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MAPAS MENTAIS

ESCOLAS SOCIOLÓGICAS DO CRIME


Para estudar o fenômeno criminal é necessário o estudo dos
fatores sociais, dos criminosos e também como a sociedade
reage ao crime. Isso mostra que o crime não é um fenômeno
individual e isolado; este resulta sempre de uma construção
social ou de uma reação social a um determinado
comportamento. As teorias que estudaram o fenômeno
criminal em conexão com os fenômenos normais e ordinários da
vida cotidiana foram as teorias de consenso e de conflito.
• Consenso: defendem que a ordem na sociedade é encontrada
quando há um perfeito funcionamento das instituições da
sociedade, de forma que os indivíduos tenham objetivos
comuns entre eles.  Nas palavras de Shecaira (p. 64):
• Para a perspectiva das teorias consensuais, a finalidade da
sociedade é atingida quando há um perfeito funcionamento de
suas instituições, de forma que os indivíduos compartilhem os
objetivos comuns a todos os cidadãos, aceitando as regras
vigentes e compartilhando as regras sociais dominantes
• Conflito: o crime representa uma tentativa de subversão da ordem
jurídica imposta pelas classes dominantes aos grupos que, embora
mais numerosos, não detém o poder de promover as alterações
sociais que julgam necessárias pelos meios convencionais. Segundo
Shecaira (p. 134):
• Para a teoria do conflito, no entanto, a coesão e a ordem na
sociedade são fundadas na força e na coerção, na dominação por
alguns e sujeição de outros; ignora-se a existência de acordos em
torno de valores de que depende o próprio estabelecimento da força.
A) Teorias de Consenso:
a) Teoria da Anomia (ou estrutural – funcionalista):
• Conhecida também como teoria de Subcultura delinquente (Sampaio). Teoria da qual o
sociólogo Emile Durkhein é seu maior expoente, defende a:
• a) normalidade do delito; e
• b) a funcionalidade do crime,
• Ou seja, em toda a sociedade haverá condutas desviadas em face das condutas regradas,
sendo o delito a outra face da moeda. O delito deriva não de anomalias do individuo, mas sim
de uma situação social onde falta coesão e ordem no tocante às normas e valores daquele
local. Neste ambiente, o crime encontra terreno fértil para atuar.
• Durkhein emprega o termo anomia para mostrar que algo na sociedade não funciona de
forma harmônica. Algo desse corpo está funcionando de forma patológica, ou seja,
anomicamente. A anomia seria então uma crise moral da sociedade, uma patologia gerada
por regras falhas de conduta, tendo em vista que uma sociedade sem regras claras, sem
valores e sem limites é uma sociedade doente.
A) Teorias de Consenso:
a) Teoria da Anomia (ou estrutural – funcionalista):
• Na tentativa de curar a sociedade da anomia, Durkhein escreve a obra Da
divisão do trabalho social, onde ele descreve a necessidade de estabelecer
uma solidariedade orgânica entre os membros da sociedade, ou seja, a
solução estaria, seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada
órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, cada membro
da sociedade exerceria uma função na divisão do trabalho, obrigando o
individuo através de um sistema de direitos e deveres, a sentir a necessidade
de se manter coeso e solidário aos outros. O importante, segundo Durkhein,
é que o individuo se sinta parte de um todo, que realmente precise da
sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica.
A) Teorias de Consenso:
a) Teoria da Anomia (ou estrutural – funcionalista):
• Outro importante expoente foi Robert King Merton o qual explica que:
• O comportamento desviado pode ser considerado, no plano sociológico, um
sintoma de dissociação entre as aspirações socioculturais e os meios
desenvolvidos para alcançar tais aspirações. Assim, o fracasso no atingimento das
aspirações ou metas culturais em razão da impropriedade dos meios
institucionalizados pode levar à anomia, isto é, a manifestações comportamentais
em que as normas sociais são ignoradas ou contornadas. (SAMPAIO, 62)
• Cita-se como exemplo o recente caso do Haiti e a dificuldade de controle da
ordem pública que a força de paz da ONU enfrenta naquele Estado. O colapso do
governo anterior gerou uma situação de anomia nos país (ex.: saques, estupros e
violações de direitos humanos, como torturas e aumento dos homicídios).
A) Teorias de Consenso:
a) Teoria da Anomia (ou estrutural – funcionalista):
• Teoria da Subcultura permite que a conduta delitiva se origine em razão do
caráter diversificado da estrutura social, que é formada por variados grupos com interesses e
valores diferenciados e até mesmo discordantes. Assim, esses grupos se organizam com seus
próprios valores e normas de conduta aceitas com corretas em seu meio, criando-se aquilo
que se chama de subcultura.  Com isso, surge a necessidade de que cada grupo busque fazer
valer os seus interesses frente aos oficialmente impostos e também frente aos interesses dos
outros grupos sociais com que rivalizam.
