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Linguística, Cultura e Sociedade

Brasília-DF.
Elaboração

Marcelo Whately Paiva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação................................................................................................................................... 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa...................................................................... 5

Introdução...................................................................................................................................... 7

Unidade i
linguística e cultura......................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
A Cultura e a formação da cultura brasileira................................................................ 9

CAPÍTULO 2
Linguística e cultura no Brasil......................................................................................... 15

CAPÍTULO 3
A história do português brasileiro.................................................................................. 19

CAPÍTULO 4
O linguístico e o cultural nos contos populares paraibanos..................................... 22

Unidade iI
linguística e sociedade.................................................................................................................. 28

CAPÍTULO 1
Sociolinguística e socidade............................................................................................ 28

CAPÍTULO 2
Escola, variações linguísticas e sociolinguística........................................................ 31

Para (Não) Finalizar....................................................................................................................... 39

Referências .................................................................................................................................... 40
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
A relação entre cultura, sociedade e linguística é fundamental para nosso estudo. Nossa disciplina,
assim, procura definir a influência do universo cultural histórico e atual no uso da língua bem como
os valores sociais associados ao uso do idioma.

O conteúdo deste material didático é apenas a base de nosso estudo no ambiente virtual. Sua leitura
é essencial para refletirmos e discutirmos o tema em nossas aulas.

Objetivos
»» Promover a análise do estudo histórico e social de perspectivas linguísticas na
cultura brasileira e no mundo;

»» Possibilitar o aprofundamento de informações, interpretação e análise da história


da Língua Portuguesa na construção do idioma atual;

»» Favorecer a observação do idioma português desde sua origem até os dias de hoje e
sua relação com a cultura e sociedade.

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linguística e Unidade i
cultura

CAPÍTULO 1
A Cultura e a formação da cultura
brasileira

A língua é o mais forte elemento de identidade dos grupos humanos, pois, além de
ser o instrumento familiar de comunicação desde a primeira infância até a velhice,
que consolida as relações sociais entre todos os membros do grupo, é o código
único em que estão registrados todos os conhecimentos culturais que asseguram a
sobrevivência sadia desse grupo.

<http://www.revista.iphan.gov.br/materia.php?id=219>

O que é cultura
Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, cuidar) é um conceito desenvolvido inicialmente pelo
antropólogo Edward Burnett Tylor para designar o todo complexo e metabiológico criado pelo
homem. São práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço. Refere-se a
crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e identificam uma
sociedade. Explica e dá sentido à cosmologia social; é a identidade própria de um grupo humano em
um território e num determinado período.

Diversos sentidos da palavra variam consoante a aplicação em determinado ramo do conhecimento


humano:

Agricultura – sinônimo de cultivo.

Ciências Sociais – (latu sensu) é o aspecto da vida social que se relaciona com a produção do saber,
arte, folclore, mitologia, costumes etc., bem como à sua perpetuação pela transmissão de uma
geração à outra.

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UNIDADE I │ linguística e cultura

Sociologia – o conceito de cultura tem um sentido diferente do senso comum. Sintetizando simboliza
tudo o que é aprendido e partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo e que confere uma
identidade dentro do seu grupo que pertença. Na sociologia não existem culturas superiores, nem
culturas inferiores pois a cultura é relativa, designando-se em sociologia por relativismo cultural,
isto é, a cultura do Brasil não é igual à cultura portuguesa, por exemplo: diferem na maneira de se
vestirem, na maneira de agirem, têm crenças, valores e normas diferentes... isto é, têm padrões
culturais distintos.

Filosofia – cultura é o conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou


comportamento natural. Por seu turno, em biologia uma cultura é normalmente uma criação
especial de organismos (em geral microscópicos) para fins determinados (por exemplo: estudo
de modos de vida bacterianos, estudos microecológicos, etc.). No dia-a-dia das sociedades
civilizadas (especialmente a sociedade ocidental) e no vulgo costuma ser associada à aquisição de
conhecimentos e práticas de vida reconhecidas como melhores, superiores, ou seja, erudição; este
sentido normalmente se associa ao que é também descrito como “alta cultura”, e é empregado apenas
no singular (não existem culturas, apenas uma cultura ideal, à qual os homens indistintamente
devem se enquadrar). Dentro do contexto da filosofia, a cultura é um conjunto de respostas para
melhor satisfazer as necessidades e os desejos humanos. Cultura é informação, isto é, um conjunto
de conhecimentos teóricos e práticos que se aprende e transmite aos contemporâneos e aos
vindouros. A cultura é o resultado dos modos como os diversos grupos humanos foram resolvendo
os seus problemas ao longo da história. Cultura é criação. O homem não só recebe a cultura dos seus
antepassados como também cria elementos que a renovam. A cultura é um fator de humanização.
O homem só se torna homem porque vive no seio de um grupo cultural. A cultura é um sistema de
símbolos compartilhados com que se interpreta a realidade e que conferem sentido à vida dos seres
humanos.

Antropologia – esta ciência entende a cultura como a totalidade de padrões aprendidos e


desenvolvidos pelo ser humano. Segundo a definição pioneira de Edward Burnett Tylor, sob a
etnologia (ciência relativa especificamente do estudo da cultura) a cultura seria “o complexo que
inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos
pelo homem como membro da sociedade”. Portanto corresponde, neste último sentido, às formas
de organização de um povo, seus costumes e tradições transmitidas de geração para geração que, a
partir de uma vivência e tradição comum, se apresentam como a identidade desse povo.

O uso de abstração é uma característica do que é cultura: os elementos culturais só existem na mente
das pessoas, em seus símbolos tais como padrões artísticos e mitos. Entretanto fala-se também
em cultura material (por analogia a cultura simbólica) quando do estudo de produtos culturais
concretos (obras de arte, escritos, ferramentas, etc.). Essa forma de cultura (material) é preservada
no tempo com mais facilidade, uma vez que a cultura simbólica é extremamente frágil.

A principal característica da cultura é o chamado mecanismo adaptativo: a capacidade de responder


ao meio de acordo com mudança de hábitos, mais rápida do que uma possível evolução biológica. O
homem não precisou, por exemplo, desenvolver longa pelagem e grossas camadas de gordura sob
a pele para viver em ambientes mais frios – ele simplesmente adaptou-se com o uso de roupas, do
fogo e de habitações. A evolução cultural é mais rápida do que a biológica. No entanto, ao rejeitar

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linguística e cultura │ UNIDADE I

a evolução biológica, o homem torna-se dependente da cultura, pois esta age em substituição a
elementos que constituiriam o ser humano; a falta de um destes elementos (por exemplo, a supressão
de um aspecto da cultura) causaria o mesmo efeito de uma amputação ou defeito físico, talvez ainda
pior.

Além disso, a cultura é também um mecanismo cumulativo. As modificações trazidas por uma
geração passam à geração seguinte, de modo que a cultura transforma-se perdendo e incorporando
aspectos mais adequados à sobrevivência, reduzindo o esforço das novas gerações.

Um exemplo de vantagem obtida através da cultura é o desenvolvimento do cultivo do solo,


a agricultura. Com ela o homem pôde ter maior controle sobre o fornecimento de alimentos,
minimizando os efeitos de escassez de caça ou coleta. Também pôde abandonar o nomadismo; daí
a fixação em aldeamentos, cidades e estados.

A agricultura também permitiu o crescimento populacional de maneira acentuada, que gerou novo
problema: produzir alimento para uma população maior. Desenvolvimentos técnicos – facilitados
pelo maior número de mentes pensantes – permitem que essa dificuldade seja superada, mas por sua
vez induzem a um novo aumento da população; o aumento populacional é assim causa e consequência
do avanço cultural.

A cultura é dinâmica. Como mecanismo adaptativo e cumulativo, a cultura sofre mudanças. Traços
se perdem, outros se adicionam, em velocidades distintas nas diferentes sociedades. O ‘ambiente’
exerce um papel fundamental sobre as mudanças culturais, embora não único: os homens mudam
sua maneira de encarar o mundo tanto por contingências ambientais quanto por transformações da
consciência social.

A Cultura no Brasil
A cultura brasileira reflete os vários povos que constituem a demografia desse país sul-americano:
indígenas, europeus, africanos, asiáticos, árabes etc. Como resultado da intensa miscigenação
e convivência dos povos que participaram da formação do Brasil surgiu uma realidade cultural
peculiar, que inclui aspectos das várias culturas.

O substrato básico da cultura brasileira formou-se durante os séculos de colonização, quando ocorre
a fusão primordial entre as culturas dos indígenas, dos europeus, especialmente portugueses, e
dos escravos trazidos da África subsahariana. A partir do século XIX, a imigração de europeus não
portugueses e povos de outras culturas, como árabes e asiáticos, adicionou novos traços ao panorama
cultural brasileiro. Também foi determinante a influência dos grandes centros culturais do planeta,
como a França, a Inglaterra e, mais recentemente, dos Estados Unidos, países que exportam hábitos
e produtos culturais para o resto do globo.

Dentre os diversos povos que formaram o Brasil, foram os europeus aqueles que exerceram maior
influência na formação da cultura brasileira, principalmente os de origem portuguesa.

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UNIDADE I │ linguística e cultura

Durante 322 anos o território foi colonizado por Portugal, o que implicou a transplantação tanto
de pessoas quanto da cultura da metrópole para as terras sul-americanas. O número de colonos
portugueses aumentou muito no século XVIII, na época do Ciclo do Ouro. Em 1808, a própria corte
de D. João VI mudou-se para o Brasil, um evento com grandes implicações políticas, econômicas
e culturais. A imigração portuguesa não parou com a Independência do Brasil: Portugal continuou
sendo uma das fontes mais importantes de imigrantes para o Brasil até meados do século XX.

Os portugueses
A mais evidente herança portuguesa para a cultura brasileira é a língua portuguesa, atualmente falada
por virtualmente todos os habitantes do país. A religião católica, crença da maioria da população,
é também decorrência da colonização. O catolicismo, profundamente arraigado em Portugal, legou
ao Brasil as tradições do calendário religioso, com suas festas e procissões. As duas festas mais
importantes do Brasil, o carnaval e as festas juninas, foram introduzidas pelos portugueses. Além
destas, vários folguedos regionalistas como as cavalhadas, o bumba-meu-boi, o fandango e a farra do
boi denotam grande influência portuguesa. No folclore brasileiro, são de origem portuguesa a crença
em seres fantásticos como a cuca, o bicho-papão e o lobisomem, além de muitas lendas e jogos infantis
como as cantigas de roda.

Na culinária, muitos dos pratos típicos brasileiros são o resultado da adaptação de pratos portugueses
às condições da colônia. Um exemplo é a feijoada brasileira, resultado da adaptação dos cozidos
portugueses. Também a cachaça foi criada nos engenhos como substituto para a bagaceira portuguesa,
aguardente derivada do bagaço da uva. Alguns pratos portugueses também se incorporaram aos
hábitos brasileiros, como as bacalhoadas e outros pratos baseados no bacalhau. Os portugueses
introduziram muitas espécies novas de plantas na colônia, atualmente muito identificadas com o
Brasil, como a jaca e a manga.

