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Licenciatura em Psicologia Clínica 3 Ano Turma Única

Disciplina: Comportamento Desviante

Síntese Teorias e modelos psicológicos do comportamento antissocial

1.COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL
A presente síntese tem como propósito de compreender, prevenir, avaliar e tratar o
comportamento anti-social, salientar que pesquisadores de diferentes áreas buscam definir e
desenvolver teorias explicativas do comportamento anti-social.
Entretanto, apesar dos diversos níveis de explicação terem se mostrado de grande importância,
a presente síntese propõe avaliar o comportamento anti-social a partir de uma perspectiva
comportamental.
Para tanto, se faz necessário:
(1) Definir o comportamento anti-social;
(2) Explicitar a perspectiva das ciências do comportamento com relação ao
comportamento anti-social;
(3) Discorrer sobre as principais teorias acerca do comportamento anti-social.

1.2. Definição Constitutiva do Comportamento Anti-social


Utilizar-se-á nesta síntese a definição proposta pela 1American Psychological Association –
APA, cintado por Vandenbos (2010), que define o comportamento anti-social como acções
agressivas, impulsivas e às vezes violentas que violam as regras, convenções e códigos
estabelecidos de uma sociedade, tais como as leis que apoiam os direitos pessoais e de
propriedade.
A definição constitutiva do comportamento antissocial refere-se à maneira como esse
comportamento é definido e compreendido no campo da psicologia e da criminologia. Essa
definição envolve características e critérios específicos que são considerados essenciais para
identificar e classificar o comportamento como antissocial.

1 APA - Associação Americana de Psicologia

Ibraimo Manuel Culabo


(Psicólogo Clínico & Assistente Social)
O comportamento antissocial é geralmente definido como a violação persistente ou repetitiva
de normas, regras e direitos dos outros, acompanhada de comportamentos agressivos,
delinquentes ou desviantes.
Essas violações podem envolver comportamentos como agressão física, vandalismo, furto,
comportamento enganoso, mentiras constantes, falta de empatia e desrespeito pelos direitos
dos outros.
1.3. Teorias Explicativas do Comportamento Anti-social
Distintas teorias contribuíram no desenvolvimento do estudo dos comportamentos anti-sociais,
de modo que alguns têm recebido maior atenção e contribuído como base para o
desenvolvimento de estratégias de prevenção (Cordella; Siegel, 1996; et al, 1998).
Nesse contexto, optou-se por explicitar, na presente síntese, as teorias clássicas desenvolvidas
a partir do século XX, a saber:
1. Teorias da Anomia (Merton, 1938/2002)
2. Teoria da Associação Diferencial (Sutherland, 1939/1947)
3. Teoria da Aprendizagem Social Cognitiva (Bandura; Walters, 1963)
4. Teoria do Controle e Vínculo Social (Hirschi, 1969);
As teorias de base desenvolvimentistas, a saber:
1. O Modelo Integrador de Elliott (Elliott; Ageton; Canter, 1979);
2. O Modelo do Desenvolvimento Social (Catalano; Hawkins, 1996);
3. O Modelo da Coerção de Patterson (Patterson; Debaryshe; Ramsey, 1989);
4. A Teoria da Autorrejeição (Kaplan; Martin; Johnson, 1986);
5. A Taxonomia de Moffitt (Moffitt, 1993);
6. A Teoria da Conduta-Problema (Jessor, 1980);
7. A Teoria Interacional (Thomberry, 1987).

