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CONFLITOS, INTEGRAÇÃO E MUDANÇAS SOCIAIS.


O PAPEL DAS NORMAS JURÍDICAS.
A sociologia define-se, de modo geral, como a “ciência da sociedade”. De modo mais
concreto, a sociologia examina o comportamento humano no âmbito social, sendo
particularmente interessada pelos modelos de comportamento existentes na
sociedade. Tais modelos são o resultado de um processo de construção social da
realidade e acabem padronizando as relações que se estabelecem entre os indivíduos.
Dessa maneira, a sociologia observa e analisa as regras que regem as relações sociais,
ou seja, estuda a interação entre pessoas e grupos.
Teorias funcionalistas e Teorias do Conflito social: teorias de tipo
macrossociológico. Se importam mais com a sociedade como um todo.
 Funcionalistas (integração) – Durkheim (desenvolvimento inicial dessa
teoria): estudo da estrutura social e das funções que as diversas instituições
desenvolvem no âmbito social. Durkheim considera que os seres humanos são
diferentes e possuem capacidades diversas. A educação recebida pelos
indivíduos pode inclusive acentuar essas diferenças. Por isso, a desigualdade social é
inerente à organização social.
Os funcionalistas consideram a sociedade como uma grande “máquina” que distribui
papéis e recursos a seus membros, identificados como “peças da máquina”.
Pressupõe que os indivíduos sejam integrados no sistema de valores da
sociedade e que compartilhem dos mesmos objetivos, ou seja, que aceitem as regras
sociais vigentes. Cada situação de crise e de conflito que escape a estes mecanismos é
considerada como uma disfunção. Então, ou os elementos de contestação serão
controlados ou neutralizados (repressão) para evitar a destruição da máquina social.
Toda mudança social radical é uma disfunção, uma falha no sistema.
 Conflito Social (marxistas e liberais): opõem-se às teorias
Funcionalistas. Entendem que na sociedade agem grupos com interesses
estruturalmente opostos, que se encontram em situação de desigualdade e luta
perpétua pelo poder. Consideram que o nexo principal da sociedade não é o interesse
comum, o consenso, o progresso ou a convivência pacifica, mas, ao contrário, a coação
e o condicionamento ideológico, exercidos pelos grupos de poder com intuito de
preservar seus privilégios e manter a dominação. Nessa teoria, as crises e as mudanças
sociais são fenômenos normais da sociedade, ou seja, expressões concretas de
uma continua luta de interesses e de opiniões, que objetiva a mudança da
estrutura social. “A história de todas as sociedades até hoje é a história da luta de
classes”. Conflito (e a ruptura) como a “lei” principal da história social.
Anomia e Regras Sociais
Anomia: ausência de lei, literalmente. Na Grécia antiga era usado para indicar a
violação da lei.
Para Miranda Rosa existem três sentidos: O de ilegalidade (transgressão de normas); o
de ausência de regra clara de comportamento (a lei não prevê exatamente aquilo); e
quando se constata falta de normas que vinculem as pessoas num contexto social (as
pessoas não sabem o que fazer).
Anomia para Guyau (cara-latido hehe): ausência de lei fixa que possa ser imposta aos
indivíduos. O conceito de anomia é introduzido para indicar a existência de uma moral
desvinculada de regras sociais (questionamento à tese de Kant sobre a existência de
uma moral universal). Considera anomia como um elemento positivo que liberta os
indivíduos, em contraposição a qualquer lei que é considerada universal e oprime a
liberdade individual.
Anomia para DURKHEIM (principal teórico sobre anomia): não é algo positivo, que
propicia a liberdade do indivíduo. Identifica-se como a desordem social, sendo
analisada como indício de uma crise que deixa o indivíduo desorientado e pode leva-lo
à sua destruição.
 SUÍCIDIO: relacionado com fatores sociais, para Durkheim. Fatores:
religião, estado civil, profissão, educação e lugar onde se vive. As taxas de suicídio
eram maiores em pessoas solteiras, profissionais liberais, pessoas de religião
protestante, de educação superior e nas comunidades urbanas.