De maneira geral, a cultura portuguesa foi responsável pela introdução no Brasil colônia dos grandes
movimentos artísticos europeus: renascimento, maneirismo, barroco, rococó e neoclassicismo.
Assim, a literatura, pintura, escultura, música, arquitetura e artes decorativas no Brasil colônia
denotam forte influência da arte portuguesa, por exemplo nos escritos do jesuíta luso-brasileiro
Padre Antônio Vieira ou na decoração exuberante de talha dourada e pinturas de muitas igrejas
coloniais. Essa influência seguiu após a Independência, tanto na arte popular como na arte erudita.

Os indígenas

A colonização do território brasileiro pelos europeus representou em grande parte a destruição


física dos indígenas através de guerras e escravidão, tendo sobrevivido apenas uma pequena parte
das nações indígenas originais. A cultura indígena foi também parcialmente eliminada pela ação da
catequese e intensa miscigenação com outras etnias. Atualmente, apenas algumas poucas nações
indígenas ainda existem e conseguem manter parte da sua cultura original.

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linguística e cultura │ UNIDADE I

Apesar disso, a cultura e os conhecimentos dos indígenas sobre a terra foram determinantes durante
a colonização, influenciando a língua, a culinária, o folclore e o uso de objetos caseiros diversos
como a rede de descanso. Um dos aspectos mais notáveis da influência indígena foi a chamada
língua geral (Língua Geral Paulista, Nheengatu), uma língua derivada do Tupi-Guarani com termos
da língua portuguesa que serviu de lingua franca no interior do Brasil até meados do século XVIII,
principalmente nas regiões de influência paulista e na região amazônica. O português brasileiro
guarda, de fato, inúmeros termos de origem indígena, especialmente derivados do Tupi-Guarani.
De maneira geral, nomes de origem indígena são frequentes na designação de animais e plantas
nativos (jaguar, capivara, ipê, jacarandá, etc), além de serem muito frequentes na toponímia por
todo o território.

A influência indígena é também forte no folclore do interior brasileiro, povoado de seres fantásticos
como o curupira, o saci-pererê, o boitatá e a iara, entre outros. Na culinária brasileira, a mandioca,
a erva-mate, o açaí, a jabuticaba, inúmeros pescados e outros frutos da terra, além de pratos como
os pirões, entraram na alimentação brasileira por influência indígena. Essa influência se faz mais
forte em certas regiões do país, em que esses grupos conseguiram se manter mais distantes da ação
colonizadora, principalmente em porções da Região Norte do Brasil.

Os africanos
A cultura africana chegou ao Brasil com os povos escravizados trazidos da África durante o longo
período em que durou o tráfico negreiro transatlântico. A diversidade cultural da África refletiu-
se na diversidade dos escravos, pertencentes a diversas etnias que falavam idiomas diferentes e
trouxeram tradições distintas. Os africanos trazidos ao Brasil incluíram bantos, nagôs e jejes, cujas
crenças religiosas deram origem às religiões afro-brasileiras, e os hauçás e malês, de religião islâmica
e alfabetizados em árabe. Assim como a indígena, a cultura africana foi geralmente suprimida pelos
colonizadores. Na colônia, os escravos aprendiam o português, eram batizados com nomes portugueses
e obrigados a se converter ao catolicismo.

Os africanos contribuíram para a cultura brasileira em uma enormidade de aspectos: dança, música,
religião, culinária e idioma. Essa influência se faz notar em grande parte do país; em certos estados
como Bahia, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande
do Sul a cultura afro-brasileira é particularmente destacada em virtude da migração dos escravos.

Os bantos, nagôs e jejes no Brasil colonial criaram o candomblé, religião afro-brasileira baseada
no culto aos orixás praticada atualmente em todo o território. Largamente distribuída também é a
umbanda, uma religião sincrética que mistura elementos africanos com o catolicismo e o espiritismo,
incluindo a associação de santos católicos com os orixás.

A influência da cultura africana é também evidente na culinária regional, especialmente na Bahia,


onde foi introduzido o dendezeiro, uma palmeira africana da qual se extrai o azeite-de-dendê. Este
azeite é utilizado em vários pratos de influência africana como o vatapá, o caruru e o acarajé.

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UNIDADE I │ linguística e cultura

Na música a cultura africana contribuiu com os ritmos que são a base de boa parte da música
popular brasileira. Gêneros musicais coloniais de influência africana, como o lundu, terminaram
dando origem à base rítmica do maxixe, samba, choro, bossa-nova e outros gêneros musicais atuais.
Também há alguns instrumentos musicais brasileiros, como o berimbau, o afoxé e o agogô, que
são de origem africana. O berimbau é o instrumento utilizado para criar o ritmo que acompanha os
passos da capoeira, mistura de dança e arte marcial criada pelos escravos no Brasil colonial.

Os imigrantes

A maior parte da população brasileira no século XIX era composta por negros e mestiços. Para
povoar o território, suprir o fim da mão-de-obra escrava mas também para “branquear” a população
e cultura brasileiras, foi incentivada a imigração da Europa para o Brasil durante os séculos XIX e XX.
Dentre os diversos grupos de imigrantes que aportaram no Brasil, foram os italianos que chegaram
em maior número, quando considerada a faixa de tempo entre 1870 e 1950. Eles se espalharam desde
o sul de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, sendo a maior parte na região de São Paulo. A estes
se seguiram os portugueses, com quase o mesmo número que os italianos. Destacaram-se também
os alemães, que chegaram em um fluxo contínuo desde 1824. Esses se fixaram primariamente na
Região Sul do Brasil, onde diversas regiões herdaram influências germânicas desses colonos.

Os imigrantes que se fixaram na zona rural do Brasil meridional, vivendo em pequenas propriedades
familiares (sobretudo alemães e italianos), conseguiram manter seus costumes do país de origem,
criando no Brasil uma cópia das terras que deixaram na Europa. Alguns povoados fundados
por colonos europeus mantiveram a língua dos seus antepassados durante muito tempo. Em
contrapartida, os imigrantes que se fixaram nas grandes fazendas e nos centros urbanos do Sudeste
(portugueses, italianos, espanhóis e árabes), rapidamente se integraram na sociedade brasileira,
perdendo muitos aspectos da herança cultural do país de origem. A contribuição asiática veio com a
imigração japonesa, porém de forma mais limitada.

De maneira geral, as vagas de imigração europeia e de outras regiões do mundo influenciaram todos
os aspectos da cultura brasileira. Na culinária, por exemplo, foi notável a influência italiana, que
transformou os pratos de massas e a pizza em comida popular em quase todo o Brasil. Também
houve influência na língua portuguesa em certas regiões, especialmente no sul do território. Nas
artes eruditas a influência europeia imigrante foi fundamental, através da chegada de imigrantes
capacitados em seus países de origem na pintura, arquitetura e outras artes.

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CAPÍTULO 2
Linguística e cultura no Brasil

(Célia Araújo Fonseca Almeida)

A comunicação é uma das heranças mais antigas existentes no mundo. E é através de diferentes
linguagens que, desde os primórdios dos tempos, o Homem se comunica. Seja com palavras, gestos
ou símbolos, são elas – as diferentes linguagens – que garantem a interação entre os seres. Segundo
Carlos Emílio Faraco & Francisco Marto Moura (1989, p.12), “o homem é essencialmente um animal
comunicativo”. Para essa comunicação acontecer, três elementos devem ser fundamentalmente
considerados: linguagem, língua e fala, pois é através do conhecimento destes que se torna possível
a evolução do processo comunicativo. “Linguagem é todo sistema organizado de sinais que serve
como meio de comunicação entre os indivíduos. Língua é a linguagem verbal utilizada por um grupo
de indivíduos. Fala é a utilização individual da língua”. (FARACO & MOURA, 1989, p. 11-12).

A comunicação constitui uma das atividades essenciais do homem. E não é difícil perceber que, com
o passar dos tempos, a linguagem humana sofre grandes e inúmeras transformações em função das
necessidades e interesses de cada época, por isso afirma-se que a linguagem humana está sempre
em perenes mudanças. E é a partir destas que surge o fenômeno das variações linguísticas, ou seja,
as diferentes maneiras de se expressar através da linguagem. Tal fenômeno leva em consideração,
entre outros fatores, a sociedade, a região e o costume local. Dessa forma passam a existir muitos
grupos concomitantemente utilizando-se de diferentes linguagens. Esta mistura revelada no ato da
comunicação é o que enriquece o vocabulário e consequentemente a cultura de um povo. E é isto
que necessita ser valorizado: a miscigenação das linguagens.

No Brasil, país que se divide em cinco regiões, é muito grande a ocorrência de variações linguísticas
dentro de sua língua oficial: o português brasileiro.

“Do ponto de vista linguístico [...] a língua falada no Brasil já tem uma gramática
– isto é, tem regras de funcionamento – que cada vez mais se diferencia da
gramática da língua falada em Portugal. Por isso os linguistas (os cientistas da
linguagem) preferem usar o termo português brasileiro, por ser mais claro e
marcar bem essa diferença.” (BAGNO, Marcos, 2001, p.24).

Emília Amaral et al. (2002) relata que cada região do país utiliza a língua brasileira de uma forma
distinta e particular, criando-se infinitas linguagens, gírias, sotaques e até mesmo vocábulos novos
ou neologismos. Essa é a denominada variação geográfica. Há ainda a variação sociocultural,
relacionada ao grupo social ao qual o falante pertence, que trata da diferenciação no uso da língua, e
a variação histórica, que trata das alterações no sentido e na grafia de muitas palavras com o passar
do tempo.

Esse conjunto de variações linguísticas, além de enriquecer o léxico, é uma importante contribuição
para a manifestação da cultura do país, uma vez que “a língua é um conjunto heterogêneo, múltiplo
e mutável de variedades, com marcas de classes e posições sociais, de gêneros e etnias, de ideologias,

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UNIDADE I │ linguística e cultura

éticas e estéticas determinadas.” (SOUTO, Ângela et al., 2009, p.75) Com base nas proposições de
Souto et al. (2009), a linguagem humana define-se como uma atividade interativa através da qual
o falante se constitui como sujeito social capaz de utilizar a língua para compreender tudo aquilo
que ouve e lê e para se expressar em qualquer situação comunicativa. No entanto, essa utilização da
língua se realiza de diferentes maneiras entre os falantes.

