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Dificuldades de Aprendizagem
Brasília - DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................................... 4
Introdução.......................................................................................................................................... 7
unidade I
Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção............. 9
capítulo 1
Conceituação de Aprendizagem.............................................................................................. 11
capítulo 2
Definindo as Dificuldades de Aprendizagem............................................................................. 16
capítulo 3
As origens das Dificuldades de Aprendizagem......................................................................... 19
unidade II
A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem........................................................... 27
capítulo 4
Articulação da História do Fracasso Escolar com o Surgimento das Dificuldades de
Aprendizagem: uma Breve Análise Histórica............................................................................. 29
capítulo 5
Análise dos Fatores que Impedem a Aprendizagem a partir de um Enfoque Psicopedagógico....... 34
unidade III
Compreensão das Dificuldades de Aprendizagem.................................................................................. 41
capítulo 6
Taxonomia e Características das Dificuldades de Aprendizagem: Uma Abordagem
Psicopedagógica.................................................................................................................... 43
referências ...................................................................................................................................... 58
GLOSSÁRIO.......................................................................................................................................... 60
3
APRESENTAÇÃO
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários
para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica
e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal,
adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a
serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente
e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios
que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua
caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como
instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma
didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão,
entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas,
também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Para refletir
abc
Espaço para você fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua
contribuição pessoal.
5
Sugestão de leituras, filmes, sites e pesquisas
Praticando
Referências
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Introdução
O mundo nunca experimentou tamanha transformação em seus tecidos social, econômico e cultural
como vem ocorrendo nas últimas décadas. O avanço indescritível do conhecimento e a proliferação
das tecnologias têm modificado profundamente a experiência humana de modo a exigir do sujeito
frequentes condutas adaptativas. Essas transformações trazem, a reboque, significativas mudanças nas
crenças, valores e práticas sociais que são transmitidas culturalmente pelas agências educacionais, com
destaque para a família e a escola. Diante de um cenário sociocultural tão mutável e com características
tão complexas, surgem enormes dificuldades por parte das famílias e instituições escolares em
prover processos educacionais adequados e de qualidade, que acompanhem tantas mudanças. Desse
descompasso, dessa fissura, emergem as dificuldades de aprendizagem. Elas surgem como sintomas que
deflagram a dificuldade em articular educação e vida e apontam para a necessidade de revisão das práticas
educacionais diante de uma nova sociedade, que se transforma cotidianamente.
Aprender é ato revestido de concepções e ideologias típicas de cada cultura. Uma criança que deixa de
aprender não o faz por incompetência individual, mas provavelmente porque, em algum momento,
deixou de atender às exigências postas por esta cultura com relação aos conteúdos que devem ser
aprendidos e de que forma isto deve ocorrer. Apresentar dificuldades para aprender pode ser uma reação
saudável do sujeito, especialmente quando esta carga vem carregada de valores e atitudes sem sentido ou
significado para ele. A escola, uma instituição feita “para todos”, esquece que seres humanos são únicos,
em suas características personológicas assim como em seus anseios e desejos. Se os conteúdos que a
escola empurra goela abaixo de uma criança não interessam ou não fazem sentido para a sua existência,
é muito provável que surja a recusa em aprender. Parece uma atitude correta, que vai privar o indivíduo
de profundos dissabores. É sob essa perspectiva que investigaremos, inicialmente a Aprendizagem e seus
conceitos e a partir desse entendimento, estudaremos as dificuldades de aprendizagem.
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Além das dificuldades de aprendizagem este texto pretende também investigar o fracasso escolar como
ocorrência típica da sociedade industrializada, ou seja, como fenômenos deste momento histórico e
social. Fracasso escolar e dificuldades de aprendizagem são conceitos que se esbarram continuamente
e necessitam ser compreendidos em suas particularidades. Uma criança fracassa na escola porque
apresenta dificuldades para aprender ou começa a apresentar dificuldades de aprendizagem em
decorrência de frequentes experiências de fracasso escolar? A princípio, as duas proposições procedem,
ou não. Compreender o fracasso escolar e suas inter-relações com as dificuldades de aprendizagem é
tarefa que exige aprofundamento teórico e conceitual em distintas áreas do conhecimento, com destaque
para a educação, a psicologia e, em especial, a psicopedagogia. O presente texto pretende contribuir neste
sentido, apresentando uma discussão mais elaborada sobre esse tema.
Objetivos
»» Conceituar aprendizagem e seus impedimentos: etiologia e taxonomia das
dificuldades de aprendizagem.
8
unidade
Conceito de aprendizagem
e seus impedimentos, etiologia,
taxonomia e modelos de intervenção I
10
capítulo 1
Conceituação de aprendizagem
Definir aprendizagem é uma tarefa complexa. Nesta Unidade optamos por apresentar conceituações
elaboradas por investigadores renomados na área, com o propósito de ampliar as possibilidades de
compreensão desse fenômeno assim como do seu oposto: o processo do não aprender.
Aprende-se perseguindo sinais para o objetivo, mapeando nosso caminho para esse
objetivo (mapa cognitivo); a aprendizagem é adquirida por meio de comportamento
significativo, não do mero movimento. A compreensão, mais que o condicionamento, é
a essência da aprendizagem. (Tolman, 1932 em Sahakian, 1980, p. 220).
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UNIDADE I | Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção
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Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção | UNIDADE I
Fonte: http://www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/renatomaterial/teorias.htm
As teorias de aprendizagem buscam reconhecer a dinâmica envolvida nos atos de ensinar e aprender,
partindo do reconhecimento da evolução cognitiva do homem e tentam explicar a relação entre o
conhecimento preexistente e o novo conhecimento. A aprendizagem não seria apenas inteligência e
construção de conhecimento, mas, basicamente, identificação pessoal e relação por meio da interação
entre as pessoas.
Depois de ler todos estes conceitos sobre a aprendizagem, seria interessante você
construir o seu conceito.
Aprendizagem é....
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UNIDADE I | Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção
A função da aprendizagem, segundo Fernández (1991, p. 30), “é incorporar o indivíduo à espécie humana,
fazendo-o sujeito de uma cultura”. A criança necessita ser interpretada/traduzida/ensinada por outra
pessoa, para que assimile e compreenda a cultura em que está inserida.
A mãe, no princípio da vida, surge como este outro que outorga, dá significados aos comportamentos,
movimentos, sons e desejos incluindo a criança no mundo, investindo-a de humanidade. O nível
qualitativo dessa relação de significação vai depender do tipo de vínculo emocional existente entre os
dois sujeitos do processo.
Considerando que os pais representam as primeiras figuras que ensinam e que exercem grande influência
sobre a criança, percebe-se a importância de uma ação tolerante, paciente e amorosa por parte deles no
sentido de interpretar e traduzir as expressões infantis sem atropelar ou impedir seus esforços em direção
à autonomia e liberdade de pensar e sentir.
É indispensável para a criança sentir-se aceita e desejada como ser pensante, sentir-se valorizada por seus
produtos e criações. Segundo Aulagnier (em Fernández, 1991, p. 32), “a mãe é a porta-voz do bebê
quando este chega ao mundo, mas se emerge na mãe um desejo de não mudança, isso tem um poder
desestruturante porque a criança não poderá usar a sua voz para enunciar a sua palavra”.
É nesse contexto que se configura a gênese das dificuldades de aprendizagem, na dimensão das interações
sociais, em que o sujeito se constroi, de modo ativo e coparticipativo, contando sempre com a mediação
do outro, mesmo que este outro não se dê conta disto.
É fácil visualizar, nas conceituações e proposições de Fernández (1991), a influência dos pressupostos
psicanalíticos e do enfoque sócio-construtivista sobre a aprendizagem. Quando enfatiza a relação mãe/
bebê, situando-a como fonte e origem dos distúrbios que, posteriormente, afetarão a aprendizagem, a
autora reflete um aspecto muito valorizado pela psicanálise que considera o palco onde se vive o drama
da primeira infância o ponto nevrálgico que irá determinar os comportamentos futuros do sujeito.
Quando argumenta que o sujeito aprendiz é atuante em seu processo de aprender, ressalta a visão
sócio-construtivista que percebe o conhecimento como construção do sujeito agindo em um mundo de
significados, por meio das relações com o outro e com o legado cultural.
Ao falar de aprendizagem, Fernández (1991) argumenta que a visão usual encara o processo de aprender
como ação vinculada à mão e ao cérebro, desconsiderando o sujeito desejante e criador, que atribui
sentido e expressão ao ato da aprendizagem.
