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Sociologia e Antropologia da Religião

Brasília-DF.
Elaboração

Paulo Lima

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO.................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
NOÇÕES INICIAIS ..................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 2
PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES FILOSÓFICAS............................................................................... 16

CAPÍTULO 3
A RELIGIÃO NA SOCIEDADE.................................................................................................... 31

CAPÍTULO 4
RELIGIÃO E SOCIEDADE NOS ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS..................................................... 39

CAPÍTULO 5
SEITAS E A RELIGIÃO E SOCIEDADE.......................................................................................... 42

UNIDADE II
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO.............................................................................................................. 48

CAPÍTULO 1
NOÇÕES INICIAIS.................................................................................................................... 48

CAPÍTULO 2
A RELIGIÃO, A MAGIA E A CIÊNCIA EM FILOSOFIA................................................................... 54

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 66

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 67

ANEXO............................................................................................................................................. 69
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da
área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que
busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica
impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Neste material você terá contato (talvez o primeiro) com assuntos de extrema relevância
para o processo de desenvolvimento do pensamento humano. Terá acesso também a
informações concisas e contundentes acerca de pensamentos filosóficos que regeram e
regem a forma de pensar humana moderna e contemporânea.

Serão apresentadas, não de modo exaustivo, ideias dos principais e mais proeminentes
filósofos que tratam de sociologia, bem como seus principais pensamentos sobre religião.

Não se pode, portanto, pensar em separar sociologia de religião quando se fala de


ambas, uma vez que se faz necessário possuir algumas conceituações básicas frente ao
assunto antes de especificar-se nos assuntos decorrentes da religião.

É importante ressaltar que o aluno aplicado não se limitará a acreditar que todos os
conhecimentos virão deste material. Ao longo dos estudos fará pesquisas em paralelo
para buscar informações de assuntos que não conhece, como forma de enriquecer e
complementar seus estudos em materiais de apoio.

Bons estudos!

Objetivos
»» Analisar conceituação sociológica secular e cristã.

»» Despertar e instigar o pensamento e o posicionamento.

»» Compreender os objetivos da Sociologia da Religião.

»» Compreender e posicionar-se frente às evolucionistas antropológicas.

»» Correlacionar Sociologia e Antropologia da Religião.

»» Demonstrar concepções filosóficas sociológicas e antropológicas.

»» Capacitar o aluno para selecionar a estratégia adequada a cada categoria.

»» Ampliar o conhecimento das estratégias de suprimentos existentes.

»» Compreender os aspectos relevantes de cada estratégia.

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8
SOCIOLOGIA DA UNIDADE I
RELIGIÃO

Nesta unidade trataremos de assuntos relacionados à Sociologia e seus estudos tanto no


meio secular como no contexto religioso, cujo tema nós temos por foco. Estudaremos
concepções e pensamentos, bem como contribuições dos filósofos mais estudados neste
campo. De maneira didática, em larga escala, o conteúdo será apresentado no formato
de quadros para facilitar seu processo de aprendizagem.

CAPÍTULO 1
Noções iniciais

O homem é um ser social, já dizia Aristóteles1, mas Ferguson e Wright (2009) expõem
que Claude Saint-Simon (1760-1825), Auguste Comte (1798-1857) e Émile Durkheim
(1858-1917) são os fundadores da Sociologia da Religião no século XIX.

Como veremos adiante, a sociologia no pensamento de tais filósofos poderia ser


substituta da teologia, uma vez que essa última é a posição mais retrógada do ser na visão
desses franceses, tornando-se uma concepção frequentemente hostil ao cristianismo.

Edward Taylor (1832-1917) e Max Weber (1864-1920) também tiveram papéis de


fundamental e insofismável importância na Sociologia, este último dando o nome ao
campo de estudo “Sociologia da Religião” e aquele, uma visão mais antropológica,
fundindo a sociologia com o evolucionismo.

A Sociologia da Religião, segundo Ferguson e Wright (2009), busca colocar os fenômenos


religiosos dentro do tema social, possuindo dois atributos essenciais:

1. Examinar os efeitos desse contexto sobre a forma e a direção que a religião


assume.

2. Analisar o impacto social produzido pela religião.

1 Veja mais em: <http://projetophronesis.com/2009/01/10/o-homem-e-um-animal-social-aristoteles/>.

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UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Segundo Wach (1990, p.49), o sociólogo religioso deve-se ater a:

[...] estudar e classificar com cuidado as estruturas organizacionais


tipologicamente diferentes decorrentes de conceitos divergentes da
comunhão religiosa. Terá que delinear o seu desenvolvimento histórico,
como também terá a tarefa de investigar diversas ideias de associação
na religião, um conceito ubíquo em todos os períodos e em todas as
partes do mundo.

Para Champlin (1997), define-se Sociologia como “a ciência que trata da origem e da
evolução da sociedade humana e dos fenômenos sociais, do progresso da civilização e
das leis que controlam as instituições e funções humanas”.

Ainda na análise da gênese da Sociologia nos autores Ferguson e Wright no bom


argumentativo Novo Dicionário de Teologia:

A sociologia da religião, todavia, não deve ser tomada como que a serviço
das igrejas, muito menos como exercício de manipulação de estatísticas
sagradas, embora sejam valiosas suas informações para a missão cristã.
Tem finalidade mais ampla, a saber, a interpretação dos relacionamentos
de religião e sociedade. Trabalhando com análise histórica e cultural, a
sociologia da religião trata de questões como o padrão das ligações entre
Igreja e Estado (este, o enfoque do citado livro de Martin) e o tremendo
crescimento dos “novos movimentos religiosos” tanto no Oriente como
no Ocidente, durante as últimas décadas (FERGUNSON; WRIGHT,
2009, p.936).

Por sua vez, Cipriani (2007, p.7), em seu Manual de Sociologia da Religião pensa que
a fórmula mais simples para definir sociologia da religião consiste em:

Dizer que ela analisa a fenomenologia religiosa com o


auxílio dos instrumentos teóricos e empíricos que são
típicos da Sociologia.

A Sociologia, segundo Max Weber, é a ciência da ação social, que quer compreender
interpretando, na qual o desenvolvimento quer explicar, socialmente. Os três termos
fundamentais são, aqui, segundo Aron (2009):

1. compreender (verstehen);

2. interpretar (deuten) e;

3. explicar (erklären).

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SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

A ação social é um comportamento humano, isto é, uma atitude interior ou exterior que
se volta para a ação ou para a abstenção.

Veremos mais adiante pensamentos que se encaixaram em alguma linha sociológica


sobre a Religião, portanto já nos faz importante tê-las em mente:

Tabela 1: Perspectivas sociológicas sobre a religião.

PERSPECTIVA TEÓRICA ÊNFASE


Funcionalista A religião como fonte de interação social e unificação A religião como fonte de apoio social para as pessoas.
A religião como um possível obstáculo para a mudança social estrutural.
Conflito
A religião como uma possível fonte de mudança social estrutural (por meio da Teologia da Libertação).
Interacionista Expressão religiosa individual mediante crença, ritual e experiência.

Fonte: Schaefer (2006, p.341)

Champlin cita basicamente seis escolas de pensamento e linha de concepções sociológicas


as quais se baseiam sociólogos dos mais diversos ramos; veja abaixo:

Quadro 1: Escolas de pensamentos sociais.

Aqui as estatísticas aparecem como ferramenta fundamental, de onde se extraem conclusões baseadas em dados.
Escola Empírica
Assim o que é quantificado e empiricamente verificável é melhor do que a subjetividade social.
As tendências sociais se evoluem, assim como acredita Comte (da teologia para o positivismo), porém, não somente
Escola Evolucionária ai, mas em outros pontos como estágios sociais que partiram do feudalismo para democracia, da fase mágica para a
científica, portanto aqui, a sociedade evolui em todos os aspectos.
Foca nas diferenças sociais e compartimentalização da religião, resultando em envolvimento de instituições diversas. A
Escola Funcionalista religião, portanto aqui, é vista como uma espécie de vestimenta mental dessas instituições, uma vez que considera que
a sociedade se exprime através dos ritos e da mágica.
Aqui se destaca a história e seus conflitos sociais com potenciais mudanças. A religião é tratada como uma força que
Escola Marxista não contribui para o bem do povo, uma força usada pelas classes dominantes para oprimir as classes dominadas. As
crenças religiosas são consideradas superstições prejudiciais, que servem somente para escravizar os homens.
Acredita-se aqui que os fenômenos sociais criam as crenças, e as crenças de grupos por sua vez criam religiões
Escola Fenomenológica específicas. Deste modo, os fenômenos naturais se enquadram podendo ser forças da natureza boas ou ruins, também
criadoras de crença.
Em Max Weber tem-se o interesse principal nas tensões que ocorrem entre os valores religiosos e os de outras
Escola de Weber e considerações, como os da economia, estética, política, envolvendo até mesmo os eróticos. Com os conceitos novos
Troelstsch de liberdade, iniciativa pessoal e democracia, aqui se vê no protestantismo o surgimento de uma força necessária para
o nascimento do mundo moderno. Troeltsch também estudou atitudes dos diferentes grupos cristãos.

Fonte: Baseado em Champlin (1997) e Wach (1990).

Não deixe de atribuir noções e concepções dos filósofos acima, bem como os
que serão abordados ao longo de nosso conteúdo, com alguma perspectiva
sociológica sobre a Religião.

A religião e a humanidade estão sobremodo interligadas. Não é em vão que filósofos


das mais diversificadas eras têm-se doado tanto ao assunto. Chinoy nos leva a um
importante ponto de vista e incumbência da sociologia da religião:

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UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Seguindo as orientações de Durkheim e sobretudo de Max Weber,


a teoria sociológica moderna já não pergunta se a religião é
“verdadeira”; em lugar disso, olha para ela como um fenômeno social
encontrado em todas as sociedades. Durkheim assinalou os limites da
concepção racionalista e tentou descobrir as fontes sociais da religião
e as funções que ela exerce na sociedade. Weber via a religião uma
característica central de toda sociedade e analisou, numa série de
valiosos estudos comparativos, suas relações com o comportamento e
as instituições econômicas. Cabe, portanto, à sociologia da religião a
tarefa de explicar a universalidade, as diversas formas que ela assume
e a análise de suas funções – e disfunções – na vida da sociedade
(CHINOY, 1967, p.494).

As formas de culto são diversas, podendo ser público ou privado, simbolizando a


unidade com Deus ou deuses pagãos para com a humanidade ou a humanidade
para consigo mesmo, uma espécie de “relação social”. Tal inter-relação entre
agrupamento sociopolítico e religioso se dá desde a antiguidade (no material
“Ecumenismo” de nosso curso, exploramos mais a fundo tal contexto), desta maneira
sempre a sociedade considerou posições religiosas, haja vista a posição do Vaticano
e Papa de tamanho interesse para mídia, promulgando-se até mesmo em horários
nobres televisivos.

No geral, cerca de 85% da população mundial é adepta a alguma


religião, e somente cerca de 15% não é religiosa (SCHAEFER, 2006).
Veja tabela abaixo:

Tabela 2: Principais religiões do mundo.

Seguidores atuais Principais


Fundador (e data Textos importantes
em milhões localizações
Fé aproximada de (e localidades
(e porcentagem da dos seguidores
nascimento) sagradas)
população mundial) atualmente

Sudeste da Ásia, Mongólia,


Budismo 364 (5,9%) Gautama Sidarta (563 a.C.) Triptaka (regiões do Nepal)
Tibete
Europa, América do Norte,
Cristianismo 2.039 (33%) Jesus (6 d.C.) Bíblia (Jerusalém, Roma)
América do Sul
Textos Sruti e Smrti (sete
Índia, Comunidades Sem fundador específico
Hinduísmo 828 (13,3%) cidades sagradas, incluindo
indianas no exterior (1500 d.C.)
Varanasi)
Oriente Médio, Ásia Central, Alcorão (Meca, Medina,
Islamismo 1.226 (19,8%) Maomé (570 d.C.)
África do Norte, Indonésia Jerusalém)
Israel, Estados Unidos,
Judaísmo 14 (0,2%) Abraão (2000 a.C.) Torá, Talmud (Jerusalém)
França, Rússia

Fonte: Schaefer (2006, p.334).

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SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

Não iremos aqui tratar em detalhes de cada uma dessas religiões, tampouco das
mais aderidas além destas. Diante disso, o bom aluno fará pesquisas sobre as
religiões que desconhece para fortalecer seu pensamento e posicionamento2.

Filósofos – Uma visão geral

Por ser um assunto um tanto quanto complexo e vasto, precisamos encaixar minimamente,
de certa forma lógica, o que estudaremos ao longo do material. Desta forma começaremos
com uma visão geral das concepções dos filósofos mais proeminentes neste campo,
veremos assuntos que tangenciam nosso contexto, um pouco mais a fundo a visão dos que
de fato influenciam ramos diversos filosóficos e esboçaremos alguns temas importantes
que não poderão deixar de serem citados.

Dificilmente consegue-se resumir em poucas palavras os pensamentos das mentes


mais eloquentes neste campo da ciência, a Sociologia, com vistas aos estudos e atitudes
antropológicas. Contudo, antes de prosseguirmos e nos aprofundarmos um tanto
quanto nas concepções individuais de cada proeminente pensador filosófico, vejamos
alguns comentários, em caráter sintético, de Cipriani (2007):

Quadro 2 – Pensamentos de filósofos frente à Sociologia da Religião.

Este sociólogo distingue religiosidade de religião, em que religiosidade precede a religião enquanto forma interior de experiência
humana, desta forma não seria mais que uma historicização, ou seja, uma transposição empírica, concretizando o plano
Simmel
organizativo, no que tange as diferentes ramificações da igreja. A religião é produto cultura, criado por meio da longa frequência
interpessoal e mediante numerosas experiências interativas.
Em suas concepções Física Social (nada mais é do que o atual termo utilizado Sociologia. Ele [Comte] acredita que os estudos
sociais representavam em semelhante grau os estudos físicos científicos e empiristas, isento de subjetividade, mas baseado em
Comte dados empíricos). Fundador da filosofia positivista, Comte cria que a teologia é um pensamento ultrapassado da sociedade, a
metafísica é melhor e mais confiável, porém sempre seu objetivo era alcançar o positivismo e defendia que todo homem deveria
buscá-lo, pois neste sim, residiria a objetividade humana.
“Uma religião é um sistema solidário de crenças e de práticas relativas a entidades sagradas, isto é, separadas, interditas;
crenças e prática que unem em uma mesma comunidade moral, chamada igreja, todos os aderentes”. Os conteúdos
Durkheim substantivos são aqui as crenças, as práticas, as inatingíveis entidades sagradas, a igreja. Uma definição anterior [DURKHEIM
1996:67] fala, ao contrário, de fenômenos religiosos e não de religião, enquanto não acena à comunidade e nem seque ao
sagrado.
Não forneceu uma definição precisa da religião. Podemos, entretanto, conseguir alguns indícios significativos dela, dispersos em
suas obras [...] Insiste, ao invés, sobre a dimensão da ação, quando afirma que “o agir religiosamente ou magicamente orientado
Weber toma sua consistência originária em um processo mundano [...]. Há, portanto, uma sólida relação entre dimensão religiosa e
dimensão terrena [...]. O que permanece definido, em todo caso, é a intenção de Weber: estudar o agir religioso coletivo, isto
é, em comunidade, e a referência a potências sobrenaturais.
A função da religião, para Luckmann, é a de reduzir a incerteza e a complexidade, de determinar aquele que aparece
indeterminado, de tornar acessível o inacessível. A própria dimensão sobrenatural torna-se útil enquanto serve para reduzir
Luckmann a complexidade. Mas, sobretudo, a religião é um sistema no qual a referência ao divino falta, aquele que dá significado está
ausente. A única referência do sistema religioso é a si próprio. Ele é autopoiético, autocriativo, autoconstrutivo. A religião é
definível como concepção do mundo.

2 Veja mais números e informações em: <http://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo?view=noticia&id=1&idnoticia=2170&t=


censo-2010-numero-catolicos-cai-aumenta-evangelicos-espiritas-sem-religiao>. <http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
geral/o-ibge-e-a-religiao-%E2%80%93-cristaos-sao-868-do-brasil-catolicos-caem-para-646-evangelicos-ja-sao-222/>.
<http://top10mais.org/top-10-maiores-religioes-do-mundo/>.

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UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Dentro de um pensamento positivista, Freud não via nada de sobrenatural na religião. Via a religião como um consolo ilusório
para evitar a neurose, uma espécie de consolo para solução de problemas. Uma projeção da imagem paterna, através de
direitos e deveres, em Deus. Freud via nisto um pensamento infantil, assim como a vida eterna, com isto o fim das religiões
Freud para ele era certo quando a humanidade atingisse o ponto de maturidade ideal, não precisando mais de Deus para preencher
pensamentos infantis. Deste modo, a ciência, para ele, se tornaria o fator direcional no futuro, abdicando a crença religiosa.
Como sempre estudo pessoas psicologicamente doentes, ele atribui a depravação até mesmo às crianças (uma espécie de
Calvino secular), deste modo, pouco estudou de fato a religião saudável.
William James popularizou o termo ´pragmatismo´; A consciência seria uma função, e não uma entidade. Via que a posição
humana não é aceita como apenas neutra, mas partidária. Via que existem evidências que comprovam a espiritualidade
humana, a qual os céticos não creem, mas também defendia que os religiosos superestimam as evidências em seu favor.
James
James chegou à conclusão de que há um aspecto nas experiências humanas que merece ser investigado, embora ultrapasse à
razão, conferindo-nos uma base para crer na existência da alma e em sua sobrevivência diante da morte física, além de nos dar
um ângulo diferente de considerarmos a atual natureza humana e suas potencialidades.
O filósofo e teólogo Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher considera a religião essencialmente como um “sentimento de
Schleiermacher dependência absoluta” do ser finito em relação ao infinito, entendido como realidade do mundo ou também como Deus. O
“sentimento” ou “autoconsciência absoluta” é a consciência religiosa de um ser divino.
Para ele não é o homem à imagem de Deus, mas é este último que resulta uma sombra projetada pelo próprio homem, que se
“auto-aliena” no absoluto da divindade. A religião, e a cristã em particular, é a relação do homem com sua essência. Deus, pois,
é fruto da mesma essência humana, que é elevada ao plano metafísico e se torna objeto de devoção. O divino é, de qualquer
Feuerbach modo, profunda e essencialmente humano [...]. A essência do homem não está em Deus e na religião, e sim no próprio
homem, Deus e as religiões são uma alienação, um sair do homem para fora de si mesmo. É preciso, ao contrário, voltar ao
homem, antropologizando a religião e Deus, por meio da consciência de que se trata de projeções humanas. Negando a Deus e
à religião, se afirma o homem. E, portanto, o homem se torna Deus, não o contrário.
Para Marx a religião não é suficientemente operativa, permanecendo no limiar da revolução, sem jamais atravessá-lo. Lutar
Marx contra a religião é, para Marx, fundamental, uma vez que significa lutar contra a própria realidade dada. Para ele é simplesmente
uma alienação, assim como um sol ilusório, ainda sim, não é um bom crítico do capital quem não é um bom crítico da religião.

Fonte: Baseado em Cipriani (2007) e Champlin (1991).

Tais contextos filosóficos sobre a sociologia nos é insofismavelmente importante,


uma vez que não podemos tratar ou sequer tangenciar Sociologia da Religião se
não tivemos ao menos um conhecimento básico do assunto e seus respectivos
colaboradores.

