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Brasília-DF.
Elaboração
Paulo Lima
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
OPÇÕES ÉTICAS..................................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
ENTRE A ÉTICA E A MORAL........................................................................................................ 9
CAPÍTULO 2
SISTEMATIZAÇÃO HISTÓRICA E CONCEITUAÇÕES..................................................................... 17
CAPÍTULO 3
VALORES MORAIS OBJETIVOS E SUAS ORIGENS........................................................................ 25
CAPÍTULO 4
APROFUNDANDO-SE EM ÉTICA CRISTÃ.................................................................................... 30
UNIDADE II
QUESTÕES BIOÉTICAS........................................................................................................................... 40
CAPÍTULO 1
QUESTÕES BIOÉTICAS MAIS CONHECIDAS............................................................................... 40
CAPÍTULO 2
QUESTÕES BIOÉTICAS NA BÍBLIA............................................................................................... 55
CAPÍTULO 3
QUESTÕES ÉTICAS DOS DIREITOS............................................................................................. 63
CAPÍTULO 4
FILOSOFIA DA CIÊNCIA (APLICAÇÃO TEÓRICA)........................................................................ 82
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 86
ANEXOS........................................................................................................................................... 88
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
6
Introdução
A ética, tão difundida ao longo dos séculos nas mentes das mais proeminentes figuras
que têm sua importância marcada e devidamente alocada em prateleiras bem definidas
na história da humanidade, será discutida em termos de pensamentos éticos voltados
para similaridades para com a cultura cristã, obedecendo-se ao tema proposto.
Tais questões, oriundas de assuntos atuais ou mais antigos, trazem importantes debates
e embates delicados como aborto, eutanásia, homossexualidade e pena de morte.
Serão tratados de modo sectário para que o pensamento e posicionamento do aluno não
se tornem tentado a obedecer às ideias de terceiros, mas sim de maneira que estude,
pesquise e se posicione por si mesmo frete às questões que têm enchido os noticiários
contemporâneos de conteúdo.
7
Objetivos
»» Analisar conceituação ética e moral secular e cristã.
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OPÇÕES ÉTICAS UNIDADE I
Nesta unidade, isto é, dentro de opções éticas serão tratados, serão abordados temas
e pensamentos filosóficos que discorrem analogamente em sua maioria com assuntos
que trataremos sobre conceituações e questões posicionais éticas e bioéticas cristãs. A
importância desta unidade está em oferecer um melhor conteúdo intelectual lógico,
dentro das mentes mais importantes da história humana, com contextos autoexplicativos
que facilitarão o processo de absorção e aprendizagem.
CAPÍTULO 1
Entre a ética e a moral
por “ética”. No latim o termo grego éthicos foi então traduzido por moralis. Mores
significa: usos e costumes. Isto novamente não responde a nossa compreensão da ética,
nem de moral. Além disso, ocorre aqui um erro de tradução. Pois na ética aristotélica
não apenas ocorre o termo éthos (com e longo), que significa propriedade do caráter,
mas também o termo éthos (com e curto) que significa costume, e é para este segundo
termo que serve a tradução latina (TUGENDHAT, 1996, pp.33-34).
Para fins didáticos, não entraremos com profundidade no campo da filosofia ética,
tampouco a estudaremos em demasia, contudo, não podemos ser refém desse
conhecimento lá na frente, deste modo, continuaremos na tentativa de diagnosticar
possíveis diferenças no pensamento kantiano, o qual se norteia em grande parte a
cosmovisão cristã da ética.
As duas obras de Kant Crítica da razão pura (1781) e Crítica a razão prática (1788) são
tidas como fundamentais para a ética contemporânea, dada a sua influência até mesmo
no meio cristão protestante. O cerne do pensamento kantiano é a autonomia da razão,
pois age moralmente aquele que é capaz de se autodeterminar. Então perguntas como
o que devo saber? O que devo fazer? O que é lícito esperar? O que é o homem? Kant
remonta a concepção e atribui a fatores metafísicos, morais, religiosos e antropológicos,
sendo que convergem todos para a antropologia como questões últimas da ética.
Immanuel Kant, não se utilizou do termo restrito e técnico moralis, na visão de Tugendhat,
mas sim de mores, como pretensa tradução da palavra grega. Dentro da razão existem
algumas regras (são os imperativos de Kant) assim como no jogo de xadrez, você até
pode jogar do jeito que quiser, mas estará jogando qualquer coisa, menos xadrez, contudo
não podemos afirma que alguém imoral é também irracional, simplesmente ele não está
jogando conforme as regras. Para nos posicionarmos, segue para efeitos didáticos o
quadro abaixo de maneira resumida:
Quadro 1. Conceituações.
Moral Tem a ver com “ter de” fazer/não fazer... “deve”, “para quê?” fazer/não fazer...
Juízos Morais Tem a ver com o “bom” ou “ruim”.
Tem a ver com a filosofia da moral e seu sentido. Possui argumentos universais onde o que é ético para um grupo, pode não
Ética
se para outro. Espécie de doutrina do caráter.
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OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
Por fim, o “ter de” não necessariamente deve seguir o caráter normativo da Bíblia,
tampouco de preceitos divinos, mas que deve haver normas que satisfaçam
àquela sociedade, naquele determinado tempo situacionista (veremos mais sobre
situacionismo adiante).
Em Hume A pergunta pelo ser-bom é respondida exclusivamente com recurso à efetiva aceitação geral.
Em Kant O ser-bom deve ser fundamentado absolutamente com recurso a uma razão com “R” maiúsculo.
Dá uma base à ética, que a fundamenta não como ela é compreendida – como obrigação – e trata-se aqui também
Em Schopenhauer apenas de um fundamento e não de uma fundamentação (os juízos morais não têm em Shopenhauer uma pretensão
de fundamentação; a palavra “bom” desaparece).
Anuncia uma fundamentação em um ser-bom relativo para cada um. Não podem existir no contratualismo, sendo ele
No contratualismo consequente, juízos de valor com pretensão de fundamentação, mas fundamenta-se (apenas) porque é bom para o
indivíduo seguir tais regras.
Portanto, dentro de uma cosmovisão cristã, temos em Kant o que mais nos aproxima
daquilo que é proposto pelo cristianismo desde Jesus, não excluindo obviamente a lei
11
UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
(Torah) mosaica (veremos mais adiante esse contexto). A proposta então, em Kant, é a de
que como se deve entender o bem, deste modo, para o filósofo prussiano o bem reside no
fato de ser bom, o que para Aristóteles esse bom tem a ver tão puro e simplesmente com
a felicidade subjetiva de cada um e ainda na visão aristotélica ética está sujeita à política.
FILOSOFIA CLÁSSICA
Sócrates via leis absolutas na mente universal, e por isso concebia princípios morais imutáveis, sem ter de apelar para qualquer
revelação divina. Ele tinha certeza disso, e ainda afirmava que a ética é uma virtude e como tal, para Péricles, não pode ser
Sócrates
ensinada. Ele condensava o conhecimento como virtude máxima das virtudes temperança, fortaleza, justiça e sabedoria. Foi o
fundador da Filosofia Ética.
Acreditava que os padrões éticos derivam-se do mundo espiritual dos universais e não mediante as experiências deste mundo físico. A
Platão
sua ética, pois, estava calcada sobre valores do outro mundo. Contribuiu relativamente pouco para a definição de moral.
Localizava a conduta humana neste mundo, para benefício da vida neste mundo. A felicidade teudemoniai era o seu alvo. E ele dizia
que esse alvo seria atingido quando cada pessoa desenvolvesse a sua função particular, com a qual pudesse servir a si mesma e à
Aristóteles sociedade. Toda conduta, para ele, deveria ser governada pelo princípio da moderação, o imortal princípio grego. Para Aristóteles a
ética é subordinada à política e o bem supremo humano é a busca da felicidade. Portanto, não seria uma ética ou teoria moral, mas
uma teoria da felicidade, considerando como alicerce o prazer e o gozo, estudados massivamente por filósofos contemporâneos.
FILOSOFIA ANTIGA
Representante do hedonismo grego enfatizava os prazeres; mas visava especialmente, se não mesmo exclusivamente, os prazeres
mentais, e não os carnais. Nesta cosmovisão, o prazer carnal é a causa da ansiedade e sofrimento, sendo que, ao contrário do
Epicuro
pensamento aristotélico, a vida se resume à busca pela vida virtuosa, pois neste sentido sim, faz-se um meio para se chegar à
felicidade, portanto, a mortificação do corpo regia o pensamento do hedonismo.
FILOSOFIA MEDIEVAL
Embora, Agostinho possuísse suas raízes platônicas, como absolutista não qualificado 2 foi um dos mais importantes mestres de
teologia de todos os tempos. Agostinho de Hipona insistia na necessidade de regeneração para que o homem fosse capaz de
seguir uma conduta ideal, uma vez que o homem não regenerado se torna completamente incapaz de seguir uma conduta correta
aos olhos de Deus. Como é óbvio, ele seguia cegamente as ideias paulinas. Agostinho aprovava certa dose de ascetismo, como
Agostinho um meio de disciplina, a fim do crente poder servir mais perfeitamente a Deus. Contudo, a moderação, o grande ideal grego, que
também é representado nas epístolas paulinas, com frequência é melhor do que a abstinência. Agostinho não concordava com
Pelágio, – que dizia que Deus nos criou humanos, mas que nós mesmos nos tornamos retos. Antes, ele descobria esse princípio no
poder de Cristo, na regeneração, por meio do princípio da graça divina. Ainda afirmava que a doutrina da fé é a mais perfeita, pois
assemelha-se ao conhecimento divino.
Misturava as ideias de Platão, Aristóteles e Agostinho, introduzindo ainda o motivo da lei natural. Mas principalmente Aquino usava,
adaptava e modificava as ideias de Aristóteles. Em sua abordagem ética geral, na Suma Teológica, ele aborda a felicidade, a virtude, as
Tomás de ações e emoções humanas. Ele deu ao catolicismo romano sua teoria ética básica, que ele também depende em muito de Aristóteles.
Aquino O homem possui livre-arbítrio, podendo fazer escolhas genuínas, pelas quais também torna-se responsável. A vontade de Deus é ativa
quanto ao homem, e ajuda-o a fazer as escolhas certas. Sem isso, o homem nada poderia fazer. Contudo, há um esforço cooperativo
envolvido em toda a ética. O homem não é um autômato.
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OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
Ele acreditava que se pode obter certa dose de conhecimentos, mas sentia que, para tanto, é mister o estudioso ultrapassar
os limites do ceticismo. Seu alvo era desenvolver uma filosofia que conferisse um perfeito conhecimento e uma conduta ideal,
Descartes servindo de meio para ajudar no progresso das ciências. Ele procurava criar um sistema que possuísse a certeza da matemática,
e não dependesse dos sistemas· escolástico e dogmático. Desconfiava do método empírico de obter conhecimentos, no que dizia
respeito à obtenção da certeza no conhecimento, e preferia aplicar o racionalismo.
A obtenção da sabedoria é um dos fatores importantes da ética de Spinoza. Para ele, a ética depende de leis fixas, e não da
tentativa humana de constituir sistemas que dependam de fatores variáveis em constante mutação. A ética seria algo tão fixo como
a geometria e as leis do mundo físico. Os princípios éticos são atingidos mediante a razão, a intuição e as experiências místicas.
Esses princípios são descobertos por esses meios, e não produzidos por eles. Quando um homem é governado por suas paixões, é
apenas um escravo. A pessoa verdadeiramente boa é alguém capaz de controlar sua vida e suas circunstâncias. A sabedoria liberta-
Spinoza nos, e a sabedoria é a essência da bondade de Deus. O indivíduo é um modo de Deus. Deus é conhecido no pensamento puro;
e quando chegamos a isso, também temos a moralidade de Deus. Não existem em Deus o bem e o mal, o certo e o errado; mas
o homem, em sua experiência corrompida das coisas, força essas ideias sobre Deus. A bondade, a maldade, o certo e o errado
existem somente em relação aos interesses humanos. As coisas que tendem por beneficiar-nos são boas; e as coisas que tendem
por prejudicar-nos são más. O maior bem, para o homem, consiste no autocumprimento, na direção do amor de Deus. Albert
Einstein se inclinava para as concepções de Spinoza como a nenhum outro filósofo.
FILOSOFIA MODERNA
Não se preocupava com as limitações salientadas por Kant, mas supunha que em sua Triada-tese, antítese e síntese ele podia
Hegel discutir de forma inteligente aos problemas éticos. Alterou significativamente a filosofia do idealismo alemão. Pensava que com a
dialética podia mostrar como o Espírito absoluto manifesta-se de forma ética. A principal triada hegelíana, sobre a moralidade, tem
como sua tese, propósito, como sua antítese, intenção e bem-estar, e, como sua síntese, bondade e iniquidade.
David Hume mesclava o conceito de senso moral de Hutcheson com a simpatia (outro nome para o amor), com o hedonismo e
Hume
com o utilitarismo como diretrizes.
Kant estabeleceu o seu imperativo categórico, ele promoveu uma regra ética que reside na razão humana, sem qualquer apelo ao
ser divino. Nunca se deve fazer qualquer coisa que não se queira tornar em uma lei universal. Kant acreditava na existência de leis
Kant
universais, absolutas e éticas, as quais podem ser compreendidas pela razão e pela intuição humanas. Se deve fazer qualquer.
Veremos mais adiante seu posicionamento como absolutista não qualificado.
Rejeitava a ideia inteira de que pode haver uma síntese que ultrapassa toda antítese. Antes, muitas grandes questões terminam em
paradoxos, nos quais o intelecto humano fica inteiramente perplexo, derrotado por qualquer tentativa de chegar a uma definição
Kierkegaard final e a uma compreensão última. O Deus homem, na pessoa de Jesus, é um exemplo disso. Os paradoxos fazem os homens
aproximarem-se da fé, afastando-os da pura racionalidade. Um homem corresponde internamente a uma pergunta, e é dotado de
discernimento intuitivo, mas não é capaz de dar solução aos grandes paradoxos.