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Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção | UNIDADE I
As ideias de Fenelon (1994) sobre a aprendizagem e sua contrapartida, o não aprender, assemelham-se
aos pressupostos defendidos por Alícia Fernández (1991, p. 20):
Pain (1992) considera que as dificuldades de aprendizagem representam todas as perturbações que
impedem a normalidade do processo de aprender, qualquer que seja o status cognitivo do sujeito.
Independente de o sujeito obter escores de inteligência altos ou baixos serão considerados problemas
de aprendizagem outros fatores que o impeçam de aprender, não permitindo o aproveitamento de suas
potencialidades.
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capítulo 2
Definindo as dificuldades de aprendizagem
Nos Estados Unidos, há uma definição criada por lei (US Public Law, pp. 94-142), para o termo learning
disabilities, de acordo com a publicação Learning Disabilities: A Guide for Parents and Teacher – Silber
Psychological Service, 1992 (Zorzi, 1994, pp. 15-16), que relata a seguinte conceituação:
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Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção | UNIDADE I
Tarnopol, 1981 (em Drouet, 1995, p. 91) apresenta uma definição para distúrbios da aprendizagem
influenciada por uma visão interacionista. Segundo este autor, “distúrbios são perturbações de origem
biológica, neurológica, intelectual, psicológica, socioeconômica ou educacional, encontradas em
escolares, que podem tornar-se problemas para a aprendizagem dessas crianças”.
Já Kirk e Bateman, 1962 (em DROUET, 1995, p. 92) preferem reservar o termo distúrbios de aprendizagem
“apenas para aqueles casos de crianças com dificuldades de aprendizagem de causas desconhecidas, uma vez
que essas crianças não apresentam defeitos físicos, sensoriais, emocionais ou intelectuais de espécie alguma”.
Autores como Parente e Ranña (1990) discutem as inúmeras definições existentes para as dificuldades
de aprendizagem como efeito resultante do caráter complexo e amplo desse campo do conhecimento.
Diversas áreas estão envolvidas na formulação desse conceito, criando determinantes de várias ordens,
como sociais, culturais, pedagógicos, psicológicos, neurológicos, entre outros, que influenciarão a
conceituação formal das dificuldades de aprendizagem.
A partir dessa mistura surgem termos como: distúrbios psiconeurológicos, disfunção cerebral mínima,
dislexia, dislalias, disortografias e muitos outros que só servem para mascarar o processo diagnóstico,
criando confusão na classificação e avaliação das crianças com problemas de aprendizagem.
Para Parente e Ranña (1990, p. 51), um problema de aprendizagem é “considerado como um sintoma que
expressa algo e possui uma mensagem. Assim o não aprender tem uma função tão integradora quanto o
aprender”.
A conceituação das dificuldades de aprendizagem parece tarefa complicada, uma vez que é cercada de
posicionamentos distintos, oriundos de áreas do saber que precisam ser conjugadas para um entendimento
global do fenômeno.
Reflete também movimentos sociológicos, provenientes das diferentes demandas que a sociedade
impõe aos indivíduos, ao longo de seu desenvolvimento. Novos tempos exigem novos currículos, novos
conhecimentos são produzidos, novas metodologias surgem. As crianças e os adolescentes nem sempre
conseguem se adaptar às modificações que surgem com os novos métodos; assim como o contrário, nem
sempre a escola consegue acompanhar a intensa transformação pela qual passa a sociedade, tornando-se
um lugar dissociado da realidade e pouco interessante para a criança e o jovem.
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UNIDADE I | Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção
A tarefa de elaborar um bom processo de avaliação psicopedagógica, tanto no âmbito clínico quanto
institucional, constitui-se em um enorme desafio para o psicopedagogo, uma vez que a dimensão conceitual
das dificuldades de aprendizagem permanece ainda um setor confuso e ambíguo, com especificações
imprecisas e generalizações inapropriadas.
A falta de uma teoria sólida e coesa nos seus paradigmas e pressupostos e de uma
taxonomia pormenorizada e compreensível é, assim, uma das razões que explicam
a ambiguidade e a legitimidade das dificuldades de aprendizagem, daí que a criação
e promulgação de serviços educacionais sejam, presentemente, muito restritas e
ineficazes, porque não surge, nem se vislumbra um critério ou uma definição fidedigna e
aquiescente. As dificuldades de aprendizagem representam um assunto conceitualmente
confuso, decorrente de uma investigação teórico-prática ainda incipiente, contraditória
e demasiado complexa nas suas variáveis e nos seus pressupostos.
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capítulo 3
As origens das dificuldades de aprendizagem
uma discussão inicial sobre as origens das dificuldades de aprendizagem requer uma constatação
importante: a criança que apresenta dificuldades no processo de aprender não é uma criança
deficiente. Em geral pertence a uma população heterogênea, com subtipos de dificuldades, alguns
comportamentos desviantes e outros semelhantes às crianças normais e sem a apresentação de
características específicas. Tal fato dificulta a avaliação psicopedagógica e, consequentemente, os limites
da intervenção.
Para Fonseca (1995a), a criança que apresenta dificuldades no processo de aprendizagem emite
um conjunto de comportamentos que podem ser considerados desviantes, concomitantemente a
comportamentos considerados absolutamente normais. Em pesquisas diversas, foram listados mais de
100 itens comportamentais característicos de conduta desviante de dificuldade de aprendizagem.
Segundo McCarthy, 1974 (em Fonseca, 1995a, p. 92), os dez comportamentos desviantes mais
frequentes em crianças com problemas de aprendizagem são:
1. hiperatividade;
2. problemas psicomotores;
3. problemas emocionais;
5. desordens de atenção;
6. impulsividade;
Para Drouet (1995, pp. 97-98), as dificuldades de aprendizagem atendem a uma origem complexa, que
envolve aspectos múltiplos da vida inter e intrapsíquica, orgânica e social do sujeito que as apresenta.
Tentando agrupar as possíveis causas das dificuldades de aprendizagem, a autora chegou a uma
classificação que inclui:
Na visão de Pain (1992, p. 28), nenhum fator isolado é determinante no surgimento das dificuldades de
aprendizagem. Suas origens surgem “da fratura contemporânea de uma série de concomitantes”. Entre os
fatores considerados fundamentais na etiologia das dificuldades de aprendizagem, esta autora destaca:
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Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção | UNIDADE I
Vários autores apresentaram diferentes listas de fatores que são originários das
Dificuldades de Aprendizagem.
Organizem esses fatores em uma só lista e analisem a relevância de cada um deles
na gênese das DAs.
Crie uma lista de fatores originários das Dificuldades de Aprendizagem de acordo
com a sua compreensão acerca do texto lido e estudado.
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Ampliando a investigação sobre dificuldades de aprendizagem, evidencia-se que sua gênese situa-
se nas dinâmicas que envolvem a criança, a família, o professor e a escola, inseridos em um contexto
sociocultural.
Fichtner (1990, p. 56), posicionando-se sobre a origem dos distúrbios de aprendizagem, argumenta que:
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UNIDADE I | Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção
E a capacidade de aprender ?
Segundo o professor Vicente Martins (2004) são três os fatores que influem no desenvolvimento da
capacidade de aprender:
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Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção | UNIDADE I
Antes de iniciarmos uma classificação dos tipos e subtipos de dificuldades de aprendizagem existentes,
discutiremos, ainda, sobre algumas definições relacionadas aos problemas e/ou dificuldades que
acometem uma criança no processo de aprender.
Muitas vezes, adotam-se termos técnicos que não encontram lastro ou contrapartida no campo orgânico,
como a célebre “disfunção cerebral mínima” (DCM), que muitos discutem ser a causa da maioria dos
casos de dificuldades de aprendizagem e ninguém, até hoje, conseguiu localizá-la ou comprová-la por
meio dos exames neurológicos, permanecendo a mesma como uma disfunção sem representação ou
verificação orgânica.
Uma conceituação precisa das dificuldades de aprendizagem permite um maior rigor na determinação de
quem pertence a essa categoria de problemas e quem não pertence.
Em Fonseca (1995a), encontramos uma série de definições para as dificuldades de aprendizagem, que
atendem ao critério aqui estabelecido de informar, com o máximo de precisão, quem faz parte desse
grupo e quem não faz.
São elas:
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UNIDADE I | Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção
A partir desse elenco de definições, podemos concluir que, se não há consenso quanto ao que seja
dificuldade de aprendizagem, pelo menos a grande maioria dos autores concorda com as características
que as crianças com problemas para aprender “não” possuem.
De acordo com Fonseca (1995a), a criança com dificuldade de aprendizagem não possui deficiência
sensorial, seja ela visual ou auditiva; não é deficiente motor, com quadros de paralisia cerebral ou de
membros; não é deficiente intelectual, mantendo escores de QI por volta de 90 pontos e não apresenta
distúrbios emocionais graves, que podem caracterizar quadros de psicoses severas.
