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DINAIR DA HORA

Tópicos especiais em educação

1ª Edição

Brasília/DF - 2018
Autores
Dinair da Hora

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4

Introdução.............................................................................................................................................................................. 6

Capítulo 1
Formação e competências do pedagogo no contexto atual.......................................................................... 7

Capítulo 2
Pedagogia para além da escola .............................................................................................................................21

Capítulo 3
Pedagogia nos meios de comunicação de massa ...........................................................................................30

Capítulo 4
Pedagogia empresarial: um campo em expansão...........................................................................................47

Capítulo 5
Pedagogia no terceiro setor..................................................................................................................................... 63

Capítulo 6
Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais ................................................................................75

Referências .........................................................................................................................................................................92
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também,
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Cuidado

Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.

Importante

Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.

Observe a Lei

Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem,
a fonte primária sobre um determinado assunto.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.

4
Organização do Livro Didático

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Posicionamento do autor

Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.

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Introdução
A disciplina Tópicos Especiais em Educação tem como finalidade mais ampla complementar e
aprofundar seus conhecimentos sobre gestão, trazendo novas informações e discutindo outros
assuntos que você precisa apreender sobre a ação do pedagogo.

Neste Livro Didático trataremos de temas referentes à formação e aos saberes expressos para
o pedagogo, anteriormente, definidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso
de Graduação em Pedagogia, licenciatura – Resolução CNE/CP no 1, de 15 de maio de 2006 e,
atualmente, pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior
(cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda
licenciatura) e para a formação continuada – Resolução CNE/CP no 2, de 1o de julho de 2015.

As duas diretrizes para o curso de Pedagogia incluem, além dos conhecimentos escolares, os
novos campos de atuação que exigem conhecimentos pedagógicos, o que amplia o campo de
trabalho do pedagogo.

Discutiremos a ação dos pedagogos nas instituições de saúde, nas instituições judiciárias, nos
museus e nos meios de comunicação de massa e daremos destaque à pedagogia no campo
empresarial e nas organizações não governamentais, chamada de terceiro setor.

Como instrumentalização para o trabalho do pedagogo, apresentaremos formas de planejar e gerir


projetos socioeducacionais, necessários para atuar em espaços não escolares. Esses conteúdos
são necessários para ampliarmos e aprofundarmos nossos saberes e fazeres do profissional
pedagogo no contexto atual.

Objetivos

» Apresentar um breve histórico e analisar as determinações para a formação do pedagogo


na educação brasileira, identificando as competências necessárias para o exercício da
profissão.

» Conhecer as ações do pedagogo em instituições não escolares (hospitais, justiça, museus,


meios de comunicação de massa).

» Compreender princípios e métodos da pedagogia empresarial, apropriando-se de


fundamentos adequados ao trabalho na educação corporativa.

» Discutir as concepções e as práticas da ação pedagógica no terceiro setor, identificando


atividades executadas pelo pedagogo em organizações não governamentais.

» Aplicar os conhecimentos técnicos na elaboração e gestão de projetos sócio-educativos.

6
CAPÍTULO
FORMAÇÃO E COMPETÊNCIAS DO
PEDAGOGO NO CONTEXTO ATUAL 1
Apresentação

Este capítulo, intitulada formação e competências do pedagogo no contexto atual apresenta


conteúdos organizados em dois itens.

O primeiro item traz uma discussão com base em um breve histórico das diretrizes (2006-2015)
para os cursos de formação de professores, particularmente, nosso foco é o curso de Licenciatura
em Pedagogia, que expressam os princípios organizativos e as concepções do processo de
formação dos pedagogos.

No segundo item temos a apresentação dos novos saberes e fazeres para o pedagogo, destacando
as competências e habilidades para atuação tanto no campo da docência como na gestão
educacional.

Durante seus estudos deste capítulo, procure refletir sobre as novas exigências que hoje são postas
para a sua futura profissão, focando sua atenção nos destaques apontados, procurando ler os
textos indicados, realizando as atividades propostas, tendo como propósito sempre o alcance
de uma formação consistente para que sua prática profissional seja qualitativa.

Objetivos

» Identificar os principais elementos presentes no percurso das discussões das diretrizes


curriculares para o curso de Pedagogia.

» Reconhecer os novos saberes e fazeres, competências e habilidades para o pedagogo


no contexto da educação brasileira.

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CAPÍTULO 1 • Formação e competências do pedagogo no contexto atual

Apresentação

Desde meados da década de 1980 do século XX, os cursos de Pedagogia ministrados no Brasil
organizavam-se de duas formas: uma que era de acordo com o modelo tradicional definido
pelo Parecer do Conselho Federal de Educação – CFE no 252/1969, que formava profissionais
habilitados para exercer a docência das disciplinas pedagógicas nos cursos de Magistério em
nível médio e profissionais licenciados conhecidos como especialistas, para atuarem nas escolas
e nos sistemas de ensino, exercendo as funções de administradores escolares, supervisores e
orientadores educacionais e inspetores do ensino.

A segunda forma de organização do curso de Pedagogia apresentava um novo modelo, que formava
licenciados habilitados para o exercício do magistério nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
e, em alguns casos, na Educação Infantil e para o magistério das disciplinas pedagógicas do nível
médio. A implantação desse novo modelo, por diferentes instituições de Ensino Superior, foi
acolhida pelo CFE, que autorizou as primeiras experiências e, posteriormente, pelo Conselho
Nacional de Educação (CNE), por meio de Pareceres específicos.

De acordo com o Parecer CFE no 252/1969, o curso de pedagogia tinha por


finalidade preparar profissionais para o setor da educação, contando com uma
parte comum e outra diversificada. A primeira constituída por matérias básicas
à formação de qualquer profissional da área e a segunda, já propriamente
profissionalizante, correspondendo “desde logo” às necessidades pedagógicas
mencionadas na Lei no 5.540/1968.

As disciplinas profissionalizantes definidas no art. 30 da Lei no 5.540/1968 e


ampliadas pelo Parecer CFE no 252/1969 contaram com as seguintes habilitações,
a serem oferecidas em nível de graduação: Magistério das Disciplinas Pedagógicas
do Segundo Grau, Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão
Escolar e Inspeção Escolar (...)

O curso de Pedagogia reestruturado pelo Parecer CFE no 252/1969, privilegiou o


modelo tecnicista de formação de professores e de especialistas, proporcionando
a fragmentação do trabalho pedagógico e contribuindo para dividir a formação
do pedagogo em habilitações técnicas na graduação.
(FONSECA, Dirce Mendes da. Diretrizes curriculares para os cursos de pedagogia. 2006. Disponível
em http://www.abmes.org.br/publicacoes/revista_estudos/estud22/est22-04.htm).

É importante destacar que esse segundo modo de organização do curso de Pedagogia – formação
de professores – tornou-se predominante na década de 1990 sem, contudo, o antigo modelo ter
sido extinto. Assim, muitas Instituições de Ensino Superior (IES) agregaram à habilitação para
o magistério, uma ou mais habilitações de especialistas, obedecendo parcialmente ao Parecer
CFE no 252/1969. Esse predomínio foi uma decorrência natural do entendimento cada vez mais
claro da urgência em realizar uma formação em nível superior às novas gerações de professores,

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Formação e competências do pedagogo no contexto atual • CAPÍTULO 1

como instrumento de aperfeiçoamento profissional e, consequentemente, de melhoria do Ensino


Fundamental e da Educação Infantil do país.

No processo de consolidação do novo modelo de curso, boa parte das instituições formadoras
tem contemplado o atendimento às demandas sociais específicas com a oferta de disciplinas
optativas, enriquecimento curricular, cursos de extensão e desenvolvimento de projetos especiais.

Nessa última categoria, encontra-se a formação para a docência na Educação de Jovens e Adultos,
na Educação Indígena, na Educação para os Portadores de Necessidades Educativas Especiais,
entre outras, a partir da capacidade instalada e do desenvolvimento da pesquisa das respectivas
áreas nessas instituições.

Porém, a maioria das práticas inovadoras que foram adotadas na renovação dos cursos de
Pedagogia nos últimos quinze anos foi ignorada pelos reformadores oficiais que instauraram
uma nova ordem para a educação do País, no momento da elaboração da nova Lei de Diretrizes
e Bases, a LDB no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

Saiba mais

LEI No 9.394/1996 – TÍTULO VI

Dos Profissionais da Educação

Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de
ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos

I – a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço;

II – aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades.

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de
graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício
do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
modalidade Normal.

Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:

I – cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de
docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental;

II – programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à
educação básica;

III – programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis.

Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação
educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a
critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional.

Art. 65. A formação docente, exceto para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas.

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CAPÍTULO 1 • Formação e competências do pedagogo no contexto atual

Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em
programas de mestrado e doutorado.

Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por universidade com curso de doutorado em área afim, poderá suprir a
exigência de título acadêmico.

Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos
termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público:

I – ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos;

II – aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim;

III – piso salarial profissional;

IV – progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho;

V – período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho;

VI – condições adequadas de trabalho.

§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos
termos das normas de cada sistema de ensino.
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm.

Deve-se destacar, contudo, que muitos desses artigos da Lei original foram alterados posteriormente, por dispositivos legais.
Consulte o site Planalto http://www.planalto.gov.br para acesso às alterações.

Diante das sucessivas determinações legais


Atenção
que procuravam regulamentar os dispositivos
da lei, instituições, entidades de classe e § 2o Para os efeitos do disposto no § 5o do art. 40 e no § 8o do
educadores responsáveis pelos cursos de art. 201 da Constituição Federal, são consideradas funções
de magistério as exercidas por professores e especialistas
Pedagogia, foram em busca de diálogo com
em educação no desempenho de atividades educativas,
o Conselho Nacional de Educação e com o quando exercidas em estabelecimento de educação básica
Ministério de Educação, procurando não em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do

apenas tornar claros os dados da realidade exercício da docência, as de direção de unidade escolar e as
de coordenação e assessoramento pedagógico.
dos Cursos, mas, também, explicitar as razões
de seu desacordo com os rumos traçados
pelas novas políticas governamentais em relação a eles. Os resultados dessa busca revelam-se na
Resolução CNE/CP no 1, de 15 de maio de 2006, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCN) para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura.

Breve percurso das diretrizes curriculares para a formação


do pedagogo

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (DCN-Pedagogia), expressas nos


Pareceres CNE/CP nos 5/2005, 1/2006 e na Resolução CNE/CP no 1/2006, marcaram novo tempo

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Formação e competências do pedagogo no contexto atual • CAPÍTULO 1

e apontaram os novos debates no campo da formação do profissional da Educação no curso de


Pedagogia, na intenção de aprofundar e consolidar sempre mais as discussões, as reflexões nesse
campo. Esse aprofundamento contribuiu para a compreensão mais clara e precisa dos contornos
e das perspectivas que essa formação poderia assumir na organização dos currículos do curso
e nas práticas de formação decorrentes dessas diretrizes aprovadas.

As DCN-Pedagogia/2006 definiam a sua destinação, sua aplicação e a abrangência da formação


a ser desenvolvida nesse curso, quais sejam:

a. à formação inicial para o exercício da docência na educação infantil e nos anos iniciais
do ensino fundamental;

b. aos cursos de ensino médio de modalidade normal e em cursos de educação profissional;

c. à área de serviços e apoio escolar;

d. a outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. A formação assim
definida abrange integradamente a docência, a participação da gestão e avaliação de
sistemas e instituições de ensino em geral, a elaboração, a execução, o acompanhamento
de programas e as atividades educativas (Parecer CNE/CP no 5/2005, p. 6).

Assim, concretiza-se um amplo horizonte para a formação e atuação profissional dos pedagogos.
Tal perspectiva é reforçada nos arts. 4° e 5° da Resolução CNE/CP no 1/2006, que definiam a
finalidade do Curso de Pedagogia e as aptidões requeridas do profissional desse curso:

Art. 4o O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores


para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do
Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de
Educação Profissional, na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas
quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.

Parágrafo único. As atividades docentes também compreendem participação na


organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando:

I – planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de


tarefas próprias do setor da Educação;

II – planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de


projetos e experiências educativas não escolares;

III – produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo


educacional, em contextos escolares e não escolares.

Fonte: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf.

11
CAPÍTULO 1 • Formação e competências do pedagogo no contexto atual

Diante desses dispositivos, define-se, pois, que a formação no curso de Pedagogia deve assegurar
a articulação entre a docência, a gestão educacional e a produção do conhecimento na área da
educação. Com essa determinação, o legislador afasta a possibilidade de redução do curso a uma
formação restrita à docência das séries iniciais do ensino fundamental e aproxima-se, dessa forma,
das propostas de diretrizes apresentadas pela Comissão de Especialistas de Pedagogia de 1999.

A docência nas DCN-Pedagogia/2006 não é entendida no sentido restrito do ato de ministrar


aulas. O sentido da docência é ampliado, uma vez que se articula à ideia de trabalho pedagógico,
a ser desenvolvido em espaços escolares e não escolares, assim sintetizado no Parecer CNE/CP
no 5/ 2005 (p. 7):

Entende-se que a formação do licenciado em pedagogia fundamenta-se no


trabalho pedagógico realizado em espaços escolares e não escolares, que tem
a docência como base. Nesta perspectiva, a docência é compreendida como
ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em
relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos,
princípios e objetivos da pedagogia. Dessa forma, a docência, tanto em processos
educativos escolares como não escolares, não se confunde com a utilização
de métodos e técnicas pretensamente pedagógicos, descolados de realidades
históricas específicas. Constitui-se na confluência de conhecimentos oriundos
de diferentes tradições culturais e das ciências, bem como de valores, posturas
e atitudes éticas, de manifestações estéticas, lúdicas, laborais.
Fonte: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pcp05_05.pdf

Desse modo, o trabalho docente e a docência implicam uma articulação com o contexto mais
amplo, com os processos pedagógicos e os espaços educativos em que se desenvolvem e, ao
mesmo tempo, exigem o desenvolvimento da capacidade de reflexão crítica da realidade em que
se situam esses processos educativos. Com essa concepção, as práticas educativas definem-se e
realizam-se mediadas pelas relações socioculturais, políticas e econômicas do contexto em que
se constroem e reconstroem. Além disso tudo, consolida-se cada vez mais o papel da docência
no curso de Pedagogia.

Assim, a partir do horizonte definido para a formação do profissional da educação no curso de


Pedagogia, as Diretrizes Curriculares Nacionais, desde 2006, indicam os pilares que sustentam
e os contornos que devem assumir essa formação:

A educação do licenciado em pedagogia deve, pois, propiciar, por meio de


investigação, reflexão crítica e experiência no planejamento, execução, avaliação de
atividades educativas, a aplicação de contribuições de campos de conhecimentos,
como o filosófico, o histórico, o antropológico, o ambiental-ecológico, o psicológico,
o linguístico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural. O propósito dos
estudos destes campos é nortear a observação, análise, execução e avaliação do
ato docente e de suas repercussões ou não em aprendizagens, bem como orientar
práticas de gestão de processos educativos escolares e não escolares, além da

12
Formação e competências do pedagogo no contexto atual • CAPÍTULO 1

organização, funcionamento e avaliação de sistemas e de estabelecimentos de


ensino. (Parecer CNE/CP no 5/2005, p. 6)
Fonte: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pcp05_05.pdf.

O Curso de Pedagogia realiza uma formação que favorece a compreensão da complexidade da


escola e de sua organização; que propicia a investigação no campo educacional e, particularmente,
da gestão da educação em diferentes níveis e contextos. Dessa forma, a pesquisa, a produção do
conhecimento no campo pedagógico e o estudo das ciências que dão suporte à Pedagogia, assim
como a própria reflexão sobre a pedagogia como ciência deverão estar presentes no processo
formativo a ser desenvolvido nesse curso, juntamente com o estudo a respeito da escola, da
prática educativa e da gestão educacional.

Essa proposta para a formação do profissional da educação no curso de Pedagogia é abrangente


e exige outra concepção da educação, da escola, da pedagogia, da docência, da licenciatura, que
coloque a educação, a escola, a pedagogia, a docência, a licenciatura no contexto mais amplo
das práticas sociais construídas no processo de vida concreta dos sujeitos sociais, com o fim de
garantir o caráter sócio-histórico desses elementos.

O Curso de Pedagogia define-se como um curso de licenciatura e, nesse sentido, o mencionado


Parecer explicita que a formação para o exercício da docência nas áreas especificadas constitui
um de seus pilares.

A compreensão do conceito de licenciatura definido nessas DCN-Pedagogia/2006 implica uma


sólida formação teórica, tendo como base o estudo das práticas educativas escolares e não
escolares e o desenvolvimento do pensamento crítico, reflexivo e assentado na contribuição das
diferentes ciências e dos campos de saberes que interpenetram o campo da pedagogia.

Para essa sólida formação teórica são exigidas novas formas de se pensar o currículo e sua
organização, para além daquelas concepções fragmentadas, restritas a um elenco de disciplinas
fechadas em seus campos de conhecimento. Ao contrário, as DCN-Pedagogia/2006 apontavam
para uma organização curricular fundamentada nos princípios de interdisciplinaridade, de
contextualização, da democratização, da pertinência e relevância social, da ética e da sensibilidade
afetiva e estética.

Desse modo, os núcleos que definiam a estrutura do curso de Pedagogia – núcleo de estudos
básicos; núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos; núcleo de estudos integradores –
integram-se e articulam-se ao longo de toda a formação, partindo do diálogo entre os diferentes
componentes curriculares, por meio do trabalho coletivo, sustentado no princípio interdisciplinar
dos diferentes campos científicos e saberes que informam o campo da pedagogia.

A formação para a gestão educacional, como indicada desde as DCN-Pedagogia/2006, traz uma
contribuição importante rompendo com visões fragmentadas e fortemente centralizadas da

13
CAPÍTULO 1 • Formação e competências do pedagogo no contexto atual

organização escolar e dos sistemas de ensino. Ao se indicar o campo de atuação do licenciado


em pedagogia, as DCN-Pedagogia/2006 compreenderam, assim, a gestão educacional:

Gestão educacional, entendida numa perspectiva democrática, que integre as


diversas atuações e funções do trabalho pedagógico e de processos educativos
escolares e não escolares, especialmente no que se refere ao planejamento, à
administração, à coordenação, ao acompanhamento, à avaliação de planos
e de projetos pedagógicos, bem como análise, formulação, implementação,
acompanhamento e avaliação de políticas públicas e institucionais na área de
educação. (Parecer CNE/CP no 5/2005, p. 8)
Fonte: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pcp05_05.pdf

O art. 64 da Lei no 9.394/1996 enfatiza que a licenciatura em Pedagogia realiza a formação para
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional, em organizações
(escolas e órgãos dos sistemas de ensino) da educação básica e estabelece as condições em que
a formação pós-graduada para tal deve ser efetivada.

O Parecer CNE/CP n° 3/2006 esclarece de forma mais definitiva as dúvidas sobre a eventual
observância do disposto no art. 64 da Lei no 9.394/1996, comentado acima. Desse modo, o Parecer
reitera a concepção de que a formação dos profissionais da educação, para funções próprias do
magistério e outras, deve ser baseada no princípio da gestão democrática (obrigatória no ensino
público, conforme a CF, art. 206, VI; LDB, art. 3o, VIII) e superar aquelas vinculadas ao trabalho
em estruturas hierárquicas e burocráticas.

Nesse rumo, o Parecer CNE/CP no 5/2005, ao considerar o caráter colegiado da organização


escolar, prevê que todos os licenciados possam ter oportunidade de aprofundamento da formação
pertinente, ao longo de sua vida profissional. Assim, a interpretação baseada em legislação
anterior (Lei no 5.540/1968 e currículos mínimos) que restringia a formação para as funções já
mencionadas aos licenciados de pedagogia.

Certamente, um desafio que fica para os educadores brasileiros é se articularem para uma
intervenção efetiva na definição das orientações que regerão a formação a ser desenvolvida
nos cursos de pós-graduação destinados à “formação dos profissionais para administração,
planejamento, inspeção, supervisão e orientação na educação básica”, de modo que venha a
contribuir, igualmente, para o fortalecimento da gestão democrática da educação e da escola e
a construção de uma educação pública de qualidade.

Novos saberes e fazeres para o pedagogo

Como vimos no item anterior, as DCN-Pedagogia/2006 determinavam a formação de um novo


pedagogo capaz de atuar em variadas dimensões da prática educativa, de forma direta ou
indireta, em atividades de organização institucional, de processos de transmissão e assimilação

14
Formação e competências do pedagogo no contexto atual • CAPÍTULO 1

de conhecimentos e modos de ação, tendo como finalidade a realização de objetivos de formação


humana previamente definidos.

Portanto, a formação dos profissionais da educação deve preocupar-se com a preparação


desses profissionais da área educacional demandados pela atual sociedade brasileira, em sua
configuração atual, para atuarem na organização e na gestão de todos os segmentos do sistema
nacional de ensino.

Do mesmo modo, é também imprescindível a formação de estudiosos que se dediquem à produção


do conhecimento científico na área educativa, já que a educação também é considerada como
um campo científico e que a produção desse conhecimento é requisito que dá base à formação
técnica e docente.

Assim, a formação do profissional da educação é vista sob uma tríplice dimensão: formar um
profissional que possa atuar como docente (licenciado), como gestor (responsável pela organização
dos processos educativos) e como pesquisador (voltado para a produção de conhecimento
científico em educação).

Vale destacar ainda a formação de profissionais da educação para atuar em contextos não escolares.
É marcante a consciência atual da importância e da necessidade da intervenção participante e
eficaz dos pedagogos no campo das práticas socioculturais, uma vez que processos pedagógicos
informais estão sempre presentes nas práticas efetivadas no plano coletivo e comunitário.

Desse modo, desde as atividades dos programas de educação popular, voltados aos mais
diferentes grupos da população que não tiveram a oportunidade de frequentar a escola formal
ou delas foram excluídos, até as propostas de ação pedagógica nas atividades de caráter cultural,
realizadas pelos novos e avançados meios de comunicação de massa, passando pelas diversas
intervenções dos movimentos sociais, a presença e a participação de profissionais da educação
e, em especial, dos pedagogos se fazem necessárias, relevantes e imprescindíveis.

A capacitação formal e sistematizada de agentes e lideranças culturais para o exercício de funções


pedagógicas nos ambientes não escolares não recebeu, até hoje, a devida atenção, haja vista sua
importância como mediadores da ação educativa, necessária e presente no processo informal
de construção de uma cultura articulada com uma proposta de formação da cidadania.

Compreendemos a Pedagogia como o campo do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático


da educação – do ato educativo, da prática educativa como componente integrante da atividade
humana, como fato da vida social, inerente ao conjunto dos processos sociais e não há sociedade
sem práticas educativas.

A Pedagogia não se refere apenas às práticas escolares, mas a um imenso conjunto de outras
práticas. O campo educativo é bastante vasto, uma vez que a educação ocorre em muitos lugares

15
CAPÍTULO 1 • Formação e competências do pedagogo no contexto atual

sob variadas modalidades: na família, no trabalho, na rua, na fábrica, nos meios de comunicação,
na política, na escola.

