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Émile Durkheim: O ensino da moral na escola primária

Anomia social: Anacronismo das normas sociais, à medida em que a sociedade francesa,
mesmo transformada, continua, ainda, fazendo normas com fundamento religioso.
Afirma-se que a sociedade burguesa tende a afastar as normas religiosas e reduz às
decisões dos indivíduos (utilitarismo - fazer o que for mais útil). Entretanto, o utilitarismo foi
objeto de crítica para Durkheim, mas defende, no entanto, o afastamento da religião do
mundo social, afirmando que a religião não pode ser vista como meio para pautar a vida
social, isto é, a religião não pode ser entendida como fundamento do mundo social.
(Desencontro entre a sociedade que avançou e as normas que permaneceram em um
mesmo lugar)

Moral laica: Sistema de regras sociais fundamentadas racionalmente. Entende-se que a


religião não pode fundamentar o mundo social, e por conta disso, a moral laica não possui
conotação valorativa e não está fundada na religião. Ela é racional, à proporção em que
vive-se em uma sociedade e, portanto, todos os indivíduos devem estar submetidos às
mesmas normas.

As principais características da moral laica: a) coercitividade, ou seja, expressam, portanto,


um dever; b) existem para além do indivíduo no tempo e espaço (existem antes do indivíduo
- incorpora no indivíduo - existem socialmente, ou seja, quando falecermos, elas
continuarão existir e antes de existirmos, também); c) emanam, portanto, da sociedade; d)
estão internalizadas por meio dos processos de socialização ( socialização: processo
educacional de incorporação das regras sociais); e) são a sociedade em “nós” (nós somos a
sociedade). - acostumados em fazer as coisas que foram impostas.

Educação moral: Relacionada com o ato de educar as normas sociais para as crianças,
sendo a família e principalmente a escola os responsáveis por ensinar as normas às
crianças. Ademais, entende-se que existe uma relação assimétrica entre a geração adulta
(possuem as normas internalizadas e ensinam às crianças) e a geração jovem (analogia de
uma tábula rasa).

Elementos da moralidade:

- Espírito da disciplina: Regula e modela os desejos das crianças, limitando-os,


explicados de maneira racional, implicando na idéia de que eles precisam entender a
importância das normas;

- Espírito de abnegação e sacrifício: Desenvolve o sentimento de pertencimento, ou


seja, respeita-se as leis por ser cidadão;

- Autonomia de vontade: A escolha pode ser entendida como consequência de


entender as normas sociais (só é possível quando as normas são internalizadas).

A liberdade pode ser vista como a condição decorrente da compreensão racional das
normas sociais, ou seja, o que faz com que mantenha a liberdade é o cumprimento das
normas. Indivíduo livre: Aquele que é perfeitamente socializado e que entende e segue as
normas, estando livre de punição.
Adulto normal: “Produzido” conforme as normas, decorrente da educação moral.

Émile Durkheim: Solidariedade mecânica ou por similitudes

Coesão Social: A coesão social pode ser entendida como a integração da sociedade, ou
seja, o fato da Sociedade estar junta. Entende-se que quanto mais individualizados os
indivíduos, se tornam cada vez mais dependentes um ao outro. Afirma-se, portanto, que
mesmo especializados e individualizados, eles estão interligados (mesmo falando de
indivíduos, fala-se de sociedade).

Consciência individual: Indivíduo tem consciência que é indivíduo, ou seja, ele entende que
é indivíduo. Substrato: O indivíduo. (Suporte)

Consciência coletiva: Ocorre antes da consciência individual. Relacionado com a ideia de


ter consciência de que somos além de indivíduos, partes da sociedade. Ressalta-se que a
sociedade não pode ser entendida como o conjunto/soma das consciências individuais.
Substrato: A sociedade. → Definição simples de consciência coletiva: Normas sociais
internalizadas.

Solidariedade mecânica: Coesão social se dá em função de um rompimento da norma, ou


seja, os indivíduos vão se juntar contra alguém que foi contrário à norma, combatendo-o.
Exemplo de tal são os crimes, à medida em que caso alguém cometa um crime, a
sociedade vai se juntar para combater quem o praticou. - Vingança

Solidariedade orgânica: Coesão social promovida pela divisão social, ou seja, a ideia de que
os indivíduos constituem o corpo social, sendo ele coeso. Entende-se que quanto mais
diversificada, mais interdependente a sociedade será.

Pena: Consiste em uma reação passional, de intensidade gradual, que a sociedade exerce
por intermédio de um corpo constituído contra aqueles de seus membros que violaram
certas regras de conduta. Existem dois tipos de pena, a pena passional e a de defesa. A
primeira está relacionada com o desejo de vingança contra aquele que rompeu com a
norma. O segundo, por sua vez, está relacionado com a defesa da norma, ou seja, evitar
que a norma seja rompida.