“Existe um grande número de fatores (como a idade, o grupo social, o sexo, o grau de escolaridade,
etc) que interferem na maneira individual que o falante tem de se expressar”. (AMARAL et al., 2002,
p.323). Então pode-se dizer, acertadamente, que em um idioma ocorrem variações linguísticas.
De acordo com Amaral et al. (2002), as variações linguísticas, de uma forma geral, apresentam-se
divididas em três tipos: Sociocultural, Geográfica e Histórica. A variação sociocultural refere-se às
variações geradas por influência das condições sociais dos falantes. Não é difícil perceber se um
falante de determinada língua faz parte de uma classe economicamente mais pobre da sociedade ou
se ele teve melhores possibilidades sociais e econômicas, e por isso, pôde frequentar a escola e teve
mais contato com a leitura de jornais, livros, revistas e, atualmente, com a internet, grande fonte de
pesquisa e conhecimento.

Nas frases “Eles não entenderam nada porque não foram às reuniões” e “Eles ficou por fora porque
não foi na reunião” (AMARAL et al., 2002, p.324) analisa-se que a primeira é de autoria de um
falante que tem maior acesso ao conhecimento e vive em melhores condições sociais e econômicas,
e a segunda pertence a um falante da classe menos favorecida da sociedade. A partir daí identifica-se
ainda, de acordo com Amaral et al. (2005), duas variedades linguísticas: a língua culta (padrão) e a
língua coloquial (não padrão). A primeira, usualmente, é falada e escrita em situações mais formais
pelas pessoas de maior instrução e maior escolaridade. Documentos oficiais, livros, relatórios
científicos e contratos são exemplos de textos escritos nessa variedade linguística. Já a segunda
é uma variante espontânea, utilizada nas relações informais entre os falantes nas quais não há
preocupações com as regras gramaticais.

Quando se faz uma comparação entre a língua culta e a língua coloquial percebe-se entre falantes,
linguistas e gramáticos muitas divergências. “É inegável que o padrão formal culto é o registro de
prestígio social, via de regra exigido nas relações sociais de caráter profissional ou oficial ...” (TERRA,
Ernani & NICOLA, José de, 2009, p.23). Entretanto, não se pode elevar um padrão linguístico
a ponto de torná-lo um ‘modelo da língua’. Tudo isso gera o preconceito linguístico e acarreta a
inferiorização daqueles que utilizam a variante não-padrão perante aqueles ditos cultos.

“Segundo a Linguística, não existe uma forma melhor (mais certa) ou pior
(mais errada) de empregar uma língua. A norma culta é apenas uma entre as
muitas formas de usar a língua. A escolha da norma culta como “modelo” é
arbitrária e convencional; baseia-se em critérios ideológicos (sociais, culturais,
políticos e econômicos). (AMARAL et al., 2005, p.141).

Ter consciência destas variações e respeitá-las é muito importante para a construção e valorização
da cultura de um povo. Elas são a marca de uma tradição, de um jeito de ser, de um aprendizado e
de um falar, que se fazem diferentes numa língua tão rica como a língua portuguesa. Na variação
sociocultural tornam-se claras também as diferenças no uso da língua entre uma criança, um jovem
e um idoso; uma pessoa que mora no campo e uma que mora na cidade; um estudioso e aquele que
interrompeu seus estudos; etc.

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linguística e cultura │ UNIDADE I

“Há uma grande diferença se fala um deus ou um herói; se um velho


amadurecido ou um jovem impetuoso na flor da idade; se uma matrona
autoritária ou uma ama dedicada; se um mercador errante ou um lavrador de
pequeno campo fértil.” (Horácio, apud AMARAL et al., 2002, p. 324).

A variação geográfica baseia-se na maneira particular que os falantes de determinada região têm
de pronunciar os vocábulos da língua. Dentro do país, de região para região, estas variações são
identificadas no aspecto sonoro (sotaque), no vocabulário, em estruturas de frases e nos sentidos
particulares atribuídos a algumas palavras e expressões. Os gaúchos não têm a mesma pronúncia
daqueles que moram em Minas, que por sua vez falam diferente dos cariocas, que apresentam um
linguajar distinto do linguajar de um nordestino. São estas misturas, estas variações de linguagem
que denotam as diferenças entre as culturas. O poeta Mário de Andrade, em sua obra Poesias
Completas (apud AMARAL et al., 2002, p.324) já afirmara:

“Que importa que uns falem mole, descansado

Que os cariocas arranhem os erres na garganta

Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais

Que tem si os quinhentos réis meridionais

Vira cinco tostões do Rio pro norte?

Juntos formamos este assombro de misérias e grandezas

Brasil, nome de vegetal!...”

São exatamente estas diferenças que devem e precisam ser notadas e valorizadas. São elas, todas em
conjunto, que formam e transformam a cultura brasileira em um Patrimônio Cultural inigualável
e rico por suas variedades linguísticas. A variação histórica volta-se para a análise do processo
contínuo de modificação de uma língua no decorrer do tempo. Segundo Amaral et al. (2005) a língua
não é estática, imutável. Ela se modifica com o passar do tempo e com o uso. Muda a forma de falar,
mudam as palavras, a grafia e, até mesmo, o significado de alguns vocábulos do idioma. Atualmente,
na língua portuguesa, muitas mudanças gráficas ocorreram em função do Acordo Ortográfico que
pretende unificá-la nos países que a tem como idioma oficial.

Esta é uma prova de que a língua se transforma através dos tempos. As variações linguísticas
exercem um papel de grande importância dentro das manifestações culturais do país. São elas
que fazem com que cada região brasileira seja única e ao mesmo tempo uma coletividade dentro
de um todo – o Brasil. Estas variações devem ser vistas, de acordo com Souto et al. (2009, p.75),
como “objeto de compreensão e apreciação numa visão despida de preconceitos.” Entretanto, o
denominado preconceito linguístico é, ainda hoje, uma realidade no país.

Segundo a Enciclopédia Internacional de Ciências Sociais (apud GRUPIONI, 1995, p.484), o


preconceito é uma “opinião não justificada, de um indivíduo ou grupo, favorável ou desfavorável, e que
leva a atuar de acordo com esta definição.” O preconceito gera a discriminação, que é o “tratamento
desfavorável dado arbitrariamente a certas categorias de pessoas ou grupos, que pode ser exercido de
forma individual ou coletiva, sobre um indivíduo ou grupo de pessoas.” (GRUPIONI, 1995, p.484).

17
UNIDADE I │ linguística e cultura

Uma das causas do preconceito linguístico é o fato de o Brasil ainda ser considerado por muitos como
um país monolíngue, no qual tudo é visto através das grades de uma só cultura ou de um único grupo
social. No entanto as culturas são muitas e estão em permanente transformação e, ao passarem por
transformações, continuam diferentes umas das outras. Não há neste país apenas uma língua que
realiza a comunicação e interação entre os povos. E se há culturas diferentes, há linguagens, pessoas,
costumes e comportamentos também distintos.

Do ponto de vista científico o preconceito linguístico se baseia na crença de que “só existe uma única
língua portuguesa digna desse nome e seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas
e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola –
gramática – dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, errada, feia, estropiada,
rudimentar, deficiente.” (BAGNO, 2005, p.40). Esta concepção de língua única, suprema, que
determina e distingue as classes sociais, que evidencia o padrão de vida dos falantes deve ser abolida.
As diferenças existem sim, porém devem ser vistas como fontes enriquecedoras da cultura brasileira.

Essa ideia de poder e status relacionados à língua padrão afeta os falantes das variantes ditas não
padrão, fazendo com que eles mesmos desprestigiem sua maneira de falar envergonhando-se de sua
cultura. Segundo Terra & Nicola (2009, p.23), “o grande desafio que os dias de hoje impõem é você
estar preparado para utilizar o nível de linguagem adequado à situação, ao(s) interlocutores.” Não
há, então, um padrão certo ou errado e sim adequado à situação de fala (uma entrevista de emprego,
uma reunião com os amigos, um diálogo com uma autoridade, etc.). A compreensão de que toda
variedade de falar é um instrumento identitário de determinado grupo, região ou época e de que
essa variedade faz parte da cultura valoriza as diferenças linguísticas entre os povos além de conferir
aos seus falantes o orgulho por cultivarem uma língua cada vez mais viva. Celso Pedro Luft (1998,
p.98) afirma, em relação à língua, que:

“Uma língua viva está em constante evolução: dialetos, gírias, neologismos,


estrangeirismos, tudo faz parte dela, dessa ebulição que a mantém animada.
Portanto, ainda que hoje se conseguisse uma Gramática explícita do
português brasileiro, digamos da década de 90, em breve ela estaria
desatualizada, e o professor, obrigado a novos ajustes.” (LUFT).

A variação da língua portuguesa é fato incontestável e as mudanças são gradativas. Por isso há
diferentes linguagens, ou variações linguísticas. São, basicamente, os fatores geográficos, históricos
e socioculturais os geradores de tantas transformações e ainda da criação de novos falares dentro
do território nacional. Estes são de grande importância, pois é a riqueza vocabular presente em cada
linguagem que enobrece cada vez mais a cultura do país. No entanto, as variedades da língua, em se
tratando de padrões linguísticos – culto e coloquial – se divergem e consequentemente ocasionam
a denominada divisão de classes e também o preconceito linguístico.

Por essa razão torna-se extremamente necessária a conscientização de cada indivíduo para uma
nova visão de sua cultura. Os brasileiros devem perceber que eles próprios são uma cultura, um
grupo, e mesmo uma nação, no meio de muitas outras. Para isso é preciso aceitar e concordar que
toda forma de se expressar possui uma gramática que a estrutura tornando cada variação eficaz no
processo comunicativo.

As variações linguísticas constituem o retrato do Brasil, de seu povo, de sua cultura, por isso devem
ser reconhecidas como patrimônio histórico-cultural em constante evolução.

18
CAPÍTULO 3
A história do português brasileiro

Todos os brasileiros sabem que o português é a língua majoritária e oficial do Brasil, e muitos sabem
que ele é derivado do latim. Mas a maioria desconhece a história do idioma no país e da sua relação
com as diversas outras línguas que aqui se falavam antes da chegada de Pedro Álvares Cabral e com
as que vieram durante e depois da colonização.

Segundo o linguista Aryon Rodrigues, do Laboratório de Línguas Indígenas da Universidade de


Brasília, quando o Brasil foi descoberto pelos portugueses, havia mais de 1.000 línguas no país,
faladas por índios de diversas etnias. As numerosas etnias da família Jê haviam migrado para o
interior, e só conheceriam o contato com os colonizadores no final do século XVII. Outras, como a
dos Aruak e dos Karib, permaneceriam isoladas por ainda mais tempo, especialmente as amazônicas.