Desse modo, não podemos reduzir a educação ao ensino e nem a Pedagogia aos métodos de
ensino. Se há uma diversidade de práticas educativas, há, também, várias pedagogias: a pedagogia
familiar, a pedagogia sindical, a pedagogia dos meios de comunicação etc., além, é claro, da
pedagogia escolar.

O pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou


indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e
modos de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua
contextualização histórica.

Os profissionais da educação formados pelo curso de Pedagogia atuarão em vários campos sociais
da educação, em função das novas necessidades e demandas sociais. Tais campos são as escolas
e os sistemas escolares; os movimentos sociais; as diversas mídias, incluindo o campo editorial;
as áreas da saúde; as empresas; os sindicatos e outros que se fizerem necessários.

Nesses campos do exercício profissional, o pedagogo desenvolverá funções de formulação e gestão


de políticas educacionais; organização e gestão de sistemas de ensino e de escolas; planejamento,
coordenação, execução e avaliação de programas e projetos educacionais, relativos às diferentes
faixas etárias (crianças, jovens, adultos, terceira idade); formação de professores; assistência
pedagógico-didática a professores e alunos; avaliação educacional; pedagogia empresarial;
animação cultural; produção e comunicação nas mídias; produção e difusão do conhecimento
científico e tecnológico do campo educacional e outros campos da atividade educacional,
inclusive os não escolares.

Assim, a formação dos pedagogos deve preocupar-se em desenvolver competências e habilidades


como:

» organização e gestão de todos os segmentos do sistema nacional de ensino;

» construção do conhecimento científico na área;

» o exercício da docência na educação básica;

» elaboração e execução de programas de educação popular;

» intervenção pedagógica nas atividades de cunho cultural;

» capacidade pedagógica para atuar nos movimentos sociais, nos meios de comunicação
de massa, nas empresas, nos hospitais, nos presídios, nos projetos culturais e nos
programas comunitários de melhoria da qualidade de vida.

16
Formação e competências do pedagogo no contexto atual • CAPÍTULO 1

Saiba mais

PERFIL DO PEDAGOGO
O perfil do profissional da Educação que se pretende formar está sintonizado com o projeto futuro, com o educador que irá
atuar no terceiro milênio:

» um profissional da Educação com ampla visão do trabalho pedagógico em suas várias dimensões, tanto no sistema escolar
como em outras instâncias educativas;

» um profissional com sólida formação teórica, técnica, científica e pedagógica, compreendendo a multidimensionalidade
do processo educativo;

» um pedagogo-investigador, cuja aproximação com seu objeto de estudo se dá pela pesquisa, articulando teoria e prática, e
capaz de pesquisar, elaborar e reelaborar o conhecimento, aplicando-o em situações concretas;

» um profissional comprometido com seu contínuo aperfeiçoamento teórico-prático, com a busca de especialização
em seus campos de atuação, considerando as perspectivas e as exigências do mundo do trabalho em processo de
transformação;

» um profissional compromissado ética e politicamente com o conjunto da população brasileira.

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DESEJADAS

Competências

» Focalizar a formação do profissional da educação e o papel da pesquisa na formação do pedagogo-pesquisador, do


professor reflexivo, que parte das perspectivas de análise de caráter intraescolar centradas em variáveis internas do
próprio desenvolvimento profissional, e, que também considera suas dimensões contextuais e político-ideológicas, as
inter-relações entre cultura escolar e o universo cultural dos diferentes atores presentes na realidade escolar.

» Formar o professor do Ensino Básico: de Educação Infantil (creche e pré-escola); do Ensino Fundamental (quatro séries
iniciais) regular e na modalidade de Educação Especial, e do Ensino Normal e com aprofundamento em alfabetização de
crianças, jovens e adultos, para atuação formal e na educação não formal e não escolar.

» Formar o profissional da Educação para administrar, planejar, supervisionar, inspecionar e orientar, enfim, para atuar na
educação formal (escolar) e na educação não formal e não escolar.

» Formar o profissional da Educação para atuar no terceiro milênio, numa concepção de educação permanente, de contínuo
aperfeiçoamento teórico-prático, de busca de especialização nos campos de atuação, considerando as perspectivas e as
exigências do mundo do trabalho, em processo de transformação.

Habilidades

» Relações humanas, visando à mobilização dos diferentes agentes do processo educativo.

» Investigação nos vários campos do conhecimento, refletindo acerca dos valores históricos, sociais, éticos, políticos e
culturais.

» Criação, recriação, desenvolvimento, seleção e aplicação de metodologias adequadas ao processo de construção do


conhecimento.

» Seleção, processamento e utilização de novas tecnologias no processo educativo.


Fonte: http://www.abmes.org.br

17
CAPÍTULO 1 • Formação e competências do pedagogo no contexto atual

As atuais diretrizes, contudo, ampliam seu contexto de organização e instituem as Diretrizes


Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos
de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação
continuada – Resolução CNE/CP no 2, de 1o de julho de 2015. Dessa forma, o que antes estava
separado por duas diretrizes, no caso, uma para as licenciaturas e outra para o curso de Pedagogia,
embora sendo também uma licenciatura, passou a ser unificada como a formação de professores
que é o grande desafio da formação para atuação na Educação Básica.

No entanto, vale destacar o que escreve Dourado (2015, p. 304), como justificativa, a partir de
estudos e discussões realizados por diferentes atores que antecederam as atuais diretrizes. Assim
afirma:

É importante salientar que a


Saiba mais
formação de profissionais do
magistério da educação básica Destaca-se aqui o Plano Nacional de Educação 2014-2024:
tem se constituído em campo O Plano Nacional de Educação (PNE) determina diretrizes, metas e estratégias
de disputas de concepções, para a política educacional dos próximos dez anos (2014/2024). O primeiro

dinâmicas, políticas, currículos. grupo são metas estruturantes para a garantia do direito à educação básica
com qualidade, e que assim promovam a garantia do acesso, à universalização
De maneira geral, a despeito das
do ensino obrigatório, e à ampliação das oportunidades educacionais.
diferentes visões, os estudos e Um segundo grupo de metas diz respeito especificamente à redução das
pesquisas, já mencionados, desigualdades e à valorização da diversidade, caminhos imprescindíveis para
a equidade. O terceiro bloco de metas trata da valorização dos profissionais
apontam para a necessidade de
da educação, considerada estratégica para que as metas anteriores sejam
se repensar a formação desses atingidas, e o quarto grupo de metas refere-se ao ensino superior.
profissionais. Nessa direção, Fonte: http://pne.mec.gov.br/

considerando a legislação em
vigor, com especial realce para o PNE, suas metas e estratégias.

As metas e estratégias desse plano foram fundamentais, assim como a Lei de Diretrizes e Bases
no 9.394/1996 para as discussões sobre a formação de professores. Particularmente, dada a
relevância dessa formação, uma vez que grande parte desses professores atua ainda com uma
formação sem nível superior.

O Resumo Técnico do Censo Escolar da Educação Básica destaca que:

Em 2013, havia mais de 2,1 milhões de professores atuando na Educação Básica


no Brasil. Dentre vários aspectos levantados no Censo Escolar, destaca-se o nível
de formação do docente. Na Tabela 26, se observa a melhoria da proporção de
docentes com formação superior. (MEC/Inep/Deed, 2014, p. 36)
Fonte: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/resumos_tecnicos/resumo_
tecnico_censo_educacao_basica_2013.pdf

18
Formação e competências do pedagogo no contexto atual • CAPÍTULO 1

Vide a seguir a tabela 26 comentada anteriormente:

Número de Docentes Atuando na Educação Básica e Proporção por Grau de Formação – Brasil – 2007-2013

Fonte: MEC/Inep/Deed, 2014, p. 36. http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/resumos_tecnicos/


resumo_tecnico_censo_educacao_basica_2013.pdf

Portanto, a preocupação com a formação de professores permitiu unificar um documento que


compreende a formação inicial para os profissionais do magistério para a Educação Básica, em
Nível Superior da seguinte maneira:

Art. 9o Os cursos de formação inicial para os profissionais do magistério para a


Educação Básica, em Nível Superior, compreendem:

I – cursos de graduação de licenciatura;

II – cursos de formação pedagógica para graduados não licenciados;

III – cursos de segunda licenciatura.

Dessa forma, podemos observar uma política educacional de formação inicial sendo fortalecida
desde 2006 que, no caso do curso de Pedagogia, vem se destacando o papel docente nos diferentes
contextos, a gestão escolar e, mais recentemente, a valorização da pesquisa no campo educacional.
É justamente em relação à atuação docente ampliada para diferentes contextos que nos interessa
nessa disciplina, cujas duas últimas diretrizes (2006 e 2015) destacaram.

19
CAPÍTULO 1 • Formação e competências do pedagogo no contexto atual

Resumo

Vimos neste capítulo:

» O Curso de Pedagogia a partir dos meados da década de 1980 era organizado em duas
grandes tendências: a primeira tendência formava profissionais licenciados habilitados
para o exercício da docência das disciplinas pedagógicas nos cursos de Magistério
em nível médio e os profissionais para atuarem junto às escolas e sistemas de ensino:
administradores escolares, supervisores e orientadores educacionais e inspetores do
ensino.

» A segunda formava os licenciados habilitados para o exercício do magistério nos Anos


Iniciais do Ensino Fundamental e, em alguns casos, na Educação Infantil e para o
magistério das disciplinas pedagógicas do Nível Médio.

» As Diretrizes Curriculares Nacionais definem que o Curso de Pedagogia destina-se


à formação para a docência, para a participação da gestão e avaliação de sistemas e
instituições de ensino em geral, para a elaboração, a execução, o acompanhamento de
programas e as atividades educativas escolares e não escolares.

» A partir das Diretrizes Curriculares ampliaram-se campos sociais de trabalho do Pedagogo.


Tais campos são as escolas e os sistemas escolares; os movimentos sociais; as diversas
mídias, incluindo o campo editorial; as áreas da saúde; as empresas; os sindicatos e
outros que se fizerem necessários.

» O Pedagogo desenvolverá funções de formulação e gestão de políticas educacionais;


organização e gestão de sistemas de ensino e de escolas; planejamento, coordenação,
execução e avaliação de programas e projetos educacionais, relativos às diferentes
faixas etárias (crianças, jovens, adultos, terceira idade); formação de professores;
assistência pedagógico-didática a professores e alunos; avaliação educacional; pedagogia
empresarial; animação cultural; produção e comunicação nas mídias; produção e difusão
do conhecimento científico e tecnológico do campo educacional e outros campos da
atividade educacional, inclusive os não escolares.

20
PEDAGOGIA PARA ALÉM DA ESCOLA
CAPÍTULO
2
Apresentação

Continuando nossa abordagem sobre a gestão educacional, em que damos destaque à Pedagogia
e ao pedagogo, seus saberes e seus fazeres, este capítulo, denominada Pedagogia para além da
escola discute os espaços educativos diferentes da escola, que necessitam das capacidades,
competências e habilidades desse profissional da educação.

Os assuntos tratados aqui darão a você a possibilidade de conhecer as diferentes áreas do


mercado de trabalho em que nós, pedagogos, podemos trabalhar, colocando à disposição da
sociedade nossos conhecimentos e contribuindo cada vez mais para a formação de cidadãos
críticos e criativos.

Leia e discuta com seus pares os temas apresentados, preste atenção às dicas e aos destaques e
faça um bom trabalho!

Objetivos

» Identificar alguns espaços não escolares em que o pedagogo pode desenvolver sua
prática educativa.

» Verificar as competências e habilidades que o pedagogo precisa desenvolver para realizar


seu trabalho em espaços não escolares.

21
CAPÍTULO 2 • Pedagogia para além da escola

Apresentação

Pimenta (2001) aponta indicativos para a formação do pedagogo cientista educacional, como um
profissional que atue como gestor/pesquisador/coordenador de diversos projetos educativos,
dentro e fora da escola: pressupondo sua atuação em atividades de lazer comunitário; em espaços
pedagógicos nos hospitais e presídios; na formação de pessoas dentro das empresas; que saiba
organizar processos de formação de educadores de ONGs; que possa assessorar atividades
pedagógicas; que esteja habilitado à criação e elaboração de brinquedos, materiais de autoestudo,
programas de educação a distância; que organize, avalie e desenvolva pesquisas educacionais em
diversos contextos sociais; que planeje projetos culturais e afins. Neste capítulo, apresentamos
espaços não escolares em que os conhecimentos da Pedagogia são empregados.

Pedagogia nas instituições de saúde

O espaço do hospital é um centro de referência e tratamento de saúde que, muitas vezes, provoca
um ambiente de dor, sofrimento e morte, causando uma forma de ruptura entre crianças e
adolescentes com os laços que mantêm com seu cotidiano e com a produção da existência
da construção de sua própria aprendizagem. Diante dos problemas de saúde que exigem
hospitalização, independente do tempo de internação, por meio de políticas públicas e estudos
acadêmicos, verifica-se a necessidade da implantação da Pedagogia Hospitalar.

A Pedagogia Hospitalar busca, há anos, sua verdadeira definição e vem se apresentando como um
processo educativo não escolar que propõe desafios aos educadores e possibilita a construção
de novos conhecimentos e atitudes.

Historicamente, a Pedagogia Hospitalar nasceu com a criação das classes hospitalares quando
Henri Sellier inaugurou a primeira escola para crianças inadaptadas nos arredores de Paris. Seu
exemplo foi seguido na Alemanha, em toda a França, na Europa e nos Estados Unidos, com o
objetivo de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas.

O grande número de crianças e adolescentes atingidos, mutilados e impossibilitados de ir à


escola durante a Segunda Guerra Mundial, fez criar um movimento, sobretudo dos médicos,
considerado como ação decisiva para a ampliação das escolas em hospital.

No Brasil, a legislação reconheceu pelo Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado, por


meio da Resolução no 41, de outubro e 1995, no item 9, o “Direito de desfrutar de alguma forma
de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar
durante sua permanência hospitalar”.

22
Pedagogia para além da escola • CAPÍTULO 2

Em 2002, o Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria de Educação Especial, elaborou
um documento de estratégias e orientações para o atendimento nas classes hospitalares,
assegurando o acesso à Educação Básica.

Assim, a legislação brasileira reconhece e garante o direito de crianças e adolescentes hospitalizados


ao acompanhamento pedagógico-educacional, estabelecendo que a educação em hospital seja
realizada por meio da organização de classes hospitalares, devendo-se assegurar oferta educacional
não só aos pequenos pacientes com transtornos do desenvolvimento, mas, também, às crianças
e adolescentes em situações de risco, como é o caso da internação hospitalar (FONSECA, 1999).

A criança e/ou o adolescente, quando submetido a tratamento de saúde em hospital, por período
prolongado, na grande maioria das vezes, desenvolve atraso na escolaridade e quase sempre
abandona a escola devido às dificuldades que encontra no seu retorno.

O período de internamento também prejudica as atividades sociais da criança, uma vez que no
hospital ela fica mais afastada da família, da escola, dos amigos, confinada em espaço limitado
e convivendo em um ambiente que não favorece as relações de alegria e relações sociais.

Um elemento importante presente no ambiente hospitalar é a ausência de atividade, o que provoca


na criança e/ou no adolescente a falta de entusiasmo, de alegria e de ânimo e, consequentemente,
dificuldade para recuperar a saúde.

Diante desses elementos, o trabalho do pedagogo no hospital é extremamente importante para


atender a essas necessidades psicológicas, sociais e pedagógicas da criança, a fim de evitar tantos
prejuízos.

A Pedagogia Hospitalar divide-se, basicamente em três modalidades:

» Classe Hospitalar: quando a atividade pedagógica realiza-se no ambiente hospitalar, para


que a criança e/ou o adolescente na condição de internação temporária ou permanente,
tem garantido seu vínculo com a escola e/ou favorecendo o ingresso ou retorno ao seu
grupo escolar correspondente.

Fonte: http://pedagogiahospitalarunb.blogspot.com.br/2013/07/textos-interessantes-sobre-classe.html

23
CAPÍTULO 2 • Pedagogia para além da escola

» Brinquedoteca: possibilita o desenvolvimento de competências e habilidades para a


aprendizagem sobre o mundo, sobre as pessoas, e sobre si mesma. A brinquedoteca é
o espaço em que está assegurado à criança o direito de brincar.

Fonte: https://www.estudopratico.com.br/primeira-brinquedoteca-do-mundo-surgiu-ha-mais-de-80-anos/.

» Recreação Hospitalar: atividade que oferece a oportunidade de a criança brincar, em


situações que vão além do contato ou interação com o brinquedo, voltadas para o
movimento corporal, a contação de histórias, a dramatização; constitui-se na possibilidade
da realização de atividades individuais e/ou grupais que podem ser realizadas em espaço
interno ou externo.

O trabalho pedagógico no ambiente hospitalar exige um planejamento bastante diversificado,


pois as crianças e os adolescentes internados apresentam características bastante diversificadas:
têm faixas etárias diferentes, o quadro clínico é variado, a medicação a ser utilizada é diversa, as
condições emocionais do processo de internação variam um para outro, a aceitação da doença
se manifesta de diversas maneiras, tanto pela família como pelo paciente, o tempo de internação
é variável, entre outros aspectos.

Todos esses elementos fazem com que a organização do trabalho didático-pedagógico no


ambiente hospitalar garanta que as atividades tenham início e fim todos os dias, bem como,
atendam às diferentes faixas etárias.

Isso significa o planejamento de diversas atividades para cada dia, porque as crianças e os
adolescentes podem receber alta a qualquer momento, ou ainda, passarem a usar uma medicação
específica e não poderem sair de seus quartos, ou então, realizarem alguma cirurgia e permanecerem
nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), ou mesmo ficarem indispostos por fatores próprios
do processo de internação (SAGATIO, 2007).

A prática pedagógica nesse locus de atendimento exige dos profissionais da educação maior
flexibilidade, haja vista a quantidade de crianças que serão atendidas, e o período que cada
uma delas permanecerá internada, assim como às diferentes patologias. Para esse atendimento
é preciso flexibilidade na definição e organização das atividades, constituindo-se em um
desafio a ser enfrentado. Os pedagogos devem buscar parceria com os familiares, que exercem

24
Pedagogia para além da escola • CAPÍTULO 2

importante papel, como figura de apoio e cooperação no sucesso da qualidade do processo


ensino-aprendizagem e na qualidade de vida (HAMZE).

O trabalho da Pedagogia Hospitalar realiza-se numa dimensão fortemente multiprofissional,


portanto, é fundamental o exercício da ética. Todas as manifestações de comunicação entre
pacientes e profissionais das diversas áreas devem ter o sigilo garantido, respeitado o direito de
privacidade das informações de cada paciente, bem como a confiança que o paciente deposita
nas pessoas com quem se relaciona.

O trabalho no ambiente hospitalar é específico e vai além das rotinas médicas, pois, ao mesmo
tempo em que a criança e/ou o adolescente sente-se mais confiante no ambiente hospitalar,
porque, de alguma maneira, sabe que aquele espaço pode ajudar a melhorar seu quadro clínico,
há toda a angústia gerada pela falta do convívio familiar, que passa a obedecer a algumas regras,
pelo sentimento de isolamento das relações sociais a que estava habituado fora do hospital, além
de que necessita aprender a conviver com pessoas que até então não faziam parte de sua vida. Por
isso, a importância da ética durante todo o trabalho pedagógico no processo de hospitalização.

Enfim, tudo precisa ser observado quando da organização do trabalho educativo no ambiente
hospitalar, desde um planejamento diversificado e flexível até o entrar e o sair da criança e/
ou do adolescente no espaço em que estão sendo desenvolvidas as atividades. Todo esse
trabalho precisa estar impregnado pela ética, para que realmente se possa realizar um trabalho
didático-pedagógico qualitativo e consistente no ambiente hospitalar. (SAGATIO, 2007)

Pedagogia nas instituições judiciárias

A violência entre crianças/adolescentes tem crescido grandemente, de modo que, semelhante


aos adultos em seus delitos, conscientes, pois, do que querem fazer, e não apenas subprodutos
indefesos de uma situação social que os exclui.

Não é mais uma questão de cunho exclusivamente político-social, mas jurídico, especialmente
no que diz respeito à punição dos infratores. Entende-se que a preocupação dos legisladores em
relação à elaboração de medidas socioeducativas recuperativas é explicada pelo fato de a criança/
adolescente ser ainda um indivíduo em processo de construção da personalidade, que por um
ou outro motivo, comete delito, mas que ainda pode ser resgatado para uma sociedade justa no
futuro, afastando-o da grande possibilidade de continuar na criminalidade (QUEIROGA, 2003).

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) construiu um novo modelo de responsabilização


do adolescente infrator, rompendo com a doutrina da situação irregular, promovendo o então
“menor”, de mero objeto do processo, para uma nova categoria jurídica, passando-o à condição
de sujeito do processo, estabeleceu uma relação de direito e dever, garantindo-lhe a proteção
social básica (SARAIVA, 2002).

25
CAPÍTULO 2 • Pedagogia para além da escola

A proteção social básica dispensada à criança/adolescente em situação de risco pessoal e social


(prioritariamente em situação de violência familiar, negligência, exploração sexual, desnutrição,
vínculos familiares rompidos ou fragilizados) é garantida, entre outras ações, pelas medidas
socioeducativas.

O ECA prevê dois grupos distintos de medidas socioeducativas:

1. o grupo das medidas socioeducativas em meio aberto, não privativas de liberdade


(advertência, reparação do dano, prestação de serviços à comunidade e liberdade
assistida);

2. o grupo das medidas socioeducativas privativas de liberdade (semiliberdade e internação).

Em relação ao primeiro grupo de medidas, a plena realização desses programas está vinculada
em direta proporção ao grau de comprometimento do Juizado da Infância e Juventude local
com sua efetivação.

Em relação às medidas socioeducativas que importam em privação de liberdade, a efetivação


dos programas de atendimento é de competência do Executivo das Unidades Federadas,
relativamente ao primeiro grupo de medidas, os programas são realizados pelos próprios Juizados
(excepcionalmente), ou por estes em articulação com o Estado, ou, preferencialmente, com
Município ou por organizações não governamentais. (SARAIVA, 2009).

O Educador Social, profissional que atua nos campos da educação não formal, na educação
de adultos, na inserção social de pessoas com dificuldade de inclusão, bem como em ações
socioeducativas. Entre as disciplinas básicas, estão: didática geral, educação permanente,
intervenção educativa sobre os problemas fundamentais da desadaptação social, novas tecnologias
aplicadas à educação, programas de animação sociocultural, psicologia do desenvolvimento,
psicologia social e das organizações, sociologia e antropologia social, teoria e instituições
contemporâneas de educação, práticas, entre outras.

Na execução das medidas socioeducativas em vista as necessidades pedagógicas, enfatizando-se


o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e o pessoal encarregado da execução,
deve ser especializado, preferindo-se educadores, trabalhadores sociais, psicólogos e advogados.