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
A dialética de Hegel (com suas triadas) foi modificada por Marx a fim de obter dali uma filosofia para suas teorias políticas. Marx preferia
pensar que este mundo é guiado por fatores econômicos, Assim, as forças espirituais foram substituídas por um materialismo mecânico.
Karl Marx
E essa mecânica envolveria uma triada. Marx reduziu um princípio espiritual a triadas materialistas, assim também a chamada Teologia
da Libertação reduz a teologia cristã a uma sociologia materialista, tipo marxista. Influenciou diversos movimentos deterministas.
Objetava às regras éticas, eternas e fixas, postuladas por Kant, Para ele, os nossos processos de aprendizagem não passam de
expedientes práticos para manipular as situações humanas. Não há casos idênticos na natureza, pelo que a ética estaria sempre em
Nietzsche estado de fluxo, de constante flutuação. Usamos a nossa inteligência para fazer avaliações e para agir de acordo com as mesmas.
Nietzsche ensinava a força da vontade, traduzida em uma excelência acima do normal quanto às definições do bem e do mal. Para
ele, esse seria o alvo dos sábios.
A ética de Freud estava inteiramente assentada sobre o homem. Freud desenvolveu uma hipótese sobre a natureza humana. A psicoterapia
precisa levar em conta vários níveis da consciência humana. Os elementos da psique são o Id, o Ego e o Superego. Freud antecipava o fim
das religiões, uma vez que a humanidade chegasse a ultrapassar seus preconceitos, projeções e falsa maturidade infantis. Com o tempo, o
Freud
positivismo lógico de Comte tomou conta da mente do jovem cientista. Os padrões do homem residiriam essencialmente em seu superego,
de que partem repressões. Nada tendo a ver, necessariamente, com a verdade. Os padrões morais seriam criações humanas; e uma
consciência perturbada surgiria simplesmente porque não vivemos à altura dos ilusórios padrões estabelecidos pela sociedade.
Para Weber a ética da convicção não é necessariamente religiosa3: uma vez que se caracteriza essencialmente pelo compromisso com um
conjunto de valores associados a determinadas crenças. A ética da responsabilidade, por sua vez, valoriza, sobretudo, as consequências da
Weber
ação e a relação entre meios e fins, com base nas quais um ato deve ser julgado como bom ou mau. Elas podem entrar em conflito, deste
modo uma decisão deve ser tomada e uma das duas, prevalecer. Weber foi um defensor da ética da responsabilidade.
3 Muito embora em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo Weber usa de maneira prolongada e vasta a sobre o
protestantismo e o cristianismo, considerando o Sermão do Monte o cerne da cultura cristã. Mas afirma que “o único resultado
ético eram, pois, algo de negativo: a submissão dos deveres seculares ascéticos da situação existente (WEBER, 2008, p.46).
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UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
O filósofo existencialista opinava que a ética cristã precisa reter elementos reflexivos, dialéticos e paradoxais, uma vez que, afinal de
Paul Tillich
contas, a ética cristã faz parte da teologia, e a teologia encerra esses elementos.
Desenvolveram a conhecida teologia dialética, como reação que tomou forma contra os conservadores, bem como os liberais,
Karl Barth
os quais insistem em fazer assertivas não qualificadas sobre Deus (veremos mais sobre este contexto adiante). Para Brunner, a fé
e Emil
ocupa lugar primordial, tal como dizia Kierkegaard, visto que os objetos da fé com frequência parecem absurdos e paradoxais.
Brunner
Desse modo à própria revelação divina é paradoxal.
Após tal análise, vimos que a cosmovisão mesmo de mentes brilhantes como estas se
convergem e divergem muitas vezes sobre pontos específicos de um mesmo assunto.
O grande problema talvez que tenhamos seja o de definir se existem e quais são os
valores morais objetivos. Na concepção copernicana em Kant trata-se do objetivismo
e subjetivismo da filosofia ética, bem como no historicismo de Hegel, ressalta ainda
Kreeft e Tacelli (2008, pp.573-574):
Kant ficaria horrorizado se nos visse classificar a sua teoria sob o título
de subjetivismo. Ele achava que sua revolução copernicana era o único
caminho que dava conta do nosso conhecimento científico sobre o
universo. Também acreditava que todas as mentes fossem constituídas da
mesma forma, então, sua teoria certamente não seria um individualismo
ou relativismo [...]. O historicismo de Hegel afirma que toda a realidade
é um processo histórico, até Deus e a verdade. A verdade muda com a
história, da mesma forma que nós, seus sujeitos, mudamos [...]. Como
o kantismo, o historicismo é uma meia verdade, mas não pode ser
universalmente verdadeira sem se contradizer. É parcialmente verdadeira,
pois o significado de cultura avançada na Idade da Pedra, poderia ser a
mesma que o significado de primitivismo inculto na Idade Moderna.
Vemos no modo crítico do texto acima uma posição confrontadora dos pensamentos
de Kant e Hegel para adaptação à ética cristã, uma vez que as verdades absolutas não
mudam em função do tempo, mas o que muda é o nosso conhecimento de Deus. Teorias
refutadas não significam leis universais alteradas, mas potencialmente caracterizadas
como leis universais. Tal aprofundamento em filosofia da ciência não nos é de extrema
importância neste momento, veremos no fim deste material superficialmente as
posições de Thomas Kuhn, Karl Popper e Ernst Nagel, mas principalmente em Kuhn
teremos atributos que nos ajudarão na compreensão de decisões bioéticas.
Teologia Moral
Muito embora a teologia da moral (ou ética cristão) tenha se dado no Ocidente4,
reconheceu-se esta vertente teológica somente após o século XVI. Ainda antes deste
4 Ver mais detalhes sobre a Igreja do Ocidente e a do Oriente no material Ecumenismo de nosso curso.
14
OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
século a terminologia theologia moralis, já se fazia presente que por sua vez, se espalhou
após a Reforma e Contrarreforma5. Deste modo é óbvio que objetivou-se a partir dessa
nova cosmovisão guiar a consciência do cristão para fins psicológicos de julgamento,
como sempre, possuindo raízes em Tomás de Aquino e agostinianas.
Kant teve influência direta na visão moral protestante desde o final do século XVIII,
movimento que estudou como sua ética autônoma pode ser aplicada ao contexto cristão.
Tal influência tem principalmente nos temas conduta ética na guerra, prática ética médica
e relações trabalhistas no mundo hodierno.
1. A teologia moral se distingue da “teologia espiritual” e da “teologia pastoral” (estudo das tarefas do ministério cristão), por se
preocupar com questões mais mundanas que a primeira citada e mais orientada para o leigo que a segunda. Todavia, haverá sempre
interação entre as três.
2. A tarefa primordial da teologia moral é deixar claros os conceitos morais cristãos, mostrando os diversos modos cristãos de
apresentar as questões morais — em termos de mandamento de Deus, amor pelo próximo, liberdade de fé, santificação do crente,
formas de ordem criadas etc. — , que emergem das Escrituras, e comparando-os com outras formas em que as questões morais
possam ser colocadas.
3. A teologia moral deve desenvolver em detalhes certos aspectos da doutrina cristã da natureza humana, especialmente da
sociedade e do governo, da sexualidade e da vida e morte. Isso dá continuidade à obra da teologia sistemática nessas áreas, ao levar
as ordenanças e os mandamentos bíblicos relevantes a alcançar uma visão sistemática.
5 Também melhor explanada no material acima cita, contudo, o bom aluno, caso tenha pouco conhecimento ou queira
aprimorá-los com detalhes pertinentes, fará pesquisas mais aprofundadas frente a um tema demasiadamente vasto.
15
UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
4. A teologia moral deve se voltar para questões decisórias enfrentadas pelos indivíduos e pela sociedade, de tal modo que ela seja
aplicável do melhor modo possível. Essas questões costumam se apresentar de três maneiras: a) questionando-se sobre que atitude
deve assumir o crente individual que tenha de tomar uma decisão (perspectiva de agente); b) indagando-se de que modo o crente
ou a Igreja pode ou deve aconselhar pessoas que tenham decisões a tomar (perspectiva de aconselhamento); c) questionando-se
sobre a adoção de uma regra social adequada que poderia orientar a prática (perspectiva legislativa). Todavia, se essas três formas de
questionamento não forem mantidas distintas e separadas, poderá resultar em confusão.
5) Não há proveito algum na divisão de teologia moral em “ética pessoal” e “ética social”, divisão essa que promove o conceito
errôneo de que o pessoal e o social constituem campos separados da investigação moral, quando, na verdade, assuntos decisórios
contêm tanto aspectos pessoais quanto sociais a ela ligados.
Com base nessas informações, daremos continuidade ao conteúdo, uma vez que se fez
necessário apenas delimitar os posicionamentos teológicos morais.
16
CAPÍTULO 2
Sistematização Histórica e Conceituações
Tal consciência que na lei reside todos os atributos objetivos e norma última da
moralidade aplicou-se de modo mecanicista à realidade humana antes de Cristo. Após
Jesus, tudo tornou-se um tanto quanto mais complexo, “como então agradar a Deus e
fazer suas vontades se a lei mosaica e, portanto a Torah, tem validade direta somente
ao povo daquela aliança?”
6 Consciência.
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UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
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OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
A ética normativa aduz ao que é moral e justo, o caminho a se trilhar, as normas objetivas
de orientação, trazidas ao longo da história, contudo, a reflexão casuística se faz maior,
dada a enormidade da complexidade da vida.
Existem três elementos que são tidos como tradicionais os quais influenciam a
moralidade:
»» a natureza;
»» o fim;
»» as circunstâncias.
Tendo isso mente, veremos em absolutismo qualificado maiores detalhes, pois exatamente
neste momento se chocam absolutos morais dos mais diversos fins, onde o incorreto
é sempre errado, veremos mais adiante a concepção do “mal menor”, pois por muitos
anos acreditava-se no absolutismo do aborto, não poupando a vida da própria mãe,
onde neste sentido, ocorria-se duplo homicídio, mas discorreremos mais sobre dentro
do tema aborto.
19
UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
Qual valor se deveria, portanto, buscar acima de tudo? Existiriam dentro do julgamento
da eticidade consequências morais ao ser? Pergunta as quais o modo de ver secular
dificilmente tem respostas contundentes, pois se não há um Deus que reside aos valores
morais objetivos, segue-se que a consequência de qualquer ato, independente da sua
objetividade, é tido como subjetivo.
20
OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
modo de ser, o estilo de vida que cada pessoa quer dar à sua existência.
Na segunda opção, ela fazia referência aos atos concretos e particulares
pelos quais se leva a efeito esse projeto (AZPITARTE, 1995, p.50).
Esses conceitos nos serão demasiadamente úteis no tocante aos assuntos que iremos
abordar sequencialmente. Tenha tais termos em mente, principalmente o fator
inalterável de pathos, uma vez que, quando se é dado naturalmente, deve-se agir
naturalmente ao fato, a fim de contorná-lo e conviver com ele, seja de qual magnitude
ou gravidade for. Assim como temos nas ideias gerais de Martin Heidegger em sua obra
Ser e Tempo, em suma afirma que as angústias existem pelo simples fato de se estar no
mundo (esse contexto ficará também mais claro no subtema Filosofia da Ciência).
Na idade média havia uma renúncia exacerbada à dialética que impediam a inserção da
metafísica na teologia e na moral, contudo ao passo que os estudos bíblicos aumentava,
tal assunto, passou a ser cada vez menos discriminado no meio teológico e com isto
tomou forma. Os sistemas morais aplicáveis ainda enquanto não existia na conduta
unanimidade suficiente sobre a liceidade, discutia-se mais sobre a quantidade e
autoridade do autor do que de fato pelo seu raciocínio lógico.
Hodiernamente muito se fala da interrogação que o marxismo coloca sobre a ética, bem
como sobre a religião por meio de argumentos econômicos, na qual o mito de Prometeu
toma forma como o primeiro santo do calendário de Marx, representando o gênio
humano que supera limites, questiona privilégios de deuses e ainda protesta contra
um terrível engano de uma religião infantil e dominadora e ainda, por fim, estabelece
o homem como cerne do universo e o único responsável por ele. Azpitarte (1995, p.28)
nos dá mais informações:
O reducionismo da moral é feito por psicanálise, assim como reduz-se a mesma por
meio das estruturas econômicas em Marx. Já em Nietzsche vê-se claramente a raiz de
denúncia da moral como máscara, a qual alega que usa o cristianismo como forma
21
UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
Comportamento Moral
Vidal (1993, p.55), existe a dualidade esquemáticas para a formulação das expressões
do comportamento moral, que divergem o esquema aristotélico-escolástico-casuístico
e esquema atual personalista.
O primeiro trabalha com potências, seguidas de hábitos (virtudes, vícios etc.), seguido
de atos. Não entraremos em profundos detalhes, contudo, sabemos que por muito
tempo a moral cristã se foi baseada no esquema aristotélico-escolástico-casuístico.
Quais potências constituem a primeira estrutura contundente do comportamento
humano, onde a “alma” não é imediatamente operante. O início do ato moral se dá
na conjunção de ambas as potências. Tratando-se de hábitos, estes constituem uma
estrutura intermediária entre as potências e os atos, podendo ser bons ou ruins, Vidal
os classificam como “princípios intrínsecos da ação humana”.
22
OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
CONSTITUINTE CARACTERÍSTICAS
Na obrigação externa Obediência a princípio exterior legislante (sistemas morais obrigacionistas, legalistas, heterônomos, tabuísticos etc.).
É bom o que origina prazer e à medida que o causa (existem variantes notáveis: hedonismo crasso, epicurismo,
No prazer
hedonismo elitista, hedonismo do gozo tranquilo e compartilhado etc.).
