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Didática
1ª Edição
Brasília/DF - 2020
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Marjorie Gonçalves Andersen Trindade, CRB-1/2704
G924d
99 p.
Recurso online: e-book
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-89227-03-8
CDU 37.02
Autores
Marcella da Silva Estevez Pacheco Guedes
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4
Introdução...............................................................................................................................................................................6
Capítulo 1
Didática: Processos Históricos....................................................................................................................................9
Capítulo 2
A Didática como Eixo Estruturante do Trabalho Docente............................................................................. 20
Capítulo 3
As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa........................................................................................... 30
Capítulo 4
Planejamento: ação pedagógica essencial......................................................................................................... 44
Capítulo 5
A Avaliação no Trabalho Docente.......................................................................................................................... 66
Capítulo 6
A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola...................................... 80
Referências........................................................................................................................................................................... 97
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também,
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.
Atenção
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem,
a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.
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Organização do Livro Didático
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Saiba mais
Sintetizando
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
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Introdução
Não há como pensar em implementar mudanças nas práticas pedagógicas sem investir em
currículos formativos que se constituam terreno fértil para fomento dessas práticas.
Neste Livro Didático veremos conceitos e questionamentos que têm permeado os estudos
sobre didática na contemporaneidade e que irão embasar nossa reflexão sobre a relação
entre o processo de ensinar e a aprendizagem.
O nosso objetivo principal aqui é dar instrumentos que possibilitem um olhar crítico
sobre a Didática, propondo mudanças que levem a uma escola atenta à diversidade
em seus diferentes aspectos. Para isso, no capítulo 1 – Didática: processos históricos
contextualiza o aluno com a abordagem histórica sobre a didática. Veremos que a
disciplina é fundamental para a formação de professores.
No c a p í t u l o 2 – A D i d á t i c a c o m o e i x o e s t r u t u r a n t e d o t r a b a l h o d o c e n t e
re f l e t i re m o s s o b re o f u n d a m e n t a l d a d i d á t i c a e a m u l t i d i m e n s i o n a l i d a d e d o
p ro c e s s o d e e n s i n o - a p re n d i z a g e m . A s s i m c o m o d e v e m o s c o m p re e n d e r q u e o
m é t o d o d i d á t i c o t e m d i f e re n t e s e s t r u t u ra n t e s.
6
quando encarado como ferramenta de trabalho, e não como mera burocracia, poderá
trazer inúmeros benefícios.
Po r f i m , n o c a p í t u l o 6 – A d i d á t i c a e m m e i o a t e m p o s e p o s s i b i l i d a d e s d e
ressignificação da escola, nossa intenção é discutir algumas ideias a respeito
do fenômeno educacional em nossa sociedade, hoje. Em um primeiro momento,
vamos analisar as razões pelas quais a escola, como uma organização, tem sido
considerada, nos últimos anos, objeto especial de atenção por pesquisadores de
diferentes áreas de atuação. E embora encontremos estudos diversificados sobre
a escola, procuramos evidenciar que esta instituição, por vezes, se depara com
contextos de crise e contradições e, ao mesmo tempo, com crenças que depositam
uma fé renovada na redenção dos males atuais e superação de obstáculos estruturais,
por meio do sistema educacional. Retomamos aspectos relevantes na tentativa
de refletir a respeito da função social da escola e procurando pistas no campo da
Didática Intercultural que auxiliem na ressignificação dos processos de ensino e
aprendizagem, como estratégias de superação da crise e da hegemonia da forma
escolar.
Compreender o “como ensinar” com base nas relações entre a prática social e o interior
da escola supõe refletir que a escola, para cumprir sua função pedagógica explícita de
transmitir um saber científico sobre o mundo, organiza, desenvolve e avalia o ensino
por meio de relações implícitas que são estabelecidas entre os elementos envolvidos: o
professor, o aluno, o saber, os recursos etc.
Leia, destaque os pontos mais importantes, faça perguntas ao texto. Esse conteúdo deve
ser apreendido por você de forma crítica. Ajude o seu próprio processo de aprendizagem.
Interaja com o (a) professor (a), com seus colegas e com seus pares. Debata. Reflita.
Questione. Faça isso ao longo de todo o livro. Bons estudos!
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Objetivos
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DIDÁTICA: PROCESSOS HISTÓRICOS
CAPÍTULO
1
Introdução do Capítulo
Objetivos
9
CAPÍTULO 1 • Didática: Processos Históricos
Perceba que quando surgiu uma intervenção pedagógica, com certas intencionalidades
no processo de ensino, surgiu a Didática para sistematizar o processo educativo. Quanta
responsabilidade essa sistematização pode trazer! Que processos são esses? Como essa
sistematização pode ser feita? Quais os caminhos que podem guiar as ações educativas?
Como estamos enfatizando os processos históricos da construção da Didática, é preciso
contextualizar esses processos a partir de quatro pensadores essenciais nessa história
da Didática. São eles: João Amós Comênio (1592-1670), Jean-Jacques Rousseau (1712-
1778), Henrique Pestalozzi (1746-1827) e Johann Friedrich Herbart (1766-1841). Vamos
conhecer um pouco sobre suas ideias e filosofias? Elas representam um conjunto de
pensamentos didáticos que estavam muito presentes em seus respectivos tempos
históricos. O mais surpreendente será perceber que muitos desses pensamentos ainda
estão presentes na educação brasileira contemporânea, apesar da diversidade de
pensamentos educacionais. O autor Libâneo (2013) escreveu sobre os quatro autores
em sua obra. Conheceremos esses autores através de Libâneo. Aproveite este passeio
histórico e vamos nos aventurar nesta estrada do conhecimento.
Sugestão de estudo
Pesquise na internet textos e vídeos sobre os autores em destaque. Essa pesquisa será significativa para o estudo
sobre os processos históricos da didática.
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Didática: Processos Históricos • CAPÍTULO 1
A primeira obra clássica sobre Didática é o livro Didaticta Magna, escrito por João Amós
Comênio (1592-1670), um pastor protestante, educador, que foi o primeiro a formular a
ideia da difusão dos conhecimentos a todos e a criar príncipios e regras gerais do ensino.
A didática de Comênio possuía os seguintes princípios (LIBÂNEO, 2013, pp. 60-61):
1. A finalidade da educação é conduzir à felicidade eterna com Deus, pois é uma força
poderosa de regeneração da vida humana. Todos os homens merecem a sabedoria, a
moralidade e a religião, porque todos, ao realizarem sua própria natureza, realizam os
desígnios de Deus. Portanto, a educação é um direito natural de todos.
2. Por ser parte da natureza, o homem deve ser educado de acordo com o seu
desenvolvimento natural, isto é, de acordo com as características de idade e
capacidade para o conhecimento. Consequentemente, a tarefa principal da didática
é estudar essas características e os métodos de ensino correspondentes, de acordo
com a ordem natural das coisas.
Libâneo (2013), destaca, ainda, que Comênio escreveu esses princípios no século
XVII. Nesse período, ainda predominavam as práticas escolares da Idade Média:
ensino intelectualista, verbalista e dogmático, memorização e repetição mecânica dos
ensinamentos do professor. Não havia espaço para ideias próprias dos alunos, o ensino
era separado da vida, mesmo porque ainda era grande o poder da religião na vida social.
Na conjuntura social em destaque estavam ocorrendo mudanças nas formas de produção,
com um grande desenvolvimento da ciência e da cultura. O poder da nobreza e do clero
foi dimunuindo e o da burguesia foi aumentando. Sendo assim, a exigência era para um
ensino relacionado ao mundo da produção e dos negócios e, também, um ensino que
contemplasse o livre desenvolvimento da capacidade e dos interesses individuais.
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CAPÍTULO 1 • Didática: Processos Históricos
Algumas críticas podem ser feitas a Comênio, mas o fato de ele ter se empenhado em
desenvolver métodos de instrução mais rápidos e eficientes, além de ter desejado
que todas as pessoas pudessem usufruir dos benefícios do conhecimento, tornam-o
significativo para a história da Didática.
1. A preparação da criança para a vida futura deve basear-se no estudo das coisas que
correspondem à suas necessidades e interesses atuais. Antes de ensinar as ciências,
elas precisam ser levadas a despertar o gosto pelo seu estudo. Os verdadeiros
professores são a natureza, a experiência e o sentimento. O contato da criança
com o mundo que a rodeia é que desperta o interesse e suas potencialidades
12
Didática: Processos Históricos • CAPÍTULO 1
Rousseau não elaborou uma teoria do ensino e nem colocou em prática suas ideias, mas
suas ideias estão presentes até hoje no imaginário social, evidenciado pela defesa de
algumas filosofias educacionais.
Henrique Pestalozzi (1746-1827) foi um pedagogo suíço que defendeu o ensino como
meio de educação e desenvolvimento das capacidades humanas, como cultivo do
sentimento, da mente e do caráter. Pestalozzi trabalhou até o fim da vida na educação
de crianças pobres, em instituições dirigidas por ele próprio.
Johann Friedrich Herbart (1766-1841) foi um pedagogo alemão que teve muitos
discípulos e exerceu muita influência na Didática e na prática docente. É o inspirador
da pedagogia conservadora. Para Herbart, o fim da educação é a moralidade, atingida
através da instrução educativa. Educar o homem significa instruí-lo para querer o
bem, de modo que aprenda a comandar a si próprio. A principal tarefa da instrução
é introduzir ideias corretas na mente dos alunos. O professor é o arquiteto da mente.
Ele deve trazer à atenção dos alunos aquelas ideias qe deseja que os alunos dominem
em suas mentes. Desta forma, ao controlar os interesses dos alunos, o professor
vai construindo uma massa de ideias na mente, que, por sua vez, vão favorecer a
13
CAPÍTULO 1 • Didática: Processos Históricos
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Didática: Processos Históricos • CAPÍTULO 1
para isso, analisaremos o período dos jesuítas até os dias de hoje. Essa análise histórica
está embasada por Veiga (2017).
O jesuítas atuaram no Brasil durante todo o período colonial, de 1549 a 1759. A ação
pedagógica dos jesuítas foi marcada pelas formas dogmáticas de pensamento, contrárias
a um pensamento mais crítico. Privilegiavam o exercício da memória e do desenvolvimento
do raciocínio, dedicavam atenção ao preparo dos padres-mestres, dando ênfase à
formação do caráter e sua formação psicológica para conhecimento de si mesmo e do
aluno. Sendo assim, não se poderia pensar em uma prática pedagógica e uma didática
que buscasse uma perspectiva transformadora na educação. ( VEIGA, 2017)
Para refletir
É importante ressaltar que no campo educacional estamos sempre falando sobre educação transformadora.
Na Didática também. Por isso, fique sempre atento às concepções pedagógicas que se dizem transformadoras.
Seja crítico: duvide, conteste, questione, reflita. Importante: são diversos os sentidos para essa educação
transformadora. A reflexão que você deve fazer é: qual é a concepção de educação transformadora defendida por
esse pensamento educacional?
De acordo com Veiga (2017), nesse período da atuação dos jesuítas, a Didática centrou-se
na Pedagogia Tradicional leiga, que estava centrada no intelecto, na essência, atribuindo
um caráter dogmático aos conteúdos; os métodos eram considerados princípios universais
e lógicos; o professor torna-se o centro do processo de aprendizagem, concebendo o aluno
como um ser passivo e receptivo. A disciplina era uma forma de garantir atenção, silêncio
e ordem. A Didática era compreendida como um conjunto de regras, visando assegurar
aos futuros professores as orientações necessárias ao trabalho docente. A atividade dos
professores, nesse caso, era vista como inteiramente autônoma face à política, dissociada
das questões entre escola e sociedade, separando, portanto, a teoria e a prática.