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Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção | UNIDADE I
Fonseca (1995a) propõe uma classificação das dificuldades de aprendizagem em dois níveis, a saber: a)
as dificuldades de aprendizagem primárias e b) as dificuldades de aprendizagem secundárias. Falaremos
sobre elas no próximo capítulo, aqui é importante frisar que inúmeras são as causas das dificuldades de
aprendizagem. Fatores biológicos, orgânicos, emocionais, ambientais, ecológicos, entre outros, interagem
de forma sistêmica na composição de um quadro problemático para a aprendizagem.
Uma classificação apropriada das dificuldades de aprendizagem facilita os passos posteriores, em uma
intervenção psicopedagógica, seja ela realizada em âmbito de atendimento individualizado ou na
instituição escolar. Tentar clarificar o que são ou o que representam os sintomas que surgem em quadros de
dificuldades de aprendizagem é tarefa básica do profissional desta área, especialmente como contribuição
para a composição do corpo teórico psicopedagógico.
Mas continuaremos este estudo na próxima Unidade especificamente voltada para as dificuldades de
aprendizagem e sua taxonomia.
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unidade
A Abordagem Psicopedagógica às
Dificuldades de Aprendizagem II
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capítulo 4
Articulação da história do fracasso escolar com o
surgimento das dificuldades de aprendizagem: uma
breve análise histórica
João da Silva tem 12 anos e ainda está na 3ª série do Ensino Fundamental. Por mais
que a professora se esforce, João não consegue aprender. Seus pais dizem que ele é
imaturo e não tem jeito “para a escola”. Sua professora também não acredita mais
que João possa melhorar. Ela está certa de que ele tem alguma coisa de errado que
não permite que ele aprenda. “João não tem jeito”, costuma dizer sua professora.
“Ele já é atrasado demais, impossível recuperar!”.
João da Silva engrossa as estatísticas do fracasso escolar no Brasil. Como ele, milhares de brasileiros são
rotulados, diariamente, como incapazes de aprender por questões que rondam a esfera das competências
individuais dos sujeitos. Quando contestada sobre outras possíveis causas para que um aluno não
aprenda, a escola amplia a causa do fracasso escolar à família e à situação econômica do país. Raramente
a instituição escolar se inclui no rol dos elementos causais da aprendizagem fracassada de milhares de
crianças.
O fracasso escolar é, sem dúvida, um dos mais graves problemas sociais e econômicos com o qual nos
deparamos. Ele se espalha por todos os níveis educacionais, penalizando desde crianças da Educação
Infantil até adultos que sofrem em programas de alfabetização, em busca de um mínimo de condições
para o exercício de sua cidadania. Apesar de incidir em quase todas as etapas de escolarização, é nas
primeiras séries do Ensino Fundamental que o fracasso escolar faz o grande “estrago”. Há décadas lidamos
com dados que indicam a manutenção dos altos índices de retenção, evasão e exclusão escolar. Ao longo
das últimas décadas, as crianças brasileiras não conseguiram se libertar desse vaticínio que as impele para
uma vida escolar repleta de situações de frustração e insucesso. Afinal, por que essas crianças fracassam
tanto e por tanto tempo?
No Brasil, o número de sujeitos que não conseguem aprender aumenta a cada ano. Diante de um quadro
caracterizado por crescente retenção em séries escolares, exclusão do aluno do sistema educacional ou
encaminhamento para serviços psicológicos, psicopedagógicos ou médicos, a escola sente-se perdida
e repete, continuamente, o comportamento de responsabilizar o sujeito e sua família pelo fracasso na
aprendizagem. Surgem os rótulos, que atribuem ao aluno deficiências de toda ordem e que em nada
colaboram para a solução do problema. Em geral, esses rótulos legitimam uma suposta “incompetência
29
UNIDADE II | A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem
individual ou orgânica para a aprendizagem”, excluindo o aluno não só da vida escolar como do mundo
social e do trabalho.
Se a culpa pelo fracasso escolar é do aluno, as outras instâncias pertencentes ao sistema escolar não
assumem responsabilidade diante desse cenário. Sociedade, políticas públicas e sociais, ideologias
educacionais, escola, educadores e professores não são diretamente responsáveis por essa tragédia e,
portanto, muito pouco têm a fazer.
Para compreender como se constitui um quadro de fracasso escolar é necessária uma análise minuciosa
de suas origens sem desconsiderar a participação ativa de distintas instâncias na estruturação desse
processo. Por ser um fenômeno de alta complexidade, sua construção vai espelhar essa natureza intrincada
e vai exigir uma avaliação de todos os aspectos que contribuem para o surgimento dessa situação,
tanto no contexto escolar como também no do trabalho. Hoje encontramos, com frequência, adultos
que apresentam situações de fracasso no exercício laboral em decorrência de contextos educacionais
pregressos que não foram adequados o suficiente para promover nesses sujeitos as competências exigidas
pelo mercado de trabalho da atualidade, caracterizado por sua competitividade e alto grau de exigência.
Ao pensarmos sobre o papel social da educação e, concomitantemente, buscarmos respostas para os altos
índices de fracasso escolar nas escolas públicas brasileiras fica difícil não considerar a existência de uma
dimensão perversa no sistema escolar que parece excluir essas crianças quase que “de propósito”, como
garantia de um projeto ideológico que se beneficia dessa exclusão. Sociólogos franceses investigaram
exaustivamente as dimensões simbólicas presentes nas propostas educacionais e que traduzem a ideologia
dominante de um dado sistema de poder. Não há dúvida de que a escola, em certa instância, atende ao poder
dominante e reproduz, por meio de suas práticas, um contexto sociocultural que garanta a manutenção
das condições ideológicas desejáveis. Porém, também somos sabedores de que o espaço escolar, apesar de
sua função reprodutivista, é, ainda, um dos poucos contextos que favorecem o surgimento de uma reação
popular ao sistema ideológico dominante. Renomados educadores brasileiros, como Saviani e Libâneo,
vêm discutindo a possibilidade concreta de construção de uma pedagogia crítica, capaz de restituir ao
sujeito sua condição de cidadão, uma pedagogia a serviço do povo brasileiro e não das elites política e
ideológica.
O fracasso escolar deve ser compreendido a partir dessa instância macrossistêmica, que delata um projeto
ideológico que exclui a população pobre não apenas da escola, mas, principalmente, da possibilidade de
construção do seu conhecimento, assim como do acesso ao mercado de trabalho em iguais condições de
competição com os raros cidadãos formados nas elites.
Não é por acaso que uma criança fracassa na escola. O fracasso escolar tem uma missão, infelizmente mais
perversa do que imaginamos. Ele legitima a exclusão escolar e social, de modo sutil e quase imperceptível,
ao culpabilizar o aluno pelo seu insucesso. Uma vez que ainda se discute a não aprendizagem como oriunda
de aspectos orgânicos, fisiológicos e individuais não há porque duvidar das intenções democráticas
30
Conceito de aprendizagem e seus impedimentos, etiologia, taxonomia e modelos de intervenção | UNIDADE I
do sistema educacional que provê a todos os sujeitos as mesmas condições de ensino. Se o aluno não
aprende, não é o sistema que tem “culpa”, nem o aluno, necessariamente. Esse aluno não aprende porque,
“infelizmente”, pertence a um contexto social e econômico desprivilegiado que termina por minar suas
possibilidades desenvolvimentais e suas condições de vida. Diante desse cenário tão precário é quase
impossível para o aluno passar pela escola sem apresentar uma quantidade enorme de dificuldades de
aprendizagem que vão legitimar o seu fracasso, ou seja, a sua participação ativa no seu insucesso escolar.
Para revigorar a perversidade do sistema, surge o discurso de que a solução para esse problema ultrapassa
os muros da escola e deve ser objeto de discussão de instâncias superiores. O sistema educacional deixa
claro que a solução para esse intrincado problema diz respeito a essas instâncias superiores, como se elas
não pertencessem, também, ao sistema político dominante.
Ao que parece, a solução para esse problema também ultrapassa o desejo político
das elites governantes. Se assim não fosse, a realidade seria outra.
O sistema escolar ainda se solidariza com o aluno que fracassa ao inventar múltiplas formas de auxiliá-
lo em sua “recuperação”. Nesse ínterim surgem ações como a implantação da progressão automática nas
distintas etapas do Ensino Básico, programas de aceleração da aprendizagem, entre outros artifícios que
apenas prorrogam o veredicto final, que sempre é a exclusão.