O ideal ético consiste na realização feliz do homem (mediante o exercício de suas funções superiores: ética
Na felicidade (eudemonia) aristotélica; mediante a consecução do fim último humano: ética tomista; mediante a realização integral da pessoa:
versão moderna da ética eudemônica etc.).
O ideal ético está na “ataraxia” e na “apatia” (estoicismo clássico), ou na realização do “sustineet abstine” (=
Na harmonia interior
“suporta e abstém-te”) (estoicismo popular).
No dever pelo dever Vivência ética partindo da autonomia da vontade (ética kantiana).
O bem reside em tirar a máxima utilidade para o maior número possível de sujeitos (utilitarismo clássico), ou em
Na utilidade
conseguir o máximo proveito para a vida individual e social (neo-utilitarismo).
No altruísmo (mesclado com
O ideal ético está em olhar sempre pelos outros, sabendo que deste modo se dá atenção também a si mesmo.
certa dose de egoísmo)
Entendida como absurdo (ética sartriana), como luta contra os valores vigentes (éticas revolucionárias), ou como
Na liberdade
fator de destruição (éticas de cunho niilista).
Agindo lucidamente em um mundo em que, diante de todas as inseguranças inevitáveis e diante de todos os
No exercício da razão
motivos reais de desespero, a racionalidade é o último recurso do homem.
Por meio de Glaudium et spes7 15, sobre dignidade da consciência moral e de 27-31
sobre a responsabilidade do homem para com ele mesmo, traça-se um contexto que
compreende a correlação entre cristianismo e o mundo moderno em geral ainda dentro
do Concílio Vaticano II e, portanto, em uma weltanschauung católico-romana.
Para Vidal (1993, p.77) dentro do tema descrição da consciência moral em um enfoque
geral, entende-se que consciência moral engloba:
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UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
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CAPÍTULO 3
Valores Morais Objetivos e suas Origens
Craig (2012, p.100) indaga porque o ceticismo atribui os valores morais: “bom” ao certo
e “ruim” ao errado, seguindo-se que não há consequência alguma futura. Cita ainda
“Porque sabemos o que é certo e o que é errado? Onde reside o valor moral objetivo?”
– William Sorley (1855 – 1935). A alegação ateísta traz consigo a ideia que “tudo o
que contribui para o bom andamento da vida é bom, o que não contribui é ruim, e
ponto”. Levante-se, contudo, tais perguntas: o peixe rouba a comida de outro ou o faz
por extinto? Um determinado ser assassina outro animal ou por necessidade natural o
faz? Estupra ou acasala em favor da vida? Ainda segundo o autor: “se Deus não existe,
segue-se que a moralidade, em última análise é subjetiva e não coercitiva” – (CRAIG,
2012, p.167).
8 Defesa da fé cristã.
9 S.m. Lógica. Raciocínio que se pauta na dedução, composto basicamente por duas premissas ou preposições (maior e menor),
a partir das quais se alcança uma conclusão.
25
UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
Acreditando-se que as premissas acima são em geral autoexplicativas, não será ocupado
espaço em demasia para explicá-las individualmente em minúcias, tampouco todos
os silogismos apresentados serão explanados individualmente, uma vez que se trata
de sequências lógicas as quais por vezes explicam-se por si mesmas; portanto, as
premissas serão utilizadas somente como ferramentas para dar maior força às colocações
argumentativas. Cabe-nos aqui somente apresentar um contexto de uma cosmovisão
cristã em defesa de sua fé.
Por ora sabe-se que matar, roubar, dar falso testemunho de outrem entre outros são
obrigações morais que ferem princípios do Estado, tornando-se em sua maioria (salvo
culturas indígenas, africanas canibalistas e outras tendo tais atos legalmente normais,
antagonizando-se com o sentimento popular em geral, como já dissemos), que são
passíveis de punição, seja em qual religião e cultura for.
Azpitarte (1995, p.135) nos esclarece um pouco mais quanto ao subjetivismo feito por
muitos da moral objetiva:
26
OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
A Filosofia da Ciência trata do assunto por meio de Thomas Kuhn, o qual infere que o
primeiro mundo de fato é o mundo visível, o mundo material, já o segundo é o mundo
da consciência, da alma, e por fim o terceiro o mundo das proposições, que residem os
valores morais objetivos. Qualquer semelhança com Terceiro Céu de Paulo é mera
coincidência!
William Sorley (1855-1935) citado por Craig (2012, p.100), indaga: “porque sabemos
em boa parte que bom é certo e que mal é errado, porque não o contrário, e porque
essas coisas são assim?”. Segue-se, portanto, poder-se-á enquadra-se devidamente a
causa primeira (Deus) em um quadro natural de realidade, tal como:
Não existe sentido em viver uma vida que tem um fim sem retorno ou sem sequência,
segue-se que não se precisa importar-se com nada que neste mundo é feito, desejado ou
executado, pois não há padrões, não um pano de fundo para se basear, o quebra-cabeça
pode ser montado de qualquer maneira, pois não há uma foto para se embasar, não há
um padrão único.
Os valores podem ser invertidos inadvertidamente ser qualquer ônus, pode-se roubar,
matar, estuprar e adulterar sem qualquer penitência futura. Já quanto ao propósito,
qual a razão, mesmo que não haja fé neste propósito, de ser bom neste mundo se
independe após a morte se o indivíduo optou por ser um assassino de aluguel e um
adúltero sua vida inteira?
Vidal (1993, p.94), aprofunda-nos em uma ótica ainda cristã, porém de outro prisma, a
gênese da consciência mora:
27
UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
Para promover melhor o exposto, se ainda parecer obscuro tais informações, as mesmas
não se fazem com sua condensação:
Azpitarte (1995, p.64) traz um fulcro comentário, para finalizarmos, ainda dentro do
tema:
28
OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
29
CAPÍTULO 4
Aprofundando-se em Ética Cristã
Sistemas éticos
A partir deste momento, nos aprofundaremos especificamente em nosso tema inicial,
uma vez que temos as principais informações globais sobre ética em caráter secular.
Não absolutistas
Antinomismo
Nesta visão de mundo não há leis morais, portanto mentir não é certo nem errado: não
existem leis. O antinomismo expõe sua visão excluindo todas as leis morais objetivas.
Em um sistema “antilei” tudo se torna relativo. O filósofo e teólogo Dr. Norman Geisler
destaca os principais pontos antinômicos e dividi-os em períodos:
MUNDO ANTIGO
Heráclito cria que todas as coisas estavam em fluxo constante, já Cráticlo, acreditava que neste fluxo nada tinha a mesma
Heraclitismo
qualidade, de modo imutável.
Os epicureus acreditavam que o que é bom para um pode não ser bom para outro, a relatividade aqui pertencia ao gosto e
Hedonismo
cosmovisão do ser (como vimos em seu mentor Epicuro no breve comentário sobre o mesmo na unidade anterior).
A suspensão do juízo em todos os seus sentidos aqui é o cerne da visão ceticista. Sexto Empírico no período antigo e David
Ceticismo Hume na modernidade são famosos representantes dessa weltanschauung. Aqui nada é absoluto, por enquanto nenhuma forma
de pensamento está completamente errada, tampouco completamente correta.
30
OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
MUNDO MEDIEVAL
Aqui, prima facie, tudo está envolto à intenção, torna-se bom um ato quando a intenção é boa e mau quando a intenção é má
Intencionalismo
e tão somente, de acordo com Pedro Abelardo (século XII).
Para Guilerme de Ockham (século XIV), os princípios morais estão contidos em Deus. Aqui a moralidade podia ser
Voluntarismo completamente inconstante, uma vez que Deus poderia mudar atos corretos para errôneos e errados como bons; não havia
certeza de que Deus não agiria desta forma, encaminhando-se para o pensamento antinômico.
Ainda em Ockham, a negação dos universais ou nominalismo. Atos individuais nesta cosmovisão são reais, porém, formas
Nominalismo
universais residem apenas na mente humana, isto é, um caráter imaginativo da “essência humana”.
MUNDO MODERNO
Aqui o intuito era favorecer beneficamente o maior número de pessoas possível. Sua base é hedonista, estabelecida por Jeremy
Utilitarismo Bentham (1748-1832). Ainda assim não existem valores morais absolutos, tudo é vislumbrado essencialmente naquilo que traz
maior prazer, variando de pessoa pra pessoa em determinadas situações e localizações.
Nós falamos de Kierkegaard (1813-1855), o pai do existencialismo na era moderna. Aqui o dever mais elevado ultrapassa a lei
Existencialismo
moral, para Jean-Paul Sartre (1905-1980) nenhum ato ético possuía significado real.
É cediço que o nascimento desta linha de pensamento se deu em Darwin o que levou e leva cientistas até hoje a crerem na
Evolucionismo ideia de que tudo o que corre para o bom andamento da vida é bom e o que o atrapalha é mau e ponto. Adolf Hitler seguiu uma
visão deturpada evolucionista da seleção natural e sobrevivência dos mais aptos entre os grupos étnicos humano.
MUNDO CONTEMPORÂNEO
Para A.J. Ayer (1910-1989) as fundamentações éticas são dadas por aspectos emotivos. Aqui não há leis morais obrigatórias a
Emotivismo
ninguém, pois decerto o homem não mata porque “não gosta de matar” e “sente que matar é errado”.
Os valores morais objetivos aqui estão mortos juntos com Deus, segundo Friedrich Nietzsche (1844-1900). Corroborado por
Niilismo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) onde afirma que se Deus está morto, de fato, tudo é válido! Nietzsche argumenta que prefere
querer o nada a nada querer, destarte niilismo ou redução a nada.
Aqui tudo se torna relativo frente a uma situação determinada. Joseph Fletcher (1905-1991) afirma que se devem evitar termos
Situacionismo como nunca e sempre, uma vez que não existem princípios morais que possam aplicar-se a todos o tempo todo. Deste modo,
as decisões éticas baseiam-se em sua utilidade de acordo com as circunstâncias.
Em suma, o antinomismo é uma forma radical de ética relativista. “Sem lei”. Enfatizam
o valor do indivíduo em tomar decisões éticas, bem como o valor dos relacionamentos
pessoais. Aqueles que negam todos os valores, certamente valorizam o direito de
negá-los.
Situacionismo
Afirma que existe uma lei absoluta. Por exemplo, mentir é certo algumas vezes: existe
somente uma lei universal e ainda sustenta a existência de um único absoluto moral
excluindo todos os outros. Inserido no antinomismo, Joseph Fletcher (1905-1991) é tido
31
UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
como principal referência, uma vez que em sua obra, não opondo-se veementemente
ao pensamento antinômico, existem algumas leis. Emil Brunner e John A. T. Robison
também são representantes desta cosmovisão.
Esta lei absoluta de Fletcher se resume em uma só lei: a lei do amor. Deste modo, não está
totalmente divergente da ética cristã, porém possui características controversas em seus
princípios funcionais, os quais para Fletcher resumem-se em quatro grandes pontos:
Aqui tudo o que corre em prol do amor deve funcionar ou satisfazer. A prática é preferível à teoria, deste modo, soluções
Pragmatismo
verbais e abstratas são rejeitáveis.
Aqui todas as coisas são relativas, pois para ele há somente apenas um absoluto. A imutabilidade reside no fato do amor ser
Relativismo
imutável, destarte o situacionismo cristão corre em favor deste critério, intitulado de ‘amor ágape’.
Em oposição ao naturalismo, aqui se defende os valores oriundos de um caráter voluntário e não racional. Possui
Positivismo
características emotivistas. Nas afirmações éticas, não busca-se confirmação, mas somente justificativas.
Aqui as pessoas e tão somente elas representam o valor moral último e definitivo. Somente as pessoas têm valor, portanto
Personalismo as ‘coisas’ somente têm valor porque as pessoas dão valor às coisas. Deste modo, tudo converge em favor do bem para as
pessoas que são boas por si mesmas.
Em resumo, segundo o professor Geisler (2010, p.44) o situacionismo é uma ética com
estratégia pragmática, tática relativista, atitude positivista e centro de valor personalista.
É uma ética com um único absoluto, sob o qual tudo se torna relativo e se direciona
para o fim pragmático de fazer o bem às pessoas. Ele mesmo ainda se posiciona quanto
à amplitude que poder-se-á dar das aplicações práticas do situacionismo, alegando que
adultério altruísta, prostituição patriótica, suicídio sacrificial, aborto aceitável, assassinato
misericordioso podem ser, de um certo ponto de vista situcionista, aceitáveis.
Ainda assim, o situacionismo possui seu aspecto positivo, como em qualquer cosmovisão,
o qual é uma oposição normativa em sua abordagem, e não tão somente, também é
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OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
Generalismo
Reivindica que existem algumas leis gerais, mas não existe absoluta. Por exemplo, mentir
é normalmente errado: não existem leis universais. Afirma que existem exceções às leis
morais. Os utilitaristas são os adeptos tradicionais dessa visão de mundo.
Até agora, isso não significa que utilitaristas não possuem absolutos.
Eles podem ter fins absolutos, mas reivindicam não possui normas
absolutas. Eles podem possuir um absoluto ou resultado último
mediante o qual eles julgam todas as ações, mas eles não confessam
possuir nenhuma regra absoluta que capacita o indivíduo a realizar esse
fim supremo de produzir o maior bem para o maior número de pessoas
(GEISLER, 2010, p.61).
Utilitarismo quantitativo: oriundo do hedonismo, o generalismo também crê que o prazer é o maior bem do
homem. Bentham calculou o prazer. Deste modo, nenhum ato ou palavras possuem qualquer significado
Jeremy Bentham (1748-1832) ético à parte de suas consequências. Aqui deve-se buscar o prazer e evitar a dor e ainda possui seis fatores:
intensidade, duração, certeza ou incerteza, proximidade ou distância, fecundidade e pureza; um sétimo ainda
extensão quando aplicado a um grupo de pessoas.