Sugestão de estudo
Pesquise na internet sobre o Movimento dos Pioneiros da Escola Nova e perceba as concepções educacionais em
evidência no referido período. Compreender esses processos é muito importante para o professor em formação.
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CAPÍTULO 1 • Didática: Processos Históricos
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Didática: Processos Históricos • CAPÍTULO 1
Sugestão de estudo
Faça uma pesquisa sobre o método Montessori e Lubienska para ficar por dentro das concepções educacionais
defendidas.
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CAPÍTULO 1 • Didática: Processos Históricos
Para refletir
A didática tecnicista é muito criticada na história da educação porque é uma concepção que limita o olhar para a
realidade social, ao enfatizar processos e técnicas no processo de ensino-aprendizagem, sem considerar a dimensão
político-social da educação. Se quiser ser um educador crítico, reflita sobre essas limitações tecnicistas sempre que
estiver diante de propostas educacionais que privilegiam a técnica em detrimento do valor social da educação.
O percurso histórico da Didática feito até aqui indica o início das questões didáticas,
indo até a perda de especificidade da Didática. E agora? Ainda vale a pena defender
a didática na educação? Ela superou os desafios e está com uma reputação melhor
na formação de professores? Quais os principais conceitos didáticos da educação do
século XXI? No próximo capítulo estudaremos como a renovação didática da década
de 1980 influenciou o pensamento didático contemporêno, enfatizando a didática
multidimensional. É momento de renovação educacional. Está disposto a assumir esse
desafio? Então estamos juntos!
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Didática: Processos Históricos • CAPÍTULO 1
Sintetizando
» A história da Didática está vinculada ao aparecimento do ensino como atividade planejada e intencional,
relacionada à instrução.
» No período da atuação dos jesuítas, a Didática centrou-se na Pedagogia Tradicional leiga, que estava centrada no
intelecto.
» O período pós-1964 marcou os descaminhos da Didática, com a ênfase na pedagogia tecnicista, baseada na
racionalidade, eficiência e produtividade.
» A partir da década de 1970 a Didática passou a fazer o discurso reprodutivista, ou seja, a apontar o seu conteúdo
ideológico, buscando sua desmistificação, de certa forma, relevante, porém relegando a segundo plano sua
especificidade.
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CAPÍTULO
A DIDÁTICA COMO EIXO
ESTRUTURANTE DO TRABALHO
DOCENTE 2
Introdução do Capítulo
Neste capítulo, a partir deste enfoque instrumental, veremos que a didática tem ficado
restrita ao aspecto técnico do como organizar, desenvolver e avaliar o ensino.
20
A Didática como Eixo Estruturante do Trabalho Docente • CAPÍTULO 2
Objetivos
Os pensadores dessa concepção desenvolviam suas teorias por meio da comprovação científica
e dos modelos tecnológicos que estavam sob o controle das elites. A política vigente deveria estar
atada ao pensamento tecnocrata e bem distante do idealismo e das paixões políticas, exigindo,
assim, governantes partidários do racionalismo. Na linha educacional, o positivismo se instala
com a adoção do modelo capitalista como proposta da prática escolar.
A escola, nessa concepção, caracterizou-se pela articulação com o sistema produtivo a fim de
dar sustento ao sistema capitalista. Enfatizando a formação para atender às necessidades do
mercado de trabalho, da indústria e da sociedade tecnológica, estabeleceu como base educacional
os dados mensuráveis e observáveis, colocando a subjetividade em segundo plano. Podemos
considerar como marco da implantação do modelo tecnicista as Leis nos 5.540/1968, que tratam
do ensino universitário, e a Lei no 5.692/1971, que trata do ensino de 1o e 2o graus.
21
CAPÍTULO 2 • A Didática como Eixo Estruturante do Trabalho Docente
Saiba mais
Ainda na década de 1970, ganham força as teorias crítico-reprodutivistas, que se empenhavam em fazer a crítica
da educação dominante, evidenciando as funções reais da política educacional, acobertada pelo discurso político-
pedagógico oficial.
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A Didática como Eixo Estruturante do Trabalho Docente • CAPÍTULO 2
Bowles e Gintis (1977 apud COSTA; KOSLINSKI, 2006) desenvolveram alguns trabalhos a respeito da incapacidade
da escola de alterar a estratificação social americana. Os autores destacam a conexão íntima entre a desigualdade
socioeconômica e a desigualdade educacional e concluem que mesmo quando há tendências a favor de uma
educação mais igualitária, o impacto em termos de oportunidades econômicas e de renda é pequeno. Conforme
Brooke; Soares (2008), o diferencial no estudo de Bowles e Gintis é a iniciativa de tentar fornecer uma causa para
a incapacidade do sistema educacional em promover a igualdade social. Para os autores, o que a escola produz e
reproduz é uma força de trabalho estratificada, que não incorpora os elementos da integração e do desenvolvimento
pessoal, mas, sim, as diferenças necessárias para a manutenção das relações sociais desiguais da produção.
Ao proporcionar essa relação entre a educação e o mundo do trabalho, os estudos de Bordieu e Passeron (1975),
Baudelot e Establet (1971) e de outros pensadores reproducionistas, alinhavam-se com as pesquisas de Bowles e
Gintis: justificando a tese de que a escola não fazia diferença sobre o desempenho escolar de seus alunos (BROOKE;
SOARES, 2008).
De acordo com Costa (1994, p. 94), a partir do final da década de 1960, as produções francesas em educação enfocam
as desigualdades sociais como fatores estruturais inevitáveis, sendo a educação formal, neste contexto, incapaz de
gerar subsídios para reverter tais condições. Ao tratar deste quadro, o autor afirma:
Diversas pesquisas com este enfoque (envolvendo o pessimismo pedagógico) foram realizadas, favorecendo a
circulação da ideia de que a escola deveria ser considerada um local de reprodução das condições sociais e de
legitimação social das classes favorecidas.
A Didática, então, também é influenciada por esse ideário, sendo pensada como um
somatório de métodos que privilegiam o caráter instrumental – prático-técnico – do ato
de ensinar e, nesse processo, teoria e prática são justapostas.
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CAPÍTULO 2 • A Didática como Eixo Estruturante do Trabalho Docente
Superar certa visão reducionista do método didático, segundo Candau (2011), torna-se
incipiente, pois a tentativa de construir um método didático a partir exclusivamente de
um de seus estruturantes, seja o elemento lógico, seja o sujeito da aprendizagem, seja
o conteúdo etc. Partindo dessa realidade, o grande desafio da Didática seria assumir
que o método didático tem diferentes estruturantes e que o importante é articular esses
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A Didática como Eixo Estruturante do Trabalho Docente • CAPÍTULO 2
Atenção
Conforme André e Cruz (2012), a proposta da Didática Fundamental defendida por Candau (1983) representou um
amplo movimento de revisão do campo, originando, em alguns casos, posturas de negação da Didática e, em outros,
novas proposições.
É importante dizer que, na defesa de uma Didática Fundamental, Candau não nega a dimensão técnica, porém a
ressitua do ponto de vista político. No seu entender, a prática pedagógica, objeto da Didática, por ser política, exige
a competência técnica. Nessa direção, defende a interligação das dimensões humana, técnica, política e social,
que dão relevo à multidimensionalidade do processo de ensinar e aprender, objeto da Didática. Essa perspectiva
conscientemente trabalhada faria emergir o que ela chamou de Didática Fundamental.
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CAPÍTULO 2 • A Didática como Eixo Estruturante do Trabalho Docente
Embora as autoras destaquem que a temática das práticas de sala de aula esteja sendo
contemplada nas pesquisas de modo difuso, Candau (2009) destaca que o campo da Didática
passa por um momento de diversificação e está sendo desafiado por novas temáticas e
problemáticas. Dessa forma, a proposta de uma Didática que ajude o professor a entender
o processo de ensino e aprendizagem para delineá-lo a partir de um contexto situado deve
ser assumida pelos cursos de formação inicial, ainda que o caráter prescritivo, próprio da
Didática Instrumental, pareça superado.
Quando a Didática volta seu olhar para os estudos sobre o trabalho docente, estes revelam
algumas características do trabalho do professor, seus desafios e dilemas (NOGUEIRA,
2012; OLIVEIRA e VIEIRA, 2010; GATTI e BARRETTO, 2009). Esses trabalhos contribuem
para dimensionar a análise do trabalho docente, ajudando na reflexão sobre o cenário
da profissão, a formação docente e a profissionalização vivenciada por professores, a
partir de múltiplos aspectos.
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A Didática como Eixo Estruturante do Trabalho Docente • CAPÍTULO 2
A atividade é um trabalho que deve ter uma ação em determinado contexto, em função
de um objetivo, atuando sobre um material qualquer a fim de que este possa ser
transformado com o auxílio de utensílios e técnicas. Fazendo um paralelo, atividade
docente de ensinar significa agir na classe e na escola com o objetivo de promover a
aprendizagem e a socialização dos alunos por meio da ajuda de programas, métodos,
livros, exercícios, norma, dentre outros. Para esta finalidade, são considerados dois
aspectos: os aspectos organizacionais (como o trabalho é organizado, controlado,
segmentado e planejado) e os aspectos dinâmicos da atividade docente (interações no
processo concreto do trabalho entre o professor, seus alunos, os objetivos, os recursos,
seus saberes e os resultados do trabalho). ( TARDIF e LESSARD, 2007).
Para repensar o trabalho docente nos cursos de formação inicial, devemos utilizar a
produção de pesquisas em didática a serviço da reflexão dos alunos e da constituição de
suas identidades como professores, procurando desenvolver uma atitude investigativa.
Nesse contexto, ao ressignificar os processos formativos, devemos considerar os saberes
necessários à docência, colocando a prática pedagógica e docente escolar como objeto
de análise.
Segundo Pimenta (2012, p. 20), mobilizar os saberes da docência é, pois, o primeiro passo
do campo da Didática que se propõe a mediar o processo de construção de identidade
dos futuros professores. A autora divide os saberes da docência em três categorias: a
experiência, o conhecimento e os saberes pedagógicos.
27
CAPÍTULO 2 • A Didática como Eixo Estruturante do Trabalho Docente
Tardif (2001 apud GUEDES; GUEDES, 2013, p. 5) constata que o saber do professor é plural
(composto de saberes de variadas áreas do conhecimento) e estratégico (pelo impacto
que tem junto às gerações jovens, à construção de novos conhecimentos e à definição de
hegemonias no contexto social, entre outros fatores).
Percebemos que os quatro saberes apresentados acima são relevantes para o exercício do
magistério, e em especial, os saberes experienciais surgem como o núcleo vital do saber
docente, podendo constituir-se em propulsores para o alcance, pelos professores, do
reconhecimento da sociedade e dos grupos geradores de saberes.
Por outro lado, ao considerar a atividade docente como expressão do saber pedagógico
e este, ao mesmo tempo, fundamento e produto da atividade docente que acontece no
contexto escolar, numa instituição social e historicamente construída, estamos dizendo
que o trabalho docente é uma prática social.
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A Didática como Eixo Estruturante do Trabalho Docente • CAPÍTULO 2
Sintetizando
» Na Didática Instrumental, o que é valorizado nesta perspectiva não é o professor, mas, sim, a tecnologia.
» Com a emergência de novas abordagens crítico-reprodutivistas, elas passam a vislumbrar a escola como uma
instituição reprodutora de desigualdades.
» Na década de 1980, situa-se o movimento de revisão crítica do ensino e da pesquisa em Didática, com a
necessidade de superação da perspectiva instrumental.
» Propõe-se uma Didática atenta à necessidade de favorecer a formação de educadores críticos e conscientes do
papel da educação na sociedade: a Didática Fundamental.