Enquanto o poder político se digladia em busca de soluções para a sofrível situação da educação brasileira,
nas salas de aula a construção do fracasso escolar toma corpo a cada dia, expresso pelos obstáculos criados
pela própria escola e que impedem o aluno de aprender. A burocratização do trabalho pedagógico, a
obediência cega a uma carga curricular excessiva e pouco formadora, a prioridade dada aos conteúdos
quantitativos em detrimento da experiência qualitativa do aluno, a má formação dos professores, as
precárias condições físicas e materiais da escola, entre tantas outras mazelas constituem barreiras
presentes que os alunos das camadas pobres enfrentam e que, muito dificilmente, conseguirão sobrepujar.
Diante de constatações tão sérias, a necessidade de investigar com maior profundidade esse fenômeno
dissimulado que é o fracasso escolar torna-se imperativa. Neste ponto partimos para a escola, com o
propósito de compreender o que ocorre em seus espaços, na tentativa de lançar luz sobre essa questão
obscura. Ao chegarmos à escola nos deparamos com o inevitável: a total apropriação do discurso dominante
por parte dos educadores, de modo pouco explícito, demonstrando em sua dimensão microssistêmica a
existência das mesmas propostas evidenciadas na instância macrossistêmica já discutida neste Caderno.
Escutamos de educadores e professores que as causas do fracasso escolar têm origem no aluno e em suas
precárias condições de vida. Mais uma vez as outras dimensões são salvas “do julgamento” e permanecem
omissas em relação ao quadro do insucesso na escola. O ciclo se fecha e a escola legitima a ideologia
dominante ao assumir que o aluno e seu precário contexto socioeconômico são os elementos responsáveis
pelo seu fracasso porque dão origem às suas deficiências de aprendizagem.
econômico. Ao situar a origem do problema no sujeito, eximem-se a escola e todo o sistema restante da
partilha da responsabilidade pelo insucesso escolar.
Na maioria das vezes o aluno não é responsável pelo seu fracasso na escola. Em
algumas circunstâncias, ele tem pouco sucesso na escola por vivenciar situações
que trazem, em seu bojo, algum tipo de impedimento ou dificuldade para aprender.
Nesses casos, evidenciamos a possibilidade de identificação das dificuldades de
aprendizagem.
1. O fracasso escolar costuma ser compreendido como um fenômeno social que afeta,
especialmente, a população de baixo poder aquisitivo e que frequenta o sistema
público de ensino.
33
capítulo 5
Análise dos fatores que impedem a aprendizagem
a partir de um enfoque psicopedagógico
Neste capítulo vamos explorar os diferentes fatores que podem impedir a aprendizagem. Ao longo dessa
discussão esbarraremos, novamente, nos conceitos de fracasso escolar e de dificuldades de aprendizagem,
pois os fatores impeditivos da aprendizagem são múltiplos e se relacionam intimamente tanto com o
insucesso escolar como com as dificuldades para aprender.
Por que algumas crianças, absolutamente normais, não aprendem? Essa é uma
pergunta intrigante.
Dizer que uma criança não aprende porque possui um distúrbio orgânico, fisiológico, cerebral ou
semelhante é menos complicado do que atribuir o seu fracasso escolar a outros fatores difíceis de serem
mensurados ou mesmo diagnosticados mediante exames. Por essa razão, há uma enorme tendência
em medicalizar o fracasso escolar e tratá-lo como um distúrbio passível de cura por uma terapêutica
adequada ou medicação suficiente. Porém, mesmo quando cedemos a essa tendência, somos cientes de
que há outros aspectos presentes na construção das dificuldades de aprendizagem que extrapolam as
nomenclaturas médicas e psicológicas.
Há também situações nas quais a criança ingressa na escola em condições perfeitas para aprender e sai
dela apresentando limitações sérias à aquisição do conhecimento. Como explicamos tal fenômeno? Antes
da escola a criança aprendia perfeitamente. Depois da escola essa competência torna-se comprometida?
A escola pode impedir a aprendizagem? Quando evidenciamos quadros dessa natureza é impossível
relacionar as causas da não aprendizagem somente a fatores individuais, orgânicos ou fisiológicos. O
sistema escolar é competente para gerar dificuldade de aprendizagem, por incrível que pareça. Muitas
vezes é isto o que a escola faz: “impede o sujeito de aprender”.
O foco de investigação das causas da não aprendizagem também pode mudar de rumo e apontar para
a família, as condições sociais e econômicas do aluno, as crenças e concepções do seu contexto social,
os valores culturais, entre tantos outros fatores. Compreender o fracasso escolar e o surgimento das
dificuldades de aprendizagem em um sujeito exige investigação minuciosa, detalhada, aprofundada. Diz
respeito a um processo de pesquisa da história desse sujeito, considerando suas inserções familiares, sociais
e culturais. Os impedimentos à aprendizagem são múltiplos, derivam de distintas fontes e demandam
muita atenção e discernimento em sua identificação.
34
A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem | UNIDADE II
.
Essa leitura abrangente se recusa a compreender a não aprendizagem como oriunda de uma única fonte
e considera que só é possível identificar o que impede a aquisição do conhecimento ao considerarmos os
pontos de partida dessa situação, que são muitos.
O ser humano pertence a uma espécie e partilha com ela características desenvolvimentais comuns. Isso é
fato biológico, genético, fisiológico. Entretanto, sabemos que o homem não se torna “humano” por legado
biológico ou genético. Uma criança só se torna “humana” quando faz parte de uma cultura e conta com
mediadores aptos a transmitir a ela os significados dessa cultura. É por meio da mediação que a criança
se torna “uma pessoa”, desenvolve suas funções psicológicas, cresce, matura, aprende, passa a pertencer
à humanidade.
A construção do ser humano se dá no palco cultural, no qual a família, a escola e diversas instituições
atuam como poderosos mediadores nesse processo. Considerando que hoje prevalece no planeta o modelo
das sociedades industrializadas e que nesse modelo as crianças passam um longo tempo na escola para
“adquirirem conhecimentos”, imaginem o impacto da instituição escolar na construção da personalidade
do homem. Ele é imenso, incomensurável, definitivo, tanto para o sucesso dessa criança como para o seu
fracasso.
O processo de socialização do homem assim como sua experiência em instituições de ensino constituem
vivências repletas de desafios, situações-problema, escolhas e opções. Nem sempre esse sistema se
apresenta para o sujeito em concordância com seus desejos e aspirações. Muitas vezes, socializar-se e
educar-se são experiências difíceis, que demandam auxílio constante dos pares sociais mais experientes e
nem sempre a escola ou a família estão prontas para ofertar esse auxílio. Em situações desse gênero é muito
provável o surgimento de dificuldades que podem se expressar tanto no processo de desenvolvimento do
sujeito como em sua aprendizagem.
No Quadro 2 identificamos as dimensões por meio das quais um ser humano se constitui como sujeito
e que podem originar distintos fatores impeditivos à aprendizagem, a saber: (a) biológicas/genéticas; (b)
físicas/orgânicas; (c) psicológicas; (d) escolares/institucionais; (e) socioeconômicas; (f) ideológicas; (g)
ecológicas, (h) culturais/históricas. Uma breve investigação de cada uma dessas dimensões é necessária
para clarear o processo de construção desses fatores impeditivos da aprendizagem e suas interações com
todo o sistema que cerca o sujeito.
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UNIDADE II | A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem
1) Dimensões biológica e genética: dizem respeito à herança genética que cada ser humano recebe no
momento da concepção e que dá origem a um ser biológico, pertencente a uma espécie com a qual ele
partilha inúmeras regularidades, tanto desenvolvimentais como de aprendizagem. O homem é único,
porém atende a regularidades desenvolvimentais típicas de sua espécie. Seu processo de desenvolvimento
tem aspectos definidos pelo seu código genético e sua biologia, entretanto essas dimensões também são
afetadas por contextos ambientais, sociais e culturais, promovendo mudanças e transformações.
Diversos estudos mostram que transtornos biológicos ou mesmo genéticos podem gerar dificuldades
de aprendizagem, com destaque especial para os déficits neurológicos. Situações dessa natureza
ocasionam comprometimentos no processo desenvolvimental do sujeito, especialmente em sua cognição,
promovendo alterações biológicas, comportamentais e emocionais que podem impedir a aprendizagem.
Entre os transtornos relacionados às alterações biológicas identificamos: (a) lesões cerebrais; (b) paralisia
cerebral; (c) epilepsia: (d) deficiência mental; (e) deficiência sensorial e (f) deficiência visual, auditiva
ou de fala. Os fatores genéticos podem originar os seguintes quadros: (a) fibrose cística; (b) síndrome
de Down; (c) hemofilia; (d) neurofibromatose; (e) fenilcetonúria; (f) anemia falciforme; (g) síndrome de
Turner, entre tantos outros.