Ainda temos outros filósofos importantes que contribuíram para o desenvolvimento da


sociologia, são eles:

Quadro 3: Conceituações e contribuições de filósofos para a Sociologia.

De acordo com Spencer, a sociedade assemelha-se a um organismo biológico, sendo o crescimento caracterizado pelo
aumento da massa; o processo de crescimento dá origem à complexidade da estrutura; aparece nítida interdependência entre
as partes. A vida da sociedade e a do organismo biológico são muito mais longas do que a de qualquer de suas partes ou
Herbert Spencer unidades. Especificamente no que tange às sociedades, para Spencer, a História demonstra a diferenciação progressiva das
(1820-1903) mesmas de pequenas coletividades nômades, homogêneas, indiferenciadas, sem qualquer organização política e de reduzida
divisão de trabalho, as sociedades tornam-se cada vez mais complexas, mais heterogêneas, compostas de grupos diferentes,
mais numerosos, onde a autoridade política se torna organizada e diferenciada, aparecendo uma multiplicidade de funções
econômicas e sociais, exigindo maior divisão de trabalho.
Para o alemão a vontade essencial compreende a tendência básica, instintiva e orgânica, a qual norteia a atividade humana; a
Ferdinand Tönnies vontade arbitrária é a forma deliberada, propositada, voluntária, que determina a atividade humana em relação ao futuro. Tais
(1855-1936) vontades essenciais são (1) desejo, (2) hábito e (3) memória. Já a vontade arbitrária se apresenta também nas três formas de
(1) reflexão, (2) conveniência e (3) conceito.
O francês salientou os três processos básicos que são o da (1) repetição, (2) oposição e (3) adaptação. A primeira adora a
Gabriel Tarde forma de imitação a nível psíquico e social. Já a oposição toma as formas de (a) ritmo e (b) conflito. Adaptação é o fenômeno
(1843-1904) que dá origem a um novo equilíbrio, depois da oposição. Cada nova adaptação é, na verdade, uma invenção, de modo que o
processo se repete continuamente: invenção-imitação, oposição e adaptação.

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SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

O norte-americano tem como enfoque primordial a Teoria Orgânica, na qual a sociedade se origina de um modo complexo de
Charles H. Cooley forças e processos que evoluem através do processo de interação, criando, com isto, um todo unificado, onde cada uma das
partes tem influência sobre as demais. Sociedade e indivíduos, para ele, são simplesmente aspectos provenientes da mesma
(1846-1929) coisa, e não fenômenos separados: um grupo, ou uma sociedade, não existe fora de uma visão coletiva das pessoas. Assim
como o indivíduo, ou pessoa social, não existe isolado do grupo.
Italiano, que teve como maior contribuição a Teoria Sociológica. Concepção a qual a sociedade é vista como um sistema
Vilfredo Pareto em equilíbrio, compreendendo por sistema todo consistente, formado de partes interdependentes; deste modo, a mudança
em qualquer parte afeta as outras e o todo. E qualquer tempo, o estado de um sistema social é determinado por algumas
(1848-1923) condições, como (1) meio extra-huamano, condições físicas (solo, clima, flora e fauna); (2) elementos exteriores à sociedade
estudada (sociedades e/ou estados anteriores) e (3) elementos internos (sentimentos, e interesses).
O russo Sorokin, naturalizado americano, conceitua “Sociologia” como o estudo das características gerais comuns a todas
Pitirim A. Sorokin as classes de fenômenos sociais, da relação entre essas classes e da relação existente entre os fenômenos sociais e os
não sociais. Seu conceito de interação sociocultural inclui três componentes não separáveis e inter-relacionados de (1)
(1889-1968) personalidade; (2) sociedade e (3) cultura. Os sistemas formados socioculturais são denominados supersistema, em que se
leva em conta o (1) sensivo; (2) ideacional; (3) idealístico e (4) misto como fundamento da teoria de transformação social.
Norte-americano, que teve como primeira contribuição a indicação do objeto de estudo da Sociologia, ou seja, a ação
Talcott Parsons social. O cerne de suas concepções é a Teoria Sociológica, pois para ele a estrutura é a resultante do processo de
institucionalização, isto é, tradução dos elementos culturais – ideias, valores e símbolos – de caráter geral em normas de ação.
(1902-1979) Para ele, quatro problemas são fundamentais de ajustamento, enfrentados por qualquer sistema social, os quais fazem parte a
(1) estabilidade normativa; (2) integração; (3) consecução e (4) adaptação.
Também norte-americano, Merton combate a pressuposição básica de que todos os elementos da cultura são funcionalmente
Robert K. Merton inter-relacionados, ou seja, que os itens culturais e individuais se integram em sistemas. Desenvolveu novos conceitos
(1910-2003) funcionais destinados a tornar relativos os postulados criados por ele, onde a (1) noção de equivalente funcional ou de
substituto funcional; (2) noção de disfunção; (3) distinção entre função manifesta e latente, fazem parte.

Fonte: Baseado em Lakatos (2010, p. 47-59).

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CAPÍTULO 2
Principais contribuições filosóficas

Figura 1.

Fonte: http://viadoconhecimento.com/images/Auguste-Comte-1850.jpg.

Auguste Comte (1798-1857)


Assumidamente um teleológico (não confundir com teólogo), Comte acredita em
um caminho para um fim melhor e progressivo na história, assim como um bom
evolucionista. Sua concepção divide-se em três etapas, em que (1) a teológica
predominante da Antiguidade a Idade Média, a qual a explicação de tudo envolvia apenas
aspectos teológicos; (2) a metafísica, a qual envolvia explicações filosóficas da origem
e pensamentos do porque das coisas por parte da humanidade e a última (3) positiva3,
iniciada após o século XIX e sequencialmente em crescimento, em que explica-se tudo
somente por meio empírico e científico, era a qual o ser humano não mais precisa de
religião, tampouco de Deus, mas por meio da objetividade de leis científicas.

Comte é o fundador de uma religião, e assim se considerava. Acreditava


que a religião da nossa época pode e deve ter inspiração positivista.
Não pode ser mais a religião do passado, que implica um modo de
pensar ultrapassado. O homem de espírito científico não pode crer na
revelação, no catecismo da Igreja, ou na divindade, de acordo com a
concepção tradicional. Por outro lado, a religião corresponde a uma
necessidade permanente do homem. O homem tem necessidade
de religião porque precisa amar algo que seja maior do que ele. As
sociedades têm necessidade da religião porque precisam de um poder
espiritual, que consagre e modere o poder temporal e lembre aos homens
3 Concepção duramente criticada pelo filósofo da ciência Karl Popper, uma vez que para ele em A Lógica da Pesquisa Científica
(1975), nós nos aproximamos da verdade, mas não há meios de chegar a ela de maneira absoluta.

16
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

que a hierarquia das capacidades não é nada ao lado da hierarquia dos


méritos. Só uma religião pode pôr no seu verdadeiro lugar a hierarquia
técnica das capacidades, e lhe sobrepor uma hierarquia eventualmente
contrária, a hierarquia dos méritos. A religião que puder atender a
essas necessidades constantes da humanidade, que busque o amor e a
unidade, será a religião da humanidade [...]. O Grande Ser que Auguste
Comte nos convida a amar é o que os homens tiveram ou fizeram de
melhor (ARON, 1999, p.103).

Para Comte, portanto, a lógica da evolução da história humana se dá por essas três eras,
onde de maneira crescente tem-se a teologia como a de menor importância. Para Thomas
Kuhn (1964) a ciência tende a uma normalidade em seus critérios, instaurando-se uma
anomalia, dá-se que uma crise, etapa a qual tenta-se resolver o problema de diversas
formas, porém, como falamos, a objetividade, ao contrário do que Comte acredita, não é
certa, mas contaminada por teorias (ideia que converge com concepções popperianas).

Existem três princípios básicos nas concepções de Comte:

Quadro 4: Três princípios básicos dos estudos de Comte.

O progresso dos conhecimentos é O homem é o mesmo por toda a


Prioridade do todo sobre as partes
característico da sociedade humana parte e em todos os tempos
Significa que, para compreender e explicar um
A sucessão de gerações, com seus
fenômeno social particular, devemos analisá-lo
conhecimentos, permitem uma acumulação
no contexto global a que pertence. Considerava
de experiências e de saber que constitui um Em virtude de possuir constituição biológica
que tanto a Sociologia Estática quando a
patrimônio espiritual objetivo e liga as gerações e sistema cerebral.
Dinâmica deveria analisar a sociedade de uma
entre si; existe uma coerência entre o estágio
determinada época, correlacionando-a com sua
dos conhecimentos e a organização social.
História e com a História da Humanidade.

Fonte: LAKATOS (2010, p.45-46).

Tal conceito de Comte é de fundamental importância, uma vez que influenciou diversos
filósofos e posições positivistas atuais:

Teologia Metafísica Positivismo

Naturalmente percebe-se que as posições originais teológicas são de certo modo


“ultrapassadas” para Comte, cercando-o do pensamento único empirista em que tudo
se explica por meio de dados e resultados científicos ainda não descobertos pelo homem,
mas que no “mundo ideal” poderiam ser.

Defendia o ponto de vista de somente serem válidas as análises das


sociedades quando feitas com verdadeiro espírito científico, com

17
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

objetividade e com ausência de metas preconcebidas, próprios das


ciências em geral. Os estudos das relações humanas, assim, deveriam
constituir uma nova ciência, a que se deu o nome de “Sociologia”.
Esta não deveria limitar-se apenas à análise, mas propor normas de
comportamento, seguindo a orientação resumida da famosa fórmula
positivista: “saber para ver, a fim de prover” (LAKATOS, 2010, p.45).

Max Weber (1864-1920)


Figura 2.

Fonte: http://versobooks-prod.s3.amazonaws.com/images/000002/450/Weber__Max-777bd3f095c938b04d08f286b5916778.jpg

Para o filósofo alemão Max Weber, em sua notável e famosa obra A Ética Protestante
e o Espírito do Capitalismo, o pensamento da origem social do capitalismo hodierno
é proveniente do movimento protestante calvinista, de acordo com a cosmovisão de
predestinação teológica de João Calvino. Weber não via um futuro promissor da religião
na Idade Moderna.

A sociedade religiosa, portanto, afetou o modo de ver o mundo moderno e contemporâneo,


e não o contrário. Por meio do pensamento “herético” protestante da Idade Média em
Martinho Lutero, tem-se uma amplitude de pensamento e do ser, transformando o Times
is Money de Benjamin Franklin, também citado por Weber, no mantra social capitalista.

Sabe-se que Weber atribui o espírito de capitalismo ao sentimento capitalista, à ética


protestante capitalista, em que um cristão predestinado à salvação tem sua certeza
quando aborrece o pecado e o resiste, bem como administra seus recursos de maneira
correta (CALVINO, As Institutas, cap. X).

Não somente na Sociologia mas também na Economia, na História, no Direito e em


outras ciências que de suas concepções se utilizem, Weber é encontrado e referenciado
como um autor único por sua nova análise e cosmovisão ímpar das coisas.

18
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

Max Weber, de fato, não cria na Física Social de Comte, uma vez que acredita que a
total neutralidade e imparcialidade na observação social é impossível, portanto a
Física Social não seria objetiva em sua totalidade, desta forma a aplicação do termo
“sociologia”, muito embora também não cria que deveria ser partidária, admitia a
demarcação ciência e metafísica.

O Capitalismo para Weber

Para ele o capitalismo é uma forma universal de modernização e racionalização do


mundo ocidental.

Um sinal de que o indivíduo é predestinado por Deus é o fato de que ele acumula
riquezas pelo trabalho duro, porém, desprezando gastos fúteis como luxo, de acordo e
em função da ética do pensamento calvinista.

Holanda, EUA e Inglaterra, países capitalistas, são berços protestantes do espírito do


capitalismo para Weber. O negar o ócio (negócio) é justamente contrário ao esvaziamento
do ser de não trabalhar, se não acumular bens. Não trabalhar, portanto, no ponto de
vista Weberiano frente à ética capitalista protestante, passa a ser um pecado. Como
anteriormente citado, essa fusão se dá através de pensamentos calvinistas. Deste modo,
Weber se destaca por fazer a fusão do capitalismo com o protestantismo.

Cipriani (2007, p.106) entende os pensamentos de Weber da seguinte forma:

Para Weber, a análise marxista do capitalismo resulta demasiadamente


determinista em sentido econômico, ao passo que, a seu ver, um peso
importante seria exercido pelas ideias, especialmente em nível religioso.
Em outros termos, o calvinismo (religião de sua mãe) ofereceria a base
ideológica para o desenvolvimento capitalista. Com efeito, do conceito de
predestinação derivaria a necessidade de mostrar a própria pertinência
ao grupo dos efeitos, por meio da prova da própria prosperidade,
alcançada graças ao bom êxito das atividades econômicas [...]. De tudo
isso brotaria notável produtividade, que leva a um acúmulo de capital,
dado que não se goza das riquezas adquiridas, mas se é induzido a
reinvesti-las em posteriores iniciativas [...]. Reconhece ao capitalismo
o fato de ser uma força decisiva na realidade social moderna, mas evita
atribuir a uma só matriz a origem das dinâmicas sociais. Com efeito, ele
pensa em duplo peso, tanto econômico quanto religioso.

Vimos aqui que a locomotiva da propulsão capitalista fora, em Weber, o espírito ascético
protestante, em que, ao se livrar de todos os gastos da carne e em seus mais diversos

19
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

fins e ramificações, onde havia concentração protestante, desde a Idade Média, havia
concentração monetária, tornando os habitantes das terras ocupadas pelos de natureza
protestante, em sua grande maioria, detentor de muitos bens.

Religiões e a mudança social em Weber

É notório dentro da história que o sistema capitalista surgiu concomitante ao crescimento


da população protestante. Juntamente com isto, perguntou-se de modo avassalador
nas mentes intelectuais como se deu esse processo e, é exatamente por isso que Max
Weber se tornou uma dos mais célebres filósofos modernos, pois com ousadia e boa
dose de comprovação histórica de dados, Weber explicou como isso se deu.

Como exposto acima, Weber esboçou de forma clara e precisa que a busca de lucros e
ascetismo pelos protestantes foram os principais fatores que levaram ao pensamento
capitalista, ou em suas palavras “espírito capitalista”.

A qualidade singular do espírito capitalista, que Weber procurou explanar,


não reside apenas, todavia, na ênfase que empresta ao lucro, porém
no valor ético imputado ao ganho econômico e na unidade racional de
propósito com que se esperava que o homem se empenhasse em atividades
econômicas. A origem desse “espírito” capitalista, que imprimiu o ímpeto
emocional e ministrou o fundamento ideológico para as instituições
evolventes da economia de mercado livre, Weber encontrou-se em menor
dose em Lutero mas, sobretudo, nos ensinamentos de Calvino e nas
doutrinas das seitas protestantes ascéticas posteriores [...]. Em contraste
com o ideal monástico, que dominou o catolicismo medieval, tanto Lutero
quanto Calvino ressaltaram a dedicação à vocação da pessoa, à ocupação
que lhe fora atribuída por Deus [...]. Do bom cristão se exigia, não que se
afastasse da vida social, mas que a reordenasse segundo diretrizes cristãs
ascéticas (CHINOY, 1967, p.510-511).

Como afirmamos, a concepção calvinista de predestinação está sobremodo envolvida,


dessa forma, o Ocidente foi envolvido nos pensamento capitalista pelo fator religioso, a
qual Weber traz em sua obra de modo categórico e empírico.

Após essa época, o protestantismo assumiu outro papel no palco capitalista. O


decréscimo na crença de predestinação e teologia do século XVII e XVIII a um sistema
não absorvido pela religião, a sociedade passa a ver Deus de outro modo.

O humanismo do século XIX se deu pelos ensinamentos religiosos desse tempo, levando
a Inglaterra a abolir a escravatura, bem como tornou a vida dos operários industriais
um tanto quanto menos escorchantes.
20
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

É nítido que a influência religiosa teve fulcral parte na sociedade e não o contrário, ritos
e mitos sempre estiveram presentes, e essa experiência tem total ação no “mundo” ou
em outros termos, o secularismo para o cristianismo.

A atitude com relação ao “mundo” que é determinada e motivada por


uma experiência religiosa característica, influencia a apreciação que o
homem faz dos aspectos básicos da existência humana e das formas
da atividade humana [...] Weber quem apresenta um perfil tipológico
ilustrativo a partir deste ponto de vista, perfil que pode ser ampliado.

As interpretações de mundo das diferentes culturas (xiitas, hinduístas, budistas,


confucionistas, taoístas, maoístas, parsismo entre outros) variam de uma para a outra
de modo acentuado ou não. Exemplos como:

»» Cristianismo e judaísmo veem de modo “bom” diversos aspectos do mundo,


haja vista as Sagradas Escrituras sobre a criação e o uso do adjetivo “bom”4.

»» Gnosticismo, Mandeísmo, Maniqueísmo e Budismo assumem


interpretação negativa com relação ao mundo.

Obviamente, até mesmo esta posição pode gerar dúvidas, uma vez que Cristo afirmou
que se amigo do mundo, inimigo de Deus5, contudo, aqui trata-se da criação como boa
e não as consequências de efeitos humanos e espirituais.

O essencial para Weber e também para seus comentaristas, é a análise de


uma concepção religiosa do mundo, isto é, de uma atitude com relação à
existência por parte dos homens que interpretavam sua situação a partir
de certas crenças. Max Weber quis demonstrar principalmente a afinidade
intelectual e existencial entre uma interpretação do protestantismo e
determinada conduta econômica. Esta afinidade entre o espírito do
capitalismo e a ética protestante torna inteligível o modo como uma forma
de conceber o mundo pode orientar a ação. O estudo de Weber permite
compreender de forma positiva e científica a influência dos valores e das
crenças nas condutas humanas. Mostra a maneira como opera, através
da história, a causalidade das ideias religiosas (ARON, 1999, p.484).

A política para Weber


Somente o Estado, por exercer violência legalmente, define Weber, é o detentor do
monopólio da violência, isto é, o Estado é a fonte do direito à violência (haja vista a
força policial, repressões e proibições são direitos do Estado).
4 Gn 1.
5 Tg 4.4.

21
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Cipriani (2007) trata sobre a concepção weberiana da política, a qual se faz fundamental
discrepância entre (1) autoridade carismática, (2) tradicional e (3) legal. Desta forma,
são os três fundamentos da legitimidade do Estado para Max Weber:

1. Poder tradicional: submete-se ao poder por uma questão de tradição.

2. Pelo poder carismático: tudo que se remete ao sagrado


(aproximando-se muito do pensamento de Durkheim) através de magos
e feiticeiros “mais poderosos” ou pelo poder divino, tal como visto na
Idade Média e Moderna; reis e papas que atribuíam seu poder ao poder
divino e o povo se submetia a eles.

3. Poder legal: obedecer a um determinado poder de acordo e em função


única da lei.

No entanto, existem interesses pessoais envolvidos, assim como o filósofo da ciência


Thomas Kuhn vê na própria ciência subjetividade da análise de dados, portanto toda ela
se torna subjetiva, mesmo empírica, uma vez que um cientista possui valores pessoais
e comunitários (de uma determinada sociedade científica), logo seu prestígio pode
ser afetado, cosmovisão social entre outros fatores que tendem a alterar os resultados
obtidos, desta forma, acredita Weber, que existem interesses pessoais para obediência,
seja ele por troca de recursos financeiros ou mesmo o prestígio social (como títulos e
cargos no poder).