A colonização portuguesa começou gradativamente pelo litoral, a partir de 1532, com a instituição das
capitanias hereditárias. Nesse período, diversas comunidades da família Tupi e Guarani habitavam
o litoral brasileiro entre a Bahia e o Rio de Janeiro. Havia entre elas uma grande proximidade
cultural e linguística. Para estabelecer uma comunicação com os nativos, os portugueses foram
aprendendo os dialetos e idiomas indígenas. A partir do tupinambá, falado pelos grupos mais
abertos ao contato com os colonizadores, criou-se uma língua geral comum a índios e não-índios.
Ela foi estudada e documentada pelos jesuítas para a catequização dos povos indígenas. Em 1595, o
padre José de Anchieta a registrou em sua Arte de Gramática da Língua mais usada na Costa
do Brasil. Essa língua geral derivada do tupinambá foi a primeira influência recebida pelo idioma
dos portugueses no Brasil.

Outro contato que influenciou a língua portuguesa na América foi com as línguas dos negros africanos
trazidos como escravos para o país. O tráfico de escravos começou com a introdução do cultivo
da cana-de-açúcar na capitania de São Vicente (que corresponde a parte do atual estado de São
Paulo), no Recôncavo Baiano e em Pernambuco, no começo da colonização. Ele se intensificou no
século XVII, espalhando-se por todas as regiões ocupadas pelos portugueses. Os escravos acabaram
aprendendo o português, para se comunicar com os seus senhores. O linguista Mattoso Camara Jr.,
em História e Estrutura da Língua Portuguesa, afirma que, no Brasil, os escravos chegaram
a desenvolver um português crioulo, tal como ocorreu nas colônias africanas.

Camara Jr. diz ainda que os africanos também se adaptaram à língua geral de origem indígena, que
continuava a ser a mais falada entre os colonos. “Um texto do padre Antonio Vieira, de 1694, diz que
a língua que as famílias portuguesas falavam em São Paulo era a dos índios”, afirma o pesquisador
Jaqueson da Silva, aluno de pós-graduação em Teoria Literária na Unicamp. “E os filhos dessas
famílias aprendiam o português na escola”, completa.

Após mais de dois séculos de condição minoritária do uso do português no Brasil em relação à língua
dos nativos, sua predominância no país começa a se dar a partir da segunda metade do século XVIII.
Com a exploração do interior pelos bandeirantes, iniciada no fim do século XVII, e a descoberta das

19
UNIDADE I │ linguística e cultura

minas de ouro e diamante, aumenta o número de imigrantes portugueses que chega ao Brasil para
ocupar os novos centros econômicos. O crescente número de falantes do português começa a tornar
o bilinguismo das famílias portuguesas no país cada vez menor. Em 17 de agosto de 1758, a língua
portuguesa se torna idioma oficial do Brasil, através de um decreto do Marquês de Pombal, que
também proíbe o uso da língua geral. No ano seguinte, os jesuítas, que haviam catequisado os índios
e produzido literatura em língua indígena, foram expulsos do país por Pombal.

A essa altura, o português já havia tido a evolução natural que sofre toda língua no decorrer do
tempo. As mudanças, porém, se deram de maneira distinta em Portugal e no Brasil. Paul Teyssier,
em Histoire de la Langue Portugugaise, conta que no final do século XVIII, o brasileiro já aparece
no teatro português como um personagem com peculiaridades em sua fala. Um exemplo que ele
apresenta é generalização do uso da forma de tratamento que até hoje se mantém no Brasil, mas
que em Portugal era empregada apenas familiarmente: o “você”, redução de “voismicê”, que por
sua vez deriva de “vossa mercê”. Além disso, quando Pombal decretou a obrigatoriedade do uso
do português no Brasil, os falantes brasileiros já haviam incorporado diversas palavras de origem
indígena e africana em seu vocabulário.

Muitos nomes de plantas, frutas e animais brasileiros têm origem no tupinambá. Alguns exemplos
são abacaxi, araticum, buriti, caatinga, caju, capim, capivara, carnaúba, cipó, cupim, curió, ipê,
imbuia, jaboticaba, jacarandá, mandacaru, mandioca, maracujá, piranha, quati, sucuri e tatu. A
toponímia, ciência que estuda a origem dos nomes de lugares, também revela um grande número
de palavras indígenas na fala do brasileiro: Aracaju, Avaí, Caraguatatuba, Guanabara, Guaporé,
Jabaquara, Jacarépaguá, Jundiaí, Parati, Piracicaba, Tijuca, etc. A influência indígena também
acabou propiciando a criação de expressões idiomáticas, como “andar na pindaíba” e “estar de
tocaia”, que são marcas linguísticas de uma cultura específica.

Os africanos do grupo banto e ioruba deixaram um legado próprio na cultura do nosso país. A
culinária afro-brasileira tem o abará, o acarajé e o vatapá; e o candomblé tem orixá, exú, oxossi, iansã.
O quimbundo, língua falada em Angola, emprestou ao português do Brasil palavras do vocabulário
familiar, como caçula, cafuné, molambo e moleque. Termos que expressavam o modo de vida e as
danças dos escravos, como senzala, maxixe e samba, também se incorporaram ao nosso léxico.

Certas comunidades africanas no Brasil, além de falarem o português, preservaram a sua língua de
origem, que se mantém viva no país até os dias de hoje. É o caso dos habitantes do Cafundó, um
bairro rural do município de Salto de Pirapora, no estado de São Paulo.

Alguns estudiosos afirmam que as influências não se restringiram apenas ao vocabulário. Jacques
Raimundo, em O Elemento Afro-Negro na Língua Portuguesa, aponta algumas mudanças
fonéticas, iniciadas na fala dos escravos, que ainda se mantêm em algumas variedades do português
do Brasil: as vogais médias pretônicas “e” e “o” passam a ser pronunciadas como vogais altas,
respectivamente “i” e “u” (mininu, nutiça); as vogais tônicas de palavras oxítonas terminadas em
“s”, mesmo as grafadas com “z”, se tornam ditongos (atrais, mêis, vêis); a marca de terceira pessoa
do plural, nos verbos do pretérito perfeito, se reduz a “o” (fizero, caíro, tocaro).

Em 1822, Jerónimo Soares Barbosa registrava em sua Grammatica Philosophica, uma peculiaridade
sintática, originada na fala dos escravos, que até hoje é apontada como uma das distinções entre o

20
linguística e cultura │ UNIDADE I

português falado em Portugal e o que se fala no Brasil: a colocação de pronomes átonos antes dos
verbos (mi deu, ti falô).

Após a independência do Brasil, o tráfico de escravos diminui, até cessar por volta de 1850. Muitos
índios se miscigenaram e novos imigrantes europeus, como alemães e italianos, chegaram ao país.
O novo contato do português brasileiro com outras línguas foi um dos fatores que gerou as diversas
variedades regionais existentes hoje no Brasil.

Na segunda metade do século XIX, os autores do Romantismo tentam retratar em sua obra uma
brasilidade que distingua a ex-colônia de Portugal. Além de exaltar a figura do índio, autores
como José de Alencar trazem para a literatura a linguagem própria do brasileiro. O movimento
modernista, no começo do século XX, retoma a ideia romântica de resgate das origens e construção
de uma identidade própria, com projetos como a Gramatiquinha da Fala Brasileira, pensada
por Mário de Andrade.

A discussão sobre as distinções entre a fala de Portugal e a do Brasil se mantêm até hoje. A nossa
estrutura gramatical continua bem próxima do português europeu. O brasileiro incorporou
empréstimos de termos não só das línguas indígenas e africanas, mas do francês, do espanhol, do
italiano, do inglês. Mas a maior parte do nosso vocabulário é idêntica a do português europeu. As
diferenças fonéticas são notáveis. E algumas distinções semânticas também se verificam em palavras
como “estação” e “trem”, que em Portugal são “gare” e “comboio”. Para o linguista brasileiro Mário
Perini, professor convidado da Universidade do Mississipi, nos EUA, as mudanças na língua são
naturais, e pode até ser que um dia a fala do brasileiro chegue a ser considerada um idioma distinto
do português europeu. “É o que fatalmente acontece quando duas comunidades linguísticas se
separam geograficamente”, afirma Perini.

Pluralidade linguística no Brasil


Um relatório técnico elaborado pelo grupo apontou a existência de 200 idiomas falados atualmente
no Brasil, sendo 180 provenientes de comunidades indígenas e cerca de outros 30 praticados em
comunidades de descendentes de imigrantes. Além disso, utiliza-se outras duas línguas de sinais em
comunidades de pessoas surdas, diferentes variações linguísticas em comunidades remanescentes
de quilombos. No relatório também foi identificada a existência de grandes variações na língua
portuguesa falada no Brasil, com diferenciações por classe social e região geográfica.

21
CAPÍTULO 4
O linguístico e o cultural nos contos
populares paraibanos

(Maria do Socorro Silva de Aragão

UFC / UFPB)

Introdução
As relações entre língua, sociedade e cultura são tão íntimas que, muitas vezes, torna-se difícil
separar uma da outra ou dizer onde uma termina e a outra começa. Além dessas relações, um
outro fator entra em campo para também introduzir dúvidas quanto à linguagem utilizada por um
determinado grupo sociocultural: é o fator geográfico, regional ou diatópico. Algumas variações,
ditas regionais, podem ser, muitas vezes, sociais; se sociais, podem ser relativas aos falantes, que
têm uma determinada marca diageracional, diagenérica ou mesmo diafásica. Seriam todas essas
variações próprias da língua? Condicionadas pela sociedade? Ou teriam marcas de determinada
cultura? São dúvidas e questionamentos que surgem com frequência quando se trabalha com o
inter-relacionamento entre língua, sociedade e cultura.

Ao trabalharmos com a etnolinguística, que trata das relações língua-cultura, e com a sociolinguística,
que estuda as relações língua-sociedade, vemos que essas ciências têm objetivos bem delimitados,
mas têm, também, uma grande área de intersecção.

A língua pode ser vista, analisada ou interpretada sob diferentes ângulos ou aspectos, mas,
concordamos com a visão de Fribourg (1978, p. 104), quando diz:

La langue a été vue soit comme conception du monde [...], soit comme
révélatrice du mode de vie d’une societé et de ses valeurs culturelles, soit
comme révélatrice de la structure sociale et dês changements survenus au sien
de la societé, soit enfin comme une structure linguistique em corrélation avec
structures de la societé.

A etnolinguística, assim, trata dessas relações entre a língua e a cultura na sociedade a que pertencem
os seus falantes. Neste contexto é importante dizermos de que cultura estamos falando. Para isso,
utilizaremos a definição de Baylon (1991, p. 47) quando diz que “cultura é o conjunto das práticas
e dos comportamentos sociais que são inventados e transmitidos dentro do grupo...” Segundo ele,
ainda, “a língua pode revelar os modos de vida e os valores culturais de uma sociedade...” (p. 50).

Deste modo, as relações entre linguagem regional, sociedade e cultura, estudadas pela dialetologia,
sociolinguística e etnolinguística, fazem parte de um todo integrado nos estudos linguísticos.