É importante que o psicopedagogo saiba que necessita de auxílio especializado para elaborar um
diagnóstico no qual os fatores impeditivos à aprendizagem são, primariamente, de origem biológica ou
genética. O trabalho interdisciplinar é indispensável no momento da elaboração de um diagnóstico, seja
ele no âmbito clínico ou no institucional.
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A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem | UNIDADE II
podem ter suas trajetórias de desenvolvimento alteradas por fatores de outra ordem, originando situações
potencialmente capazes de impedir os seus processos de aprendizagem.
Entre os possíveis fatores físicos e orgânicos com potencial para impedir ou prejudicar os processos de
aprendizagem, destacamos: (a) desnutrição; (b) exposição a agentes teratogênicos, como drogas, infecções;
(c) incompatibilidade de Rh; (d) exposição à irradiação e/ou poluição; (d) déficits psicomotores; (e) déficit
no crescimento e (f) baixo peso.
3) Dimensão psicológica: corresponde aos fatores psicológicos e seu desenvolvimento durante a vida
do sujeito. Fatores psicológicos incluem os seguintes processos: emoções, afeto, cognição, inteligência,
memória, percepção, linguagem, pensamento, criatividade, imaginação etc. As funções psicológicas
determinam o surgimento do sujeito humano. A nossa espécie se diferencia do reino animal por
possuir funções psicológicas superiores e mediadas, que permitem a construção da consciência e,
consequentemente, a noção de “eu”. Somente os homens têm identidade, personalidade ou subjetividade.
Esta vida psíquica rica, complexa e subjetiva é construída ao longo do nosso desenvolvimento e depende
de todas as dimensões que cercam o ser humano. Necessitamos de condições físicas, biológicas, genéticas,
ambientais, sociais e históricas favoráveis para desenvolvermos uma personalidade saudável. Quando
essas condições são abaladas por qualquer circunstância, o desenvolvimento psicológico do sujeito pode
apresentar comprometimentos, entre os quais destacamos aqueles que vão impedir, especificamente, a
aprendizagem.
Os fatores psicológicos impeditivos da aprendizagem são numerosos e atuam de modo conjunto. Uma
criança com baixa autoestima, por exemplo, pode apresentar dificuldades de aprendizagem que, por sua
vez, vão gerar déficits na aquisição da linguagem, que, também, por sua vez, transformam-se em um
outro fator psicológico originário do problema de aprendizagem. Esse ciclo demonstra a relação sistêmica
existente entre sintoma e situação, mostrando que muitas vezes a dificuldade de aprendizagem tem poder
de gerar um novo sintoma de não aprendizagem.
Há necessidade de análise minuciosa dos fatores psicológicos na composição dos quadros de não
aprendizagem. O psicopedagogo deve se apropriar de saberes da psicologia, da psicanálise e de outras
linhas teóricas no sentido de ampliar seus conhecimentos sobre a dinâmica e a estrutura do funcionamento
psicológico. Só assim será possível elaborar diagnósticos ou avaliações precisas. Também é importante
destacar, novamente, a necessidade do trabalho interdisciplinar. Em alguns momentos, a melhor opção
é contar com a participação de um psicólogo clínico experiente no momento de fechar um processo de
avaliação psicopedagógica.
geral, esse sujeito tentará atender a esses padrões e nessa trajetória pode vivenciar situações conflitantes
que refletem em sua personalidade, em seu desenvolvimento e em seu aprendizado.
Nas sociedades industrializadas, a escola é a instituição onde as crianças passam a maior parte do seu
tempo. Ela também é o local, por excelência, de transmissão do legado cultural da humanidade. Na
escola, a criança constrói seu conhecimento sobre o mundo e sobre si mesma. Ela também aprende a ser
uma pessoa, por meio das diversas interações com os pares, no espaço escolar. A sala de aula é muito mais
do que um espaço de aprendizagem; ela é um espaço privilegiado de desenvolvimento humano, onde
crianças “tornam-se seres humanos” e aprendem a viver em coletividade. Portanto, a escola assume papel
de extrema importância na construção de bom ou mau processo de aprendizagem. A intenção contida no
processo educativo formal, em geral, é boa; os resultados nem sempre.
A escola impede a aprendizagem quando: (a) estrutura o mesmo tipo de ensino para diferentes crianças;
(b) não prepara seus professores de modo adequado; (c) não oferta metodologias de ensino modernas,
sofisticadas e de qualidade; (d) enfatiza a aquisição de conteúdos em detrimento da produção do
conhecimento; (e) utiliza a avaliação como sistema punitivo, ao invés de caracterizá-la como momento
especial de aprendizagem; (f) elimina a dimensão lúdica da sala de aula; (g) distancia conteúdos
curriculares da vida do aluno; (h) constrói ambientes de aprendizagem opressivos, sem destaque para
a criatividade. As instituições familiares também não cooperam com o sucesso escolar quando: (a) não
valorizam a aprendizagem e o estudo; (b) não participam da vida escolar dos seus filhos; (c) não incentivam
ou valorizam a leitura; (d) não estimulam adequadamente as crianças; (e) negligenciam a educação de
valores; (f) associam alto nível de ansiedade ao processo escolar; (g) nutrem relações interfamiliares
pouco ajustadas.
5) Dimensões Socioeconômicas: dizem respeito ao contexto social e econômico das crianças e suas
famílias em etapa de escolarização e refletem, diretamente, no desempenho dos alunos em sala de aula.
Uma das causas mais representativas do fracasso escolar é o baixo padrão social e econômico da maioria das
crianças brasileiras. Desprovidos de moradia, condições sanitárias, cuidados médicos, nutrição adequada,
conforto familiar e emocional e recursos financeiros, as crianças das classes sociais desfavorecidas
encontram obstáculos instransponíveis quando chegam à escola. É impossível aprender com qualidade
quando não há cadernos, lápis, computadores, alimentação adequada, falta de apoio familiar, trabalho
precoce, descanso e lazer, todos os ingredientes que favorecem a aquisição do conhecimento com certo
grau de tranquilidade e prazer.
Diante de tantos impedimentos, torna-se quase impossível para uma criança pobre alcançar sucesso na
escola. Se somarmos esse aspecto aos outros já relacionados veremos o fracasso escolar se constituindo,
tornando-se um fenômeno muito mais social do que pedagógico, urdido na perversidade da má
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A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem | UNIDADE II
distribuição de renda, fato ainda tão presente em nosso país. Mesmo quando consegue ultrapassar todas
as barreiras impostas pelo macrossistema, a criança pobre sai da escola em condições precárias para
competir em um mercado de trabalho delimitado pela alta especialização e pela busca de excelência.
Nesse contexto, parece que não há saída para essas crianças.
6) Dimensão Ideológica: toda sociedade ou grupo cultural constrói ideologias que sustentam suas crenças
e valores. Por ideologia compreendemos “um conjunto articulado de ideias, valores, opiniões, crenças que
expressam e reforçam as relações que conferem unidade a determinado grupo social, seja qual for o grau
de consciência que disso tenham seus portadores”. As ideologias surgem a partir de ideias disseminadas
como dominantes e representativas do desejo de uma sociedade. Ela é incutida mediante distintas
práticas, entre as quais se destaca a escolar. A escola é uma das instâncias transmissoras da ideologia de
um povo. Ela dissemina, de modo subentendido, sistemas de ideias dogmaticamente organizadas e as
transforma em instrumento de manipulação, domínio ou, até mesmo, de luta de classes. Não percebemos
o processo de apropriação da ideologia que domina o nosso contexto social, histórico e cultural. Quando
percebemos já somos portadores desses valores e, muitas vezes, lutamos para preservá-los.
De que modo uma ideologia pode gerar dificuldades de aprendizagem ou mesmo fracasso escolar?
Quando ela, por exemplo, dissemina para os membros de uma sociedade que o ingresso no trabalho se
dará por meio do preparo do sujeito, no ambiente escolar, para o exercício de uma profissão e, ao mesmo
tempo, não oferta condições democráticas de acesso a uma escolarização de qualidade. Ao partilhar esse
ideário, o sujeito considera que o fracasso escolar e profissional de muitos dos seus pares se justifica por
esse conjunto de valores, ou seja, não há lugar para todos, portanto nada mais natural do que o fracasso
de uma boa parcela.