Utilitarismo quantitativo, porém em Mill a abrangência é vista ao considerar leis morais gerais. Para ele o prazer é
definido qualitativamente. Aqui prazeres sofisticados e intelectuais são maiores que não sofisticados e sensuais.
John Stuart Mill (1806-1873) Esta posição também possui caráter normativo, porém de regras não universais. A verdade, deste modo, torna-
se uma regra geral (porém com exceções) aplicada para guiar a pessoa a executar àquilo que trará maior bem a
maior quantidade de pessoas.
Ele combina abordagens conhecidas como utilitarismo de regras, as quais nunca devem ser quebradas e,
utilitarismo de ato que sustenta que cada ato ético particular precisa ser julgado por suas consequências. Aqui
G.E. Moore também as regras possuem valor geral, mas algumas não devem ser quebradas. Justificam-se apenas por seus
resultados, não são deontológicas, muito menos o ato possui valor intrínseco, pois devem ser julgado por seus
resultados.
Ele ultrapassa a visão de Moore quanto às regras inquebráveis, pois somente não podem ser quebradas devido
John Austin seu aspecto geral e a incerteza de uma exceção legítima. Aqui as regras são justificadas pelos resultados gerais
e por isso a obediência universal às regras é justificada
Ainda assim, como de costume, vemos seus valores positivos como a necessidade de
normas, a solução para normas conflitantes e ainda que alguns generalistas possuem
uma norma “universal”. Suas impropriedades são que (1) o generalismo não possui
33
UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
normas universais, (2) os fins não justificam os meios, (3) atos utilitaristas não possuem
valor intrínseco, (4) a necessidade de uma norma absoluta, uma vez que é confusa a
ideia de norma relativa de um fim, portanto (5) o “fim” é um termo ambíguo e ainda (6)
a necessidade de normas éticas absolutistas.
Absolutistas
Acredita em muitas leis absolutas que nunca são conflitantes. Por exemplo, mentir é
sempre errado: existem muitas leis não conflitantes. Insiste em que existe sempre uma
saída para o conflito aparente entre as leis morais absolutas.
É confundido por muitos com um situacionista, porém não se baseava somente no amor em seu sistema
ético. Para ele somente falsificações feitas com a intenção de enganar podem ser qualificadas como mentiras,
Agostinho (354-430) como contar uma mentira com o intuito que o ouvinte entenda algo verdadeiro. Aqui, indica Geisler, “cometer
um pecado para evitar outro pecado ainda é pecado”. Como mentir para fugir de um estupro ou assalto, essa
mentira é pecado.
Como já vimos, para Kant existe apenas um dever moral universal em seu imperativo categórico. Seu
comprometimento está para a ética deontológica (centrada no dever). Ele não acreditava na existência de
Immanuel Kant (1724-1804) exceções nos deveres morais. Em A Crítica da Razão Prática Kant defende que não se minta para um bandido
para evitar um roubo, pois coisas como o vizinho chamar a polícia e não encontro do assassino com a vítima
podem acontecer.
Pretendia manter a “santidade da verdade” mesmo em meio a situações que parecem exigir a prática de uma
John Murray (1898-1975)
mentira justificável. Para mentir é sempre errado.
34
OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
As premissas básicas que regem o absolutismo não qualificado de acordo ainda com
Norman são:
4. Por esse motivo, duas leis morais absolutas não podem realmente conflitar.
Contudo, como ponto de divergência os quais críticos a esta cosmovisão mais se apoiam
e indagam é que (1) algumas premissas falsas ou discutíveis, (2) pode a mentira para
salvar vidas ser separada da misericórdia? (3) Os atos são intrinsecamente bons? (4)
Uma mentira pode ser definida como algo não intencional? (5) A mentira destrói toda
certeza? (6) Há uma escolhe entre permissão e comissão? (7) Sonegar parte da verdade,
como fez Abraão, é mentir?
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UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
Absolutismo conflitante
Defende a ideia de que há muitas normas absolutas que algumas vezes são conflitantes.
Por exemplo, mentir é perdoável: existem muitas leis conflitantes. Defende que, quando
há conflito entre leis morais, o ato de fazer o menos de dois males é desculpável, porém
considera a pessoa culpada, independente da posição que tomar.
Como aspectos positivos desse modo absolutista de pensamento, temos que (1) o
absolutismo conflitante preserva os absolutos morais, (2) possui um realismo moral, (3)
apresenta uma solução sem exceções e (4) vê os conflitos morais arraigados na queda.
Contudo as críticas são latentes e veementes quanto a (1) um dever moral de pecar é
moralmente absurdo, (2) a inevitabilidade não é moralmente culpável, (3) Jesus deve
ter pecado, pois Cristo teve que enfrentar conflitos morais.
Para Azpitarte, a saída seria a ética normativa, como tratamos à luz do subtema a ética
cristã, o relativismo e aspectos normativos deste material. Segue abaixo, sua concepção
ideológica:
A ética normativa, mais do que uma lei, é vista então como uma espécie
de modelo que a ética pessoal tenta reproduzir na realidade [...]. Por
isso, nessa visão não há lugar também para relativismo arbitrário, que
induza cada um a comportar-se como bem lhe parecesse. A objetividade
de uma conduta não depende da simples obediência à lei, mas da
submissão concreta àquele valor que, em tais circunstâncias, deve
prevalecer a ser respeitado acima de tudo. Trata-se de encontrar a melhor
resposta possível às diferentes exigências éticas que se acumulam numa
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OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
É tida por muitos como uma visão um tanto quanto idealista, mas aplicável em alguns
casos que de fato situem-se os valores morais objetivos, contudo, incerto em muitas
situações até mesmo corriqueiras do cotidiano.
Na concepção absolutista conflitante, para Geisler, por fim, acredita-se nos diversos
absolutos morais e que estes inevitavelmente a qualquer momento entram em conflito.
Tem-se que o mundo é caído e desta forma haverá pecado; os valores morais são
absolutos, uma vez que são criados em Deus, desta forma, a obrigação é a de executar e
escolher o mal menor quando no conflito moral. No entanto, críticos alegam que faz-se
um absurdo moral dizer que há um dever moral de pecar ou culpar outrem por aquilo
que é inevitável.
Absolutismo graduado
Diz que muitas leis absolutas são conflitantes, e nós somos responsáveis por obedecer
àquela que for mais elevada. Por exemplo, mentir é certo algumas vezes: existem leis
maiores. Afirma que quando leis morais conflitam, Deus nos dispensa da obrigação de
obedecer à lei menos em função do nosso dever de obedecer à maior.
Muito embora tenhamos veementemente a defesa optativa de Agostinho pelo absolutismo não qualificado existem
alguns pontos em sua concepção que convergem a o pensamento graduado. Como a hierarquização de pecados,
onde um é mais grave que o outro, tal como Deus deve ser mais amado do que as pessoas ou coisas, pois mesmo
Agostinho
que o mandamento é de nos amar, ainda assim, amar a Deus é um bem maior e amá-lo menos do que coisas e
(354-430)
pessoas é um pecado de prioridades. Ele cria nos diferentes deveres, pensamento que dá base ao absolutismo
graduado. Portanto, aqui, quando dois deveres morais se chocam, escolhe-se o dever maior e o cristão está isento
do dever menor.
37
UNIDADE I │ OPÇÕES ÉTICAS
Acredita que às vezes é correto falsificar a verdade de maneira intencional. Como exemplo, o irmão mais novo tem o
Charles Hodge
dever de proteger a irmã mais velha, se um suspeito estuprador bate na porta perguntando pela moça na ausência de
(1797-1878)
seus pais e ele mente, qual mal é menor?
Geisler nota neste representante sua visão da obediência de Abraão à instrução de Deus para fazer de seu filho um
Kierkegaard
cordeiro, portanto, a obediência do dever maior não necessariamente é a negação do dever menor, o qual matar ainda
(1813-1855)
continuava sendo errado, quanto mais o próprio filho.
W. David Ross Existe sempre um sentido deontológico não utilitarista. Para ele é sempre uma obrigação absoluta seguir os deveres
(1877-1971) maiores acima dos menos.
Percebe-se que, dentro dos absolutos morais ainda há linhas de pensamentos que
convergem e divergem entre si, se tornando até mesmo um absurdo moral a concepção
de um para com o outro. Segue-se que o absolutismo não qualificado está associado com
a tradição anabatista. O absolutismo conflitante com a tradição luterana. Absolutismo
graduado com a tradição reformada (GEISLER, 2010, 113).
Jesus de fato enfrentou conflitos morais, mas em todos eles sabia exatamente como
agir como é o caso do shabat (Mc 2), seus pais biológicos (Lc 2) e governo (Mt 22).
Jesus é o exemplo supremo de como lidar diretamente com pecados maiores (veja a
nota de rodapé acima). Os conflitos não deixaram de existir, pois, como seres humanos
passíveis de falhas de modo integral, temos a tendência natural enfrentar qualquer
caráter normativo com equívocos, quanto mais absolutos morais em conflito. Muito
interessante nos é estudar o resumo de Geisler (2010, pp.134-135):
10 Não deixe de ler também Mt 22, 34-40; Jo 19, 11; 1Co 13, 13; Jo 15, 13; Tg 2, 10; Mt 5, 22 e 28; Rm 2, 6; Ap 20 12; 1 Co 3 11-15;
1Co 5; 1Co 11, 30; Mc 3, 29; Mt 10, 37; como também Pv 6, 16-18; 1Tm 1, 15;1Jo 5, 16.
38
OPÇÕES ÉTICAS │ UNIDADE I
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QUESTÕES BIOÉTICAS UNIDADE II
CAPÍTULO 1
Questões Bioéticas mais conhecidas
A bioética não trata só dos problemas morais difíceis [...] nem só das
decisões que precisamos tomar em um momento ou outro. De modo
mais fundamental, ele nos convida a pensar acerca da maneira pela
qual vivemos em direção à morte em um mundo marcado pela doença
e pelo sofrimento [...]. Para onde quer que nos voltemos, é provável
que nos confrontemos com doenças e sofrimentos, e se somos
abençoados com uma boa saúde, a disparidade entre nossa condição
e a dos outros pode tornar o próprio fato do sofrimento ainda mais
contundente. Precisamos pensar acerca do significado da doença na
vida humana.
Eutanásia
Eutanásia basicamente significa “boa (ou feliz) morte ou morte sem dor”. Pode ser
voluntária ou involuntária, o paciente consente com a morte ou não consente. Pode ser
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QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
Vejamos em Vidal (1989, p.201) ainda sob o tema valor da vida humana:
1. A vida humana tem valor por si mesma; possui inviolabilidade axiológica de caráter apriorístico;
2. A vida humana não adquire nem perde valor ético por situar-se em condições de aparente “descrédito”: velhice, “inutilidade” social etc.;
3. O valor da vida humana é a base fundamental e, ao mesmo tempo, o sinal privilegiado dos valores éticos e dos direitos sociopolíticos da pessoa;
4. A vida humana, assim como a pessoa, não pode ser instrumentalizada com relação a outros fins distintos de si mesma. Concretamente: não se
pode estabelecer autêntico conflito ético entre valor da vida humana (também do paciente próximo do desenlace final) e um valor social;
5. A vida humana não pode ser instrumentalizada pelo próprio indivíduo que dela goza. Concretamente: não se pode estabelecer autêntico conflito
ético entre o valor da vida do paciente e outro bem do próprio paciente que não englobe a totalidade valorizada da pessoa.
Não conseguiremos nos estender em demasia sobre o assunto, mas bem sabemos que a
geração de debates sobre eutanásia vai além da lógica e da emoção, haja vista diversas
41
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
capas de jornais e revistas que dão vazão ao tema. Em 12 de agosto de 2014, no jornal
The New York Times International Weekly, a França ainda opõe-se a retirada da vida,
enquanto em muitos países da Europa aderem ao fato de que os poderes de decisão são
dados aos médicos e pacientes. Em o Estado de S. Paulo11 de 14 de Fevereiro de 2014
(Ed. 14, p.16) também há uma matéria eutanásia, porém infantil, onde informa que a
Bélgica legalizou a ação.
Para que nossa visão sobre o assunto se torne um tanto quanto mais ampla, vale
analisarmos as palavras do já membro do conselho consultivo em questões relacionadas
à bioética da presidência dos EUA:
42
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
Como já vimos em ética à vida sem Deus pode ser facilmente sem sentido, valor e
propósito. Não existe padrão moral sem Deus, o sofrimento é simplesmente um mar
de sentimentos e situações sem objetivos, torna-se algo que serve para esmagar a vida
de outrem, circunstâncias que definham o ser, antagonicamente isso é visto na Bíblia.
O deserto é citado em praticamente toda a Escritura Sagrada como algo em que Deus
se revela sobremaneira ao homem, e aquele é o lugar onde Deus mais trabalha, forja-o,
corrige-o e, portanto, cabe ao homem permitir-se as operações que muitas vezes são
literalmente cirúrgicas de Deus, para retomar o caminho correto de acordo com a
perfeita, agradável e boa vontade dele.
Poderíamos utilizar diversos argumentos em favor da eutanásia, uma vez que somente
pensando sobre o delicado tema facilmente nosso raciocínio emocional nos leva a seu
favorecimento. Deste modo, é válido ressaltar alguns posicionamentos embasados que
nos farão refletir melhor sobre o tema, bem como instigar (um dos propósitos principais
deste material) o pensamento e posicionamento.
Vale a pena, por fim, verificarmos a posição cristã conclusiva de Norman Geisler:
43
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
estiver com uma doença irreversível em fase final; e, ainda assim, isso
nunca deve ser feito contra a vontade expressa do paciente. Além do
mais, essa decisão deve ser tomada mediante consenso do pastor, dos
médicos, do advogado e dos familiares. Deus deve ser buscado em
primeiro lugar por meio de orações constantes feitas em favor da cura
do enfermo. Quando o curso da doença se torna irreversível do ponto de
vista médico, e não houver nenhuma intervenção divina, é moralmente
justificado para todos os esforços artificiais que visam prolongar o
processo de morte (GEISLER, 2010, p.211).