O conceito de patrimonialismo para Weber é uma maneira que o poder público trata
das coisas públicas como se fosse privada. Pensamento que insiste até os dias de hoje.

A Sociologia e a conduta social para Weber

Sendo a validade das considerações de Weber e seus estudos tão importantes, vale a
pena esmiuçar mais um pouco o que este filósofo pensa:

Segundo Weber, a Sociologia é o estudo das interações significativas de


indivíduos que formam uma teia de relações sociais, sendo seu objetivo
a compreensão da conduta social. Esta ênfase dada à compreensão
subjetiva levou Weber a definir ação social como a conduta humana,
pública ou não, a que o agente atribui significado subjetivo (LAKATOS,
2010. p.54).

Ainda segundo o autor (LAKATOS, 2010, p.54), a conduta social se apresenta de quatro
maneiras ou categorias:

1. a conduta tradicional, relativa às antigas tradições;


22
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

2. a conduta emocional, reação habitual ou comportamento dos outro,


expressando-se em termos de lealdade ou antagonismo;

3. a conduta valorizadora, agindo de acordo com o que os outros


indivíduos esperam de nós;

4. a conduta racional-objetiva, que consiste em agir segundo um plano


concebido em relação à conduta que se espera dos demais.

Sobre a diferenciação social e religião, sendo a religião e sua expressão fundamental para
uma sociedade (visão sociológica não unânime), percebe-se que a influência decisiva da
diferenciação social e estratificação sobre a expressão de experiência religiosa, ainda
sim a diferenciação social pode trazer variadas ênfases em ideias e ritos particulares
na forma de expressar tradicionalmente a experiência religiosa (WACH, 1990). Dentro
deste contexto, o autor vê em Weber:

Max Weber discute a questão sobre a que objetivos específicos estavam


sujeitas as várias religiões nas diferentes camadas sociais (“was Religionen
den verchiedenen sozialen Schichten leisten mussten”). Ele admite que a
necessidade de redenção (Erlösungsbebedürfnis) constitui expressão de
uma necessidade específica ou de um tipo de sofrimento, mas com razão
sustenta que estas duas realidades nem sempre têm caráter social ou
econômico, embora este não seja o caso, o mais das vezes. De acordo com
Weber, muito frequentemente os grupos economicamente privilegiados,
que em razão de sua posição estão menos propensos a sentir a necessidade
de redenção, apegam-se à religião para “legitimar” sua posição e justificar
sua conduta (WACH, 1990, p.287).

Durkheim e a objetividade Sociológica

Figura 3.

Fonte: http://www.larousse.fr/encyclopedie/data/images/1310778-%C3%89mile_Durkheim.jpg

23
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Émile Durkheim (1858-1917)


Nasceu em Epinal, na Alsácia, descendente de uma família de rabinos. Filósofo que tem
como principais obras Da divisão do trabalho social, As regras do método sociológico,
O suicídio, Formas elementares da vida religiosa, Educação e sociologia, Sociologia e
filosofia e Lições de sociologia (obra póstuma).

Os famosos fatos sociais de Émile Durkheim estão diversificados em práticas e ações


humanas, costumes e leis, a moral e a ética também são exemplos de fatos, bem como
família e a religião, onde para ele ninguém nasce sabendo conviver, mas aprende com
outros seres humanos de modo social. Portanto, a religião, nesta cosmovisão é seguida
apenas de tradição, onde aprende-se uma determinada forma de adoração à Deus por
meio do que criam os pais e avós daquele cristão; logo o fato que moldou sua estrutura
de pensamento religioso.

De acordo com as concepções de Durkheim, o fato social é experimentado pelo


indivíduo como uma realidade independente e preexistente. Desse modo, existem três
características básicas que distinguem os fatos sociais:

Quadro 5: Características básicas que distinguem os fatos sociais.

A força que os fatos exercem sobre os indivíduos, dirigindo-os a conformarem-se às regras da sociedade em que
vivem, independentemente de sua própria vontade ou escolha. Tal força manifesta-se quando o indivíduo desenvolve
Coerção Social
ou adquire um idioma, quando é criado e se submete a um determinado tipo de formação familiar ou ainda quando
(Coercitividade)
está subordinado a certo código de leis ou regras morais. Dentro dessas circunstâncias, o ser humano experimenta a
força da sociedade sobre si.

Eles existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente. Ao nascer,
Exteriores aos Indivíduos encontram-se regras sociais, costumes e leis que os indivíduos são coagidos (somos todos) a aceitar por meio de
(Exterioridade) mecanismos de coerção social, como a educação. Não é dada, portanto, a possibilidade de opinar ou escolher, sendo
assim independentemente de nós, de nossos desejos e vontades.

Torna-se social todo o fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos ou, ao menos, na maior parte deles;
que ocorre em distintas sociedades, em um determinado momento ou ao longo do tempo. Por essa generalidade, os
Generalidade acontecimentos manifestam sua natureza coletiva, sejam eles costumes, os sentimentos comuns ao grupo de pessoas,
as crenças ou os valores e princípios. Formas de habitação, sistemas de comunicação e a moral que existe em uma
sociedade apresentam essa generalidade.

Fonte: Costa (2005, p.81-83).

Tais fatos, em outras palavras, para Durkheim em As Regras do Método


Sociológico, podem ser gerais, uma vez que englobam fatores diversos difusos
socialmente; externos, pois como visto, não são gerados por conta própria
(como aprender andar de bicicleta, não se aprende sozinho, tampouco constrói-
se a mesma sem base, mas aprende-se com alguém que já o fez no passado e já
a construiu) e independentes, pois independem da existência de um novo ser, de
certa forma, como exemplos das ideologias passadas. Tais concepções convergem

24
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

em alto grau com os pensamentos do também francês Augusto Comte, criador a


sociologia positivista.

Como visto em “Ética Cristã” (material integrante do curso de Ciências da Religião),


muitas práticas sociais, ou fatos sociais na visão durkheimiana, são coercitivas, pois
infere-se que, de acordo e em função da crença religiosa ou valores seculares baseados
em valores morais diversos, têm-se leis que regulamentam a aceitação e práticas diversas
em determinados países, haja vista o aborto, pena de morte, eutanásia e entre outros. O
sociólogo, por sua vez, ainda em Durkheim, deve se ater aos fatos sociais e estudá-los.

Émile Durkheim foi talvez o primeiro sociólogo a reconhecer a


importância fundamental da religião nas sociedades humanas.
Ele constatou seu apelo para o indivíduo, porém, mais importante,
enfatizou o impacto social da religião. Na opinião de Durkheim, a
religião é um ato coletivo que inclui várias formas de comportamento
das pessoas na sua interação com as outras [...]. Durkheim definiu
religião como um “sistema unificado de crenças e práticas referentes
a coisas sagradas”. Na sua opinião, a religião envolve um conjunto de
crenças e práticas que são de sua propriedade exclusiva, ao contrário
de outras instituições sociais e forma de raciocínio (SCHAEFER,
2006, pp.329-331).

O francês via uma espécie de “natureza coletiva da religião”, como a experiência


religiosa do renascimento, tal como o batismo nas águas e/ou no Espírito Santo. Veja
alguns números:

De acordo com uma pesquisa de 2003 nos Estados Unidos, 42% da


população tiveram uma experiência cristã de renascimento em algum
momento de sua vida. Uma pesquisa anterior descobriu que os batistas
do sul (75%) eram os que tinham mais probabilidade de relatar esse
tipo de experiência. Por sua vez, apenas 21% dos católicos e 24%
dos episcopais declaram que haviam nascido de novo (SHAEFER,
2006, p.337).

É evidente que rituais e crenças religiosas sempre existiram, variando de acordo com
seus usos e costumes6.

Durkheim vê o sagrado e o profano das seguintes maneiras, baseando-se em Schaefer


(2006, p.331):

6 I Co 11.

25
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

• Engloba elementos além


da vida cotidiana que
inspiram temor religioso,
Profano
respeito e até medo.
Aceitam o que não •Inclui o comum e o
conseguem entender e lugar-comum. Eles podem
são aceitos quando se confundir, uma vez que
passam por algum ritual o mesmo objeto pode ser
sagrado. sacro ou profano

Sagrado
dependendo do uso.

Tal ponto de vista é bem aceito em termos genéricos (veja mais sobre sagrado x profano
mais a frente do material).

Baseando-se em etnógrafos da religião aborígene australiana,


Durkheim concluiu que o objeto principal de culto dos membros dos
clãs australianos, o “totem,” representa na verdade o próprio clã, e
que é o clã que é sagrado. O mesmo princípio se aplica nas sociedades
modernas complexas. O objeto explícito de culto, seja um totem, uma
bandeira ou Deus, representa tudo o que é vital é portanto sagrado na
sociedade. Ao formular e exprimir o sentimento de dependência mútua
dos membros de uma sociedade, sentimento que de outro modo é apenas
esporádico, a religião consolida-o e aumenta-o. Isto ajuda a fazer os
membros comportar-se eticamente relativamente aos seus semelhantes
e arregimenta-os em defesa da sociedade (GUTHRIE, 2009).

Assim como valores morais subjetivos estão envoltos a tantas crenças e religiões pelo
mundo, muitos criticam a visão de Durkheim quanto ao fator objetividade do estudo
sociológico. São oriundas da visão de que dificilmente um ser humano, sendo ele pensante
e integralmente possuidor de seus próprios pensamentos e crenças, transpassará sem
nenhuma alteração os dados obtidos, quando mais das ações humanas.

Para Thomas Kuhn, filósofo da ciência, em sua notável e ilustre obra A estrutura das
revoluções científicas, sendo a Sociologia uma ciência que estuda a sociedade, para o
cientista, independentemente de sua atividade, possui sistema de valores e crenças,
foca no prestígio social de sua pessoa, está envolto a uma comunidade científica e seu
respectivos modos de visão de mundo, possui interesses pessoais diversos e outros fatores
que influenciarão seu modo de ver, o que para Kuhn, a subjetividade é o que impera na
ciência, muito embora concorde que haja objetividade em critérios científicos, porém,
confusos. Tal concepção diverge de modo contundente com os pensamentos de Durkheim.

26
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

Quando desempenho minha tarefa de irmão, de marido ou de cidadão,


quando executo os compromissos que assumi, eu cumpro deveres que
estão definidos, fora de mim e de meus atos, no direito e nos costumes.
Ainda que eles estejam de acordo com meus sentimentos próprios e que
eu sinta interiormente a realidade deles, esta não deixa de ser objetiva;
pois não fui eu que os fiz, mas os recebi pela educação. Aliás, quantas
vezes não nos ocorre ignorarmos o detalhe das obrigações que nos
incumbem e precisarmos, para conhecê-las, consultar o Código e seus
intérpretes autorizados! Do mesmo modo, as crenças e as práticas de
sua vida religiosa, o fiel as encontrou inteiramente prontas ao nascer;
se elas existiam antes dele, é que existem fora dele. O sistema de signos
de que me sirvo para exprimir meu pensamento, o sistema de moedas
que emprego para pagar minhas dívidas, os instrumentos de crédito
que utilizo em minhas relações comerciais, as práticas observadas em
minha profissão, etc. funcionam independentemente do uso que faço
deles (DURKHEIM, 2007, p.1-2).

Desta maneira, para Durkheim, a essência da religião é a divisão do mundo em fenômenos


sagrados e profanos. Não há somente a crença em uma divindade transcendente:
existem religiões, mesmo superiores, sem Deus. A maior parte das escolas budistas,
por exemplo, não professam a fé em algum deus pessoal e transcendente.

A religião também não deve ser definida pelas noções de mistério ou sobrenaturalidade,
que poderiam ser tardias. A noção do sobrenatural de maneira alguma deve preceder a
ideia, igualmente tardia, de uma ordem natural (ARON, 1999).

Por fim, para o que nos basta até aqui, Durkheim extrai do estudo do totemismo uma
teoria sociológica do conhecimento e factualmente não se limite a buscar entender as
crenças e práticas das tribos australianas; tenta, contudo, compreender também as
maneiras de pensar que estão associadas às crenças religiosas.

A religião, desta forma, não é apenas o centro primitivo do qual saíram, por diferenciação,
regras morais e regras religiosas, no sentido escrito, mas é também a origem primitiva
do pensamento científico (ARON, 1999).

Pense, porque Durkheim desviou-se tanto de sua “tradição” familiar? Tão


somente é o que a história nos conta ou houve motivações específicas? Não
deixe de assistir ao filme Deus não está morto dirigido por Harold Cronk.
Ampliará sua visão não somente sobre Durkheim, mas de tantos outros
filósofos que inegavelmente “lutam” contra a religião e portanto, se opõe às
crenças religiosas.

27
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Outros Filósofos
Os filósofos contemporâneos também possuem fundamental influência na sociologia
da religião. Muito menos famosos que Weber, Durkheim e Comte, porém, decisivos em
muitas linhas de pensamentos recentes frente ao dorso universal da filosofia perante a
sociológica da religião. De fato existem teístas no campo sociológico filosófico, contudo,
em sua grande maioria, são, em si, agnósticos e ateus.

Vejamos, de forma didática, com o quadro a seguir, as principais concepções filosóficas


das figuras mais citadas neste meio e que mais se destacaram frente ao tema sociologia
da religião:
Quadro 6 - Pensamentos contemporâneos.

Lucien Lévy-Bruhl Totalmente contrário a uma visão evolucionista, e para Cipriani (2007) ele partilha várias experiências interdisciplinares
e está presente nos primeiros debates sobre a relação indivíduo e sociedade, posicionando-se em prol das posições de
(1857-1939) Durkheim em relação ao papel central das representações coletivas, presentes também na mentalidade dos primitivos.
Cipriani vê no holandês que ele se detém para falar a o que se assemelha à religião, de seu mostra-se e, deste modo,
do fato de ser um fenômeno, isto é, um objeto em relação a um sujeito que percebe a existência dele. Trocando em
Gerardus Van der
miúdos, é fenomenologia a abordagem do objeto por parte do sujeito. Limita-se a examinar situações concretas, religiões
Leeuw (1890-1950)
histórias precisas; confissões religiosas organizadas. Fundamenta-se na tentativa de conseguir ver aquilo que uma
religião mostra de si mesma.
Para Parsons, que segue linhas durkheimianas, a religião é um conjunto parcialmente integrado de crenças em entidades
Talcott Parsons sagradas ou sobrenaturais e, desta forma, acima do comum. As crenças são inter-relacionadas com as práticas e as
(1902-1979) instituições, que se desenvolveram nas sociedades particulares. Talcott vê na religião uma forma de alcançar um objetivo
esperado e se frustrado, uma maneira de consolação que o gratifica.
Pitirim Sorokin Seu modelo ideal é o sensista, em que impera o empirismo. Passa-se do asceticismo para o ativismo, e esta marca está
(1889-1968) presente em muitos casos de religiosos, defende Sorokin, dessa forma muitos caem automaticamente no modelo sensista.
Ernst Troeltsch Assim como utilizado por Weber a terminologia “seita”, Troeltsch vê que ninguém é obrigado a seguir determinada religião
(1865-1923) severamente, ao contrário das seitas. Assim como Weber, ele abre para o mundo as noções básicas das Ciências Sociais.
Estudioso clássico para as Ciências da Religião, para Cipriani em Otto a racionalidade torna-se o critério de discriminação
para reconhecer uma dimensão religiosa com medida humana. O divino deve ser perfeito naquilo já existente nos seres
Rudolf Otto
humanos. Uma religião torna-se racional se permite uma imaginabilidade do ser divino sobre a mesma amplitude de
(1869-1937)
onda das características do homem, porém exaltadas em grau máximo na divindade. Otto separa bem o sagrado do
profano, sendo o primeiro fulcro para a religião.
Tawney A religião e o capitalismo neste filósofo possui influência direta de Weber. O estudo de Tawney foca-se na história inglesa,
(1880-1962) oposta à tese de Weber, evidenciado o a influência originária do capitalismo sobre o puritanismo, e não o contrário.
Para Cipriani, a preocupação de Niebuhr parece ser a divisão das Igrejas, seu “secionalismo”, que representa
verdadeiramente a “falência ética”. Também o fato de ser caracterizar como igreja ou seita gera efeitos no plano doutrinal
Helmut Richard Niebuhr e moral. Iniciou-se nele a terminologia ‘denominação’. Seu anseio era de uma igreja menos sectária, que transcendesse
(1894-1962) as divisões e superasse os interesses pessoais através do arrependimento e sacrifício. Chinoy defende que Niebuhr trata
as diferenças entre grupos religiosos e as mudanças na crença e na prática aceitas frequentemente se reportam a essas
origens doutrinárias, um “processo de explanação”.
Mircea Eliade Dá prioridades aos mitos e símbolos. Como a presença de elementos ligados às divindades subterrâneas, como a deusa lua
(1907-1986) no mitraismo (veja mais no material didático ´Ecumenismo´), etimologicamente esboçado em re-ligare, se unir, relacionar.
Wach, afirma Cipriani, atribui importância notável ao método, à influência da religião perante a sociedade, à identidade
Joachim Wach
entre grupos sociais e a própria religião, à influência da sociedade sobre a religião. Em um plano metodológico, a
(1898-1955)
preferência de Wach encaminha-se à hermenêutica como teoria da interpretação.
La Bras desempenha papel decisivo na sociologia da religião considerando uma abordagem metodologicamente melhor
Gabriel Le Bras equipada, insofismavelmente no campo estatístico. Ele está convicto e é notoriamente conhecido em afirmar que a
(1891-1970) prática é um indicador suficiente da “vitalidade religiosa”. Seu caráter tem em si aspectos nítidos positivistas, atribuindo
inferências empíricas acima de qualquer outra concepção filosófica.

28
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

Fundador de movimentos de concepções sociológicas e forte contribuinte para propagação do assunto iniciado em Weber,
Jacques Leclercq
Durkheim e Comte. Parecido com Le Bras no pensamento empírico, porém divergente em caráter religioso. Le Bras compõe
(1891-1971)
a gama de filósofos preocupados em difundir a evangelização tentando compor juntas as áreas teológicas e sociológicas.
Martino se preocupava com o problema da magia. De acordo com Cipriani, Marino assume o caráter de técnica
protetora, produtora de valores, em grau de plasmar de novo, em chave cultural, as angústias individuais que derivam da
Ernesto de Martino
perda da presença. Isto é, existe uma presença pessoal que arriscar se perder. O risco é superado por meio de formas
(1908-1965)
de resgate, de recuperação da presença. O recurso à magia representa uma das formas mais frequentes de superação
da crise da presença.
François Houtart Consultor do Vaticano II (veja esse assunto mais bem explorado no material “Ecumenismo” de seu curso), Houtart acredita
(1925) no fato da influência da religião sobre a sociedade, mas critica a dinastia eclesiástica católica e favorável ao marxismo.
Henri Desroche (1914- Ex-frade dominicano, influenciado por Le Bras, Desroche teve interesse pelos movimentos inovadores e utópicos com
1994) pano de fundo cristão, estudando com isto seitas além de ser um admirador de Troeltsch.

Fonte: CIPRIANI (2007) e CHINOY (1967).