A escola faz isso com muita competência e, como boa reprodutora da ideologia dominante, lança a
responsabilidade do fracasso nas mãos do aluno, eximindo o contexto social de sua enorme parcela de
culpa. O aluno apresenta dificuldades para aprender porque “já espera” esse quadro. Afinal, ele é pobre,
não tem condições financeiras nem culturais de alcançar o topo da pirâmide social, já disseram a ele
que nem todos chegarão lá e que o melhor a fazer é aceitar sua condição subalterna sem reclamar. A
família também legitima o problema ao assumir que seu filho “não dá para os estudos”, “não é muito
inteligente”, “deve ter a mesma profissão do pai”, entre outras crenças semelhantes que só fortalecem o
sistema ideológico vigente. O psicopedagogo tem a obrigação de investigar essa dimensão que sempre
surge como componente em quadros de dificuldades de aprendizagem e fracasso escolar.
7) Dimensão Ecológica: esta dimensão compreende a criança inserida em distintos contextos que são
formados pelos vários ambiente em que ela habita no seu cotidiano. Esses microssistemas se relacionam
uns com os outros de distintas maneiras, formando mesossistemas que, por sua vez, interagem com
ambientes e espaços institucionais (exossistemas) em que a criança não necessariamente está presente,
mas que influenciam seus processos de desenvolvimento e aprendizagem de modo significativo. Todos
esses sistemas encontram ressonância no macrossistema que representa as crenças, ideologias e padrões
culturais de cada criança.
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UNIDADE II | A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem
como sujeito inserido em uma teia de relações que se amplia progressivamente, passamos a percebê-la de
modo mais complexo e ampliamos as possibilidades de identificar possíveis pontos nodais de situações
problemas, o que permite a intervenção.
8) Dimensões históricas e culturais: para finalizar, vamos analisar o contexto histórico e cultural e suas
interferências no contexto da aprendizagem e seus impedimentos. Já discutimos bastante sobre a natureza
dos processos de desenvolvimento humano e aprendizagem. Somos sabedores de que o filhote do homem
só se torna “humano” pela mediação da cultura, ou seja, de significados simbólicos que damos às coisas
e ao mundo e que são transmitidos aos nossos descendentes mediante os processos educacionais. O
homem se torna homem por meio de outros homens. Esse processo depende da cultura e de seu contexto
histórico.
A escola é a instituição responsável pela transmissão do legado cultural da humanidade. A ela cabe a
tarefa de ensinar aos mais novos os significados construídos pela cultura que representa. Por isso, a
escola necessita de tempo longo e contínuo para formar um habitus no aluno, ou seja, para incutir-lhe
os valores, crenças e saberes escolhidos pela dimensão histórica e cultural. Espera-se que esse aluno seja
o guardião e também reprodutor dos padrões históricos e culturais herdados. Deseja-se que ele, como
futuro da sociedade, garanta a sobrevivência dela. A escola treina o aluno para manter o status quo, para
garantir a continuidade do grupo social, para reproduzir crenças e valores. Ao se estruturar para tal tarefa,
a escola termina por eliminar de suas práticas a produção de novos valores culturais, a renovação do
legado histórico, a transformação do tecido social tão imprescindível para nossa subsistência. Portanto, é
nesse aspecto que as dimensões históricas e culturais podem atuar no sentido de gerarem dificuldades de
aprendizagem, ao ceifarem no aluno o seu ímpeto criativo e inovador. Parece um contrassenso, mas tal
fato ocorre com uma infeliz frequência.
40
unidade
Compreensão das Dificuldades de
Aprendizagem III
42
capítulo 6
Taxonomia e características das dificuldades de
aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica
43
UNIDADE II | A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem
(4) Se há perturbações, elas dependem de alterações mínimas, tão (4) Se há perturbações, elas dependem secundariamente de
mínimas que não são detectadas pelos exames médicos pediátricos, deficiências sensoriais, neurológicas, psíquicas ou ambientais
neurológicos, psiquiátricos, psicológicos porque são insuficientes para como, por exemplo: privação cultural, desvantagem
identificar distúrbios e problemas no processamento da informação. socioeconômica, má nutrição, envolvimento afetivo, facilidades
(5) As aquisições da linguagem falada, da linguagem escrita e da de estimulação precoce, expectativas etc.
linguagem quantitativa estão primariamente perturbadas. (5) As aquisições da linguagem falada, da linguagem escrita e
da linguagem quantitativa estão secundariamente perturbadas.
CATEGORIAS DE DAs PRIMÁRIAS CATEGORIAS DE DAs SECUNDÁRIAS
1. Disfunções 1. Afecções biológicas
»» Lateralização
»» Imagem do corpo
»» Estruturação espaço-temporal
»» Praxia global
»» Praxia fina (visuomotricidade)
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A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem | UNIDADE II
As dificuldades de aprendizagem primárias são aquelas de maior evidência e não caracterizam dano
orgânico específico. Elas têm origem em múltiplas causas, mas não apresentam, especificamente, um
déficit no organismo do sujeito nem em suas funções cognitivas. A criança que apresenta uma DA
primária é considerada uma criança de desenvolvimento normal, entretanto, situações endógenas ou
exógenas favoreceram o surgimento de impedimentos à aprendizagem que assumem caráter transitório,
ou seja, podem ser eliminadas sem deixar rastro na história do sujeito.
Por motivos que são plurais, uma criança normal começa a apresentar dificuldades
para ler, escrever e raciocinar matematicamente.
No caso das DAs primárias é muito comum a criança manter um padrão intelectual, motor e social
aproximado do normal. O desvio da conduta normal é pouco evidenciado nas DAs primárias, mas em
caso de persistências das irregularidades na aprendizagem, é possível que o quadro evolua a ponto de
incluir problemas de comportamento.
Em sua maioria, as DAs representam respostas que as crianças normais dão quando se encontram em
situações adversas de ensino. É muito comum, no atendimento clínico e mesmo institucional, verificar o
surgimento de impedimentos à aprendizagem quando os alunos são expostos a metodologias de ensino
pouco criativas e conteudistas, a professores com dificuldades de interação em sala de aula ou mesmo
situações de constrangimento ou violência vividas com os colegas. Nem sempre as delicadezas presentes
nas relações em sala de aula são percebidas pelo professor ou por outros educadores, mas elas podem
atuar fortemente no sentido de promover sentimentos negativos no aluno a ponto de ele optar por não
aprender, como uma forma de se defender de uma possível ameaça emocional. Infelizmente tal realidade
é muito mais comum nas escolas do que imaginamos.
Hoje em dia é comum observar a escola rotulando alunos como portadores de hiperatividade, déficit de
atenção ou mesmo deficiência mental por desconhecer a etiologia e desenvolvimento desses transtornos
e por desejar medicalizar a dificuldade para aprender, medida que a exime de sua responsabilidade diante
do problema. A escola não percebe que ela é a construtora da maioria dos quadros de não aprendizagem
e, assim como se recusa a perceber o seu papel, também se omite na reconstrução do vínculo da
aprendizagem, deixando o aluno nas mãos de médicos e psicólogos que nem sempre conseguem ajudar.
45
UNIDADE II | A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem
Para piorar o quadro, a rotulação de uma pessoa como portadora de um déficit ou transtorno em nada
auxilia em sua recuperação, muito pelo contrário. Essa medida gera discriminação e agrega valores
negativos ao sujeito, implicando em baixa autoestima e percepção de si mesmo como incompetente.
A escola deve se preparar para lidar com as dificuldades de aprendizagem e com o fracasso escolar e o
psicopedagogo é um profissional apto a auxiliar a instituição escolar nesse sentido. É importante que o
trabalho psicopedagógico institucional atue no sentido de evitar a rotulação precoce de crianças com
problemas de aprendizagem, mas também não negligencie aquela pequena parcela de alunos que podem,
de fato, apresentar transtornos que vão demandar ajuda especializada. Atuar nos extremos, em se tratando
de avaliação psicopedagógica, não é medida segura.
Ampliando a taxonomia proposta por Fonseca (1995) e assumindo uma leitura psicopedagógica das
dificuldades de aprendizagem, apontamos as principais irregularidades que caracterizam as DAs
primárias:
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A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem | UNIDADE II
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UNIDADE II | A Abordagem Psicopedagógica às Dificuldades de Aprendizagem
»» Classificar números.
»» Compreender os sinais matemáticos de soma, subtração, multiplicação, divisão,
inclusão, pertença etc.