Causa: grau de coesão social. Excesso ou falta de integração do suicida na sociedade.
Falta de regras que vinculassem os membros da sociedade.
 Egoísta: a pessoa se sente socialmente desvinculada como, por
exemplo, um viúvo sem filhos. O isolamento social marginaliza a pessoa, que deixa de
ter sentimento de solidariedade social. (Suicídio por falta de integração).
 Altruísta: a pessoa encontra-se muito vinculada a um grupo social. A
pessoa sente-se estreitamente ligada aos valores do grupo, não valoriza
particularmente a sua vida e suicida-se facilmente por motivos de honra.
(Militar que se suicida em derrota).
 Anômico: a pessoa vivencia uma situação de falta de limites e regras
sociais. As “perturbações da ordem coletiva” desorientam os indivíduos, criando-se
um desequilíbrio entre desejos e suas possibilidades de satisfação. A
consequência é o sofrimento e o desespero que podem levar o indivíduo ao suicídio
por falta de regulamentação. Para Durkheim, anomia significa “estado de
desregramento”, falta de regulamentação, situação na qual a sociedade não
desempenha o seu papel moderador, ou seja, não consegue orientar e limitar a
atividade do indivíduo. O resultado é que a vida se desregra e o indivíduo sofre porque
perde suas referências, vivendo num “vazio”.
Anomia para Merton:
Merton afirma que em todo contexto sociocultural desenvolvem-se
metas culturais. Estas expressam os valores que orientam a vida dos
Indivíduos em sociedade. Coloca-se, então, uma questão: como a pessoa
consegue atingir estas metas? A sociedade determina os meios.
Observou que a meta cultural mais importante é o sucesso na vida, abarcando
riqueza e prestígio. Porém, apesar desta meta cultural ser compartilhada por
todos, existe uma evidente impossibilidade desta ser atingida por uma grande
parte da população. O insucesso em atingir as metas culturais devido à insuficiência
dos meios institucionalizados pode produzir o que Merton denomina de anomia:
manifestação de um
comportamento no qual as “regras do jogo social” são abandonadas ou
contornadas. O indivíduo não respeita as regras de comportamento que
Indicam os meios de ação socialmente aceitos. Surge então o comportamento
desviante
 Metas culturais: aspirações culturalmente prescritas
 Meios institucionalizados: caminho socialmente indicado para atingir as
metas. Merton fez uma classificação dos tipos de comportamento: modos de
adaptação (exprime o posicionamento de cada indivíduo em face das regras
sociais).
+ e – indicam se os indivíduos aceitam ou não as metas e os meios
estabelecidos pela sociedade :

desviante.
 Metas culturais: aspirações culturalmente prescritas.
Conformidade: indivíduo busca atingir as metas culturais empregando os meios
estabelecidos pela sociedade. Ele adere plenamente às normas sociais, não
existindo comportamento desviante. (Comportamento modal: a partir do qual
será elaborada a análise dos demais comportamentos). A pessoa não tem
problema com as regras estabelecidas em determinada sociedade.
Inovação: conduta condizente, ruptura com o meio. No momento em que
percebe que os meios legítimos não estão a seu alcance, o indivíduo tenta
atingir as mesmas metas servindo-se de meios socialmente reprováveis.
Violação das regras sociais, já que o indivíduo adota o princípio de que “os fins
justificam os meios”. Merton acredita que essa quebra com o meio para chegar
no fim pode gerar inovação para a sociedade, modernizando-a. Exemplo:
bandas de rock.
Ritualismo: desinteresse em atingir as metas socialmente dominantes. O medo
do fracasso produz desencanto e desestímulo. A pessoa acredita que nunca
poderá atingir “grandes metas”; continua, porém, respeitando as regras sociais,
apegando-se às mesmas como um ritual. (A grama do vizinho é mais verde que
a minha, mas não faço nada para deixar a minha tão verde quanto).
Comportamento conformista. Trata-se, apesar de estar ajustado aos tipos de
conduta socialmente recomendados, de um comportamento anômico, porque o
indivíduo não comparte as metas sociais, limitando-se ao cumprimento da
regra, sem indagação sobre a conveniência ou finalidade delas.