» Recentemente, ao problematizar os saberes necessários à docência, a Didática tem voltado seu olhar para os
estudos sobre formação e trabalho docente.
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CAPÍTULO
AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS E A
PRÁTICA EDUCATIVA 3
Introdução do Capítulo
Neste capítulo, iniciamos com uma reflexão sobre aspectos envolvendo a escola no interior
da sociedade de consumo, que nos mostra como a maneira de consumir acabou por
alterar as possibilidades e as formas de exercer cidadania. As identidades contemporâneas
configuram-se no consumo, dependendo daquilo que se possui ou do que se pode vir a
consumir.
No s s o d e s a f i o é p e n s a r d e q u e f o r m a t o d a s e s s a s m u d a n ç a s re l a c i o n a d a s à
s u b j e t i v i d a d e v ê m a t i n g i n d o a e d u c a ç ã o, a e s c o l a , a p r á t i c a e d u c a c i o n a l e,
consequentemente, o papel e atividade do professor também vêm sendo colocados
no centro desse debate.
Objetivos
30
As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa • CAPÍTULO 3
Nos dias de hoje, há cada vez mais a preponderância dos processos de consumo, fazendo
com que os sujeitos sejam levados a identificar-se com coisas e objetos que os levam a
diferenciar-se dos demais, como, também, a discriminar e hierarquizar grupos sociais.
Baudrillard (1995 apud CAMPOS e SOUZA, 2003) esclarece que não é o consumo que
se organiza em torno das diferenças individuais, mas, sim, estas, assumindo a forma de
personalização, é que se organizam em torno de modelos comunicados pelo sistema de
consumo. Para esse autor, existe inicialmente a lógica da diferenciação social e, depois,
a manifestação organizada das diferenças individuais. Com isso, o sistema promove a
anulação das diferenças “reais” e transforma as pessoas em seres contraditórios através
da produção industrial da diferença.
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CAPÍTULO 3 • As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa
A educação não deve ser somente o ato de “envernizar” saberes, mas a preparação de
homens e mulheres para que dominem criticamente as (ou algumas) linguagens, adotando
uma postura dialético-filosófica. Só assim é possível compreender o profundo significado
da transformação de informação em conhecimento e deste em sabedoria.
Para refletir
Não são raras as críticas de teóricos que apontam o fato de que, em algumas áreas no Brasil, o ato de ensinar vem
sendo adotado e desenvolvido como um simples reproduzir e reforçar o preestabelecido, sem nenhum compromisso
com a conscientização e o questionamento sobre o que é e a quem serve. Isso tem que mudar e essa mudança pode
começar na nossa prática cotidiana.
O n o s s o d e s a f i o é p e n s a r d e q u e f o r m a t o d a s e s s a s m u d a n ç a s re l a c i o n a d a s
à subjetividade vêm atingindo a educação, a escola, a prática educacional e,
consequentemente, o professor. Afinal, a escola, por meio do seu processo de ensino,
tem um papel fundamental no mundo globalizado. Por isso é tão urgente a revisão
do processo de ensino-aprendizagem e dos conteúdos que estão sendo trabalhados.
Uma parte significativa das instituições de ensino vem sendo concebida como um
evento, um espaço-tempo em que o imediatismo e a pró-atividade vêm se tornando
palavras de ordem no processo de ensino-aprendizagem. Reduzem-se, assim, as
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As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa • CAPÍTULO 3
Na pesquisa desenvolvida por Guedes (2014), a autora destaca que o trabalho é visto
como uma atividade para Tardif e Lessard (2007). Para os autores, existem dois pontos
de vista que merecem ser considerados. O primeiro ponto de vista diz respeito a
considerar as estruturas organizacionais nas quais a atividade é desenvolvida, estruturas
que a condicionam de diversas maneiras. Isso implica enfatizar como o trabalho é
organizado, controlado, segmentado, planejado etc. O segundo ponto de vista refere-se ao
desenvolvimento da atividade, ou seja, sobre as interações contínuas no seio do processo
concreto do trabalho, entre o trabalhador, seu produto, seus objetivos, seus recursos,
seus saberes e os resultados do trabalho. Desta forma, podemos enfatizar, conforme o
caso, os aspectos organizacionais e os aspectos dinâmicos da atividade docente.
Para o trabalho docente, é preciso deixar claro que ensinar é atuar ao mesmo tempo
com grupos e com indivíduos, é perseguir fins imprecisos e, ao mesmo tempo, educar,
instruir etc. As tensões e os dilemas que fazem parte da profissão docente ajudam os
professores a privilegiar as relações cotidianas com os alunos e colegas de trabalho e a
distanciar-se de todos os aspectos da organização escolar que não lhes parecem ser de
sua responsabilidade.
A questão da interatividade entre professor e aluno é vista como central para Tardif
e Lessard (2007). Para eles, ensinar é trabalhar com seres humanos, sobre seres
humanos, para seres humanos. Sabemos que o objeto de estudo da Didática é o
processo de ensino, campo principal da educação escolar, e esta impregnação do
trabalho pelo “objeto humano” merece ser problematizada, pois ela é o coração da
profissão docente.
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CAPÍTULO 3 • As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa
As relações com os alunos nas classes e fora delas ocupam o essencial do tempo dos
professores, formando, assim, o nó central de sua missão profissional. Mas a relação com os
alunos não se resume a uma questão de tempo passado com eles. Ela é formada, também,
por todas as tensões e as alegrias dessa profissão, bem como da identidade profissional
daqueles e daquelas que a realizam (TARDIF e LESSARD, 2007).
Para Tardif e Lessard (2007), a autoridade reside no respeito que o professor é capaz de
impor sem coerção aos alunos. Ela está relacionada a seu papel, à missão da qual a escola o
investe, bem como à sua personalidade, seu carisma pessoal. A personalidade dos professores
muitas vezes é vista como um substituto tecnológico numa profissão não fundamentada
em saberes e técnicas formais, universais e intercambiáveis de um indivíduo ao outro. A
personalidade, nesse caso, torna-se um elemento essencial no controle do professor sobre
o seu objeto de trabalho.
Para os autores:
Além da autoridade, outros dois itens são considerados como tecnologia da interação
pelos autores em destaque: a coerção e a persuasão. A coerção consiste em condutas
34
As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa • CAPÍTULO 3
entrar numa sala e dar uma aula é mais que simplesmente penetrar
num espaço neutro, é ser absor vido pelas estr uturas práticas do
t ra b a l h o e s c o l a r m a rc a n d o a v i d a , a e x p e r i ê n c i a e a i d e n t i d a d e
das gerações de professores: é fazer e refazer pessoalmente essa
exper iência, apropr iar-se dela, prová-la e supor tá-la, dando-lhe
sentido para si e para os alunos.
Ao entrar em sala de aula, o professor deve colocar em prática tudo aquilo que foi
organizado por ele e pela instituição a fim de que seu trabalho se desenvolva da forma
esperada. Analisar esse contexto da organização do trabalho docente nos remete a
considerar a atividade docente importante em sua função principal: submeter os
alunos ao aprendizado. É sempre a relação de professor-aluno que está por trás dos
planejamentos e das organizações realizados. É preciso submeter certas pessoas a
certos processos exigidos na escolarização. Tais processos são marcados por disputas
e dilemas e vivenciá-los constitui um bom exemplo de como o professor lida com o
seu trabalho.
35
CAPÍTULO 3 • As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa
Imbernón (2004) advoga que o professor não pode ser considerado um técnico, uma vez
que se define pelo conhecimento pedagógico especializado legitimado pela ação. Trata-
se de um conhecimento prático e, portanto, mais do que o domínio de uma disciplina ou
de um conteúdo, assenta-se no modo pelo qual é construído, permitindo a inserção dos
alunos em um mundo complexo, compreendido nas suas certezas e ambiguidades. Neste
contexto, os professores, ao exercerem a atividade da docência, utilizam conhecimentos
teóricos e práticos, sempre ressignificados a partir das demandas que surgem durante a
ação da prática pedagógica.
É nesse contexto que o professor constrói seus esquemas de ação que, embora implícitos,
são os responsáveis pelo seu fazer ou pela forma particular como estabelece sua rotina de
trabalho e realiza improvisações frente à diversidade de problemas inerentes ao espaço
pedagógico da sala de aula.
Sendo assim, é preciso analisar o cotidiano da sala de aula, no que diz respeito às decisões
didáticas que o professor toma. Ensinar se concretiza por meio de uma sequência de
atividades, as quais se baseiam em normas e códigos, consagrados pela experiência do
professor ou pela tradição escolar. Para Zabala (1998, p. 20),
36
As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa • CAPÍTULO 3
Após a escolha de um conteúdo ou tema pelo professor, podemos verificar sua sequência
didática ao analisar: como inicia a aula, quais os procedimentos a seguir, como conclui a
sequência, e como avalia a aprendizagem dos conceitos trabalhados. Ou seja, podemos
descrever três principais momentos de uma aula: início, desenvolvimento e avaliação
da aprendizagem dos alunos. E por meio da sequência didática, podemos também
evidenciar quem está no centro da ação da atividade, que pode ser: a primeira, tendo o
professor como foco da atividade. A segunda, focando a atividade do aluno, e a terceira,
referente a ambas, que podemos denominar de compartilhada.
No t ra b a l h o d o c e n t e, o p ro f e s s o r s e l e c i o n a e o rg a n i z a v á r i o s m é t o d o s d e
ensino e vários procedimentos didáticos em função das características de cada
matéria/conteúdo. Sendo assim, para descobrir quem é o centro da ação, baseados
em Morelatti et al. (2014), vamos apresentar algumas atividades de cada uma das três
categorias mencionadas:
37
CAPÍTULO 3 • As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa
Ao que parece, ainda que o professor tenha clareza da importância da participação dos
alunos nas atividades da aula, as ações dele obedecem a preferências inconscientes,
muito provavelmente advindas dos percursos da sua experiência.
Para Thompson (1984 apud MORELATTI et al., 2014), as práticas de ensino desenvolvidas
pelos professores, em alguns casos, são direcionadas por noções e preferências
inconscientes. Um exemplo de tal situação refere-se a resultados de pesquisa realizada
pela autora em que uma professora, ao ser entrevistada, prioriza, em seu discurso, a
participação dos alunos nas atividades realizadas nas aulas de Matemática, o que não
se confirma quando se observa suas aulas.
Na pesquisa realizada por Morelatti et al. (2014), de modo geral, a análise das atividades
que os professores descrevem sobre os procedimentos que realizam ao tratarem um
conteúdo demonstra o predomínio de atividades centradas no professor em praticamente
todos os momentos da aula. Foi possível constatar que a participação dos alunos restringe-
se à execução de atividades determinadas pelo professor, tais como: leitura, pesquisa,
coleta de material, resolução de exercícios e problemas.
Para refletir
Embora observamos, nas sequências didáticas, várias tentativas de superação do modelo tradicional de ensino,
pautado na transmissão de conteúdos, a tendência de atividades na aula centradas no professor também é observada
em países como Japão, Estados Unidos e Inglaterra. Há estudos que mostram que as atividades realizadas em sala de
aula são controladas, predominantemente, pelo professor, de acordo com Jaworski e Gellert (2003 apud MORELATTI
et al., 2014). O professor explica, demonstra e dá exemplos. Estes autores entendem que os professores sentem
dificuldades para propiciar maiores interações em sala de aula.
Será que uma das razões para tais dificuldades refere-se ao receio de propor situações mais abertas, pois estas podem
ter desdobramentos que fogem do controle do professor?