Crime: Um ato é considerado criminoso quando ofende os estados fortes e definidos da


consciência coletiva. Além disso, uma característica em comum de todos os crimes é o fato
deles serem universalmente reprovados pelos membros da sociedade. Por fim, entende-se
que o que caracteriza o crime é o fato dele ser passível de punição repressiva (pena). (Não
se deve dizer que um ato ofenda a consciência coletiva por ser criminoso, mas que é
criminoso por ofender a consciência coletiva. Não o reprovamos por ser um crime, mas é
um crime porque o reprovamos).

O crime tem a função de revelar a existência da sociedade e das normas: Crime → Punição
→ Norma → Consciência coletiva → Sociedade.
Função do Estado: Sua primeira e principal função é fazer respeitar as crenças, as
tradições, as práticas coletivas, isto é, defender a consciência coletiva de todos os inimigos
de dentro e de fora. Tal autoridade se torna um fator autônomo da vida social por conta da
supremacia que conquistou e pode, portanto, reagir e taxar como crime mesmo aquilo que
não aparece explicitamente nos sentimentos coletivos. (Só ele, de maneira autônoma, deve
inovar as normas sociais. Além disso, entende-se que a justiça deve ser feita em função da
racionalidade).

Direito civil, comercial, processual, etc: Sanção restitutiva, isto é, garantem/restituem os


direitos.

Direito penal: Sanções repressivas.

Repressão: Existem dois tipos de repressão, sendo a repressão difusa e a organizada. A


primeira pode ser entendida como a defesa da moral estabelecida, a partir da vingança. O
segundo tipo de repressão, a organizada, é entendida como um código definido para crimes
definidos, ou seja, ao invés dos crimes/atos serem julgados pela sociedade, eles são
submetidos à apreciação de um corpo constituído - Tribunal. “Pelo simples fato de ter como
intermediário um órgão definido, a reação coletiva deixa de ser difusa: passa a ser
organizada.” (repressão de maneira racional).

Objetivos de Durkheim:
- Crime como evidência da norma;
- Repressão ao crime;
- Repressão como evidência da norma;
- Defesa da repressão organizada para evitar a repressão difusa da sociedade,
defendendo o Estado de Direito.

Howard Becker: Outsider

A questão de Howard Becker: Para além de interrogar qual crime, que comete e porque,
compreender porque determinados comportamentos são considerados desviantes. Em
outros termos, entender como que a sociedade produz o Outsider.

Outsider: Aquele que se desvia das regras do grupo. Ressalta-se que o ato de desviar
constitui atitudes consideradas fora do padrão, mas que não são necessariamente crimes.

Entende-se que o desvio é criado pelos grupos sociais ao fazerem regras cuja infração é o
desvio e, ao aplicar tais regras, pessoas particulares rotulam os desviantes como outsider.
Ademais, entende-se que o desvio é consequência das reações de terceiros ao ato de uma
pessoa (desvio como a falha em obedecer às regras sociais). “Se um ato é ou não
desviante, depende de como outras pessoas reagem a ele”.

Outsider → Norma → Grupo repressor.


Através do outsider (desviante), entende-se quais são as regras e quem as impõe. O
caminho inverso também é válido, ou seja, a partir da repressão, entende-se quais são as
regras (sociais e difusas) e, a partir disso, quem são os outsiders para os dominantes.

Importante: Tanto no caso do Durkheim (crime), como no caso do Becker (desvio), trata-se
de revelar que são os negativos a definir a norma que os produzem.

Desvio é um termo mais adequado quando falamos de situações normativas que não são
necessariamente organizadas racionalmente, legalmente instituídas.

Erving Goffman: Constrangimento e organização social

Situação de co-presença: Na relação de co-presença há um certo empenho dos indivíduos


em sustentar a interação, de maneira a garantir a sua continuidade. Os indivíduos em
interação atuam no sentido de garantir que a interação aconteça e desenvolvem uma série
de mecanismos, de práticas e estratégias para sua manutenção. Sua hipótese, então, é a
de que existe uma ordem interacional.

Ordem interacional: Há uma ordem moral por meio da qual as interações de processam.
Portanto, não estamos falando meramente de ações subjetivas, mas ações sociais, que
possuem caráter social.

Consenso operacional: A ordem interacional se mantém pela ação do sujeito, seja


consciente ou não. Nas relações face-a-face, nas relações de co-presença, os indivíduos
atuam no sentido de manter esta ordem social. (Desempenhar e esperar que os outros
desempenhem os papéis esperados). Entende-se, assim, que não existe coação para que a
relação aconteça, mas sim um consenso operacional. (Reconhecimento coletivo da
obrigação de adotar uma conduta socialmente aceitável em qualquer tipo de situação
social).

Situação social: Pode ser entendida como a circunscrição espaço-temporal em que a


interação acontece e que é interpretada segundo os diferentes espaços que a compõem.

Existem três tipos de espaço que são levados em consideração.

- Espaço interacional/ocasião social: A qual ocasião a interação se refere?

- Espaço físico/cenário: Em que lugar a interação acontece?