Infanticídio
Tratamos da “morte feliz” para um ser humano depois do nascimento, vejamos
quando se trata de crianças, a qual a terminologia infanticídio é adotada. Geisler
(2010, pp.188-190), os entende em dois grandes grupos, o (1) infanticídio passivo:
simplesmente permite a morte de um infante por abstenção do tratamento necessário
e (2) infanticídio ativo: procedimentos são adotados para tirar-lhes a vida.
Os principais argumentos favoráveis, segundo ainda o autor, são o de que (1) crianças
recém-nascidas com risco iminente de morte e que os pais têm o direito de escolha em
casos de deficiência qualquer e que (2) essas crianças não são pessoas. (3) Dificilmente
essa criança terá uma qualidade de vida adequada aos padrões humanos, bem como (4)
a qualidade de vida dos terceiros que cuidarão dessa criança será prejudicada.
44
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
tomá-la (Dt 32, 39; Jó 1, 21). O fato de a criança não ser plenamente
desenvolvida não significa que ela não seja plenamente humana [...]
argumentos que se oponham a isso são falaciosos porque se baseiam
em diferenças acidentais, e não em diferenças substanciais. Um
humano infante é um humano por essência, não por características
acidentais. Aqui, o infanticídio intencional é uma forma moralmente
culpável de homicídio.
Aborto
Das questões éticas, as mais urgentes são aquelas que tratam da vida e da morte. Quando
falamos de aborto de um nascituro, o espanto é geral, o asco toma conta da qualquer
um somente em pensar na possibilidade, contudo, ainda assim, existem questões que
geram debates acalorados quando o nascituro não é fecundado de maneira natural e de
acordo com o esperado.
Uma em cada três crianças nos EUA, segundo Craig (2010, pp.123-124) é abortada, são
estes os principais motivos citados por ele:
4. A maioria dos casais sem filhos não quer ter filhos ou adotá-los.
5. O corpo de uma mulher é problema dela; não deveria ser uma questão
pública.
São argumentos que no mínimo causam incômodo naquele que ouve e desfavorece a
prática do aborto, desta forma, de acordo com nosso tema, nos restam duas questões de
acordo com Craig (2010, p.124): (1) Os seres humanos possuem valor moral intrínseco?
(2) O feto em desenvolvimento é um ser humano? Para o cristão minimamente
conhecedor das Sagradas Escrituras, certamente eliminará, de modo instantâneo, mais
da metade desses argumentos por meio de princípios e verdades bíblicas.
45
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
Direitos da mãe Vida acima de privacidade Combinação de direitos Privacidade acima do direito à vida
Existem argumentos bíblicos para os que são favoráveis ao aceite de que o feto é
subumano por meio de interpretações controversas e questionáveis13, a qual Cortes
de direito ao sinalizar a legalidade da prática abortiva só pode se basear em um só
argumento, que o feto é um subumano, ou seja, o nascituro não é considerado uma
pessoa real, do contrário se o fosse, alterar-se-ia o termo aborto para homicídio.
Deste modo nos é demasiadamente válido, novamente para efeitos didáticos aplicados
em favor do nosso pensamento e posicionamento, ver os argumentos e contra
argumentos que o professor Geisler (2010, pp.155-158) nos traz de forma ampla,
seguida pela interpretação de nosso material de estudo em caráter unitário:
2. Argumento da dependência física. Aqui o bebê é uma extensão do 2. Um embrião não é a extensão de sua mãe. Aqui se alega que o
corpo da mãe, dando-lhe todo o direito de fazer o que quiser com ele. nascituro é outro ser humano, com seu próprio sexo e tipo sanguíneo.
3. Argumento da transmissão de sinais hormonais. Aqui o bebê é um 3. Alega-se que nenhuma informação é transmitida ao ser humano após
subumano até a implantação (aproximadamente um ou duas semanas a concepção. O “rádio é rádio mesmo sem estar ligado na tomada”, o
após a concepção). bebê é um bebê mesmo antes de ser amamentado.
4. O zigoto é uma substância viva e um ser unificado, que tem em si
4. Argumento da dependência do zigoto de moléculas materiais para
mesmo a capacidade de ser influenciado a conduzir-se em direção à
ser desenvolvimento. Aqui a mãe tem o direito de escolher deixar o
sua causa final. Os seres humanos que tem recorrido a qualquer fonte
zigoto existir ou não.
molecular material exterior também não podem ser considerados humanos.
5. Argumento da segurança da mãe. Aqui pede-se a legalização para a 5. O abordo legalizado não salva vidas. Em 1973 nos EUA a legalização
prática, uma vez que a ilegal e irregular gera grandes riscos à vida da do aborto não impediu a morte de milhares de mulheres, mas dizimou
mãe se decidir praticar o aborto mesmo não autorizada. dezenas de bebês.
6. Argumento de autonomia da mãe sobre seu corpo. Sua autonomia
6. O direito à vida tem preferência ao direito do próprio corpo.
sobre o corpo está acima do direito do nascituro à vida.
7. Argumento baseado no abuso e na negligência. Aqui indaga-se 7. Estudos apontam que 91% dos abusos infantis eram de crianças
porque permitir que a criança nasça mesmo com má formação como desejadas. Quanto à má formação, pessoas com deficiência física
também a grande estatística de abuso infantil. adquirida também deveriam ser assassinadas, o que é considerado crime.
8. Argumento do direito à privacidade. Aqui alega-se que a privacidade
8. A privacidade não dá o direito de matar, tampouco em legítima
dá o direito de tirar um estranho de dentro de casa a hora que quiser,
defesa, pois se trata de um inocente.
assim ocorre também para um nascituro indesejado.
46
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
Ainda assim, alega-se que o nascituro é um ser humano em potencial, por meio de que
(1) a personalidade humana se desenvolve de forma gradual e que (2) o desenvolvimento
humano está conectado ao desenvolvimento físico. As críticas quanto à abordagem
de que o feto é um humano em potencial de maneira compactada temos que (1) a
personalidade é diferente do ser humano, (2) nem uma manga nem um embrião
representam vida em potencial e (3) os nascituros são protegidos pela constituição.
47
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
48
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
Figura 1. Fecundação.
Fonte: <http://4.bp.blogspot.com/_dxnS147nlwo/SeDpGYkUFxI/AAAAAAAAAAk/Hv0IaO8gAdw/s400/segmentacao+holoblastica+igual+2.JPG>.
Podemos ver esse processo de geração de vida ou iniciação em todas as áreas sociológicas,
patológicas, na fauna, na flora e em toda sua biodiversidade; em processos químicos e
orgânicos, físicos e matemáticos, tal verificação pode ser feita. Acreditava-se em no
passado na ideia do flogisto para ocorrência da combustão, contudo após a descoberta do
oxigênio por Lavoisier descobriu-se que é somente em contato com o oxigênio é que se
ocorre a combustão, portanto, seguindo a analogia, faz-se um tanto quanto ilógico dizer
que o fogo é tão somente considerado fogo apenas após ter incendiado a casa toda.
49
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência
maligna” (Mt 5, 37).
Anencefalia
Em um aspecto jurídico, dentro do Código Penal Brasileiro, de acordo com o doutor
Antonio Telmo de Toni, dentro do livro organizado por Hoch e Wondracek (2006, p. 52)
afirma que não há legislação específica sobre anencefalia, mas somente sobre o aborto,
e o traz como ilegal14.
Segundo o autor, a anencefalia é frequente, muito mais que do que o imaginado (veja os
números abaixo), ele explica e dá alguns números:
Por fim, mesmo anencefálico, o nascituro não pode ser abortado sem autorização judicial.
Segundo Toni ainda, os documentos necessários devem ser entregues, não se admitindo
qualquer hipótese futura de vida da criança, mas com total comprovação de que nascerá
morta. Cita que os documentos necessários são: (1) relatório médico, que informe ao
Juiz da Vara, objetivando o suprimento judicial, a constatação de que a patologia é letal
em 100%; (2) exames de ultrassom morfológico com avaliação de idade gestacional e
descrição da patologia; (3) avaliação psicológica e (4) assinatura do casal.
50
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1, 21). O que não quer dizer que o cristão deva
estar plenamente conformado com a situação (Rm 12, 2), mas que o importante é
continuar a jornada (Mt 5, 1-11).
Exames
Ainda assim, persistiremos nos estudos e pensamentos de homens referenciais bioéticos
cristãos, e seguimos a arguição de Meilaender (2009, p.66):
Se sua vida [do agente cristão que abortará] possui valor, sentido e propósito, saberá
que mesmo em meio a uma vida futura possivelmente conturbada, passível de todos os
problemas e mesmo assim venha a se concretizar o aborto, terá ciência que a intenção
homicida, portanto homicídio doloso; pois certamente não se assassinaria um ser
humano somente porque após um grave acidente este fica tetraplégico e decreta-se,
“Vamos matá-lo, pois se nós sofremos, quanto mais ele”, ou ainda, trazendo para nosso
contexto, detecta-se a ploriferação de células cancerígenas malignas no corpo de um
indivíduo e diz-se, “Ide, vamos matá-lo para que se reduza sua dor e também nossos
gastos futuros”.
De fato isso não ocorre. Para um cristão tal atitude além de insana é homicida,
simplesmente porque acredita que ainda nos poucos dias ou meses (e até mesmo anos!)
51
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
em que aquela vida estará na Terra, poderá ser edificadora e motivadora de dezenas de
milhares de mentes suicidas e contrárias à beleza e à dádiva da vida por parte de Deus.
Controle de Natalidade
Basicamente, temos na Igreja Católica Romana a incipiência deste pensamento. Até
agora, vimos dentro de caráter éticos que, após a concepção (veja Anexo I), qualquer
tentava abortiva é homicídio. Porém aqui, a controversa está em simplesmente não
permitir que se bloqueie a fecundação por nenhuma forma, isto é, dentro de contextos
protestantes não se dá nenhum problema, pois o mal aqui é simplesmente a não geração
de um nascituro, deste modo, não se configura assassinato, pois simplesmente ele não
foi gerado.
Claramente temos que, o argumento que se usa contraceptivos para relações extraconjugais
e fora do casamento, não se faz favorável ao pensamento cristão, tampouco quando
esse controle de natalidade causa abortos. Mas o argumento favorável ao controle alega
que é correto para adaptar aos custos familiares18; adiar esse nascimento por conta da
15 Vide texto: Gn 38, 9-10 (consideravelmente utilizado como argumento contra a masturbação);
16 Vide Mt 19, 12; 1Co 7, 17; 1Co 7, 5 e Gn 1, 28.
17 Vide Pv 5, 18 e 1Tm 6, 17.
18 1Tm 5, 8 e Lc 14, 28.
52
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
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UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
mesmo tempo estudo e ação. Esta dupla função se concretiza nas ações
sob controle social que podem melhorar as qualidades hereditárias das
gerações humanas, tanto no aspecto físico quanto mental. Em outras
palavras, trata-se de melhorar geneticamente as populações humanas. A
eugenia se apresenta como ciência aplicada, cuja função específica é a de
conservar, preservar e melhorar o patrimônio genético da humanidade.
Grosso modo, podemos pensar na eugenia positiva como algo bom, controlando os
casais e indivíduos reprodutores, dando-se principalmente por meio de crivo genético
e passando por conselhos genéticos. Tratando-se de Ética Cristã tal visão não favorece
a visão divina do ser, obviamente não se dando mediante o retrocesso de pensamento
para com o desenvolvimento da ciência, entretanto, a forma engessada de pensar de
que todo casal deveria procurar avaliação genética para gerar filhos cai no absurdo
estatístico, o que obviamente não ocorre quando há relação parental entre familiares.
54
CAPÍTULO 2
Questões Bioéticas na Bíblia
Homossexualidade
Grande, abrangente e gerador de acaloradas fontes de debates e polêmicas, muito
provavelmente o assunto do ano de 2014, assim como passamos uma década atrás
(baseado no ano de 2014) sobremaneira sobre o tema clonagem humana, sendo a
mídia e respectivos programas televisivos as fontes de tais celeumas, segue, portanto,
que hodiernamente os holofotes estão voltados aos contrários e favoráveis ao
homossexualismo, termo controverso, preferível aos prós, homossexualidade.
Tal definição do termo nos faz importante, uma vez que podemos ver casuisticamente
em até mesmo em entrevistas, reportagens e conversas informais a geração de conflito
no uso indevido da expressão. Tendo isso em mente, vejamos alguns argumentos
favoráveis à homossexualidade:
55
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
não era para com ela, mas sim contra a adoração a outros deuses24; (5) as condenações
paulinas são apenas opiniões pessoais25; (6) Paulo também condenou o uso do cabelo
cumprido por homens26; (7) 1Coríntios 6.9 fala apenas contra ofensas praticadas; (8) a
heterossexualidade não é natural para os homossexuais; (9) Isaías previu a existência
de homossexuais no reino27; (10) Davi e Jônatas eram homossexuais28; (11) não deve
existir nenhum tipo de constrangimento sexual entre adultos que consentem com a
prática; (12) o direito à privacidade protege a homossexualidade; (13) os homossexuais
também têm direitos civis; (14) tendências sexuais são herdadas; (15) os padrões morais
têm mudado ao longo dos anos; (16) muitos outros mamíferos são homossexuais
(GEISLER, 2010, pp.332-336).
De certo são argumentos válidos e não divagados pelo professor Geisler, desta forma,
consideramos que ainda assim existe teístas homossexuais, os quais possuem de fato
todo o direito, uma vez que somos todos criaturas de Deus.