No campo sociológico, portanto, faz-se praticamente unânime o impacto da religião


na sociedade como um todo desde que o homem se entende como racional. A religião,
segundo os fenomenólogos, consiste em experiência com o sagrado, seja este sagrado qual
for. E deve-se estudá-la iuxta propria principia, isto é, partindo de materiais específicos
(os fenômenos religiosos), unificados por uma categoria não totalmente racionalizável
(o sagrado) e de um método abrangente. João Calvino atribui essa essência a algo que
é inerente ao homem, chamando-a de Sensus Divinitatis (CALVINO, v.1, p. 56): “uma
disposição ou um conjunto de disposição para formar crenças teístas ou estímulos que
disparam o funcionamento da percepção da divindade”, (MORELAND; CRAIG, 2005,
p.207). Ele mesmo [Calvino] cita em sua magnífica obra As Institutas na questão da
impossibilidade de ateísmo real: “Portanto, o que os faz superiores [filósofos teístas]
é tão-somente o culto de Deus, mediante o qual se aspira à imortalidade”. (CALVINO,
2007, v.1, p.56).

A religião em si tem por um de seus objetivos principais o de definir e discernir o sagrado


do profano, aquilo que é bom para aqueles crentes nesta religião, do que os fará mal, já
que a mesma “religa” o homem a esse ser superior de outras culturas. O totemismo e
animatismo é exemplo disto, o qual um crê em sua descendência animal ou vegetal e o
outro que o “mana” é capaz de penetrar em objetos, vegetais, animais ou pessoas. Isso
exemplifica, portanto, as diversas maneiras que tribos acreditam em seres superiores
(MACHADO, 2006, p.1).

Hegel
Hegel analisou etapas sucessivas de objetivação, distinguiu com isso o espírito objetivo
e absoluto, sendo que:

»» o “espirito absoluto” prevalece uma experiência mais adequada entre a


experiência e;

»» o “espírito objetivo” sua expressão do que prevalece na esfera da antítese.

29
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

De acordo com Wach (1990, p.27):

Hegel considera a religião como um aspecto do espírito absoluto.


Acompanhando tentativas modernas por adaptação e reinterpretação da
intuição de Hegel, nós sugeriríamos que todos os produtos da atividade
cultural do homem, tais como realizações técnicas, sistemas econômicos,
obras de arte, leis e sistemas de pensamento, sejam considerados como
sistemas objetivos da cultura enquanto distintos de todas as “organizações
da sociedade”, tais como casamento, amizades, grupos de parentesco,
associações e Estado. As primeiras são, enquanto sistemas objetivos da
cultura, só indiretamente a preocupação do sociólogo.

Existem diversos sistemas objetivos de cultura, a exemplo da lei, da arte e da ciência e


ainda da religião e as organizações, nações e igrejas.

30
CAPÍTULO 3
A religião na sociedade

A religião, o sagrado e o profano


Muitos religiosos, e não são poucos, tem por literaturas ou quaisquer obras escritas por
estudiosos cristãos uma forma de rebeldia, pois tão somente as Escrituras Sagradas
sevem ser dignas de leitura e tudo o que for “secular” não há necessidade de leitura,
obras as quais são consideradas até mesmo heréticas. Este trabalho não tem por
objetivo trazer este tema em destaque, mas de certa maneira explica-se que o profano
possui dois sentidos dentro das próprias Escrituras, segundo Vine (2002, pp.902-966),
o sagrado tem por significado:

hieros (ἱερός) denota “consagrado a Deus”, por exemplo, as Escrituras,


2 Tm 3.15; é usado como substantivo no singular neutro em 1 Co 9.13 (“o
que é sagrado”). O singular neutro, hieron, também denota “templo”.

Já quanto ao profano, segundo o mesmo dicionário:

anosios (ανόσιος), formado de a, elemento de negação, n, elemento


eufônico, e hostos, (santo), “profano, pecaminoso, ímpio, herético,
sacrílego”, ocorre em 1 Tm 1.9 (ímpios); 2 Tm 3.2 (profano).

Koinon (κοινóν), o neutro de koinos,”comum”, é usado em Hb 10.29


(profano).

Logo, tem-se um segundo uso para a palavra profano, ou seja, comum.

Conforme o dicionário, Koinos (Κοινóς) denota: (a) “comum, pertencente a vários”


(em latim, communis), referido a coisas tidas em comum (At 2.44; 4.32); à fé (Tt
1.4); à salvação (Jd 3); está em contraste com o termo idios, “próprio da pessoa”;
(b) “comum, pertencente à generalidade, em distinção ao que é peculiar a poucos”,
por conseguinte, aplicação às práticas religiosas dos gentios em contraste com a dos
judeus; ou das pessoas comuns em contraste com as dos fariseus; daí o significado
de “não consagrado, profano”, “leviticamente impuro” (em latim, profanus), dito
acerca: das mãos (Mc 7.2); dos animais cerimonialmente impuros (At 10.14; 11.8);
de um homem (At 10.28); de carnes (Rm 14.14); do sangue do concerto, conforme
é visto por apóstata (Hb 10.29); de tudo que é inadequado para a cidade santa
(Ap 21.27).

31
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Levando-se o aspecto “comum” em consideração, tais obras são sim dignas de crédito,
baseadas em princípios cristãos e nos Escritos Sagrados inspirados pelo Espírito do
Criador de todas as coisas.

Veja abaixo contribuições significativas que Wach (1990) em sua obra Sociologia da
Religião nos traz:

A religião, enquanto tal, foi definida como adoração, experiências do


sagrado são expressas em todas as religiões em atos de reverência para
com o nome cuja existência é definida intelectualmente em termos
de mito, doutrina ou dogma. Van der Leeuw deu-nos um estudo
fenomenológico abrangente dos atos cultuais baseados em amplo
estudo da religião em todas as suas formas. Underhill [...], divide atos
em: 1) ritual (modelo litúrgico), 2) símbolos (imagens), 3) sacramentos
(coisas e feitos visíveis), e 4) sacrifício [...]. A partir dos atos e rituais
mais simples em honra dos deuses surgiram os modelos complicados
e elaborados do ritual, próprio de religiões tais como Judaísmo,
Parsismo, Bramanismo e os Catolicismos romano e oriental. A meio
caminho da escala encontramos a observação do tabu dos tempos e
lugares sagrados, como também a realização dos atos cultuais, seja
como parte do sistema abrangente de interpretação dos cosmos, da
vontade da divindade (sistemas japoneses, chineses, babilônicos,
etruscos, romanos e mexicanos), seja como ritos únicos para uma
finalidade definida (purificação, oração, sacrifício). Estes podem ser
bem organizados e codificados, agrupados como partes de um sistema
cerimonial com variações locais, periódicas e individuais, ou podem esta
vaga e acidentalmente relacionados, sendo ocasionalmente associados
para o uso dos que estão empenhados na execução de funções religiosas.
A história do culto revela a mesma ação recíproca sucessiva entre
compulsão e tradição, de um lado, e o impulso constante pela liberdade
individual, contribuindo para o surgimento de novos impulsos e para
a atividade criativa de homines religiosi, de outro lado, fato esse que
observamos no desenvolvimento de modelos de pensamento. Na
verdade, grande parte da dinâmica da história da religião pode ser
delineada a partir dessa dialética (WACH, 1990, pp.40-41).

Religiões e o messianismo na ordem social

Movimentos religiosos oriundos das mais diversas culturas sempre tinham ou esperavam
um messias e/ou um líder supremo isento de erros e inspirador. Podemos ver Sidarta

32
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

Gautama (séc. VI e V a.C) no budismo, Krishna (séc. V a.C) no hinduísmo e Maomé


no islamismo figura proeminentes que apregoam novos sistemas religiosos os quais
são sustentados por longos séculos; não podemos também nos esquecer Joseph Smith
na igreja dos mórmons, Califa Omar, Brigham Young e outros que se colocaram ou o
colocaram religiosamente nesta posição.

Podemos ver, portanto, que a religião pode contribuir para a continuidade das mais
diversas instituições e relações sociais que existem por meio da atitude que esboça
perante a vida e pelo entendimento ético que transmite à sociedade. Vejamos, ainda
dentro das religiões, o modo de interpretação:

Quadro 7 – As religiões e a ordem social.

Realizou essa função fomentado explicitamente o fiel cumprimento de obrigações tradicionais e o respeito à autoridade
Confucionismo
tradicional.

Sustenta a ordem existente definindo o mundo como mau e dando ênfase à fuga das suas exigências para uma vida de
contemplação. Esse recolhimento, no entanto, somente faz-se possível aos monges, e fazem-se exigências menos rigorosas
Budismo
aos leigos, os quais detém a posição de religioso inferior e são induzidos a aceitar fatalisticamente as coisas tais como se
apresentam.

Considera o mundo imutável. Sanciona o sistema de castas ligando o fato de uma pessoa no mundo a escarnações passadas,
Hinduísmo sobre as quais, naturalmente, segundo o princípio religioso, não há controle possível. A finalidade do hinduísmo é o alheamento
dos assuntos mundanos e a fuga final à servidão da carne.

Ajudou a manter a ordem social medieval dando destaque ao “drama da salvação” e ao ideal monástico, mesmo quando
tolerava a mundanidade assim na Igreja como entre os leigos; considerava-se a vida neste mundo menos importante do que
Catolicismo
a vida futura, e os trabalhos e dificuldades deviam ser suportados enquanto se aguardava a felicidade eterna. Encarava-se a
ordem hierárquica da sociedade, até certo ponto, como divinamente ordenada.

Fonte: Chinoy (1967, pp.508-509).

Como vimos em “Ecumenismo” (material integrante desse curso), os imperadores em


sua época colocavam-se como divinos, os quais eram contemplados como messias de
seu tempo, pontífice máximo e, portanto, o próprio papa, dando-se a si mesmos poderes
políticos e religiosos.

As contribuições dos grandes chefes religiosos, que denominamos


“fundadores da religião”, deveriam também ser interpretadas à luz
deste desenvolvimento. Na visão (primeira intuição) de cada um deles
está contido com um germe de teoria, a ser desenvolvido mais tarde em
doutrina e, a partir daí, possivelmente em dogma, quer pelo próprio
fundador, que pelos seus seguidores. Na experiência original, todavia,
ou na sua expressão primária, torna-se difícil distinguir entre teoria e
prática, entre teologia e ética. Uma tentativa de analisar a visão original
de Maomé ou da grande experiência da iluminação em Buda mostraria
que elas não são suscetíveis de delimitação em teoria e em prática
(WACH, 1900, p.38).

33
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Formas de expressão e culto

Veja a seguir o processo de crescimento e de sistematização da expressão intelectual da


experiência religiosa, baseado em Wach (1990, p.36):

Primeira Etapa Segunda Etapa Terceira Etapa

• Mitologias • Religiões • Cristianismo,


Afriacanas Babilônicas Judaísmo.
• Mitologias • Egípcias, • Islamismo,
Polinésias mexicanas, Zoroatrismo,
chinesas e Maniqueísmo,
gregas Budismo,
Hinduísmo,
Confucionismo
e Taoísmo

Na segunda etapa, encontra-se a tendência nítida para a unificação e a codificação. Com


base nessas religiões é que o estímulo ao pensamento filosófico se dá. Tal desenvolvimento
possui importâncias sociológicas inseparáveis, veja no comentário a seguir:

Dois fatores parecem ser essenciais no desenvolvimento de uma


religião mais altamente individualista: uma emancipação gradual
do indivíduo da influência de sua experiência cultural e social e um
processo ininterrupto de diferenciação dentro da própria civilização.
Este duplo processo realiza-se até no mundo do homem primitivo [...].
No Oriente esta tendência é ainda mais evidente, contudo o auge do
individualismo é alcançado nas civilizações do Ocidente, preparado
pela tradição singular da civilização clássica, e aprofundado pelas
contribuições do Judaísmo profético e do Cristianismo [...]. Um
aspecto, sociologicamente mais importante, do desenvolvimento do
individualismo religioso é a crescente separação entre comunidades
religiosas e naturais (WACH, 1990, p.47).

A ambiguidade de formas religiosas e expressões culturais são iminentes, os atos


culturais possuem uma vastidão no que tange a interpretação pelos espectadores ou até
mesmo participantes, bem se sabe, todavia, que as artes eram embasadas em atributos
religiosos, mesmo por mãos sectárias e céticas.

Contudo, o cristianismo afirma que a única forma de verdade está em Jesus, e por meio
das Sagradas Escrituras é que Deus se revela ao homem, sendo que, quem crê será
salvo, mas quem não o fizer será condenado7.

7 Mt 16.16.

34
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

Na cultura grega e xiita existia modo dramático a interpretação dos mistérios dionisíacos,
bem como a ilustrativa paixão dos Alidas, pela recitação das famosas epopeias gregas e
hindus, não nos esquecendo dos poemas líricos chineses, tamis e persas.

A teologia e filosofia budista baseiam-se numa interpretação especial


do conceito tipicamente hindu de samsara. É interessante também
comparar o uso do termo grego cosmos na poesia clássica com seu uso
no neoplatonismo e observar as mudanças em seu significado a parti de
Plotino, no qual ele mantém sua antiga conotação, até os neoplatônicos
mais recentes (WACH, 1990, p.65).

O significado destes estudos para a sociologia é óbvio. A atitude do


indivíduo com relação à sociedade em todas as suas formas e a influência
de uma religião das relações sociais e instituições dependerão em grande
parte do espírito que permeia as doutrinas, o culto e a organização de
um grupo religioso. Esse espírito determina as inter-humanas numa
dada sociedade. Instituições como casamento, família, parentesco e
Estado são entendidas à luz da experiência religiosa central e um ideal
correspondente de sociedade é formulado (WACH, 1990, p.68).

Antes de continuar, não se esqueça de enquadrar a posição de cada filósofo nas


Perspectivas Sociológicas sobre a Religião. Como de costume, não deixe de refletir
e se posicionar perante a todo e qualquer assunto que se faz presente, bem
como os conteúdos de pesquisa extra conteúdo didático.

Religião e a mudança social Em Karl Marx

Figura 4.

Fonte: http://www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2013/04/karl-marx-vida-obra-e-pensamentos.jpg

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UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Karl Marx (1818-1883)

Nascido em Treves (Alemanha), doutor em filosofia em Berlim, figura proeminente


para a filosofia política, econômica e social. Para Karl Marx (1818-1883) a religião
sempre foi um problema que impede a mudança social, uma vez que a religião oprime
os pobres com preocupações não reais e materiais, retardando e anulando o processo
de crescimento econômico e político. Para ele, a religião é o “ópio” da sociedade, sendo
prejudicial aos mais modestos e oprimidos. A esperança da salvação para Marx era algo
como uma droga que lesava a mente dos mais simples a buscar uma premiação ilusória
dentro de uma vida dura e de interesses pessoais não alcançados. Deste modo, a Teoria
do Conflito se opõe à Teoria da Libertação.

Marx reconheceu que a religião tem papel importante na manutenção


da estrutura social existente. Os valores da religião, como mencionado,
tendem a reforçar outras instituições sociais e a ordem social como um
todo. Segundo Marx, porém, a promoção da estabilidade social pela
religião apenas ajuda a perpetuar padrões de desigualdade social. Para
ele, a religião dominante reforça os interesses de quem está no poder [...].
Na visão marxista, a religião impede que as pessoas vejam em sua vida e
suas condições sociais em termos políticos – por exemplo, obscurecendo
o significado primordial de interesses econômicos conflitantes. Os
marxistas sugerem que, induzindo uma “falsa consciência” entre as
pessoas carentes, a religião diminui a possibilidade da ação política
coletiva capaz de terminar com a opressão capitalista e transformar a
sociedade (SCHAEFER, 2006, p.337).

Fundador do materialismo na história, o alemão foi um filósofo social e um


grande economista, contribuiu fortemente para o desenvolvimento da Sociologia,
concentrando-se nas relações sociais oriundas das formas de produção (fator de
transformação da sociedade), em uma tentativa de elaborar uma teoria sistemática da
estrutura e das transformações sociais (LAKATOS, 2009).

Para ele a sociedade divide-se da seguinte forma:

Quadro 8: Divisão social para Marx.

Infraestrutura Superestrutura

Divide-se em dois níveis:


Estrutura econômica, forma
das relações de produção e 1) Estrutura jurídico-política, é formado 2) Estrutura ideológica (filosofia, arte, religião etc.), justificativa do
forças produtivas. pelas normas e leis que correspondem à real, é formado por um conjunto de ideias de determinada classe
sistematização das relações já existentes social que, através de sua ideologia, defende seus interesses.

Fonte: Baseado em Lakatos (2010, p.48).

36
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

De acordo com o mesmo autor (LAKATOS, 2010), sendo de importância ímpar a ideia
da infraestrutura, qualquer mudança social parte das alterações nas forças produtivas e
relações de produção. Com isto, Marx chegou a uma classificação de sociedades segundo
o tipo que predomina nas relações de produção, a saber:

»» comunidade tribal;

»» a sociedade asiática;

»» a cidade antiga;

»» a sociedade germânica;

»» a sociedade feudal;

»» a sociedade capitalista burguesa (comercial, manufatureira e industrial;


financeira e colonialista) e;

»» a sociedade comunista sem classes (que se instalaria através da ditatura


do proletariado).

Dentro de um contexto de “classes sociais”, o marxismo desenvolve uma acirrada busca


para denunciar as desigualdades sociais contra a falsa ideia de igualdade política e
jurídica tratada pelos liberais.

Para ele, os inalienáveis direitos de liberdade e justiça, considerados


naturais pelo liberalismo, não resistem às evidências das
desigualdades sociais promovidas pelas “relações de produção”, que
dividem os homens em proprietários e não-proprietários dos meios de
produção [...]. As classes sociais formadas no capitalismo – burgueses
e proletários – estabelecem instransponíveis desigualdades entre
os homens e relações que são, antes de tudo, de antes de tudo, de
antagonismo a exploração [...]. Para Marx, a história humana é a
história da luta de classes, da disputa constante por interesses que se
opõem, embora essa oposição nem sempre se manifeste socialmente
sob a forma de conflito ou guerra declarada. As divergências e
antagonismos das classes estão subjacentes a toda relação social,
nos mais diversos níveis da sociedade, em todos os tempos, desde o
surgimento da sociedade (COSTA, 2005, p.113-115).

De modo sectário é necessário conhecer tal contexto, uma vez que o cristão e quem se
posiciona em favor da religião precisam ter ciência de tais pensamentos.

37
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Faça, portanto, uma análise (bastante) crítica de tal contexto, não se limitando a este
material de estudo, mas buscando fontes alternativas de debates apologéticos (caso
tenha essa linha de abordagem). Indicamos as leituras de autores como William Lane
Craig, Frank Turek e Norman Geisler (dentre muitos outros apologistas), para com isto
criar contra argumentações válidas para concepções marxistas.

38
CAPÍTULO 4
Religião e sociedade nos estudos
antropológicos

Alguns tipos de grupos sociais se destacam no mundo; as chamadas inter-relações


humanas se dão por meio desses grupos, aos quais são responsáveis por fazer a união
humana estável, duradoura e eficaz contra interferentes externos. Essa composição
de variedade de unidades é dada pelo casamento, por consanguinidade familiar, entre
outros. Tais grupos se relacionam também pelo modo religioso e em forma de culto a
deuses ou a Deus, que podem ser estudados. A seguir listamos alguns mais difundidos:

Quadro 9: Tipos de cultos sociais no meio dos estudos antropológicos.