22
linguística e cultura │ UNIDADE I

Se partirmos, como pretendemos, das variantes regionais, no caso, as nordestinas, paraibanas,


e direcionarmos nosso olhar para a perspectiva cultural desses falares poderemos afirmar que a
linguagem utilizada nessas variações, marca ou é marcada pelos aspectos socioculturais que
revestem essas realizações.

Aqui trataremos dos aspectos léxicos dos falares nordestinos, que são uma marca dessa cultura
regional.

As Relações Entre Léxico, Sociedade e Cultura


Ao se estudar a língua, os contextos socioculturais em que ela ocorre são elementos básicos e, muitas
vezes, determinantes de suas variações, explicando e justificando fatos que apenas linguisticamente
seriam difíceis ou até impossíveis de serem determinados.

No caso específico do léxico, esta afirmação é ainda mais verdadeira pois toda a visão de mundo,
a ideologia, os sistemas de valores e as práticas socioculturais das comunidades humanas são
refletidos em seu léxico.

Segundo Barbosa (1992, p. 1): “... o léxico representa, por certo, o espaço privilegiado desse processo
de produção, acumulação, transformação e diferenciação desses sistemas de valores”.

Já para Biderman (1978, p. 139): “O universo semântico se estrutura em dois polos opostos: o
indivíduo e a sociedade. Dessa tensão em movimento se origina o Léxico”

Os itens lexicais aqui estudados poderão mostrar a diversidade de visões de mundo, e como cada
região elabora lexicalmente esse universo.

O conto popular na Paraíba


Muitas são as definições e conceituações do Conto Popular: História de Trancoso, História
da Carochinha, ou qualquer outro nome que a ele se dê. Podemos amalgamá-los dizendo que o
Conto Popular é uma narrativa tradicional em prosa, que se diz e se transmite oralmente, que tem
por heróis seres humanos e nela os elementos sobrenaturais ocupam posição secundária, tendo
forma solidamente estabelecida. Não possui temas sérios ou reflexões filosóficas profundas, seus
acontecimentos são fictícios e têm a finalidade de divertir.

A origem do Conto Popular perde-se na esteira do tempo, havendo muitas teorias sobre sua origem,
entre elas a de que ele tem uma raiz única, tendo surgido em um único ponto e daí difundindo-se
progressivamente; outra teoria diz, ao contrário, que ele surgiu simultaneamente em várias regiões
do planeta , sem qualquer ponto em comum.

O Conto possui características que o distinguem das demais narrativas populares. Entre essas
características podemos lembrar: a antiguidade, o anonimato da autoria, a capacidade de resistir
ao tempo, o processo de divulgação, a convivência do homem com o mágico-maravilhoso, a
ficcionalidade, sem compromisso com a realidade e o reflexo de situações sociais.

23
UNIDADE I │ linguística e cultura

A pesquisa sobre o Conto Popular, na Paraíba, teve uma série de objetivos entre os quais destacamos:
gerar novos mecanismos suplementares de ensino-aprendizagem para a população rural, através
da leitura de textos fundamentados na cultura e conhecimento populares; motivar a criação
de textos, a partir da realidade sócio-econômico-cultural local; difundir a cultura e a literatura
populares manifestadas em suas diversas formas, utilizando-se a escola como um veículo prioritário
de divulgação junto à comunidade.

O levantamento do material foi feito a partir do acervo do PPLP por contadores de estórias de
cinco municípios do Cariri e Sertão paraibanos. Os informantes foram selecionados a partir de dois
parâmetros principais: serem originários das regiões pesquisadas: Cariri e Sertão paraibanos e
serem considerados contadores de estórias em sua comunidade.

Para este trabalho, foram selecionados quinze informantes, narradores dos vinte e cinco contos que
constituem o corpus da pesquisa. Os termos, expressões e estruturas frasais foram mantidos como
falados originalmente pelo contador. Aqueles que apresentam aspectos linguístico-gramaticais
passíveis de análises e comentários, foram grifados e, posteriormente, comentados ou colocados no
glossário.

A análise léxico-semântica desses contos mostrou-nos a importância da criatividade lexical de


sua linguagem, fazendo surgir neologismos pelo acréscimo de gramemas onde eles não deveriam
aparecer normalmente; atualizando semas virtuais do semema dos signos; usando lexias simples
com conotação diferente da denotação original; estruturando lexias compostas e complexas
com lexias simples já existentes, porém dando um novo sentido à nova lexia estruturada; dando
significado novo a signos velhos e utilizando-se de formas dêiticas com significados próprios, no
contexto da narrativa.

A obra publicada a partir da pesquisa, O Conto Popular na Paraíba: Um Estudo Linguístico-


Gramatical, foi distribuída em Escolas Públicas de João Pessoa, com o objetivo de auxiliar os
professores na sua tarefa de motivação de seus alunos para o prazer da leitura, a partir de textos
populares.

Análise Léxico-Semântica dos Contos


Para se falar de análise léxico-semântica é necessário que se defina o que seja léxico e semântica.
Uma das boas definições de léxico é dada por Maria Tereza Biderman, que diz:

“Léxico é um vasto universo de limites imprecisos e indefinidos. Abrange todo


o universo conceptual dessa língua. O sistema léxico é a somatória de toda a
experiência acumulada de uma sociedade e do acervo de sua cultura através
do tempo”.

Já para o aspecto semântico podemos dizer com Greimas que ele é o “conteúdo total atribuído a um
significante” (2), ou com Pottier que diz que é “o conjunto dos traços semânticos pertinentes” ou
ainda, “as significações lexical e gramatical”.

Vejamos, então, como se comportam os contos no seu aspecto de estruturação léxico-semântica:

24
linguística e cultura │ UNIDADE I

»» Uso de gramemas protéticos como em:

Adepois : “Adepois da troca do porco, eu troquei numa cabra.”

Afuzilado : “...você vai afuzilado”

Apois : “Apois vamo apostar !

Assentar : “... agora vou assentar as porta e vou morar.”

»» Atualização de semas virtuais do semema, dando conotações diferentes ao


significado do signo

Acomodação (conciliação, acordo) : “...resolveram fazer uma acomodação para os dois


ficar morando na casa”

Arrumar (vestir , aprontar) : “Diga à comadre... que arrume a criança...”

Caçar (procurar cuidadosamente) : “... e quando caçou a garrafa, a negra tinha quebrado”

Couro (peia, surra) : “... dá uma surra nesse veio, couro no veio”

Decente (bem vestido) : “... quando acordava era todo decente”

»» Uso de lexias compostas e complexas com sentido diferente de cada um dos seus
elementos constitutivos

Estava bem (uso do imperfeito do verbo estar com o advérbio bem, no sentido de deveria
fazer algo :“Eu estava bem de botar esse lesado pra morrer no meu lugar...”

Bater o tempo (chegar) : “Bateu o tempo ruim, o dinheiro foi indo...”

Com um pedaço (Algum tempo, certo espaço de tempo ): “Com um pedaço, ele disse...”

Ensinamento no sentido (expressão usada com o sentido de ter uma ideia) : “Aí veio
aquele ensinamento no sentido.”

Dar fé (perceber) : “Quando deu fé, lá vinha um cabra.”

»» Uso de lexemas simples com função de continuidade da narrativa

Agora (uso do advérbio em função da continuidade da narrativa) : “Agora o senhor veja


o que é que vai me dar.”

Bom (continuidade da narrativa) : “Bom, entonce ele chegou na casa do patrão...”

E vai (continuidade da narrativa) : “Aí selaram o cavalo e vai ... saíram.”

Foi (continuidade da narrativa) : “Foi, trabalhou outo ano.”

25
UNIDADE I │ linguística e cultura

Aí (continuidade da narrativa) : “Aí só fez fechar o saco...”

»» Significado diferente - conotação - para signos já existentes

Bem (cerca de, aproximadamente) : “... matou um touro com chifre que tinha bem um
metro.”

Ciência (destino, sorte, sina) “... ele mandou olhar a ciência dela...”

Derrotar-uma moça (deflorar, ter relações sexuais) : “Eu derrotei uma moça e num
quis, num pude casar...”

Desabar (ir embora para longe, fugir) : “Pegou o cavalo, foi embora e desabou.”

Fazer (completar) : “... tinha catorze filhos e a mulher com um bucho deste tamanho pra
descansar outro e fazer os quinze”

»» Uso de formas dêiticas com sentidos variados

Assim (indicando tamanho) : “Aí apareceu um frango grande e pelado, um bichão grande
assim...”

Deste tamanho (indicando tamanho e volume) : “... com uma barba deste tamanho ...”

Esse fim de mundo (indicando tamanho e volume ): “... o cabelo que era esse fim de
mundo, as unhas ...”

Óia a lapa (indicando tamanho) : “Óia a lapa de cobra.”

Aqui (indicando tempo e contexto) : “... ele aqui tirou os cuité...”

A pesquisa sobre o conto Popular na Paraíba e a análise léxico-semântica desses


contos nos leva a concluir sobre a importância da criatividade lexical de sua
linguagem, fazendo surgir neologismos pelo acréscimo de gramemas onde eles
não deveriam aparecer normalmente; atualizando semas virtuais do semema dos
signos; usando lexias simples com conotação diferente da denotação original, com
objetivos específicos para a narrativa; estruturando lexias compostas e complexas
com lexias simples já existentes, porém dando um novo sentido à nova lexia
estruturada; dando significado novo a signos velhos e utilizando-se de formas
dêiticas com significados próprios, no contexto da narrativa.

Assim, a linguagem do conto popular, sob o aspecto léxico-semântico utiliza-se de


processos de formação de palavras dos mais variados, desde o fonético-fonológico,
ao morfológico e ao semântico, enriquecendo, desta forma, o léxico da língua e seu
universo semântico.

26
linguística e cultura │ UNIDADE I

A visão de mundo, as crenças, as ideologias e as formas de expressão dessa


sociedade com sua cultura são transmitidas de geração a geração pela língua, falada
e/ou escrita, tornando evidente que a língua representa e guarda as marcas sociais e
culturais daquela comunidade que a utiliza.

Com base na análise léxico – semântica, apresentada anteriomente, cite exemplos


de criatividade lexical, percebida na fala da sua comunidade linguística, e explicite
os significados e os contextos de uso.

27
linguística e Unidade iI
sociedade

CAPÍTULO 1
Sociolinguística e socidade

A questão em pauta era decidir se pensamos porque temos palavras ou se seria


possivel pensar sem elas. Como os meninos – lobo não conheciam palavras, se
podiam pensar, teria de ser sem elas. Nos diferentes casos de crianças criadas em
isolamento, ficou clara a enorme dificuldade de ajustamento que elas encontraram
ao ser reabsorvidas pela sociedade. Muitas jamais se ajustaram, fosse pelo trauma do
isolamento, fosse pela impossibilidade de pensar humanamente sem palavras. Mas
o fato é que não desenvolveram um raciocínio (abstrato) classicamente humano.