• Nas palavras de Sampaio (p.63):
• A teoria da subcultura delinquente é tida como teoria de consenso, criada pelo
sociólogo Albert Cohen (Delinquent boys, 1955). Três ideias básicas sustentam a subcultura:
1) o caráter pluralista e atomizado da ordem social; 2) a cobertura normativa da conduta
desviada; 3) as semelhanças estruturais, na gênese, dos comportamentos regulares e
irregulares.
• Essa teoria é contrária à noção de uma ordem social, ofertada pela
criminologia tradicional. Identificam-se como exemplos as gangues de
jovens delinquentes, em que o garoto passa a aceitar os valores daquele
grupo, admitindo-os para si mesmo, mais que os valores sociais
dominantes.
•  A partir deste contexto surge, então, o crime como expressão dos
interesses e valores desses diversos grupos. Assim sendo, um grupo de
uma classe mais baixa rejeita os valores do grupo dominante porque não
integram o seu mundo, pois os valores da classe média divergem dos
valores da classe menos favorecida financeiramente. As classes mais
baixas procuram então substituir normas e valores da sociedade com
uma alternativa. Sendo assim, o crime passa a ser sinônimo de status, de
protesto ou ainda como uma forma de “aparecer”.
b) Escola de Chicago:
• É considerada uma teoria sociológica explicativa do crime, com o surgimento
da escola de Chicago, que possui como expoente Robert Park e Ernest
Burguess, a criminologia abandonou a figura do delinquente nato e passou
a valorar a influencia do meio ambiente nas ações criminosas, para descobrir
estes dados utilizava inquéritos sociais, centrando seus estudos nos
problemas sociais, a partir da imersão do cientista social no meio urbano e na
vida das comunidades, tendo a pesquisa de campo como método privilegiado
para a coleta de dados, fundamentando assim uma de suas principais
características, que é empirismo e o emprego da observação direta em todas
as investigações, ou seja, caracterizou-se pelo seu empirismo e sua finalidade
pragmática (CALHAU, p. 66).  As teorias que compõe a Escola de Chicago são:
b) Escola de Chicago:
• b.1) Teoria Ecológica:
•             De acordo com Nestor Sampaio (p.57): “Há dois conceitos
básicos para que se possa entender a ecologia criminal e seu efeito
criminógeno: a ideia de “desorganização social” e a identificação de
“áreas de criminalidade” (que seguem uma gradient tendency)”.
•             Tem sua atenção voltada para o impacto criminológico em
face do desenvolvimento urbano. De acordo com essa teoria,
a cidade é que produz a delinquência, pois há um paralelismo
entre o crescimento da cidade e o aumento da criminalidade.
b) Escola de Chicago:
• A teoria ecológica fundamenta-se na ideia da:
• a) desorganização do desenvolvimento;
• b) falta de controle social gerados pelo desenvolvimento urbano;
• c) deterioração dos grupos primários, como família, escola, etc., resultando em relações sociais
superficiais, alta mobilidade, crise nos valores tradicionais, superpopulação e descontrole social.
•             Nesse sentido, o crime nada mais é do que um subproduto da desorganização da grande
cidade.  Segundo a teoria ecológica, somente uma reestruturação urbanística e arquitetônica será
capaz de influir na diminuição e prevenção da criminalidade.
•             Outra importante contribuição desta escola foi a Teoria das Zonas Concêntricas (Ernest
Burguess), que baseava a cidade de Chicago em 5 zonas concêntricas, que se expandem a partir do
centro. A conclusão deste estudo foi que quanto mais próxima fosse a localização da zona em relação
ao centro da cidade, maior a taxa de criminalidade. Além disso, constatou que taxas mais altas
indicavam os locais nos quais havia maior deterioração do espaço físico e população em declínio.
• b.2) Teoria Espacial:
•             A analise da área social explicariam o delito, ou seja, o nível social, a urbanização e a
segregação estariam diretamente ligados ao crime. Essa teoria busca explicar que algumas
arquiteturas propiciam o crime, como por exemplo, a construção de uma casa de vidro em
pleno centro urbano. A Obra Defensible Space, de Oscar Newman, um dos defensores desta
teoria, defende um modelo residencial que crie obstáculos à pratica do delito. Para o
arquiteto, o desenho arquitetônico de uma casa pode favorecer ao crime, quando essa
arquitetura torna fácil o acesso a estranhos ou quando existe visibilidade de fora para dentro.