A antropologia moderna identificou que a família é unidade sociológica menor. O tipo mais simples de família continua
sendo pais e filhos. O forte papel da família da história dos hebreus, chamou a atenção dos estudiosos, por isso o
Cultos Familiares
interesse de estudar esse tipo de culto. Mais do que qualquer outro grupo, a família acha-se integrada pelo culto
religioso comum.
A correspondência do agrupamento social e religioso em certas tribos, clãs e fratarias indica a profundidade do
relacionamento que ele mantém entre si. Os bratsvo dos elavos meridionais; o antigo uji japonês; os seguidores de Mitra
Cultos de Parentesco
(Sraosha); morgburg germânicos; o gene grego; matteh e shebet israelita (o mishpaha ou clã) são exemplos desses
grupos de pessoas.
Wach afirma que os antropólogos demonstram que a organização e estratificação da sociedade não se baseiam
somente e tão somente no parentesco, mas que se devem também à proximidade. Em Ise e Kioto no Japão; Benares,
Cultos Locais Allahabad e Amitsar na Índia; Hebron, Siquém e Mispa em Israel; Meca-Medina e Kairu n Islamismo; Mênfis, Heliópolis
e Tebas no Egito; Chichen Itza no Iucatã; Cholula no México; Cuzco no Pero e Delfos na Grécia são exemplos
contundentes desses grupos.
Os exemplos mais óbvios, para Wach são as religiões dos arianos do Irã e da Índia. Os povos como um todo, aparecem
Cultos Raciais racionalmente misturados na história e, até o hoje em dia, não passam de suposições as hipóteses no que tangem às
origens das raças.
Quando se tem um grau maior de consciência ou de história e tradição comuns da unidade social aparentada. Fala-se
Cultos Nacionais então de povo ou de nacionalidade (Volk em alemão). Não implica unidade política como Estado, mas a integração do
povo por meio de tradição, língua, cultura ou religião, um de cada ou combinados.
O estudo delas se difundiu no meio antropológico após as monografias e estudos de antigas culturas clássicas. A divisão
segundo o sexo é geralmente combinada com diferenciação em função da idade. Na Grécia, Héracles era o patrono dos
Cultos de Sexo e Idade
homens e Afrodite das mulheres. Sociedades como Kachina dos Zuñi do Novo México, Poro em Kpelle na África ocidental
são exemplos de sociedade que se separam entre homens e mulheres.

Fonte: Baseado em Wach (1990, p.74-138).

É válido ter em mente tais grupos, adiante na obra de Wach (1990) existem organizações
especificamente religiosas da sociedade que se subdividem conforme a seguir:

Quadro 10: Organizações especificamente religiosas da sociedade.

Encontrada em muitas sociedades primitivas. Geralmente se dividem em (1) Clãs ou grupos naturais (somente membros
da clã); (2) Sociedades secretas limitadas (somente aos que obtém benção do espírito ou agente superior; (3) “Medice
Sociedade Secreta groups” (só podem participar os iniciados e (4) Organizações semipermanentes. Os templários (que originou a maçonaria);
associações gentílicas (thiasos); asclepíadai; o vudu (vuduno, hunso, vudusi, legbans são classes desses grupos); Ariói das
Ilhas Sociedade, são exemplos de sociedades secretas.

39
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Principalmente na Grécia e na Roma, são o segundo tipo de organização especificamente religiosa. Usa-se também o
termo “religião de mistério”. Representam um tipo distinto de associação religiosa, de origem primitiva encontrada até na
Cultos de Mistério Polinésia. Veneram espíritos de seus antepassados e, preparam-se para gozar da felicidade do mundo após a morte. O
culto de Elêusis, adoração à “Grande Mãe”, características das religiões tribais e locais da Ásia Menor; adoração à Mitra (no
Irã), Serápis e thiasoi synodoi (no Egito) são exemplos desses cultos.
Ao sociólogo, o hinduísmo apresenta-se como uma difícil tarefa de tipificá-lo, uma vez que possui inúmeros deuses
e se apresentam e variados grupos como Vaishnava e Vishnu (ou Shaiva) de maneira geral. Os pontos fundamentais
Sampradaya
dessa sociedade são bhakti (fé), bhakta (devoto), bhagavanta (o adorável), e guru (mestre). Uma das subdivisões mais
importantes é dos Lingayat, já os grupos confucianos Xintoístas são mais sincretistas.
A história das religiões registra de forma completa, por ora temos no Cristianismo (Jesus), Budismo (Buda), Jainismo
(Jaina), Zoroatrismo (Zoroastro), Islamismo (Maomé), Maniqueísmo (Mani), e em menor grau Sikhismo, Babismo e religiões
Religiões Fundadas
similares exemplos de religiões fundadas. Em praticamente todas há a tradição oral e escrita, igrejas e locais de culto e
meditação.
Constituição, ideais igualitários e hierárquicos estão presentes em toda a história, uma vez que há propagação das religiões
Desenvolvimentos em meios políticos como um todo, haja vista o panteão grego e romano, rompimento dos impérios do Oriente e Ocidente e
ações políticas determinadas por Concílios (vide material ´Ecumenismo´ deste curso).
Todas as religiões enfrentam esporadicamente protestos dos mais diversos fins, portanto (1) católicos; (2) puritanos; (3)
Protestos
revivalistas, protestaram ou já sofreram protestos.
É conhecido tanto no Ocidente como no Oriente cristãos, no Islamismo, no Maniqueísmo, Budismo, Jainismo e no
Taoísmo. Vigílias, jejuns e abstinências, invocações, litanias e renúncias especiais caracteriza a vida monástica islamita.
Monaquismo Impregna personalidades de projeção, que depois influenciam seu desenvolvimento e a religião em geral. Altamente
dinâmico com altos e baixos, declínios e rejuvenescimentos. No Islamismo, a ordem dos bektashi exerceu considerável
influência, principalmente no século XVI na Turquia.
Grupos Após protestos radicais, há em geral a separação esperada, criando cultos distintos (a fim de resgatar a fé original), seitas8
Independentes e grupos sectários diversos. Haja vista o Reforma e Contrarreforma.
Fonte: Baseado em Wach (1990, p.139-259).

É-nos válido ter claro, por mais óbvio que possa parecer, as diferenças e convergências de
igreja, denominação e seitas, vistas de um ponto de vista sociológico, deste modo, como
de costume da forma didática do material, veja a seguir baseado em Schaefer (2007,
pp.340-341) – lembre-se que esta é uma cosmovisão sociológica não religiosa:

Igreja é uma organização religiosa


• que afirma incluir a maioria ou todos os membros de uma sociedade e é reconhecida como a
religião nacional ou oficial. Como quase todo mundo pertence àquela forma de expressão
relgiosa, a associação a ela ocorre desde o nascimento e não por uma decisão consciente.

Denominação é uma religião grande e organizada


• que não está oficialmente associada ao Estado ou ao governo. Como uma igreja, ela tende a
ter um conjunto explícito de crenças, um sistema definido de autoridade e uma posição
respeitada na sociedade. Em grande parte, as crianças aceitam as religiões de seus pais, as
quais se assemelham às igrejas por fazerem determinadas exigências a seus membros.

Seita é grupo religioso relativamente pequeno


• que rompeu com alguma outra expressão religiosa para revalidar seus valores (considerados)
originais da fé. Para Weber, a seita é de fato a "igreja do crente", uma vez que a escolheu de
maneira cosnciente. Exigem compromissos e demonstrações de crença, bem como leaaldade
e fidelidade. As seitas, de modo genérico, têm vida curta.

8 Max Weber e Ernst Troeltsch definem seita como uma sociedade contratual para distingui-la da organização eclesiástica
institucional.

40
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

Sobre sociedade secreta, ainda nos é importante esmiuçar um pouco mais o assunto.

De modo a não perder ou distorcer sua tradição, costumes e crenças, a sociedade


secreta costuma ter sua própria doutrina, ritos e organizações codificadas. Conceitos
mitológicos especiais explicam e justificam atos de adoração, uso de instrumentos
diversos, a escolha de determinados lugares sagrados, cerimoniais, as qualificações e
deveres dos funcionários da sociedade (WACH, 1990). O autor ainda continua:

Para os funcionários e até para os membros, muitas vezes se exige


capacidade para experiência extática. Assim, os membros contam com
experiências extraordinárias inacessíveis aos não iniciados. O êxtase
desempenha papel vital nas sociedades secretas da África, do nordeste da
Ásia e entre os índios americanos; e, tanto aqui como alhures, a oração,
o sacrifício e a purificação são complementados por representações
dramáticas e danças sagradas, especialmente danças com máscaras [...].
A religião foi grandemente influenciada por este tipo de organização
religiosa, principalmente em suas formas mais avançadas. O cultivo de
experiência genuína do sagrado, o fomento do pavor e da reverência, a
tensão causada pela preparação adequada, a disciplina da mente e do
corpo pela ascetismo, a meditação e a solidão, exercem papel importante
no desenvolvimento de formas mais elevadas de vida religiosa a partir
de formas mais grosseiras (WACH, pp.148-149).

Duas importantes sociedades de forte interesse ao cristianismo e à história da igreja,


para efeito de conhecimento são os Templários e a Cabala.

41
CAPÍTULO 5
Seitas e a religião e sociedade

Dos templários à maçonaria


A Ordem dos Templários data do ano de 1118 d.C. e uma das primeiras e mais conhecidas
ordens cristãs. Sua missão era defender e propagar a fé religiosa. Há historiadores que
defendem que eles escondiam e adquiriram um tesourou proveniente do templo de
Salomão. Oito de seus companheiros se oferecem a Balduíno II e juram defender a
cidade de Jerusalém contra qualquer inimigo. Oferecem uma mesquita também.

Os cavalheiros se intitulavam “os pobres soldados de Cristo e do templo de Salomão”.


Nos dois séculos seguintes passaram a jurar obediência total aos seus líderes. Um
covarde devia comer com os cães por um ano seguido.

Deste modo, quando se capturava alguém, não se aceitava dinheiro, tão simplesmente
matava-se. Essa Ordem lutava contra os muçulmanos. Conseguiram, ao longo dos anos,
força política e econômica. Conquistavam muitas coisas e se tornaram extremamente
poderosos e ricos. Passaram a agir como banqueiros e passaram a emprestar dinheiro
às nações.

O império dos Templários começa a enfraquecer ao tentar manter a Terra Santa. Os


rumores sobre os rituais secretos passaram a manchar a imagem da Ordem. Quando eles
voltam às nações ao redor da Europa, se organizam de forma que cada novo integrante
deixava suas posses para os templários.

Os adeptos se espalharam e se juntaram à Ordem dos Assassinos (muçulmana). Hassan


Sabá foi o fundador dessa Ordem, a partir dessa união, que tinha como objetivo o de
praticar o esoterismo islâmico (ismaelismo).

Os Assassinos tiveram influência no fundamentalismo islâmico. Com essa união, a Ordem


dos Templários passara a ficar mais poderosa que as próprias nações. Se transformaram
em uma sociedade influente e poderosíssima e com isto a igreja católica se viu ameaçada.

No início do séc. XIV Felipe conseguiu persuadir Clemente XI (de personalidade fraca)
para perseguir os Templários. Em 1307, o rei francês deu ordens secretas para que todos
fossem presos no mesmo dia. Em 1312, o papa Clemente dissolve oficialmente a Ordem
dos Templários e em 1313, o grão mestre dos templários renegou as suas convicções em
Paris. O rei Felipe ordena sua deportação e ele acaba morrendo.

42
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

Há aqui um suposto fim dos Templários (em 1314). Mesmo sendo encarcerados em
masmorras e acusados de heresias, acabaram confessando sobre tortura.

Uma organização secreta posterior a hipotética “morte” dos Templário, a “Pedreiros


Livres”, erguia as grandes catedrais da Europa e livres para ir a todas as nações da Europa.

Para provar o seu posto na categoria e quando chegaram a uma obra eles apertavam a
mão do mestre da obra de uma forma diferente e conhecida somente pelos membros.

Sua graduação era sabida somente pelo jeito do aperto de mão (assim como hoje).

Os pedreiros infiltrados tinham trânsito livre na Europa, garantindo que a Ordem dos
Templários continuasse viva, mas agora como pedreiros.

Em 1599, a Grande Loja deriva dos grandes alojamentos onde os pedreiros faziam suas
refeições. E deste modo, surge, em linhas históricas não unânimes, a sociedade secreta
maçonaria.

Cabala
Em 1500 a.C (após a saída do povo do Egito) as sociedades secretas do Oriente Médio já
existiam há muitos séculos atrás. A cabala tem mistura babilônica, uma vez que quando
Israel também ficou exposta ao sistema ocultista babilônico os levou de volta a Israel
como uma tradição oral.

Nos séculos antes de Jesus nascer, a Cabala começou a penetrar na liderança religiosa.
Uma tradição judaica oral começou a ser praticada, deste modo os judeus e líderes
religiosos criaram muitas regras e doutrinas, começaram a praticar, portanto, essa
tradição oral e foi criado um oral e outro secreto.

Jesus criticou muito as imposições de leis feitas pelo homem, uma vez que ninguém
conseguia cumprir esses padrões, além de não serem de Deus, portanto, eram feitos
como uma forma de controlar o povo, já que não conseguiam cumprir.

Zohar (livro da luz) foi escrito pelo rabino Simão e seu filho Eliezer, que ficaram durante
12 anos enterrados enquanto escreviam o livro (“visitados” pelo grande profeta Elias) e
que alegavam que eram sempre visitados por um ser angelical.

O sacerdócio judaico começa a elaborar um plano para controlar o povo. Os ensinos


do Talmud escravizavam o povo a fim de esconder a verdade do povo, fabricando as
doutrinas e acrescentando itens a lei mosaica.

Cabala passa a ser uma deturpação da Torah e ensinamentos judaicos. Se saduceus


e fariseus praticaram a Cabala na época de Jesus, isso explicaria muita coisa, dizem

43
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

historiadores. Um autor da Cabala disse que ela é um (Teodoro John Reiner) veneno
sutil. Os ensinos da Cabala eram para propósitos mágicos.

A cabala influenciou significativamente as sociedades secretas, e essa influência foi tão


profunda que muitas seitas assumiram características judaicas.

»» Cabala, portanto, significa “recepção” “recebimento” (recebimento de


sabedoria).

»» Cabala, deste modo é a mística do judaísmo para conhecer a Deus e outros


seres iluminados.

Além disso, é uma das formas de obter conhecimento superior de textos sagrados,
inclusive a Bíblia. Empenha-se em decodificar essas mensagens que estariam ocultas,
bem como códigos implícitos nesses livros.

Tem como manuscritos mais importantes:

»» Bahir (o livro da iluminação);

»» Zohar (mística e natureza divina);

»» Yetzirah (livro da criação).

Divide-se em duas partes:

1. Cabala teórica compreende o universo, códigos numéricos dos textos


originais, entre outros.

2. Cabala mágica, acontecimentos práticos da magia e estuda combinações


de letras.

Não se limita ao judaísmo e favoreceu a conexão da cabala com o esoterismo,


atravessando o Ocidente e unindo-se com religiões neopagãs.

Os livros por eles mais estudados são: O livro de Enoch (o profeta); O livro da Magia
Sagrada (Abramelin, o mago); The Grimoire of Armadel (Mac Greco Gregor); Goetia
Samuel Liddell e The Magick of Solomon.

É possível que exista uma única organização por trás de todas as seitas? Existe
algo de secreto nos tempos de Jesus e é por isso o ódio mortal dos habitantes
daquela época contra Cristo? O que Salomão tem a ver com tudo isso? Não deixe
de ler I Rs 11.9-13.

44
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

Religião e diferenciação dentro da sociedade

Ao definir “sociologia da religião” como o estudo da interpelação da religião


e da sociedade, admitimos que os impulsos, as deias e as instituições
religiosas influenciam e, por sua vez, são influenciados por forças sociais,
pela organização social e pela estratificação (WACH, 1990, p.250).

Precisamos agora, ter uma noção das relações entre a religião e a sociedade. Desta
forma, como de costume e com isto facilitar o processo de aprendizagem, vejamos o
quadro abaixo:
Quadro 11: Relações entre a religião e a sociedade.

O desenvolvimento social, como é sabido, se dá por meios complexos e simples; embora seja um equívoco pensar
Sociedade simples e nas sociedades primitivas de forma indiscriminada como unidades individuais, culturais e sociais. Enquanto não há
complexa divisão de trabalho, propriedade ou posição, não se pode falar apropriadamente de variedade de expressão religiosa,
por isso é preciso analisar a estratificação.
“É um conceito que trata a classificação das pessoas em grupos com base em condições socioeconômicas comuns,
Estratificação social e como um conjunto relacional das desigualdades com as dimensões econômicas, social, política e ideológica”.
diferenciação em geral Enquanto em algumas sociedades primitivas cada pessoa trabalha e participa de forma proporcional dos produtos de
seu trabalho, em outras há isenções e participação desigual nas atividades da tribo e em seus frutos.
Diferenciação social em A forte influência da divisão do trabalho na cultura das sociedades primitivas prova de modo conclusivo que até nas
particular civilizações menos adiantadas o culto religioso não deixa de ter importante e considerado tipo de diferenciação.
A organização social é um tanto quanto complexa; os Murgin e o totemismo (na Autrália); os Esquimós; os Toda (na Índia
Diferenciação ocupacional meridional); os Papua Kiwai (na Nova Guiné britânica); habitantes das ilhas Trobriand (na Melanésia); os índios Omaha,
na sociedade primitiva Pawnee e as tribos Sioux americanos; os Bavenda (no norte do Transvaaal na África do Sul); os Ioruba (tribo sudanesa
ao sul da Nigéria na África Ocidental); os Masai (da África Oriental) são exemplos dessa diferenciação ocupacional.
Aqui se deve questionar como a diferenciação social em todas as suas formas distintas afetam a religião. Existem
influências eruditas nas teologias de religiões tão distintas como o Judaísmo, Parsismo, Bramanismo, Maniqueísmo e
Diferenciação social e
Confucionismo. Protestos feitos pelo Cristianismo, humanismo, iluminismo, unitarinismo, no Judaísmo pelo karaísmo,
religião
no Islamismo pelo mutazila, e no Budismo por alguns segmentos dos mahayana, tentavam corrigir ações doutrinárias,
promovendo essa diferenciação social na religião.
Cada grupo tende a criar e desenvolver seu próprio sentimento de solidariedade inserido em uma comunidade maior,
Consequências
no interior do povo, no Estado ou nação, e eventualmente pode vir a corromper por completo a solidariedade desta
sociológicas, associações
unidade maior. Na sociedade Africana, principalmente no século XVII, no Egito, Grécia, China, Coreia; Roma antiga;
profissionais
no Islã e algumas outras temos exemplos de consequências drásticas sociológicas com influências de associações.
A influência da estratificação profissional, econômica e social sobre as atitudes religiosas na sociedade primitiva
é mais ampla do que aceita em geral. À medida que a especialização se torna mais forte e assertiva, formam-se
grupos baseados em bens e posição social, concepções religiosas, instituições e hábitos, dentro de diferentes
Diferenciação social em camadas da sociedade, e iniciam a diversificar-se em grau considerável.
civilização mais elevada
A religião dos guerreiros, que possuem México e seus soldados; o Mitraismo (culto militar de Mitra no Irã); o Zen-
budismo (na China); a Religião do Mercador (muito estudada por Max Weber); Religiões do Camponês (na Ásia
Ocidental) são exemplo deste tipo de diferenciação.
Diferenciação social nas
Está claro que temos elas exemplificadas e devidamente estabelecidas em todas as regiões do globo terrestre.
religiões mundiais

Fonte: Baseado em Wach (1990, p.250-346).

