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O crime
é a violaçao da norma juridica. O crime é um objecto normativo e juridico.
É. Durkheim (1895) define o crime como "um acto que ofende certos sentimentos
colectivos dotados de uma energia e de uma força particulares": define-o, portanto,
pela reacção que suscita. Nisso, afasta-se dos primeiros criminólogos, que procuravam,
sobretudo, saber se o comportamento do criminoso dependia de causas soaciais ou
individuais.
Procurar os determinantes do comportamento criminoso constitui, no entanto, a
preocupação principal das sociologias especializadas. as razões do crime podem ser
culturais: aprendizagem negativa do respeito da lei em certos grupos culturais
(Sutherland, Cressey 1924), conflitos de cultura (Sellin 1938).
Merton, apresenta o comportamento criminoso como o resultado de uma disjunção
anómica entre fins socialmente valorizados e meios de alcançá-los (Merton 1949).
Pode ainda explicar-se o crime como o feito de um afrouxamento dos controlos
primários (família, escola, etc.; Hirschi 1969). A maior parte destas teorias considera
apenas uma parte dos comportamentos susceptíveis de provocar uma pena (roubos,
violências, em geral).
Mas, ao mesmo tempo, estas teorias ultrapassam os limites do crime (violação da
norma jurídica) e apresentam-se como teorias dos desvios (violações das normas
sociais).
Considera-se o crime, portanto, como uma espécie de desvio entre outros e a
norma jurídica como análoga às normas sociais em sentido amplo e ao mesmo
tempo específico (Boudon, Bourricaud 1982): contrariamente às normas sociais, esta
norma jurídica é dotada de uma universalidade que manifesta a diversidade dos grupos
sociais (heteronomia).
Uma teoria geral do desvio não é pois, provavelmente, suficiente para explicar a
especificidade do crime enquanto crime. A pôr a tónica na reacção discriminatória do
meio ambiente e no papel das instituições oficiais na produção do desvio, o
interaccionismo dos anos 60 (Becker 1963) reintroduziu a consideração durkheimiana
da reacção social no estudo sociológico do crime. É verdade que se tratava ainda de
uma teoria indiferenciada do desvio. Entretanto, levou pouco a pouco a procurar a
especificidade do crime como tal no exame dos processos sociais de criação
(criminalização primária ou abstracta) e de aplicação da lei penal (criminalização
secundária ou concreta), ou seja, numa sociologia do direito (penal na ocorrência).
Reencontra-se assim a intuição de Durkheim que caracteriza o crime pela respectiva
pena e que procura a especificidade comum a todos os comportamentos criminosos, ao
mesmo tempo que afasta a crença numa consciência colectiva cujos elementos mais
fortes o legislador traduziria infalivelmente. Esta dualidade de concepções do crime -
ora objecto comportamental ora objecto normativo e jurídico - tende a ser ultrapassada
por uma sociologia dos actores concretos que participam na criação da lei, por um lado,
e na sua aplicação, por outro. Estes actores são não apenas os profissionais da lei e da
justiça mas também os actores mais ou menos ocasionais (vítimas e delinquentes...).
Desvio: Transgressão, identificada como tal e portanto sancionada, das normas
em vigor num dado sistema social. A palavra é de uso recente. Aparece na sociologia
americana no fim dos anos 50, substituindo-se a outras noções rubricas tais como
desorganização ou patologia social. O seu rápido êxito deve-se ao facto de a noção que
recobre ser muito mais extensiva que as de delinquência ou de criminalidade. A sanção
social não se limita às sanções penais ou legais; pode tratar-se de uma simples
reprovação. A noção de desvio permite também reagrupar todas as espécies de
comportamentos, grande número dos quais não são tidos comummente como
delituosos. Vê-se isso nas tipologias do desvio propostas por R. K. Merton (1949) ou
T. Parson (1951), que prevêem, ao lado dos comportamentos "inovadores",
caracterizados pelo uso de meios ilícitos, o ritualismo (hiperconformismo passivo
segundo Parsons), o recuo (alienação passiva) ou a rebelião (alienação activa). A noção
sociológica de desvio não é uma categoria estatística. Não se aplica às condutas ou aos
indivíduos que se afastam, mesmo nitidamente, da média. Para que haja desvio, é
preciso que haja uma norma de grupo e não uma simples opinião maioritária. As
teorias sociológicas do desvio podem ser reagrupadas em três correntes
principais: as teorias da regulação social, as teorias da contradição social e as
teorias culturais.