1.3.1. Teorias Clássicas dos Comportamentos Anti-sociais


1.3.1.1. Teoria da Anomia Social
Autor: (Merton, 1938/2002)
Durkheim (1894/2000) refere-se a anomia como uma quebra da capacidade de uma sociedade
para regular os impulsos naturais dos indivíduos em face a concepção de objectivos
culturalmente mal concebidos nas rápidas mudanças sociais.
A teoria da anomia, desenvolvida pelo sociólogo norte-americano Robert K. Merton, foi
originalmente proposta em 1938 e posteriormente revisada em 2002. A teoria explora as
relações entre a cultura, a estrutura social e o comportamento desviante.
Ibraimo Manuel Culabo
(Psicólogo Clínico & Assistente Social)
Merton parte da premissa de que a sociedade estabelece metas culturalmente definidas para
seus membros, como sucesso econômico, status social e realização pessoal. No entanto, nem
todos os membros têm igual acesso aos meios legítimos para alcançar essas metas. Isso cria
uma tensão entre as aspirações culturais e as oportunidades estruturais disponíveis, levando à
anomia.
Merton identifica cinco formas básicas de adaptação que os indivíduos podem adotar em
relação à discrepância entre metas e meios:
1. Conformidade: é a adaptação que envolve a aceitação das metas culturais e dos meios
institucionalizados para alcançá-las. Os indivíduos buscam o sucesso dentro das normas
estabelecidas socialmente.
2. Inovação: ocorre quando os indivíduos aceitam as metas culturais, mas recorrem a
meios não convencionais ou ilegais para alcançá-las. Por exemplo, envolvimento em
atividades criminosas ou comportamentos desviantes.
3. Ritualismo: os indivíduos que adotam essa adaptação renunciam às metas culturais,
mas seguem rigidamente as normas e os meios estabelecidos. Eles se conformam às
rotinas diárias sem aspirar ao sucesso.
4. Retraimento: os indivíduos que adotam essa forma de adaptação abandonam tanto as
metas culturais quanto os meios institucionais. Eles se retiram da sociedade e se isolam
socialmente.
5. Rebelião: ocorre quando os indivíduos rejeitam tanto as metas culturais quanto os
meios institucionais e buscam substituí-los por novas metas e meios. Eles desafiam
ativamente as estruturas existentes e buscam uma reorganização da sociedade.
Merton argumenta que a anomia surge principalmente em situações em que as oportunidades
legítimas para alcançar as metas culturais são limitadas. A falta de meios legítimos pode levar
ao surgimento de comportamentos desviantes como uma tentativa de alcançar essas metas.
No entanto, é importante ressaltar que a teoria da anomia de Merton tem sido alvo de críticas
e desenvolvimentos posteriores por outros teóricos, que enfatizaram a importância de fatores
estruturais e culturais adicionais na compreensão do comportamento desviante.