38
As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa • CAPÍTULO 3
Vamos buscar, assim, compreender e refletir sobre a situação do ensino, o lugar da escola
e de que forma podemos aperfeiçoar ou mudar a nossa visão teórica e a prática do papel
docente na atualidade. Para isso, faremos uma breve revisão de algumas concepções
que influenciaram a educação no Brasil.
39
CAPÍTULO 3 • As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa
Segundo Libâneo (2013), uma das correntes da Pedagogia Renovada que não tem vínculo
direto com o movimento da Escola Nova, mas que teve repercussões na Pedagogia
brasileira, e trata-se de uma tendência ainda pouco estudada entre nós, é a chamada
Pedagogia Cultural. Sua característica principal é focalizar a educação como fato da
cultura, atribuindo ao trabalho docente a tarefa de dirigir e encaminhar a formação do
educando pela apropriação de valores culturais. Tendo-se afirmado na Alemanha como
uma sólida corrente pedagógica, possui teóricos como Guilherme Dilthey, Theodor Litt
e Hermann Nohl. Já na América Latina influenciou autores como Lorenzo Luzuriaga,
Francisco Larroyo e, no Brasil, Luís Alves de Mattos e Onofre de Arruda Penteado Júnior.
Concebem a educação como atividade do próprio sujeito e consideram que os indivíduos
vivem em um mundo sociocultural, produto do próprio desenvolvimento histórico da
sociedade.
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As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa • CAPÍTULO 3
» Tendência Liberal:
› Pedagogia Tradicional
› Pedagogia Renovada => que inclui várias correntes: a progressivista, a não diretiva,
a culturalista, a piagetiana, a montessoriana e outras.
› Tecnicismo Educacional
» Tendência Progressista:
› Pedagogia Libertadora
Atenção
Libâneo (2013) afirma que a Didática tradicional tem resistido ao tempo, continua prevalecendo na prática escolar.
É comum nas nossas escolas atribuir-se ao ensino a tarefa de mera transmissão de conhecimentos, sobrecarregar
o aluno de conhecimentos que são decorados sem questionamento, dar somente exercícios repetitivos, impor
externamente a disciplina e usar castigos. Os conhecimentos, desprovidos de significados sociais, o intento de
formação mental, de desenvolvimento do raciocínio, ficou reduzido a práticas de memorização.
Saiba mais
Segundo estudo feito por Castro (1984 apud LIBÂNEO, 2013), os conhecimentos e a experiência da Didática brasileira
pautam-se, em boa parte, no movimento da Escola Nova, inspirado principalmente na corrente progressivista.
Com relação ao tecnicismo educacional, embora seja considerada como uma tendência
pedagógica, inclui-se, em certo sentido, na Pedagogia Renovada (LIBÂNEO, 2013, p. 71).
41
CAPÍTULO 3 • As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa
Com isso, ainda hoje predomina nos cursos de formação de professores o uso de manuais
didáticos de cunho tecnicista, de caráter meramente instrumental.
No Brasil, Paulo Freire foi seu principal expoente, pois, a partir da Pedagogia
Libertadora, questionava as relações estabelecidas entre o homem, a natureza e os
outros homens, em uma sociedade dividida em classes. Retomou as propostas de
educação popular, refundindo seus princípios e práticas em função das possibilidades
do seu emprego na educação formal em escolas públicas, já que inicialmente tinham
caráter extraescolar, não oficial e voltadas para o atendimento da clientela adulta.
Os conteúdos de ensino são desenvolvidos a partir de temas geradores, os quais são
extraídos a partir da problematização efetiva da prática da vida dos alunos. Importa,
pois, despertar uma nova forma de relação com a experiência de vida de cada um.
42
As Tendências Pedagógicas e a Prática Educativa • CAPÍTULO 3
A Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos atribui grande importância à Didática, cujo objeto
de estudo é o processo de ensino nas suas relações e ligações com a aprendizagem. As
ações de ensinar e aprender formam uma unidade, mas cada uma tem a sua especificidade.
Atenção
Conforme Libâneo (2013), tanto a Pedagogia Libertadora como a Crítico-Social dos Conteúdos são duas
tendências pedagógicas progressistas, propondo uma educação escolar crítica a serviço das transformações sociais
e econômicas, ou seja, de superação das desigualdades sociais decorrentes das formas sociais capitalistas de
organização da sociedade. No entanto, diferem quanto a objetivos imediatos, meios e estratégias de atingir essas
metas gerais comuns.
Sintetizando
» O processo de construção da identidade na cultura de consumo apresenta-se como cambiante, fluido, fragmentado
e parcial.
» O trabalho docente é interativo pelas pressões inerentes à interação humana e pelas relações de poder e os tipos de
conhecimento que são necessários.
» O professor não pode ser considerado um técnico, uma vez que se define pelo conhecimento pedagógico
especializado legitimado pela ação.
» Ensinar se concretiza por meio de uma sequência de atividades, as quais se baseiam em normas e códigos,
consagrados pela experiência do professor ou pela tradição escolar.
» Existem diversas tendências educacionais que nos ajudam a compreender e refletir sobre a situação do ensino, o
lugar da escola e o papel docente na atualidade.
43
CAPÍTULO
PLANEJAMENTO: AÇÃO PEDAGÓGICA
ESSENCIAL 4
Introdução do Capítulo
44
Planejamento: ação pedagógica essencial • CAPÍTULO 4
Objetivos
Desde as ações mais corriqueiras de nosso cotidiano até dimensões mais complexas de
nossa vida, planejamos: o que vamos fazer amanhã, a lista de compras no supermercado,
a festa de aniversário, os rumos da carreira etc.
Planejar faz parte de nossa natureza como seres que pensam e vivem em sociedade.
Desde a vida nas cavernas, passando pela conquista de continentes desconhecidos até
a tentativa de sermos bem-sucedidos no mundo globalizado, planejar para otimizar
estratégias, tempo e recursos sempre foi questão de sobrevivência.
Figura 2. Planejamento.
45
CAPÍTULO 4 • Planejamento: ação pedagógica essencial
Importante
Sendo um ato político-pedagógico, planejar não tem neutralidade e revela intencionalidade, visões de mundo, de
sociedade e de cidadão que se pretende ajudar a formar.
Essa afirmação parece ser partilhada por Vasconcellos (2005, p. 70) quando este
afirma que “planejar é antecipar mentalmente uma ação (ou conjunto de ações)
a ser realizada e agir de acordo com o previsto”, tendo em vista implementar uma
transformação.
Já Gandin (2005) afirma que planejar é, dentre outros aspectos: transformar a realidade
numa direção escolhida; organizar a própria ação (de grupo, sobretudo); agir racionalmente;
pôr em ação um conjunto de técnicas para racionalizar a ação. É, sempre, propor ações,
atitudes, regras e rotinas que possam levar à satisfação de necessidades descobertas na
realidade (ou na prática) através da avaliação, que é a comparação do que se quer com
aquilo que existe. O autor destaca ainda mais alguns pontos essenciais quando falamos
em planejamento, conforme observamos no Quadro 1.
46
Planejamento: ação pedagógica essencial • CAPÍTULO 4
Cuidado
Embora o ato de planejar tenha como aspecto buscar a transformação da realidade, há o planejamento que muda
para manter (para conservar). Se você conserta uma casa, o que você quer é conservar, embora esteja, realmente,
mudando a realidade. Se você a derruba para construir outra, você quer transformar. Se você pune um aluno
que transgrediu alguma regra, você quer conservar; se você muda as regras, de modo participativo e baseado em
necessidades descobertas na avaliação que compara uma teoria e um querer com a prática, você quer transformar.
47
CAPÍTULO 4 • Planejamento: ação pedagógica essencial
Todas estas funções sociais secundárias têm seu valor, afinal se a sociedade mudou, a
escola também deve mudar. Contudo, é importante que não se perca de vista a função
principal que define o papel e sentido de existência da escola: a sociedade espera e
precisa que ela seja um lugar de aprendizagem, de ampliação de referências e repertório
cognitivo.
O conhecimento que a criança traz, por vezes, impregnado de senso comum, não
deve ser desvalorizado, ignorado, desqualificado. Mas ele é ponto de partida.
Espera-se que, na escola, o aluno avance de um conhecimento popular, fragmentado,
pontual e assistemático para um patamar mais próximo do conhecimento escolar
produzido a partir da recontextualização do conhecimento científico.
A aprendizagem na escola não pode ser só para alguns, a qualquer tempo e acidental.
Ela tem que ser para todos, organizada, de forma intencional... planejada!
48
Planejamento: ação pedagógica essencial • CAPÍTULO 4
49
CAPÍTULO 4 • Planejamento: ação pedagógica essencial
maioria dos planos alcança, numa boa hipótese, um lugar respeitável no arquivo da
instituição a que se ligam ou no de outras, cujos membros se interessam pelo estudo
desses pretensiosos filhos da burocracia. Segundo o autor, esse descrédito e ineficácia
dos planos é consequência de alguns fatores, cuja compreensão é simples:
III. Depois, não podemos esquecer o formalismo e a burocracia que matam tudo aquilo
em que tocam. Os experts fazem-nos preencher quadrinhos e formulários e nos
dizem que estamos planejando. Evidentemente, nem eles mesmos levam a sério
aqueles papéis e não julgam que vamos fazer algo daquilo.
IV. Há, ainda, a falta de capacitação técnica das pessoas que “planejam” ou mesmo
coordenam a feitura de planos, o que termina levando os planos à ineficácia. Se
não seguir alguns princípios fundamentais e não utilizar técnicas apropriadas à
vivência desses princípios, a escrita de planos está fadada a ser uma atividade
pouco rentável, completamente inútil ou, até, perigosa.
50
Planejamento: ação pedagógica essencial • CAPÍTULO 4
No meio escolar, quando se faz referência a planejamento do ensino, a ideia que passa é
aquela que identifica o processo através do qual são definidos os objetivos, o conteúdo
programático, os procedimentos de ensino, os recursos didáticos, a sistemática de avaliação
da aprendizagem, bem como a bibliografia básica a ser consultada no decorrer de um curso,
ciclo, ano ou disciplina de estudo.
Ao que parece, essa definição dos componentes do plano de ensino ao buscar a eficiência
do ensino, valorizando apenas a dimensão técnica, de maneira fragmentária e desarticulada
do todo social – padrão disseminado pela concepção tecnicista de educação – contribuiu
para esta ideia de planejamento incapaz de dinamizar e facilitar o trabalho didático.
Entretanto, o processo de planejamento visto sob uma perspectiva crítica de educação passa
a extrapolar a simples tarefa de se elaborar um documento contendo todos os componentes
tecnicamente recomendáveis, pois a instituição escolar tem o significado de local de acesso
ao saber sistematizado historicamente acumulado (SAVIANI, 1984).
Dessa forma, a questão do planejamento do ensino não deve ser compreendida de maneira
mecânica, desvinculada das relações entre escola e realidade histórica. Sob essa perspectiva,
podemos analisar que a tarefa de planejar passa a existir como uma ação pedagógica
essencial ao processo de ensino.
A partir dessa perspectiva crítica de pensar a educação, entendemos que todas as atividades
educativas devem ser planejadas tendo como referência as dimensões sociais, culturais,
políticas e econômicas que permeiam os fazeres da escola. Então, o planejamento, assim
como os demais aspectos que constituem a prática didática, vincula-se para o ideário que
preconiza a transformação social, no sentido de tornar a sociedade mais justa e igualitária.
Saiba mais
No cotidiano da escola, tal proposta se efetivaria a partir dos princípios do planejamento participativo, isto é, uma
possibilidade de trabalho coletivo, caracterizado pela integração de todos os sujeitos e os setores de uma instituição
educativa.