Religião e o estado

Por último, neste capítulo, ainda é válido citar a influência da religião no Estado, porém,
não em profundidade, uma vez que no material “Ecumenismo” há informações mais
45
UNIDADE I │ SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

detalhadas, contudo, nos é importante conhecer que religiões como o Xintoísmo,


o Islamismo, o Zoroatrismo, o Maniqueísmo, o Confucionismo, o Budismo e o
Cristianismo influenciam, ou influenciaram muito mais no passado, o Estado e todas
as formas de poder.

Religião e os tipos de autoridade religiosa

Para finalizar esta unidade, abordaremos alguns tipos de autoridades religiosas (alguns,
pois certamente existem tipos não encontrados, catalogados ou conhecidos).

A autoridade religiosa nem sempre é fruto de constituição psicofisiológica


extraordinária. Grandes dons espirituais, intelectuais e morais podem
ajudar um “homem de Deus” a ganhar respeito e a reverência dos seus
próximos [...]. Os lideres religiosos pertencem a qualquer categoria
social ou profissão, embora algumas profissões sejam consideradas
particularmente adaptadas para o desenvolvimento de propensões
religiosas. Existem, acaso, critérios pelos se pode determinar que tipos
de personalidade são mais aptos que outros para deter a autoridade
religiosa? A história da religião mostra que tal autoridade pode ser
derivada de forma predominante ou até exclusiva de dote fisiológico
especial (WACH, 1990, p.401).

Veja a seguir algumas características e tipologias principais:

Quadro 12: Tipos de autoridades espirituais nas diferentes culturas.

Max Weber introduziu a linguagem do sociólogo um conceito “feliz” para designar o poder específico da postulação e
Carisma e Liderança exercício de autoridade sobre os outros: “carisma”. O termo deriva do grego no Novo Testamento charisma, isto é, “dom
da graça”. Weber diferenciou carisma pessoal do carisma ex-officio. Também difiniu “hierocracia”.

Não se pode comparar de modo algum, mas Jesus foi o Fundador supremo do Cristianismo, sem Ele, ainda seria
Fundador de Religião Velha Aliança, mas em outras religiões temos nas figuras de Buda, Jaina, Maomé, Zoroastro, Mani, Confúcio e Lao-tsé
fundadores de suas respectivas religiões.

Em tempos de decadências religiosa ameaçadora ou de extinção, aparecem líderes dispostos a restarar o que
consideram a “fé original”, tornam-se, portanto, figuras emblemáticas na história de qualquer religião. Seu carisma varia,
mas exemplos são Moisés, Exra e Sabatai Zebi (falso messias do século XVII no Judaísmo), Francisco, Domingos e Inácio
Reformador de Loyola (cristianismo ocidental); Basílio, João Damasceno e Serafim de Sarov, o moderno santo russo (no Catolicismo
Oriental); Martinho Lutero, Zwínglio e Calvino ou em Fox, Pen e Wesley (no Protestantismo). Também provocam amplo e
efêmero fascínio Melquior Hofmann, Tomás Münzer ou Geraldo Winstanley. Meno Simon, Roberto Browne e David Joris
participaram também da grande Reforma; dentre muitos outros.

Max Weber considera a “profecia” uma categoria especial. Um elemento fundamental da atividade profética é
representado pelo extraordinário poder espiritual que se atribui aos profetas e que é simbolizado em relatos dos seus
Profeta milagres. Existem diversos profetas na Bíblia (desde os menores até os maiores - não deixe de relembrá-los). Por muito
tempo se atribuiu aos profetas a figura de um líder supremo, o que de acordo com as Sagradas Escrituras isso não é uma
verdade fundamental.

Pode ser encarado como precursor do profeta, em muitos casos. Tem autoridade menos pronunciada, embora tenha sido
Vidente
considerável o prestígio que os videntes usufruíram em muitas sociedades.

46
SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE I

Wach entende que a melhor definição que se tem de magia é a de obrigar o nume a conceder aquilo que se deseja.
Existe magia “protetora”, que protege contra más influências, a magia “sedutora”, que proporciona favores dos espíritos.
Mago
O sociólogo, de acordo com o mesmo autor, deve preocupar-se com a distinção entre magia e religião menos do que o
teólogo ou ainda o historiador da religião.
Seu carisma é originariamente pessoal, mas institucionaliza-se com facilidade e regularidade. O adivinho compartilha
com o vidente o caráter “passivo”, mas se diferencia dele por ter de confiar em objetos que ele usa como meios para a
Advinho
interpretação da vontade dos deuses, sendo esses objetos de muitos tipos diferentes. Ele combina as qualidades e talentos
naturais do vidente com técnica e treinamento que o separam do mesmo e indicam como sendo afim ao mago.
O termo é religioso e só secundariamente significa uma categoria ética. A autoridade do santo é intrínseca e independente
Santo
de outras qualificações.
Depende do carisma do seu cargo. Não é somente o chamado, mas a vocação, que o caracteriza o sacerdote, muito
Sacerdote embora, tal chamado possa ser, suposta ou realmente, o inicio da vida sacerdotal no caso individual. Sua comunhão com
a divindade torna-se a base fundamental de existência e atividades sacerdotais. Sua principal função é cultual.
Não se limitando aos detentores de cargos eclesiásticos ou de casta altos e ministeriais especiais ou regulares, o homem
Religiosus devoto e o religioso também por muitas vezes podem ser considerados autoridades, uma vez que conhecem e se
correlacionam com o divino mais do que um de modo de vida sectário e agnóstico.
Sociologicamente, os grupos carismáticos tornam-se objeto mais difíceis de estudar, devido ao caráter mutável e
Seguidores espontaneidade da liderança promovendo desdobramentos imprevistos. Deste modo, seguidores como Pedro e Paulo
tornam-se autoridades espirituais no mais diferentes meios em que atuam.
Fonte: Baseado em Wach (1990, p.397-447).

Para esclarecer somente alguns pontos do exposto acima, dentro de uma weltanschauung
cristã, é que Todo verdadeiro vidente é profeta, mas nem todo profeta é vidente.

A palavra vidente descreve um tipo particular de profeta, aquele que recebe um tipo
particular de revelação profética ou de unção a ser transferida. O antigo testamento
utiliza duas palavras hebraicas para referir-se a vidente: rö´éh (da raiz ra´ah) e
hozéh. No sentido literal ra´ah significa “ver”, particularmente no sentido de ter
visões. Outros significados incluem “contemplar”, “considerar” e “perceber”. E hozéh
literalmente significa “aquele que tem visão” e pode também ser traduzido por “aquele
que observa” ou “observador de estrelas”.

O profeta é basicamente aquele que é inspirado ouvinte da voz de Deus, e que depois a
comunica verbalmente. O vidente é basicamente aquele que tem uma percepção visual.
O profeta possui um dom de comunicação, já o vidente possui o dom de percepção.

Enquanto nävî´ enfatiza o trabalho ativo do profeta verbalizando a mensagem da vinda


de Deus, rö´eh e hozéh destacam a experiência ou os meios pelos quais o profeta “vê
ou percebe” aquela mensagem.

O primeiro dá ênfase ao relacionamento do profeta com o povo. O segundo enfatiza o


relacionamento do profeta com Deus, o que lhe propicia revelações. Um profeta pode
ter a graça de ouvir e proclamar a palavra do Senhor, mas não a de necessariamente
atuar profusamente com a capacidade profético-visionária que um vidente.

O vidente, por outro lado, pode atuar muito com a capacidade de sonhos visionários,
mas, mesmo assim, pode não ser tão profundo nas inspirativas graças de ouvir e falar.
Os videntes são pessoas que têm visões de uma maneira consistente e regular.

47
ANTROPOLOGIA DA UNIDADE II
RELIGIÃO

Nesta unidade veremos retrospectos e pontos de vista antropológicos científicos, uma


vez que a antropologia se resguarda para o empirismo e a sociologia para o humanismo
e posições éticas. Analisaremos pensamentos atuais e contextos que envolvem o tema,
que embora muito falado, relativamente recente estudado.

CAPÍTULO 1
Noções iniciais

A antropologia é a ciência do homem [...]. A palavra “antropologia”


deriva de duas palavras gregas, anthopos, que quer dizer “homem”,
e logos, que quer dizer “conhecimento ordenado”. Por conseguinte, a
Antropologia é o conhecimento ordenado do homem. Na verdade, tudo
o que se refere ao homem diz respeito ao antropólogo. A Antropologia
divide-se em duas partes principais: (1) a Antropologia cultural e (2) a
Antropologia física (MONTAGU, 1969, p.14).

Também nos faz necessário um entendimento da diferença entre sociologia e antropologia


e como se iniciou a última nas colocações de Costa (2005, p.138):

A antropologia e a sociologia, dentre as ciências sociais, definira, de


forma bastante satisfatória, seus objetos de estudo, seus objetivos
e métodos. Enquanto à sociologia cabia o estudo da sociedade
europeia, à antropologia cabia o estudo dos povos colonizados na
África, Ásia e América. A primeira procurava descobrir as leis gerais
que regulamentavam o comportamento social e as transformações
da sociedade, por meio de análises qualitativas e estudos estatísticos
que pudessem dar a maior amplitude possível às suas descobertas.
A antropologia, por sua vez, desenvolvia um método mais empirista
e qualitativo, voltado para a descoberta das particularidades das
sociedades que estudava [...]. A antropologia foi sempre a ciência da

48
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE II

alteridade, isto é, a ciência que busca investigar o outro, aquele que é


essencialmente diferente de mim. Sua gênese aparece nos relatos dos
primeiros viajantes europeus que tentavam descrever os “exóticos”
costumes dos povos com os quais mantinham contato (COSTA,
pp.138-140).

Montagu (1969) trouxe as orientações das duas partes antropológicas que são:

• Ocupa-se estudar a cultura do homem. Para um


estudioso da antropologia, “cultura” é o que se
pode dominar a parte do meio ambiente feita pelo
homem, ou aprendida. Tal como leis, artes, filosofia,
religião entre outros. Perguntam-se como as
Antropologia
pessoas chegam a fazer o que fazem e por que.
cultural
Busca a similaridades de elementos comuns de
todas as culturas a fim de sintetizar genericamente.
Interessa-se por todas as formas de
comportamento, mas não somente através da
simples descrição.

• Também estuda o homem como um ser cultural,


mas estuda o homem como um ser físico. Estuda
como o homem chegou aos traços físicos
Antropologia
hodiernos (“evolução”), e relaciona-os com os
física
traços físicos passados. Muitos se consagram ao
estudo fisiológico, bioquímico, genético e outras
áreas do
A Antropologia física compreende conhecimento
áreas como: que estudam o homem.

1. estudo das origens, ou Antropogenia, que inclui todas as considerações


do processo evolutivo, utilizando-se das ciências geológicas e biológicas;

2. Somatologia, o estudo dos caracteres físicos das raças e sub-raças;

3. Antropogeografia, que é a distribuição geográfica das raças;

4. Psicologia racial, que é o estudo das diferenças entre as raças, no terreno


psicológico;

5. Fisiologia racial e bioquímica e (5) Anatomia comparada e morfologia


(CHAMPLIN, 1991).

Já Antropologia cultural subdivide-se, segundo ainda o mesmo autor, em:

1. Linguística, estudo comparativo dos idiomas;

2. Tecnologia, estudo comparativo das invenções materiais, antigas e


modernas;

3. Arqueologia da pré-história, o estudo dos remanescentes de artefatos


humanos, primeiras indústrias, etc;

4. Antropologia social, estudo comparativo dos costumes, tradições,


organizações sociais, moral, governo, família, comunidade e economia.

49
UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO

Quadro 13: Teorias antropológicas da religião.

Teoria de Solidariedade ou Coesão Teorias Intelectualistas ou


Teorias do Sonhar Alto
Social Cognitivistas
Priorizam a necessidade antropológica
Aderem a necessidade da sociedade como Prioriza as emoções e explicam a religião no
de compreensão de mundo. A religião
prioritárias, por meio da coesão e harmonia que tange minimizar sentimentos negativos,
é interpretada como uma tentativa de
explica como a religião satisfaz a sociedade. promovendo a confiança e serenidade.
compreensão do mundo.

Fonte: Guthrie (2009).

Vimos que Durkheim preocupa-se com a coesão social sobremaneira, ocupando-se em


estudar o sagrado e o profano (já exploramos de maneira exegética anteriormente).
Também estudou a luta da sobrevivência de Darwin (meados do século XIX), A
diferenciação social é a solução pacífica da luta pela vida.

Charles Darwin (1809-1882) em a Origem das Espécies (1859) com sua Teoria da Evolução
influenciou toda sorte de pensamentos biológicos e filosóficos em torno da pergunta
“como chegamos aqui?”. Desta forma, sempre os mais aptos e mais fortes sobressaem
dos mais fracos; Hitler usou inquestionavelmente tais concepções para dar vazão às suas
ideias nazistas da raça pura ariana, isenta de negros, homossexuais e judeus.

Dentro de uma cosmovisão cristã / religiosa e em um contexto da antropologia física,


a Teoria da Evolução contradiz muitas informações bíblicas, muito embora existam
evolucionistas teístas, como o Dr. Francis Collins (diretor do Projeto Genoma Humano).

Pensando sob essa ótica, no planeta não há macroevoluções empiricamente verificáveis


– uma vez que se dá pelo aprimoramento do material já existente – não há sequer
fósseis de espécies intermediárias encontrados, dando fim à teoria de Charles Darwin,
o próprio pai da evolução, afirma. Citado por Lourenço (2011, p.116):

[...] O número de variedades intermediárias, as quais existiram


previamente, [deveria] verdadeiramente ser enorme. Por que, então, as
formações geológicas e cada um dos estratos não estão repletos destes
tais elos intermediários? A geologia, sem dúvida, não revela tal cadeia
orgânica finamente graduada; e isto, portanto, é a objeção mais óbvia e
séria que pode ser levantada contra a teoria [da evolução].

Bactérias não ficam resistentes ex-nihilo (do nada), as mais fortes sobrevivem, pois os
antibióticos matam as bactérias boas também. Segundo Lourenço (2011, pp.179-180):

Um caso de estudo muito interessante é o da bactéria Salmonela.


Ela é responsável pela febre tifoide. Uma Salmonela possui de 6 a 15
pequenos motores que são construídos seguindo uma rígida sequencia
de instruções genéticas. Cada uma das quarenta partes protéicas é

50
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE II

produzida com altíssima precisão. No diâmetro de um fio de cabelo


humano cabem cerca de 8 milhões desses pequenos motores. Um flagelo
é anexado à extremidade de cada motor, formando um conjunto que a
salmonela utiliza como meio de locomoção. Um outro tipo de bactéria
utiliza-se de um motor similar ao da salmonela, mas não tão complexo,
conhecido como T3SS (Type III Secretion System). Muitos evolucionistas
afirmavam que o complexo motor da salmonela havia evoluído desse
outro motor mais simples. Ficou provado que o oposto é verdadeiro. O
motor da salmonela perdeu parte da sua complexidade tornando-se num
mais simples encontrado na Salmonela entérica, serotipo Typhimurium.
Esse tipo de deterioração faz que a bactéria se torne mais agressiva ao
organismo e mais difícil de ser reconhecida pelo sistema imunológico.

Muito embora a teoria de Darwin tenha valor intrínseco para os estudos antropológicos,
muitos acreditam (como SCHMIDT, 2007) que o surgimento da antropologia se deu pelo
animismo humano. As concepções de Durkheim sobre o fato social que inegavelmente
é a religião, dentro de uma ótica específica, veem-se claramente, em outras palavras, já
propostas por João Calvino, como dissemos no início do material o que ele chamou de
Sensus Divinitatis.

Sob o prisma cultural da antropologia, para Geertz (2007), o estudo antropológico da


religião deve ser alcançado em duas diferentes etapas, a da (1) análise do sistema de
significados incorporado nos símbolos que formam a religião propriamente dita e a
da (2) análise do relacionamento desses sistemas aos processos sócios estruturais e
psicológicos. Ele confronta o fato de que hodiernamente se dá mais importância ao
primeiro do que ao segundo. O autor ainda propõe uma abordagem simbolista da
religião, a qual os símbolos harmonizam a vida e as relações das pessoas entre si.

A perspectiva religiosa difere da perspectiva do senso comum, como


já dissemos, porque se move além das realidades da vida cotidiana
em direção a outras mais amplas, que as corrigem e completam,
e sua preocupação definidora não é a ação sobre essas realidades
mais amplas, mas sua aceitação, a fé nelas [...]. Ela difere da arte,
ainda porque em vez de afastar-se de toda a questão da factualidade,
manufaturando deliberadamente um ar de parecença e de ilusão,
ela aprofunda a preocupação com o fato e procura criar uma aura de
atualidade real. A perspectiva religiosa repousa justamente nesse
sentido do “verdadeiramente real” e as atividades simbólicas da religião
como sistema cultura se devotam a produzi-lo, intensifica-lo e, tanto
quanto possível, torna-lo inviolável pelas revelações discordantes de

51
UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO

experiência secular. Mais uma vez, a essência da ação religiosa constitui


de um ponto de vista analítico, imbuir um certo complexo específico
de símbolos – da metafísica que formula e do estilo de vida que
recomendam – de uma autoridade persuasiva (GEERTZ, 2007, p.49).

Geertz, um dos antropólogos mais influentes da história dos Estados Unidos, vê de um


ponto de vista científico e não cristão. Muito do que se sabe de antropologia se deve ao fato
dos estudos deste americano e, portanto, em uma ótica empirista. Os símbolos religiosos
promovem uma espécie de harmonia fundamental entre um estilo de vida particular
(ethos) e uma metafísica especifica (cosmovisão). Sua definição de religião resume-se a:
[...] um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas,
penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens através
da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo
essas concepções com tal aura de fatualidade que as disposições e
motivações parecem singularmente realistas (GEERTZ, 2008, p. 67).

Filosofia da ciência e a antropologia

Tão demasiadamente citado por Geertz, Thomas Kuhn aparece de forma contundente
em suas concepções científicas. De maneira objetiva, precisamos ter uma noção do
todo para nos atermos ao contexto específico antropológico e assim dar sequência aos
nossos estudos.

A ciência tem avançado de modo avassalador nos últimos quatro séculos. Desde Galileu
projetou-se um novo universo científico, envolvendo-se cada vez mais no conhecimento
dedutivo sem resquícios de dogmatismo. Este conhecimento que segundo Aristóteles é
simplesmente o estudo do ser enquanto ser.

Contudo, a ciência se propõe a primeiramente (1) corrigir e organizar sistematicamente


a fim de proporcionar compreensão dos fatos e dos fenômenos. Também se dispõe a
(2) explicar tais fatos e fenômenos, baseado em leis e enunciados gerais, de modo a (3)
prever fatos e fenômenos futuros, baseado em leis, teorias e modelos.

Conforme tais aspectos, é que se dão as diferentes interpretações filosóficas científicas,


seja elas por meio somente do corpo de cientistas, seja por meio de filósofos dedicados
ao progresso do conhecimento e desenvolvimento científico. E desta forma aparece três
ímpares cosmovisões (Weltanschauung) dos americanos Ernst Nagel e Thomas Kuhn,
e o austríaco naturalizado britânico, Karl Popper. Kuhn e Popper possuem maior fama
e olhares no mundo filosófico científico.