Evasão: abandono de metas e meios. Falta de identificação com os valores e
as regras sociais; não adere ao meio social em que vive. Exemplo: mendigos,
que vivem como se fossem um corpo estranho dentro da sociedade. A conduta
mais extrema de evasão é o suicídio.
Rebelião: inconformismo e revolta. Negativo aos meios e metas. A diferença da
rebelião para com a evasão é de que o rebelde propõe o estabelecimento de
novas metas e meios. Rebelião consiste na rejeição das metas e meios e luta
pela substituição destes. Por isso, não pode ser considerada somente negativa.
Ex.: movimentos de revolução social.
Constata-se uma situação de anomia generalizada quando a sociedade
acentua a importância de determinadas metas, sem oferecer à maioria dos
seus membros a possibilidade de atingi-las utilizando os meios legítimos.
Merton indica a cilada na qual se encontram as sociedades modernas: elas
prescrevem aos indivíduos um determinado projeto de vida e ao mesmo tempo
impossibilitam a concretização deste projeto. Em tal situação, os conflitos e as
violações de regras são inevitáveis. Teoria da anomia de Merton é conhecida
como teoria da tensão. (Strain theories).
A teoria de Merton explica porque os membros das classes
desfavorecidas cometem a maior parte das infrações penais: sendo excluídos
do circuito dos meios institucionalizados para atingir a riqueza, recorrem à
delinquência para realizar os objetivos que a sociedade difunde.
Os teóricos da anomia identificam no comportamento “anômico” (rebelde
ou “inovador”) um incentivo à mudança social, ou então consideram este
comportamento como consequência de mudanças sociais, que desorientam os
indivíduos. Sustenta-se, assim, que a anomia anuncia uma mudança social ou
que surge como fenômeno de reação a esta mudança. Porém, não poderia ser
a anomia considerada como ausência de normas e valores sociais ao invés de
como problemas de adaptação do indivíduo? Ou considerada como resultado
da conformação do indivíduo às regras de um subgrupo social, quando estas
regras estão em conflito com as adotadas pelos grupos dominantes?
2.6.1 – Anomia e ineficácia do direito
- Ineficácia não anômica – Descumprimento da norma apesar de sua aceitação
O indivíduo aceita a norma vigente, porém a contraria por motivo de força
maior (desespero, medo, ...)
Exemplo: Muitos homicidas estão plenamente de acordo com a proibição do
homicídio, consideram que violaram a norma em uma situação excepcional e
se arrependem. Aqui temos uma ineficácia do Direito sem relação com a
anomia porque a opção de vida do indivíduo é aderir ao conteúdo da norma.
- Ineficácia anômica – Descumprimento de norma que o indivíduo considera
inadequada ou injusta. A pessoa viola a norma por convicção, encontra-se em
estado de inovação ou rebelião.
Exemplos: Um grupo político pratica atos terroristas puníveis pela legislação
acreditando que age no interesse da humanidade. A ineficácia da norma é
devida à situação de rebelião que vivencia este grupo.
Os membros de uma quadrilha que praticam atos criminosos na condição de
profissional (assaltos, tráfico de drogas, sequestros, etc.). Essas pessoas
assumem a prática delitiva como opção de vida eu lhes dá sustento e se
encontram em situação de inovação.