Além disso, Oscar Newman defende a construção de áreas publicas menores, para que cada
morador tenha atitudes de dono do local. Segundo Newman, as pessoas só preservam e
cuidam dos espaços que são percebidos como seus.
•             Para finalizar, a Escola de Chicago atribui sobrepeso à desorganização social, elevando-
a à categoria de fator criminógeno. (VIANA, p. 96)
c) Teoria da Associação Criminal (Diferencial):
• Teoria criada pelo sociólogo Edwin H.Sutherland, inspirada em
Gabriel Tarde,  verificou que o crime não pode ser definido
apenas como disfunção ou inadaptação das pessoas de classes
menos favorecidas. Para o sociólogo, o comportamento
criminal é aprendido e não fruto de carga hereditária. Assim
sendo, os atos delituosos, por constituírem atos da vida
humana, são normalmente aprendidos pelos indivíduos como
os atos não delituosos, em função das diversas experiências
sociais que ocorrem ao longo da vida.
• Sob esse aspecto, afirma-se que as reações do individuo são condicionadas ou influenciadas
constantemente pelas reações daqueles que integram seu meio social. Em outras
palavras, observando as reações das pessoas que estão à sua volta, o individuo passa a agir
de igual maneira. Assim, pode afirmar que o crime não é produto de uma anormalidade
qualquer, seja física ou psíquica, mas sim de um processo natural de aprendizagem baseado
no contexto social.
•  Assim, sob a égide desta teoria, em 1939 cunha-se a expressão Crimes do colarinho
branco (White collar crimes), Na definição de Edwin Sutherland: “a violação da lei penal por
pessoas de elevado padrão socioeconômico, no exercício abusivo de uma profissão licita”. É
a delinquência econômica, na expressão de Manzanera Rodrigues. É o crime daqueles
indivíduos de alto ou significativo status socioeconómico, que tranquilamente ignoram as
leis para aumentar os lucros de suas atividades ocupacionais, principalmente aquelas
relativas.
• No white colar crime, também chamado de “delinquência
dourada”, a violência praticamente inexiste ou é rara, pois que
seus promovedores atingem os propósitos colimados através
da astúcia e da fraude, paramentados, que estão, com folgadas
vestes aparentemente legais. Respaldado fundamentalmente
em seu poderio económico, o criminoso de colarinho branco
desfruta de ampla impunidade, de respeitabilidade social e até
de intangibilidade! (FERNANDES, p. 440-441).
• Valter e Newton Fernandes (p.442) apresentam interessante
comparativo entre o crime de colarinho branco e o crime
organizado. E afirma que aquele nem sempre é variante deste.
• Na esfera criminológica, em perfunctório exame, pode assomar que o “crime do
colarinho branco” é uma variante do chamado “crime organizado”. Não é assim,
todavia, e a apreciação dogmática do white collar crime torna transparente que se
trata de criminalidade essencialmente ligada ao controle da economia em um
sistema capitalista. Por isso a fragilidade da fiscalização estatal quando às voltas
com tal prática delituosa. Demais disso, nos países pobres, o rígido enfrentamento
penal é direcionado hegemonicamente aos desprotegidos do contexto. Tal
deliberação praticamente nunca investe contra a criminalidade das poderosas
corporações industriais cuja lesividade atentatória aos interesses coletivos
permanece incólume e até complacentemente encoberta pelo aparelho repressivo
do Estado, robustecendo, assim, as denominadas “cifras negras” da delinquência.
Trata-se da impunidade oficial com que, nos países subdesenvolvidos e sem justiça
democrática, se galardoa os poderosos, nada importando que eles cometam
crimes altamente prejudiciais ao desenvolvimento socioeconômico do país!
d) A teoria da subcultura delinquente
• A teoria da subcultura delinquente é uma das escolas sociológicas do
consenso. Tem como seus autores Albert K. Cohen (1955): “Delinquent
boys: the culture of the gang” e Willian F. Whyte (1953): “Street Corner
Society. The Social structure of an Italian slum”.
• Período histórico
• Depois da 2° Guerra Mundial os Estados Unidos cresceram muitos
economicamente, e a população estava tomada por um sentimento de
confiança na democracia e nas instituições. A figura paterna era central
nos núcleos familiares, representava a autoridade dentro do lar e era
responsável por estabelecer a ordem.
• Mas, no ano 1950, os jovens, especialmente negros, perceberam que não
conseguiriam alcançar o ideal americano. Perceberam que se tornar rico
era uma realidade para poucos. A desilusão tomou conta dos jovens que
passaram a contestar todo o modelo, inclusive a figura paterna.