Os órgãos encarregados deverão elaborar um Plano Individual de execução da medida socioeducativa,


em cada caso, visando ao desenvolvimento pessoal do adolescente, sua reinserção na família
e na sociedade, bem como o desenvolvimento das capacidades relativas à responsabilidade e
ao respeito pelos direitos e deveres individuais e coletivos. O referido plano será elaborado por
equipe interdisciplinar, composta, preferencialmente, por educador, assistente social, psicólogo,
advogado e médico.

26
Pedagogia para além da escola • CAPÍTULO 2

Em cada centro de cumprimento de medida socioeducativa que importe em privação ou restrição


de liberdade, haverá sempre um diretor administrativo e um diretor técnico, com atribuições
bem definidas e independência na área das respectivas funções. O ocupante do cargo de diretor
de estabelecimento deverá satisfazer os seguintes requisitos: I – ser portador de diploma de Nível
Superior de Direito, ou Pedagogia, ou Psicologia, ou Serviço Social, ou Ciências Sociais.

Nos centros socioeducativos haverá uma equipe técnica composta, no mínimo, por um educador,
um psicólogo e um assistente social, que deverá:

» elaborar, em conjunto com o adolescente, o plano Individual da Execução;

» informar ao juiz da execução a respeito das dificuldades para o cumprimento do plano,


especialmente a falta de colaboração ou o descumprimento de deveres, bem como a
falta de cooperação dos encarregados da execução, sejam eles funcionários do centro
ou de outras repartições, bem como familiares;

» garantir o respeito aos direitos fundamentais dos adolescentes, informando ao juiz da


execução qualquer ameaça ou violação desses direitos;

» proceder a diligências diretamente junto à família ou por meio dos Conselhos


Tutelares do local de residência dos pais ou responsável, visando ao estabelecimento
ou restabelecimento dos vínculos familiares e comunitários;

» encaminhar relatório fundamentado do juiz da execução, propondo progressão ou


regressão da medida e explicitando os esforços no sentido da reintegração sociofamiliar.

O profissional encarregado da execução deve ter adequada preparação profissional e experiência


no trabalho com adolescentes, e os educadores deverão ter formação pedagógica.

Pedagogia nos museus

O reconhecimento dos museus como ambientes de aprendizagem é bem recente, os profissionais


que nele atuam preocupam-se com o tipo de aprendizagem que podem ali ser desenvolvidas.

Trata-se de um ambiente de aprendizagem, cuja possibilidade de diferentes experiências e


interações, tanto no plano afetivo quanto cultural, permite explorar novas situações pedagógicas
com estruturas diversificadas próprias de um espaço que não é escolar, logo uma estrutura
não formal. Contudo, a necessidade de um pedagogo mostra-se fundamentalmente com uma
especificidade das práticas pedagógicas para esses espaços.

A pedagogia nos museus acompanha os novos projetos educativos que são implementados a cada
nova exposição, na medida em que é reconhecida a necessidade de interação entre os visitantes
das exposições e os objetos do conhecimento ali expostos. É uma mediação de cunho pedagógico

27
CAPÍTULO 2 • Pedagogia para além da escola

que torna vivo o conhecimento, por meio da curiosidade e da observação dos visitantes aos
objetos do conhecimento.

Simonneaux e Jacobi (1997) descrevem as etapas de uma transposição museográfica do saber


de referência, o saber científico, para o conhecimento a ser apresentado em uma exposição,
um saber pela experiência. Para isso, é importante uma abordagem que se utilize de diferentes
linguagens (sensoriais, ilustrativas...) que facilitem a interação dos visitantes e a compreensão
da exposição.

A interatividade, no entanto, necessita de aproximação e envolvimento, sem os quais pode


comprometer o resultado esperado no projeto da exposição, fazendo com que o visitante tenha
uma experiência a ser lembrada porque foi vivida e sentida.

Dessa forma, a apropriação do conhecimento do(s) objeto(s) em exposição que o visitante


manipulou e sentiu, também, permitiu a construção de hipóteses, a subjetividade da experiência
e do conhecimento.

Muito embora os visitantes já disponham de concepções antecipadas e modelos explicativos, a


oportunidade de construir alternativas a estes deve fazer parte do projeto pedagógico relacionado
às exposições desde que não sejam desprezadas as formas como os visitantes podem compreender
e atribuir sentido àqueles objetos do conhecimento.

Atualmente as exposições fazem uso da ciência, contudo, numa abordagem diferenciada por
ser social, interativa e cultural. Desse modo, trata-se de uma ciência polêmica, atual, não fixada,
tem um movimento social e cultural próprio que convoca os visitantes à reflexão de temas da
sociedade contemporânea. (SIMONNEAUX; JACOBI, 1997). A cultura das ruas, dos jornais, da
vida adentra os museus e convoca os visitantes aos debates político-sociais, ativamente.

Trata-se de tendências pedagógicas da educação, na qual a pedagogia museal se apropria, ainda


que por meio de educação não formal, mas que não deixa de valorizar a ciência de maneira
autônoma e criativa.

Os museus são espaços diferentes da escola, com uma cultura própria. É um espaço social
particular que possui ritos próprios, códigos específicos. Nos museus de ciências, por exemplo,
a cultura científica em especial irá se manifestar, fazendo parte, nesse local, de uma cultura mais
ampla, a cultura museal.

Entretanto, faz parte de sua cultura o trabalho pedagógico ali desenvolvido. Pedagógico porque
ali são realizadas e ampliadas aprendizagens, há troca de saberes e processos de construção
intelectual na relação visitante acervo museológico.

28
Pedagogia para além da escola • CAPÍTULO 2

Saiba mais

A exposição de museus pode ser considerada uma unidade pedagógica, em que se dá a relação entre
mediador-saber-público. Para estudar essa relação é importante o aprofundamento numa “pedagogia de museu”,
procurando a compreensão do sistema didático existente nesse espaço. Nesse sentido, considera-se que a exposição é o local
em que se expressa o processo de didatização/musealização do saber sábio nos museus. Além disso, estudar a construção do
discurso expositivo, entendido como um tipo de discurso pedagógico implica entender processos de re-contextualização que
ocorrem nesses espaços. (BERNSTEIN, 1996, apud MARANDINO, 2013, p. 2)

Resumo

Vimos até agora:

» O pedagogo é um profissional que atua como gestor/pesquisador/coordenador dentro


e fora da escola.

» Sua atuação pressupõe: atividades de lazer comunitário, nos espaços pedagógicos,


tais como os hospitais e presídios; formação de pessoas nas empresas; organização de
processos de formação de educadores de ONGs.

» O pedagogo está apto a formar nos indivíduos hábitos necessários à nova organização
social, que tem apenas na competição seu elemento privilegiado em face das novas
exigências do mundo do trabalho, trazendo seus conhecimentos para a compreensão
crítica do mundo, seja nos hospitais, nas instituições judiciárias ou nos museus.

29
CAPÍTULO
PEDAGOGIA NOS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO DE MASSA 3
Apresentação

Continuando nossa abordagem sobre a gestão educacional, no qual damos destaque à Pedagogia
e ao pedagogo, este capítulo trata especificamente da Pedagogia nos meios de comunicação de
massa que se tornou um importante instrumento educacional, a depender das capacidades,
competências e habilidades da atuação desse profissional da Educação.

Alguns exemplos em destaque neste capítulo mostram as possibilidades educativas, cujo


pedagogo tem um papel fundamental com seus conhecimentos para a formação de cidadãos
críticos e criativos.

Leia e, também, pesquise sobre outros exemplos de projetos, tanto aqueles bem-sucedidos
como não, a fim de estabelecer uma visão crítica sobre a atuação docente e seus resultados em
espaços não escolares.

Objetivos

» Identificar o papel dos meios de comunicação de massa como instrumentos educativos,


mesmo não se tratando de um espaço escolar.

» Reconhecer a importância das parcerias entre empresas e sistemas de jornal, rádio e TV


para viabilizar projetos educativos inovadores e criativos.

30
Pedagogia nos meios de comunicação de massa • CAPÍTULO 3

Apresentação

Na atualidade discute-se muito sobre a educação ultrapassando os muros da escola e, ao mesmo


tempo, o mundo invadindo a sala de aula de diferentes formas. Pensando nisso, é relevante
conhecermos experiências que se articulam dentro e fora da escola, cujo pedagogo tem um papel
fundamental com seus conhecimentos e reflexões sobre importantes temas que perpassam esse
universo de transição no qual crianças, adolescentes e adultos participam e recebem influência.

Trata-se de situações de aprendizado, cujas atividades pedagógicas podem ser assessoradas pelo
pedagogo nos diferentes meios de comunicação, tais como, TV, rádio, internet, tornando mais
pedagógicas campanhas sociais educativas sobre violência, drogas, AIDS, dengue, por exemplo.

Televisão

A TV se transformou em um bem de primeira necessidade. Ela é encontrada nas casas mais ricas
e nas mais simples, nas escolas, nos salões de festa, bares e restaurantes, e por meio dela temos
acesso às mais diferentes informações, das mais diversas qualidades.

A TV é um meio de comunicação, de produção e transmissão de imagens e sons, informação,


publicidade e divertimento. Num caso como no outro, o certo é que a televisão é parte integrante
e fundamental de complexos processos de veiculação e de produção de significações, de sentidos,
os quais por sua vez estão relacionados a modos de ser, a modos de pensar, a modos de conhecer
o mundo, de se relacionar com a vida. (FISCHER, 2003)

Fischer (2003) afirma que a televisão é instrumento privilegiado de realização de aprendizagens


diversas; aprendemos com ela formas de olhar e tratar nosso próprio corpo, modos de estabelecer
e de compreender diferenças: diferenças de gênero, diferenças políticas, econômicas, étnicas,
sociais, geracionais (aprendemos modos de agir, modos de ser de crianças, de negros, de pobres
ou ricos, e assim por diante).

Desse modo, é fundamental refletir e discutir sobre o quanto nós, professores, ainda sabemos
muito pouco a respeito das profundas transformações que têm ocorrido nos modos de aprender
dos mais jovens. O que é para eles ter ou buscar informação? De que modo suas preferências
estão sendo formadas? O que buscam ver na TV, o que veem e o que dizem do que veem? Que
sons lhes são familiares, aprendidos na mídia? O que lhes dá prazer nas imagens midiáticas?
(FISCHER, 2003).

31
CAPÍTULO 3 • Pedagogia nos meios de comunicação de massa

Saiba mais

Essas são algumas perguntas cujas respostas não separam “forma” de “conteúdo”. Elas indicam que os recursos utilizados na
elaboração de um programa ou mesmo um comercial e todas as estratégias de divulgação desses produtos, comunicam algo,
participam da defesa de um ponto de vista, de uma ideia e, portanto realizam uma ação pedagógica.

As famílias, diante da televisão realizam escolhas que estão determinadas por valores, posições políticas, éticas, estéticas.
Compreendem, como afirma Almeida (1994), que o acesso a informação em imagem-som propõe uma maneira de
inteligibilidade, sabedoria e conhecimento que nos leva a acordar algo adormecido em nosso cérebro para entendermos o
mundo atual, não só pelo conhecimento fonético-silábico das nossas línguas, mas pelas imagens-sons também.
Fonte: http://www.tvebrasil.com.brt/salto/boletins2003/dtel/index.htm

Assim, a televisão é importante para o desenvolvimento de projetos de sala de aula, possibilitando


ao aluno novas formas de aprender, articulando as diferentes linguagens e representações
do conhecimento, embora não seja suficiente para que seu uso pedagógico seja efetivo. A
integração das mídias nos diferentes processos pedagógicos e de conteúdos de diferentes áreas
do conhecimento, bem como o trabalho em grupo, favorece o desenvolvimento de competências,
cada vez mais necessárias na sociedade atual. (ALMEIDA E PRADO, 2003).

Assim, os pedagogos, antes de condenar a TV como um meio de comunicação que aliena,


precisam aprender sua linguagem e procurar desenvolver a ação pedagógica na organização dos
programas que são veiculados. Veja o exemplo de um projeto desenvolvido pelo Canal Futura e
veja como nós, pedagogos, temos muito que fazer na televisão.

Projeto educativo em espaços não escolares

Exemplo 1: Educação nos trilhos

O programa Educação nos trilhos transforma a ferrovia num veículo de educação, estimulador
de ações de cidadania.

Criado em 2000 em parceria com a Fundação Vale do Rio Doce, o Educação nos Trilhos é um
projeto socioeducativo que acontece nas estações e nos trens de passageiros da Companhia Vale
do Rio Doce. Utilizando a programação do Canal Futura associada a ações de mobilização, o
projeto contribui para a melhoria da qualidade de vida dos usuários e das comunidades ao longo
das ferrovias. Por ano, são beneficiadas cerca de 500 mil pessoas que circulam pelas Estradas de
Ferro Carajás (PA e MA) e Vitória a Minas (ES e MG). O projeto divide-se em duas etapas, Estação
Conhecimento e Teletrem.

» Estação Conhecimento: nas estações, antes da chegada e partida do trem, são exibidos
vídeos com programas do Canal Futura e são realizadas atividades pedagógicas, sociais
e de entretenimento com orientação de mobilizadores comunitários, que levam os

32
Pedagogia nos meios de comunicação de massa • CAPÍTULO 3

participantes a aprender brincando. São promovidos debates, oficinas temáticas


(educação para a cidadania, educação ambiental, saúde etc.) e eventos, envolvendo os
viajantes e acompanhantes.

As Estações Conhecimento funcionam diariamente na Estrada de Ferro Carajás, que


liga a capital do Maranhão ao sul do Pará (estações de São Luís, Santa Inês, Açailândia,
Marabá e Parauapebas), e na Estrada de Ferro Vitória – Minas, que liga os estados do
Espírito Santo e Minas Gerais (estações de Cariacica, Baixo Gandu, Aimorés, Governador
Valadares e Belo Horizonte).

» Teletrem: durante a viagem são transmitidos os programas do Canal Futura. Uma


faixa de programação especial é produzida mensalmente e veiculada dentro dos trens.
Os programas são selecionados de acordo com pesquisas que ajudam a definir as
necessidades e demandas dos usuários do trem.

Assim, os programas abordam conteúdos curriculares de Educação Básica, questões e serviços


relacionados às áreas de saúde, trabalho, direitos do cidadão, ecologia e patrimônio cultural,
além de assuntos relacionados à realidade local e que deem aos espectadores uma visão mais
abrangente do mundo.

Além dos programas de arquivo do Canal Futura, também são produzidos conteúdos específicos,
que vão desde interprogramas com dicas úteis aos passageiros, a partir do cotidiano das viagens
no trem, a documentários abordando aspectos culturais regionais. Esses programas são gravados
na região e têm objetivo de promover a identificação do público.

O Teletrem funciona diariamente, durante todas as viagens do trem de passageiros da Estrada


de Ferro Carajás e está em implantação na Estrada de Ferro Vitória – Minas, com previsão para
inaugurar no primeiro semestre de 2006.

O Educação nos Trilhos é monitorado por pesquisas que ajudam a promover melhorias no projeto,
aperfeiçoar e criar novas ações de programação e atividades nas Estações Conhecimento, além
de medir os resultados do projeto. O projeto vem contribuindo para mudanças qualitativas
e conquista da autoestima dos participantes, que se sentem valorizados com a iniciativa.
Verificam-se também melhorias (mudanças) nos hábitos dos usuários em relação à limpeza e
conservação do trem e das estações, com redução do vandalismo.

» Exemplos de atividades realizadas no contexto do projeto:

› atividades educativas, culturais, sociais e de entretenimento;

› brinquedoteca, videoteca nas Estações de Conhecimento, nos embarques e


desembarques do trem;

33
CAPÍTULO 3 • Pedagogia nos meios de comunicação de massa

› valorização de grupos culturais locais por meio de atividades temáticas realizadas


nas Estações Conhecimento;

› atividades de mobilização dentro do trem em datas comemorativas;

› mobilização mensal das comunidades por meio do Portões Abertos.

» Conteúdos que o projeto aborda e provocam maior interesse no público:

› alimentação;

› prevenção de DSTs /AIDS;

› educação/respeito com as pessoas;

› cultura regional;

› preservação do meio ambiente;

› comportamento adequado nos trens;

› higiene;

› educação dos filhos;

› coleta seletiva de lixo;

› plantação e criação de animais.

(Fonte: http://www.futura.org.br.data)

Exemplo 2: Programa jornal escola

O papel do educador/agente de leitura

A eficácia do trabalho pedagógico com o jornal depende, na maior parte, da competência e


criatividade dos professores, bibliotecários e outros profissionais que se envolvem.

O programa de Jornal e Educação é desenvolvido principalmente pelo trabalho do professor.


Porém, nada impede que ocorra em uma escola, independentemente do trabalho em sala de
aula. Um bibliotecário dinâmico poderá centralizar as atividades na biblioteca. Um diretor ou
coordenador pedagógico poderá montar um cantinho da leitura em algum lugar, facilitando o
acesso dos alunos, e de mais interessados da comunidade, aos jornais e criando estratégias para
motivá-los.

A preparação do professor é feita por meio de encontros, palestras, oficinas, cursos nas dependências
do jornal, nos órgãos de educação, Secretarias Municipais de Educação, Diretorias de Ensino e
nas próprias unidades escolares, geralmente nos horários destinados a reuniões pedagógicas. A

34
Pedagogia nos meios de comunicação de massa • CAPÍTULO 3

orientação é feita também por meio de material pedagógico preparado para esse fim e publicações
no próprio jornal e no site.

No início das atividades e no decorrer do ano são realizadas reuniões de coordenadores, encontros
de educadores, seminários, oficinas e outros eventos. A participação dos professores nessas
ocasiões, embora seja facultativa, é de grande importância para que haja troca de experiências,
estímulo para o trabalho, apresentação de novas propostas e replanejamentos de aspectos que
não estejam funcionando bem.

Retorno para o professor: a utilização do jornal possibilita a atualização do professor, mantendo-o


sintonizado com o momento atual e ampliando sua bagagem cultural e seu engajamento social.
Com o jornal, o educador se liberta da rotinização e suas aulas podem ser mais agradáveis e
interessantes. Com isso, cresce o professor e o trabalho se torna menos árduo e mais motivador.
Com a troca de experiências e a publicação das mais interessantes o profissional sente seu
trabalho valorizado e tem mais motivação.

No programa Jornal-Escola há a integração de professores de diversas redes de ensino, pública


e particular, ONGs de diversas cidades, o que proporciona oportunidade de interação entre os
docentes.

Metodologia

Quantas questões desafiantes estão aí a checar a prática escolar! Vivendo na época da quarta
onda, do poder da informação, o mínimo que a escola pode fazer é começar a explorar os
recursos que o jornal oferece, por ser de fácil acesso e não exigir tecnologia sofisticada, como
ocorre com os recursos informatizados. O programa Jornal e Educação leva às escolas não só
os exemplares, mas, também, orientação aos educadores quanto à metodologia adequada para
maior produtividade e qualidade do trabalho.

O jornal não é livro didático. O jornal é fonte de informação. Se for didatizado, servindo apenas
para explorar conteúdos curriculares prefixados e estanques, não atenderá ao principal objetivo
do programa Jornal e Educação, que é o incentivo à leitura e formação de leitores críticos e
conscientes. A valorização da informação, a abordagem multidisciplinar que cada professor pode
encaminhar a priorização das atividades orais e de discussão, como ocorre na vida cotidiana,
são alguns itens a serem observados.

Educação integral

Com a utilização do jornal, o foco se desloca do conteúdo curricular abstrato para a realidade
palpável. Os conteúdos curriculares servem para ajudar a compreender a realidade objetiva ou
pessoal, na análise dos fatos noticiados. A prática escolar passa a focalizar as situações reais da
vida cotidiana e o professor tem oportunidades imperdíveis de transpor os objetivos meramente

35
CAPÍTULO 3 • Pedagogia nos meios de comunicação de massa

intelectuais e investir na alfabetização emocional, relacionamento humano, ética, cidadania,


educação de valores e tantos outros aspectos necessários para a educação integral, centrada no
ser e na realidade.

O jornal e os PCNs

O Jornal-Escola tem sido um divulgador e incentivador dos Parâmetros Curriculares Nacionais


(PCNs). Os professores têm sido orientados sobre as vantagens que o jornal oferece para atender
as propostas dos PCNs e aprendido o como fazer através das oficinas que são programadas pelo
Jornal-Escola e solicitadas nos órgãos de ensino e unidades escolares.

Os temas transversais poderão ser amplamente explorados com a utilização de matérias


jornalísticas. Poderão ser confeccionados álbuns ou pastas de matérias sobre Ética, Saúde, Meio
Ambiente, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo.

O educador perspicaz ficará atento às matérias que proporcionem uma rica reflexão de ética e
que deem margem à orientação sexual. Comentários de novelas ou filmes podem ser ponto de
partida para reflexões sobre comportamento, atitudes e valores.

Áreas de conhecimento

Os textos jornalísticos poderão ser o elo entre o conteúdo disciplinar e a realidade cotidiana.

Os PCNs falam da importância dos textos do mundo na aprendizagem. E o jornal é um amplo


espectro de textos do mundo pela diversidade de assuntos e pela variedade de estrutura de
textos que apresenta.

Multidisciplinaridade e integração de disciplinas

Antes, quase que só os professores de língua portuguesa usavam o jornal. O programa Jornal-Escola
incentiva o uso do jornal em todas as disciplinas e facilita a integração entre elas, principalmente,
em se tratando de temas transversais.

Sempre que possível, fazer a integração das diversas disciplinas, em torno dos temas/situações
que estejam em evidência ou que o professor considerar importantes. Sempre haverá no jornal
uma possibilidade de levar o aluno a discutir e participar de sua realidade, quer do ponto de
vista social ou pessoal.

Aplicabilidade

Um dos gargalos mais estranguladores do ensino é a desconexão entre a teoria e a prática. O


jornal possibilita o vínculo do conteúdo curricular aos fatos cotidianos e aos problemas sociais
apontados no noticiário. Os princípios de Matemática, Geografia, Física, Biologia, entre outras

36
Pedagogia nos meios de comunicação de massa • CAPÍTULO 3

áreas, vão ser utilizados para analisar a realidade, entendê-la e buscar soluções para os problemas
encontrados.

Priorização da leitura

O professor usará livremente o jornal em suas aulas conforme julgar adequado. Porém, é bom que
se leve em conta que o mais importante é a leitura, o despertar da curiosidade do aluno, fazendo
com que ele se familiarize com o jornal e sinta prazer em manuseá-lo, ao mesmo tempo em que
vai tomando consciência da importância que representa o material informativo nele contido.
Deve-se tomar cuidado para que o jornal não seja utilizado de forma enfadonha. As atividades
devem ser criativas e agradáveis, mesmo quando o jornal for utilizado como material de apoio
às diversas disciplinas curriculares e em análises críticas de maior profundidade.

Trabalhando com recortes

É de grande utilidade e valor educativo a elaboração da hemeroteca da escola, com a participação


de alunos, professores, responsáveis pela biblioteca e voluntários.

O aluno deverá ser habituado, sempre que for utilizar recortes, a indicar o nome do jornal,
data e página. É algo simples, mas que, se não for respeitado constantemente, não forma o
hábito. Atividades que podem ser feitas com recortes: jornal mural, álbuns de recortes variados,
hemeroteca e kits pedagógicos.