Ibraimo Manuel Culabo


(Psicólogo Clínico & Assistente Social)
1.3.1.2. Teoria da Associação Diferencial
Autor: (Sutherland, 1939/1947)
A teoria da associação diferencial, desenvolvida pelo criminologista norte-americano Edwin
H. Sutherland, foi inicialmente proposta em 1939 e posteriormente expandida em 1947. Essa
teoria busca explicar a ocorrência do comportamento desviante, incluindo a delinquência,
através das interações sociais e da aprendizagem.
De acordo com Sutherland, o comportamento desviante é aprendido por meio do contato com
outras pessoas, principalmente em grupos primários, como a família e os amigos. Ele
argumenta que a criminalidade não é resultado de características individuais inatas, mas sim
de um processo de socialização em que os indivíduos aprendem atitudes, crenças e técnicas
que são favoráveis à conduta desviante.
Sutherland enfatiza a importância das associações diferenciais, ou seja, das interações com
pessoas que têm atitudes e comportamentos desviantes.
Ele sugere que, quando as pessoas estão em contato frequente com outras que apresentam uma
visão favorável à delinquência, elas têm maior probabilidade de adotar essas atitudes e se
envolver em comportamentos desviantes.
Além disso, Sutherland destaca quatro elementos-chave da aprendizagem do comportamento
desviante:
1. Técnicas e habilidades criminais: os indivíduos aprendem as habilidades e técnicas
necessárias para cometer crimes através da observação e imitação de outros criminosos.
2. Motivações e racionalizações: a aprendizagem do comportamento desviante envolve
a internalização de motivações e racionalizações que justificam e encorajam a conduta
criminosa. Isso inclui a aceitação de crenças distorcidas, como a desvalorização das
normas sociais convencionais.
3. Definições favoráveis à violação da lei: os indivíduos aprendem atitudes e crenças que
são favoráveis à violação da lei. Isso envolve a internalização de uma subcultura
desviante que legitima o comportamento criminoso.
4. Exposição diferencial: a exposição diferencial a pessoas e contextos desviantes
influência a probabilidade de uma pessoa se envolver em comportamentos desviantes.
Quanto maior a exposição a essas influências, maior a probabilidade de adotar
comportamentos desviantes.
Sutherland ressalta que a aprendizagem do comportamento desviante ocorre principalmente
em contextos de interação social íntima, nos quais são estabelecidos laços afetivos e existe uma
transmissão efetiva de valores e atitudes desviantes.
Ibraimo Manuel Culabo
(Psicólogo Clínico & Assistente Social)
A teoria da associação diferencial de Sutherland teve um impacto significativo no campo da
criminologia e da sociologia.
Ela enfatiza a importância da interação social na aprendizagem do comportamento desviante e
destaca que a criminalidade não é determinada unicamente por características individuais, mas
é influenciada pelo ambiente social e pelas associações que as pessoas estabelecem ao longo
de suas vidas.
1.3.1.3. Teoria da Aprendizagem Social Cognitiva
Autor: (Bandura; Walters, 1963)
A teoria da aprendizagem social cognitiva, também conhecida como teoria social cognitiva, foi
desenvolvida pêlos psicólogos Albert Bandura e Richard Walters em 1963. Essa teoria propõe
que o aprendizado ocorre através da interação entre fatores cognitivos, comportamentais e
ambientais, enfatizando o papel das observações e do processo de modelagem na formação do
comportamento.
De acordo com a teoria da aprendizagem social cognitiva, as pessoas aprendem por meio da
observação e imitação de outras pessoas, bem como pela consequência desses comportamentos.
Bandura argumenta que o comportamento não é apenas resultado de estímulos externos e
respostas automáticas, mas também é influenciado pela cognição, pelas percepções e pela
interpretação das experiências.

A teoria destaca quatro processos principais envolvidos na aprendizagem social cognitiva:


1. Atenção: a aprendizagem ocorre quando os indivíduos estão atentos às informações
relevantes. Isso envolve a percepção e a selecção dos modelos que são observados.
2. Retenção: as pessoas retêm as informações observadas por meio da codificação
cognitiva. Elas armazenam modelos de comportamento em sua memória e podem
recuperá-los posteriormente.
3. Reprodução: os indivíduos reproduzem o comportamento observado, aplicando as
habilidades e estratégias aprendidas. Eles podem imitar diretamente o comportamento
ou adaptá-lo para se adequarem à sua própria situação.
4. Motivação: a motivação desempenha um papel crucial na aprendizagem social
cognitiva. Os indivíduos são influenciados pela expectativa de recompensas e punições
associadas ao comportamento observado. A expectativa de sucesso ou fracasso pode
afetar sua motivação para reproduzir o comportamento.