(Claudio de Moura Castro. Veja, 8/7/2009)

O Dicionário de termos literários define sociolinguística como a ciência que estuda a língua da
perspectiva de sua estreita ligação com a sociedade onde se origina. Se para certas vertentes da
linguística é possível estudar a língua de forma autônoma, como entidade abstrata e independente
de fatores sociais, para a sociolinguística a língua existe enquanto interação social, criando-se e
transformando-se em função do contexto sócio-histórico.

Desenvolvida em grande parte por William Labov (1969, 1972, 1983), a sociolinguística permitiu
o estudo científico de fatos linguísticos excluídos até então do campo dos estudos da linguagem,
devido a sua diversidade e consequente dificuldade de apreensão. Por meio de pesquisas de campo,
a sociolinguística - inspirada no método sociológico - registra, descreve e analisa sistematicamente
diferentes falares, elegendo, assim, a variedade linguística como seu objeto de estudo.

A sociolinguística estuda a variedade linguística a partir de dois pontos de vista: diacrônico e


sincrônico. Do ponto de vista diacrônico (histórico), o pesquisador estabelece ao menos dois
momentos sucessivos de uma determinada língua, descrevendo-os e distinguindo as variantes em
desuso (arcaismos). Do ponto de vista sincrônico (mesmo plano temporal), o pesquisador pode
abordar seu objeto a partir de três pontos de vista: geográfico (ou diatópico), social (ou diastrático)
e estilístico (contextual ou diafásico).

28
linguística e sociedade │ UNIDADE II

A perspectiva geográfica é horizontal, ou seja, implica o estudo dos falares de comunidades


linguísticas distintas em espaços diferentes, mas em um mesmo tempo histórico. Os dialetos ou
falares dessas comunidades produzem os regionalismos. Os estudos de caráter geográfico distinguem
uma linguagem urbana - cada vez mais próxima da linguagem comum - de uma linguagem rural,
mais conservadora, isolada, em gradual extinção devido em grande parte ao avanço dos meios de
comunicação, que privilegiam a fala urbana.

A perspectiva social é vertical, ou seja, implica o estudo dos falares de diferentes grupos dentro
de uma mesma comunidade. Os falantes são agrupados principalmente por nível socioeconômico,
escolaridade, idade, sexo, raça e profissão. Desta perspectiva, observa-se e analisa-se a distinção
entre um dialeto social/culto (considerado a língua padrão) - que é preso à gramática normativa,
é a língua ensinada nas escolas e está em estreita conexão com o uso literário do idioma e com
situações de fala mais formais - e um dialeto social/popular (considerado subpadrão) - mais ligado
à linguagem oral do povo e às situações menos formais de comunicação.

Sob a perspectiva estilística, por sua vez, o pesquisador estuda o uso que um mesmo falante faz da
sua língua. Considera que o falante realiza suas escolhas influenciado pela época em que vive, pelo
ambiente, pelo tema, por seu estado emocional e pelo grau de intimidade entre interlocutores. Tais
fatores determinam a escolha do registro (ou nível de fala) a ser utilizado pelo falante quanto a: grau
de formalismo (uso mais ou menos formal da língua); modo (língua falada ou escrita); e sintonia
(maior ou menor grau de tecnicidade, cortesia ou respeito à norma, tendo-se em vista o perfil do
interlocutor).

O que é uma sociedade?


Em Sociologia, uma sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos,
preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade. A sociedade
é objeto de estudo comum entre as ciências sociais, especialmente a Sociologia, a História, a
Antropologia e a Geografia.

Uma sociedade é um grupo de indivíduos que formam um sistema semiaberto, no qual a maior
parte das interações é feita com outros indivíduos pertencentes ao mesmo grupo. Uma sociedade é
uma rede de relacionamentos entre pessoas. Uma sociedade é uma comunidade interdependente. O
significado geral de sociedade refere-se simplesmente a um grupo de pessoas vivendo juntas numa
comunidade organizada.

A origem da palavra sociedade vem do latim societas, uma “associação amistosa com outros”.
Societas é derivado de socius, que significa “companheiro”, e assim o significado de sociedade é
intimamente relacionado àquilo que é social. Está implícito no significado de sociedade que seus
membros compartilham interesse ou preocupação mútuas sobre um objetivo comum. Como tal,
sociedade é muitas vezes usado como sinônimo para o coletivo de cidadãos de um país governados
por instituições nacionais que lidam com o bem-estar cívico.

29
UNIDADE II │ linguística e sociedade

Pessoas de várias nações unidas por tradições, crenças ou valores políticos e culturais comuns,
em certas ocasiões também são chamadas de sociedades (por exemplo, Judaico-Cristã, Oriental,
Ocidental etc.). Quando usado nesse contexto, o termo age como meio de comparar duas ou
mais “sociedades” cujos membros representativos apresentam visões de mundo alternativas,
competidoras e conflitantes.

Também, alguns grupos aplicam o título “sociedade” a eles mesmos, como a “Sociedade Americana
de Matemática”. Nos Estados Unidos, isto é mais comum no comércio, em que uma parceria entre
investidores para iniciar um negócio é usualmente chamada de uma “sociedade”. No Reino Unido,
parcerias não são chamadas de sociedade, mas cooperativas.

30
CAPÍTULO 2
Escola, variações linguísticas e
sociolinguística

(Elza Carolina Pieper)

Sabemos que muitos fatores sociolinguísticos contribuem para a formação da variação linguística
no Brasil, essas variações são as marcas características da sociedade brasileira e as características
sociolinguísticas da comunidade de fala brasileira estão associadas a um processo sócio-histórico.

São evidentes as diferenças linguísticas existentes entre a população rural e a urbana em que uma
apresenta uma influência maior do meio veiculador da forma padrão da língua, e outra, está à
margem desse sistema e fazendo uso de uma linguagem muitas vezes distanciada daquela usada
nos grandes centros urbanos.

Além desses fatores, compreendemos que o contato com diversos falares, os fluxos migratórios,
a ausência de um sistema educacional que garanta acesso, permanência e qualidade para todos,
e a circulação de textos escritos contribuíram para que o Brasil apresentasse uma diversidade de
variedades linguísticas.

A existência das variações linguísticas inevitavelmente refletirá no ensino, pois as escolas ainda
insistem em trabalhar com os alunos apenas a forma padrão da língua e, dessa forma estigmatizam
as demais variedades linguísticas, privando os alunos, de terem um conhecimento amplo das
diversas formas de falar a língua portuguesa, que acabam desestimulados diante da variedade culta.

Diante do fato de que o Brasil é marcado por diversas formas de expressão linguística, como toda nação,
e o português brasileiro não é homogêneo, não falamos de um único modo, a escola brasileira deve
reconhecer que somos uma comunidade de fala constituída por diferentes variações e diversas culturas.

Nesse sentido, faz-se necessário que a escola estimule o aluno ao contato com diversas situações
de interação, para que ele desenvolva a capacidade comunicativa e tenha um bom desempenho em
qualquer contexto em que esteja inserido.

Prestígio e preconceito linguísticos1


(Cláudia Roncarati)

A questão do prestígio linguístico e da sua contraparte, o preconceito linguístico, é um dos temas


mais afetos à pesquisa sociolinguística. No entanto, a definição do prestígio não é um apanágio
restrito a esse ramo de saber. Outras áreas do conhecimento também dela se ocupam. Para Londoño,

1
Este artigo é uma versão revista e ampliada de uma palestra intitulada Preconceito linguístico: uma pesquisa exploratória sobre
atitudes e crenças linguísticas, proferida, em setembro de 2007, no Seminário ‘Preconceito linguístico ou social’, patrocinado
pelo Diretório Acadêmico da UFF e organizado pelo estudante de graduação Carlos Brown.

31
UNIDADE II │ linguística e sociedade

Estupiñán e Idárraga2, por exemplo, o conceito de prestígio linguístico deve ser dimensionado em
pelo menos três enfoques: o sociológico, o linguístico e o sociolinguístico.

O primeiro deles, o sociológico, delimita os contornos dessa noção a partir do construto da


estratificação social baseada em quatro variáveis: ocupação, classe, status e poder. Em linhas
gerais, a ocupação refere-se ao conjunto de atividades formais ou informais que constituem a
fonte principal dos ingressos econômicos; a classe – termo de complexa explanação3 – refere-se à
quantidade e à fonte de ingressos com os quais se obtém os objetos necessários à sobrevivência; o
status, à obtenção do respeito; o poder, à capacidade de realização da vontade, ainda que à custa
da vontade dos outros indivíduos. Contudo, conforme adverte Moreno Fernández4, não se obtém
prestígio somente através da ostentação de um poder imposto sobre a vontade dos demais.

Nesse viés sociológico, há um outro enfoque, o funcional, que, por um lado, considera que um estrato
ou uma posição social estão determinados pela importância funcional relativamente ao número de
indivíduos capazes de ocupá-los e, por outro, que o prestígio mantém uma relação direta com o grau
do desempenho satisfatório de uma função na sociedade (um operário, por exemplo, só conseguiria
aumentar seu prestígio se seu desempenho obtivesse um alto grau de aceitação social). Há, portanto,
uma correspondência estreita entre o prestígio e a funcionalidade da pessoa na sociedade.

No âmbito linguístico, o prestígio linguístico alia-se simultaneamente a injunções sociais


(extralinguísticas) e linguísticas que configuram uma variedade e qualificam seu uso como prestigioso,
estandardizado, ou estigmatizado. A outorga de prestígio é afetada pelo grau de influência de agências
emblematicamente simbólicas e institucionalizadas, tais como a norma acadêmica, a correção
gramatical, a adequação pragmático-linguística dos enunciados às situações comunicativas e a
aceitabilidade sintático-semântica (que não deve ser confundida com a norma, já que se relaciona
às distintas alternativas sintático-semânticas de que os usuários da língua dispõem a partir de um
sistema de produção de sentidos dentro de um determinado grupo sociocultural. Assim, um uso pode
ser aceito em uma dada comunidade linguística ou da fala, mas rejeitado em outra).

Já no escopo propriamente sociolinguístico, o prestígio pode ser mensurado com base na ocupação
(prestígio do indivíduo, atributos de sua reputação e de seu posto social) e na atitude (prestígio como
conduta, abalizado pelo uso de formas e posturas social e culturalmente valorizadas e conferido a
partir da interação entre membros de distintos grupos). Nesse domínio, distingue-se também entre
prestígio vertical ou externo (entre classes ou grupos sociais, influenciando, por exemplo, a imitação
de condutas de classes mais altas por aquelas de classes mais baixas) e horizontal ou interno (no
interior de cada classe ou grupo social, influenciando, por exemplo, a propagação de inovações ou
mudanças linguísticas).

