Social

Ao contrário das demais teorias que procuram explicar o que leva as


pessoas a cometerem crimes, a presente abordagem procura entender por que
alguns se abstêm de cometer crimes. Nesse sentido, a questão aqui é explicar
os elementos que levam o cidadão a ser dissuadido do caminho criminoso. O
enfoque utilizado — ao contrário da teoria do homem econômico, por

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exemplo, de que tais elementos dissuasórios seriam consubstanciados pela


probabilidade de o criminoso ser descoberto cometendo o delito e o custo
associado à respectiva punição — baseia-se inteiramente na ideia do controle
social a partir do sentido de ligação que a pessoa tem com a sociedade ou, dito
de outra forma, a partir da crença (e concordância) dessa pessoa no trato ou
acordo social. Desse modo, quanto maior o envolvimento do cidadão no
sistema social, quanto maiores forem os seus elos com a sociedade e maiores
os graus de concordância com os valores e normas vigentes, menores seriam as
chances de esse ator tornar-se um criminoso.

1.6 Teoria do Autocontrole

Segundo Gottfredson e Hirschi (1990), que desenvolveram a teoria do


autocontrole, o que diferenciaria os indivíduos que têm comportamentos
desviantes ou desenvolvem vícios (jogos de azar, promiscuidade sexual, fumo,
droga-adicção, alcoolismo etc.) de outros indivíduos é o fato de os primeiros
não terem desenvolvido mecanismos psicológicos de autocontrole na fase entre
os dois ou três anos até a fase pré-adolescente. Tal “anormalidade” decorreria
de deformações no processo de socialização da criança, motivadas pela
ineficácia na conduta educacional ministrada pelos pais, que falharam em não
impor e estabelecer limites à criança, seja por consequência da falta de uma
supervisão mais próxima, ou seja por negligenciar eventuais faltas de
comportamento da criança, não impondo relativas punições à mesma,
endossando assim o seu comportamento egoísta. Como resultante da má
formação desse mecanismo de autocontrole, o indivíduo, a partir da
adolescência, passa a exibir uma persistente tendência de agir baseado
exclusivamente em seus próprios interesses, com vistas à obtenção do prazer
no curto prazo, sem considerar, contudo, eventuais consequências de longo
prazo e os impactos de suas ações sobre terceiros.

1.7 Teoria da Anomia

Uma das mais tradicionais explicações de cunho sociológico acerca da


criminalidade é a teoria da anomia, de Merton (1938). Segundo essa
abordagem, a motivação para a delinquência decorreria da impossibilidade de
o indivíduo atingir metas desejadas por ele, como sucesso econômico. Cohen
(1955) estendeu a abordagem para compreender a questão do status social. Um
ponto importante de como operacionalizar essa teoria, ou de como elaborar
variáveis ou questões que traduzam o sentido da mesma, fez com que
surgissem três perspectivas distintas quanto à sua aferição, que veem a questão
a partir de: a) diferenças das aspirações individuais e os meios econômicos
disponíveis, ou expectativa de realização; b) oportunidades bloqueadas
[Agnew (1987) e Burton e Cullen (1992)]; e c) privação relativa [Burton et alii
(1994)]. Apesar de as diferenças entre as três perspectivas serem bastante sutis,
a escolha da alternativa implica diretamente as questões específicas
relacionadas para o questionário de entrevista. Sob a primeira perspectiva, o

Atualizado em 26 set-22 Teorias e análise CBFPM MP 11–4


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processo de anomia ou tensão decorreria da diferença entre as aspirações


individuais e as suas reais expectativas. Nesse caso, um exemplo de questão
que poderia flagrar a existência desse fenômeno seria: “eu gostaria de possuir
um carro, uma casa, um tênis da moda etc. Mas eu acho que não conseguirei
dinheiro ou condições para satisfazer tais aspirações”. Sob a segunda ótica, o
foco de divergências com as normas instituídas passa a existir a partir do
momento em que o indivíduo percebe que o seu insucesso decorre de
condições externas à sua vontade, o que suportaria afirmações do tipo: “toda
vez que tento ir pra frente, algo me segura” ou “eu não tenho sucesso, pois não
participo de uma rede de conexões”. Já a privação relativa coloca ênfase na
distância entre o ideal de sucesso da sociedade (vivido por alguns) e aquela
situação específica em que o indivíduo se encontra. Sob esse raciocínio, um
exemplo seria: “sinto-me irritado com o fato de alguns terem muito, ao passo
que não possuo o suficiente para viver adequadamente”.