Murais

Confecção de murais com atrativos é uma forma de estímulo para os professores que ainda não se
dispuseram a utilizar o jornal e para os alunos de classes que não desenvolvem essas atividades.

Amostras de trabalhos

O professor deverá ir arquivando no decorrer das atividades amostras dos trabalhos a serem
entregues à coordenadoria quando houver solicitação. As amostras formarão o banco de dados
e poderão ser utilizados em exposições, oficinas pedagógicas e eventos.

Exposições

As exposições individuais por escola têm dado bons resultados, tanto para valorizar o trabalho
dos alunos e professores, como, também, para facilitar a demonstração de como as atividades
se desenvolveram. Exposições gerais e por áreas estão previstas. É importante que cada escola
se faça representar, enviando amostras dentro do prazo solicitado. Solicita-se que os eventos
que a escola for realizar, relacionados ao Jornal-Escola, sejam comunicados com antecedência
e, de preferência, por escrito.

37
CAPÍTULO 3 • Pedagogia nos meios de comunicação de massa

Interação escola e jornal

O Jornal-Escola faz uma ponte entre a escola e o jornal. Além dos encontros, oficinas e reuniões,
o JE mantém um contato permanente com os professores. Dentre eles:

» rede pacote;

» encontros centralizados;

» encontros descentralizados;

» coluna semanal no jornal;

» PS pedagógico (atendimento individual);

» visitas presenciais de estudantes;

» visitas eletrônicas (vídeo ou pelo site).

Publicação

Semanalmente, às segundas-feiras, é publicada uma seção no jornal A Tribuna com informações


sobre o programa, e divulgação dos eventos agendados.

Visita eletrônica

Por meio de uma fita de vídeo é mostrado o processo de confecção do jornal.

Visita ao jornal

Serão agendadas visitas ao jornal mediante solicitação da escola, e à disponibilidade de horário.


A turma de visitantes deverá ser formada por, no máximo, 25 (vinte e cinco) alunos.

Fonte: http://atribunadigital.globo.com/jornalescola .

Exemplo 3: Quem lê jornal sabe mais

O Quem Lê Jornal Sabe Mais foi lançado em 1982, criado pelo inesquecível Péricles de Barros,
quando Gerente de Promoções do jornal O Globo, e é o mais antigo programa de Jornal e Educação
brasileiro. Inicialmente, atendia apenas a turmas de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental, e desde
2004 passou a atender também ao Ensino Médio de escolas situadas na região metropolitana do
Rio de Janeiro. Nele ingressam, a cada ano, novas escolas, públicas e particulares.

Para ser selecionada para um dos dois Programas (O Globo ou Extra), a escola precisa contar com
uma Sala de Leitura ou Biblioteca Escolar, além de, pelo menos, um profissional responsável por
esses espaços. Têm prioridade aquelas com maior número de professores pretendendo trabalhar
o jornal em suas salas de aula.

38
Pedagogia nos meios de comunicação de massa • CAPÍTULO 3

Tal iniciativa está fundamentada em três concepções básicas:

» a de que este é um Programa de Leitura que pretende contribuir para que a população
jovem goste de ler jornal e possa, por meio de seu conhecimento e uso orientados,
exercitar sua cidadania e até se aproximar de outras leituras. Por isso faz-se a distribuição
de jornais do dia, para que se promova maior interesse por sua leitura;

» a de que a maneira mais eficaz de perseguir tal objetivo é desenvolver um processo de


formação continuada (oficinas, encontros, palestras, reuniões pedagógicas) voltado
para os professores, definidos como os promotores fundamentais de tal conquista. A
grande prioridade é, então, envolver e orientar o professor. O projeto Polos de Jornal na
Escola, que o Programa criou em 1998, atua nessa direção.

» a de que é fundamental que os alunos participantes, com o apoio de seus professores,


utilizem os jornais distribuídos não apenas para contarem com um recurso didático
dinamizador do currículo, mas, também, para conhecê-los e para expressar ações
concretas de cidadania, de modo a indicar maior conhecimento sobre o mundo e sobre
o veículo que o noticia, dando vazão à necessidade de melhoria da comunidade a que
pertencem, pela criação de novas práticas.

Durante todo o ano tem lugar a preparação dos profissionais que pretendem participar, sempre
sob a responsabilidade da equipe pedagógica do Programa. O diferencial da OP oferecida
apoia-se em dois aspectos:

a. o primeiro é tomar a prática dos professores como referência para a reflexão sobre o
potencial, limites e possibilidades do uso do jornal na escola;

b. o segundo é propor uma utilização combinada dos jornais na escola, ou seja, sem
desprezar o uso mais comum, que é o de o professor levar jornais para utilizá-los como
recurso didático em classe, aproveitar esse material para ir além: o mesmo jornal deve
ser lido criticamente, não deve ser tomado como um ponto final, como a última palavra
a respeito do que estudamos com o seu apoio. Se um jornal ajuda a compreendermos
determinado assunto do currículo, esse mesmo jornal – seja uma página, um caderno
ou o seu conjunto – deve ser analisado, ele mesmo, como portador de um discurso. Ou
seja: aos professores é apresentada uma metodologia para a leitura crítica da mídia
impressa, de tal como que seja percebida a sua influência que contribui fortemente
para formar o pensar e o modo de agir das pessoas e grupos sociais.

O processo de Orientação Pedagógica se realiza assim:

» Em primeiro lugar, realiza-se o Encontro de Lançamento, reunindo os profissionais do


Magistério das escolas selecionadas.

39
CAPÍTULO 3 • Pedagogia nos meios de comunicação de massa

» Em seguida, promove-se um Curso-Oficina de 20 horas de duração (quatro encontros de


4 horas e uma visita ao O Globo – Redação e Parque Gráfico) para aqueles profissionais
que coordenarão o Programa em suas respectivas unidades escolares;

» As escolas elaboram suas próprias propostas de utilização pedagógica de jornais e uma


consultora pedagógica visita cada uma delas para se reunir com os professores e alunos,
debatendo com os interessados as possibilidades do trabalho.

» Em seguida, já na etapa de execução, distribuem-se exemplares do dia a cada escola


(do Extra para quem se inscreveu para o Extra e de O Globo para quem se inscreveu
para O Globo).

» Durante essa etapa realizam-se Encontros de Trocas entre os profissionais das diversas
escolas; Fórum de alunos; palestras; visita dos alunos a O Globo; atividades culturais
para alunos e professores;

» O acompanhamento do Programa é feito diretamente nas escolas, quando os participantes


opinam sobre ele e sugerem o seu aperfeiçoamento para os anos subsequentes.

» A culminância dos trabalhos se dá ao final do ano letivo mediante a realização de uma


atividade festiva que sintetiza as ações do ano.

Atividades com alunos

O programa Quem Lê Jornal Sabe Mais promove eventos congregando os alunos participantes:
além de pré-estreias, sessões de teatro, debates e eventos especiais, há também o já tradicional
Encontro Anual de Alunos, em que é realizada a premiação daqueles que fizeram os melhores
trabalhos do ano. Nessa atividade de encerramento as escolas organizam uma exposição de
trabalhos, integrada com um show musical com um conjunto especialmente contratado pelo
jornal para o evento.

Uma atividade que tem sido, a cada ano, mais atrativa para os alunos, é a comemoração do Dia
do Estudante, que se realiza no mês de agosto. A cada ano escolhe-se uma personalidade que
venha conversar sobre suas vidas, o que sempre é bastante divertido e enriquecedor para os
alunos. Já estiveram com eles Zico, Gabriel o Pensador, Chico Caruso e Heloísa Périssé e, com
certeza, para a próxima comemoração um novo nome será pensado com muito carinho para
homenagear os nossos jovens participantes.

Há ainda outras atividades que merecem destaque no trabalho que envolve diretamente os alunos:

» A visita que os alunos de cada escola fazem ao Jornal. Trata-se de uma visita guiada por
uma profissional especialmente orientada para apresentar todo o processo de produção
do jornal aos visitantes. Os alunos são transportados por um ônibus fretado pelo Jornal.

40
Pedagogia nos meios de comunicação de massa • CAPÍTULO 3

» Uma equipe de alunos de cada escola vem participando do projeto Repórter do Futuro.
Os Jornais de Bairro de O Globo publicam as reportagens feitas por esses alunos, os
quais recebem orientação sistemática de uma jornalista de O Globo, na própria sede
do Jornal, para elaborarem as suas matérias. Ao final do ano, numa cerimônia festiva,
cada aluno recebe seu certificado de participação e a avaliação, ainda informal, dessa
iniciativa, é extremamente positiva.

» Algumas atividades marcantes que já fizeram parte do programa.

» Ida de alunos ao voo de cientistas para acompanhar o eclipse total do sol no Atlântico Sul.

» Participação de alunos no Fórum Mundial de Crianças, em Kobe, no Japão.

» Realização do Concurso “Como eu vejo Rodin”, por ocasião da exposição no MNBA.

» Parceria com o Canal Futura para exibição de programas sobre o Quem Lê Jornal Sabe
Mais.

Participação na Segunda e Terceira Conferências Mundiais de Jornal na Educação, em São Paulo


e Paris, respectivamente.

» Realização do programa educacional Êxodos, junto com a exposição homônima de


Sebastião Salgado.

» Pré-estreias especiais para alunos e professores.

» Recitais de poesias para professores.

» Sessões de peças de teatro e espetáculos de dança para professores e alunos.

(Fonte: http://oglobo.com.quemle/programa/ orientaçãopedagogica.htm).

Exemplo 4: Instituto Ary Carvalho (IAC) – Jornal O Dia

O Instituto Ary Carvalho (IAC) é uma instituição jurídica de direito privado, sem fins lucrativos,
criada em 1999 com o objetivo de gerar, desenvolver, executar e administrar projetos, programas
e atividades culturais, sociais, artísticos, educacionais e de saúde. Como uma empresa moderna
e socialmente responsável, o Grupo O Dia não tem medido esforços para também atender às
comunidades carentes, desenvolvendo ações sociais que criem alternativas para a inclusão
social de suas crianças e jovens. Hoje, o grande foco social do IAC está no Complexo do Arará, em
Benfica, e em algumas outras comunidades desse entorno. Mas outros projetos e programas foram
idealizados e estão sendo conduzidos com o objetivo de atender à população em geral, visando
à construção de uma sociedade mais informada e mais consciente de seus direitos e deveres.

As ações sociais, culturais e educacionais do IAC fazem do grupo O Dia o único no mundo a
manter, em suas próprias instalações, um projeto social dessa magnitude.

41
CAPÍTULO 3 • Pedagogia nos meios de comunicação de massa

Em resumo, o Instituto Ary Carvalho oferece, hoje, os seguintes projetos e programas:

» Palestras, Seminários, Cursos, Oficinas, Dinâmicas Educacionais e Culturais, oferecidos


gratuitamente à população nas próprias instalações do grupo O Dia – em sua sede, no
Centro, e em seu Parque Gráfico, em Benfica.

» Produção, desenvolvimento e incentivo a inúmeras atividades artísticas, levando


conhecimento, informação e geração de renda aos moradores de comunidades carentes
localizadas em sua área de influência.

Todas essas atividades estão sedimentadas em:

a. Projetos e Programas Sociais;

b. Projetos e Programas de Saúde;

c. Projetos e Programas Educacionais.

Projetos educacionais

O Dia na Sala de Aula criado em 1997, já atendeu 192.141 alunos e 13.921 professores de 570
escolas do município do Rio de Janeiro. Embrião de outros projetos educacionais desenvolvidos
pelo IAC nos últimos anos, tem como principal objetivo inserir e estimular o uso do jornal em
sala de aula, transformando-o numa fonte adicional de enriquecimento educacional e cultural,
de consulta histórica permanente e de um eficiente meio de tornar alunos e professores mais
participativos e críticos. O Programa cria e desenvolve dezenas de cursos de capacitação, oficinas,
concursos, feira de livros, exposições, teatralizações, jornadas educacionais e diversos outros
projetos de grande alcance popular.

Programa de visitas aos museus

Dá aos estudantes e seus professores oportunidade de enriquecerem-se culturalmente por meio


da arte, visitando os principais museus da cidade. Desde sua criação, em 1997, o programa já
levou aos museus 11.230 alunos e 5.100 professores de nossas escolas públicas.

Programa de visitas ao jornal

Mostra todo o processo editorial e industrial de um jornal. Desde que foi criado, em 1994, o
programa já levou à sede do Grupo O Dia, no Centro, e ao parque gráfico, em Benfica, 17.300
pessoas, entre estudantes, professores, militares, empresários, moradores de comunidades e
ONGs. As visitas são diárias e marcadas com antecedência pelos telefones (021) 2222-8256 e
0800-218-218.

Fonte: http://IAC.tema.com/index.asp.

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Pedagogia nos meios de comunicação de massa • CAPÍTULO 3

Exemplo 5: Rádio

O rádio, reconhecidamente meio de comunicação eficiente, de alcance imediato, limitado


apenas pela potência da emissora, deixa de ser a partir de 1920, pessoal e é compartilhado.
Consequentemente, comentado pelo grupo familiar. Ao transmitir informações, o rádio integra
o processo sociocultural de desenvolvimento, atingindo significativa parte da população do
planeta; diretamente o rádio educa.

Devido à facilidade de acesso, ao alto nível de cobertura e à flexibilidade, o rádio oferece grandes
possibilidades para a educação a distância no desenvolvimento de programas de educação
formal e não formal. O ensino pelo rádio, utilizado para desenvolver conteúdos de nível primário
e capacitação de docentes, pode ser bastante eficiente. Utilizado na educação não formal, em
campanhas de prevenção de Saúde Coletiva, Alfabetização e Programas Sociais, estimulando a
integração nacional, esse meio efetivamente pode contribuir para educação de grande parte da
população brasileira ainda analfabeta.

Por sua diversidade e baixo custo, o rádio é o meio utilizado com mais frequência nos projetos
de desenvolvimento social. Para que os textos radiofônicos cheguem aos ouvintes é necessário
utilizar várias técnicas de criação de programas. Na educação pelo rádio, consideramos três
pontos básicos:

» Audições gravadas.

» Leitura de roteiros.

» Guias.

Audições gravadas

É a estratégia mais usada. Para a elaboração dos programas utiliza-se a exposição de peritos
(transposição de aulas e conferência). Permite qualidade na gravação, visto que a esta pode ser
feita várias vezes, até conseguir a apresentação e a qualidade adequadas. Geralmente, transmitem
grandes quantidades de informações bem estruturadas. O emissor dirige-se a um ouvinte distante
heterogêneo e anônimo (mesmo em audiência cativa como nos cursos a distância). O ouvinte
não tem como expor suas dúvidas ou fazer comentários. São bem utilizados para o público
escolarizado com conhecimento prévio do tema.

A utilização de radionovela no desenvolvimento de conteúdos para a educação e a apresentação


de problemáticas sociais, econômicas e políticas, permitem ao ouvinte identificar-se com os
personagens e situações, fazendo-os elaborar respostas no plano individual e no coletivo.

43
CAPÍTULO 3 • Pedagogia nos meios de comunicação de massa

A leitura de roteiros

Compartilha as características das audições gravadas, a diferença é que a leitura de roteiros ocorre
com a rádio no ar, dando naturalidade e espontaneidade à emissão. Oferece a oportunidade de
retroalimentação e de monitorar a audição, incluindo a participação do ouvinte e o diálogo com
especialistas e produtores.

Programas estruturados por guias

Facilitam o desenvolvimento da emissão dentro das pautas programadas; proporcionam mais


liberdade ao especialista para desenvolver conteúdos e incorporar elementos da atualidade e
da participação direta do público. Ao estimular a construção individual do conhecimento, a
proposta radiofônica educativa é desmassificadora, desmitificadora; ancora-se na realidade,
proporcionando elementos para compreendê-la e superá-la.

A construção de programas para educação via rádio deve considerar as características do meio. As
estratégias descritas acima são possibilidades que não descartam a criação de outras estratégias
adequadas aos objetivos de cada projeto específico.

Existem muitas modalidades de se aproximar rádio e educação. A mais tradicional se estabeleceu


no âmbito da radiodifusão aberta, tanto AM quanto FM, denominada simplesmente de rádio
educativa, que se diferencia da “rádio comercial” pela natureza de seus programas, como, também,
pela forma como são mantidas, envolvendo os governos federal, estadual ou municipal, ou,
ainda, universidades e fundações.

De acordo com Marlene Blois, uma das mais reconhecidas especialistas na história da radiodifusão
no Brasil, a importância das rádios educativas mede-se pelo trabalho que cada uma desenvolve
junto à comunidade. Uma “rádio educativa” deve privilegiar a cultura da nossa gente, abrindo
espaços na programação, tanto para as manifestações culturais quanto para a história da
comunidade onde a rádio se situa.

Sob essa perspectiva, a professora e jornalista Sandra de Deus enfatiza a importância da rádio
universitária como um canal de extensão da universidade para a sociedade, representando a
multiplicidade de ideias, gostos e correntes do contexto social.

Desse modo, as Educativas são, na verdade, Rádios Cidadãs e, como tal, devem ser laboratórios
de criação de novos formatos radiofônicos, de linguagens inovadoras e celeiro na formação de
profissionais compromissados com o exercício da cidadania.

Fonte: http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/radio/radio_basico/projetos.htm.

44
Pedagogia nos meios de comunicação de massa • CAPÍTULO 3

Experiências bem-sucedidas:

Rádio rural

Nos municípios de Santarém e Belterra, no Pará, ganha relevância a experiência Rádio Rural que
vem abrindo espaço para que professores e alunos de 400 escolas dos dois municípios façam
uso da emissora para mobilizar 37 mil alunos da Floresta Amazônica. Trata-se de um projeto
que consiste na produção de programas de rádio veiculados três vezes por semana. Cynthia
Camargo, idealizadora do projeto, em entrevista para a ONG Midiativa, explica que “a aliança
da escola pública com o rádio, o maior veículo de comunicação e intercâmbio cultural do Brasil,
amplifica a capacidade de formular estratégias criativas para uma educação de qualidade chegar
o mais longe possível”.

Voz da liberdade

Um projeto que aglutina a experiência de produção comunitária com emissão aberta via FM,
é da rádio Voz da Liberdade. Ela é dirigida por crianças e adolescentes no espaço da Fundação
Casa Grande, localizado no sertão do Ceará, em Nova Olinda, uma cidade de onze mil habitantes.

A rádio foi a primeira experiência de uso dos recursos da comunicação pela Fundação. Começou
com quatro alto-falantes e hoje dispõe de uma emissora com frequência de 104,9 MHz e 25 w
de potência, atingindo, além de Nova Olinda, os municípios de Altaneira, Santana do Cariri e
alguns sítios de Assaré.

Com a ajuda dos parceiros que colaboram com o projeto, a Casa Grande FM conseguiu
equipar-se, oferecendo aos meninos e meninas recursos de última geração, tais como aparelhos
de reprodução e gravação de CDs, mesa som de oito canais, computador etc. Para as crianças e
jovens da Fundação Casa Grande, o rádio oferece a possibilidade de divulgar informações e falar
das músicas e artistas que lhes dão prazer.

Fonte: http://www.eps.ufsc/br/disc/teemc/bahia/grupo 8/site/pag5.htm.

Resumo

Vimos até agora:

» O pedagogo é um profissional que atua como gestor/pesquisador/coordenador de


diversos projetos educativos.

» Pode assessorar atividade pedagógica nos diversos meios de comunicação como TV,
rádio, internet, quadrinhos, revistas, editoras, tornando mais pedagógicas campanhas
sociais educativas sobre violência, drogas, AIDS, dengue.

45
CAPÍTULO 3 • Pedagogia nos meios de comunicação de massa

» Está habilitado à criação e elaboração de brinquedos, materiais de autoestudo, programas


de educação a distância.

» Pode organizar, avaliar e desenvolver pesquisas educacionais em diversos contextos


sociais; bem como planejar projetos culturais e afins.

» O pedagogo está apto a formar nos indivíduos hábitos necessários à nova organização
social, que tem apenas na competição seu elemento privilegiado em face das novas
exigências do mundo do trabalho, trazendo seus conhecimentos para a compreensão
crítica do mundo, até mesmo nos meios de comunicação de massa.

46
CAPÍTULO
PEDAGOGIA EMPRESARIAL: UM
CAMPO EM EXPANSÃO 4
Apresentação

Neste capítulo, que nomeamos de Pedagogia empresarial: um campo em expansão, privilegiamos


uma discussão a respeito do trabalho pedagógico no espaço empresarial, apresentando a você
um espaço de trabalho próprio para nós pedagogos e para o qual precisamos buscar nos nossos
cursos de formação conhecimentos necessários para o desempenho das atribuições que podemos
assumir.

Os assuntos tratados neste capítulo darão a você a possibilidade de conhecer as características


do mundo empresarial, os fundamentos que sustentam a necessidade do nosso trabalho nas
corporações e os conteúdos fundamentais para a capacitação do “pedagogo empresarial”.
Apresentamos, ainda, uma experiência concreta em que uma pedagoga relata as suas percepções
nas atividades que vem desenvolvendo nas empresas.

Leia e discuta com seus pares os temas apresentados. Preste atenção às observações e aos
destaques, faça um bom trabalho e prepare-se para assumir o espaço de trabalho na empresa
porque ele é nosso.

Objetivos

» Reconhecer os princípios e os métodos da pedagogia empresarial.

» Compreender os conceitos que dão significado aos fenômenos intitulados gestão do


conhecimento e capital intelectual.

» Identificar os processos de treinamento e desenvolvimento da educação corporativa.

» Enumerar os conhecimentos que precisam compor os cursos de formação em Pedagogia


para capacitar os pedagogos ao trabalho na empresa.

» Analisar uma experiência de trabalho do pedagogo no interior da empresa.

47
CAPÍTULO 4 • Pedagogia empresarial: um campo em expansão

Apresentação

No mundo do trabalho, o pedagogo tem sido, historicamente, identificado como aquele profissional
capacitado para exercer as atividades da docência e das tarefas educativas de administração
escolar, de coordenação pedagógica, de orientação e de supervisão educacional, que são atividades
específicas da escola.

Atualmente, como já vimos nos capítulos anteriores, o curso de Pedagogia passa por um processo
de reorganização, orientada pelas novas diretrizes curriculares, em que, entre outras determinações,
considera as transformações porque passa o processo produtivo.

As mudanças que vêm ocorrendo no mundo do trabalho levaram à construção de um novo


paradigma de organização da economia e da sociedade em que o elemento centralizador não é
mais o capital, a terra ou a mão de obra, mas, sim, a capacidade, as competências, as habilidades
e as experiências dos trabalhadores.

Diante desse contexto, a aprendizagem tornou-se essencial para a sobrevivência das organizações,
uma vez que é por ela que a ampliação do conhecimento das pessoas e do desenvolvimento de
suas habilidades, melhoram seu desempenho e permitem com que elas possam assumir novas
responsabilidades, o que lhes traz maior satisfação pessoal e, consequentemente, melhoram a
qualidade dos serviços da empresa.