52
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE II

Thomas Kuhn demonstra-se de fato mais preocupado em explicar o cotidiano do método


científico do que o mundo ideal, ao contrário de Popper que concentra-se no fato de
como a ciência deveria ser para que o progresso seja contínuo e eficaz. Popper trabalha
com a concepção de verossimilhança entre teorias para se dar o processo contínuo,
Nagel preocupa-se em usar sim a teoria refutada de alguma forma no futuro, pois o
progresso não está entre a verdade ou falsidade da teoria, mas sim na técnica e utilidade
ou inutilidade desta teoria.

O considerado relativista Kuhn define sua Ciência Normal como pesquisa firmemente
baseada em duas ou mais realizações científicas passadas. Para fundamentar sua
concepção paradigmática e a ciência normal ele cita em sua A Estrutura das Revoluções
Científicas o exemplo da teoria ondulatória da luz, conforme a qual dantes, no século
XIX, Newton acreditava que a luz era composta por corpúsculos de matéria, contudo
o paradigma alterou-se por completo quando Yong e Fresnel trataram-na sob o
movimento ondulatório transversal.

O próprio Kuhn afirma que a Ciência Normal não tem por intuito descobrir novidades
significativas, o que é completamente antagônico da visão popperiana, que é estar mais
perto da verdade sempre através das refutações. Já a precisão da pesquisa normal para
Kuhn é necessária para o avanço do conhecimento. Para muitos antropólogos, Kuhn
atrapalhou toda a ciência ao pensar desta maneira.

A ciência normal, movida a busca da resolução de enigmas do grande quebra-cabeça


que é a ciência, ainda em uma visão kuhniana, está sob o efeito do paradigma, a qual
pode continuar sendo creditada mesmo na ausência de regras. Os paradigmas podem
ser maiores do que quaisquer conjuntos de regras por isso são mais importantes e estão
acima das regras.

Tal contexto nos faz importante à medida que vamos avançando em assuntos
empíricos e científicos, contudo, não há necessidade de nos aprofundarmos em
demasia neste tema, desta forma, para o aluno aplicado e interessado indicamos
as leituras dos livros (os quais também podem ser encontrados na Web):

»» A Estrutura das Revoluções Científicas (Perspectiva, SP, 2007) de Thomas


Kuhn (1962).

»» A Lógica da Investigação Científica (Pensadores, Abril, SP, 1975), ou A


Lógica Pesquisa da Científica (Cultrix, SP, 1972) de Karl Popper (1934).

»» The Structure of Science (Harcourt, Brace & World, New York), ou La


Estructura de la Ciencia (Paidós Ibérica, Barcelona, 2006) de Ernest
Nagel (1961).

53
CAPÍTULO 2
A religião, a magia e a ciência
em filosofia

O Sensus Divinitatis é igualmente confessado por muitos intelectuais, tornando-se um


fato a busca pela interação do homem para com alguém maior do que ele. É certo que,
mesmo sem a religião, essa sensação permanece, deste modo o homem busca fontes
alternativas de preenchimento do vazio gerado por essa sensação.

A magia e a própria ciência são exemplos da busca do homem pelos porquês e desta
forma tentar responder o máximo de perguntas possíveis que são geradas desde a
infância por cada um de nós.

Veja o entendimento de Chinoy (1967, p.497) no que tange magia e religião:

Tanto a religião quanto a magia incorporam o ritual, mas as atitudes


em relação a essas práticas fora do comum são diferentes. A prece ou a
cerimônia religiosa é acompanhada de temor respeitoso e reverência;
os homens imploram a ajuda ou a orientação divina ou procuram
persuadir os deuses ou espíritos a encará-los favoravelmente.

A magia é mais casual e prosaica; o mágico ordena e espera-se que


as forças da natureza obedeçam às suas ordens sem a intervenção
de uma força sobrenatural [...]. Na prática, a magia e a religião se
acham amiúde entrelaçadas. Os homens esperam, não raro, lograr
resultados específicos através das orações, e a magia faz uso frequente
de ideias, objetos e práticas sagradas [...] a magia tem pouco valor
prático e, onde quer que surjam uma perspectiva racional e a ciência
moderna, entibia-se o império da magia [...]. A magia e a Ciência
assemelham-se no interesse pelo mundo do homem e pela natureza e
na afirmativa de que estabelecem relações entre meios e fins, causas
e efeitos.

Para que se tenha mais bem entendido a ideia do embate Ciência X Religião, a qual a
última defende em forte posição o “criacionismo” em sua grande maioria, uma vez que
o judaísmo, cristianismo, catolicismo e algumas outras religiões creem em um Deus
uno e criador do universo, da vida e de todas as coisas.

Vejamos a seguir os argumentos dos lados:

54
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE II

Tabela 3: Criacionismo X Evolucionismo

CRIACIONISMO EVOLUCIONISMO

Deus criou o homem e os demais seres vivos já na forma atual O homem e os demais seres vivos são resultado de uma lenta e
há menos de 10 mil anos.
X gradual transformação que remonta há milhões de anos.

Os fósseis (inclusive de dinossauros) são animais que não


Os fósseis e sua datação remota confirmam que a extinção de
conseguiram embarcar na Arca de Noé a tempo de salvarem-se X espécies também faz parte do processo evolutivo.
do dilúvio.

Deus teria criado todos os seres vivos seguindo um propósito e As transformações evolutivas são resultado de mutações
uma intenção.
X genéticas aleatórias expostas à seleção natural pelo ambiente.

O homem não é descendente dos primatas atuais, mas tem


O homem foi feito à imagem e semelhança de Deus e, portanto,
não descende de primatas.
X uma relação de parentesco. Ambos descendem de um ancestral
comum já extinto.

Seres vivos com ciclo de vida mais curto comprovam a evolução


Não há como comprovar a hipótese evolutiva em laboratório e,
portanto, ela não é científica.
X por seleção e adaptação, como no caso de populações de
bactérias resistentes a determinados antibióticos.

Apenas detalhes científicos que ainda não estavam claros no


Desde Darwin, vários aspectos de sua teoria já foram revistos, o tempo em que Darwin viveu, como os avanços na área da
que prova sua inconsistência.
X Genética e da Biologia Molecular, foram revistos. No essencial, a
teoria é válida há 145 anos.

A Segunda Lei da Termodinâmica demonstra que os sistemas A Segunda Lei da Termodinâmica não se aplica a sistemas
tendem naturalmente à entropia (desorganização).
X abertos, como os seres vivos.

Os seres vivos são complexos, mas longe de serem perfeitos.


A perfeição dos seres vivos comprova a existência de um Criador
inteligente.
X O apêndice humano é um exemplo de estrutura residual sem
função.

A evolução não caminha sempre para a maior complexidade.


Mesmo admitindo a Evolução, ela só poderia ser de origem
Insetos atuais são mais simples que seus ancestrais já extintos.
divina por caminhar sempre no sentido da maior complexidade e X Nem sempre evolução significa melhoria, apenas maior
do aperfeiçoamento biológico.
adaptação ao meio ambiente.

Aspectos fundamentais envolvendo a origem da vida ainda


A origem da vida ainda não é explicada de modo satisfatório precisam ser mais bem esclarecidos, mas o método científico e
pelos evolucionistas.
X não-dogmático é o caminho mais adequado para atingir esses
objetivos.

Fonte: Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT884203-1664-9,00.html>.

A respeito deste tema, o ilustre Dr. Collins (2007, p.233), praticamente resume o
exposto acima:
Nesse contexto, a ciência pode ser uma forma de adoração. De fato, os
que creem em Deus devem buscar a vanguarda dos que procuram novos
conhecimentos. Os que creem em Deus têm, muitas vezes, levado a
ciência ao passado. Entretanto, com muita frequência hoje em dia, os
cientistas sentem-se constrangidos em admitir suas visões espirituais.
Somam-se a esse problema os líderes de igrejas, que em geral parecem
fora de sintonia com as novas descobertas científicas, correndo o
risco de atacar as perspectivas da ciência sem uma compreensão total
dos fatos.

55
UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO

De fato, este acaso evolucionista deve ser mesmo muito criativo, inteligente,
preocupado com a estética, colorações, simetria, inimaginavelmente preciso,
com grande poder causal, pois é a causa de todas as coisas, por tabela,
Autoexistente (Ap.21.6), sem origem (Ap.1.8), Atemporal, uma vez que Ele era
antes da criação da dimensão “tempo”, Imutável (já que não se pode mudar
onde não se existe tempo), haja vista Tg. 1.17 e Mq. 3.6; Imaterial e Incorpóreo
(Jo.4.24), e ainda tremendamente Poderoso e Grandioso para criar tudo do
nada (Ap.22.13). Criacionistas e evolucionistas possuem exatamente os mesmos
dados. A realidade é a mesma para eles. Contudo, a percepção desta realidade
e a interpretação dos dados podem ser notavelmente diferentes para ambos,
dependendo da perspectiva do indivíduo, suas pressuposições, cosmovisão e
até mesmo suas tendências.

João Calvino, Agostinho, Tomás de Aquino, Martinho Lutero, Maomé, Gandhi, John
Wesley, George Fox dos Quacres, entre outros representam figuras de liderança que
influenciaram grandemente movimentos abruptos da sociedade; tal importância tanto
do líder quanto do contexto é fulcral para a mudança ou ativação do pensamento social,
bem como emoções geradas pelos movimentos.

Não deixe de ler no Anexo I, caso já não o tenha feito, as 95 teses de Martinho
Lutero, já que o citamos aqui e por ter importância fundamental para a
diversificação sociológica hodierna, de acordo com os pensamentos weberianos
e de tantos outros que concordam a divisão de mundo que o protestantismo foi
responsável na Idade Média.

Na Idade Média, a disputa Ciência X Religião tomou proporções nunca dantes


vista, haja vista o Iluminismo, a Reforma e a Revolução Francesa como
acontecimentos fulcrais para que se delimitassem tais concepções. A geologia
e arqueologia tiveram por base estabelecer, estudar e confirmar se os papiros
encontrados do Mar Morto contribuem ou não para a continuação da fé nas
Sagradas Escrituras como afirmavam a Igreja Primitiva. A biologia, química,
física e cosmologia, por sua vez, tentaram (e tentam) diagnosticar as causas
iniciais da geração do universo, bem como a geração (espontânea ou não)
da vida.

Enfim, disputas dos séculos XVII a XIX foram extremamente acirradas com
argumentos de ambas as partes, fazendo com que muitos cristãos se
apostatassem da fé, assim como muitos céticos tornaram-se tementes a Deus.

Os interesses dos estudos da antropologia frente às questões evolucionistas eram


diversos, Costa (2005, pp.140-141) traz algumas informações:

56
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE II

Os estudos antropológicos, entretanto, estavam longe de respeitar a


objetividade positivista a que aspiravam os cientistas sociais do século
XIX. A Europa procurava se integrar em torno de um modelo econômico
e político único, que julgava universal – capitalista, industrial e
nacionalista –, buscando defendê-lo e legitimá-lo. Os interesses
coloniais, por sua vez, procuravam reforçar esse modelo político e
econômico transformando as populações de outros continentes em
consumidores de produtos e mão de obra, sendo necessário, para isso,
intervir drasticamente nessas sociedades. O desenvolvimento das
ciências humanas e da antropologia, particularmente, servia também
aos interesses econômicos da Europa e à necessidade expansionista
do capitalismo [...]. De acordo com elas, a humanidade seria composta
do processo evolutivo. Assim, cada sociedade poderia ser classificada e
inserida em um contínuo que ia das mais atrasadas e simples às mais
adiantadas, evoluídas e complexas. As sociedades mais simples, ou
primitivas, como foram chamadas, correspondiam a estágios inferiores
na história evolutiva da humanidade, verdadeiros fósseis vivos de nosso
passado. Continentes inteiros foram vistos como museus propícios ao
estudo da nossa diversidade evolutiva e genética.

De acordo com o mesmo autor, a Sociologia também não ficou imune à influência
evolucionista. Diversos sociólogos procuraram também descobrir as leis gerais que
ordenavam as transformações e a evolução social, responsáveis por fazer com que
formas sociais mais simples fossem passando natural e progressivamente a outras,
mais complexas e evoluídas (COSTA, 2005).

Ainda neste contexto evolucionista na sociologia, para dar sequência e profundidade ao


assunto, veja o quadro abaixo:

Quadro 14 – O evolucionismo na sociologia.

Aplicando esse princípio teórico (natural e progressivo) ao estudo comparado dos diferentes modelos europeus de
vida social, distinguiram também diversas “espécies” que diferenciavam uma das outras, umas mais simples, outras
Émile Durkheim mais complexas. Como vimos anteriormente, as sociedades mais simples eram aquelas cujas tarefas se encontravam
divididas apenas por sexo e idade, por outro lado, nas sociedades mais complexas, as atividades produtivas iam
gradativamente se diferenciando segundo outros critérios, como o grau de instrução, como exemplo.
Outro sociólogo que distinguiu nos países europeus duas espécies de formações sociais: a comunidade, em que as
relações sociais entre os indivíduos são mais próximas, tendo por base a vida familiar e as relações comunitárias, e a
Ferdinand Tönnies sociedade, em que já se desenvolve a vida na cidade, há grande presença do Estado e menor coesão entre os agentes
sociais. Desta maneira, tais cientistas identificaram formações sociais “primitivas” e “complexas” e entendiam a história
como um processo inexorável e natural que transformaria as sociedades primitivas em complexas.
Foi a teoria que mais contribuiu para uma crítica eficiente e eficazes dos pensamentos evolucionistas da antropologia
Marxismo e sociologia, no que tange explicar a vida social como uma totalidade integrada, das quais as desigualdades entre as
partes são consequências das relações que continuam entre si e não de sua natureza.

Fonte: Baseado em Costa (2005).

57
UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO

Faz-nos importante também ter em mente concepções etnocêntricas e eurocêntricas e


diferenciá-las entre si, nas palavras de Costa (2005, p.143):

• É a tendência a interpretar as
sociedades não europeias a partir dos
Eurocentrimo valores e princípios europeus, isto é,
tomar a sociedade europeia como
modelo e padrão.

• É o princípio igualmente tendencioso


de considerar o seu grupo étnico,
Etnocentrismo nação ou nacionalidade como padrão
e modelo, ponto mais elevado
atingido pela espécie humana.

Funcionalismo

O funcionalismo surgiu no século XX, de modo com que a escola antropológica sucedeu
ao evolucionismo, contra-argumentado em parte às críticas que a ele se faziam por meio
do etnocentrismo e eurocentrismo. O funcionalismo é uma teoria sociológica que busca
explicar fenômenos sociais realizando o papel das instituições na sociedade. Se uma
determinada mudança social promove equilíbrio harmonioso é considerado funcional.
Contudo, se este elemento promove o oposto a essa harmonia e continuação do sistema
da sociedade, então é disfuncional e não tem nenhum efeito.

É um campo da antropologia e das ciências sociais que procura explicar aspectos da


sociedade por instituições e duas consequências para a sociedade em geral. É uma
corrente sociológica associada à obra de Durkheim.

De acordo com a escola funcionalista, as diversas sociedades não deveriam


ser comparadas umas com as outras, mas estudadas em si mesmas de
forma particular e isolada. Cada sociedade constitui uma totalidade
integrada e composta de partes interdependentes e complementares,
que tem a sociedade por função satisfazer as necessidades essenciais
dos seus integrantes [...]. O fato de que uma sociedade pareça
inicialmente desordenada ou desintegrada ao pesquisador, resulta de
desconhecimento em relação a ela, o qual só será superado por um
longo processo de investigação e convivência do antropólogo com o
grupo estudado. É a chamada observação participante, método de
pesquisa que revolucionou os estudos antropológicos, substituindo a

58
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE II

analise de informações superficiais e questionários inadequados pelo


estudo sistemático das sociedades (COSTA, 2005, p.143).

De acordo ainda com o mesmo autor, os funcionalistas não consideravam as sociedades


não capitalistas atrasadas, mas as julgavam de modos diferentes. Não se colocavam
contra as mudanças sociais, mas apoiavam o princípio de “administração indireta” – o
colonialismo em cooperação com as elites nativas – para dar norte a essas mudanças,
em defesa da transformação vagarosa e bem dosado que preservasse as sociedades dos
efeitos destruidores da ação colonialista. O funcionalismo, portanto, foi responsável
pela aplicação de certos conceitos, os quais também foram incorporados à sociologia,
como função e sistema social (COSTA, 2005).

Não deixe de pesquisar mais sobre funcionalismo. Indicamos as leituras


disponíveis na Web:

<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1679-39512004000200002&script=sci_
arttext>.

< ht t p : / / w w w. s c i e l o. b r / s c i e l o. p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t tex t & p i d = S 0 1 0 2 -


64451989000200009>.

<http://filosofiasociologiacursonormal.blogspot.com.br/2013/04/o-
funcionalismo_1.html>.

Estruturalismo

O estruturalismo é uma construção teórica iniciada pelo etnólogo


Claude Lévi-Strauss. A partir das suas postulações, o entendimento
estruturalista ganhou corpo e se desdobrou em dois planos. O primeiro
fundamentou uma das correntes filosóficas que animaram a segunda
metade do século XX. O segundo irradiou sua epistemologia para os mais
diversos campos das ciências humanas e sociais. Dentre esses campos
figura o das ciências da gestão, entendida como compreendendo os
estudos organizacionais e os estudos administrativos. Como movimento
filosófico, o estruturalismo tem um papel decisivo na trajetória que
envolve o embate entre o positivismo lógico, a fenomenologia, a
fenomenologia existencial e o historicismo. Embora o corpo teórico
do primeiro estruturalismo tenha perdido homogeneidade, os seus
preceitos iniciais continuam a ser uma das fontes da problematização
sobre as quais se verte a ontologia e a gnosiologia contemporâneas
(CHERQUES, 2006).

59
UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO

No começo do século XX, diversas disciplinas e setores do conhecimento alcançaram o


indiscutível progresso centrando suas pesquisas não nos dados observáveis e objetivos
da realidade, mas no estudo de aspectos subjetivos e concernentes à linguagem e ao
imaginário dos indivíduos sociais. Ainda dentro deste contexto, estude as relações
a seguir:

Tabela 4: Estruturalismo e suas abrangências.

Estruturalismo na(o) Descritivo


Método diagnóstico, tratamento e cura das neuroses. Foi proposta por Freud, o qual resgatou o sentido e a
Psicanálise
racionalidade dos sonhos, considerado até o século XX irracionais ou sobrenaturais.

Criada no início do século XX por Saussure, o qual propôs uma ciência geral dos signos que buscava
Semiologia descobrir os sentidos contidos nas diferentes linguagens do homem, tais sentidos formariam sistemas de
signos que mostrariam a estrutura inconsciente que ordenava o comportamento humano.

Multiplicava suas pesquisas no setor da ideologia, pesquisando os interesses subjacentes ao discurso dos
quais os indivíduos defendem seus próprios interesses. O método estruturalista adaptou-se de forma pacífica
Marxismo
às análises marxistas, onde cada sociedade poderia ser definida de acordo com a estrutura de classes sociais
e das formas de exploração de mais-valia.

Para os estruturalistas, a estrutura refletia àquilo que não se pode ser observada, porém apreendido pela
interpretação científica. Em Lévi-Strauss, ela [a estrutura] é uma elaboração teórica capaz de dar sentido
Estrutura Social aos dados empíricos de certa realidade. Desta maneira, é a estrutura social que organiza, conecta e
relaciona as diversas instâncias, estabelecendo as múltiplas relações entre os elementos, os grupos e as
instituições.