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(Psicólogo Clínico & Assistente Social)
Além disso, a teoria da aprendizagem social cognitiva enfatiza o conceito de autorregulação.
Isso significa que as pessoas têm a capacidade de monitorar e regular seu próprio
comportamento com base em padrões de desempenho e em suas próprias metas e expectativas.
A teoria da aprendizagem social cognitiva teve um impacto significativo em várias áreas, como
psicologia, educação e comunicação. Ela destaca a importância das interações sociais, das
observações e das modelagens para a aprendizagem e para o desenvolvimento humano,
enfatizando que o comportamento é resultado de um processo complexo que envolve fatores
cognitivos, comportamentais e ambientais.
1.3.1.4. Teoria do Controle e do Vínculo Social
Autor: (Hirschi, 1969)
Proposta por Travis Hirschi (1969) em seu livro Causes of Delinquency, a Teoria do Controle
e do Vínculo Social pressupõe que o ser humano não é inerentemente conformista, assumindo
sua natureza animal e capaz de cometer actos criminosos, de modo que a delinquência é
intrínseca à natureza humana, diferentemente da conformidade com as normas sociais.
A teoria do controle e vínculo social, desenvolvida pêlo sociólogo Travis Hirschi em 1969,
busca explicar o comportamento desviante e delinquente com base nos laços sociais que os
indivíduos estabelecem com a sociedade. Essa teoria sugere que o vínculo social fortalece o
controle social e, consequentemente, reduz as chances de envolvimento em comportamentos
desviantes.
Hirschi argumenta que existem quatro elementos centrais do vínculo social que influenciam o
comportamento desviante:
1. Envolvimento: refere-se ao grau de participação e investimento dos indivíduos em
atividades convencionais e socialmente aceitas, como trabalho, estudo, esportes,
hobbies, entre outros. Quanto maior o envolvimento nessas atividades legítimas, menor
a probabilidade de envolvimento em comportamentos desviantes.
2. Comprometimento: envolve os investimentos pessoais e as expectativas de futuro que
os indivíduos têm em relação à conformidade com as normas sociais. O
comprometimento com a realização de metas futuras, como carreira, educação ou
relacionamentos, cria um incentivo para evitar comportamentos desviantes que possam
prejudicar esses objetivos.
3. Crença: refere-se à aceitação e ao comprometimento com os valores e normas da
sociedade. Quanto mais os indivíduos acreditam nas normas sociais e no sistema de
valores predominante, maior é a probabilidade de se conformarem a essas normas e
evitarem comportamentos desviantes.
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(Psicólogo Clínico & Assistente Social)
4. Anexo: diz respeito aos laços afetivos e emocionais que os indivíduos estabelecem com
outras pessoas, como familiares, amigos, colegas e membros da comunidade. O anexo
fortalece o controle social, uma vez que a preocupação com o julgamento e a reação
dessas pessoas atua como um mecanismo de contenção do comportamento desviante.
De acordo com a teoria do controle e vínculo social, quando os laços sociais são fortes e
eficazes, eles atuam como um fator de proteção contra o comportamento desviante. Por outro
lado, quando os laços sociais são fracos ou inexistentes, os indivíduos têm maior probabilidade
de se engajarem em comportamentos desviantes, pois não enfrentam as mesmas restrições
sociais e emocionais.
Essa teoria tem sido aplicada em diversos contextos, incluindo a compreensão da
criminalidade, delinquência juvenil, comportamentos desviantes e outras formas de
transgressão social. Ela destaca a importância dos laços sociais na prevenção do
comportamento desviante, ressaltando que a presença de conexões positivas e
comprometimento com normas sociais é essencial para a conformidade e a manutenção da
ordem social.
1.4. Teorias Desenvolvimentistas do Comportamento Anti-social
As teorias desenvolvimentistas do comportamento antissocial buscam compreender como
fatores do desenvolvimento ao longo da vida contribuem para o surgimento e a persistência do
comportamento antissocial. Essas teorias enfatizam a interação entre fatores biológicos,
psicológicos e ambientais ao longo do curso de vida de um indivíduo.
1.4.1. Modelo Integrador de Elliott
Autor: (Elliott; Ageton; Canter, 1979)
Elliott, Ageton e Canter (1979), buscaram integrar elementos de outras três teorias com o
objectivo de explicar os comportamentos anti-sociais no Modelo Integrador de Elliott, a saber:
(1) A tensão (strain), proposta na Teoria da Anomia (Merton, 1938/2002), que
possibilita o comportamento anti-social diante das oportunidades limitadas em alcançar
os objectivos culturalmente valorizado na sociedade;
(2) O surgimento do comportamento anti-social mediante a falta de vínculo na
sociedade, anteriormente elencado na Teoria do Controle Social (Hirschi, 1969);
(3) A ênfase no processo de aprendizagem por meio do contacto grupal, como
encontrado na teoria da aprendizagem social (Bandura; Walters, 1965).
Desse modo, para Elliott et al. (1979) três factores são apontados como causas para a falta de
vínculo do indivíduo na sociedade:

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(Psicólogo Clínico & Assistente Social)
(1) A tensão entre as metas e os meios, que pode ser vivida na família e/ou na escola
(por exemplo: a falta de oportunidades do indivíduo para alcançar êxito académico);
(2) A desorganização social (por exemplo: residir em um bairro violento, com
dificuldades socioeconómicas e poucos laços comunitários poderá implicar em pouco
interesse na vinculação com instituições convencionais);
(3) As falhas ou falta de práticas socializadoras adequadas na família e na escola
enfraquecendo o estabelecimento de vínculos.
Entretanto, no Modelo Integrador de Elliott, a falta de vínculos convencionais não é suficiente
para que apareça a conduta desviante, de modo que o contacto com grupos desviantes aparece
como reforçador.
1.4.2. Modelo do Desenvolvimento Social
Autor: (Catalano; Hawkins, 1996)
O Modelo do Desenvolvimento social, elaborado por Catalano e Hawkins (1996), busca
organizar as evidências em torno dos factores de risco e protecção, com foco nos processos de
socialização, para explicar os comportamentos anti-sociais (Catalano; Hawkins, 1996).
O Modelo do Desenvolvimento Social, desenvolvido por J. David Hawkins e Richard F.
Catalano em 1996, é uma teoria que busca explicar o desenvolvimento de comportamentos
problemáticos e delinquentes ao longo do tempo. Essa teoria destaca a importância dos fatores
de risco e proteção na vida das pessoas e como eles interagem para influenciar o
desenvolvimento de comportamentos desviantes.
O modelo baseia-se na premissa de que o comportamento problemático e desviante é resultado
de uma interação complexa entre fatores de risco e proteção ao longo do tempo. Os fatores de
risco são características ou condições que aumentam a probabilidade de um indivíduo
desenvolver comportamentos problemáticos, enquanto os fatores de proteção são
características ou condições que diminuem essa probabilidade e promovem o desenvolvimento
saudável.

O Modelo do Desenvolvimento Social identifica três domínios principais de fatores que


influenciam o desenvolvimento de comportamentos desviantes:
1. Fatores de risco individuais: esses fatores se referem às características pessoais dos
indivíduos que podem aumentar a probabilidade de comportamentos problemáticos,
como baixo desempenho acadêmico, impulsividade, habilidades sociais deficientes,
histórico de comportamentos delinquentes, entre outros.