Por esses múltiplos fatores é que a dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe
multidisciplinar. Esse tipo de avaliação dá condições de um acompanhamento mais
efetivo das dificuldades após o diagnóstico, direcionando-o às particularidades de cada
indivíduo, levando a resultados mais concretos (http://www.dislexia.org.br/, acesso em
2/05/07)
Dislexia traz em sua grafia a sua definição. O prefixo “dis”, que tem origem no termo
grego “dys”, significa “estado imperfeito ou disfunção”. O radical “lexia”, também
originado do grego “léxikos”, representa o termo “palavra, léxico, linguagem” em
sua expressão mais ampla. Dislexia, portanto, é um estado imperfeito da linguagem,
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Compreensão das Dificuldades de Aprendizagem | UNIDADE III
Uma criança que apresenta quadro de TDAH tem enorme dificuldade em selecionar estímulos e manter
o seu foco de atenção. A desatenção, inquietude e impulsividade demandam auxílio constante de outra
pessoa, pois o TDAH impede a criança de agir sozinha para controlar o próprio comportamento. Em
várias situações, essa criança é vista como mal-educada ou sem limites, quando na verdade ela não tem
condições de impedir o fluxo de hiperatividade que a acomete.
São várias as causas do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. Entre o elenco de aspectos
que podem gerar esse problema destacamos: (a) a dimensão biológica, que inclui a predisposição genética;
(b) a dimensão psicológica, que compreende o desenvolvimento das funções psicológicas e do repertório
comportamental e (c) a dimensão social, expressa nos problemas de ensino e aprendizagem assim como
nas crenças e valores que permeiam a educação. O TDAH surge do entrelaçamento desses fatores e a
eles está condicionado. Qualquer tentativa de identificação do TDAH e de possíveis intervenções deve
considerar sua natureza biopsicossocial.
A escola e seus profissionais, especialmente o psicopedagogo, devem conhecer com propriedade esse
transtorno para não consolidarem a prática de rotular a criança ativa e bagunceira ou mesmo a criança
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UNIDADE III | Compreensão das Dificuldades de Aprendizagem
dispersa e pouco interessada nas aulas como hiperativa ou portadora de déficit de atenção. Na atualidade,
essa disfunção caiu no gosto popular e, junto com a dislexia, tem sido vítima de diagnósticos equivocados,
o que maximiza o problema enfrentado pelo aluno e, mais uma vez, medicaliza a dificuldade de
aprendizagem, eximindo a escola por sua parcela de responsabilidade no processo de ensinar corretamente
para que o aluno aprenda adequadamente.
O TDAH é caracterizado pela presença marcante de duas disfunções, que são: a desatenção e a
hiperatividade/impulsividade. Esses dois fatores se combinam e atuam de modo a potencializar um ao
outro, formando um sistema disfuncional complexo e comprometedor das funções psicológicas e sociais
do sujeito. Essa composição de sintomas resulta em uma criança “avoada”, “ligada em um motor”, “que
não para nunca”, “estabanada”, “inquieta”, entre tantos outros adjetivos pouco interessantes. Os meninos
apresentam sintomas de hiperatividade em maior grau quando comparados às meninas. Estas costumam
expressar a falta de atenção com maior vigor. Apesar das diferenças de gênero ainda é comum encontrar,
tanto em meninos como em meninas, uma composição desses dois fatores.
A literatura destaca que há uma tendência de manutenção do TDAH na adolescência e na idade adulta.
Se a criança que possui essa disfunção recebe tratamento adequado na infância, a possibilidade de
minimizar os efeitos da hiperatividade e do déficit de atenção na vida adulta é bem menor. Caso não haja
intervenção na infância, a probabilidade de manutenção do transtorno na vida adulta aumenta, gerando
dificuldades no trabalho, impulsividade, excesso de energia e tendência ao uso de drogas e álcool, assim
como predisposição a quadros de ansiedade e depressão.
Irregularidades perceptivas
»» Discriminação auditiva: caracteriza-se pela dificuldade ou mesmo incapacidade
de discriminação de sons, fonemas, sílabas e palavras acusticamente parecidas.
Desenvolver um processamento auditivo eficiente é de extrema relevância para a
criança, uma vez que as deficiências que podem ocorrer no desenvolvimento do
processamento frequentemente levam a problemas na aprendizagem da leitura.
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Compreensão das Dificuldades de Aprendizagem | UNIDADE III
»» Posição e relação espacial: diz respeito à posição que os objetos ocupam no espaço
e as relações existentes entre eles: quem está à direita, quem está à esquerda, quem
está acima, quem está abaixo etc. A criança precisa construir sólidas percepções de
posição e relação espacial. Seu aprendizado depende muito desta competência. Até
para escrever é necessário discriminar a ordem da escrita, das palavras e das letras.
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UNIDADE III | Compreensão das Dificuldades de Aprendizagem
Os padrões emocionais das crianças com DAs secundárias também sofrem alterações e refletem condições
intrínsecas que originam os impedimentos à aprendizagem, como, por exemplo, os quadros ansiosos da
personalidade, transtornos obsessivo-compulsivos, neuroses e psicoses, como a esquizofrenia, o autismo
infantil, entre outras. Pode ocorrer, também, a depressão infantil ou da adolescência, patologias que
demandam um diagnóstico preciso e intervenção terapêutica.
As crianças estão sujeitas a disfunções emocionais tanto quanto os adultos, mas em geral alimenta-se a
crença de que na infância não existe “quadro nervoso” e os comportamentos atípicos que surgem tendem
a ser compreendidos muito mais como falhas no sistema educacional parental do que um possível
distúrbio emocional. A falta de informação, tanto da família quanto da escola, acerca dos problemas
52
Compreensão das Dificuldades de Aprendizagem | UNIDADE III
emocionais que podem acometer uma criança termina por favorecer uma situação de diagnóstico pobre
e baixa incidência de intervenção terapêutica e médica. Em decorrência desse tipo de conduta, abre-se
campo fértil para a proliferação das dificuldades de aprendizagem de ordem secundária e também para
o surgimento de problemas de relacionamento e interação escolar e social de um grande número de
crianças.
A sala de aula é um espaço de interações sociais bastante propício ao surgimento de situações psíquicas
significativas que podem ser trabalhadas adequadamente, ou não, pelo professor. Se houver preparo
docente de qualidade há chances de o professor minimizar conflitos e buscar ajuda especializada para
auxiliar seus alunos que emitem comportamentos desviantes. Se não há preparo docente para lidar
com situações do gênero, certamente haverá agravamento significativo das condições emocionais
problemáticas dos indivíduos. Esse cenário pode potencializar o quadro de dificuldades emocionais,
intrínsecas ou extrínsecas, ocasionando consequências que podem perdurar na vivência familiar e social
do aluno. O psicopedagogo tem grandes contribuições a prestar em contextos desse tipo, mas também
necessita estar apto e deter conhecimento consistente sobre o desenvolvimento emocional da criança para
poder auxiliar.
1. Condutas desviantes causadas por afecções biológicas: incluem patologias do sistema nervoso central,
como as lesões cerebrais, a paralisia cerebral e a epilepsia. Também incluem deficiências sensoriais, como
a auditiva, visual, hipoacusia etc. Esses padrões de comportamentos desviantes são originados por danos
biológicos de natureza difusa e que comprometem gravemente o desempenho do sujeito nos processos
de ensino e aprendizagem.
2. Problemas de comportamento: caracterizam-se por uma série de transtornos de conduta que têm sua
origem em conflitos relacionais e interativos, além da presença de componentes genéticos e biológicos.
Com relação aos problemas de comportamento, destacamos:
Fazem parte da categoria “Transtornos Específicos do Desenvolvimento das Habilidades Escolares (F81,
pp. 365-6)”, de acordo com o CID, as seguintes subcategorias:
F81.3 – Transtorno misto das habilidades escolares: alteração significativa tanto do cálculo quando da
leitura ou da ortografia, não atribuíveis a retardo mental global ou a escolarização inadequada.
F81.8 – Outros transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares: são incapacidades que
surgem na aquisição da linguagem escrita e falada.
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Compreensão das Dificuldades de Aprendizagem | UNIDADE III
F81.9 – Transtornos não especificados do desenvolvimento das habilidades escolares não especificado:
incapacidades de aprendizagem sem origem específica, aquisição de conhecimentos sem origem específica
e transtorno de aprendizagem sem origem específica (p.366).
De acordo com o DSM IV, há evidência de que as taxas de evasão escolar de crianças e adolescentes
com Transtornos da Aprendizagem são de, aproximadamente, 40%. Já os adultos com Transtornos da
Aprendizagem podem ter dificuldades significativas no emprego ou no ajustamento social.
Os Transtornos de Aprendizagem não podem ser considerados como variações normais na vida acadêmica
do sujeito, em que encontramos quadros transitórios de dificuldades escolares. Fatores exógenos, como a
baixa qualidade de ensino, situação de privação social e econômica, ausência de oportunidades de ensino
e trabalho podem gerar dificuldades no processo de aprendizagem; entretanto, esses impedimentos não
são considerados “transtornos de aprendizagem”, segundo o DSM IV. Estes últimos são sempre originários
de déficits sensoriais, funcionamento intelectual comprometido e patologias diversas.