Neste capítulo, tendo por base produções teóricas e depoimentos de pedagogos que atuam em
organizações empresariais, discutiremos sua inserção na prática educativa organizacional e a
constituição dos saberes que lhe dá sustentação para tal, buscando compreender o papel desse
profissional preparado, a priori para atuar em escolas, mas que atua também em empresas,
contribuindo para a qualidade da sua formação profissional e para a melhoria da educação do
trabalhador nas empresas.

Princípios e métodos da pedagogia empresarial

As finalidades assumidas pela escola e pela empresa sempre foram bem definidos: a escola
tinha a responsabilidade de ensinar, preparar o indivíduo para o trabalho, e a empresa, por sua
vez, assumia o papel de executar e realizar seus objetivos empresariais, utilizando o que os seus
profissionais aprendiam na escola.

Nos tempos atuais, em que a velocidade, a agilidade e o volume de informações tomam outra
dimensão e exigem alerta permanente às inovações e mudanças infindáveis, não é possível
pensar em atuações fragmentadas, em que a escola atua sobre conteúdos específicos, baseados
em currículos rígidos, sem interagir com o mundo do trabalho.

48
Pedagogia empresarial: um campo em expansão • CAPÍTULO 4

O espaço existente entre os currículos formais e as necessidades emergentes do mercado


econômico, financeiro e social em que as empresas atuam, levaram-nas a criar processos
próprios de aprendizagem, capacitando seus profissionais para a execução de tarefas específicas e
atualizá-los em relação às demandas do meio empresarial (ALMEIDA, 2002).

Nesse contexto, os princípios e métodos da Pedagogia têm sido adotados no interior das empresas
há décadas, quando havia necessidade de transferir os princípios da racionalidade, eficiência e
produtividade da economia e, no momento atual, com a nova onda da globalização, nota-se a
intensificação do emprego dos conhecimentos pedagógicos nas organizações, com a finalidade
de garantir a sobrevivência das organizações.

Atualmente, a realidade empresarial necessita de um apoio específico de ações que garantam


resultados e soluções para os problemas existentes com rapidez e eficiência. Então, é preciso
trabalhar nas empresas as relações humanas e buscar dentro das pessoas o que elas têm de melhor
e ensiná-las a colocar sua expertise a serviço delas próprias e da empresa na qual trabalham.

A educação na empresa contribui significativamente para o crescimento pessoal do trabalhador,


promovendo, assim, uma transformação social. Mudança de atitudes não só no ambiente de
trabalho como, também, no meio em que vive.

Os estudiosos do campo da educação empresarial indicam forte semelhança entre as finalidades


da Pedagogia e da Empresa.

Holtz (2006) destaca esta relação ao afirmar que enquanto uma empresa caracteriza-se pela reunião
intencional de pessoas, para explorar uma atividade produtiva, liderada pelo empresário, com o
fim de alcançar objetivos e metas previamente definidos, a Pedagogia é uma ciência que reúne,
estuda e emprega princípios e práticas relativos à formação, ao aperfeiçoamento de capacidades,
competências e habilidades das pessoas, de acordo com ideais e objetivos definidos.

Assim,

a Empresa e a Pedagogia agem em direção a realização de ideais e objetivos


definidos, no trabalho de provocar mudanças no comportamento das pessoas.
Esse processo de mudança provocada, no comportamento das pessoas em direção
a um objetivo, chama-se – aprendizagem. E aprendizagem é a especialidade da
Pedagogia e do Pedagogo. (HOLTZ, 2006, pp. 6-7).

Diante dessa compreensão, a Pedagogia Empresarial constrói ou seleciona estratégias e


metodologias que possibilitem aprendizagem consistente pela apropriação de informações e
conhecimentos, competências, habilidades e atitudes indispensáveis à melhoria da produtividade.
Capacitar e qualificar profissionais para atuar no mundo empresarial, visando aos processos de
planejamento, capacitação, treinamento, atualização e desenvolvimento do corpo funcional da
empresa é a principal tarefa da Pedagogia Empresarial.

49
CAPÍTULO 4 • Pedagogia empresarial: um campo em expansão

O conceito de Pedagogia Empresarial envolve conceitos como competências e


seu desenvolvimento, trabalho como processo de educação e de construção de
conhecimentos, socialização e trabalho... Baseia-se no aprender a aprender para
a criação de competências e de conhecimentos. Auxilia na escolha da profissão,
na redefinição da vida profissional, na formação de grupos autogerenciáveis de
trabalho, na formação continuada, na avaliação de desempenho. (LOPES, 2009, p. 18)

A pedagogia deixou de ser apenas mais uma disciplina da área de educação, e


passou a integrar-se no mercado profissional de maneira mais ampla, suprindo
as necessidades da sociedade e das empresas, em que seleção, treinamento
e contínuo aperfeiçoamento são a garantia da produtividade, adequados na
preparação dos profissionais da organização. (LOPES, 2009, p. 7)

No âmbito da empresa as práticas da pedagogia referem-se aos seguintes campos:

» Atividades pedagógicas: ações relacionadas ao ensinar e ao aprender, que envolvam


funcionários da empresa no desenvolvimento de sua capacidade para a compreensão
de instruções complexas, de fazer inferências, bem como a construção de habilidades
diversas necessárias para o cumprimento das suas funções de cidadão e de trabalhador
da empresa.

» Atividades técnicas: a gestão do conhecimento, a seleção de pessoal, o treinamento e


o desenvolvimento são atividades técnicas da pedagogia.

» Atividades organizacionais: elaboração da declaração da missão, definição de metas,


aspirações, valores, cultura e estratégias a serem utilizadas, envolvendo funcionários e
colaboradores.

» Atividades sociais: voltadas para o bem-estar dos funcionários e de suas famílias; busca
de serviços diversos de interesse dos funcionários, tais como creches, atendimento
pediátrico, atendimento psicológico, atendimento ao idoso, assessoria jurídica, assessoria
de planejamento financeiro, academias de ginástica etc.; projetos de preservação da
natureza, de respeito aos costumes e à cultura local; promoção do relacionamento
ético com o Poder Público, contribuir para o desenvolvimento de sua região e do país.

» Atividades administrativas: elaboração e execução de plano de trabalho e de relatórios


de divulgação; incentivo aos fornecedores para o compromisso com a responsabilidade
social; desenvolvimento de trabalho participativo, com ações cada vez mais coletivas.

Os princípios e métodos da pedagogia na empresa são concretizados a partir de dois grandes


temas:

» gestão do conhecimento e capital intelectual;

» treinamento, desenvolvimento e educação corporativa, tratados nos subitens a seguir.

50
Pedagogia empresarial: um campo em expansão • CAPÍTULO 4

Gestão do conhecimento e capital intelectual nas empresas

O caráter competitivo que as empresas vivem hoje é resultado do processo da globalização, da


inovação tecnológica e da valorização da informação. O elemento mais importante deixou de ser
exclusivamente o capital financeiro e passou a ser o conhecimento, é a vez do capital intelectual.
Por isso, foram criados espaços voltados para a educação de seus profissionais.

A atuação do pedagogo nas empresas resulta da importância dada à educação no atual cenário
do mundo do trabalho, compreendida como um processo permanente e contínuo e assumida
como compromisso de todos e responsabilidade particular dos gestores de pessoas. Na maioria
das empresas, a educação constitui-se em processo estratégico para a obtenção de melhores
resultados empresariais.

As empresas, para manter-se em boa colocação no campo da competição por melhores colocações
no mercado preocupam-se com dois elementos fundamentais da pedagogia empresarial: o
capital intelectual e a gestão do conhecimento.

Capital intelectual

No mundo produtivo de hoje, o aprendizado contínuo é fundamental e a atualização permanente


transformou-se na mais importante moeda de troca para definir salários nas contratações e
realizar promoções nas empresas.

Quando analisamos os relatórios anuais das grandes organizações, além da apresentação dos
números, as empresas destacam a realização de ações sociais presentes em seus projetos,
investimentos e resultados ao trabalho conjunto justificado pelo empenho e talento de seus
funcionários, o que demonstra o aperfeiçoamento pessoal e profissional como elementos
importantes para conseguir avanços na carreira pela ampliação do capital intelectual.

O termo capital intelectual refere-se ao conjunto de conhecimentos construídos pelas pessoas


de uma empresa, representados por métodos, projetos, contatos, patentes, entre outros, e que
podem contribuir para o crescimento da empresa e colocá-la em melhores posições no mercado.

Paiva (1999) afirma que capital intelectual corresponde ao conjunto de conhecimentos e


informações, encontrado nas organizações, que agrega valor ao produto/serviço mediante a
aplicação da inteligência, e não do capital monetário, ao empreendimento. Por isso, as empresas
vêm, cada vez mais, investindo em programas de capacitação e qualificação dos seus recursos
humanos, para poder competir e enfrentar os desafios no mercado cada vez mais exigente.

CAPITAL INTELECTUAL = VALOR DE MERCADO – VALOR PATRIMONIAL

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CAPÍTULO 4 • Pedagogia empresarial: um campo em expansão

Phillips Morris vale 50 bilhões de dólares em termos de mercado, enquanto seus


ativos fixos não ultrapassam 2 bilhões de dólares. A maior indústria de tênis do
mundo, a Nike, não tem fábrica. A livraria de maior crescimento no mundo,
a Amazon, não tem um metro quadrado de lojas. A Lotus foi vendida à IBM,
por quinze vezes seu valor patrimonial. A Microsoft vale em bolsa cem vezes
o valor do seu ativo tangível. A filial americana da Nokia fatura 200 milhões
de dólares com 5 empregados. A verdade é pura e simples. A administração
tradicional, aquela do organograma jurássico e burocrático, vem dedicando uma
parcela de sua energia, tempo e recurso cada vez menor ao verdadeiro valor das
organizações: sua inteligência competitiva ou, usando uma expressão de cunho
mais tecnológico, o seu ativo intangível. (VIANNA, 2004, In: http://www.guiarh.
com.br/PAGINA21B.htm)

Desse modo, são os profissionais que têm o poder de aumentar a satisfação, a lealdade e a
confiança do consumidor na sua empresa, o que fará ampliar o capital dos clientes e o capital
intelectual da empresa, o que exige da empresa o oferecimento de treinamento apropriado que
desenvolvam as qualidades, habilidades e conhecimentos dos empregados, tanto no campo das
estratégias e técnicas como no campo das ciências sociais e do comportamento do consumidor,
e nos aspectos tecnológicos do produto e do processo produtivo (CARMO, 2008).

Gestão do conhecimento

Para construir conhecimento, os sujeitos sociais precisam desenvolver algumas capacidades, sob
a forma de competências e habilidades como: pensar, observar, estabelecer relações, questionar,
aproveitar o conhecimento acumulado nas experiências vividas durante a vida, apreender,
reconhecer a própria ignorância, exercitar situações lógico-sistêmicas, para, assim, realizar um
movimento permanente de ampliação do saber.

As funções mentais são complexas e, para selecionar, entender e construir novos conhecimentos
apropria-se e realiza mecanismos cognitivos como problematizar e solucionar, diversificar
e unificar, individualizar e coletivizar, perceber e representar, associar e dissociar, analisar e
sintetizar, isolar e relacionar, entre outras, articuladas a partir de uma cultura. Portanto, a empresa
também exerce influência na construção de conhecimento, já que ela possui sua própria cultura,
originada da sociedade na qual está inserida.

A gestão do conhecimento é compreendida como uma importante estratégia no processo de


inteligência competitiva, na qual possibilita a construção de conhecimento de forma mais
eficaz, assim como estabelece um campo positivo para o compartilhamento dos conhecimentos
construídos pelas pessoas da organização, criando uma cultura organizacional favorável à
competitividade empresarial.

No âmbito empresarial, os trabalhadores têm diferentes necessidades de conhecimento e


informação para realizar suas atribuições.

52
Pedagogia empresarial: um campo em expansão • CAPÍTULO 4

Em relação ao conhecimento, há dois momentos para a sua construção: o conhecimento


tácito, aquele que está na mente humana e caracteriza-se pelo conhecimento de mundo, pelas
experiências vivenciadas, pelo know-how adquirido e pelas competências essenciais consolidadas;
e o conhecimento explícito, definido como aquele que está sistematizado em algum tipo de
suporte, seja impresso, eletrônico ou digital, por isso mesmo, é de fácil acesso e compartilhamento
(VALENTIM; GELINSKI, 2005).

Wurman (1995) apresenta cinco tipos ou anéis de informações necessárias: INFORMAÇÃO


INTERNA, INFORMAÇÃO CONVERSACIONAL, INFORMAÇÃO DE REFERÊNCIA, INFORMAÇÃO
NOTICIOSA E INFORMAÇÃO CULTURAL.

INFORMAÇÃO
INTERNA

INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO
NOTICIOSA CONVERSACIONAL

INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO
NOTICIOSA CONVERSACIONAL

Anéis de informações (WURMAN, 1995, p. 48).

Em que:

» Informação interna: mensagens que governam nossos sistemas internos e possibilitam o


funcionamento do nosso corpo. Aqui, a informação toma a forma de mensagens cerebrais.

» Informação conversacional: trocas formais e informais, as conversas que mantemos


com as pessoas à nossa volta, seja amigos, parentes, colegas de trabalho, estranhos
na fila de embarque ou clientes em reuniões de negócios. A conversa – talvez por sua
natureza informal – constitui uma importante fonte de informação.

» Informação noticiosa: abrange os ventos da atualidade – a informação transmitida


pela mídia sobre pessoas, lugares e acontecimentos que talvez não afetem diretamente
a nossa vida, mas pode influenciar nossa visão de mundo.

» Informação de referência: aqui nos voltamos para informação que opera nos sistemas
do nosso mundo – ciência e tecnologia – e, mais imediatamente, para os materiais de
referência que usamos em nossa vida. A informação pode ser qualquer coisa, desde um
manual de física quântica até a lista telefônica ou o dicionário.

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CAPÍTULO 4 • Pedagogia empresarial: um campo em expansão

» Informação cultural: abrange História, Filosofia e Artes, qualquer expressão de uma


tentativa de compreender e acompanhar nossa civilização. Informações colhidas
nos outros anéis são incorporadas aqui para construir o conjunto que determina
nossas atitudes e crenças, bem como a natureza de nossa sociedade como um todo. O
indivíduo absorve informações visando atender as suas necessidades de informação e
conhecimento, que necessariamente precisam ser atendidas, sob pena de causar estresse
ou ansiedade informacional.

Assim, para ampliar o seu capital intelectual, as empresas organizam um programa de gestão do
conhecimento, transformando-se em espaços educativos, desenvolvendo ações de treinamento
e desenvolvimento, que permitem aos funcionários, por meio da educação corporativa, aprender
enquanto trabalham, promovendo um ambiente criativo em que o trabalhador possa crescer como
profissionalmente e, assim, levar à melhoria contínua da qualidade de seus serviços e produtos.

Treinamento, desenvolvimento e educação corporativa

Para melhor compreensão dos termos treinamento, desenvolvimento e educação corporativa,


buscamos base em Gil (2001, p. 12), que apresenta uma série de conceitos correlatos, e assim
os define:

» Educação: é o processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do


ser humano, visando sua melhor integração individual e social. Pode-se, portanto, falar
em educação específica, em virtude das múltiplas dimensões humanas: física, moral,
social, cívica, sexual, artística, profissional etc.

» Formação profissional: é a que se volta para o mundo do trabalho, uma das mais
importantes entre todas essas dimensões. Por envolver um vasto campo de atuação,
as atividades que lhe são relacionadas podem ser reunidas, dando origem a processos
como os de formação, treinamento e desenvolvimento profissional.

» Formação: é o processo que visa proporcionar a qualificação necessária para o desempenho


de determinada atividade profissional. Pode ocorrer em diferentes níveis, conforme a
qualificação requerida, por exemplo: profissões de nível médio e profissões de nível
superior. [...] Entretanto, nos tempos atuais muitas são as empresas que proporcionam
formação profissional, até mesmo em nível superior.

» Treinamento: refere-se ao conjunto de experiências de aprendizagem centradas na


posição atual da organização. Trata-se, portanto, de um processo educacional de curto
prazo e que envolve todas as ações que visam deliberadamente ampliar a capacidade
das pessoas para desempenhar melhor as atividades relacionadas ao cargo que ocupam
na empresa.

54
Pedagogia empresarial: um campo em expansão • CAPÍTULO 4

» Desenvolvimento: refere-se ao conjunto de experiência e de aprendizagem não


necessariamente relacionadas aos cargos que as pessoas ocupam atualmente, mas que
proporcionam oportunidades para o crescimento e desenvolvimento profissional. [...]
focaliza os cargos a serem ocupados futuramente na organização e os conhecimentos,
habilidades e atitudes que serão requeridos de seus ocupantes.

» Educação corporativa: é um processo que fomenta o aprendizado permanente, com


vistas ao desempenho excepcional, buscando, por meio de uma atuação mais ampla,
criar novas oportunidades, abrir para novos mercados, fortalecer vínculos e criar novos
relacionamentos que impulsionem a organização para um novo futuro. É a sustentação
da vantagem competitiva da empresa.

A tríplice articulação entre educação, treinamento e desenvolvimento vem sendo muito valorizada
e empregada no interior das organizações corporativas, considerando em suas políticas de
treinamento e desenvolvimento importantes características, tais como aponta Gonçalves (2008):

» Individualidade: respeito às características e potencialidades individuais e respeito às


necessidades e aos conhecimentos do treinando.

» Organicidade: material de instrução organizado atendendo a uma sequência lógica


em que parte dos temas mais simples para os mais complexos, articulados ao contexto
organizacional mais amplo, atendendo aos princípios pedagógicos próprios para a
aprendizagem de adultos (andragogia).

» Flexibilidade: programas de treinamento elaborados a partir dos resultados obtidos em


diagnóstico, cujo levantamento seja realizado com os envolvidos para identificar suas
necessidades, tendo em vista o alcance das metas pessoais, organizacionais e de mercado.

» Praticidade: ênfase na prática e na realidade vivida pelos treinandos e por toda a empresa,
trabalhando questões ligadas à aprendizagem, à aplicabilidade prática, visando ao
alcance de objetivos e resultados.

» Motivação: realização de atividades que privilegiem os treinandos como agentes ativos


e responsáveis pela própria aprendizagem, interagindo no contexto empresarial e suas
diferentes interfaces com a produtividade/lucratividade.

» Análise de indicadores: interpretação de dados financeiros e não financeiros, procurando


melhores formas de efetividade para o alcance das metas.

» Proatividade: realização de atividades de treinamento e desenvolvimento (T&D) que


preparem os treinandos para lidar com o desafio de modo a transformar dados em
informações, informações em conhecimento e conhecimento em ação mantendo a
motivação, criando oportunidades, evitando desperdícios materiais e intelectuais,
permanecendo em constante interatividade para o encontro de soluções concretas.

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CAPÍTULO 4 • Pedagogia empresarial: um campo em expansão

» Comunicação: adoção de permanente, amplo e contínuo processo de feedback,


enfatizando a qualidade (humana, organizacional, ecológica), a rapidez, a economia de
tempo e a flexibilidade para atender constantemente às inúmeras demandas apresentadas
pelo cenário em mudanças.

Na definição de políticas e na organização de programas e projetos de T&D, as empresas precisam


observar suas categorias, caracterizadas, segundo Gonçalves (2008), como o indicado a seguir:

Categorias de T&D Objetivo do programa


FORMAÇÃO Fornecer condições mínimas para o exercício do cargo.

APERFEIÇOAMENTO Fornecer condições de aprimoramento e melhorias para o exercício do cargo.

DESENVOLVIMENTO Fornecer condições para exercer novos cargos no futuro.

Fonte: Elaborado pela autora.

A elaboração das ações de T&D, de acordo com essas categorias, possibilita o atendimento às
reais necessidades de cada grupo de trabalhadores, conforme o que foi detectado no diagnóstico,
garantindo pela educação corporativa a adequada sustentação competitiva da empresa.

Os programas de Educação, Treinamento e Desenvolvimento devem contextualizar/aproximar


os colaboradores de algumas questões relacionadas aos seguintes aspectos:

» a seu país e ao mundo em que vivem;

» aos negócios organizacionais (Missão, Visão, Valores e Objetivos);

» ao significado do trabalho;

» ao e-commerce;

» às atitudes e comportamentos atuais e futuros;

» à carreira, empregabilidade e performance (técnica, comportamental e intercultural);

» a seu potencial e consequente desenvolvimento.

Segundo Gonçalves (2008), nos programas e projetos de treinamento e desenvolvimento


na educação corporativa, é necessário que algumas competências adequadas ao alcance e
manutenção do capital intelectual e do consequente sucesso no contexto da competitividade
empresarial sejam construídas e/ou reforçadas nos trabalhadores. Entre elas, a autora destaca:

» concentração criativa;

» capacidade de estabelecer parcerias e relacionamentos;

» domínio da informática e idiomas;

» multifuncionalidade; versatilidade;

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Pedagogia empresarial: um campo em expansão • CAPÍTULO 4

» visão de conjunto de longo alcance;

» leitura diária;

» capacidade de mudar (flexibilidade);

» disposição para correr riscos;

» capacidade de lidar com pressão e com as ambiguidades;

» capacidade para utilizar os conhecimentos acumulados;

» capacidade de implementar;

» agressividade positiva;

» habilidade de lidar com as diferenças pessoais e culturais.

Em síntese, a educação corporativa, que inclui as ações de treinamento e desenvolvimento,


representa uma matriz de aprendizagem, cuja finalidade principal é garantir que o domínio do
conhecimento da e na organização realize-se de modo permanente, criando oportunidades de
trocas, de cooperação, de reflexões e de construção coletiva de soluções utilizando não apenas
o conhecimento explícito (aquele que pode ser adquirido em instrumento de leitura, como um
livro, normas, apostila ou uma página da internet ou intranet de uma empresa), mas, acima de
tudo, o conhecimento tácito (aquele originado da experiência, da instituição, da sensibilidade
e que os profissionais constroem por conta própria ao longo do tempo) presente nos diversos
grupos e indivíduos que nela atuam.

Formação do pedagogo para a empresa

A formação do pedagogo, historicamente, sempre teve como foco o desenvolvimento de


capacidades, competências, habilidades e atitudes adequadas ao trabalho na educação
sistematizada das escolas e de outras instituições de ensino formal.

Entretanto, como afirma Arroyo (1997), o local de trabalho é um espaço educativo e pedagógico,
uma vez que o lugar onde se trabalha também é uma escola, um lugar de educação e, como
as empresas no mundo atual precisam manter e ampliar seu capital cultural promovendo
oportunidades de conhecimento, informação e crescimento profissional via educação empresarial,
o pedagogo tornou-se o profissional decisivo nesse processo.

As empresas precisam de mão de obra cada vez mais qualificada para a inovação contínua e para
o crescimento da produtividade e da qualidade. Os trabalhadores precisam ter competências
concretas, dominando aqueles conhecimentos e técnicas que são específicas do seu trabalho,
com iniciativa, criatividade e capacidade empreendedora.