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(Psicólogo Clínico & Assistente Social)
2. Fatores de risco familiares: esses fatores estão relacionados às características do
ambiente familiar que podem contribuir para o desenvolvimento de comportamentos
desviantes, como conflitos familiares, baixo envolvimento parental, disciplina
inconsistente, abuso ou negligência, entre outros.
3. Fatores de risco sociais/contextuais: esses fatores se referem às características do
ambiente social mais amplo em que os indivíduos estão inseridos, como pobreza,
desigualdade social, vizinhanças violentas, acesso limitado a oportunidades
educacionais e de emprego, exposição ao crime, entre outros.
Por outro lado, os fatores de proteção atuam como contrapartidas aos fatores de risco,
reduzindo a probabilidade de comportamentos desviantes. Alguns exemplos de fatores de
proteção incluem habilidades sociais e emocionais saudáveis, apoio familiar e comunitário,
envolvimento em atividades extracurriculares, sucesso acadêmico, laços positivos com
professores e mentores, entre outros.
O Modelo do Desenvolvimento Social destaca que, para prevenir o desenvolvimento de
comportamentos desviantes, é necessário fortalecer os fatores de proteção e reduzir os fatores
de risco em múltiplos domínios da vida dos indivíduos, como a família, a escola, a comunidade
e a sociedade como um todo. Ele enfatiza a importância da intervenção precoce e do apoio
social na promoção de um desenvolvimento saudável e na prevenção de comportamentos
problemáticos e delinquentes.
Essa teoria tem sido amplamente utilizada no campo da prevenção da delinquência e do
desenvolvimento de programas de intervenção e políticas públicas voltadas para a redução de
comportamentos desviantes, principalmente entre adolescentes e jovens.
1.4.3. Modelo da Coerção de Patterson
Autor: (Patterson; Debaryshe; Ramsey, 1989)
Proposto por Patterson et al. (1989) o modelo da coerção apresenta uma perspectiva
desenvolvimentista, buscando as raízes do comportamento anti-social nas primeiras etapas da
vida.
O Modelo da Coerção, desenvolvido por Gerald R. Patterson, John Debaryshe e Edward
Ramsey em 1989, é uma teoria que busca explicar o desenvolvimento de comportamentos
problemáticos em crianças, especialmente comportamentos agressivos e disruptivos.
O modelo destaca a dinâmica coercitiva entre pais/cuidadores e crianças como um fator central
na manutenção e agravamento desses comportamentos.
De acordo com o Modelo da Coerção, interações coercitivas negativas entre pais/cuidadores e
crianças criam um padrão de comportamento problemático que se perpetua ao longo do tempo.
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Essas interações são caracterizadas por uma sequência de comportamentos negativos, como
agressões verbais ou físicas, punições severas e inconsistência nas regras e nas consequências.
O modelo identifica quatro etapas principais no ciclo coercitivo:
1. Comportamento aversivo da criança: a criança inicia o ciclo com comportamentos
aversivos, como desobediência, agressão ou birras, que desencadeiam respostas
negativas dos pais.
2. Coerção dos pais: os pais respondem ao comportamento aversivo da criança com
punições, repreensões ou restrições, geralmente de forma inconsistente ou exagerada.
3. Escalada da coerção: a criança reage às ações coercitivas dos pais com
comportamentos ainda mais desafiadores ou agressivos, intensificando o conflito.
4. Retirada dos pais: os pais, muitas vezes exaustos ou frustrados com a escalada da
coercão, acabam cedendo aos comportamentos da criança para evitar mais conflitos,
reforçando indiretamente o comportamento problemático.
Esse ciclo coercitivo tende a se repetir ao longo do tempo, resultando em um padrão persistente
de comportamento problemático e dificuldades de relacionamento entre pais e filhos.
O Modelo da Coerção destaca que as interações coercitivas entre pais/cuidadores e crianças
contribuem para a manutenção e agravamento de comportamentos problemáticos ao longo do
desenvolvimento. Ele enfatiza a importância de interromper esse ciclo coercitivo por meio de
estratégias de intervenção focadas na melhoria das habilidades parentais, na promoção de
estratégias de disciplina eficazes e na criação de um ambiente familiar positivo e de apoio.
A teoria da coerção tem sido amplamente aplicada na área da intervenção e prevenção de
problemas de comportamento em crianças, fornecendo diretrizes para o desenvolvimento de
programas de intervenção familiar e estratégias de apoio aos pais. A abordagem se concentra
na construção de relacionamentos mais positivos e saudáveis entre pais e filhos, visando
interromper o ciclo coercitivo e promover um desenvolvimento saudável e adaptativo das
crianças.
1.4.4. Teoria da Autor rejeição
Autor: (Kaplan; Martin; Johnson, 1986)
A Teoria da Autor rejeição (Kaplan; Martin; Johnson, 1986) propõe que todos os indivíduos
têm uma motivação para manter uma auto-estima positiva e comporta-se de modo que a auto-
valorização seja fortalecida, entretanto, a ocorrência repetitiva de experiências sociais
desagradáveis, como, por exemplo, a rejeição ou negligência por parte dos pais, a incapacidade
para conseguir êxito académico, leva o indivíduo a autor rejeição que acaba sentindo-se pouco
motivado em respeitar as normas dos grupos, por ser prejudicial a sua auto-estima, adoptando
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alternativas que lhe permitam recuperar a auto valorização, ou seja, a adopção de condutas
desviantes, por exemplo, consumo de drogas, delinquência e actividade sexual arriscada.
Nesse contexto, diante da ocorrência de condutas desviantes, o indivíduo tende a se envolve
com grupos desviantes e adoptar o comportamento anti-social como meio de evitar as
experiências de auto desvalorização. Como modo de enfrentamento sugerem que o abandono
das condutas desviantes pode ser alcançado mediante a mudança que permitam a manutenção
da auto-estima dentro de grupos convencionais por meio de redes de apoio social que possam
fomentar a aquisição de habilidades para o ajustamento adequado ao mundo convencional, bem
como a incorporação ao mercado de trabalho e os novos papéis familiares que podem
proporcionar novas oportunidades para a auto valorização.
1.4.5. Teoria da Taxonomia de Moffitt
Autor: (Moffitt, 1993)
A Taxonomia de Moffitt, proposta pela psicóloga Terrie Moffitt em 1993, é uma teoria que
busca explicar os diferentes padrões de comportamento delinquente e antissocial ao longo da
vida. Essa taxonomia divide os indivíduos em dois grupos principais: delinquência
adolescente-limited (AL) e delinquência com início na infância (LI).