De acordo com o DSM IV, os Transtornos de Aprendizagem (F81) incluem as seguintes subcategorias:
[...]
55
UNIDADE III | Compreensão das Dificuldades de Aprendizagem
capacidade matemática excedem aquelas geralmente a este associadas (Critério C). Caso esteja presente
uma condição neurológica, outra condição médica geral ou déficit sensorial, isto deve ser codificado.
Diferentes habilidades podem estar prejudicadas no Transtorno da Matemática, incluindo habilidades
“linguísticas” (por ex., compreender ou nomear termos, operações ou conceitos matemáticos e transpor
problemas escritos em símbolos matemáticos), habilidades “perceptuais” (por ex,. reconhecer ou ler
símbolos numéricos ou aritméticos e agrupar objetos em conjuntos), habilidades de “atenção” (por ex.,
copiar corretamente números ou cifras, lembrar de somar os números “levados” e observar sinais de
operações) e habilidades “matemáticas” (por ex., seguir sequências de etapas matemáticas, contar objetos
e aprender tabuadas de multiplicação).
[...]
[...]
F81.9 – 315.9 – Transtorno da Aprendizagem Sem Outra Especificação: Esta categoria envolve os
transtornos da aprendizagem que não satisfazem os critérios para qualquer Transtorno da Aprendizagem
específico, podendo incluir problemas em todas as três áreas (leitura, matemática, expressão escrita) que,
juntos, interferem significativamente no rendimento escolar, embora o desempenho nos testes que medem
cada habilidade isoladamente não esteja acentuadamente abaixo do nível esperado, considerando a idade
cronológica, a inteligência medida e a escolaridade apropriada à idade do indivíduo (http://virtualpsy.
locaweb.com.br/dsm.php, acesso em 05/05/07).
56
Compreensão das Dificuldades de Aprendizagem | UNIDADE III
Para finalizar este capítulo é importante sinalizar a opção aqui feita por compreender as dificuldades
de aprendizagem sob a ótica psicopedagógica, ou seja, enfatizando os aspectos escolares como eixos
de entendimento dos impedimentos à aprendizagem. Entretanto, o psicopedagogo que pretende atuar
em instituições escolares, além de uma forte e consistente visão psicopedagógica das DAs, deve possuir
também conhecimentos abrangentes sobre esse tema, o que inclui a perspectiva psicológica e médica
destacada pelas classificações do CID e do DSM IV.
57
referências
PERRENOUD, P. Sucesso na escola: só o currículo, nada mais que o currículo! Cadernos de Pesquisa,
2003, n.119, pp. 9-27.
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| REFERÊNCIAS
WERNECK, Hamilton. Como encantar alunos da matrícula ao diploma. 3.ed. Rio de Janeiro: DP&A,
2001.
XAVIER, Antonio C. da R.; AMARAL SOBRINHO, José. Como elaborar o Plano de Desenvolvimento
da Escola: aumentando o desempenho da escola por meio do planejamento eficaz. 2.ed. Brasília: Programa
FUNDESCOLA, 2006.
XAVIER, Antônio Carlos Ressurreição et al. Gestão escolar: desafios e tendências. Brasília: IPEA, 1994.
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GLOSSÁRIO
Aprendente – Neologismo derivado de uma expressão argentina que significa “aquele que aprende”.
Biopsicossocial – Expressão que significa a interação das dimensões biológicas, psicológicas e sociais de
um dado fenômeno.
Coparticipativo – Pressupõe a participação coletiva e/ou de mais de um sujeito. O prefixo “co” significa
contigüidade, companhia.
Desejos inconscientes – Expressão oriunda da Psicanálise e que diz respeito aos desejos não manifestos
do sujeito, por estarem em uma dimensão inconsciente.
Disfunção Cerebral Mínima – Funcionamento irregular cerebral que gera um quadro caracterizado
por crianças com inteligência próxima ou superior à média, com problemas de aprendizado e/ou certos
distúrbios de comportamento de grau leve à severo, associados a discretos desvios de funcionamento do
Sistema Nervoso Central, SNC. Não há como evidenciar esta disfunção em exames neurológicos.
Discalculia – É uma desordem neurológica específica que afeta a habilidade de uma pessoa de
compreender e manipular números. A discalculia pode ser causada por um déficit de percepção visual. O
termo Discalculia é usado com relação à inabilidade de executar operações matemáticas ou aritméticas,
mas é definido por alguns profissionais educacionais como uma inabilidade mais fundamental para
conceitualizar números como um conceito abstrato de quantidades comparativas.
Disgrafia – A disgrafia é uma dificuldade que se expressa por meio da famosa “letra feia”. Acontece
devido a uma incapacidade do sujeito em recordar a grafia da letra. Ao tentar recordar este grafismo, o
indivíduo escreve lentamente, o que acaba unindo inadequadamente as letras, tornando a letra ilegível.
Algumas crianças com disgrafia possuem, também, uma disortografia amontoando letras para esconder
os erros ortográficos. Esta disfunção não está associada a nenhum tipo de comprometimento intelectual.
Dislalia – Transtorno articulatório, que se caracteriza por acréscimos, distorções, inversões, omissões
e ainda troca de fonemas causados por desordens funcionais dos órgão periféricos da fala. As Dislalias
classificam-se em Dislalia Fisiológica, Funcional, Social ou Cultura, Audiógena e, ainda, Dislalia Orgânica
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| glossário
Dislexia – É uma disfunção neurológica que apresenta como consequência dificuldades na leitura e
escrita. Consiste, também, em uma dificuldade específica que afeta a aprendizagem da decodificação do
sistema verbal escrito, classificada entre as disfunções da linguagem, mais especificamente da linguagem
escrita.
EEG – Exame neurológico denominado “eletroencefalograma”, em que o paciente (sedado ou não) fica
com uma série de fios ligados à sensores que são colados na região da cabeça e, através de aparelho,
um gráfico mostra o ritmo das ondas cerebrais, impresso num papel. O resultado impresso é então
interpretado pelo neurologista e/ou psiquiatra e determina se há algum tipo de disfunção no sistema
neurológico.
Ensinante – Neologismo derivado de uma expressão argentina que significa “aquele que ensina”.
Gênese das DAs – Gênese, neste sentido, diz respeito à origem, surgimento das DAs.
Insight – Em inglês, significa “olhar para dentro” Compreensão repentina, em geral intuitiva, de suas
próprias atitudes e comportamentos, de um problema, de uma situação.
Interpsíquica – Expressão que significa “entres psiques”, ou seja, função psicológica que se desenvolve na
relação com outras psiques, ou estados psicológicos.
Intrapsíquica – Expressão que significa “dentro da psique”, ou seja, diz respeito aos processos psicológicos
que ocorrem no interior da psique do sujeito.
Intrínseca – Que está dentro de uma coisa ou pessoa e lhe é próprio; interior, íntimo.
Lateralidade – Que é lateral. Diz respeito à dominância que os hemisférios cerebrais exercem em cada
lado do organismo.
Mediação – Conceito da psicologia sócio-histórica que representa o elemento que se interpõe entre
o sujeito e o objeto da experiência. O homem tem uma relação mediada com o mundo, ou seja, sua
experiência não se dá de forma direta com os objetos e coisas da natureza, como acontece com os animais,
mas mediante a intervenção de um outro que dá sentido e significado a esta experiência.
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glossário |
Paradigma – Modelo, padrão que representa um corpo de ideias, crenças, valores, saberes, habilidades e
competências.
Pensamento Causal – Modelo de pensamento em que se estabelece uma relação de causa e efeito entre
as partes.
Ponto Nodal – Nodal diz respeito a nó. Ponto nodal significa o ponto central.
Ponto Nevrálgico – Nevrálgico diz respeito a nervo. Ponto nevrálgico significa o ponto mais sensível.
Praxia – Expressão que significa “ação” e diz respeito às ações motoras, em geral.
Sintoma – Qualquer fenômeno de caráter subjetivo provocado no organismo por uma disfunção ou
doença, e que, descritos pelo paciente, auxiliam, em grau maior ou menor, a estabelecer um diagnóstico.
Sinal, indício.
Vicariante – Que faz às vezes de outrem ou de outra coisa. Diz-se do poder exercido por delegação de
outrem. No sentido empregado no texto, vicariante diz respeito ao reforço ou desejo de imitação a partir
da experiência de outrem.
Unívoco – Diz-se de palavra, conceito ou atributo que se aplica a sujeitos diversos de maneira absolutamente
idêntica. Que só comporta uma forma de interpretação. Que é homogêneo, uníssono ou homônimo.
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