Lévi-Strauss para responder às críticas dos aspectos sincrônicos do estruturalismo, focou-se nos aspectos
Análise Sincrônica da Sociedade diacrônicos e de mudança social. O historiador, para Lévi-Strauss busca desenrolar um processo no tempo, já
a ordem sincrônica pertence ao antropólogo.

De acordo com a linguística de Saussure, o estudo da linguagem não deve objetivar o discurso tão somente,
as regras e as concepções que deixam à língua operar, isto é, na lógica oculta que rege a fala de quem se
expressa. A semiologia deve conhecer a estrutura da língua, aquilo que é semelhante a todos os falantes
O Método Linguístico
e que age no nível inconsciente. As “estruturas elementares” de Lévi-Strauss são compostas de (1)
consanguinidade ou relação entre irmãos, (2) aliança ou relações entre casais e (3) filiação ou relação entre
gerações.

Conjunto de estudos antropológicos que por sua vez semelhantemente ao estruturalismo, utilizaram
pressupostos teóricos e metodológicos elaborados pelas ciências da cognição na pesquisa social. As
Antropologia Cognitiva
primeiras análises da vida social aparecem em Durkheim, enquanto a ideia de ação social com sentido, em
Max Weber.

Fonte: Baseado em Costa (2005).

A antropologia moderna e contemporânea

Faz-se notório os assuntos em debate hoje em dia em termos mundiais, uma vez que
a maior parte deles já foi aceita pela maioria planetária de modo avassalador, como
o capitalismo e a democracia. Contudo há questões em debate até os dias de hoje, tal
como aceitação da minoria e temas sobre a maioria, a complexa questão da identidade,
igualdada e diferenças, a diferenciação, normalidade e dissidência.

Dos antropológicos hodiernos, os que mais se destacam nesta área do conhecimento


são Michel Foucault e Clifford James Geertz:

60
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE II

Michel Foucault (1926-1984)

Figura 5.

Fonte: http://f-origin.hypotheses.org/wp-content/blogs.dir/704/files/2012/05/Bild-Michel-Foucault.jpg

Francês, filósofo e professor da cátedra de História dos Sistemas de Pensamento no


Collège de France de 1970 a 1984. Trata principalmente do tema do poder, rompendo
com os pensamentos clássicos do termo. Para analisá-los Foucault investiga vários
temas correlatos como o poder disciplinar, biopoder e os dispositivos da loucura e
da sexualidade. A inovação da sua abordagem não reside em uma análise histórica
tradicional, linear e cronológica, mas na elaboração de uma genealogia do objeto
analisado, ou seja, realiza um estudo histórico que não visa uma origem única e causal
dos fenômenos, mas sim na pesquisa das multiplicidades de fatores e dos distintos
conflitos sociais. Seus estudos são um marco nas ciências sociais e, ainda mais na
historiografia, abrindo novos setores de estudo.

Clifford James Geertz (1926-2006)

Figura 6.

Fonte: http://www.indiana.edu/~wanthro/theory_pages/images/geertz-photo.jpg

Americano, PhD em Harvard. Conduziu muitas pesquisas etnográficas no sudoeste


asiático e no norte da África. Centrou-se também ao estudo das religiões, no islã,
sobretudo. Dedicou-se em diversas pesquisas sobre as questões relativas à diversidade
61
UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO

étnica e suas implicações sobre o mundo moderno; foi professor emérito no Instituto
de Estudos Avançados de Princeton.

O antropólogo foca-se, no mundo moderno, no advento de novos modelos explicativos


e novas metodologias de pesquisa com as demais ciências da sociedade e distintos
objetos para análise científica; segundo ainda Costa (2005, pp.175-176):

A questão fundamental da antropologia foi sempre, desde o seu


surgimento, estabelecer as bases científicas do conhecimento e da relação
entre o “eu” – o pesquisador – e o “outro” – o pesquisado, encarados,
por princípio, como entidades diferentes e autônomas [...]. Isso significa
que a grade questão da antropologia é a construção e a compreensão
das identidades, ou seja, dos mecanismos que fazem o outro ser quem
é e como é, além do desvendamento dos mecanismos pelos quais o
comportamento, o sentimento e os códigos de ação permitem que essas
formas de ser se constituam, tornem-se identificáveis e se reproduzam
[...]. Essa crise de identidade passa a fazer parte do que chamamos de
cultura contemporânea ou da pós-modernidade [...]. Nesse contexto
que, diante das mudanças epistemológicas no campo da antropologia
e no advento de paradigmas mais interpretativos de pesquisa e
análise, abandonou-se a busca por formas de identidade normativas,
regulares ou institucionais, como a família e a nação, para se pesquisar
mecanismos identitários emergentes, de natureza cultural e política,
como a organização das minorias.

Meio ambiente

Uma perspectiva metafísica por trás do subjetivismo antropológico do


meio ambiente

Segundo Pavan Sukhdev, economista do “Deutsche Bank”, líder de um estudo europeu


sobre ecossistemas, trata que somente a devastação ambiental causa um prejuízo que
fica em torno de 2 e 5 trilhões de dólares por ano. O economista alemão chegou a esta
conclusão estimando o valor dos serviços – como a absorção de gás carbônico e a
disponibilidade de água doce – oferecidos pelas florestas com os custos tanto do seu
deslocamento como da vida sem ambos. E concluiu que a crise de crédito é praticamente
insignificante se comparada à crise ambiental.

O ar é prejudicado, a biodiversidade de espécies está cada vez mais extinta, a


contaminação de solos, rios e lagos agravada, desmatamento de árvore já é considerado
sinônimo de expansão dos grandes centros, caça e pesca predatória cresce num ritmo

62
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE II

desordenado e desorganizado. A recente intensificação do processo de salinização das


áreas irrigadas, somado com todo o colapso da economia mundial o que exigirá muito
mais do setor ecológico.

O termo desenvolvimento sustentável dado pela ciência ambiental está perdendo


espaço para tão somente sustentabilidade, incorrendo na pergunta, sustentar o quê?
É possível instaurar preceitos empíricos sustentáveis? Se sim, este trabalho tem por
intuito o de descobrir.

O problema de demarcação proposto por Karl Popper deve ser considerado (vide leituras
recomendadas), uma vez que entre a observação e experimentação que a humanidade
já está sofrendo dentro de alterações climáticas relevantes, existe um marco importante
entre os limites cognitivos e ações subjetivas que por ora causa danos irreversíveis
ao meio ambiente e inverte ferindo a lógica do conhecimento, qualquer pensamento
racional que se tem por base lógica o homem não ser o predador de si mesmo e continuar
a jornada da busca pela vida e existência humana.

Heidegger, influenciado por Kant, Herder e Humbolt que refletiam sobre a natureza,
possui em muitos conceitos, principalmente em Ser e Tempo9 sobre a correlação do
homem com seu meio, Karl Marx, George Perkins Marsh e Aldo Leopold também não
se fizeram indiferentes a temas ambientais, uma vez que em Marx todos seus conceitos
econômicos e combate ao capitalismo são quase em sua totalidade, uma afronta ao
conceito deturpado e antagônico ao se desenvolver sustentavelmente.

O crescimento econômico impacta o meio ambiente, isso é um fato empírico, haja


vista o livro de Al Gore Uma Verdade Inconveniente. Segundo Thomas e Callan (2010,
p.485) o crescimento populacional mundial se dá em torno de 1,7% ao ano, sendo que
“os dados implicam que o resultante impacto ambiental por unidade de renda precisa
diminuir a um índice entre 3,5% e 4% ao ano para evitar mais população e exaustão dos
recursos naturais”, segundo os autores dá-se a relação entre crescimento populacional,
aumento da renda e o meio ambiente em um determinado tempo, a seguir:

Renda Impacto Ambiental


������� ��������� � X X População
População Renda

Deste modo, a Curva Ambiental de Kuznets e suas respectivas inferências devem ser
consideradas para efeito de conhecimento como suporte filosófico teorizado científico
para uma proposta do crescimento econômico com respectiva mitigação da degradação
ambiental dentro do Método Heurístico proposto por Moles (1971, p.67), sobre hipóteses
e teorias, bem como sua respectiva miscelânea, métodos de limites e diferenciação.

9 Recomendados a leitura dessa famosa obra de Heidegger: “Ser e Tempo”.

63
UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO

Os históricos dos pensamentos legislativos e ativistas também não podem ser


descartados, uma vez que Eco-92, a própria Agenda 21, a convenção de Estocolmo,
Protocolo de Montreal e suas respectivas emendas, o marco histórico criado pelo
Protocolo de Kyoto dentre outros tratados e acordos internacionais que alteraram
significativamente o modo de ver o meio ambiente pela indústria e pelo Estado, são
importantes processos que a humanidade passou com relação ao processo crescente,
muito embora lento para os padrões necessários, da preocupação ambiental.

[...] entendida em sentido ontológico-categorial, um caso limite do ser


de um possível ente intramundano. O ser-aí só pode descobrir o ente
como natureza num determinado modo de seu ser-no-mundo. Esse
conhecimento tem o caráter de uma determinada desmundanização
do mundo. […] Do mesmo modo, o fenômeno “natureza”, no sentido
do conceito romântico de natureza, só poderá ser apreendido
ontologicamente a partir do conceito de mundo, ou seja, através da
análise existencial do ser-no-mundo. (HEIDEGGER, 1993, p. 65).

Através de tais pensamentos, o de ser-no-mundo, diante da pré-sença do conceito


Dasein deste filósofo, sua a pesquisa dará início a conceitos ambientais filosóficos
importantes (indicamos a pesquisa em caso de especialização do tema).

Grandes filósofos do passado também não podem deixar de ser citados, uma vez
que acreditavam que o mundo natural é vivo como um todo e possui um movimento
ininterrupto de transformação. E é através de Aristóteles e Platão que a revolução
deste pensamento [ambiental] em Galileu e Newton, passando-se por Descartes e seu
pensamento mecanicista em relação ao meio natural e desprezo latente pelo corpo, bem
como todo seu antagonismo em relação à matéria comparado com Aristóteles e Platão
precisamos ter em mente.

A Revolução Industrial dos séculos XVIII e XIX teve seu determinante papel nas
tomadas de decisões para a efetiva degradação ambiental, tema o qual se confunde com
a busca incessante e latente do homem pelo recurso natural não renovável, chamado
“ouro negro”, mais precioso, destarte petróleo.

Martin Heidegger teve na Primeira Guerra referência para desenvolver sua hermenêutica
existencial, questionando o dualismo de Descartes, porém, não se aproximando com
Bergson através do conceito ser-no-mundo, o que para Champlin (2001), “quanto
a esse particular, é um tanto vaga, não podendo ser usado com precisão para que
determinemos os valores humanos”.

A concepção humana quanto à qualidade ambiental segundo Thomas e Callan (2010,


p.23) é uma redução da contaminação antropogênica a um nível que seja “aceitável”

64
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO │ UNIDADE II

pela sociedade. Segue-se que o enunciado o quanto de bom é bom o suficiente latente
na obra de Joel Makower faz-se tão verdadeira quanto qualquer enunciado básico
científico. Muito embora não se possa testar empiricamente em sua totalidade, mas
possa-se pensar sobre o assunto e propagar a níveis aceitáveis de conscientização
antropológica frente a assuntos ecológicos que envolve simplesmente a sobrevivência
da espécie humana da Terra.

65
Para (não) finalizar

Não pare no meio do caminho


Ingenuidade é acreditar que um assunto encontra-se esgotado sempre ao final de algum
livro, material ou estudo. Este é um meio de pesquisa para que seus estudos continuem
e prossigam sempre avançando.

De modo a apresentar as informações mais relevantes, tivemos que conter quando a


assuntos mais profundos de contextos que se destinam a sociólogos e antropólogos de
profissão, contudo, o apresentado nos foi válido para explanar todos os subtemas de
interesse para nossa área do conhecimento “Religião”.

Tentamos demonstrar e trazer o máximo de contextos possíveis delimitados pelo


setor sociológico e antropológico da religião por meio de obras respeitadas e autores
renomados.

Existem bons materiais de leitura na Internet, contudo jamais substituirá as literaturas


e obras que estão nas bibliotecas, contudo, é um ótimo meio de continuação de suas
pesquisas.

Indicamos os sites de pesquisa:

<http://www.sociologia.com.br/>

<http://www.scientiaestudia.org.br/>

<http://www.fflch.usp.br/da/revista-de-antropologia/>

<http://www.fflch.usp.br/da/vagner/antropo.html>

<https://www.youtube.com/user/poliedrotube>

66
Referências

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Fontes, 1999.

BENTES, J.M.; CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, v.1.


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_______, v.2. São Paulo: Candeia, 1991.

_______, v.3. São Paulo: Candeia, 1991.

_______, v.4. São Paulo: Candeia, 1995.

_______, v.5. São Paulo: Candeia, 1997.

_______, v.6. São Paulo: Candeia, 1997.

BERGSON, Henri. O pensamento e o movente: ensaios e conferências. São Paulo:


Martins Fontes, 2006.

BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de


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WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 2. ed. São Paulo:


Cengage Learning, 2008.

68
ANEXO

As 95 Teses de Martinho Lutero


1. Ao dizer: “Fazei penitência”, etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis
que toda a vida dos fiéis fosse penitência.

2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da
confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).

3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior
seria nula, se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.

4. Por consequência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a


verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.

5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs
por decisão própria ou dos cânones.

6. O papa não pode remitir culpa alguma senão declarando e confirmando que ela foi
perdoada por Deus, ou, sem dúvida, remitindo-a nos casos reservados para si; se estes
forem desprezados, a culpa permanecerá por inteiro.

7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em
tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.

8. Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones,
nada deve ser imposto aos moribundos.

9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos,
sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.

10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos
moribundos penitências canônicas para o purgatório.

11. Essa erva daninha de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter
sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.

12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição,
como verificação da verdadeira contrição.

13. Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas,
tendo, por direito, isenção das mesmas.

69
ANEXOS

14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande


temor, e tanto mais, quanto menor for o amor.

15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para
produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.

16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o
semidesespero e a segurança.

17. Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror diminua na medida
em que cresce o amor.

18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da
Escritura, que elas se encontram fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.

19. Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de
sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos
plena certeza.

20. Portanto, sob remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente
todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.

21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida
de toda pena e salva pelas indulgências do papa.

22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo
os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.

23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só
é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.

24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa
magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.

25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e
cura tem em sua diocese e paróquia em particular.

26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele
não tem), mas por meio de intercessão.

27. Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na
caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].

28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro e a cobiça; a
intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

70
ANEXOS

29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas? Dizem
que este não foi o caso com S. Severino e S. Pascoal.

30. Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver
conseguido plena remissão.

31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as
indulgências, ou seja, é raríssimo.

32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se
julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.

33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa
aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Deus.

34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação
sacramental, determinadas por seres humanos.

35. Não pregam cristãmente os que ensinam não ser necessária a contrição àqueles que
querem resgatar ou adquirir breves confessionais.

36. Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão pela de pena
e culpa, mesmo sem carta de indulgência.

37. Qualquer cristão verdadeiro, seja vivo, seja morto, tem participação em todos os
bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

38. Mesmo assim, a remissão e participação do papa de forma alguma devem ser
desprezadas, porque (como disse) constituem declaração do perdão divino.

39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar perante o povo ao
mesmo tempo, a liberdade das indulgências e a verdadeira contrição.

40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das
indulgências as afrouxa e faz odiá-las, pelo menos dando ocasião para tanto.

41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o
povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.

42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de
indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.

43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado,
procedem melhor do que se comprassem indulgências.

44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao
passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.
71
ANEXOS

45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar
com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.

46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem
conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro
com indulgência.

47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui
obrigação.

48. Deve-se ensinar aos cristãos que, ao conceder indulgências, o papa, assim como
mais necessita, da mesma forma mais deseja uma oração devota a seu favor do que o
dinheiro que se está pronto a pagar.

49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam
sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por
causa delas.

50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de
indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a
carne e os ossos de suas ovelhas.

51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto - como é seu dever - a dar
do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extraem
ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de
S. Pedro.

52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o


comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.

53. São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências,
fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.

54. Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou


mais tempo às indulgências do que a ela.

55. A atitude do papa é necessariamente esta: se as indulgências (que são o menos


importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o
Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos,
procissões e cerimônias.

56. Os tesouros da Igreja, dos quais o papa concede as indulgências, não são
suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.

72
ANEXOS

57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos
pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.

58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam,
sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano
exterior.

59. S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando,
no entanto, a palavra como era usada em sua época.

60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que lhe foram proporcionadas
pelo mérito de Cristo, constituem este tesouro.

61. Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos, o poder do papa por si só
é suficiente.

62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

63. Este tesouro, entretanto, é o mais odiado, e com razão, porque faz com que os
primeiros sejam os últimos.

64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é o mais benquisto, e com razão, pois
faz dos últimos os primeiros.

65. Por esta razão, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam
homens possuidores de riquezas.

66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a
riqueza dos homens.

67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente
podem ser entendidas como tal, na medida em que dão boa renda.

68. Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça
de Deus e a piedade na cruz.

69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários
de indulgências apostólicas.

70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com
ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em
lugar do que lhes foi incumbido pelo papa.

71. Seja excomungado e maldito quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.

73
ANEXOS

72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das
palavras de um pregador de indulgências.

73. Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram
defraudar o comércio de indulgências,

74. muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram
defraudar a santa caridade e verdade.

75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes ao ponto de poderem
absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse
possível, é loucura.

76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o
menor dos pecados veniais no que se refere à sua culpa.

77. A afirmação de que nem mesmo S. Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia
conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o papa.

78. Afirmamos, ao contrário, que também este, assim como qualquer papa, tem graças
maiores, quais sejam, o Evangelho, os poderes, os dons de curar etc., como está escrito
em 1 Co 12.

79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insignemente erguida, equivale
à cruz de Cristo.

80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes
conversas sejam difundidas entre o povo.

81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil, nem para os
homens doutos, defender a dignidade do papa contra calúnias ou perguntas, sem
dúvida argutas, dos leigos.

82. Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por causa do santíssimo amor e
da extrema necessidade das almas - o que seria a mais justa de todas as causas -, se redime
um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da
basílica - que é uma causa tão insignificante?

83. Do mesmo modo: por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e
por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em
favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?

84. Do mesmo modo: que nova piedade de Deus e do papa é essa: por causa do dinheiro,
permitem ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, porém não a
redimem por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta, por amor gratuito?

74
ANEXOS

85. Do mesmo modo: por que os cânones penitenciais - de fato e por desuso já há
muito revogados e mortos - ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de
indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?

86. Do mesmo modo: por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos
Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São
Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?

87. Do mesmo modo: o que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição
perfeita, têm direito à remissão e participação plenária?

88. Do mesmo modo: que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o
papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e
participações 100 vezes ao dia a qualquer dos fiéis?

89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do o dinheiro,
por que suspende as cartas e indulgências outrora já concedidas, se são igualmente
eficazes?

90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem
refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos
e desgraçar os cristãos.

91. Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e


a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem
mesmo teriam surgido.

92. Fora, pois, com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo: “Paz, paz!” sem
que haja paz!

93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo: “Cruz! Cruz!” sem
que haja cruz!

94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça,
através das penas, da morte e do inferno;

95. E, assim, a que confiem que entrarão no céu antes através de muitas tribulações do
que pela segurança da paz.

1517 A.D.
Fonte: Disponível em : <http://www.luteranos.com.br/lutero/95_teses.html>.

75

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