Diante da ineficácia anômica, o Estado pode agir de quatro maneiras distintas:
 Manter a norma normalmente em vigor, mas tolerar a violação. A
anomia causa a completa ineficácia da norma (a prática do aborto, que é
muito difundida no Brasil. Muitas mulheres consideram o aborto como
um direito, estando convencidas que a decisão do Estado de proibi-las
está equivocada. As autoridades deixaram de perseguir as mulheres que
abortam clandestinamente e os médicos que as assistem. Por outro
lado, o legislador brasileiro não autorizou o aborto nos primeiros meses
de gravidez, como acontece em diversos países)
 Realizar mudança legislativa revogando ou modificando normas
para harmonizar o Direito com a sociedade (a prestação de serviços
alternativos para quem se recusa a servir nas Forças Armadas por
motivos religiosos ou políticos. Muitos países, inclusive o Brasil,
concederam a grupos religiosos e políticos o direito de excetuar-se do
cumprimento de obrigações militares contrárias a seu sistema de
valores)
Fazer propaganda moral para convencer as pessoas a respeitar
determinadas leis (As campanhas que mostram as consequências
desastrosas do uso de drogas, tentando mudar a opinião de muitos
jovens que acreditavam que o uso de drogas é sinônimo de diversão e
liberdade)
 Intensificar a repressão para combater a tendência anômica (apesar
de os criminosos dessas categorias considerarem seus códigos de
comportamento como corretos e sua opção de vida como necessária, os
Estados desenvolvem uma política criminal repressiva, que visa coibir
tais condutas)
2.6.2 – Anomia e poder
As normas jurídicas são heterônomas. O grupo que não respeitas as
normas jurídicas, vivenciam, muitas vezes um conflito entre suas
convicções e as prescrições do sistema jurídico oficial. Neste caso, a
anomia não indica a ausência de normas, e sim o conflito entre as normas
oficiais e as normas aceitas por um grupo sociais e a heteronomia que
caracteriza o Direito estatal.
Nesse contexto, a anomia também pode se relacionar com a ausência do
Estado que, ao não cuidar da efetivação dos direitos sociais, abandona
parcelas da população à sorte. Isso propicia o aparecimento de grupos de
poder, em geral relacionados à praticas delitivas, que ocupam o espaço
deixado pelo Estado (Estado paralelo). Um exemplo é o tráfico de drogas no
Rio de Janeiro.
2.6.3 – Anomia e pluralismo cultural
Observou-se que o conceito da anomia é caracterizado por ambiguidades.
Tanto Durkheim como Merton consideram, ao mesmo tempo, a anomia
como fenômeno normal (devido à particularidade de cada pessoa) e como
fenômeno patológico (desvio); como situação negativa (falta de orientação,
anarquia) e como situação positiva (inovação que revigora a sociedade).
As ambiguidades da anomia se explicam pelas características das
sociedades modernas, nas quais prevalece a solidariedade orgânica. Estas
sociedades permitem a “livre escolha” de valores e modos de vida por parte dos
indivíduos. As amplas possiblidades de escolha individual geram
conflito porque faltam valores de referências comuns.
3. – O Direito como propulsor e obstáculo da mudança social
3.1 – O conceito de mudança social
A mudança social indica uma modificação na forma como as pessoas
trabalham, constituem famílias, educam seus filhos, se governam e dão
sentido à vida. A mudança social, portanto, indica uma reestruturação das
relações sociais.
“A realidade social não é um estado constante, mas um processo dinâmico”.
O fenômeno da mudança social começa a ser objeto de estudos específicos
nas primeiras décadas do século XX. Podemos dizer que o objetivo geral de
todos os trabalhos de sociologia são as mudanças da sociedade no tempo.
É evidente que a mudança social se relaciona com as mudanças do Direito,
ou seja, com a modificação das normas legais e sua aplicação no seio da
sociedade.
3.2 – Relações entre Direito e sociedade
O Direito é, em geral, configurado por interesses e necessidades sociais, ou
seja, é produto de um contexto sociocultural. Isto não impede que o mesmo
possa influir sobre a situação social, assumindo um papel dinâmico. Em
outras palavras, o Direito assume duplo papel dentro da sociedade: ativo e
passivo. Ele atua como um fator determinante da realidade social e, ao
mesmo tempo, como um elemento determinado por esta realidade. Dentro
desse contexto, identificam-se as pressões dos grupos de poder que podem
induzir tanto para que se dê a elaboração de determinadas regras, bem
como para que as regras em vigor não sejam cumpridas, levando a um
processo de anomia generalizado.