1.8 Teoria Interacional

Segundo Thornberry (1996), a proposição do modelo interacional é a


de que o comportamento desviante ocorre em um processo interacional
dinâmico. Desse modo, mais do que perceber a delinquência como uma
consequência de um conjunto de fatores e processos sociais, a perspectiva
interacional procura entendê-la simultaneamente como causa e consequência
de uma variedade de relações recíprocas desenvolvidas ao longo do tempo.
Entorf e Spengler (2002) destacam que há dois elementos importantes
suportando essa abordagem: a perspectiva evolucionária e os efeitos
recíprocos. A perspectiva evolucionária consubstancia-se pela presunção de
que o crime não é uma constante na vida do indivíduo, mas é um processo em
que a pessoa inicia sua atividade criminosa em torno dos 12 ou 13 anos
(iniciação), aumenta o seu envolvimento em tais atividades por volta dos 16 ou
17 anos (desenvolvimento), finalizando esse processo até os 30 anos. Os
efeitos recíprocos dizem respeito às virtuais endogeneidades das variáveis
explicativas entre si e delas com relação ao que se deseja explicar. Os modelos
interacionais normalmente são inspirados a partir das teorias da associação
diferencial e do controle social, que sugerem as variáveis a serem utilizadas.
Normalmente algumas delas são: ligação com os pais, notas, envolvimento
escolar, grupos de amizades, punição paternal para desvios, ligação com
grupos delinqüentes etc.

1.9 Teoria Econômica da Escolha Racional

Gary Becker (1968) com o artigo seminal Crime and Punishment: An


Economic Approach impôs um marco à abordagem acerca dos determinantes
da criminalidade, ao desenvolver um modelo formal em que o ato criminoso
decorreria de uma avaliação racional em torno dos benefícios e custos
esperados aí envolvidos, comparados aos resultados da alocação do seu tempo
no mercado de trabalho legal. Basicamente, a decisão de cometer ou não o

Atualizado em 26 set-22 Teorias e análise CBFPM MP 11–5


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crime resultaria de um processo de maximização de utilidade esperada, em que


o indivíduo confrontaria, de um lado, os potenciais ganhos resultante da ação
criminosa, o valor da punição e as probabilidades de detenção e
aprisionamento associadas e, de outro, o custo de oportunidade de cometer
crime, traduzido pelo salário alternativo no mercado de trabalho. Vários artigos
que se seguiram, dentro da abordagem da escolha racional, basicamente,
trabalharam com inovações em torno da ideia já estabelecida por Becker em
que dois vetores de variáveis estariam condicionando o comportamento do
potencial delinquente. De um lado, os fatores positivos (que levariam o
indivíduo a escolher o mercado legal), como o salário, a dotação de recursos do
indivíduo etc. E de outro, os fatores negativos, ou dissuasórios (deterrence),
como o aparelho policial e a punição.

1. Comportamento Psicopatológico

2.1 Personalidade:
É o conjunto total de características próprias do indivíduo, que
integrada, estabelecem a forma pela qual ele reage costumeiramente ao meio.
Define a pessoa como entidade dotada de propriedades que a distinguem
individualmente e a configuram física, psíquica, social e culturalmente. A
palavra personalidade deriva do latim persona e a sua raiz pessoa, é usada
ordinariamente no sentido empírico de manifestação da pessoa. Significa a
própria pessoa, tal como se revela nas suas manifestações empíricas. Todavia,
persona passou a significar mais tarde, o ator colocado atrás da máscara, isto é,
o seu verdadeiro conjunto de qualidades íntimas e pessoais. Há diversas
concepções e teorias da personalidade às quais correspondem várias
definições. Segundo Allport na década de 30, tinham-se identificado mais de
50 definições de personalidade, definindo-a como “a organização dinâmica no
indivíduo, dos sistemas psicofísicos que determinam o seu comportamento e o
seu pensamento característico”.
Apesar da diversificação dos conceitos, a personalidade representa
essencialmente a noção de unidade integrativa da pessoa, com todas as
características diferenciais permanentes, (inteligência, caráter, temperamento,
constituição, entre outras) e as suas modalidades únicas de comportamento.
Assim, personalidade não é mais do que a organização dinâmica dos
aspectos cognitivos, afetivos, conativos, fisiológicos e morfológicos do
indivíduo. Trata-se de uma ideia dinâmica de personalidade em constante
mutação, dinâmica essa que depende da interação entre todos aqueles aspectos.
Eysenck definiu personalidade como “a organização mais ou menos estável e
persistente do caráter, temperamento, intelecto e físico do indivíduo, que
permite o seu ajustamento único ao meio”.