Como apologista veterano em debates, haja vista os feitos defendendo a fé até mesmo
com Richard Dawkins, Craig (2010.p.146) traz as seguintes premissas lógicas:
Vemos que, dentro da lógica, para que a prática homossexual diante de Deus seja
aceita, faz-se necessário negar (2), isto é, Deus não se revelou nas Sagradas Escrituras,
portanto, não há critérios para atribuir verdade ou falsidade a nenhuma prática, não
somente a homossexual, desta forma, a vontade de Deus se torna objetiva e retoma-se
o ciclo relativista do bom e ruim, onde “o que é certo para você, não é certo para
mim”. Não há padrão moral, tampouco valores morais objetivos, mas sim decorre o
pensamento evolucionista que “tudo que corre para o bem da vida é bom e o atrapalha
é ruim, e ponto”.
56
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
O pecado de Sodoma e Gomorra era a homossexualidade, pois a palavra conhecer tem conotação sexual e não somente de se ‘fazer
1e2 conhecido’. Os pecados sexuais são uma forma de egoísmo (Ez.16.49 não exclui a homossexualidade). Sodomia sempre se refere às
perversões sexuais29. A proibição contra a homossexualidade é moral, não apenas cerimonial.
3 A esterilidade não é a razão pela qual a homossexualidade não é aceitável30.
A prática homossexual não é aceitável na Bíblia independente da idolatria31. Os 10 mandamentos fazem divisão dos pecados de
4
idolatria (primeira tábua) dos sexuais (segunda tábua).
5 O ensinamento paulino possui autoridade divina32.
6 A homossexualidade não é equivalente ao comprimento do cabelo.
7 A prática sexual homossexual é uma ofensa a Deus.
8 As práticas homossexuais são contrárias à natureza33.
9 Isaías refere-se aos eunucos34.
Davi e Jônatas não eram homossexuais, haja vista a atração de Davi por Bete-Seba e, seu amor por Jônatas não era sexual (eros),
10
mas sim fraternal (philia). Eles de fato choraram, sem conotação alguma sexual35.
11 O consentimento adulto mútuo não torna o ato correto.
12 O direito à privacidade não dá direito à violação de princípios bíblicos.
13 Todos possuem direitos civis.
14 Não existem evidências unânimes da aceitação de herança genética ou alteração genética homossexual36.
15 A moralidade de Deus é imutável37, pois princípios bíblicos do novo e velho testamento existem mesmo após quatro mil anos.
16 O comportamento de animais não é normativo para seres humanos.
Uma terceira alternativa a qual pode não ter sido comentado pelo filósofo e teólogo
Dr. Norman Geisler refere-se ao argumento determinista, o sentido aqui é o caráter
normativo do nascimento mecanicista automático, com ações predeterminadas e
idênticas às que se observam no mundo dos animais. Destarte, o ser humano está
regulamentado por “leis” prévias – biológicas, psicológicas e sociais – que discorrem
rumo às ações determinadas independente de suas escolhas.
29 Gn 4.1,17 e 25; 19.8; 24.16; 38.26; Ez 16.49-51; Jd 7 / Lv 18.6-14; cap.22 e 23. 1Rm 1.26,27; 1Co 6.9; 1Tm 1.10.
30 Lv 18.24; Mt 19.11,12; 1Co 7.8.
31 Lv 18.22; Rm 1.26,27; Os 3.1; 4.12; Rm 1.22-27.
32 Gl 1.11,12; Rm 1; 1Co 1; 2Co 12.12; 1Co 2.13; 1Co 14.37; Jo.16.13.
33 Rm 1; Gl 2.24.
34 Is 56.3-5; Mt 19.11,12
35 2Sm 11; 1Sm 18.4; 20.41.
36 Sl 51.5; Ef 2.3; Rm 1.26,27.
37 Ml 3.6; Hb.6.18.
57
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
Com grande cuidado, Craig (2010, p.154) traz alguns números importantes que fogem
do velho argumento que homossexuais tiveram problemas de pedofilia e por isto
assumiram a prática, mas sim na instabilidade sobremaneira de relação duradoura,
portanto, na maior parte dos casos, promíscua:
A média dos homens homossexuais tem mais de 20 parceiros num ano
[...]. Associado a essa promiscuidade compulsiva, difunde-se, entre
os homossexuais, o uso de drogas como um meio de intensificar suas
experiências homossexuais. Em geral, os homossexuais representam um
número três vezes maior do que a população que tem problemas com
alcoolismo. Estudos mostram que 47% dos homossexuais masculinos
têm em seu histórico de vida o uso excessivo de álcool, e 51% uso excessivo
de drogas. Há uma correlação direta entre o número de parceiros e a
quantidade de drogas consumidas [...]. Por exemplo, 40% dos homens
homossexuais apresentam um histórico de depressão profunda. Esse
número ainda se torna mais impressionante quando comparado com
o dado de que apenas 3% dos homens em geral enfrentam o problema
de depressão profunda. De modo semelhante, 37% das mulheres
homossexuais apresem um histórico de depressão. Tal fato, por sua
vez, resulta no aumento das taxas de suicídio. Os homossexuais são 3
vezes mais inclinados a praticar o suicídio do que a população em geral
[...] 75% dos homens homossexuais são portadores de uma ou mais
doenças sexualmente transmissíveis [...]. Também são bem comuns
entre os homossexuais as infecções virais como a herpes e a hepatite
B (que afligem 65% dos homens homossexuais), que são incuráveis, e
como a hepatite A e as verrugas anais, que afligem 40% dos homens
homossexuais [...] a expectativa de vida é de aproximadamente 45 anos
[...], se incluir aqueles que morrem de AIDS, cuja estatística é de 30% dos
homens homossexuais, a expectativa de vida cai para 39 anos.
58
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
acordo com a Bíblia) se ela caracteriza-se como uma tendência genética, é passível de
cuidados e não se pode privar o direito de busca pela luta contra essa tendência (assim
como nascemos com tendências ao alcoolismo), seja ela científica ou religiosa, bem
como o indivíduo, quando contradito, não se obriga, tampouco é obrigado a aceitar.
Se for simplesmente uma opção, ele pode escolher também não ser, tão simplesmente.
O entrave está em achar que o indivíduo não escolhe e deve ser aceito desta maneira,
enquanto o cristianismo afirma que Jesus pode o libertar, assim como o faria em qualquer
outro caso, pois a libertação vem somente e tão somente por intermédio da aceitação e
confissão do senhorio de Jesus Cristo e a busca contínua em conhecê-lo.
Deste modo, o cuidado e zelo pela vida dos homossexuais não está em convencê-los,
pois quem convence é o Espírito Santo (Jo.16.7-11), mas sim o ide e pregai o evangelho
da ordenança de Cristo, bem como o bom cristão não deve ser esquecer que, como bem
ressalta Craig (2010) “no dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e
Gomorra do que para aquela cidade” (Mt.10.15; 11.24).
Pornografia
É bem sabido que a grande oferta de conteúdo pornográfico dá-se a grande demanda
necessária para essa produção. Os argumentos desfavoráveis, nesse sentido, não
provêm somente dos cristãos, mas também de psicólogos e sociedade em geral.
59
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
Autoerotismo
A masturbação ou autoerotismo (dever-se-iam evitar os termos
“onanismo” ou “vício solitário”) é variação psíquica que afeta todo o
ser do sujeito. Não é exclusivamente problema “sexual”, tem significado
mais amplo, que afeta a estrutura psíquica do ser humano. Dentro do
significado antropológico global, o aspecto psicológico é o que mais se
destaca. Examinada neste nível, a masturbação é realidade psíquica
de grande complexidade. Não obstante, existe nela algo comum que a
define como entidade psicológica. Enquanto o ser humano amadurece
na abertura para os outros, a masturbação é ação que o enclausura em
si mesmo. (VIDAL, 1993, p.269).
Na visão secular frente a este contexto, afirma-se ser até mesmo saudável o ato de
se masturbar, com pornografia ou não, diante do parceiro ou não, o que na verdade
importa, é o sentimento de prazer e satisfação através da liberação principalmente
dos hormônios endorfina (hormônio que tranquiliza), ocitocina (diminui dores em
função das contrações musculares, reduz perda sanguínea entre outros) e serotonina
(que possui como principal função a sensação de bem-estar). Se considerarmos
a alegação evolucionista ateísta que “tudo que corre para o bem da vida é bom
e o que for contrário a isto é ruim” pode-se dizer que não há mal nenhum mesmo
no autoerotismo.
Em uma cosmovisão cristã (Gn.38.9) este ato não agrada a Deus por diversos motivos,
conforme listamos abaixo:
»» É uma “relação sexual” oculta e hostil. Muitas vezes (na maioria dos
casos na realidade), o agente que pratica o autoerotismo tem vergonha
43 1 Co 5.6-8; Ef 4.22; Cl 3.5,9; Ef 4.23,24; Cl 3.10.
44 Mt 5.22,23; Mt 7.17-20; Tg 3.11,12; Gl 5.19-21; Ef 5.3-5.
60
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
Muitos cristãos acreditam que esta será a maior batalha espiritual da igreja. Os espíritos
ali envolvidos são os mesmo de milênios atrás, e eles sabem como atuar para cativar
de forma mórbida, principalmente adolescentes, os quais cultivam tais vícios e entram
no matrimônio com tantos fatores espirituais adversos que vemos o que temos hoje,
divórcios uns atrás dos outros como se não houvesse nenhum compromisso assumido
e aliançado com Deus.
Para os que possuem fé solidifica nas Sagradas Escrituras e anda conforme princípios
éticos cristãos não há o que se preocupar quando solteiro referente à liberação dos
hormônios acima mencionados. Toda tensão é liberada de maneira involuntária
naturalmente pelo organismo quando acumuladas sobremaneira, por meio da polução
noturna, podendo ocorrer também em mulheres, sem envolver, portanto, intenções
lascivas e formadores de hábito, conforme Dt 23.10.
Sexo
Tudo é permitido desde que se pratique com o consenso de dois adultos. Esse é o lema
que rege a sociedade secular, obviamente, não se restringido a somente duas pessoas.
De fato, e não de modo inocente e idealista de concepção, tem-se que a prática do sexo
61
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
nos seus mais promíscuos e obscuros modos, não vem de hoje, contudo, nos últimos
séculos houve uma revolução sexual quase retomando as práticas antigas de orgias a
céu aberto e públicas.
Fatores que deram origem a essa visão secular e relativista a respeito do sexo moderno
e contemporâneo se deu por meio de alguns pensamentos, veja a seguir:
PENSAMENTO
REPRESENTANTES E CONCEPÇÕES
SECULAR
Nietzsche (1844-1900): “Deus está morto e fomos nós que o matamos”. A verdade é que, quando matamos o Legislador
Niilismo
moral, não resta fundamento para a lei moral.
A.J. Ayer (1910-1989). Aqui as declarações éticas foram reduzidas ao nível do sentimento. Não há leis morais objetivas,
Emotivismo
pois não existem imperativos divinos.
Existencialismo Jean-Paul Sartre (1905-1980). Sem ninguém para dar ordens, tudo se torna relativo.
Joseph Fletcher (1905-1991). Aqui somente os fins justificam os meios, portanto, o prazer do orgasmo com terceiros é
Situacionismo
superior à moral matrimonial.
Manifesto Humanista Secular I (1933) e II (1973). Onde o universo é autoexistente e incriado, aqui também não há
Humanismo secular
Legislador da moral.
Darwinismo Charles Darwin (1809-1882). A liberdade sexual está acima da lei moral por extinto de sobrevivência do mais forte.
Zen-budismo Aqui também existe o relativismo da moral, pois rege o argumento “aproveite a vida com moderação em todos os sentidos”.
Se não existem absolutos morais, portanto, absolutamente qualquer coisa que se faça
é válida. Não é o que está de acordo com princípios bíblicos e cristãos como é óbvio,
entretanto usa-se a Bíblia até mesmo para provocar a alegação que práticas sexuais sem
freios estão respaldadas sobre a alegação de liberdade do ser humano45.
Geisler (2010, pp.314-331) ressalta a posição bíblica frente às questões sexuais que
praticamente em todo Gêneses Deus condena atos sexuais ilícitos, bem como o é
especificado como proibidos dentro da lei mosaica atos como o adultério46, incesto47,
sexo no período menstrual48, homossexualismo49, bestialidade50 e fornicação51.
45 Jo 8.36.
46 Ex 20.14; Lv 18.20; 20.10; Gn 20.9; Gn 39.9; Mt 5.27; Tg 2.11.
47 Lv 18.6-18.
48 Lv 18.19.
49 Lv 18.22; 28; Rm 2.12-15.
50 Ou união sexual com animais também era proibida, vide Lv 18.23; Ex 22.19; Lv 20.15,16; Dt 27.21.
51 Lv 19.29; Is 23.17; Ez 16.15,26,29; Lv 21.7; Dt 23.18.
62
CAPÍTULO 3
Questões Éticas dos Direitos
Casamento e Divórcio
De acordo com Vidal (1993, p.297) o matrimônio equivale a afirmar que é um “estado”
e com isto possui algumas instâncias éticas. De acordo com as Sagradas Escrituras é a
única forma de conceber família no sentido de multiplicação e procriação, pois somente
pela relação entre homem e mulher é que tem a continuidade da vida e, a família, por
sua vez, é um bem patriarcal.
De acordo com as Sagradas Escrituras, o divórcio não é permitido por qualquer motivo,
tampouco é um projeto de Deus, pois não há fundamento52 para o divórcio, entretanto
a infidelidade dá o direito à vítima desta infidelidade de divorciar-se53, uma vez que o
próprio Deus “divorciou-se” de Israel54, contudo para Geisler (2010) “Jesus não disse
o pecado do adultério era imperdoável55”, para o inocente (vítima), de acordo com
Geisler (2010, p.368) ainda há uma justificação do segundo casamento, pois há uma
má compreensão dos termos adultério e infidelidade, veja o comentário abaixo:
52 Mt 19.6; Rm 7.2. O voto diante do Senhor: Pv 2.17; Ml 7.2; Ec 5.5. Jesus acerca do divórcio (sem fundamentos): Mc 10.1-11; Lc
16.18; Mt 19.1-9; 5.32; Mt 1.18-25; Lc 16.18; Jo 4.16,18. Paulo acerca do divórcio (sem fundamento): 1Co 7.10-13; 1Tm 3.2.