- Espaço social/estrutura social: As pessoas em determinada situação apresentam-se


conforme papéis próprios à situação social específica, conforme o estado
demandado por determinada situação social. Como cada qual deve se apresentar na
situação social?

São, portanto, todos esses elementos que o autor considera quando interpreta uma
situação social e por meio da qual define a melhor maneira de se apresentar na ordem
interacional. Para Goffman, não se pode pensar em interação exclusivamente como
decorrente da subjetividade, entendida como um atributo exclusivo do indivíduo, embora
seja o indivíduo a mobilizar todos os elementos necessários para a interação face-a-face.
Entende-se, portanto, que as interações, além de possuir certo grau de subjetividade, são
compostas por códigos e regras.
Self: Entende-se que o que está em jogo nas interações sociais não é a totalidade dos
indivíduos, mas a construção do self demandada pela situação social em questão. O self,
então, pode ser entendido como a maneira que cada pessoa se porta em diferentes
situações sociais, ou seja, não é possível com que uma pessoa tenha totalidade em todas
as situações. Muda-se a situação social, muda-se a “fachada”, determinando o tipo de
comportamento que será tomado. Ex: Em uma festa ou no trabalho, o indivíduo muda seus
comportamentos para se encaixar em tal ocasião.

Controle social: Relacionado com a ideia de portar-se de uma maneira e tomar cuidado para
que não seja “descoberta” as outras faces do indivíduo.

O embaraço/constrangimento: Decorrentes da ruptura da norma interacional. Ocorre,


sobretudo, quando a interpretação da situação social é equivocada ou quando há
vazamento da região de bastidores para a região da fachada. Assim, entende-se que a
existência do constrangimento serve como evidência de que existem normas sociais,
produzidas de maneira irracional e internalizadas.

Além disso, por meio do constrangimento é possível compreender o nível de integração do


grupo social: quanto maior o constrangimento, maior a demonstração de que há a
preservação da ordem interacional, ou seja, quanto maior o constrangimento, maior a
integração do grupo.

Assim, como o crime, em Durkheim, o desvio, em Becker, o embaraço/constrangimento, em


Goffman, são meios reveladores da existência da norma social difusa e, mais que isso, que
a sociedade se empenha para reproduzir e manter tais normas.

Martins: Linchamento, o lado sombrio da mente conservadora

Linchamento pode ser entendido como julgamentos frequentemente súbitos, carregados de


emoção de ódio, em que os acusadores são quase sem pre anônimos, que se sentem
dispensados da necessidade de apresentação de provas que fundamentem suas suspeitas,
em que a vítima não tem nem oportunidade de provar sua inocência. Além disso,
ressalta-se que tal julgamento é feito pela própria sociedade, ou seja, não há a presença de
um agente neutro, como um juiz. (Reação espontânea, imediata e racional, de pessoas
comuns, a certo ato que vai contra as normas e valores sociais - violento).

Mesmo os linchamentos serem diferentes durante o tempo, entende-se que existe uma
constante entre eles, sendo ela a motivação conservadora, ou seja, a tentativa de impor
castigo exemplar e radical a quem tenha, intencionalmente ou não, agido contra valores e
normas que sustentam o modo como as relações sociais estão estabelecidos e
reconhecidas ou os que tenham posto em risco.

Linchamento relacionado com a reação visível ao descumprimento da norma. Além disso,


pode ser considerado como um indicador, no viés violento, que existem normas sociais.
Rituais de exclusão ou desincorporação e dessocialização da pessoa que, pelo crime
cometido, revelaram-se incompatíveis com o gênero humano. Tem-se a ideia de ritual, à
proporção em que se tem um ato de sacrifício e obedece a honra. - Essas ocorrências que
desumanizam os linchados, retira-os duplamente da vida social: retira-os como corpos
físicos; mas retira-os também simbolicamente.

Os linchamentos acontecem a partir da ideia de descrença, por parte da população, na ação


do Estado de garantir a justiça e, por conta disso, é “dever” da sociedade garantir a
harmonia social. Além disso, entende-se que o linchamento pode ser visto como desejo de
norma, à medida em que ele acontece a partir do sacrifício do criminoso em nome da
manutenção da norma.

Linchamento como desejo de repor a ordem e a norma social, o que se relaciona


diretamente com o pensamento conservador, visto que eles estariam incomodados com a
mudança, sendo ela algum ruim. Nesse sentido, o que explica o conservadorismo é o fato
de defenderem as normas sociais, as quais estão internalizadas nos indivíduos.

Ao compararmos o linchamento do vigilantismo, entende-se que ambos se aproximam, à


medida em que se referem à uma descrença, por parte da população, na ação do Estado de
garantir a justiça e, por conta disso, entendem que é dever deles garanti-la. Entretanto,
difere-se o linchamento do vigilantismo, tendo em vista que o primeiro pode ser entendido
como uma reação espontânea e sem organização prévia, diferentemente do que ocorre no
vigilantismo, no qual existe uma organização - grupos de extermínio - e que fazem tais atos
com certa frequência.

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