2.2 Teoria Psicanalítica:

“A Psicanálise é uma Teoria criada pelo Dr. Sigmund Freud, no final


do século XIX, que traz a humanidade uma nova visão do homem”.

Atualizado em 26 set-22 Teorias e análise CBFPM MP 11–6


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Sigmund Freud (Viena,1856 – Londres, 1939), médico neurologista,


austríaco e fundador da psicanálise. Nascido em Freiberg, na Moravia (ou
Pribor, na República Tcheca), em 6 de maio de 1856.
Baseado na pesquisa e prática clínica, Freud alicerçou as bases dessa
Teoria em duas grandes Tópicas, das quais pela Primeira, a chamada
Topográfica – foram construídos os conceitos de Consciente, Pré-Consciente e
Inconsciente, já que pela Segunda Tópica, a chamada Estrutural – foi definido
a Estrutura do Aparelho psíquico – Id, Ego e Seperego, bem como
identificados os Mecanismos de Defesa.

2.3 Aparelho Psíquico

Freud propôs a teoria de que as neuroses surgiriam de um distúrbio na


função e na respectiva descarga dos instintos sexuais, resultante de conflitos
internos entre estes instintos e o restante da personalidade do indivíduo.
Considerou os instintos sexuais infantis, assim como as recordações, como
integrantes de uma área da função denominada Sistema Inconsciente, enquanto
todas as outras funções mentais integrariam os instintos do ego, ocorrendo nos
sistemas Pré Consciente e Consciente.

2.4 Teorias do funcionamento do aparelho psíquico

Teoria topográfica - CONSCIENTE, PRÉ-CONSCIENTE E


INCONSCIENTE

Consciente: É definido como aspectos da função mental que, no


momento em que são observados, estão dentro da consciência do indivíduo, o
que inclui grande variedade de pensamentos, sensações e sentimentos, mas o
importante é o indivíduo deles ter conhecimento e neles focalizar parte da sua
atenção. Constitui tudo a quilo que estamos cientes num determinado
momento.

Pré-Consciente: está relacionada àqueles processos mentais que estão,


num determinado momento, dentro do conhecimento consciente do indivíduo,
mas a ele podem ser trazidos com o mínimo gasto de energia psíquica.
Constituem-se das memórias que podem se tornar acessíveis a qualquer
momento.

Inconsciente: É definido por todas as funções mentais que não fazem


parte da percepção consciente do indivíduo, exigindo grande quantidade de
energia psíquica para serem trazidos à consciência.

Teoria Estrutural - ID, EGO E SUPEREGO


Concebeu uma mente mais dinâmica, e não estática como a topográfica
anterior, e considerou três instâncias psíquicas: Id, Ego e Superego.
O aparelho psíquico é dividido em três grandes grupos funcionais: id,

Atualizado em 26 set-22 Teorias e análise CBFPM MP 11–7


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ego e superego.
O id é a porção do aparelho cuja função é dar à mente uma
representação psíquica para as enérgicas forças instintivas originadas da
constituição biológica do organismo. A palavra “instinto” tem sido fonte de
muita confusão portanto na teoria psicanalítica tem sido usada com significado
diferente daquele da teoria biológica em geral. Por meio de mecanismos ainda
desconhecidos, algumas dessas forças biológicas adquirem, eventualmente,
uma representação psíquica, motivo pelo qual são conhecidas, na teoria
psicanalítica, como impulsos ou pulsões).
O id é, na sua totalidade inconsciente e suas funções estão organizadas
de acordo com o princípio do prazer e do processo primário. O principio do
prazer envolve o conceito de que os impulsos procuram satisfação direta e
imediata, não obstante os outros fatores ou forças que influenciem a situação.
O processo primário caracteriza o modo de pensar peculiar dos
primeiros processos de pensamento da infância.
O ego, por sua vez, é definido como aquele grupo de processos mentais
cuja função é perceber e reconhecer as variadas forças que influenciam o
organismo, tanto do ambiente interno quanto do externo, sintetizando-as e
integrando-as; e executar as funções e atividades necessárias para manter um
estado de adaptação interna e externa. Esse grupo de funções implica
percepção memória, pensamento, inteligência, funções motoras, juízo e
valoração da realidade. Implica, também, os esforços que faz o organismo para
alterar o meio ambiente, interno ou externo ou para adaptar-se a qualquer
deles. O ego opera de acordo como princípio da realidade, em oposição ao
princípio do prazer, do id. O princípio de realidade implica a valoração da
situação total, inclusive de todas as forças que influenciam o indivíduo, com
uma seleção final ou julgamento, para a escolha da resposta fundamentada no
benefício a longo prazo e no que for melhor para o organismo todo.
O superego é aquela parte do aparelho, cuja função é julgar
criticamente as outras funções mentais, em termos de um padrão moral de
certo e errado, bom e mau, recompensa e castigo. O superego é, em parte
consciente e pré-consciente, correspondente ao que se costuma chamar de
“consciência moral”. Mas é também inconsciente, relacionando-se com
considerações de punição e recompensa, as mais primitivas e arcaicas.
A formação do superego envolve a interiorização em vários graus, das
atitudes dos modelos paternos sobre conceitos de certo e errado, punição e
recompensa.
Esses conceitos são experimentados na criança desde a mais tenra idade
e são influenciados, principalmente pelas tentativas que a criança faz para
identificarse com seus pais na resolução do Complexo de Édipo. Essas
primeiras imagens paternas incorporadas, que vão formar o núcleo da função
do superego inconsciente não refletem, necessariamente, as atitudes e modelos
dos pais como realmente se apresentam. São, isto sim, interiorizações destas
atitudes, porém, da maneira como a criança as percebe, antecipa e interpreta. A
criança tenderá, também, a projetar em seus pais os próprios impulsos hostis e