Essa forma de ação implica uma convivência de pessoas que discutem, decidem, executam e avaliam atividades
propostas coletivamente. A partir dessa convivência, o processo educativo passa a desenvolver mais facilmente seu
papel transformador, pois, à medida que discutem, as pessoas refletem, questionam, conscientizam-se de problemas
coletivos e decidem-se por se engajar na luta pela melhoria de suas condições de vida.
Um outro aspecto a ressaltar é que um planejamento participativo implica a eliminação da divisão do trabalho
pedagógico existente na escola. Se o fundamento básico desse processo é a integração entre a escola e o contexto
social, e seu objetivo maior é a educação do indivíduo para a vida social, a coparticipação apresenta-se como atitude
norteadora de toda a ação pedagógica (LOPES, 1992).
51
CAPÍTULO 4 • Planejamento: ação pedagógica essencial
O planejamento na educação é uma função prevista na legislação. No campo legal, nos arts.
12, 13 e 14 da Lei no 9.394/1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
podemos identificar atividades que dependem de planejamento.
Observe a lei
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a
incumbência de:
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; (...)
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de
acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
» Flexibilidade: Permite ajustes diante de possíveis mudanças, sem perder sua efetividade
e identidade. Circunstâncias imprevisíveis podem exigir reformulação.
» Exequibilidade: Deve ser viável em função dos recursos disponíveis e dos obstáculos
identificados.
52
Planejamento: ação pedagógica essencial • CAPÍTULO 4
53
CAPÍTULO 4 • Planejamento: ação pedagógica essencial
Planejamento da escola
Ele articula a atividade escolar e o contexto social da escola e deve responder às perguntas
“para quê”, “para quem” e “com o quê” a escola vai funcionar.
Saiba mais
Planejamento Curricular
Trata-se da proposta geral de aprendizagem que a escola apresenta, considerando os fundamentos das disciplinas
que integram a estrutura curricular, encaminhando, assim, os procedimentos metodológicos, selecionando os
conteúdos e as propostas de avaliação.
Embora existam diferentes abordagens que orientam a elaboração de um currículo (com foco nas competências,
centrado no conteúdo etc.), de modo geral, o planejamento curricular deve estar em consonância filosófico-
metodológica com o PPP e contemplar os seguintes aspectos:
» Bases teórico-metodológicas.
» Objetivos educacionais.
» Diretrizes gerais para nortear a elaboração do plano de ensino da escola: definição das áreas/disciplinas.
54
Planejamento: ação pedagógica essencial • CAPÍTULO 4
A dimensão pedagógica desse projeto, portanto, é muito clara. Porém, cabe dedicarmos
também um espaço inicial para refletirmos sobre a dimensão política do PPP.
Segundo Souza (apud MEDEL, 2008), o PPP deverá ser construído com clareza no que
se refere ao compromisso ético-pedagógico de contribuir para a formação e educar o
cidadão de hoje para se tornar crítico, reflexivo e criativo, capaz de atuar e ajudar a
transformar e melhorar a sociedade da qual faz parte.
55
CAPÍTULO 4 • Planejamento: ação pedagógica essencial
O Pro j e t o Po l í t i c o - Pe d a g ó g i c o ( P P P ) s e r ve d e re f e r ê n c i a n o r t e a d o ra p a ra t o d o s
o s â m b i t o s d a a ç ã o e d u c a t i va d a e s c o l a . Su a e l a b o ra ç ã o, p re v i s t a n a L D B n o
9 . 3 9 4 / 1 9 9 6 , d e v e s e r f e i t a d e m o d o c o l e t i v o, p a r t i c i p a t i v o, e m d i s c u s s õ e s
p ro m ov i d a s n a c o m u n i d a d e e s c o l a r.
Ele deve retratar o que a escola é hoje, mas, também, apontar o que ela almeja ser. Deve
estar sintonizado com a realidade da escola.
Segundo Medel (2008), a LDB inclui três grandes eixos relacionados à construção do PPP:
Embora haja uma ou outra variação, para a maioria dos especialistas, na elaboração de
seu PPP a escola deve incluir como tópicos de discussão:
» Caracterização da clientela.
» Diretrizes pedagógicas.
» Plano de ação.
56
Planejamento: ação pedagógica essencial • CAPÍTULO 4
Sugestão de estudo
Colégio Pedro II
O Projeto Político Pedagógico Institucional (PPPI) do Colégio Pedro II é o que representa uma escola pública, da
Educação Básica ao Ensino Superior. É um colégio muito tradicional, fundado em 2 de dezembro de 1837 e localizado
no Rio de Janeiro. Constitui-se hoje em uma autarquia federal do Ministério da Educação (MEC), cuja missão é
promover a educação de excelência, pública, gratuita e laica, por meio da indissociabilidade do ensino, da pesquisa e
da extensão, formando pessoas capazes de intervir de forma responsável na sociedade.
O PPPI do Colégio Pedro II é um documento de, aproximadamente, 550 páginas. Ele está disponível na internet, no
seguinte endereço: https://www.cp2.g12.br/.
Nesse momento, faça uma análise aprofundada desse PPP. Essa atividade será fundamental para que você, ao
participar das discussões que virão, tenha casos concretos como referência para fazer comparações e análises. Leia
com especial atenção os sumários, pois é uma forma excelente de perceber a estrutura geral do projeto construído,
que continua em plena atividade de elaboração e reconstrução!
Existem outros tipos de planos similares ao PPP em abrangência, mas que utilizam
como base de construção princípios similares aos dos chamados planejamentos
estratégicos nas empresas.
Para refletir
O planejamento estratégico, como ferramenta de gestão, busca atender às necessidades das organizações para um
futuro incerto, permitindo que elas enfrentem efetivamente os desafios ambientais desta economia globalizada
que vivemos atualmente. Relaciona-se com objetivos de longo prazo e com as estratégias e ações adequadas para
alcançá-los.
O planejamento tático é feito em cada área específica da empresa e foca objetivos em médio prazo.
No planejamento operacional estão as atividades que compõem a rotina da organização, desenvolvidas em curto
prazo.
E as instituições escolares? Também dependem de um planejamento eficaz para atingir bons resultados? Esse
planejamento, no contexto educacional, tem características próprias?
57
CAPÍTULO 4 • Planejamento: ação pedagógica essencial
Sugestão de estudo
Figura 6. Moneyball.
O filme Moneyball (O homem que mudou o jogo) conta a história do gerente geral do time de basebol Oakland
Athletics, Billy Beane (Brad Pitt), e seu planejamento estratégico para formar um time competitivo para a temporada
de 2002, apesar do orçamento limitado.
Baseado no livro Moneyball, retrata como o planejamento e uso de análise estatística transformou a maneira como os
gerentes gerais dos times de basebol montam e escalam suas equipes.
Elenco: Brad Pitt, Jonah Hill, Philip Seymour Hoffman, Chris Pratt…
58
Planejamento: ação pedagógica essencial • CAPÍTULO 4
Este planejamento é elaborado pelo professor e/ou sua equipe e deve definir
objetivos específicos, os tópicos conceituais relevantes, as estratégias metodológicas,
procedimentos a serem usados na avaliação, recursos e materiais didático-pedagógicos.
Em geral, o plano de curso, plano anual, plano de ensino ou plano de unidades didáticas é
elaborado pela equipe de professores de uma mesma disciplina/segmento de ensino.
» Ementa.
» Objetivos.
» Referenciais teóricos.
Plano de aula
Feito pelo professor, este nível de planejamento corresponde a uma das atividades
mais importantes do trabalho docente. Conforme Fusari (1990), cada aula é um
encontro curricular, no qual, nó a nó, vai-se tecendo a rede do currículo escolar
proposto para determinada faixa etária, modalidade ou grau de ensino.
59
CAPÍTULO 4 • Planejamento: ação pedagógica essencial
Provocação
Além disso, é necessário desmitificar a ideia de que uma visita à fábrica, uma coleta de água no rio ou a exibição de
um vídeo não sejam aulas, não sejam situações de aprendizagem!
Para que haja efetivamente um bom desenvolvimento nas aprendizagens, o ideal é que
se prepare um conjunto de aulas e se faça as adequações necessárias conforme estas
forem ocorrendo na prática.
Existem diversos modelos que podem ser utilizados para a elaboração de um bom plano
de aula. Eles diferem na disposição dos itens ou, até mesmo, na forma como eles são
nomeados. Cada professor deve construir o roteiro que “funcione” em sua realidade
docente, recorrendo à literatura e outros colegas. O importante é que seja claro, exequível,
atenda às necessidades pedagógicas e favoreça o desenvolvimento de uma aula em que
a aprendizagem aconteça.
60
Planejamento: ação pedagógica essencial • CAPÍTULO 4
Série/Nível: ____________
TEMA
(Nome do
assunto/conteúdo a
ser desenvolvido)
OBJETIVO
GERAL
(Deve começar com
verbo no infinitivo.
Normalmente os
objetivos completam
a seguinte ideia: “Ao
final da aula o aluno
será capaz de...”)
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
(Também devem
começar com verbo
no infinitivo. Este
item contém um
breve resumo, sob a
forma de tópicos,
contendo objetivos
mais pontuais,
relacionados aos
assuntos que serão
tratados em aula)
MATERIAL
DIDÁTICO OU
INSTRUMENTOS
(Este item contempla
as diferentes ferra-
mentas pedagógicas
que serão utilizadas
para viabilizar o
conteúdo em aula.
Ex.: retroprojetor,
televisão, vídeo,
quadro-negro,
flipchart, cartazes
etc.)
61
CAPÍTULO 4 • Planejamento: ação pedagógica essencial
ESTRATÉGIAS
DE ENSINO
(Neste item devemos
indicar a forma didática
utilizada pelo professor
para disponibilizar os
conteúdos em aula, a
partir dos instrumentos
pedagógicos anterior-
mente citados. Ex.:
Preleção verbal;
apresentação de
esquemas com o uso
do retroprojetor;
discussão de figuras
com o uso do retropro-
jetor; estudo dirigido;
dinâmica com utiliza-
ção de flipchart;
discussão do vídeo
apresentado em aula,
etc.)
AVALIAÇÃO
(No fim da aula, o
professor poderá
elaborar um tipo de
avaliação a fim de
verificar o resultado de
seu trabalho, ou seja,
verificar se os objetivos
da aula foram alcança-
dos. Ex: Exercícios;
Feedback da turma;
Trabalhos em grupo;
Sínteses da aula etc.)
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
(livros, periódicos,
sites, artigos, filmes
etc. O último item do
plano de aula diz
respeito à base teórica
do conteúdo desenvol-
vido em aula)
Todo o sistema educacional deve se programar e buscar alcançar alvos que permitam a
melhoria dos parâmetros da educação, mas com qualidade. O Plano Nacional de Educação
62
Planejamento: ação pedagógica essencial • CAPÍTULO 4
(PNE) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) são documentos primordiais
para a nossa educação.
O Plano Nacional de Educação (PNE) determina diretrizes, metas e estratégias para a política
educacional dos próximos dez anos (2014-2024).
O p l a n e j a m e n t o é u m p ro c e s s o q u e d e ve s e r c o n t í n u o, e n g l o b a r o p e ra ç õ e s
interdependentes e estar sujeito a revisões e modificações, uma vez que as condições
podem ser alteradas, obstáculos revelados e interpretações modificadas. Ademais,
o planejamento é um processo político, pois envolve decisões e negociações acerca
de escolhas de objetivos e caminhos para concretizá-los.
O P N E n ã o é v i n c u l a d o, a n ã o s e r p o r a n a l o g i a , a o p l a n e j a m e n t o d a o rd e m
econômica. Trata-se, sobretudo, de referência para o planejamento de um setor
da ordem social – o setor educacional.