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CAPÍTULO 4 • Pedagogia empresarial: um campo em expansão

Nos dias atuais, as empresas abrem espaço para o profissional da Pedagogia para que ele possa,
consciente e competentemente, elaborar projetos, formular hipóteses, buscar soluções que
melhorem os processos empresariais e garantam a qualidade do atendimento e criando uma
cultura institucional de formação continuada dos trabalhadores.

Entretanto, é preciso considerar que as empresas esperam que o pedagogo que irá trabalhar no seu
espaço apresente um perfil constituído de habilidades como: criatividade, espírito de inovação,
compromisso com os resultados, pensamento estratégico, trabalho em equipe, capacidade de
realização, direção de grupos de trabalho, condução de reuniões, enfrentamento e análise coletiva
das dificuldades cotidianas da empresa.

Como abordamos no capítulo 1, o Curso de Pedagogia no Brasil passou, a partir de 2006, a ser
organizado por novas Diretrizes Curriculares Nacionais que ampliam o campo de formação
do pedagogo, estabelecendo que, além da capacitação para as atividades docentes, incluem a
preparação para o planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas
próprias da educação, de projetos e experiências educativas não escolares, além da produção e
difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares
e não escolares. (Resolução CNE/CP no 1/2006, art. 4o, parágrafo único).

Assim, os processos de formação dos pedagogos precisam incluir conteúdos e práticas relativas
às funções do “pedagogo empresarial”, que podem ser descritas como:

» planejar, desenvolver, executar e administrar atividades relacionadas à educação na


empresa;

» diagnosticar a realidade institucional;

» elaborar e desenvolver projetos de gestão do conhecimento, buscando articulação com


outras áreas profissionais;

» coordenar a capacitação em serviço dos profissionais da empresa;

» planejar e coordenar o processo de avaliação de desempenho profissional dos


trabalhadores da empresa;

» assessorar as empresas no que se refere aos assuntos pedagógicos.

Em relação aos processos de formação do pedagogo, Andrade Filho (2006, p. 8) afirma que:

A inserção dos PEDAGOGOS EMPRESARIAIS no mercado de trabalho tende a


preparar este profissional para atuar na área empresarial e desenvolver habilidades
humanas e técnicas com vistas à compreensão das transformações provocadas
pelos avanços das ciências e das novas tecnologias... exige das instituições
formadoras o poder de “inovar e reinventar” o perfil do pedagogo brasileiro para
enfrentar e ampliar o novo mercado de trabalho na atual sociedade informatizada.

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Pedagogia empresarial: um campo em expansão • CAPÍTULO 4

Assim, além da consistente formação filosófica e humanística técnico-pedagógica,


as instituições formadoras precisam incluir nos cursos de Pedagogia conteúdos
que capacitem solidamente os pedagogos para a educação corporativa.

A seguir, uma proposta de ciclo de formação para o pedagogo empresarial.

Ciclo de formação do pedagogo para a empresa

Didática aplica ao
treinamento

Cultura e mudanças
Jogos empresariais
nas organizações

Gestão do
Dinâmica de grupo
conhecimento

Ética nas Administração de


organizações pessoas

Gestão de negócios Ética nas


em educação organizações

Fonte: Elaborado pela autora.

Experiências de sucesso

Grandes empresas como Caixa Econômica, Petrobras, Natura, contam, em seu quadro funcional,
com a presença de pedagogos atuando no desenvolvimento de pessoal.

Para fins deste trabalho e contando com seu limite, apresentamos a experiência vivida pela
pedagoga Paula Zambotti, paulista, que aceitou relatar as suas concepções e as suas práticas no
mundo corporativo.

Paula Zambotti

Fonte: Arquivo da autora.

59
CAPÍTULO 4 • Pedagogia empresarial: um campo em expansão

Saiba mais

ENTREVISTA

1) Fale da sua formação em Pedagogia: quando e onde se formou, por que fez o curso etc.

» Graduação em Pedagogia: Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) – Conclusão 1994.

» Pós-Graduação em Administração de Recursos Humanos: Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) – Conclusão 1997.

» MBA Gestão Empresarial: Fundação Getúlio Vargas (FGV) – Conclusão 2008.

Fiz Magistério, e como gostava muito de lecionar, ingressei no curso de Pedagogia. Durante o curso, conheci a especialização
na área de Treinamento. No período de Faculdade busquei um estágio para conhecer melhor a área; foi então que iniciei
minha carreira como Pedagoga nas empresas.

2) Descreva as atividades que já desenvolveu na profissão de pedagoga fora da empresa.

» Ministrei aulas no ensino primário.

» Desenvolvimento de trabalhos de consultoria para empresas, como elaboração e aplicação de cursos comportamentais
como: Liderança de Equipes, Comunicação, Atendimento a Clientes, Relacionamento Interpessoal entre outros.

» Ministrei aulas na Universidade Nove de Julho (SP) no curso Superior (disciplinas ministradas: Administração de Recursos
Humanos, Treinamento e Desenvolvimento, Tecnologia e Recursos Humanos e Seleção por Competências).

» Palestras em Universidades sobre o Trabalho da área de Treinamento e Desenvolvimento.

3) Faça um relato sobre a sua inserção na pedagogia empresarial.

Após ter decidido que faria a especialização para atuar na área de Treinamento, fui me interessando cada vez mais pela área.
Realizei o estágio na área de Treinamento do Hospital das Clínicas da FMUSP. Depois do término da Faculdade, ingressei no
Unibanco como operadora de atendimento. Durante o Treinamento para esse cargo, obtive certo destaque pela facilidade
de atuar com os demais integrantes do grupo, pela prática na elaboração e apresentação didática dos conteúdos que eram
transmitidos. Após três meses na empresa, participei de um processo de recrutamento interno para a área de Treinamento,
e, após a aprovação, ocupei o cargo de analista de treinamento júnior, sendo responsável pela elaboração e aplicação de
conteúdos técnicos e comportamentais para capacitação de novos profissionais do banco. Nesse período, paralelamente
realizei a Pós-Graduação em Administração de RH.

Após essa experiência, assumi a liderança de equipes de treinamento até chegar ao cargo de Gerente que ocupo atualmente.

A seguir minha trajetória profissional nas empresas:

» Unibanco como Analista de Treinamento e Desenvolvimento.

» UOL – Universo On Line – Supervisora de T&D.

» TV Globo – (Globo.com) – Coordenadora de Recursos Humanos.

» Sitel do Brasil (Atual) Gerente de Treinamento.

4) De que modo os conhecimentos que você adquiriu no curso de Pedagogia contribuíram para o seu
trabalho na empresas?

Em minha opinião, o curso de Pedagogia está extremamente ligado ao trabalho da área de Desenvolvimento das empresas.

Podemos dizer que a área de Treinamento é uma “escola” dentro das empresas, portanto, necessita dos mesmos
conhecimentos e cuidados que uma escola, principalmente em relação à didática e às metodologias adotadas.

60
Pedagogia empresarial: um campo em expansão • CAPÍTULO 4

Posso dizer que, com exceção das disciplinas voltadas para a legislação educacional, utilizo quase todos os conhecimentos
adquiridos na Faculdade de Pedagogia para atuar nas empresas.

É essencial analisar as sequências de conhecimentos que serão adquiridos, as metodologias que serão utilizadas para passar
os conteúdos.

Acredito que o processo de Avaliação de Conhecimento dos conteúdos, em relação à área educacional (escolar), é que são
rápidos, pois caso a pessoa não tenha assimilado, dificilmente apresentará resultados. Nesses casos, as ações para correção e
prevenção devem ser mais rápidas.

5) Quais as competências necessárias ao pedagogo para atuar na empresa?

» Ter domínio das Metodologias de Ensino.

» Ter Liderança.

» Ótimo relacionamento interpessoal.

» Habilidade de ouvir.

» Proatividade.

» Habilidade para falar em público.

» Flexibilidade.

» Visão Global.

» Ser comunicativo.

» Fornecer e receber feedback.

» Foco no cliente.

6) Que orientações você dá a um(a) estudante de Pedagogia que queira atuar na empresa?

Com as certificações que as empresas passaram a implementar para poder manter-se no mercado (ISO 9000, SiX Sigma, BSC
etc.) foi necessário que se preocupassem com o desenvolvimento dos colaboradores dentro das empresas, tanto no âmbito
pessoal como profissional, pois colaborador com bom nível de desenvolvimento e satisfeito, produz mais e com maior
qualidade, aumentando ou melhorando os resultados.

Para poder desenvolver os colaboradores, as empresas criaram a área de T&D, que conta com profissionais que tenham
formação voltada para o desenvolvimento e aprendizagem.

Dessa forma, acredito que para que um(a) estudante de Pedagogia queira ingressar nas empresas, é necessário:

» Realizar um estágio na área de Treinamento.

» Buscar conhecimentos em administração de empresas, principalmente da área de Recursos Humanos.

» Conhecer como é formada a Visão, Missão e Valores das empresas para entender se o foco será no desenvolvimento e na
capacitação de profissionais.

» Exercitar a adequação de metodologias de ensino para transmitir diferentes tipos de conhecimentos.

» Atualizar-se constantemente em relação às tendências de mercado organizacional.

» Conhecer Técnicas de Apresentação em Público.

» Ter clareza de como a área de T&D influencia e determina os resultados das empresas.

61
CAPÍTULO 4 • Pedagogia empresarial: um campo em expansão

Resumo

Vimos até agora:

» Atualmente, o mundo do trabalho é orientado por um novo paradigma de organização


da economia e da sociedade: o elemento centralizador não é mais o capital, a terra ou a
mão de obra, mas, sim, a capacidade, as competências, as habilidades e as experiências
dos trabalhadores.

» A principal tarefa da Pedagogia Empresarial é capacitar e qualificar profissionais para


atuar no mundo empresarial, visando aos processos de planejamento, capacitação,
treinamento, atualização e desenvolvimento do corpo funcional da empresa.

» A gestão do conhecimento, o capital intelectual, o treinamento, o desenvolvimento e


a educação corporativa expressam os princípios e métodos da pedagogia empresarial.

» Capital intelectual é o conjunto de conhecimentos (métodos, projetos, contatos, patentes,


entre outros) construídos pelas pessoas de uma empresa que podem contribuir para o
crescimento da empresa e colocá-la em melhores condições de competitividade.

» A gestão do conhecimento é uma estratégia que possibilita a construção de conhecimento


de forma mais eficaz, assim como cria um campo positivo para o compartilhamento
dos conhecimentos construídos pelas pessoas da organização.

» A educação corporativa inclui as ações de treinamento e desenvolvimento, é um modelo


de aprendizagem, que visa garantir o domínio do conhecimento da e na organização,
de modo permanente, criando oportunidades de trocas, de cooperação, de reflexões e
de construção coletiva de soluções.

» Os processos de formação do pedagogo para a empresa precisam visar um perfil


constituído de habilidades como: criatividade, espírito de inovação, compromisso com
os resultados, pensamento estratégico, trabalho em equipe, capacidade de realização,
direção de grupos de trabalho, condução de reuniões, enfrentamento e análise coletiva
das dificuldades cotidianas da empresa.

62
PEDAGOGIA NO TERCEIRO SETOR
CAPÍTULO
5
Apresentação

Atualmente, escutamos com frequência considerações a respeito de terceiro setor sem que, em
muitos casos, seja explicitado o significado dessa expressão. Assim, iniciamos este capítulo
apresentando conceito e características da dimensão social chamada de terceiro setor.

Faremos, ainda, uma breve contextualização da origem do terceiro setor no Brasil, apontando
as primeiras instituições prestadoras de assistencialismo às classes mais pobres.

Finalmente, trataremos da educação e da atuação do educador, seus campos de trabalho, funções


que pode exercer e quais os saberes necessários para o pedagogo atuar no terceiro setor.

Leia, reflita, discuta com outras pessoas e faça bom proveito do capítulo.

Objetivos

» Conceituar o terceiro setor na sociedade ocidental contemporânea.

» Identificar os movimentos de formação do terceiro setor no Brasil.

» Discutir as concepções e as práticas da ação pedagógica no terceiro setor, identificando


atividades executadas pelo pedagogo em organizações não governamentais.

63
CAPÍTULO 5 • Pedagogia no terceiro setor

Apresentação

A sociedade ocidental contemporânea, até o início do século passado, era organizada em


dois grandes setores: o primeiro setor, o público, representado pelo Estado e suas instituições
– prefeituras municipais, governos das unidades Federativas e a presidência da União – que
realizam atividades públicas, para toda a população. O segundo setor, o privado, é representado
pelas entidades privadas, as empresas, que exercem atividades em benefício próprio e particular.
É o mercado.

A partir da segunda metade do século XX, ocorreu uma importante transformação nas relações
entre os cidadãos e o Estado, dadas as dificuldades que os governos tiveram em promover o
bem-estar social à população, o que resultou na organização de uma nova ordem social com o
surgimento do terceiro setor.

A representação a seguir ilustra os três setores comentados acima.

Os três setores da sociedade

1o Setor 2o Setor
Público Privado

3o Setor
Sociedade Civil

Fonte: Elaborado pela autora.

Devido ao domínio do Estado pelos burocratas, preocupados apenas em garantir os próprios


interesses e os interesses das elites industriais e das instâncias políticas, deixando de atender
às necessidades básicas dos cidadãos – como saúde e educação, especialmente da maioria
desfavorecida da população, os movimentos sociais passaram a desenvolver ações de ajuda a
essas pessoas.

O termo terceiro setor surgiu nos Estados Unidos na primeira metade do século passado, para
expressar o conjunto de ações de iniciativa espontânea da sociedade civil, desenvolvidas de

64
Pedagogia no terceiro setor • CAPÍTULO 5
modo independente, tanto dos órgãos governamentais como da iniciativa privada, para trazer
benefícios para os desassistidos pelo setor público e pelo setor privado.

O terceiro setor não é público nem privado, quer dizer, é um espaço institucional composto
por organizações privadas sem fins lucrativos, com finalidade pública, que atuam por meio da
produção de bens e da prestação de serviços para cobrir a ausência dos setores público e privado
sem, entretanto, dispensar a responsabilidade do governo.

Entre as tarefas das instituições do terceiro setor está a função de identificar e indicar apontar
as deficiências do Estado e do mercado. Porém, sua principal finalidade é a de atuar de forma
compensatória, de modo a atender às demandas não atendidas ou apoiadas pelo pelos governos
e pelas empresas.

Fonte: http://integracao.fgvsp.br/ano9/08/imagens/adminis trando/Ano9E1administrando2.gif

A base da ação das instituições do terceiro setor é a atuação privada voluntária, e seus valores
e princípios assentam-se na solidariedade, na ajuda mútua, na colaboração, na cooperação, no
altruísmo, no amparo aos necessitados, no fortalecimento da sociedade civil, na cidadania e no
trabalho voluntário.

Em termos financeiros, as instituições do terceiro setor contam com recursos tanto privados
como públicos, nacionais e estrangeiros para a realização de atividades públicas. A tabela a seguir
demonstra as características dos três setores em relação à aplicação dos recursos pecuniários.

Setor Recurso Fim


1o setor (Estado) Público Público

2o setor (Mercado) Privado Privado

3o Setor (Sociedade Civil) Público e Privado Público

Fonte: Cartilha Terceiro Setor e Oscips. Disponível em http://www.cedac.org.br/OSCIP.pdf.

65
CAPÍTULO 5 • Pedagogia no terceiro setor

Salomon e Anheier (1992, apud SILVA, 2001, p. 46) apontam cinco características que estão
presentes em todas as instituições do terceiro setor:

» são organizadas: têm um sentido de permanência em suas atividades;

» são privadas;

» não distribuem lucros: ainda que as receitas sejam maiores que as despesas, todo o lucro
deve ser revertido para a própria organização;

» são autogovernáveis: têm existência independente do estado ou de empresas;

» são voluntárias: devem apresentar algum grau de voluntariado, tanto no trabalho quanto
no financiamento (doações).

As ações do terceiro setor são realizadas pelas mais variadas organizações e associações civis e
não governamentais, pelos movimentos sociais, por formas tradicionais de ajuda mútua, além
de iniciativas isoladas desenvolvidas pela população. As empresas privadas também realizam
investimentos filantrópicos, atualmente identificados como ações de responsabilidade social.

Saiba mais

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Diz respeito ao cumprimento dos deveres e obrigações dos indivíduos e das empresas para com a sociedade em geral.

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

É o conjunto amplo de ações que beneficiam a sociedade e as corporações, levando em consideração economia, educação,
meio ambiente, saúde, transporte, moradia, atividades locais e governo. Essas ações otimizam ou criam programas sociais,
trazendo benefício mútuo entre a empresa e a comunidade, melhorando a qualidade de vida tanto dos funcionários quanto
da sua atuação da empresa e da própria população.

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

É a forma de gestão ética e transparente que tem a organização com suas partes interessadas, de modo a minimizar seus
impactos negativos no meio ambiente e na comunidade. Ser ético e transparente quer dizer conhecer e considerar suas
partes interessadas objetivando um canal de diálogo.

O terceiro setor, formado por organizações da sociedade civil, de origem privada, mas com
finalidade pública tem como uma das principais características a não geração de lucros, isto é,
os bens financeiros arrecadados com serviços ou doações são utilizados na própria instituição
para arcar com as despesas de manutenção e investimentos na melhoria dos seus serviços.

As organizações do terceiro setor atuam de forma abrangente, realizando, entre outras ações,
o desenvolvimento de programas voltados à saúde, à educação e à cultura; o crescimento
comunitário; a preservação ambiental; os direitos civis; o lazer. Seu foco está no atendimento à
comunidade, objetivando atender às necessidades e diminuir as diferenças sociais.

66
Pedagogia no terceiro setor • CAPÍTULO 5

Em síntese, o terceiro setor é independente, mas dedicado aos problemas sociais, organizado,
preocupado com a profissionalização; com base na dimensão voluntária do comportamento
das pessoas; caracterizando-se pela defesa de causas e valores; inspirado pelos princípios da
solidariedade e da participação na construção da cidadania democrática.

O terceiro setor no Brasil

No Brasil, desde o final do século XIX, já se encontrava a presença de organizações sem fins
lucrativos atuando na sociedade, especialmente aquelas ligadas, direta ou indiretamente, às
igrejas cristãs, sendo a Igreja Católica a maior responsável pelas entidades que assistiam às
comunidades carentes que não recebiam o necessário atendimento das políticas sociais básicas
do governo, principalmente os setores da saúde e da educação. As Santas Casas são exemplo
desse tipo de iniciativa.

No século XX outras religiões passaram


Atenção
também a criar organizações com
finalidades filantrópicas e, com o Importante
processo de modernização da sociedade, Nas décadas de 1960 e 1970, quando a ênfase da atuação de
resultado da industrialização e da agências internacionais de cooperação e desenvolvimento,

urbanização, a partir da década de 1930, não governamentais, a redução da ajuda externa foi bastante
significativa. Os períodos posteriores foram marcados pelo
outras áreas da sociedade civil também
redirecionamento de grande parcela dos recursos externos
se dedicaram ao assistencialismo e, a países menos desenvolvidos ou envolvidos em graves
durante o Estado Novo, aumentou o conflitos, como aqueles pertencentes aos continentes africano
e asiático e à região do leste europeu. A redução do número de
número dessas organizações, o que levou
organizações apoiadas no Brasil deveu-se ainda ao maior rigor
à elaboração de legislação própria para na seleção de novos parceiros e às exigências (contrapartidas)
as entidades não governamentais sem de cunho institucional impostas pelas agências externas em

fins lucrativos e de finalidade pública. Os termos de eficiência organizacional, especialmente nas áreas de
planejamento, avaliação e prestação de contas.
fundamentos dessas leis mantiveram-se
Fonte: AS/GESET RELATO SETORIAL no 3 Julho/2001.
até recentemente no Brasil.

O fim da ditadura militar, a consolidação da democracia e o aumento das dificuldades


socioeconômicas permitiram a atuação mais efetiva das organizações não governamentais que
cresceram quantitativamente e apresentavam objetivos mais diversificados, seguindo algumas
características dos movimentos sociais. Nesse período ocorreu a aprovação da Constituição de
1988, que introduziu novos direitos socioeconômicos (especialmente na área trabalhista), a
expansão dos direitos de cidadania política e o estabelecimento dos princípios da descentralização
na promoção das políticas sociais. Esses fatos criaram novas demandas e espaços de atuação
institucional para as ONGs.

67
CAPÍTULO 5 • Pedagogia no terceiro setor

No período do governo de Fernando Henrique Cardoso, quando cidadania e solidariedade tornam-


se demandas pela necessidade de os governos dos anos 1990 liberarem-se dos investimentos em
obrigações públicas de proteção e garantia de direitos sociais por imposição da adoção da política
econômica neoliberal, o segmento passa a ganhar maior visibilidade e valorização (PAOLI, 2002).

A partir da metade dos anos de 1990, o setor empresarial brasileiro passou a desenvolver
programas e projetos sociais por meio de suas fundações e institutos associados, trazendo
visão de mercado, novas possibilidades de parcerias e de fontes de recursos às instituições que
atuavam no terceiro setor.

A inserção das empresas resultou em dois movimentos importantes para as organizações do


terceiro setor: o primeiro refere-se ao caráter de modernização e de profissionalização a essas
instituições, que passaram a investir na melhoria da qualidade dos serviços, na transparência de
ação, no alcance de resultados, na visibilidade e na credibilidade e na busca de novas estratégias
de sustentabilidade e de financiamento.

Entidades envolvidas nos setores

Fonte: http://gestaoempresarialequalidade.blogspot.com.br/2012/.

O segundo movimento trazido pela presença das empresas no terceiro setor foi a qualificação
jurídica das organizações, o que resultou na criação da entidade denominada Organização
da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) – organizações que realizam assistência social,
atividades culturais, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico, educação e saúde
gratuitas, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do voluntariado.

Desse modo, foram retiradas do âmbito do terceiro setor as instituições estatais, as organizações
de mercado, as cooperativas, as organizações sindicais, as entidades representativas de profissão
ou partido político, os fundos de previdência e de pensão e as instituições vinculadas a igrejas
ou práticas devocionais, com exceção daquelas que visam apenas ao bem comum.

68
Pedagogia no terceiro setor • CAPÍTULO 5

Segundo o Relato Setorial no 3 de AS/Geset/Julho/2001 (pp. 30-31), o terceiro setor no Brasil é


formado por organizações que atuam nas seguintes áreas:

» Saúde: tratamento e atendimento aos portadores do vírus HIV, influenciando a política


pública de saúde; quebra de patentes em casos de epidemia ou calamidades; as estruturas
de atendimento extra-hospitalar, associadas aos sistemas públicos de saúde, que visam
apoiar crianças e suas famílias, de baixa renda, no período posterior à alta hospitalar,
de forma a consolidar o processo de cura; do combate à fome e à desnutrição infantil.

» Educação: programas de alfabetização e capacitação de jovens e adultos; apoio a melhorias


de gestão escolar e processos que visam à elevação da qualidade dos serviços da escola
pública – aceleração do grau escolar, tratamento de temas transversais aos currículos,
novas metodologias etc.; programas de redução da chamada exclusão digital.