• Esse período marca a falência do american dream (O Sonho Americano,
é um ethos nacional dos Estados Unidos, uma variedade de ideais de
liberdade inclui a chance para o sucesso e prosperidade, maior
mobilidades social para as famílias e crianças, alcançada através de
trabalho duro em uma sociedade sem obstáculos).
• Os jovens que tinham condições de alcançar o sonho americano de
riqueza e os que não tinham eram cobrados da mesma maneira. O
choque entre a cultura e a estrutura social, que não fornecia as
condições sociais de acesso aos bens sociais para todos, cria uma espécie
de desilusão com relação ao sistema de vida americano.
• A teoria da subcultura delinquente
• Assim, a formação de subculturas criminais representa a reação necessária
de algumas minorias altamente desfavorecidas diante da exigência de
sobreviver, de orientar-se dentro de uma estrutura social, apesar das
limitadíssimas possibilidades legítimas de atuar.
• Sendo assim, a formação de subculturas criminais passou a ser uma reação
de alguns grupos minoritários que não podiam alcançar o sonho americano
de riqueza tão propagandeado. As gangues de jovens formam-se como
reação à sensação de frustração por conta da impossibilidade de alcançar as
metas da sociedade branca, protestante e anglo-saxã (conhecida pela sigla
em inglês W.A.S.P).
• Os valores são adotados por sua forma invertida, como forma de contestação
ao ideal de sociedade dominante. Sendo assim, essas gangues cultuam a
destruição porque os jovens de classe média cultuam a propriedade.
• Definição de cultura delinquente
• A subcultura delinquente é um comportamento de transgressão que é determinado
por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou
determinam formas particulares de comportamento transgressor em situação
específica.
• Subcultura não é uma manifestação delinquencial isolada. A subcultura delinquente
tem como característica, justamente, a dimensão coletiva.
• Os crimes cometidos pelo grupo, segundo a Teoria da Subcultura Delinquente, são
cometidos em concordância com valores e as regras daquele grupo. Por isso, o crime
não é um ato isolado e sim de um grupo. As regras que fazem sentido para aquele
grupo são diferentes ou contrárias às regras que vigoram no restante da sociedade.
Estão em oposição, e isso não é por acaso, é realmente uma forma de contestação.
• A Subcultura Delinquente é associada diretamente ao comportamento de jovens que
delinquem em grupo. Esses grupos tem suas próprias normas, valores, ética e crenças
que diferem das normas, valores, ética e crença da sociedade dominante.
• Crime - As três principais características do crime para a Teoria da Subcultura
Delinquente são:
• Não utilitarismos da ação, ou seja, a ação não tem utilidade, é um ato de contestação. Se
estivermos estudando um furto, por exemplo, o objeto furtado não será usado para
comprar coisas ou será consumido. O furto não foi realizado porque o grupo queria ter
aquele bem e não podia comprá-lo, ou para vendê-lo e compra outras coisas. De acordo
com a Subcultura Delinquente, a intenção com esse furto não era o aproveitamento
material e sim a contestação do modelo de sociedade que valoriza sobremaneira o “ter”;
• Malícia da conduta, ou seja, prazer em ver o outro sofrer. É um sadismo. Se roubarem a
bolsa de uma velhinha, por exemplo, é pela graça de ver a velhinha sem rumo e não pelo
valor que tem a bolsa;
• Negativismo, ou seja, nega o valor dominante, baseia-se em outros valores. A conduta
criminosa nega a conduta dominante na sociedade, é baseada nos valores do grupo.
Como um grupo de jovens pichadores que escrevem em edifícios e monumentos da
cidade. È uma contraposição à ordem majoritária, realizam atos de contestação.
• Méritos e deméritos
• A Teoria da Subcultura Delinquente teve o grande mérito de marcar uma nova visão
sobre a criminalidade. Até então predominava nos Estados Unidos a visão ecológica do
crime, baseada na ideia da escola de Chicago.
• Essa escola demonstra que o controle dessa criminalidade, da Subcultura Delinquente,
não se pode fazer por meio dos mecanismos tradicionais de combate ao crime. A ideia
central dessa forma delituosa, da Subcultura Delinquente, tem particularidades e
diferenças com a criminalidade mais comum.
• Algumas dessa manifestação não se combatem com pura repressão, mas sim com um
processo de cooptação, integração dos grupos juvenis, envolvendo-os no mercado de
trabalho, ou por meio de uma ação de inteligência da polícia, com delegacias
especializadas (por exemplo, para prevenir crimes cometidos pelas gangs punk).
• Por outro lado, uma crítica que essa teoria recebe é que não fornece um modelo
explicativo generalizado da criminalidade, trata apenas de uma criminalidade com
características bastante específicas.

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