O texto é livre, mas deverá no mínimo tocar nos seguintes pontos:
a) o grupo concorda com as duas ou ao menos uma das
abordagens da teoria da anomia? b) de que forma essa teoria pode repercutir na prática de delitos? c) a teoria é aplicável a qualquer tipo de delito ou a algum em específico? d) a partir dessas teorias o que se poderia fazer para melhor enfrentamento do crime?
estruturar e juntar os seguintes textos:
TEXTO 1- Primeiramente, o termo “anomia” significa ausência de normas. Anomia = sem
normas. Isso é, uma situação na qual não existem regras. Émile Durkheim (fundador da sociologia) cunhou o termo anomia para designar uma situação de falta de objetivos sociais e ausência de normas e de enfraquecimento da consciência coletiva. Durkheim entende sociedade como um corpo (faz nascer o funcionalismo, uma visão da sociedade sem conflitos, em que tudo deve funcionar de acordo com os papeis socialmente atribuídos a cada indivíduo), de maneira que dentro da sociedade cada um deve identificar qual função deverá exercer. Para que isso funcione, é preciso de conceito de consciência coletiva. Cada sociedade tem uma consciência coletiva, que é o conjunto de valores, regras, modos de atuar partilhados por toda a sociedade. O crime para Durkheim é natural, tem uma função dentro da sociedade, não é anomalia por si só. Quando fala em anomia, o sociólogo se refere ao esfacelamento social, não o crime em si mesmo. O estado de anomia é o estado no qual população deixa de respeitar normas vigentes no consenso coletivo, momento em que se perde a chamada consciência coletiva e sequer há sociedade, mas tão somente um aglomerado de pessoas. Para Durkheim, o crime é socialmente útil porque é a violação da norma que garante à consciência coletiva a sua mobilidade e sua plasticidade. Exemplo: a reação social causada pelo cometimento de um homicídio deixa mais fortes os valores sociais. Todavia, a anomia acontece a partir do momento em que todo mundo viesse a praticar crimes, ocorrendo esfacelamento total da consciência coletiva. Por isso, se diz que Durkheim é o “pai” da anomia, pois foi ele quem pensou primeiramente no termo em seus aspectos sociológicos. Na perspectiva criminológica, a principal contribuição de Durkheim foi compreender o crime a partir das estruturas sociais, ou seja, compreender o fenômeno criminal como um fenômeno social cultural, olhar a questão a partir da função do crime na sociedade. Ele concluiu que o cometimento de crimes é um fenômeno normal de toda estrutura social e somente quando se ultrapassam certos limites é que o crime é um fenômeno negativo (a anomia). Todavia, foi Merton quem melhor desenvolveu essa teoria dentro da criminologia. Robert K. Merton utiliza o conceito de anomia e constrói uma teoria criminológica, trazendo as ideias de Durkheim para a criminologia. Merton entende crime como algo normal de toda a sociedade, enquanto a anomia está presente apenas se os índices de criminalidade são muito grandes. Dentro de uma sociedade capitalista, as metas culturais normalmente se relacionam com dinheiro, prestígio, bens materiais, etc. Para adquirir tais metas, há meios institucionalizados e meios não institucionais. Meios institucionais são ferramentas como por exemplo escola, trabalho, igreja, família – mas, nem todos os possuem. Nesse sentido, em um modo conformista de adaptação da sociedade a pessoa possui as metas culturais e tem os modos institucionalizados. Ou seja, são pessoas que têm condições de ter uma vida confortável dentro dos padrões que são vendidos como os aceitáveis dentro de uma sociedade capitalista. Por outro lado, nos modos não conformistas, algumas pessoas não absorvem as metas culturais e não têm os meios institucionais para alcançar as metas culturais. Nessa perspectiva, o autor desenvolve os seguintes conceitos: Ritualismo: algumas pessoas não possuem as metas culturais, mas possuem os meios institucionalizados para alcançá-las. Possuem os meios institucionalizados, mas não têm vontade de alçar metas culturais. Inovação: algumas pessoas absorvem as metas culturais, mas não absorvem os meios institucionalizados. É o crime. É a