O largo período de sua tramitação também pode ser o exemplo dos múltiplos e
contraditórios interesses em disputa que constituíram o campo de forças pelo qual
o projeto de lei tramitou. Esse movimento sugere o grau de importância atribuído
ao PNE, certamente o principal instrumento das políticas educativas para o decênio
2014-2024, o que nos leva a indagar a respeito da utilidade de um plano.
63
CAPÍTULO 4 • Planejamento: ação pedagógica essencial
Ainda de acordo com a autora, herdeiro de todos os limites e avanços que historicamente
têm marcado a educação nacional e o seu planejamento, o PNE (2014-2024) exprime, em
certa medida, o amadurecimento da sociedade brasileira no ato de pensar o seu futuro,
mas a partir de prismas que revelam a presença de elementos impostos pela ordem global
e pela síntese possível estabelecida entre tendências progressistas e conservadoras.
Sugestão de estudo
Vamos aprofundar e conhecer um pouco mais sobre as metas e estratégias contempladas no Plano Nacional de
Educação (2014-2024)?
Sem dúvida, o PNE constitui hoje um dos principais instrumentos das políticas educativas brasileiras para a década
iniciada em 2014. Em obediência ao que passou a prescrever a Constituição, por meio de suas diretrizes, metas e
estratégias, confere centralidade à busca da qualidade da educação socialmente referenciada. Portanto, a qualidade,
mais uma vez, é um alvo que se projeta atingir até 2024.
Escolha uma das metas propostas no PNE (2014-2024). Será que a meta que você selecionou, prevista no anexo desta
lei, está sendo cumprida?
64
Planejamento: ação pedagógica essencial • CAPÍTULO 4
Posicionamento do autor
Quando pensamos na questão do financiamento educacional, o PNE é um plano de metas que anuncia custos e
recursos disponíveis para a educação. Em 2001, o Congresso Nacional aprovou no I PNE (2001-2010) a aplicação
de 7% do Produto Interno Bruto (PIB), para serem gastos com a educação brasileira. Porém, o Brasil aplicou o
equivalente a 4% do PIB, chegando a 5% apenas em 2009.
A insuficiência dos recursos aplicados na educação brasileira já é denunciada há várias décadas... e infelizmente,
ofertar educação de boa qualidade não é possível com poucos recursos.
Sintetizando
» A didática se ocupa do processo ensino/aprendizagem e, nessa perspectiva, identificamos também um dos temas
clássicos de seu interesse: o planejamento educacional.
» Sendo um ato político-pedagógico, planejar não tem neutralidade e revela intencionalidade, visões de mundo, de
sociedade e de cidadão que se pretende ajudar a formar.
» A questão do planejamento do ensino não deve ser compreendida de maneira mecânica, desvinculada das relações
entre escola e realidade histórica.
» No cotidiano da escola, o planejamento participativo é uma possibilidade de trabalho coletivo, caracterizado pela
integração de todos os sujeitos e os setores de uma instituição educativa.
» O planejamento em educação ocorre em três níveis interdependentes: o planejamento no âmbito dos sistemas e
redes de ensino; o planejamento no âmbito da unidade escolar e o planejamento no âmbito do ensino.
65
CAPÍTULO
A AVALIAÇÃO NO TRABALHO
DOCENTE 5
Introdução do Capítulo
Em educação, a avaliação encontrou seu lugar privilegiado, não só como prática política
e pedagógica, mas, também, como importante campo de estudo. Ganhou visibilidade e
importância estratégica com a implantação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (Saeb).
A avaliação educacional é um tema complexo que pode ser abordado sob diferentes
perspectivas. Apesar de sua longa presença na história da escola, ainda hoje, a avaliação
é considerada uma das atividades mais polêmicas no processo de ensino-aprendizagem.
Objetivos
66
A Avaliação no Trabalho Docente • CAPÍTULO 5
A avaliação educacional é um tema complexo que pode ser abordado sob diferentes
perspectivas. Apesar de sua longa presença na história da escola, ainda hoje, a avaliação
é considerada uma das atividades mais polêmicas no processo de ensino-aprendizagem.
A forma como o aluno aprende se relaciona com as atividades que o professor realiza
para que a aprendizagem aconteça e, portanto, ensino e aprendizagem se encontram
estreitamente ligados, ocorrendo quase simultaneamente. Essa proposição sugere
que há dois sujeitos da avaliação.
67
CAPÍTULO 5 • A Avaliação no Trabalho Docente
Libâneo (2013) afirma, então, que, podemos definir a avaliação escolar como um
componente do processo de ensino que visa, através da verificação dos resultados
obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e, daí, orientar
a tomada de decisões em relação às atividades didáticas seguintes.
» Verificação: coleta de dados sobre o aproveitamento dos alunos, por meio de provas,
exercícios, observação, entrevistas etc.
68
A Avaliação no Trabalho Docente • CAPÍTULO 5
Saiba mais
Autores como Bloom (1956 apud HAYDT, 2006) categoriza essas três tarefas da avaliação como: diagnóstica,
formativa e somativa.
» Formativa: possui a função de controle e de constatar se os objetivos estabelecidos foram alcançados pelos alunos.
Fornece dados para aperfeiçoar o processo de ensino-aprendizagem. Costuma ser aplicada durante o ano letivo,
isto é, ao longo do processo de ensino-aprendizagem.
» Somativa: possui a função de classificar os resultados de aprendizagem alcançados pelos alunos, de acordo com
níveis de aproveitamento estabelecidos. Costuma ser aplicada ao final de um ano ou semestre letivos, ou ao final de
uma unidade de ensino.
Relacionadas a essas três tarefas, existem três funções de avaliação que foram categorizadas
por Libâneo: pedagógico-didática, de diagnóstico e de controle.
Atenção
Na prática escolar cotidiana, a função de diagnóstico é mais importante porque é a que possibilita a avaliação do
cumprimento da função pedagógico-didática e a que dá sentido pedagógico à função de controle.
Em educação, a avaliação encontrou seu lugar privilegiado, não só como prática política
e pedagógica, mas, também, como importante campo de estudo. Ganhou visibilidade
e importância estratégica com a implantação do Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica (Saeb). Mas, por que essa quantidade de atividades ligadas à Avaliação,
com tantas pessoas envolvidas, como avaliadores e avaliados, vem crescendo e sendo
tão fundamental atualmente?
69
CAPÍTULO 5 • A Avaliação no Trabalho Docente
A avaliação faz parte do nosso dia a dia, seja de maneira corriqueira, seja de modo
formal. Com significados bem particulares, está incorporada ao cotidiano de professores,
estudantes e organizações educativas e é considerada até um patrimônio das instituições
educacionais. No entanto, nas últimas décadas, com programas de bem-estar, projetos
sociais de larga escala, aplicados, principalmente, em países desenvolvidos, e mesmo com
várias restrições econômicas, também em países em desenvolvimento, a avaliação adquiriu
novas dimensões, sendo parte da agenda de política dos governos, organismos e agências
dedicadas à estruturação e à gestão dos setores públicos, organizações não governamentais
e, principalmente, nas políticas educacionais.
Embora a avaliação educacional seja um tema complexo, avaliar os alunos sempre fez parte
do processo educativo. As escolas o fazem há muito tempo. Entretanto, nos últimos 20 anos
desenvolveu-se no mundo um novo campo de estudos: a avaliação educacional. O principal
objetivo é analisar a evolução das escolas e dos sistemas educacionais, tornando possível
medir objetivamente a eficácia dos sistemas, das escolas, dos diretores e dos professores
em relação ao que é um dos objetivos centrais da educação: a aprendizagem dos alunos.
Obviamente a escola não deve se resumir a isso. A educação integral da criança e do jovem
é uma tarefa da família e da escola. Por isso, é essencial que a escola tenha muito clara
sua missão também no desenvolvimento dos princípios éticos e morais e do respeito pelo
outro, assim como no desenvolvimento da responsabilidade social da pessoa.
70
A Avaliação no Trabalho Docente • CAPÍTULO 5
Saiba mais
O (novo) Fundeb
É um importante compromisso da União com a educação básica, na medida em que aumenta em dez vezes o volume
anual dos recursos federais. Além disso, materializa a visão sistêmica da educação, pois financia todas as etapas da
educação básica e reserva recursos para os programas direcionados a jovens e adultos.
A estratégia é distribuir os recursos pelo País, levando em consideração o desenvolvimento social e econômico das
regiões – a complementação do dinheiro aplicado pela União é direcionada às regiões nas quais o investimento por
aluno seja inferior ao valor mínimo fixado para cada ano. Ou seja, o Fundeb tem como principal objetivo promover a
redistribuição dos recursos vinculados à educação.
A destinação dos investimentos é feita de acordo com o número de alunos da educação básica, com base em dados
do censo escolar do ano anterior. O acompanhamento e o controle social sobre a distribuição, a transferência e
a aplicação dos recursos do programa são feitos em escalas federal, estadual e municipal por conselhos criados
especificamente para esse fim. O Ministério da Educação promove a capacitação dos integrantes dos conselhos.
As diretrizes do Novo Fundo de Manutenção da Educação Básica (Fundeb), bem como as propostas para o novo
modelo de redistribuição dos recursos, está sendo tema de debate no Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE). Nos encontros realizados por deputados federais e técnicos da autarquia estão sendo discutidos,
entre outros assuntos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) no 15/2015, que prevê a inserção permanente do
Fundeb na Constituição Federal.
71
CAPÍTULO 5 • A Avaliação no Trabalho Docente
O Saeb fornece dados sobre a qualidade dos sistemas educacionais do Brasil como um
todo, das regiões geográficas e dos estados. Ainda assim, identificou-se a necessidade de
se obter uma análise mais detalhada em que as escolas se “vissem” nessa avaliação e fosse
possível obter dados por estado, mas, também, para cada município e escola participante.
Para equacionar essa necessidade, em 2005, criou-se outra medida de avaliação: a Prova
Brasil que, usando a mesma metodologia, passou a ser realizada em conjunto com o Saeb
(Figura 10).
O Saeb é composto por três avaliações externas em larga escala: a Aneb e a Anresc/Prova
Brasil são realizadas bianualmente, enquanto a ANA é de realização anual. A ANA foi
incorporada ao Saeb em 2013: trata-se de uma avaliação censitária envolvendo os alunos do
3o ano do Ensino Fundamental das escolas públicas, com o objetivo principal de avaliar os
níveis de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa, alfabetização em Matemática
e condições de oferta do Ciclo de Alfabetização das redes públicas.
72
A Avaliação no Trabalho Docente • CAPÍTULO 5
Saiba mais
Teoria da Resposta ao Item: modelagem estatística utilizada em medidas psicométricas, metodologia que sugere
“formas de representar a relação entre a probabilidade de um indivíduo dar uma certa resposta a um item e traços
latentes, proficiências ou habilidades na área de conhecimento avaliada” (ANDRADE, TAVARES e VALLE, 2000).
O Saeb se organiza em dois grandes eixos: o primeiro voltado ao acesso ao ensino básico
– verificado pelo atendimento à demanda de vagas através dos índices de acesso e de
escolarização e pela eficiência de taxas de produtividade, taxas de transição (promoção
e evasão) e de eficiência interna (investimentos); e o segundo eixo é relativo à qualidade,
implicando o estudo de quatro dimensões:
b. nível socioeconômico dos alunos, hábitos de estudo, perfil. Condições de trabalho dos
docentes e diretores, tipo de escola, grau de autonomia da escola, matriz organizacional
da escola;
O quadro a seguir apresenta semelhanças e diferenças entre as duas avaliações, que são
conduzidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep/MEC).