2
LONDOÑO, Rafael Areiza; ESTUPIÑÁN, Mireya Cisneros; IDÁRRAGA, Luis Enrique Tabares. Hacia una nueva visión
sociolinguística. Bogotá: Ecoe Ediciones, 2004. p. 91-104.
3
Em termos sociolinguísticos, para Chambers, o conceito de classe social é inerentemente intrincado, especialmente se comparado
a outras segmentações sociais como idade e gênero/sexo. Esse autor considera que a noção de classe deve ser vista como um
continuum e não como um conjunto discreto de estratos ou hierarquias. Nesse sentido, a classe é mais bem definida com
base em membros prototípicos, ou seja, com base naqueles indivíduos pertencentes a categorias que ocupam uma posição
intermediária ou medial na estratificação social e não entre aqueles que estão na fronteira entre as classes que se encontram na
base ou no topo da pirâmide social. Os subelementos da classe social incluem educação, ocupação e tipo de moradia. A classe de
um indivíduo tende a ser semelhante àquela de seus pais ou àquela dos adultos por ele responsáveis. Mas em sociedades menos
fechadas a estratificação social permite maior mobilidade social e acesso às classes mais prestigiadas. Ver: CHAMBERS, J. K.
Sociolinguistic theory – linguistic variation and its social significance. Oxford UK/Cambridge USA: Blackwell, 1995.
4
Cf. MORENO FERNÁNDEZ, Francisco. Metodologia sociolinguística. Madrid: Gredos, 1990. p. 190.

32
linguística e sociedade │ UNIDADE II

O problema da avaliação linguística


Delimitada, em seus delineamentos gerais, a noção de prestígio em distintas áreas do saber, vamos
tratar agora, mais sistematicamente, do tópico nuclear do tema em pauta: a questão dos contornos
metateóricos em que se inscreve a noção de prestígio e de preconceito linguísticos sob o ponto de
vista sociolinguístico.

Nesse enquadre, conforme apontam Roncarati e Cyranka5, não é possível discutir preconceito e
prestígio linguísticos e temas a eles afetos, como testes de atitudes e crenças linguísticas, sem se
levar em conta um dos pilares sustentadores da inquirição sociolinguística sobre a variação e a
mudança linguística: o problema da avaliação linguística que

[...] diz respeito a qualquer nível de atenção dos falantes em relação à fala e
busca compreender de que maneira os membros de uma comunidade de fala
avaliam determinada mudança, qual o efeito dessa avaliação na mudança e
até que ponto o estigma social influencia diretamente o curso da mudança
linguística6.

Segundo Weinreich, Labov e Herzog7, o programa de investigação da Sociolinguística contempla


cinco problemas fundamentais: o problema dos condicionamentos (Há uma direção geral da
mudança linguística? Que fatores determinam as mudanças possíveis e em que direção elas
acontecem? Que restrições determinam mudanças possíveis e impossíveis e direções de mudança?
Quais são as forças universais que atuam sobre a mudança linguística?); o problema da transição
(De que maneira uma língua muda? Como a língua passa de um estágio a outro? Como identificar
a rota entre duas etapas de uma mudança linguística? Como dar conta da transmissão de regras
linguísticas de uma geração a outra?); o problema do encaixamento (De que maneira uma mudança
linguística se encaixa no sistema de relações linguísticas e na matriz social circundante? Que
mudanças se encontram associadas a determinadas mudanças de uma maneira não acidental?) e
aquele da avaliação linguística.

Um dos desideratos da avaliação linguística é o estudo das respostas e reações subjetivas dos
membros da comunidade diante de uma determinada mudança em curso. Essas respostas e
reações perpassam todos os níveis de consciência, desde a discussão manifesta até aquelas reações
inacessíveis à introspecção.

A maior parte dos estudos trata de reações manifestas diante de mudanças que alcançam um certo
nível de atenção consciente. E tais reações tendem a ser universalmente negativas. Grosso modo,
distinguem-se dois níveis de avaliação: aquele da mudança linguística pelos próprios membros
da comunidade de fala (seu significado social) e aquele da avaliação da mudança pelos próprios
linguistas, que se ocupam em examinar, sistematicamente, como um sistema pode mudar sem
reduzir sua eficiência em sua função referencial, primordial de comunicar.

5
Cf. CYRANKA, Lúcia F. Mendonça; RONCARATI, Cláudia. Crenças de professores e alunos de português de escolas públicas de
Juiz de Fora-MG. In: RONCARATI, C.; ABRAÇADO, J. (Org.). Português brasileiro II – contato linguístico, heterogeneidade e
história. Rio de Janeiro: FAPERJ/ EdUFF, 2008. p. 172.
6
Cf. loc. cit.
7
WEINREICH, Uriel; LABOV, William; HERZOG, Marvin. Empirical foundations for a theory of language change. In: LEHMAN,
W.; MALKIEL, Y. (Org.). Directions for historical linguistics. Austin: University of Texas Press, 1968. p. 97-195.

33
UNIDADE II │ linguística e sociedade

Para Labov8, os valores sociais atribuídos a duas formas linguísticas, uma padrão ou conservadora e
outra inovadora, frequentemente simbolizam também uma oposição entre valores sociais. O ponto
de relevo a destacar é que tais valores sociais podem alcançar o nível de conscientização social e
se tornarem estereótipos, sujeitos à correção social irregular ou, então, podem permanecer abaixo
do nível como marcadores inconscientes. Mas em estágios mais avançados, uma das formas vai
prevalecer; mas nem sempre uma forma tida como inovadora ganha, a sua concorrente conservadora
pode ganhar, instaurando-se, assim, um movimento de retração (mudança regressiva) e não de
avanço (mudança progressiva). Segue-se um longo período quando a forma desaparecida é usada
como fonte de estereótipo até ser completamente extinta.

Se a antiga pronúncia é preservada em topônimos ou formas fixas, é ouvida como uma irregularidade
sem sentido. Teoricamente, é preciso distinguir, no problema da avaliação social atribuído às formas
ou variantes linguísticas, diferentes estágios de mudança9. A variação ocorre tanto no indivíduo como
no nível da comunidade. Podem-se considerar diversos tipos de mudança: mudança implementada;
estágio mais adiantado em vias de implementação; estágios de taxa média e mudança incipiente,
ainda pouco detectada. No nível estrutural, ocorre uma difusão através do sistema linguístico, em
que o uso de uma forma ou variante parte de contextos mais restritos e vai atingindo contextos mais
amplos com o decorrer do tempo. Em resumo, ocorre uma luta evolutiva entre as formas novas
e as antigas, com as novas se espalhando tanto de um falante para outro como de um contexto
linguístico para outro.

Os estágios iniciais costumam-se situar abaixo do nível de consciência dos membros de uma dada
comunidade linguística, e a mudança, então, mal é detectada ou trazida à consciência. Nos estágios
mais adiantados de mudança linguística, os grupos sociais menos adiantados exibem uma taxa
maior de mudança do que os grupos liderantes para os quais a mudança está completa.

Nesses estágios, a mudança estilística e a estratificação social começam a aparecer. Nos mais tardios,
o reconhecimento social manifesto e a tendência à correção são mais acentuados, quase sempre em
direção à forma mais conservadora. Os estereótipos passam a ser associados a atributos sociais
negativos. Esse quadro sugere uma tendência universal de que quanto mais os falantes se tornam
conscientes de qualquer mudança sistemática na língua, mais eles tendem a rejeitá-la.

A mudança linguística leva, pois, em conta o prestígio das formas alternantes (variantes) em
diferentes estágios de propagação da mudança linguística. Contudo, nem sempre uma das variantes
é menos prestigiada do que outra: a variação é passível de ocorrer tanto entre formas igualmente
aceitas pela tradição normativa quanto entre formas de status normativo desigual. Agentes como
escolarização, contato com escrita, mídia e origem social tendem a influir no aumento ou na
diminuição da ocorrência de formas standards10 (padrão ou conservadora).

8
Cf. LABOV, William. On the use of the present to explain the past. In: HEILMANN, L. (Ed.). Proceedings of the 11th International
Congress of Linguistics. Bologna: Il Mulino, 1975. p. 825-851
9
Cf. LABOV, William. Resolving the neogrammarian controversy. Language, v. 57, p. 267-309, 1981.
10
Conforme enfatiza Alkmin, “A variedade padrão de uma comunidade não é, como o senso comum faz crer, a língua por excelência
posta em circulação, da qual os falantes se apropriam como podem ou são capazes. A variedade padrão é o resultado de uma
atitude social ante a língua, que se traduz pela seleção de um dos modos de falar entre os vários existentes na comunidade e
pelo estabelecimento de um conjunto de normas que definem o modo ‘correto’ de falar. Tradicionalmente, o melhor modo
de falar e as regras do bom uso correspondem aos hábitos linguísticos de grupos socialmente dominantes. Nas sociedades
de tradição ocidental, a variedade padrão, historicamente, coincide com a variedade falada pelas classes sociais altas, pelo
habitante de núcleos urbanos e pelos centros do poder econômico e do sistema cultural predominante”. ALKMIN, Tânia Maria.
Sociolinguística. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. (Org.). Introdução à linguística – domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez,
2002. p. 40.

34
linguística e sociedade │ UNIDADE II

Santos11sugere que as realizações se organizam em três subconjuntos de variação: (1) realizações sob
estigmatização social mais ampla; (2) realizações não-estigmatizadas pela escola e (3) realizações
sob estigmatização basicamente escolar.

Mollica12, por sua vez defende a hipótese da existência de leis gerais e universais regulando a variação
de uso da língua e diferentes graus de percepção/avaliação passíveis de serem dimensionados na
tríade uso, sensibilidade e valor social dos fatos da língua. Evidências de estudos empíricos atestam
uma equivalência entre perfil sociolinguístico, crenças e atitudes linguísticas e corroboram o efeito
da escolarização, da pressão escolar e da idade como parâmetros sociais determinantes. Tais
parâmetros, a depender do fenômeno variável em foco, costumam agir imbricadamente. A variável
sexo, por exemplo, não costuma ser o melhor indicador no caso de crenças e atitudes. Uma das
evidências mais relevantes do trabalho de Mollica é a constatação entre grau de percepção e valor
social: quanto menos notada ou percebida uma variante, menor é o grau de estigmatização a ela
conferido. Em geral, formas que adquirem maior valor no mercado linguístico e recebem assim
avaliação positiva tendem a parametrizar-se com um alto grau de monitoramento e de letramento.

É necessário, contudo, destacar um aspecto importante: a pressão social não promove somente
variantes standards, há contrapressões que prestigiam o uso da fala informal e vernacular.

Segundo Chambers13, as forças que prestigiam a variante standard são mais cristalinas: a academia
e as gramáticas tradicionais proscrevem usos mais coloquiais ou não abonados; pais de classe média
defendem uma ‘boa linguagem’; professores corrigem o uso dos alunos; cartas ao editor deploram
usos não prescritos; um falante desculpa-se pelo seu modo de falar ‘errado’ ou por erros de ortografia
ou gramática; não se reclama da hipercorreção na mídia ou da uniformidade de sotaque entre
locutores de telejornais. Mas as pressões sociais que defendem a variante não standard não tem
“lobistas identificáveis”.