» Economia: implementação de novos modelos socioprodutivos e sistemas alternativos


de produção, trabalho e renda; expansão dos serviços de microcrédito voltados para a
população empreendedora de baixa renda.

» Defesa do meio ambiente e dos direitos humanos.

» Prestação de serviços de atendimento complementar a crianças e jovens em situação


de risco pessoal e social.

» Elevação da participação social nos diversos conselhos estruturados no País nas áreas
de educação, saúde e cidadania; nos processos de discussão e construção do orçamento
participativo, dentre outros.

A educação no terceiro setor

A educação tem-se mostrado uma das mais importantes e eficazes áreas de intervenção do terceiro
setor, especialmente porque os investimentos nesse campo têm contribuído concretamente para
o acesso da população ao conhecimento, à informação e à tecnologia minimizando a pobreza
e a exclusão social.

Santos (2006, p. 87), em estudo publicado na Revista Olhar de Professor afirma que os campos
de atuação da educação no terceiro setor são:

» Educação para a cidadania

Discussão dos direitos e deveres do cidadão, das possibilidades de intervenção dos


indivíduos e grupos para garantir a efetiva implementação de direitos alcançados do
ponto de vista legal, ainda não concretizados.

69
CAPÍTULO 5 • Pedagogia no terceiro setor

» Educação para o mundo do trabalho

Educação para a geração de renda, no mercado formal ou por meio de processos


colaborativos e cooperativos de trabalho estruturados, a fim de garantir o sustento e a
melhoria da qualidade de vida de pessoas e comunidades.

» Educação para a formação e desenvolvimento de atores sociais

Formação de indivíduos e grupos para apoiar a mobilização, a organização e o


desenvolvimento das comunidades e para atuação em processos de identificação de
problemas das comunidades em que os indivíduos estão inseridos. Formação de cidadãos
para a gestão democrática dos recursos comunitários, exigindo a criação de espaços de
gestão coletiva dos recursos públicos.

» Educação e tecnologias da informação e comunicação

Capacitação para a formação de redes de comunidades e organizações para a produção,


troca e difusão de conhecimentos e informações de interesse dos indivíduos e dos
grupos comunitários.

Gohn, na obra Educação não formal e cultura política: impactos sobre o associativo do terceiro setor
(2008, p. 38) apresentou seis dimensões da educação não formal que apresentam semelhança
com as ações educacionais no terceiro setor:

» aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos;

» capacitação de indivíduos para o trabalho;

» capacitação de indivíduos para a organização comunitária e solução de problemas


coletivos;

» aprendizagem de conteúdos da escolarização formal;

» educação pela e para a mídia;

» educação para a arte do bem viver (que envolve a educação para o autoconhecimento,
meditação, alongamento, antiestresse etc.).

Diante do exposto, passamos a discutir a ação do pedagogo, as competências, habilidades e


atitudes necessárias para o trabalho em organizações do terceiro setor.

O pedagogo no terceiro setor

O terceiro setor, formado por organizações não governamentais (ONGs), organizações da sociedade
civil de interesse público (Oscips), fundações e outras entidades que realizam trabalho social,

70
Pedagogia no terceiro setor • CAPÍTULO 5

nas quais se desenvolve a chamada Pedagogia Social. É nessa dimensão que o pedagogo atua
exercendo intervenções socioeducativas.

Machado (2002) aponta a classificação feita por Quintana das especialidades da Pedagogia Social

(http://www.boaaula.com.br/iolanda/producao/me/pubonline/evelcy17art.html):

» atenção à infância com problemas (abandono, ambiente familiar desestruturado…);

» atenção à adolescência (orientação pessoal e profissional, tempo livre férias…);

» atenção à juventude (política de juventude, associacionismo, voluntariado, atividades,


emprego…);

» atenção à família em suas necessidades existenciais (famílias desestruturadas, adoção,


separações…);

» atenção à terceira idade;

» atenção aos deficientes físicos, sensoriais e psíquicos;

» pedagogia hospitalar;

» prevenção e tratamento das toxicomanias e do alcoolismo;

» prevenção da delinquência juvenil (reeducação dos dissocializados);

» atenção a grupos marginalizados (imigrantes, minorias étnicas, presos e ex-presidiários);

» promoção da condição social da mulher;

» educação de adultos;

» animação sociocultural.

Evelcy Monteiro Machado, da Universidade Tuiuti do Paraná, indica, ainda, os seguintes cargos
e requisitos do pedagogo no terceiro setor. Vejamos:

» Coordenador de projetos educacionais ou coordenador pedagógico

› Funções:

Ajudar a elaborar e aplicar o projeto educacional da instituição, dar orientação em


questões pedagógicas e, principalmente, atuar na formação contínua dos educadores.
Essas são as funções do coordenador pedagógico (também conhecido em algumas
regiões do país como supervisor ou orientador).

› Requisitos:

• Licenciatura em Pedagogia.

• Conhecimentos de gestão educacional.

71
CAPÍTULO 5 • Pedagogia no terceiro setor

• Conhecimentos de gerenciamento de projetos.

• Conhecimentos sobre as leis do terceiro setor.

» Educador Social

› Funções:

Aplicar atividades educacionais com crianças, adolescentes ou adultos de baixa renda.


Muitas vezes, o educador social deve participar de abordagens a crianças de rua, visitas
às famílias nas favelas para atraí-los para o projeto. A atuação desse profissional nas
instituições não governamentais varia de acordo com a visão de trabalho de cada
uma, por exemplo, arte-educação, reforço escolar, alfabetização etc.

› Requisitos:

• Formação superior em Pedagogia ou Letras.

• Conhecimentos sobre o terceiro setor (uma boa sugestão para quem quer seguir
essa carreira é ser voluntário em uma ONG que possua projetos educacionais, isso
é excelente para adquirir experiência no terceiro setor).

» Orientador Pedagógico

› Funções:

Dentro da instituição, o orientador pedagógico (ou educacional) é um dos profissionais


da equipe de gestão. Ele trabalha diretamente com os alunos, ajudando-os em seu
desenvolvimento pessoal; em parceria com os educadores, para compreender o
comportamento dos estudantes e agir de maneira adequada em relação a eles; com a
instituição, na organização e realização da proposta pedagógica; e com a comunidade,
orientando, ouvindo e dialogando com pais e responsáveis.

› Requisitos:

• Formação Superior em Pedagogia (preferencialmente com habilitação em orientação


educacional).

• Conhecimentos sobre o terceiro setor (vide Educador Social).

» Educador Ambiental

› Funções:

Esse profissional deve realizar atividades educacionais de consciência ambiental


(reciclagem, conservação da água, respeito à natureza etc.) a fim de orientar crianças,
adolescentes e adultos sobre esse assunto ou até capacitar monitores ou fiscais
ambientais (pessoas responsáveis pela continuação do projeto ambiental na sua

72
Pedagogia no terceiro setor • CAPÍTULO 5

região). Geralmente esse tipo de ação é realizado dentro de instituições ambientais


ou educacionais como o Instituto Pau Brasil, por exemplo.

› Requisitos:

• Essa função não é exclusiva do pedagogo, também pode ser exercida por um
professor de ciências ou um biólogo que possua licenciatura. Vamos detalhar as
necessidades do pedagogo:

– Formação Superior em Pedagogia.

– Conhecimento avançado de Educação Ambiental (esse conhecimento pode


ser adquirido com trabalhos voluntários em instituições que possuam projetos
ambientais e através de cursos presenciais ou virtuais de educação ambiental).

O pedagogo social pode ainda desenvolver ações na educação indígena, rural e no trabalho
com deficientes físicos ou mentais. Tais atividades podem ser exercidas pelo educador social e o
diferencial entre elas é a experiência que ele possui, por isso vale a pena destacar a importância
de realizar trabalhos voluntários no campo que se deseja seguir carreira.

Para concluir, apresentamos as proposições de Santos (2006, pp. 92-93) sobre os conceitos e
métodos necessários à formação do pedagogo para o terceiro setor:

» Conhecer e refletir criticamente sobre as diferentes abordagens relacionadas ao terceiro


setor existentes.

» Discutir sobre as origens históricas da educação no terceiro setor, vinculadas à educação


comunitária popular, bem como sobre as diferentes modalidades educacionais praticadas
nesse setor.

» Vivenciar em sala de aula metodologias de ensino-aprendizagem participativas, que


permitam construir e sistematizar suas aprendizagens por meio de um processo que
articule a gestão individual e coletiva do processo de aprendizagem.

Elaborar, desenvolver e realizar projetos junto a organizações do terceiro setor e comunidades


empobrecidas, em que a comunidade é convidada a discutir o projeto em todas as suas fases,
podendo alterá-lo de acordo com suas reais necessidades.

» Ser abordados os quatro campos que compõem a educação no Terceiro Setor – educação
para a cidadania; educação para o mundo do trabalho; educação para a formação e
desenvolvimento de atores sociais; educação para o uso e construção de saberes apoiados
por Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs).

» Usar as TICs como ferramentas importantes para a produção e difusão de conhecimentos,


bem como para uso no trabalho com a população a ser atendida nas ONGs e comunidades.

73
CAPÍTULO 5 • Pedagogia no terceiro setor

» Voltar-se, de forma central, para as demandas e para o atendimento das camadas


empobrecidas da população e para a organização de cidadãos com vistas à gestão
democrática participativa dos recursos comunitários.

» Ter como objetivo central a formação de profissionais comprometidos com: a emancipação


humana; a melhoria da qualidade de vida de indivíduos e da coletividade; a mobilização
e articulação das comunidades e indivíduos para a participação de forma democrática
ativa nos processos decisórios e de gestão das localidades; a superação das condições
de exploração das parcelas empobrecidas da população.

Resumo

» A sociedade ocidental dos dias atuais é organizada em três setores: o público (o primeiro),
o privado ou mercado (o segundo) e a sociedade civil (o terceiro).

» O terceiro setor renova o significado da esfera pública, por meio de iniciativas privadas
que, à diferença do setor privado empresarial, não são guiadas pelo lucro, ou de iniciativas
com fins públicos que não são conduzidas pelo setor estatal, mas por cidadãos e
organizações da sociedade civil.

» O terceiro setor no Brasil tem sua origem no final do século XIX, com as entidades
cristão-católicas que atendiam às comunidades carentes.

» A educação é uma das mais importantes áreas de atuação das organizações do terceiro
setor, pois têm contribuído para o acesso da população ao conhecimento, à informação
e à tecnologia, contribuindo para a inclusão e para a construção da cidadania.

» O pedagogo pode assumir diferentes cargos no terceiro setor como: coordenador de


projetos educacionais, coordenador pedagógico, educador social, educador ambiental.

» Para o desenvolvimento de trabalho no terceiro setor, o pedagogo precisa incluir em


sua formação conhecimentos e métodos que possam prepará-lo para promover a
emancipação humana; a melhoria da qualidade de vida de indivíduos e da coletividade;
a mobilização e articulação das comunidades e indivíduos para a participação de forma
democrática ativa nos processos decisórios e de gestão das localidades; a superação das
condições de exploração das parcelas empobrecidas da população.

74
CAPÍTULO
PLANEJAMENTO E GESTÃO DE
PROJETOS SOCIOEDUCACIONAIS 6
Apresentação

Neste capítulo apreenderemos conceitos e práticas de planejamento e gestão de projetos


socioeducacionais trabalhando mais na aplicação dos conceitos e fundamentos deste importante
instrumento – projeto – para a realização de ações educativas em espaços externos à escola.

A aprendizagem desse assunto é relevante no curso de pedagogia porque possibilita ao futuro


profissional da Pedagogia, o domínio de uma competência fundamental para o desenvolvimento
de ações educativas em organizações do terceiro setor, espaço de trabalho muito promissor para
o pedagogo.

Assim, neste capítulo, discutiremos brevemente os fundamentos de planejamento e gestão de


projetos, suas características e os elementos que compõem os projetos socioeducativos. Leia,
reflita, discuta com outras pessoas e faça todas as atividades proposta. Assim fará bom proveito
do capítulo.

Objetivos

» Conceituar projeto socioeducacional.

» Identificar os elementos que compõem os projetos socioeducacionais.

» Compreender os movimentos necessários para o planejamento e a gestão de projetos


socioeducacionais.

» Aplicar os conhecimentos técnicos na elaboração e gestão de projetos socioeducativos.

75
CAPÍTULO 6 • Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais

Apresentação

Após o estudo dos capítulos anteriores podemos considerar que atualmente, o profissional da
Pedagogia precisa estar capacitado para atuar nas mais diferentes instituições educacionais,
escolares e não escolares, dadas as necessidades apresentadas pela população no campo da
educação.

Para o desenvolvimento de ações educativas nos espaços não escolares, entre as competências
do pedagogo estão o planejamento e a gestão de projetos socioeducacionais, que diferentemente
dos projetos de ensino, exigem habilidades específicas para a sua elaboração, execução e
acompanhamento.

Conhecendo conceitos e práticas de projetos


socioeducacionais

Antes de apresentar alguns conceitos de projetos socioeducacionais e as suas características,


vamos lembrar que projeto é uma das formas de materialização do planejamento. Você estudou
na disciplina Planejamento Educacional que o planejamento é o processo de reflexão, criação,
ação intelectual, função mental, voltado para a tomada de decisões e plano é o documento,
matriz, materialização do pensamento realizado no planejamento.

O projeto é como um plano: é um produto do planejamento e também é resultado de um fluxo


próprio composto de etapas, cujo planejamento tem seu destaque.

No planejamento e no projeto, partimos sempre do conhecimento da realidade para a qual


planejamos. Esse conhecimento se dá pelo diagnóstico, em que verificamos como está a situação
analisada, seus pontos fortes, suas fragilidades, os pontos que precisam ser mantidos, os que
devem melhorar e os podem ser incluídos, para daí definirmos quais serão prioritários.

De posse dessas prioridades definimos os objetivos que pretendemos alcançar, inclusive definindo
as metas a serem alcançadas em cada um desses objetivos.

Definidos os objetivos, passamos à fase de seleção dos conteúdos, da metodologia a ser aplicada
e dos recursos que serão utilizados, necessários para o alcance daqueles objetivos e metas
que foram previstos. Do mesmo modo, selecionamos os procedimentos avaliativos para todas
as dimensões componentes do planejamento. Isso feito, passamos à estruturação do plano
(o documento) e à sua aplicabilidade, realizando a avaliação contínua e, assim, termos um
feedback (retroalimentação) que nos permite o replanejamento, sempre em busca da melhoria
dos resultados pretendidos. É esse o processo do planejamento educacional, também aplicado
em qualquer projeto pedagógico.

76
Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais • CAPÍTULO 6

Vamos, agora, fazer um desdobramento dos núcleos que compõem o conceito de projetos
socioeducacionais, para que possamos compreender o seu significado.

Saiba mais

Projeto
Plano para a realização de uma ação; esboço; representação gráfica ou escrita, acompanhada de um orçamento que
demonstre o preço de uma obra; cometimento; empresa; empreitada; desígnio.

Projeto [Do lat. Projectu, “lançado para diante”.] S.m. 1. Ideia que se forma de executar ou realizar algo, no futuro; plano,
intento, desígnio. 2. Empreendimento a ser realizado dentro de determinado esquema: projeto administrativo; projetos
educacionais;...
Fonte: http:// pt.wiktionary.org/wiki/projeto – Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2005.

Como podemos perceber nas definições acima, o projeto representa a vontade construir o novo,
o não existente. É uma ação efetiva de tornar realidade o desejo de muitos, intencionalidade,
consciência de algo que exige envolvimento das pessoas em função de objetivos e metas. É uma
ação consciente voltada para a criação de uma realidade futura.

Saiba mais

Projeto Social
Projetos sociais são uma forma de organizar ações para transformar determinada realidade social ou alguma instituição.
(STEPHANOU et al., 2003, p. 18)

Um projeto é uma ação social planejada, estruturada em objetivos, resultados e atividades, baseados em uma quantidade
limitada de recursos (...) e de tempo. (STEPHANOU et al., 2003, p. 18)

Os conceitos apresentados indicam que um projeto social tem como finalidade maior a
transformação de um problema social, partindo de uma ação direcionada, localizada em
determinada situação e focalizada em resultados concretos.

As mudanças ocorridas nas últimas décadas, tanto nas esferas estatais como na sociedade
brasileira provocaram a constituição de formas alternativas de implementação das políticas
sociais. Essas mudanças resultaram numa democratização dos principais aspectos da atuação
do Estado na sociedade, representadas por fatos como eleições livres e diretas, descentralização
de decisões, procedimentos mais amplos de comunicação e de controle social, além de novas
formas de participação na elaboração dos orçamentos e das políticas públicas, especialmente
com a criação de conselhos deliberativos, elaboração de estatutos de cidadania, fóruns, entre
outras formas de democratização das atividades do Estado. (STEPHANOU, 2003).

A sociedade civil vem se fortalecendo e desenvolvendo novas formas de organizações (não


governamentais, redes, entre outras), e vem atuando de forma direta nas ações sociais e

77
CAPÍTULO 6 • Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais

participando efetivamente na definição de políticas públicas. Atualmente, um amplo conjunto de


organizações sociais consegue uma melhor articulação entre si e com o Estado no desenvolvimento
de agendas de ação conjunta. (STEPHANOU, 2003).

Nesse contexto, os projetos sociais tornaram-se importante ferramenta de ação, amplamente


utilizada pelo Estado e pela sociedade civil.

A política pública envolve um conjunto de ações diversificadas e continuadas no tempo, voltadas


para manter e regular a oferta de determinado bem ou serviço, envolvendo entre estas ações
projetos sociais específicos. Um projeto social é a menor unidade do conjunto de estratégias e
programas que compõem uma política de desenvolvimento social.

Entretanto, é preciso lembrar que há também muitos projetos sociais que não estão diretamente
ligados a uma política pública governamental. Operam com recursos públicos e privados
provenientes de agências de cooperação internacional e ocupam um espaço de mediação e
interlocução com as políticas públicas nacionais no campo do desenvolvimento social, ou seja,
também são públicos.

Políticas

Programas

Projetos

Fonte: Elaborado pela autora.

Saiba mais

Projetos socioeducacionais
Projetos socioeducacionais são projetos sociais voltados à educação, em seu sentido sociológico, para o exercício da
cidadania e para transformação sociopolítica e econômica. (BORGES, 1993).

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Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais • CAPÍTULO 6

Os projetos socioeducacionais estão ligados às ações da educação não formal e destinam-se ao


desenvolvimento de habilidades, competências e atitudes pessoais, de participação democrática e
de socialização de sujeitos provenientes dos grupos sociais caracterizados pelos elevados índices
de pobreza, desemprego ou subemprego, e violência.

Saiba mais

A educação não formal


A educação não formal designa um processo com várias dimensões tais como: a aprendizagem política dos direitos dos
indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou
desenvolvimento de potencialidades; a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem
com objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos; a aprendizagem de conteúdos que
possibilitem aos indivíduos fazerem uma leitura do mundo do ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor;
a educação desenvolvida na mídia e pela mídia, em especial a eletrônica etc. (GOHN, 2006).

As ações socioeducacionais são atividades sistemáticas e planejadas, desenvolvidas por equipes


multiprofissionais, das quais a presença do pedagogo é indispensável. Essas ações envolvem
práticas educativas, culturais, esportivas, artesanais e técnicas de trabalho a serem promovidas
pelas instituições, para atender os cidadãos de uma determinada sociedade e que apresentam
necessidades sociais.

O caráter social e educativo das ações socioeducacionais é marcado pela sua finalidade as
dimensões ética e democrática, o fortalecimento da autoestima dos sujeitos, possibilitando
novas formas de aprendizagem e acesso a conhecimentos necessários ao exercício da cidadania,
à compreensão da realidade social do País e do cotidiano da comunidade em que estão inseridos.

As ações socioeducativas podem também ser realizadas nas escolas formais e aí seu objetivo é:

» Auxiliar os alunos em seu desenvolvimento tanto cognitivo como afetivo e social,


estimulando práticas de respeito, ética, solidariedade e cidadania, por meio da
participação em atividades significativas, como campanhas comunitárias, práticas
culturais e esportivas, cuidados com a manutenção de sua escola ou bairro, entre outras,
sem substituir as tarefas da escola. Ao contrário, devem dar mais e melhores condições
aos alunos de realizá-las bem. Por isso, precisam ser planejadas de modo articulado aos
conteúdos que os alunos e alunas precisam aprender e potencializar as experiências
educacionais, de maneira coerente com os objetivos gerais da Educação Básica. (http://
www.mp.ba.gov.br/atuacao/cidadania/programas/federal/guiacoes_socioeducativas.
pdf).

Quando desenvolvidos nas escolas, os projetos socioeducacionais baseiam-se nos conteúdos


dos Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), e tratam de temas como
a Ética, a Pluralidade Cultural, o Meio Ambiente, a Saúde, a Orientação Sexual e o Trabalho e

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CAPÍTULO 6 • Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais

Consumo, com a finalidade de fortalecer o trabalho com os Temas Transversais dentro das escolas,
desenvolvendo tanto o domínio cognitivo como o afetivo e o social, estimulando práticas de
respeito, ética, solidariedade e cidadania, por meio da participação em atividades significativas,
como campanhas comunitárias, práticas culturais e esportivas, cuidados com a manutenção de
sua escola ou bairro, entre outras.

Veja a seguir algumas experiências de programas e projetos socioeducacionais financiados e/


ou realizados por organizações sociais.

Programas e projetos socioeducacionais

EXEMPLO 1: BB EDUCAR – Ler, Escrever, Libertar...

O BB Educar é o programa de alfabetização de jovens e adultos da Fundação Banco do Brasil.


Consiste na formação, por educadores do Programa, de alfabetizadores que assumem o
compromisso de constituir Núcleos de Alfabetização nas comunidades em que atuam.

Histórico

A partir de uma experiência bem-sucedida de escolarização de funcionários da carreira de serviços


gerais (carpinteiros, eletricistas, pedreiros, pintores etc.), o Banco do Brasil, em janeiro de 1992,
colocou a serviço da sociedade, por meio de sua rede de agências, o BB Educar, Programa de
Alfabetização de Jovens e Adultos.

O Programa já alfabetizou milhares de pessoas desde sua criação. A partir do ano de 2000, a
coordenação do BB Educar está sob a responsabilidade da Fundação Banco do Brasil.

Objetivos Gerais

Contribuir para a superação do analfabetismo no País.

Objetivos Específicos

» colaborar na diminuição do índice de analfabetismo no país;

» propiciar condições de inclusão dos alfabetizados nos cursos supletivos ou equivalentes;

» envolver o Poder Público em ações que possibilitem a concessão de Documentos de


Identidade aos cidadãos alfabetizados;

» fortalecer a imagem do Banco e da Fundação Banco do Brasil por meio da integração


com as comunidades.

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Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais • CAPÍTULO 6

Público-Alvo

O Programa destina-se a jovens e adultos não alfabetizados, a partir de 15 anos, sem limite
máximo de idade.