forma de adquirir formas de metas sociais de maneira não conformista, sem ser pelos meios institucionalizados. Exemplo: a pessoa que ter um tênis da moda, mas não tem dinheiro para comprar. Se não tem os meios para comprar aquele tênis que é moda, vai tentar inovar, atingir as metas culturais por meios não institucionalizado. Esses meios não aceitos socialmente, como é o caso do furto. Aqui é a principal relação com a anomia, pois tais indivíduos rompem com as normas para alcançar as metas culturais. Rebelião: a pessoa absorve parcialmente as metas culturais e parcialmente tem os meios institucionalizados, mas contesta metas culturais. São os chamados movimentos revolucionários e da contracultura. Em outras palavras, na rebelião a pessoa entende as metas culturais e discorda delas, buscando a mudança dessa própria sociedade. Evasão/retraimento: são indivíduos que rejeitam as metas culturais e não possuem os meios institucionalizados para obtê-las, mas que não atuam ativamente para a transformação da sociedade. Nesse sentido, conforme expressa a assertiva da PF 2018, para a teoria da anomia, o crime se origina da impossibilidade social do indivíduo de atingir suas metas pessoais, o que o faz negar a norma imposta (inovação) e criar suas próprias regras, conforme o seu próprio interesse.
Texto 2- A teoria da anomia, desenvolvida por Emile Durkheim e posteriormente expandida
por Robert Merton, oferece uma compreensão profunda sobre o fenômeno da desordem social e seu impacto no comportamento humano, particularmente no que diz respeito à prática de delitos. Para Durkheim, a anomia representa um estado de desintegração social no qual as normas e os valores que guiam o comportamento das pessoas se tornam frágeis ou inadequados para orientá-las na sociedade. Ele observou que períodos de transição social, como mudanças econômicas ou políticas, poderiam aumentar a incidência de anomia. Além disso, Durkheim argumentava que a anomia poderia levar a um aumento da taxa de suicídios, uma vez que as pessoas se sentiriam perdidas e desorientadas sem orientação normativa suficiente. Por sua vez, Merton expandiu a teoria da anomia, propondo que ela surge quando há uma desconexão entre os objetivos culturalmente valorizados, como o sucesso material, e os meios socialmente aceitos para alcançá-los, como educação e trabalho. Ele identificou cinco modos de adaptação à anomia: conformidade, inovação, ritualismo, retração e rebeldia. Cada um desses modos representa uma forma distinta pela qual os indivíduos respondem à pressão da anomia em busca de seus objetivos. No contexto da prática de delitos, a teoria da anomia de Merton é particularmente relevante. A inovação, por exemplo, descreve a situação em que indivíduos aceitam os objetivos culturais, mas recorrem a meios não convencionais ou ilegais para alcançá-los. Isso pode resultar em comportamentos desviantes e criminosos. Por outro lado, a retração envolve a retirada da busca ativa pelos objetivos e meios culturais, o que pode levar a comportamentos desviantes ou ao isolamento social. Quanto à aplicabilidade da teoria da anomia a diferentes tipos de delitos, ela pode ser extrapolada para uma variedade de situações, especialmente para crimes relacionados à busca de objetivos culturalmente valorizados, como crimes econômicos, delitos financeiros e, em alguns casos, crimes violentos motivados pela busca de status social. Para lidar de maneira eficaz com o crime com base nessas teorias, é essencial abordar as causas subjacentes da anomia, como desigualdade social, falta de oportunidades e desorganização comunitária. Além disso, proporcionar acesso equitativo a educação, empregos e recursos é fundamental para ajudar as pessoas a alcançar os objetivos culturalmente valorizados de maneira legítima. Promover valores e normas sociais, fortalecer a coesão comunitária e envolver ativamente as comunidades na criação de ambientes sociais saudáveis também desempenham papéis cruciais na prevenção e no enfrentamento do crime. Portanto, a abordagem para lidar com o crime deve ser holística, levando em consideração fatores sociais, econômicos e psicológicos.