1. Delinquência adolescente-limited (AL): Esse padrão de comportamento delinquente


é caracterizado por comportamentos antissociais e delinquentes que surgem durante a
adolescência e diminuem ou desaparecem na idade adulta. Geralmente, a delinquência
adolescente-limited está relacionada a influências contextuais, como grupos de pares
delinquentes e oportunidades para o comportamento desviante. Os indivíduos que se
enquadram nesse grupo tendem a ter um bom ajuste social e familiar no início da vida,
mas se envolvem em comportamentos desviantes em resposta a fatores de influência
temporários.
2. Delinquência com início na infância (LI): Esse padrão de comportamento delinquente
é caracterizado por comportamentos problemáticos e antissociais que têm início na
infância e persistem ao longo da vida. A delinquência com início na infância está
associada a fatores de risco mais estáveis, como desvantagens socioeconômicas,
histórico familiar de comportamento desviante, problemas de temperamento desde a
infância, entre outros. Os indivíduos que se enquadram nesse grupo geralmente
apresentam um maior grau de desajuste social e emocional ao longo da vida.

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Além desses dois grupos principais, a taxonomia de Moffitt também reconhece um terceiro
grupo chamado "grupo sem desvio", que consiste em indivíduos que não apresentam um padrão
persistente de comportamento antissocial ao longo da vida.
A Taxonomia de Moffitt sugere que os diferentes padrões de comportamento delinquente são
influenciados por interações complexas entre fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Enquanto a delinquência adolescente-limited é vista como mais influenciada por fatores
contextuais e transitórios, a delinquência com início na infância é considerada mais
influenciada por fatores de risco persistentes.
Essa taxonomia tem sido amplamente utilizada no campo da criminologia e do estudo da
delinquência, ajudando a compreender as diferentes trajetórias e padrões de comportamento
antissocial ao longo da vida. Ela destaca a importância de considerar a idade de início, a
duração e a persistência dos comportamentos delinquentes ao desenvolver estratégias de
prevenção e intervenção adequadas.
1.4.6. Teoria da Conduta-Problema
Autor: (Jessor, 1980)
Proposta por Jessor (1980), a conduta problema é caracterizada pelo seu carácter prepositivo,
instrumental e funcional, no qual o adolescente pretende alcançar metas importantes em seu
desenvolvimento, por exemplo, a aprovação ou respeito de um grupo, apresentando-se como
característico do desenvolvimento psicossocial.
A Teoria da Conduta/Problema, desenvolvida por Richard Jessor em 1980, é uma teoria que
busca entender e explicar comportamentos de risco e problemáticos em adolescentes. Essa
teoria enfoca a interação entre três componentes principais: a personalidade do indivíduo, o
contexto social e o comportamento de risco.
De acordo com a Teoria da Conduta/Problema, a personalidade do indivíduo é influenciada por
fatores individuais, como traços de personalidade, habilidades sociais, autoestima e percepção
de controle. O contexto social refere-se aos fatores ambientais e sociais, como família, pares,
escola e comunidade, que moldam as oportunidades e os estímulos para o comportamento de
risco. O comportamento de risco inclui uma ampla gama de comportamentos problemáticos,
como consumo de drogas, comportamento sexual de risco, delinquência, entre outros.
A Teoria da Conduta/Problema postula que o comportamento de risco em adolescentes é
influenciado pela interação entre esses três componentes. A teoria sugere que certos traços de
personalidade e características individuais podem aumentar a probabilidade de envolvimento
em comportamentos de risco. Por exemplo, baixa autoestima, impulsividade e sensação de falta