3.3 – Relações entre o sistema jurídico e a mudança social
Ninguém coloca em dúvida que o Direito muda na evolução histórica,
seguindo as transformações da sociedade. A adequação do Direito às
novas realidades imputa ao legislador a criação de regras que regulem e
englobem esse desenvolvimento e mudanças nas relações interpessoais.
As mudanças sociais são também a causa das reformas legislativas que
impuseram nas últimas décadas a “desregulamentação da economia” na
era neoliberal. Em todos esses casos, temos mudanças tecnológicas,
sociais, políticas e demográficas, que o Direito tenta acompanhar.
Seguindo a tese do construtivismo jurídico, infere-se que o Direito pode
influenciar o comportamento das pessoas na sociedade. Supõe-se que o
Direito é um instrumento do governo, cuja criação e aplicação permitem

proteger determinados interesses e impor padrões de comportamento,


mudando a sociedade. Assim sendo, o direito apresenta-se como
ferramenta que permite “construir” (e mudar) a própria sociedade.
Há correntes adversas e contrárias ao construtivismo jurídico, entre elas a
teoria Marxista, que averigua o Direito como instrumento de perpetuação
das desigualdades e imposições das classes dirigentes, cooperando para a
manutenção do poder no topo da pirâmide social (papel conservador do
Direito).
Outra corrente vê no direito, um instrumento eficaz para a consecução de
grandes mudanças sociais. Acredita-se que obtendo poder político é
possível realizar mudanças por meio de reformas jurídicas. Os partidários
desta corrente entendem que o Direito desempenha uma função educadora
(papel progressista do Direito).
Soriano afirma que a relação entre Direito e mudança social se concretiza
da seguinte forma:
a) A relação entre os grupos e as classes sociais, definida principalmente
pelo fator econômico, determina as estruturas jurídicas. O Direito pode
ser, então, considerado como um produto de interesses sociais, que
dependem das relações de dominação em cada sociedade. Porém, a
determinação social do Direito não significa que esse seja um produto
de um único fator social ou da vontade de uma classe. Além dos
interesses econômicos, o direito é influenciado por elementos da ordem
física e também por valores éticos-culturais assumidos pelos povos de
várias regiões do mundo.
b) O Direito possui uma autonomia relativa e, por consequência, pode
induzir a mudanças sociais. Apesar de existirem controvérsias em
relação aos limites da autonomia do sistema jurídico, não se coloca em
dúvida que o Direito tenha incentivado muitas transformações nas
sociedades modernas. O exemplo mais claro é dos regimes comunistas.
Depois da revolução de 1917, os dirigentes dos partidos utilizaram o
direito como instrumento para educar as massas aos novos ideais e criar
uma legalidade socialista.
Soriano ressalta que a influência do Direito na mudança social pode ser
do tipo direto ou indireto. Na maioria dos casos ele influi de forma direta:
impõe-se, por exemplo, a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança
e a limitação de velocidade, ambas associadas a sanções, para mudar o
comportamento das pessoas no trânsito. Já as normas relativas a
reformas do programa de educação são de caráter indireto: orientam o
professor quanto à matéria e aos métodos de ensino, esperando que
assim seja alterado o conteúdo da educação oferecida aos alunos, sem
prescrever, porém, determinados conteúdos de ensino e sem abolir a
autonomia do professor.
O Direito pode adotar posições de reconhecimento, de anulação, de
canalização ou de transformação de suas tendências:
 Reconhecimento – O Direito reconhece por meio de suas normas
 Reconhecimento – O Direito reconhece por meio de suas normas
a nova realidade social, declarando a sua legitimidade e, às
vezes, criando instrumentos jurídicos que consolidam a mudança.
 Anulação – O sistema jurídico se opõe à mudança, ignorando-a
 Anulação – O sistema jurídico se opõe à mudança, ignorando-a
ou mesmo aplicando sanções contra determinadas inovações.
 Canalização – O Direito tenta limitar o impacto de uma mudança,
 Canalização – O Direito tenta limitar o impacto de uma mudança,
ou alterar seus efeitos, por intermédio de reformas que satisfazem
parcialmente as reivindicações sociais.