Há, no entanto, um conjunto de normas encobertas que atribuem valores positivos ao vernáculo
local e informal. Temos aí o fenômeno do prestígio encoberto, postulado por Labov14.

A noção de prestígio encoberto está associada à noção da identidade social, ao orgulho linguístico,
à pertinência a uma dada classe social ou comunidade de fala. E, nesse domínio, como bem acentua
Paiva15, parece haver uma diferença entre o comportamento de homens e mulheres:
Para explicar a regularidade da correlação entre processos variáveis e a
variável gênero/sexo, Trudgill (1974) avança a hipótese de que os homens,
diferentemente das mulheres, atribuem um prestígio encoberto às formas
linguísticas (covert prestige, LABOV, 1872). As variantes linguísticas
estigmatizadas pela comunidade de fala possuem, muitas vezes, uma função
de garantir a identidade do indivíduo com um determinado grupo social, um
sistema de valores definido. Isso é, são formas partilhadas no interior de um
grupo e assinaladoras de sua individualidade com relação a outros grupos
sociais. Se um indivíduo deseja integrar o grupo, deve partilhar, além de

11
Cf. SANTOS, Emmanoel dos. Certo ou errado? Atitudes e crenças no ensino da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Graphia, 1996.
12
Cf. MOLLICA, M. C. Como o brasileiro fala, percebe e avalia alguns padrões linguísticos. In: HEYE, J. (Org.). Flores verbais, Rio
de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1995. p. 121-129.
13
Chambers, op. cit. p. 221-222.
14
Cf. LABOV, William. Language in the inner city: studies in the Black English vernacular. Philadelphia: University of Pennsylvania
Press, 1972.
15
Cf. PAIVA, Maria da Conceição de. A variável gênero/sexo. In: MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (Org.). Introdução à sociolinguística
– o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003. p. 40.

35
UNIDADE II │ linguística e sociedade

suas atitudes e valores, a linguagem característica desse grupo. Nesse caso,


determinadas formas de linguagem se investem de um status particular,
embora sejam desprovidas de prestígio na comunidade linguística em geral.

A comunidade linguística como educadora


Examinada a emergência do prestígio e do preconceito linguísticos no mirante do problema da
avaliação linguística, passemos, agora, a considerar a questão da comunidade linguística como
educadora, da transmissão linguística e a questão de como a escola pode situar-se diante da
influência da comunidade linguística a que seus alunos pertencem.

Nos termos labovianos, a fonte primária da transmissão das formas linguísticas é a rede familiar e,
depois, a patota (peer groups) e a cultura das ruas.

A influência da patota se sobrepõe, inclusive, à influência da escola, fonte institucionalizada da


aprendizagem linguística. Sobrepõe-se, assim também, à influência da mídia, amplamente
reconhecida como um dos principais meios de influência linguística na sociedade moderna.
Algumas pesquisas revelam que as crianças que se deslocam para outras vizinhanças ou lugares
tendem a falar como os novos grupos de relacionamento e não como seus pais. Contudo, não se deve
deixar de lado a influência da socialização em termos da inserção do indivíduo numa rede social,
que compreende também a vizinhança, o trabalho, a igreja, as associações etc.

Labov16 sustenta que a transferência de valores e de informações sobre a língua por parte de
professores e educadores é muito difícil, apesar do fato de que estes – em princípio – disporiam de
uma quantidade mais apreciável e mais sistemática de conhecimento sobre questões linguísticas
do que o público em geral. Além disso, haveria um outro agravante: o fato de que as informações
disponibilizadas pelos linguistas em trabalhos sobre dialetos não padrão, quando acessíveis, são
utilizados de modo não acurado e estereotipado nos livros didáticos e nos currículos, o que dificulta
o trabalho do professor em entender a variedade linguística que seus alunos trazem para a sala.
Os professores também não têm uma noção clara de como operam as redes de patota em que seus
alunos se inserem, já que o efeito dessas redes costuma ser diluído e disperso em sala de aula.

Uma das conclusões apontadas pela pesquisa sociolinguística, sublinha Labov, é a de que se a escola
falha, a comunidade pode exercer uma função educativa considerável. A ação da comunidade como
educadora se verifica em condições muito particulares: quando falantes de dialetos desprestigiados
lidam e negociam com falantes de dialetos prestigiados, eles, inconscientemente, adquirem as regras
linguísticas que a própria escola falhou em ensinar.
Uma das formas de se reverter esse quadro, para Labov17, seria transformar a
língua da sala de aula em uma propriedade comum de todas as classes sociais e
grupos étnicos; livre da identificação com o estilo masculino e feminino; neutra
em relação à oposição entre a alta cultura e a cultura popular; independente
de outros processos de socialização do sistema escolar e restauradora do vigor
da vida cotidiana. Um passo nessa direção é rejeitar os símbolos socialmente
significativos que carregam esse peso social.

16
Cf. LABOV, William. The community as educator. In: LANGER, J. (Ed.), Proc. of the Stanford Conference on Language and
Literature. Norwood, NJ: Ablex, 1987. p. 145.
17
Cf. op. cit., p. 145.

36
linguística e sociedade │ UNIDADE II

Evidências de uma pesquisa exploratória sobre


crenças e atitudes linguísticas
Nesta seção final, reservamos um espaço para apresentar os resultados de uma pesquisa empírica
sobre testes de crenças e atitudes, a partir dos quais emergiram interessantes facetas sobre como
alunos e professores se situam diante da questão do prestígio e do preconceito linguístico.

Em recente tese de doutoramento, Cyranka18 desenvolveu um trabalho de campo aplicado a alunos


da oitava série do Ensino Fundamental de cinco escolas públicas do Município de Juiz de Fora-
MG, contrapondo os resultados obtidos àqueles de alunos da rede particular. Para tanto, valeu-
se da metodologia sociolinguística de elaboração de testes de crenças e de atitudes, submetidos a
rigorosos programas de estatística19.

Dentre as questões motivadoras da pesquisa, Cyranka procurou obter evidências que corroborassem
ou não a hipótese de “uma correlação entre as crenças dos professores sobre o que são língua,
variação e aprendizagem linguística e as crenças e atitudes dos alunos sobre sua própria variedade
dialetal”; buscou, ainda, verificar se as crenças dos professores teriam “algum reflexo nas atitudes
desfavoráveis do aluno em relação à própria capacidade de domínio das variantes padrão”20.

Um dos pressupostos fundamentais do estudo foi o de que as discussões sobre a rejeição da escola
em relação ao dialeto do aluno deveriam ser examinadas à luz do problema da avaliação linguística,
uma vez que a baixa autoestima do aluno - em grande parte originada pelo desprestígio conferido
à sua variedade dialetal, pelo conflito sociocultural entre os dialetos e pela própria noção de
preconceito linguístico – está estreitamente associada ao valor social atribuído às variantes, ao grau
de consciência acerca da variação dialetal e à crença na superioridade da escrita em relação à fala.

Com relação ao teste de atitudes, os resultados, entre outros, destacaram que os alunos:

(I) manifestam uma forte identificação com a sua própria variedade linguística (a variedade
urbana21), o que comprova a tese do prestígio encoberto;

(II) tendem a identificar a variedade culta à dimensão de poder, evidência esta mais nítida em
relação aos alunos da zona rural;

(III) estabelecem uma clara distinção entre o valor de uma variedade orientada para a ascensão social,
e o valor de uma variedade orientada para a identificação com o grupo de origem, a solidariedade.

Quanto ao teste de crenças, os resultados salientes atestam que os alunos demonstram alto grau
de inibição relativamente à própria competência de uso da língua: consideram que não falam nem
escrevem bem, e condicionam tal comportamento à deficiência de aprendizagem de regras gramaticais
e ortográficas. Já os professores tendem a rejeitar a variedade de seus alunos, contribuindo, assim,

18
Cf. CYRANKA, Lúcia Furtado de Mendonça. Atitudes linguísticas de alunos de escolas públicas de Juiz de Fora - MG. 2007.
174 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos)_Instituto de Letras, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007. Tese
orientada por Roncarati.
19
Para um detalhamento da distinção entre atitude e crença e, assim também, da engenharia dos testes de crenças e de atitudes
veja-se a referida tese. Esclareça-se que o teste de crenças foi aplicado a alunos, a professores e a formandos em Letras.
20
Cf. op. cit. , p. 18.
21
No sentido atribuído por Bortoni-Ricardo, que prevê um continuum entre as variedades rural e urbana Cf. BORTONI-RICARDO,
Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004. p. 61-70.

37
UNIDADE II │ linguística e sociedade

para reforçar a incapacidade de expressão de seus alunos segundo os padrões escolares esperados;
os formandos em Letras, ao contrário, demonstram menor grau de preconceito linguístico.

Os resultados, como um todo, apontaram que os alunos estão em “conflito entre a aprovação de sua
variedade linguística (teste de atitudes) e a declaração de que não sabem escrever, nem falar bem
(teste de crenças)22”. Para Cyranka, esta evidência atesta que o sistema de crenças tanto dos alunos
quanto dos professores também está sendo construído na direção oposta à que a escola pretende. Os
resultados corroboram, portanto, a pressuposição de que as crenças dos professores e as crenças e
atitudes dos alunos influenciam o processo de aquisição da variedade culta da língua, resultado este
que põe em relevo a importância de se fundamentar a prática do trabalho com a língua materna com
sólidas bases de estudos sociolinguísticos.

Como você vem lidado com as varientes linguísticas e o ensino do nome culta na
sala de aula? Exponha sua experiência em poucas linhas.

22
Cf. CYRANKA, op. cit., p. 124.

38
Para (Não) Finalizar

Segundo Lucília Garcez ( 2002, p. 77) “ é muito dificil definir o que seja padrão culto de uma língua,
pois estamos lidando com um fenômeno vivo, sempre em evolução, sujeito a uma infinidade de
influências de transformações. Assim não há por que se portar perante a língua de modo submisso
a um poder autoritário.”

Há que se considerar a criatividade que muda as regras, resultante das variações individuais (fala),
cujo acúmulo interfere no sistema de normas e cujo exemplo mais evidente se encontra no uso
do pronome de tratamento “você” (vossa mercê, voismicê ), como anteriormente referenciado.
Bem ainda, a criatividade provocada pelas regras, decorrente do conhecimento da norma ( língua),
internalizada pelos falantes e que nos tem oferecido exemplo como “embriagatinhando” (G Rosas)
e “ imexivél” (Magri).

À sociolinguística cabem os estudos de levantamento e de identificação dessas casos, bem como,


no processo de evolução linguística, o momento em que a variante padrão não mais as estigmatiza.

39
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