53 At 15.20; Rm 1.29; Mt 5.32; Mc 10.1-9; Lc 16.18;1Co 7.10; 2.13; 7.12,40; 14.37; 1Co 7.15.
54 Jr 3.8; Is 50.1.
55 Jr 3.1,11,14.; 1Jo 1.9; Mt 5.32.
63
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
Para o autor, Jesus de fato não afirma que o inocente, de fato, comete adultério,
tampouco em caso de falência do conjugue seguido do casamento do que ficou, este
não é acometido de adultério. Cita ainda que a Confissão de Fé de Westminster vê uma
espécie de morte da pessoa da parte ofensora, bem como o perdão mediante a confissão
pode ser aceitado pelo ofendido56. A alegação de que em caso de divórcio, nenhum dos
conjugues pode casar-se novamente está sob efeito das passagens Mc 10.11; Lc 16.18;
Mt 19.9; contudo, para Geisler (2010, p.369) não há problema o segundo casamento
(logicamente com o intuito de matrimônio para a vida toda) sob o ponto de vista de
infidelidade, e ainda assim, embora o divórcio nunca seja justificável, é algumas vezes
permissível e sempre perdoável.
Pena de Morte
Na obra Ética Cristã de Vidal (1989, pp.211-212), seu posicionamento faz-se claro frente
a esse contexto:
64
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
Geisler (2010, p.237), contudo, vai mais a fundo e desmembra as terminologias dos
pensamentos em favor e contra a pena de morte, que admite três abordagens frente ao
tema; cita-se o (1) reconstrucionismo, que insiste na aplicação da pena de morte; (2)
reabilitacionismo, que não permite a aplicação da pena de morte para nenhum crime e;
(3) retribucionismo, que recomenda a pena de morte em alguns crimes (capitais).
Reabilitacionismo
Como de costume, de maneira didática para facilitar a compreensão, pensamento e
o devido e imprescindível posicionamento, observe com atenção na leitura o quadro
abaixo:
Quadro 14. Reabilitacionismo.
65
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
Reconstrucionismo
Muitos se deixam enganar sobre a abolição das leis mosaicas, contudo Jesus veio
mostrar que não veio para revogá-la, mas para cumpri-la (Mt 5.17). A única diferença é
que Jesus por ser judeu a tinha que cumprir, e não os gentios da nova aliança, definição
de graça e lei tão bem explanada por Paulo em sua carta aos Romanos. A lei, deste
modo, ainda vale para os da velha aliança, portanto, os judeus, o que os gentios não
cumprem e simplesmente são impedidos de cumprir por serem estrangeiros (vide Êx
12.40-51). Veja a seguir, as mortes necessárias de acordo com seu crime:
5 Negligência do dono de um boi agressivo, que resulta na morte de uma pessoa Êx 21.29
6 Idolatria Êx 22.20
7 Blasfêmia Lv 24.15-16
10 Apostasia Lv 20.2
12 Homossexualismo Lv 18.22,29
13 Bestialidade Lv 20.15-16
14 Adultério Lv 20.10
15 Estupro Dt 22.25
16 Incesto Lv 20.11
19 Sequestro Êx 21.16
66
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
O reconstrucionismo, por sua vez, possui sua perspectiva favorável e contrária, como
praticamente qualquer cosmovisão e posição; deste modo ainda se discute a aplicação da
lei de Moisés, as 613 Mitzvot, uma vez que, se justificado pela lei (Torah) será condenado
por ela (Rm 3.20), ainda assim, se tropeçar em um só ponto dela, é culpado por toda ela
(Tg 2.10). O cuidado aqui, portanto, é saber se ainda a necessidade faz-se necessária ou
não.
73 Lv 11.44; Ez 18.5,6.
74 Rm 13.9; Ef 6.2-3.
75 2Tm 3.15, 16; 1.5.
76 Mt 5.17-18.
77 Rm 13.4; Jo 19.10,11; At 25.11.
78 1Co 5.7; Mc 7.19; At 10.15; Rm 1.32; 6.23;.
79 At 20.7; 1Co 16.2; Rm 14.5; Cl 2.16; 1Co 5.5.
80 At 2.42; Ef 2.20; 2Co 12.12; Hb 2.3-4.
81 Mt 5.17-18; Rm 10.2-3; 2Co 3.7, 11,12, 25; 8.3; Jr 31.31; Rm 6.15; 2.14.
82 Jo 19.11; At 25.11; Rm 13.4; 1Co 5.5; 2Co 2.6; Rm 2.12-15.
83 Mc 7.19; At 10.15; 1Tm 4.3-4; Lv 11.27; At 15.29; Gn 9.4; Lv 11.45.
84 Gn 9.4; At 15.28.
85 Tg 2.10.
86 Rm 6.14; Jo 1.17.
87 2Co 3.7,11; Hb 7.12; Ef 2.15; Rm 8.1.
67
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
fim da lei88, pois a lei devia existir até Cristo chegar89; (7) a lei mosaica foi dada somente
ao povo de Israel90; nós não podemos remover a lei sem remover suas maldições91.
Coloque seus pensamentos em ordem com a aplicação das leituras das referências
de rodapé das argumentações e contra argumentações acima expostas. De fato é
cansativo buscar ler todas e promovem no mínimo um desafio para acompanhar
seu raciocínio, no entanto, é justamente deste modo – sectário – instigando seu
pensamento e posicionamento é que este material tem por objetivo. Portanto,
não deixe de lê-los, bem como buscar referências das mais atuais possíveis para
que, sua pesquise enriqueça e se torne produtiva, focando, dentro do contexto
reconstrucionismo, a lei (para os judeus?) e a graça (para os gentios?).
Retribucionismo
Aqui, como na introdução sobre pena de morte foi falado, tem-se que alguns crimes de
fato são passíveis de punição e transcorrem por meio de, somente, os crimes capitais. O
criminoso aqui é um pecador, e não uma pessoa doente, na exposição de Geisler (2010),
ainda assim, ele nos traz, por fim, as posições frente a esta weltanschauung:
RETRIBUCIONISMO
PRÓ CONTRA
Argumento Referência Argumento Referência
A necessidade da pena de morte A pena de morte não diminui a
Gn 1.27; Dt 32.39; Gn 9.6. Dt 17.13; Ec 8.11.
está implícita na natureza humana. incidência de crimes.
Caim merecia e esperava receber A pena de morte não é bíblica, Gn 9.6; Jo 19.10,11; At 25.11;
Gn 4.10; Gn 4.14,15.
a pena de morte. pela menos os dias de hoje. Rm 13.4.
A pena de morte foi incorporada à Êx 21; Gn 4; Gn 9.6; Êx 19; Sl A pena de morte é contrária ao
Rm 1.32; 6.23; Gn 4.
lei mosaica. 147.19,20; Êx 31.14. conceito de perdão.
Deus deu o poder de aplicar
a pena de morte ao governo Gn 4.14; Gn 9.6.
humano.
Dt 4.8; Sl 147.19,20; Gn
A pena de morte é rearfirmada no
9.6,11; Cap. 9 e 10; Rm 13.4;
Novo Testamento.
At 25.11; Jo 19.11.
OUTROS ARGUMENTOS
68
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
Paulo afirma que não conheceríamos pecado se não o fosse a lei (Rm 7.7), de modo
que afirma no versículo seguinte que a concupiscência não seria errada se não fosse
o mandamento “não cobiçarás” (Êx 20.17). Não se pode, contudo, deixar de lado
a morte espiritual92 do homem. Nenhum homem pode ser privado dos direitos de
conhecimento de Cristo para sua reconciliação com Ele, como também não pode ser
obrigado a aceitá-la (e este é mais argumento em favor do retribucionismo, que alega
que a pena de morte chega a tratar com respeito àquele que não deseja tratamento,
mas a morte).
Desobediência Civil
As observações contidas neste contexto, facilmente podem ser analogamente aplicadas
para temas como guerra civil, fria, anarquista; posição do cristão frente à política e
assuntos governamentais, bem como quaisquer contextos que exigem pensamento
e posicionamento do cristão para com assuntos complexos político-sociais, muito
embora, claramente, não esgotando-os de nenhuma forma.
Geisler (2010, p.291-294), referência bastante utilizada não só por este material, mas
referência mundial em contextos filosóficos cristãos; dá-nos alguns bons argumentos
em favor desobediência civis em alguns casos específicos como a que (1) Deus ordenou
o governo, e não a maldade praticada pelo governo93; (2) a obediência ao governo não
é irrestrita94; (3) não precisamos obedecer às maldades do governo95. Contudo ressalta
que a monarquia é melhor que a anarquia, uma vez que os governos são instituídos
pelo próprio Deus e nesta lei inviolável de submissão é que garantem que os planos
dEle sejam executados96. Portanto, ainda segundo o autor, as revoluções são sempre
injustas, pois (1) Deus deu a espada ao governo para governar97; (2) Deus exorta contra
a aliança com revolucionários98; (3) de forma constante, as revoluções são condenadas
por Deus99; Moisés foi julgado por seu ato violento no Egito100; (4) Israel não lutou
69
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
contra Faraó, mas fugiu dele101; (5) Jesus exortou contra o uso da espada102; (6) Jesus
falou contra a retaliação103.
Tem-se claro desta maneira que, qualquer posição do governo contrária aos estatutos
imutáveis divinos, de acordo e em função dos valores morais objetivos contidos na
Bíblia – dentro de uma cosmovisão cristã – que provoquem atitudes imorais do cristão,
este tem aprovação divina de se contrapor a tal imposição governamental.
70
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
Destarte vemos nos jogos de azar pecados que sem essas observações poderiam passar
de largo do pensamento. Ainda assim, existem diversos aspectos análogos à utilização
de entorpecentes, os quais a Bíblia condena e traz suas consequências:
71
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
A utilização das drogas ilícitas já é comum saber seus malefícios diversos, problemas
psíquicos e químicos os quais não entraremos em pormenores científicos, contudo,
o “beber socialmente” nunca esteve tão em alta, resultando em boa parte dos casos
em vício. A maior incidência de morte no trânsito, de avião no ato de suicídio entre
outros males, está associada ao consumo de álcool. Sem contar bilhões que são
gastos com recursos para resgate, serviços médicos, mortes prematuras, doenças
relacionados ao seu consumo, tratamentos diversos, acidentes, incêndios, crimes
entre outros.
72
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
Exploração dos recursos naturais até seu total esgotamento, danos irreversíveis à
natureza e respectivamente ameaça à própria existência e sobrevivência humana na
Terra, desmatamento caótico e desenfreado, utilização fatídica dos recursos hídricos e
bens de consumo mal providos, superpopulação e as revoluções industriais, “exploração
racional” da terra, dos recursos naturais renováveis e não renováveis; contaminação do
solo, lençol freático e todo meio ambiente aquático. Com efeito, o aspecto e impacto
ambiental negativo é denominado degradação do meio ambiente.
Segundo Milaré (2011, p.141), a expressão “meio ambiente” (milieuambient) poderia ter
sido utilizada em sua primeira vez pelo naturalista francês Geoffroy de Saint-Hilaire na
obra Études Progressives d´unnaturaliste, em 1835, tendo sido adotada por Augusto
Comte em seu curso de filosofia positiva.
São estes alguns dos exemplos de um contexto ôntico de crise ambiental que ocorre
hodiernamente no planeta (se considerado os milhões de anos dado pela ciência
evolucionista). O filósofo alemão Martin Heidegger [1889-1976] traduz de maneira
assertiva o valor subjetivo do homem frente ao desenvolvimento tecnológico no
enunciado “esvaziamento do ser” (HEIDEGGER, 1999, p.182).
O teólogo alemão Jürgen Moltmann em sua obra “Deus na Criação” traz consigo uma
abordagem interessante sobre o homem e sua relação com a crise ambiental:
73
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
A ética ambiental também não poderá sobremaneira ser esquecida, uma vez que rege
por vezes ações humanas contra o meio ambiente, porquanto a ética é tida neste caso
como a ideia de ethos do grego, o habitar humano e seu respectivo descuro com o meio
ambiente, haja vista seu desiderato e ingente sentimento peremptório da satisfação
pessoal sem precedentes na história. No livro Introdución a la Economía Ecológica de
Michael Common, há um interessante comentário:
74
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
Pense sobre isso! O que de fato a espécie humana quer sustentar? Uma árvore ou
um carro? Um peixe ou um litro de petróleo no mar? Sustentar a família atual ou
também as gerações futuras? Não deixe de fazer sua pesquisa sempre necessária
frente a este contexto.
Para Heidegger (1993, p.224) este mesmo ser [humano] que fala pouco, que não dá vazão
aos instintos de defesa ambiental, mesmo falando pouco, deve falar: “e, como o mudo,
aquele que, por natureza, fala pouco, também ainda não mostra que silencia e pode
silenciar. Quem nunca diz nada também não pode silenciar num dado momento”. Em
economia verde esta ideia surge como uma verdade inerente ao plano do homem como
consumidor capitalista, uma vez que pesquisas do setor aferem números específicos,
veja o que nos traz Makower (2009, 33 e 36):
Por fim, numa ótica cristã, Geisler (2010, p.395) diz que há três visões principais com
respeito ao meio ambiente:
75
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
ARGUMENTOS
TEÍSTA NEO- TEÍSTA CRISTÃ
MATERIALISTA PANTEÍSTA
ORTODOXAS EVANGÉLICA
Diferença em grau pode, por fim, tornar-se diferença em A natureza é um Os homens e os animais A humanidade foi criada
natureza. organismo vivo (animismo) recebem a mesma benção110. à imagem de Deus111.