 Transformação – O Direito assume um papel particularmente
 Transformação – O Direito assume um papel particularmente
 A história ensina, porém, que o Direito não possui força suficiente
ativo: tenta provocar uma mudança na realidade social por meio
de reformas graduais e lentas (transição) ou mesmo trocas
radicais e rápidas (revolução).
 A história ensina, porém, que o Direito não possui força suficiente
 A história ensina, porém, que o Direito não possui força suficiente
para mudar a estrutura da classe social e os fundamentos do
sistema econômico, que são suscetíveis de alteração somente
por meio de um processo de transformação política.
3.4 – Atuação do Direito como fator de mudança social
3.4.1 – Intensidade da mudança e “direito alternativo”
O Direito pode operar mudanças parciais, mas dificilmente conseguirá
mudanças radicais. Além disso, a intensidade de mudança depende de dois
fatores gerais: da natureza do sistema jurídico que deve produzir a mudança e
da situação política do momento. Quanto mais aberto, flexível e abstrato é o
sistema jurídico, mais fácil será operar uma mudança social por meio de sua
interpretação. Um sistema jurídico completo e detalhado, com rígidos
procedimentos de controle e com “cláusulas pétreas” que dificultam as
reformas, dificilmente permite mudanças sem ruptura.
A intensidade da mudança também está condicionada pela natureza
do
sistema político. Quando o poder político é forte e concentrado, pode provocar
uma mudança rápida a partir de reformas jurídicas. Nesse contexto, um caso
que ilustra nossas afirmações são as vicissitudes da reforma agrária no Brasil.
Sua timidez e lentidão são resultado da situação política, na qual os governos
pactuam com representantes do poder latifundiário e, na atualidade, também
com grandes empresas multinacionais ligadas ao agronegócio.
Nos anos 1960 e 1970 desenvolveu-se na Itália um movimento que tentou
promover mudanças sociais por meio do Direito. A aplicação do Direito deveria
tornar-se um instrumento de solidariedade social. O operador jurídico deveria
tirar proveito do caráter genérico e ambíguo das normas, empregando métodos
de interpretação inovadores, que lhe permitiriam fazer justiça social. A proposta
era a de tentar mudar a sociedade a partir das estruturas formais do Direito,
sobretudo graças à atuação de juízes progressistas.
Em sua versão mais radical, o Direito alternativo apresenta-se como
um
sistema que se distancia declaradamente das normas estabelecidas pelo
Estado: “é o contra legem – acredita-se que se pode atuar, explícita
e
implicitamente, em nome da justiça social”. O verdadeiro Direito alternativo é
um “direito achado na rua”, “um direito comunitário”, “vivo” ou
mesmo um
“direito insurgente”, que resulta do “poder popular” e exprime valores
libertários.
Exemplos: absolvição de um lenhador que furtou a motosserra para utiliza-la
como instrumento de trabalho; negação do pedido de restituição de posse a
proprietários de terras ocupadas por trabalhadores “sem-terra” e de prédios
invadidos por pessoas “sem-teto”.
O Direito alternativo não é sempre progressista. Aceitando a possibilidade de
mudar o Direito por meio da interpretação jurídica, podemos também cair numa
concepção reacionária do direito alternativo: os juízes poderiam erguer-se em
justiceiros acima dos valores jurídicos de sua função, vetando direitos sociais,
reprimindo os desviantes e impondo interesses dos poderosos.
O Direito alternativo se choca com os princípios da separação dos poderes e
da legalidade que reconhecem ao legislador estatal o monopólio de criação de
normas legais e não permitem aos juízes decidir conforme suas avaliações
subjetivas, nem a grupos sociais alterar o Direito estatal segundo a própria
vontade. Em outras palavras, é praticamente impossível distinguir o direito
alternativo da franca ilegalidade ou da revolução política que institui um novo
Direito
3.4.2 – Esferas da manifestação da mudança
O Direito possui duas esferas de manifestação: a interna, relativa ao Direito
nacional, e a externa, relativa ao Direito Internacional e comparado. A
constatação de um problema social por parte de grupos desfavorecidos ou
discriminados podem levar a reformas do direito.