Atualizado em 26 set-22 Teorias e análise CBFPM MP 11–8


CBFPM 2022/2023 – Teorias e análise NOTAS DE AULA

agressivo, e então, antecipará na mesma forma, a reação destes. Dessa maneira,


as ameaças e exigências do superego implicam as distorções e projeções da
criança em relação aos pais e suas atitudes, no momento em que acontece tal
identificação e incorporação.
As funções do superego consciente e pré-consciente podem sofrer
contínuas modificações, já que são influenciadas por relacionamentos e
identificações com outros que não os pais, principalmente com a “turma” da
adolescência. Contudo, as imagens paternas infantis que foram incorporadas às
funções do superego, essas permanecem imutáveis, já que não têm acesso à
informação consciente (Conceito extraído do Livro “Psicoterapia – uma
Abordagem Dinâmica – Paul Dewald).

2.5 Pulsões (ou impulsos)


Representam um ímpeto energético e motor que faz tender o organismo
para um fim. Podemos distinguir três momentos no desenvolvimento do
processo pulsional: (1) a fonte é um estado de excitação no interior do corpo;
(2) o fim é suprimir essa excitação; (3) o objeto é o instrumento por meio do
qual se obtém satisfação.
A pulsão é, portanto, um conceito-limite entre o biológico e o mental.
Sigmund Freud observou que haviam pulsões de vida e pulsões de
morte.
As pulsões de vida (eros) tendem a ligar, a manter a coesão entre as
partes da substância viva. Buscam a conservação de unidades vitais mais
englobantes.
As pulsões de morte (thanatos) representam a tendência fundamental
de todo ser vivo para retornar ao estado anorgânico.
As duas fusionam-se no funcionamento do sujeito, sendo que todas as
condutas são oposições ou combinações dos dois grupos (Lagache, A
Psicanálise; Laplanche e Pontalis, Vocabulário de Psicanálise).

2.6 Mecanismos de defesa

A verdadeira essência da vida é a adaptação. Ao curso da evolução, as


espécies desenvolveram determinados mecanismos, no sentido de uma
adaptação às condições vitais; o homem desenvolveu mecanismos de
adaptação somáticos e psíquicos, que procuram protegê-lo de experiências e
situações que seriam perturbadoras e angustiantes.
Assim, no decorrer do longo período de desenvolvimento, a
personalidade adquire várias técnicas psicológicas através das quais tenta
defender-se, estabelece compromissos entre impulsos conflitantes e alivia
tensões internas. (Kolb, Psiquiatria Clínica).
Os mecanismos mentais de defesa do ego podem classificar-se em: (1)
defesa bem sucedida - aquelas que, proporcionando certa forma de
gratificação, eliminam os impulsos indesejáveis do id, e (2) defesa fracassada,
por necessitarem repetição ou perpetuação a fim de manter repelido o impulso
proibido, desgastando, assim, as energias do ego voltado quase que

Atualizado em 26 set-22 Teorias e análise CBFPM MP 11–9


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exclusivamente contra tais impulsos – constituindo-se nas defesas patológicas.