73
CAPÍTULO 5 • A Avaliação no Trabalho Docente
É aplicado de dois em dois anos. A última edição Sua primeira edição foi em 2005 e, em 2017,
foi em 2017. Os resultados finais da edição 2017 houve nova aplicação. Também ocorre de dois em
do Saeb foram publicizados em 2018. dois.
Alunos fazem prova de Língua Portuguesa (foco Avalia as habilidades em Língua Portuguesa (foco
em leitura) e Matemática (foco na resolução de em leitura) e Matemática (foco na resolução de
problemas). problemas).
A partir de 2013 serão realizadas provas de A partir de 2013 também serão realizadas provas
Ciências (somente para o 9o ano do Ensino de Ciências (somente para o 9o ano do Ensino
Fundamental e 3o ano do Ensino Médio). Fundamental).
Avalia alunos da rede pública e da rede privada, A Prova Brasil avalia as escolas públicas
de escolas localizadas nas áreas urbana e rural. localizadas em área urbana e rural.
Todos os alunos do Saeb e da Prova Brasil Parte das escolas que participarem da Prova
Brasil ajudará a construir também os resultados
fazem uma única avaliação. do Saeb, por meio de recorte amostral.
Pesquisas de avaliação nas áreas sociais, como é o caso da educação, apontam para a
importância de construir indicadores e instrumentos capazes de captar a riqueza das
ações que acontecem nos programas. Com a expansão da avaliação de desempenho
do sistema educacional, com a Prova Brasil sendo integrada ao Saeb, avançou-se na
construção de um indicador – o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb),
a partir de 2005 (MINAYO, 2003).
74
A Avaliação no Trabalho Docente • CAPÍTULO 5
A preocupação com os resultados dos processos de ensino está presente atualmente nas
administrações públicas da educação e nas escolas. As avaliações de sistemas levantam
um número considerável de informações que devem ter seus usos planejados na etapa
de planejamento de modo que se decida, sobretudo, para quem e de que modo serão
disseminados tais dados.
75
CAPÍTULO 5 • A Avaliação no Trabalho Docente
Fonte: http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/13257-avalia%C3%A7%C3%A3o-
para-inclus%C3%A3o-e-o-erro-como-parte-da-constru%C3%A7%C3%A3o-do-conhecimento. Acesso em: 24/9/2019.
Provocação
Considerando que os animais representados na Figura 12 formam o corpo de alunos de uma mesma sala de aula, e
as diferentes espécies representam diferentes origens culturais, é possível dizer que o método de avaliação escolhido
pelo professor da charge é justo?
O ato de avaliar está presente em todos os momentos da vida humana. A todo momento
as pessoas são obrigadas a tomar decisões que, na maioria das vezes, são definidas a
partir de julgamentos provisórios, assumidos como verdades.
76
A Avaliação no Trabalho Docente • CAPÍTULO 5
A prática da avaliação em nossas escolas tem sido criticada sobretudo por reduzir à sua
função de controle, mediante a qual se faz uma classificação quantitativa dos alunos relativa
às notas que obtiveram nas provas.
Para refletir
A avaliação está se tornando o centro da aula, em torno do qual tudo gira. Só que em vez de centralizar a ação
nos processos de produção de conhecimento, de ensino-aprendizagem que envolvem as pesquisas e as relações
professor-aluno, tudo é voltado para a avaliação.
Os professores, em geral, utilizam, durante a maior parte do tempo, a avaliação como sistema de controle da
disciplina, das tarefas e de tudo o que acontece. No cotidiano da escola você já escutou alguma dessas colocações
ameaçadoras, tipo:
Diante deste cenário, Libâneo (2013) destaca alguns equívocos que têm-se verificado na
prática escolar em relação aos objetivos, funções e papel da avaliação na melhoria das
atividades educativas.
» Equívoco 2: Utilizar a avaliação como recompensa aos “bons” alunos e punição aos
desinteressados ou indisciplinados.
77
CAPÍTULO 5 • A Avaliação no Trabalho Docente
Saiba mais
Entre os autores nacionais, o professor Cipriano Carlos Luckesi, vem tratando desse tema acerca da pedagogia do
exame. Em substituição à pedagogia do ensino-aprendizagem, da produção do conhecimento, encontramos, hoje,
nas escolas brasileiras, a pedagogia do exame. Esse tema originalmente foi tratado pelo professor Ángel Diaz Barriga
(1990) em seu livro Currículo e Avaliação Escolar. Este autor mostra essas inversões e como a avaliação passou a ser
o centro controlador, transformando-se em instrumento de poder do professor.
A pedagogia do exame (provas, testes, ritual da avaliação) tem-se caracterizado como uma
prática centrada numa devolução de informações. Está intimamente ligada à corrente
neoliberal de Educação entendida como transmissora do conhecimento e suas consequências
atingem todos os envolvidos no processo educacional.
A prática educativa tem se pautado nos resultados e nas metas para alcançá-los, fazendo
com que a escola perca a sua essência formadora para torná-la um ambiente corporativo
em que o resultado maior é a aprovação do aluno.
Segundo Hoffmann (2009), os professores dizem perseguir uma escola de qualidade, sendo
exigentes na avaliação; no entanto, contribuem sobremaneira para o afastamento de
milhares de crianças e jovens da escola e da universidade através do fator de reprovação
continuada.
Provocação
Após o estudo deste capítulo sobre avaliação escolar, como deve ser encarada a recuperação dos alunos?
78
A Avaliação no Trabalho Docente • CAPÍTULO 5
Sintetizando
» O campo conceitual da avaliação é constituído historicamente e, como tal, se transforma de acordo com os
movimentos e mudanças sociais.
» A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a
passo o processo de ensino e aprendizagem.
» Existem três funções de avaliação que foram categorizadas por Libâneo (2013): pedagógico-didática, de diagnóstico
e de controle.
» A prática da avaliação da aprendizagem no sistema de ensino brasileiro indica que ela está direcionada por uma
pedagogia do exame.
» Trabalhar com avaliação é importante, no sentido de que a entendamos vinculada a uma prática educacional
necessária para que se saiba como se está, enquanto aluno, professor e conjunto da escola.
79
CAPÍTULO
A DIDÁTICA EM MEIO A
TEMPOS E POSSIBILIDADES DE
RESSIGNIFICAÇÃO DA ESCOLA 6
Introdução do Capítulo
80
A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola • CAPÍTULO 6
Objetivos
A e d u c a ç ã o, s o b a s s u a s d i ve r s a s f o r m a s e m o d a l i d a d e s, t e m p o r m i s s ã o o
desenvolvimento do ser humano na sua dimensão social. Define-se como veículo
de culturas e de valores, como construção de um espaço de socialização, e como
caminho de preparação de um projeto comum.
Conforme Bourdon et al. (2007), ao tomar como objeto de investigação jovens em situação
desfavorecida, estigmatizados por sua posição social na periferia de Salvador/Bahia, o
tema da educação não formal é colocado em evidência pelos autores. A pesquisa procurou
analisar os efeitos da passagem dos jovens por processos educativos alternativos sobre
suas trajetórias sociais. Foram analisadas as representações de jovens – que passaram
por oficinas de teatro ou de eletricidade, promovidas por uma associação de moradores –
tanto sobre a educação formal como sobre aquela que foi definida pelos autores como não
formal. Em um quadro de presença escassa do Estado, a educação não formal apareceu
81
CAPÍTULO 6 • A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola
A forma escolar está sendo aqui entendida do modo como a escola atual concebe os
processos de aprender e ensinar.
É fato que tais reflexões não foram construídas sobre pesquisa empírica, porém devem ser
consideradas como um processo de diálogo a respeito de um tema importante para quem
está envolvido e disposto a pensar a educação e, de forma mais específica, a Didática no
Brasil.
82
A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola • CAPÍTULO 6
[...] muito já foi dito sobre e para ela, contra ou a favor dela. A produção
acadêmica do campo vem acumulando estudos e pesquisas sobre essa
instituição social a partir de diferentes enfoques e perspectivas teóricas.
Estudos provenientes de diversas áreas do conhecimento produzem
sentidos e verdades sobre os processos de ensino-aprendizagem, viram
ao avesso esta instituição, vasculhando suas contradições internas e
externas; predizem soluções, preconizam sua destruição ou reinvenção,
denunciam seu papel reprodutor; aclamam seu potencial transformador.
Nesses discursos, ora ela é significada como uma instituição falida, ora
como salvadora. Esses inúmeros nomes e adjetivos que atribuímos à escola
são indícios dos diferentes discursos que disputam, na fronteira, o sentido
de escola e de currículo. Muito já foi dito, mas sabemos que esse muito é
também um não-tudo. Afinal os fechamentos de sentidos (de currículo e
escola) são sempre contingenciais e precários, deixando margem para se
dizer mais; um suplemento, deslocar na fronteira e participar dos processos
de significação que definem escola pública em nosso país.
83
CAPÍTULO 6 • A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola
Com isso, de acordo com Tura (2003), a multiplicidade de fatores envolvidos nessa
análise da ação educativa foi levando, progressivamente, os pesquisadores a se
aproximarem dos ambientes escolares, do espaço de interação entre os alunos e
professores, das condições concretas de realização do ensinar e do aprender.
A escola permanecia como uma “caixa preta”, pois os trabalhos internos das escolas, os
processos de ensino-aprendizagem que levavam aos resultados dos alunos e a organização
de suas estruturas eram menosprezados, enquanto os recursos escolares (materiais,
financeiros e recursos humanos) eram superestimados (GAME, 2002).
Saiba mais
Este termo caixa preta, amplamente divulgado na literatura pedagógica, é derivado da obscuridade em que por
muito tempo ficaram os procedimentos específicos das escolas sobre a trajetória escolar dos educandos, e suas
consequências sobre o seu desempenho. Por outro, este interesse cada vez maior pelo estudo da “caixa-preta” pode
ser atribuído à evolução da pesquisa em educação (BRANDÃO, 1989). Podemos perceber que, a partir dos anos de
1980 – em decorrência da entrada na pós-graduação de um número não desprezível de professores e técnicos de
ensino ligados, por formação e atuação, à educação básica e, em menor quantidade, ao ensino superior – foi dada
ênfase maior nas pesquisas de natureza estritamente pedagógica. Interessados em compreender a escola, ao que
tudo indica, esses pesquisadores voltaram-se, sobretudo, para a investigação de aspectos pedagógicos, revelando
forte interesse no processo de aprendizagem.
No entanto, a partir dos anos 1970 e 1980, essa abordagem pessimista seria questionada e
colocada em debate. Começaram a surgir estudos qualitativos voltados para a compreensão
dos processos internos ocorridos nas escolas, na tentativa de desvendar a “caixa-preta”
das instituições escolares. Como exemplo, podemos direcionar nossa atenção para as
recentes discussões sobre o assim chamado efeito-escola, as quais chamam atenção para
o valor e a capacidade da instituição em alterar previsões acerca da trajetória escolar
84
A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola • CAPÍTULO 6
Embora possamos nos deparar com estudos diversificados sobre a temática “escola”, nos
quais esta instituição é vislumbrada e tomada em um espaço rodeado por esperanças,
expectativas e melhoria das condições sociais, esse otimismo percebido através do papel
central da escolarização na sociedade, por vezes, se encontra em meio a contextos de
crise e de contestações.
Podemos visualizar de forma bastante clara o valor crescente que a credencial escolar
– e alguns conhecimentos e habilidades adquiridos na escola – desfruta no mundo
contemporâneo, e por outro lado, também percebemos que as crianças e os jovens vêm
tendo acesso a múltiplas referências culturais, o que implica dizer que a instituição
escolar, sozinha, não abarca as possibilidades de socialização dos jovens, ainda que ela seja
importante para a análise das condições e situações juvenis, assim como determinados
autores (CANÁRIO, 2006; RÉGNIER, 2007; BOURDON et al., 2007) apontam para o fato de
que a escola estaria perdendo valor e sentido em meio a alguns segmentos da sociedade.