A constatação de um problema social por parte do governo e a pressão política
por parte de grupos desfavorecidos ou discriminados podem levar a reformas
do Direito. Tais alterações objetivam realizar mudanças sociais. Um exemplo
clássico é a legislação trabalhista, elaborada durante o regime de
Getúlio
Vargas. Um exemplo mais atual refere-se à legislação que regula a união
estável de pessoas de sexos diferentes.
O empréstimo jurídico consiste na assimilação voluntária de
determinadas
normas provenientes do Direito de outras nações. Geralmente os países que
se encontram em fase de desenvolvimento adotam instrumentos jurídicos dos
países avançados na tentativa de modernizar as estruturas locais
(administração púbica, relações de trabalho, organização e fiscalização do
sistema financeiro e tributário). O empréstimo deve ser precedido de um estudo
detalhado das experiências estrangeiras. Isto permite ao país “importador” não
só adaptar a legislação alienígena às necessidades locais, mas também
identificar eventuais causas de ineficácia ou inadequação da mesma. Com
base nesses estudos o país receptor poderá criar normas dotadas de maior
perfeição técnica e eficácia. Em outros casos o legislador nacional recebe
influências do Direito Internacional. Exemplo: o desenvolvimento da biogenética
levou alguns países, principalmente os que detém uma tecnologia mais
sofisticada, a legislar sobre esta matéria. Outros países utilizaram estas
normas como modelo para o desenvolvimento de suas próprias legislações.
A segunda forma de transferência de Direito é a aculturação jurídica. Nesse
caso se verifica uma maior influência da esfera externa. Por
aculturação
jurídica entende-se o processo de recepção de um Direito alienígena
que
provoca alterações globais no Direito do país receptor. Pode ocorrer por meio
de uma decisão externa (sistema jurídico imposto nas colônias) ou por decisão
interna (após uma revolução ou sucessão, as autoridades políticas decidem
adotar o sistema jurídica de outra nação, por considera-lo mais adequado).
Quando, porém, o país receptor não está em condições objetivas de
implementar o modelo jurídico importado, sobretudo porque o Estado
não
possui o controle do território e da população, a aculturação apresenta poucos
efeitos práticos (falta de eficácia).
É importante diferenciar a aculturação do empréstimo. O empréstimo refere-se
a matérias especificas e não a todo ordenamento jurídico, como acontece com
a aculturação. Além disso, o empréstimo é voluntário, sendo que a aculturação
jurídica pode ser produto de uma imposição direta.
As transferências do Direito não desmentem a dependência do Direito perante
as forças sociais e sua evolução. A decisão quando e como importar normas
alienígenas e quais devem ser importadas é tomada pelas forças políticas
dominantes em determinada sociedade
3.4.3 – Ritmo de mudança
Há áreas de atuação social em que é relativamente fácil introduzir
uma
mudança enquanto outras são mais complicadas. As mudanças são
mais
rápidas no setor da organização do Estado do que no setor da economia
privada. No setor privado é mais fácil introduzir, por meio do Direito, mudanças
de algumas estruturas, criando incentivos ao desenvolvimento e a
competitividade. Podemos pensar no desenvolvimento de Zonas francas. Por
meio de reformas no Direito Tributário, no Direito do Trabalho e na distribuição
de auxílios estatais, incentiva-se a atividade econômica em
determinadas
regiões.
Atualmente, a questão dos direitos das minorias tem disso objeto de mudanças
jurídicas. Por meio de sucessivas decisões judiciais essa realidade tem sofrido
paulatinas mudanças. Casais do mesmo sexo obtiveram, por exemplo,
autorização para celebrar união estável adotar filhos no Brasil e para obter
pensão por morte de seu(sua) companheiro(a).
As mudanças globais são mais difíceis no campo econômico, porque
isto
pressupõe uma transformação radical na estrutura de classe do país e criam
grandes resistências políticas. Ainda mais improváveis são as tentativas de
mudança que atingem práticas culturais. Nesse caso, as ideologias
transmitidas pela tradição apresentam grande resistência.

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