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de controle pessoal podem tornar os adolescentes mais propensos a buscar sensações e tomar
decisões arriscadas.
Além disso, o contexto social desempenha um papel importante na promoção ou inibição do
comportamento de risco. Fatores como a influência dos pares, modelos de comportamento na
família e a disponibilidade de oportunidades para o comportamento de risco podem influenciar
a probabilidade de um adolescente se envolver nesses comportamentos.
A Teoria da Conduta/Problema enfatiza a importância da interação dinâmica entre a
personalidade individual e o contexto social na explicação dos comportamentos de risco em
adolescentes. Ela sugere que uma compreensão abrangente desses comportamentos requer a
consideração de fatores individuais e sociais em conjunto.
Essa teoria tem sido amplamente aplicada em estudos sobre comportamento adolescente,
especialmente em relação a problemas de saúde, comportamento sexual, consumo de
substâncias e delinquência. Ela fornece um quadro teórico para entender os fatores que
influenciam a tomada de decisões e a adoção de comportamentos de risco na adolescência,
contribuindo para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e intervenção eficazes.
1.4.7. Teoria Interacional
Autor: (Thomberry, 1987)
Proposta por Thornberry (1987), a teoria aponta a delinquência como resultante de processos
bidireccionais complexos que ocorrem ao longo do desenvolvimento, não limitando o
indivíduo a “receber” as influências do meio (familiar, escolar, grupal) como propõem as
demais teorias.
Em outras palavras, a delinquência aparece como resultante da liberdade proporcionada pelo
enfraquecimento dos laços da pessoa para com a sociedade convencional (falta de apego a
espaços convencionais) e de uma situação inte-racional em que o comportamento problemático
é aprendido, mediante influência de contextos desviantes, e reforçado, pelo próprio
comportamento que acaba por influência os agentes causais.
Na prática, quando o indivíduo com laços sociais comprometidos, acaba se envolvendo com
contextos desviantes, aumenta a probabilidade de o indivíduo aprender e cometer actos
delitivos, bem como o próprio comportamento anti-social irá reforçar os laços com contextos
desviantes (Thornberry, 1996).
A teoria proposta por Thornberry (1987), além de analisar os antecedentes da conduta
desviante, admite suas consequências psicossociais, dado que estas desempenham um papel
importante no reforçamento dos comportamentos anti-sociais.

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Além disso, o modelo tem sido utilizado para explicar os factores de risco e protecção para
afiliação com gangues, utilização de drogas, comportamento delinquente e comportamento
sexual de risco.
Not@:
Por fim, compreende-se que as teorias anteriormente expostas apresentaram grandes
contribuições, reportando um quantitativo significativo de variáveis que contribuem para a
explicação dos comportamentos anti-sociais. Não obstante, o desenvolvimento de estudos que
objectivem avaliar variáveis actuantes como factores de risco frente aos comportamentos anti-
sociais torna-se de fundamental importância, sobretudo, no contexto penitenciário.

Bibliografias
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Ibraimo Manuel Culabo


(Psicólogo Clínico & Assistente Social)
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Ibraimo Manuel Culabo


(Psicólogo Clínico & Assistente Social)

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