Não seria uma “crise” sobre o acesso à escola, mas relacionada a um suposto benefício
que ela proporcionaria: a mobilidade social. A escolaridade vai adquirindo valor cada
vez maior em nossa sociedade, à medida que se ampliam as aspirações por mobilidade
social, posto que ela é reconhecida como mecanismo crescentemente influente na
distribuição das oportunidades sociais e profissionais.
85
CAPÍTULO 6 • A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola
De forma imediata e objetiva, Canário (2006) afirma que é necessário fazer uma reflexão
sobre a “crise mundial da educação”, e de forma mais específica refletir sobre a “crise
da escola”. Em sua obra, o objetivo é desenvolver uma análise sobre a natureza dessa
“crise” e procurar enunciar pistas para a sua possível superação.
A ideia principal defendida por Canário é a de que se torna incipiente que haja uma
reinvenção da escola e do ofício de professor e, para que essa “crise” seja transposta,
deve-se ser feito, em um primeiro momento, um questionamento crítico, e em seguida,
a superação da forma escolar, ou seja, superar o modo como a escola atual concebe os
processos de aprender e ensinar.
86
A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola • CAPÍTULO 6
Sugestão de estudo
O belíssimo documentário de João Jardim, Pro dia nascer feliz, realizado entre 2004 e 2005, é um dos raros filmes que
retratam com delicadeza e sensibilidade a cruel realidade da vida de adolescentes na escola. João Jardim descreve o
cotidiano de jovens em quatro escolas brasileiras. Em Pernambuco, São Paulo, Duque de Caxias/RJ e no Rio de Janeiro,
todas elas são públicas.
Há, ainda, u importante documentário sobre o qual podemos nos debruçar e refletir sobre questões que
envolvem ideias de equidade, de justiça e da missão das escolas. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=74jokEl7RQ4.
Como tentativa de superar essa crise de legitimidade da escola passa-se, primeiro, por
recriar um novo sentido para o trabalho e para a vida escolares, e, em seguida, estimular o
gosto pelo ato intelectual de aprender. Este novo sentido perpassa também pela superação
da crise de identidade profissional dos professores (mal-estar docente), gerada pelo
desencanto em relação à escola, pela escolarização massiva, emergência de novas formas
de regulação, da “invasão” da escola por problemas sociais etc.
Canário (2006) destaca que a educação não escolar deve ser valorizada e se constituir
como ponto de referência para se atribuir sentido ao trabalho educativo, e também se
pensar e superar a hegemonia da forma escolar.
87
CAPÍTULO 6 • A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola
A partir dos anos finais da década de 1960, o mundo da educação escolar passou a ser
dominado pela problemática da inovação que deveria ser colocada em pauta na formação
de professores. Canário (2006) revela que esta inovação é importante e necessária,
em conformidade que aponte para modelos que possam consolidar uma cultura de
formação profissional permanente de professores (ação integrada entre formação inicial
e continuada). O objetivo seria formar solucionadores de problemas dentro deste quadro
de “crise”, de incertezas e imprevisibilidade, que seja capaz de ser sujeito de sua própria
aprendizagem, aprendizagem esta baseada da abstração (e não na memorização), na
experimentação (e não na aplicação), em uma visão sistêmica (que permita abarcar
fenômenos complexos) e no trabalho em equipe/colaborativo (e não na competitividade
individual; que não favoreça a permanência de uma “cultura insular”).
Ao passo que as reformas educacionais propostas também são criticadas pelo autor
por se tratar de metodologias verticais e autoritárias, de mudanças impostas à periferia
88
A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola • CAPÍTULO 6
Fonte: https://educacional.cpb.com.br/conteudos/universo-educacao/o-impacto-da-comunicacao-no-processo-ensino-
aprendizagem/. Acesso em: 28/7/2019.
Para superar essa dificuldade/incerteza, o autor sugere que sejam consideradas duas
ordens de competências distintas. A primeira corresponde a competências de natureza
escolar, produzidas no contexto da formação. A segunda corresponde a competências
de natureza profissional que são produzidas no contexto do exercício profissional.
Atenção
A “formação centrada na escola” tem como finalidade principal resolver problemas e promover, de forma simultânea,
o desenvolvimento profissional dos docentes e o desenvolvimento organizacional das escolas. Essa formação
somente será construída e materializada a partir da criação e funcionamento de equipes que trabalham na
concretização de um projeto educativo. As formações de professores clássicas costumam ser dirigidas à capacitação
individual para ocupar o “posto de trabalho”, e a “formação centrada na escola” propicia uma dimensão coletiva que
permite aos indivíduos aprenderem por meio da organização como pela possibilidade de as próprias organizações
(escolares) “aprenderem” (CANÁRIO, 2006, p. 73).
89
CAPÍTULO 6 • A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola
Para superar a forma escolar, trata-se de pensar em uma nova inserção espacial da
escola, problematizando a relação da escola com o seu contexto local: “territorialização”
educativa. Através da integração e participação local (da estreita cooperação entre as
instituições de ensino e demais entidades que, mesmo não sendo escolares, assumem
responsabilidades educativas) e ao adotar o ponto de vista de quem está no terreno
(escolar), sem aceitar a exportação de soluções prontas oriundas das administrações
em nível central, a escola conseguirá passar por mudanças qualitativas.
Posicionamento do autor
O conceito de territorialização educativa aparece muito ligado à ideia de descentralização, interpretada como um
aumento da autonomia das escolas e dos seus agentes. Para que essa autonomia realmente venha se concretizar
existe a necessidade de ocorrer uma articulação da escola com os contextos social e cultural que a envolvem, pois é
assim que os alunos conseguirão relacionar a sua experiência escolar com as suas experiências de vida, construindo
um sentido para sua aprendizagem.
Para romper com a hegemonia da forma escolar, é preciso superar a visão de senso
comum que visualiza a escola como um fato “natural”, que sempre existiu/existirá.
Ela é uma instituição histórica recente que decorre da ação humana e deve ser
encarada como um fato social, afirmando, de forma hegemônica, um novo modelo
de socialização, assim como um espaço e um tempo destinados a aprender. Para
isso, Canário (2006.) se propõe a uma tentativa de traçar uma síntese do caminho
percorrido desde a invenção histórica da escola (no início da modernidade – final
do século XVIII) até os nossos dias, onde a escola foi fortemente influenciada pelos
ideais das revoluções industrial e liberal, chegando a um contexto atual sombrio,
no qual passamos por uma crise do pensamento sobre a escola, instituição marcada
como sendo um território de incertezas.
90
A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola • CAPÍTULO 6
Ne s t e c o n t e x t o m a rc a d o p e l a i n c e r t ez a , a c r i s e d o s s i s t e m a s e s c o l a re s e s t á
estreitamente ligada à emergência do modelo de competência como referencial da
formação, que acompanha as mutações das organizações e do mercado de trabalho.
A noção de competência é entendida como algo que não é nem um atributo pessoal
(independente do contexto), nem o resultado de um somatór io de atividades
certificadas por diplomas escolares. Conforme Canário (2006, pp. 125-126),
91
CAPÍTULO 6 • A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola
Posicionamento do autor
Segundo Oliveira et al. (2004), como definição de competências profissionais temos o de um conjunto de
conhecimentos, habilidades e atitudes que capacitam um profissional a desempenhar as suas tarefas de forma
satisfatória.
Do latim, competentia significa proporção, simetria. Refere-se à capacidade de compreender determinada situação e
reagir adequadamente frente a ela: relaciona-se ao saber fazer algo.
Por outro lado, Machado (2002), ao comparar os parentescos semânticos entre competência e competitividade,
relacionando-os à disputa, aprendizagem e busca pelo conhecimento, demonstra que quando se disputa algo com
alguém se chega a uma conquista: um perde e outro ganha. Mas o conhecimento não é um bem material que se gasta
ou se vende, é um “bem” que se conquista e se “disputa” junto com o outro.
Tal reflexão nos proporciona uma ampliação no significado do termo competência no sentido de se buscar junto
com. Neste ponto, Canário (2006), através da noção de competência, busca ressaltar a importância de superar
a permanência de uma “cultura insular” na escola, que potencialize o trabalho em equipe, colaborativo (e não
contemple a competitividade individual).
Para aprender e se buscar o conhecimento junto com o outro faz-se necessária uma mudança que enfatize a
importância de um desenvolvimento de competências pessoais e profissionais que se organize em torno da
exploração colaborativa.
Se a aprendizagem dos alunos não está sendo satisfatória, é necessário refletir sobre
uma série de fatores que poderia melhorar esse problema. Segundo Gabriel (2011),
92
A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola • CAPÍTULO 6
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CAPÍTULO 6 • A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola
Saiba mais
Tubino (2005 apud CANDAU e KOFF, 2015) distinguiu três concepções principais de educação intercultural:
» Educação Intercultural Relacional: refere-se basicamente ao contato e intercâmbio entre culturas e sujeitos
socioculturais, entre suas distintas práticas, saberes, valores e tradições. Esta concepção tende a reduzir as relações
interculturais ao âmbito das relações interpessoais e minimiza os conflitos e as relações de poder.
» Educação Intercultural Funcional: no que diz respeito à interculturalidade funcional afirma que está orientada
a diminuir as áreas de tensão e conflito entre os diversos grupos e movimentos sociais, sem afetar a estrutura e as
relações de poder vigentes.
» Educação Intercultural Crítica: colocar estas relações de poder em questão é exatamente o foco da perspectiva
da interculturalidade crítica. Trata-se de questionar as diferenças e desigualdades construídas ao longo da história
entre diferentes grupos socioculturais, étnico-raciais, de gênero, orientação sexual, entre outros.
Parte-se da afirmação de que a interculturalidade aponta à construção de sociedades que assumam as diferenças
como constitutivas da democracia e sejam capazes de construir relações novas, verdadeiramente igualitárias entre
pessoas e grupos de diferentes referentes socioculturais.
A proposta defendida por Candau e Koff (2015) é a de que a reinvenção da escola esteja
orientada pelos princípios de uma Educação Intercultural Crítica e, consequentemente,
esses princípios devem impregnar toda a escola/processos, afetando, portanto, todas as
suas dimensões e ações. Isso significa dizer que devemos considerar fundamental:
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A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola • CAPÍTULO 6
Segundo Candau e Koff (2015), apostar na ideia da reinvenção da escola orientada pelos
princípios de uma Educação Intercultural Crítica significa reconhecer que a escola tem
papel relevante na perspectiva da afirmação da justiça – social, cognitiva e cultural –,
assim como da construção de relações igualitárias entre os diferentes grupos socioculturais
e da democratização da sociedade, por meio de políticas que articulam os direitos da
igualdade e da diferença.
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CAPÍTULO 6 • A Didática em Meio a Tempos e Possibilidades de Ressignificação da Escola
Sintetizando
» Até a década de 1980, a escola permanecia como uma “caixa preta”, pois os trabalhos internos das escolas, os
processos de ensino-aprendizagem que levavam aos resultados dos alunos e a organização de suas estruturas eram
menosprezados.
» É necessário fazer uma reflexão sobre a “crise mundial da educação”, e, de forma mais específica, sobre a “crise da
escola”.
» Com relação à tentativa de superação das incertezas da formação profissional de professores, Canário (2006)
ressalta a importância de vislumbrar a perspectiva de que essa formação seja ancorada em uma “formação
centrada na escola”.
» Segundo Candau e Koff (2015), a reinvenção da escola está orientada pelos princípios de uma Educação
Intercultural Crítica.
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