Todos os mecanismos de defesa são encontrados em atividade na
pessoa, sem que isso signifique perturbação mental, pois em grau moderado,
aparecem nos indivíduos normais e adaptados.
Dentre as finalidades dos mecanismos de defesa destacam-se: (1)
proteger a personalidade do sujeito; (2) satisfazer suas necessidades
emocionais; (3) estabelecer e manter harmonia entre suas tendências opostas;
(4) reduzir a tensão e angústia que surgem dos impulsos inaceitáveis que
devem ser reprimidos; (5) modificar a realidade para fazê-la mais tolerante.
A seguir, descrevemos sucintamente, os principais mecanismos de
defesa do ego utilizados pelo sujeito:
Negação: é a tendência de negar as sensações dolorosas. Nas crianças
pequenas é muito comum a negação de realidades desagradáveis. Esta negação
realiza desejos, bem como exprime a efetividade do princípio do prazer.
Melanie Klein refere-se à negação dando um exemplo bem típico de
seu uso num adulto: a morte de uma pessoa amada. Neste caso podem existir
dois aspectos da negação. Um deles é a negação da perda em si e o outro é a
negação de que o objeto (pessoa) era amado.
Regressão: é um movimento retroativo no qual o desenvolvimento
reflui a estágios onde as frustrações foram superadas com maior êxito, ou seja,
sempre que alguém se depara com uma frustração, há tendência a ter saudades
de épocas anteriores da vida em que as experiências eram mais prazerosas.
Melanie Klein refere-se à regressão como defesa, afirmando que para
que isto ocorra, é importante a fixação existente. Ela cita o exemplo de um
garoto que regredia a um estágio oral como defesa contra as novas ansiedades
que surgiam na posição genital.
Dissociação: é um mecanismo que leva o ego a dividir-se em uma parte
consciente que sabe da realidade e uma parte inconsciente que a nega.
Projeção: consiste em projetar seus próprios impulsos, seus conflitos
internos, ou seja, em considerá-los como provenientes de outrem e, mais
generalizadamente, do mundo externo (Dicionário Aurélio) Constitui, sob
muitos aspectos, uma forma de deslocamento e um meio de defesa que, em
grau limitado, pode ser observado diariamente e que é visto, em grau psicótico,
na paranóia e em outros tipos de psicose. Atuando como uma defesa contra a
angústia, a projeção se dirige para fora e atribui a outras pessoas aqueles traços
de caráter, atitudes, objeções a que se quer negar.
Identificação: é a moldagem inconsciente que o sujeito faz de si
mesmo seguindo o modelo de outro ou obedecendo a sua sensação de uma
espécie de unidade com uma segunda pessoa.
Somatização: mecanismo que provoca sensação de dores e sintomas
físicos provenientes de distúrbios psíquicos (Kaplan).
Intelectualização: processo pelo qual o sujeito procura dar uma
formulação discursiva aos seus conflitos e às suas emoções, de modo a
dominá-los.
Há uma tentativa para manter o controle dos processos pulsionais

Atualizado em 26 set-22 Teorias e análise CBFPM MP 11–10


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mediante a sua vinculação a ideias que podem ser manejadas na consciência.


Racionalização: processo no qual o indivíduo procura apresentar uma
explicação coerente do ponto de vista moral, para uma atitude, uma ação, uma
ideia, um sentimento, etc., de cujos motivos verdadeiros não se apercebe; fala-
se especialmente, da racionalização de um sintoma, de uma compulsão
defensiva, de uma formação reativa.
Não implica um evitar sistemático dos afetos, mas atribui a estas
motivações mais plausíveis do que verdadeiras, dando-lhe uma justificação de
ordem racional e ideal.
Idealização: defesa na qual o próprio self ou objeto são revestidos de
características grandiosas. As qualidades e o valor do objeto são levados à
perfeição. Para Klein, a idealização do objeto seria essencialmente uma defesa
contra as pulsões destrutivas. Exemplo: No luto, o objeto morto é revestido de
características todas boas, como se não tivesse nenhum defeito.
Sublimação: é um processo que foi postulado por Freud para explicar
atividades do homem sem qualquer relação aparente com a sexualidade, e
todavia, encontrariam o seu elemento propulsor na força da pulsão sexual.
Freud definiu como atividades de sublimação principalmente a atividade
artística e a investigação intelectual (Laplanche e Pontalis). Para a sublimação
ser possível, se deve inibir a expressão direta das pulsões, não só as de vida
como as de morte (Grimberg).
Como exemplo, pode-se citar qualquer trabalho, só que em atividades
alimentadas por um desejo que não visa, de maneira manifesta, um alvo sexual.

Atualizado em 26 set-22 Teorias e análise CBFPM MP 11–11

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