Metodologia

A metodologia do Programa é concebida com base nos princípios de uma educação libertadora
e na prática da leitura do mundo, considerando-se a realidade do alfabetizando como ponto de
partida do processo educativo. Identifica-se com:

» os princípios filosóficos e políticos de educação, concebidos por Paulo Freire;

» os fundamentos epistemológicos do processo de conhecimento de Jean Piaget;

» os estudos psicolinguísticos de Emília Ferreiro;

» a realidade história, política, socioeconômica e cultural do alfabetizando, considerados


por Lev Vygotsky.

A prática pedagógica, assim, pressupõe uma construção coletiva, a participação do educando e do


educador como sujeitos do processo, uma relação dialógica, dinâmica, contínua e principalmente
crítica, que tenta resgatar a cultura e a cidadania desses sujeitos. Também contempla a utilização
de linguagem própria do participante, o que evita a infantilização de jovens e adultos no decorrer
do processo de alfabetização.

Operacionalização

O Programa é viabilizado a partir de convênios com entidades governamentais ou civis sem fins
lucrativos, cujo propósito seja compatível com os objetivos do Programa BB Educar. Exemplo:
ONG, Oscip, Secretaria de Educação de Estado ou município, sindicato, entidade religiosa etc.

As instituições e pessoas interessadas em participar do Programa fazem contato com as


dependências do Banco do Brasil, em que recebem as orientações necessárias. Posteriormente,
são estabelecidas parcerias por meio da formalização de um convênio de cooperação mútua.

Os alfabetizadores participam de um curso de formação com carga horária de 40 horas (oito


horas diárias), ministrado por instrutores do Banco do Brasil. O trabalho do alfabetizador consiste
na formação de Núcleos de Alfabetização (turmas) que são cadastrados junto à coordenação
do Programa. As aulas são ministradas em locais cedidos pelas empresas ou pelas instituições
envolvidas.

A carga horária mínima de funcionamento dos Núcleos de Alfabetização é de 6 (seis) horas


semanais, podendo ser distribuída em dois ou oito dias de aula. A duração média do processo de
alfabetização varia entre seis e oito meses, para a alfabetização de grupos de até 20 alfabetizandos.

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CAPÍTULO 6 • Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais

O acompanhamento das turmas de alfabetização é realizado pelo coordenador pedagógico da


comunidade que realiza visitas aos núcleos, promove encontros entre os alfabetizadores para
estudo e troca de experiências, mantém a Fundação informada sobre as ações desenvolvidas,
isso tudo a partir da implementação do Programa na comunidade.

Benefícios para a comunidade

Além da alfabetização, experiências relevantes surgiram em diversas comunidades, reafirmando


os objetivos e princípios filosóficos do Programa, que não se limita ao ensino da leitura e da
escrita. Algumas dessas iniciativas, que nasceram a partir do exercício da cidadania por meio
da leitura e da escrita são:

» formação de associações de moradores, estimulando o trabalho comunitário e


associativismo;

» criação de horta comunitária;

» cursos pós-alfabetização;

» cursos profissionalizantes;

» criação de pequenas fábricas (sabão, vassoura etc.);

» assistência médico-odontológica;

» aquisição de óculos para alunos com dificuldades visuais;

» palestra sobre alcoolismo, drogas, Aids etc.;

» parceria com secretarias municipais de educação;

» alfabetização de pais de alunos da rede municipal de ensino, pelos próprios professores


da rede, por meio do BB Educar.

Abrangência

O BB Educar está presente em todo o País. Os estados com maior número de alunos já alfabetizados
ou em fase de aprendizagem são a Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná,
Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e São Paulo.

O Programa já formou cerca de 31.562 alfabetizadores voluntários em todo o País.

(Fonte: Fundação Banco do Brasil. Disponível em http://www.fbb.org.br).

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Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais • CAPÍTULO 6

EXEMPLO 2: Programa Integração AABB Comunidade – Sumário


Executivo

Histórico – uma história de sucesso

As Associações Atléticas Banco do Brasil estão presentes em quase todos os municípios em que
existem agências do BB. Durante muitos anos, suas instalações foram ocupadas praticamente
nos finais de semana, permanecendo subutilizadas nos dias úteis.

Em 1987, a Federação das AABB (FENABB) criou um projeto que abriu as portas das associações
para a comunidade: o Programa Integração AABB Comunidade que, em 1996, ganhou a parceria
da Fundação Banco do Brasil.

De lá para cá, o número de crianças e adolescentes atendidos não para de crescer. São estudantes
da rede pública de ensino, que, em horário extraescolar, vão para as AABBs, onde participam de
atividades lúdicas e educativas.

Toda a estrutura e material necessários para a realização das atividades são fornecidos pelos
instituidores – Fundação Banco do Brasil e FENABB. O AABB Comunidade envolve, também,
instituições públicas e privadas das localidades onde ele ocorre.

As crianças participantes do Programa são orientadas por educadores capacitados pelo Núcleo
de Trabalhos Comunitários da PUC-SP. Em 2006, o AABB Comunidade esteve presente em 400
municípios, dos 27 estados brasileiros. Nas cidades em que é realizado, o Programa tem contribuído
para o combate à evasão e ao insucesso escolares.

Objetivos – lugar de criança é na escola

O Programa Integração AABB Comunidade tem como objetivo contribuir para a inclusão, não
repetência e permanência, na escola, de crianças e adolescentes pertencentes a famílias de
baixa renda.

Fundamentado no Estatuto da Criança e do Adolescente, o Programa propõe ações de atendimento


integral aos participantes. Para isso, são desenvolvidas atividades nas áreas socioeducativa,
cultural, desportiva e de saúde.

As comunidades locais têm participação ativa, proporcionando condições para a


autossustentabilidade das ações e dos benefícios gerados. O Programa AABB Comunidade
pretende constituir-se como referência para os setores público e privado, na adoção de projetos
complementares como forma de combate à evasão e repetência escolar.

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CAPÍTULO 6 • Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais

Público-alvo – uma aposta no futuro da juventude

O Programa Integração AABB Comunidade destina-se a crianças e adolescentes de ambos os


sexos, pertencentes a famílias de baixa-renda, estudantes da rede pública de ensino. A faixa
etária dos participantes vai dos sete aos 18 anos incompletos.

Os jovens inscritos têm a oportunidade de participar de atividades saudáveis e educativas no


seu tempo extraescolar. O Programa destina, ainda, até 25% das vagas para jovens que nunca
frequentaram uma sala de aula ou estejam afastados, desde que estes venham a matricular-se
na escola.

Os participantes são indicados pelas próprias escolas, ou por representantes das entidades
parceiras, no caso de crianças e adolescentes não matriculados. A prioridade é para os integrantes
de famílias de baixa renda, com maior número de filhos e com menor idade, a fim de que possam
permanecer no Programa por mais tempo.

Instituidores e parceiros – comunidades locais participam efetivamente

O AABB é um Programa que tem como premissa a mobilização da comunidade onde é desenvolvido,
possibilita o estabelecimento de importantes parcerias com os diversos segmentos da comunidade
na construção de um futuro melhor para a juventude brasileira. Essas parcerias, em sua maioria
com as Prefeituras locais, tendem a ser perenes, uma vez que os objetivos do Programa apenas
serão alcançados em médio e longo prazo.

Como instituidores do Programa AABB Comunidade, a Fundação Banco do Brasil e a Federação


das AABB (FENABB) procuram envolver toda a comunidade na realização das atividades. Assim,
agências do Banco do Brasil, AABB, prefeituras municipais, escolas, famílias, conselhos tutelares e
demais instituições públicas e privadas tornam-se parceiros na construção de um futuro melhor
para a juventude brasileira.

É a partir da diretriz anual estabelecida pelos instituidores – Fundação Banco do Brasil e FENABB,
que as superintendências estaduais do Banco do Brasil e os Conselhos Estaduais de AABB
(CESABB) indicam as localidades que poderão aderir ao Programa. Após isso, as agências do BB
articulam-se com as AABB, prefeituras municipais e entidades civis sem fins lucrativos, para sua
implementação nas diversas cidades brasileiras.

As propostas de adesão são submetidas aos instituidores para análise técnica e deferimento. Ao
final do período letivo, a AABB, entidade parceira local e agência Banco do Brasil prestam contas
dos recursos recebidos e das atividades realizadas.

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Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais • CAPÍTULO 6

Proposta Metodológica – Aprender Brincando

O Programa AABB Comunidade defende o direito da criança à brincadeira. Brincar pelo brincar,
porém, com intenção pedagógica. As crianças e adolescentes recebem complementação escolar
de maneira lúdica, atrativa.

Por meio de um vasto repertório de jogos, brincadeiras, músicas, mitos e lendas, os jovens
participantes têm acesso a elementos da cultura, ampliando sua visão de mundo, tomando
consciência de seus direitos e deveres e de sua própria cidadania.

São enfatizadas técnicas que propiciem o fazer coletivo e a capacidade de organização grupal,
o que permite a reflexão crítica e o posicionamento do educando como sujeito ativo de sua
própria formação.

Realização das atividades – Ações Integradas de atendimento

As atividades do AABB Comunidade são desenvolvidas ao longo do período letivo, nas dependências
das AABB. A periodicidade é de, no mínimo, três vezes por semana, com quatro horas diárias.

Os participantes recebem kits com uniformes e objetos de uso pessoal e todo o material
necessário para as atividades. Os parceiros locais responsabilizam-se pela alimentação, exames
médico-odontológicos e laboratoriais, pelo transporte dos participantes e contratação dos
educadores.

As AABB são equipadas com utensílios de cozinha, mobiliário escolar, material didático e esportivo,
e recebem auxílio financeiro para contribuir com as despesas geradas pelo Programa.

Abrangência – Mais de 52 mil crianças atendidas em 2006

No ano 2006, o Programa Integração AABB Comunidade esteve presente em 400 municípios,
dos 27 estados brasileiros. O número de crianças e adolescentes inscritos chegou a 52.833, e
o de educadores a 4.019. (Fonte: Fundação do Banco de Brasil. Disponível em: http://www.
aabbcomunidade.com.br/ ).

EXEMPLO 3: Fundação Gol de Letra

Programa Jogo Aberto

Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento integral dos participantes por meio de
aprendizagens educativas, em 2006 foram atendidas cerca de 200 crianças, adolescentes e jovens
entre 11 e 18 anos, com base nos princípios pedagógicos da Fundação, que incluem: aprendizagens
específicas; desenvolvimento de regras de convivência; e multiplicação de aprendizagens.

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CAPÍTULO 6 • Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais

Durante o ano foram oferecidas sete modalidades esportivas (basquete, futsal, handebol,
taekwondo, tênis, voleibol e capoeira) aliadas às atividades de desenvolvimento sociopolítico e
cultural como palestras, intercâmbios, apreciação de jogos e eventos de integração.

A partir dessa estratégia, foram implantados na comunidade dois novos projetos esportivos
por jovens que concluíram a formação de dois anos no Programa. Numa ação protagonista,
eles desenvolveram o atendimento de cerca de 100 crianças entre sete e 14 anos em núcleos
educativos da Vila Albertina.

Outro aspecto fundamental foi a continuidade do processo de disseminação de práticas esportivas


dentro das escolas públicas da região por meio do Projeto Escola – Ação Esportiva, que possibilitou
a ampliação das ações com aulas de basquete e tênis para cerca de 180 crianças, entre sete e 16
anos.

Programa Virando o Jogo

O Programa de Formação de Mediadores e Monitores em Biblioteca e Brinquedoteca tem como foco


de ação preparar jovens de 15 a 18 anos para atuarem como mediadores de leitura e brinquedoteca
no Programa Virando o Jogo, estimulando as crianças ao hábito da leitura e organização dos
espaços para o aprender brincando.

Em 2006, a orientação dos jovens foi sistematizada com temas que envolveram a postura
profissional, a importância do registro e do planejamento, roda de conversa e de diálogos e a
valorização do pensamento infantil e das ações das crianças. Para isso, a formação ofereceu
diferentes instrumentos para elaboração de atividades prazerosas a serem desenvolvidas com
as crianças, tais como: orientação individualizada com uma educadora formadora; produção
do diário do leitor (técnica de estímulo à leitura); capacitações com assessoria profissional das
áreas de biblioteca e brinquedoteca; debate de filmes e atividades culturais.

No decorrer da formação, a partir das experiências vividas, os jovens demonstraram um interesse


crescente pela leitura e maior compromisso e responsabilidade nas atividades exercidas.

Dessa maneira, entre outros benefícios, eles se desenvolveram ainda mais na expressão oral e
escrita, facilitando a construção de um projeto de vida.

Biblioteca Comunitária

Atende crianças, jovens e moradores do entorno social. Atualmente, o espaço possui um acervo
com mais de 12.000 títulos e 1.100 usuários cadastrados, além de permitir o acesso gratuito a
computadores e Internet.

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Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais • CAPÍTULO 6

Projeto Dolfi

A parceria com o Novotel Center Norte permite a atuação de jovens entre 16 e 18 anos da
Fundação Gol de Letra como monitores de recreação. Em 2006, foi atingido o objetivo comum
de capacitá-los como monitores do espaço Dolfi no hotel. Outro indicador de resultado positivo
dessa proposta foi o início de uma parceria semelhante com a rede de hotéis Mercure.

Projeto Formar

O ano de 2006 foi finalizado com três turmas frequentando as oficinas de marcenaria, desenvolvida
em parceria com a Leroy Merlin, totalizando 36 jovens ao ano. Os depoimentos dos participantes
confirmam a importância dessa ação, que permanece há mais de três anos como uma alternativa
educativa para os jovens de 14 a 21 anos.

Família e Comunidade

As famílias e comunidades também integram a proposta educacional da Fundação Gol de Letra,


tendo como referência a Política Nacional de Assistência Social, que pressupõe a centralidade
na família e a importância do caráter socioassistencial das ações.

Nossas atividades priorizam a valorização da autoestima, das referências e da identidade, a fim


de que os sujeitos exerçam sua cidadania, construam experiências diversificadas de sociabilidade
e se fortaleçam por meio da reflexão sobre sua condição pessoal e realidade social.

A área Social desenvolve no bairro do Caju, no Rio de Janeiro, o atendimento familiar e comunitário,
por meio de orientação social, criação de espaços de formação e educação comunitária. (Fonte:
Fundação Gol de Letra. Disponível em: http://www.goldeletra.org.br/).

No processo de elaboração e execução de projetos socioeducacionais, o pedagogo pode assumir


diferentes funções como gestor, coordenador pedagógico e educador social. Para os fins deste
capítulo, destacaremos a função do gestor social.

A gestão social, aquela destinada ao processo de gerenciamento de programas e projetos


socioeducacionais, exige do pedagogo determinados saberes e fazeres que são específicos para
o atendimento de suas finalidades, para os quais o profissional deve ficar atento. A seguir, alguns
fatores que indicam as especificidades da gestão social:

» a necessidade de articulação frequente dos campos social, econômico e político para o


estabelecimento de prioridades, evitando a fragmentação das ações;

» o trabalho com recursos cada vez mais escassos, em contraposição à crescente demanda
social, e, ao mesmo tempo, a potencialização dos resultados;

» a necessidade de criar instrumentos e meios de sustentação de sua ação;

87
CAPÍTULO 6 • Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais

» a necessidade de garantir a total transparência de suas ações;

» a necessidade de superar sua limitação administrativa e gerencial.

Continua a autora: O gestor precisa:

» ser capaz de comunicar-se com eficácia, interna e externamente, dando e recebendo


as informações necessárias à ação organizacional e social;

» ter a capacidade de liderança, buscando a interação e aglutinando esforços; para tanto,


é preciso estar aberto a críticas e permitir a participação;

» ser capaz de analisar permanentemente os contextos interno e externo, de adaptar-se


às novas situações e de pensar estrategicamente o futuro; para isso concorrem, além
da busca constante de informações, o uso da criatividade, a flexibilidade e uma postura
propositiva;

» promover um processo constante de capacitação do seu pessoal, estimulando a formação


e manutenção de um grupo com espírito analítico-crítico capaz de compreender o
contexto onde se processam as mudanças (organizacionais e do ambiente externo), o
que os levará a serem, também, agentes de transformação;

» ter capacidade de negociação e convencimento; essas habilidades contribuirão para


uma melhor administração de conflitos, para a ampliação do universo de atuação da
organização (buscando a formação de parcerias, por exemplo) e para a “venda” da
importância e legitimidade dos projetos, o que favorecerá a captação de recursos;

» ter sensibilidade para definir prioridades, para decidir; ser intuitivo e assumir riscos;

» dar transparência à gestão;

» ser capaz de organizar-se ‘administrativamente’.

Projetos socioeducacionais geridos por pedagogos têm mostrado estrutura mais ampla, pois,
em razão das orientações pedagógicas mais consistentes, abrangem não apenas na capacitação
do público a ser atendido, como a formação de sua equipe, tendo preocupação de ensinar os
aspectos educacional, social e administrativo do projeto como um todo, para que todos possam
seguir as orientações pedagógicas em projetos sociais realizadas pelos pedagogos dos mesmos,
compreender a importância de suas atuações.

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Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais • CAPÍTULO 6

O processo de elaboração de projetos socioeducacionais

A elaboração de um projeto socioeducacional é uma tarefa de fundamental importância, pois


é este plano que irá mostrar a consistência, o mérito e a relevância socioeducativa da atividade
que será desenvolvida para realizar uma transformação com resultados positivos. Assim, é
inegável que projetos bem elaborados e realizados tornam-se instrumentos importantes para a
organização da ação cidadã e aumentam as chances de uma intervenção social.

Campos et al. (2006) afirmam que os projetos sociais apresentam-se com características próprias,
uns diferentes dos outros, tendo em vista as suas finalidades. Porém, todos os projetos apresentam
um ciclo de vida único com as seguintes etapas bem definidas:

» Elaboração: identificação do problema, definição dos objetivos, programação das


atividades e confecção da proposta técnica do projeto.

» Estruturação: organização da equipe executora e mobilização dos meios necessários


para executá-lo.

» Realização: realização e acompanhamento das ações previstas.

» Encerramento: análise dos resultados e impactos, comparação entre o esperado e o


realizado.

No processo de elaboração do projeto, precisamos considerar alguns aspectos importantes que


garantem a correção do documento. Entre eles podemos destacar a definição correta de um
problema que seja relevante, tenha significado socioeducacional, seja viável e exequível, isto
é, possa ser executado tanto do ponto de vista administrativo-pedagógico como do ponto de
vista financeiro; a identificação de pessoas e organizações que possam contribuir efetivamente
com o sucesso da realização do projeto, articulando-se com eles desde o início e a captação de
fontes de financiamento.

Não podemos esquecer que os projetos socioeducacionais, especialmente aqueles desenvolvidos


fora do espaço escolar formal, necessitam de fomento (financiamento), que podem ser solicitados
a fundações, empresas e para os governos municipais, estaduais e federal. Muitas dessas
instituições têm os seus formulários próprios para a apresentação da proposta. Entretanto, há
alguns elementos que são indispensáveis e, por isso, apresentamos a seguir um roteiro básico
para a elaboração de projetos socioeducacionais.

89
CAPÍTULO 6 • Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais

Roteiro básico para formulação de projetos

Título do projeto Deve dar uma ideia clara, objetiva e breve da finalidade do projeto.
Descrição detalhada sobre o contexto socioeconômico e educacional da comunidade ou do
grupo social alvo das ações do projeto. Realização do diagnóstico do problema a ser solucionado,
Caracterização do detalhando seus antecedentes e as iniciativas já desenvolvidas ou em desenvolvimento para
problema e justificativa superá-lo. Na elaboração da justificativa apresentam-se respostas à questão Por Quê? Ex.: Por
que executar o projeto? Por que ele deve ser aprovado e implementado? Quais os benefícios
econômicos, sociais e educacionais que trará?
Elaborados a partir da resposta Para Que? Para Quem?
Objetivo Geral: é o objetivo mais abrangente, de longo prazo; é a finalidade maior, ultrapassando,
Objetivos inclusive, o tempo de duração do projeto.
Objetivos Específicos: objetivos de curto prazo, descrição das aprendizagens esperadas. São
estruturados por verbos passíveis de mensuração e devem ser cumpridos até o final do projeto.
Expressam quantidades e qualidades dos objetivos específicos, ou o Quanto será feito. Cada
Metas
objetivo específico deve ter uma ou mais metas.
Descrição do tipo de atuação que será realizada: pesquisa, diagnóstico, intervenção ou outras;
dos procedimentos (métodos, técnicas e instrumentos etc.) serão adotados e como será sua
Metodologia avaliação e divulgação. É a metodologia que vai dar aos avaliadores/pareceristas a certeza de que
os objetivos do projeto realmente têm condições de serem alcançados. Responde às questões:
Como? Para Quem? Onde?
Responde à pergunta Quando? Apresentação gráfica dos períodos em que as atividades serão
Cronograma
realizadas e permite uma rápida visualização da sequência em que devem acontecer.
Cronograma financeiro do projeto, no qual se indica como o que e quando serão gastos os
Orçamento
recursos e de que fontes virão os recursos. Responde à questão Com Quanto?

Fonte: Elaborado pela autora.

Resumo

» Entre as competências do pedagogo para realizar ações educativas nos espaços não
escolares, estão o planejamento e a gestão de projetos socioeducacionais.

» Projeto é uma ação efetiva de tornar realidade o desejo de muitos, intencionalidade,


consciência de algo que exige envolvimento das pessoas em função de objetivos e metas.

» As ações socioeducacionais são atividades sistemáticas e planejadas, desenvolvidas por


equipes multiprofissionais, das quais a presença do pedagogo é indispensável.

» Os projetos socioeducacionais utilizam recursos públicos e privados provenientes de


agências de cooperação internacional, articulam-se às com as políticas públicas nacionais
no campo do desenvolvimento social, portanto, também são públicos.

» Os projetos socioeducacionais baseiam-se nos conteúdos dos Temas Transversais dos


Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), e tratam de temas como a Ética, a Pluralidade
Cultural, o Meio Ambiente, a Saúde, a Orientação Sexual, e o Trabalho e Consumo, com
a finalidade de fortalecer o trabalho com os Temas Transversais dentro das escolas.

» Desenvolvem tanto o domínio cognitivo como o afetivo e o social, estimulando práticas


de respeito, ética, solidariedade e cidadania, por meio da participação em atividades

90
Planejamento e gestão de projetos socioeducacionais • CAPÍTULO 6

significativas, como campanhas comunitárias, práticas culturais e esportivas, cuidados


com a manutenção de sua escola ou bairro.

» O processo de gestão de programas e projetos socioeducacionais exige do pedagogo


determinados saberes e fazeres que são específicos para o atendimento de suas finalidades.

» No processo de elaboração do projeto precisamos considerar alguns aspectos importantes


que garantem a correção do documento. Entre eles podemos destacar a definição correta
de um problema que seja relevante, tenha significado socioeducacional, seja viável e
exequível, isto é, possa ser executado tanto do ponto de vista administrativo-pedagógico
como do ponto de vista financeiro; a identificação de pessoas e organizações que possam
contribuir efetivamente com o sucesso da realização do projeto, articulando-se com
eles desde o início, e a captação de fontes de financiamento.

91
Referências
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