Muitos cientistas acreditam que diferenças aparentes A humanidade foi
As espécies viventes são Toda a criação possui valor
em natureza entre as espécies são sempre redutíveis a criada com uma alma
manifestações de Deus intrínseco112.
diferenças em grau. vivente113.
Todos os seres humanos Os seres humanos
Tanto seres humanos quanto animais podem resolver Os seres humanos são um
possuem glória e partilham possuem características
problemas. com a natureza.
da glória divina. singulares114.
110 Gn 1.11,26-28; Ec 3.19; 1Co 11.7; Tg 3.9; Ef 1.18; 4.18; Rm 2.15; Gn 41.9; Jó 32.8,9 – Contra argumento bíblico: Mt 6.26; 10.31;
12.12; Jó 35.11; Gn 2.19,20.
111 Gn 1.26,27; Gn 9.6; Rm 8.29; Cl 3.10; Tg 3.9.
112 Gn 1.31; Sl 19.1; Gn 1.28; 2.15; Lv 25.7; Nm 22.27-32; Dt 25.4. Contra argumento bíblico: Sl 8.5; Hb 2.7; Mt 12.11,12; Gn 1.26,
28; Sl 8.7; Rm 1.23.
113 Gn 2.7; Jó 33.4; Sl 49.12-15; 2Co 5.8; Fp 1.23; Ap 6.9.
114 Sl 49.12-15; Jo 5.25-29; 1Co 15.51-55; Ef 1.18; 4.18; 1Co 9.17; 2Pe 1.21; Rm 2.15; 1Tm 4.2.
115 Gn 1.26,27; Sl 8.5; Hb 2.7; Mt 6.26; 10.31; 12.12; Sl 32.9; 73.22; Jd 10; Gn 1.29; Gn 2.19,20; Tg 3.7; Lv 25.7; Dt 25.4; Gn 3.21;
Jó 31.20; Gn 9.2.
116 1Tm 6.15,16; Êx 20.3-6; Rm 1.18-23; Hb 2.7; Gn 1.30; Mt 13.4.
117 Contra argumento bíblico: Rm 8.20; Gn 3.17-19; Hb 2.14-16; Ap 21.
118 Lv 25.7; Tg 3.7; Dt 25.4; Sl 36.6; 104.10-12,26-30; Nm 22.27-32; Pv 12.10; Gn 9.4; Dt 12.16,23,24; Êx 22.31; Lv 17.15; 22.8; Gn
36.6; 45.17; Ez 5.17.
119 Rm 1.18-32; 1.20-23,25.
120 Gn 1.26,27; Sl 49.12-15; 2Pe 2.16.
121 Rm 8.18-23; Is 9.6; Is 11.6.
122 Mc 7.19; At 11.9; 1Tm 4.4; Gn 9.2-4; Dt 12.16,23,24; Êx 22.31; Lv 17.15; Mc 7.19; Rm 14.14; At 10.15; 1Tm 4.3-5; Tt 1.15; Mt 14.13-
21; 15.32-39; At 10.13-15; Mt 26.17-23; Jo 13.1,2; Lc 24.41-43; Jo 21.9-13; At 15.19-29; Rm 14; 1Co 8; Cl 2.21-23; 1Tm 4.3-5.
123 1Sm 15.22. Contra argumento bíblico: Is 53.4-6; Gl 3.10-13; 1Pe 2.24.
124 Contra argumentos bíblicos: Mt 14.13-21; 15.32-39; Lc 24.41-43; At 10.13; Tg 1.12-18; Gn 9.1-3; Mc 7.19; At 11.9.
76
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
AO PANTEÍSMO: As espécies viventes não são manifestações de Deus119; (2) os Ordenou-se, originalmente,
humanos não são um com a natureza120; (3) o cristianismo acreditou na ressurreição e que os homens fossem
não reencarnação e de fato, é teocêntrica. vegetarianos124.
Direitos Humanos
No Anexo II incluímos a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948125, onde
trata de todos os direitos que como seres humanos têm uns para com os outros. A
igreja católica se posicionou de várias maneiras através das conclusões do Vaticano
II, tal como já vimos a Declaração Dignitatis Humanae 126sobre a liberdade religiosa.
Vejamos dentro de uma ótica ética filosófica, a visão de Tugendhat:
77
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
Para o filósofo alemão os direitos humanos estão totalmente ligados a tudo o que temos
tratado, porém de maneira diplomática e oficial127. O direito de outrem é, portanto,
fortalecido por um direito moral? O autor discorre mediante um artigo de H. Bedau
International Human Rights três modelos de sociedade:
Se trazermos tais considerações para nosso contexto ético cristão veremos que
mesmo antes de Cristo a concepção teleológica da lei mosaica fazia-se tão presente
quanto a jurisprudência mais atual hodierna, uma vez que se tem em ambos
condenações, uma sofrível na Terra a outra no céu, porém ambas passíveis de
punição. Deste modo, ulterior a Jesus, é tido que somente o ato de pensar a respeito
de ferir o direito de terceiros já o é considerado ato pecaminoso, haja a vista a cobiça
e lascívia.
Existem três objeções standard contra o reconhecimento dos direitos sociais de acordo
com Tugendhat (1996, p.389):
2. Apontar-se-á que os direitos fundamentais têm que ser claros, uma vez
que precisam oferecer condições para ser cobrados juridicamente. Os
direitos sociais fundamentais, por exemplo, o direito a um mínimo de
existência humana digna, exigem, contudo determinações arbitrárias.
78
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
O mérito ficaria aonde então ainda dentro deste contexto. A ética contemporânea
discute assuntos que já são verdades absolutas nas Sagradas Escrituras, as quais jamais
escondem o favorecimento de Deus àquele que procura em maior grau o bem, se livra
da preguiça (Pv.6.6-11) e sabe multiplicar talentos (Mt.25.14-30).
Teríamos muito a tratar, contudo nos é necessário apenas entender o processo que
o mundo secular vê dos direitos humanos, os quais estão muito bem definidos e
delimitados na Declaração dos Direitos Humano (veja anexo II), neste sentido, de
modo genérico, estão de acordo e em função da liberdade humana, o que globalmente
analogias à cosmovisão cristã.
Fanatismo
O significado exegético de nosso assunto agora é oriundo do latim fanumcujo
literal é templo. Para Vidal (1993, p.484) o fanatismo constitui uma patologia do
comportamento humano. É forma desviada do comportamento que se caracteriza
pelos três aspectos seguintes:
2. viver esta posse de modo exaltado, quase místico, como se fosse enviado;
Ainda em sua obra ele afirma que o fanatismo alimenta-se e expressa-se mediante
conjunto de fatores que são seus elementos concomitantes inevitáveis:
79
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
A falta de busca pela informação (até mesmo bíblica!) e a fé irracional tem levado
muitos não cristãos a caminhos imprudentes res nullius (coisa de ninguém), pois de
fato, já que não há um Deus, não há padrão moral, não há o que seja melhor ou pior
para se fazer, desde que seja bom. O cristão aprofundado nas Escrituras Sagradas sabe
que precisa mais do que sua própria fé para contra argumentar, e isto é um estatuto
divino (I Pe.3.15).
80
81
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
CAPÍTULO 4
Filosofia da Ciência (aplicação teórica)
Se tratarmos que a maioria dos casos, tal como aborto, anencefalia e outros se aplica à
ciência, pode ser claramente vistos e constatados como anomalias. E é esse o principal
entrave da tão famosa, aclamada e criticada ciência normal de Thomas Kuhn.
Para ele, em A Estrutura das Revoluções Científicas (1962), a ciência é dirigida pela
rotina intensiva dos cientistas, onde os mesmos apenas revolucionam quando há
alguma anomalia dentro de alguma teoria, hipótese ou concepção. Dessa maneira,
podemos aplicar a bioética que tudo corre em favor da normalidade da vida,
contudo, pois como vimos, uma em cada 1600 crianças têm problemas anômalos
de anencefalia.
O que isso nos traz, portanto, é que de qualquer anomalia deve ser tratada com
propostas de novas teorias que tentem refutar paradigma anômalo por completo, por
isto é chamado de incomensurável. Após a crise e constatado a necessidade de mudança
de paradigma, a teoria entra de vez em colapso, este estágio é chamado de ciência
82
QUESTÕES ÉTICAS │ UNIDADE II
extraordinária, a qual Kuhn afirma que aquele paradigma já não mais tem utilidade
(KUHN, 1962, p.125).
Aplica-se, por fim, a todas as teorias científicas tais concepções, que novamente afirma-
se, possuem divergência e convergência com muitos filósofos da ciência, contudo e desta
forma, não cabe à ciência se acomodar em deixar “normalizar” pelos fatos ocorridos,
mas procurar sempre alternativas das mais tecnológicas possíveis a fim de sanar e/ou
mitigar o máximo possível tais questões éticas.
Considerações Finais
Procurou-se não se utilizar pesados jargões técnicos, tampouco de todo arcabouço legal
pertinente a cada contexto aqui explanado, uma vez que procurou-se dar cadência ao
material de forma a obedecer o tema proposto Ética [Cristã]. Se deste modo o é, segue-se
que sua base teria que ser fundamentada mais nas Sagradas Escrituras do que em
códigos penais ou leis confederativas internacionais. Destarte modo, ressalta-se, o
abordamos não esgota o assunto, tampouco abrange cada tema profundamente, mas
sim, apresentar um grau norteador ao estudante dedicado para que siga adiante em
suas posições, pesquisas e pensamentos.
83
ashréi que significa “em marcha”, e tem como radical ashar que certamente não nos
leva a nenhuma conotação “feliz”.
Portanto, se o Senhor deu, mas tomou (Jó 1.21), uma vez que “em tudo somos
atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas
não desamparados; abatidos, mas não destruídos (2Co 4.8,9), no coração do cristão
não deve haver dúvidas em fazer o bem absoluto que vem de Deus, mesmo que, em total
tribulação. Já que se está no mundo, não há mais o que fazer, é viver e entregar, o que
vier em Deus pode ser contornado, e ainda, em uma cosmovisão cristã, uma vida sem
Deus se torna além de vazia, sem sentido, sem valor e propósito.
84
Para (não) finalizar
Seria uma ilusão e pretensão sem precedentes acreditarmos que mesmo com todo
o conteúdo percorrido, consideramos e damos todos os assuntos como esgotados,
tampouco é válido nos enganar que absolutamente todos os contextos éticos e bioéticos
foram abordados. Portanto, para que sua pesquisa e estudos não parem por aqui,
sugerimos que comece por alguns temas específicos, percorra suas vertentes de conteúdo
e parta para assuntos menos esclarecidos pela ciência, para que, como sempre, seu
posicionamento se afirme e seu pensamento afie-se em caráter progressivo. São eles:
Como diria Ovídio (43 a.C -18 d.C), Finis coronat Opus128.
85
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTICAS
Referências
______. Apologética para questões difíceis da vida. São Paulo: Vida Nova, 2010.
HOCH, L.C., WONDRACEK, Karin H.K. Bioética: avanços e dilemas numa ótica
interdisciplinar do início ao crepúsculo da vida. São Leopoldo: Sinodal, 2006.
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de ética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2007.
MEILAENDER, Gilbert. Bioética: uma perspectiva cristã. 2.ed. São Paulo: Vida Nova,
2009.
MORELAND, J.P. ;CRAIG, William Lane. Filosofia e cosmovisão cristã. São Paulo:
Vida Nova, 2005.
PINKER, Steven. Como a mente funciona. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
VIDAL, Marciano. Para conhecer a ética cristã. São Paulo: Paulinas, 1993.
87
ANEXOS
Anexos
Anexo I
Figura 1. Fecundação.
Fonte: <http://teovida.wikispaces.com/file/view/Imagem1.jpg/97903481/469x641/Imagem1.jpg>.
88
ANEXOS
Anexo II
Considerando que é essencial à proteção dos direitos humanos por meio de um regime
de direito, para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra
a tirania e a opressão.
Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé
nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na
igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer
o progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade
mais ampla.
Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta
importância para dar plena satisfação a tal compromisso.
89
ANEXOS
Artigo I – Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade. São dotados de
razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo II
1 – Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos
nesta Declaração, sem distinção de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião nacional ou
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
2 – Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica
ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, que se trate de um
território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra
limitação de soberania.
Artigo III – Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo VI – Todo ser humano tem direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como
pessoa humana perante a lei.
Artigo VII – Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, a igual
proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que
viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo VIII – Todo ser humano tem direito a receber, dos tribunais nacionais competentes,
remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela
constituição ou pela lei.
Artigo X – Todo ser humano tem direito a uma justa e pública audiência por parte
de um tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou do
fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo XI
1 – Todo ser humano acusado de ato delituoso tem o direito de ser presumido
inocente até que sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em
julgamento público no qual tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à
sua defesa.
90
ANEXOS
2 – Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento,
não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será
imposta pena mais forte do que aquela quem no momento da prática, era aplicável ao
ato delituoso.
Artigo XII – Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família,
no seu lar ou na correspondência, nem a ataques a sua honra e reputação. Todo ser
humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo XIII
1 – Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência, dentro das
fronteiras de cada Estado.
2 – Todo ser humano tem direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este
regressar.
Artigo XIV
1 – Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e gozar asilo em
outros países.
2 – Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada
por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das
Nações Unidas.
Artigo XV
Artigo XVI
2 – O casamento não será válido senão com o livre consentimento dos nubentes.
Artigo XVII
Artigo XVIII – Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência
e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade
de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela
observância, em público ou em particular.
Artigo XIX – Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este
direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir, informações e ideias por quaisquer meio e independentemente de fronteiras.
Artigo XX
Artigo XXI
1 – Todo ser humano tem direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou
por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2 – Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
3 – A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa
em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universa, por voto secreto ou processo
equivalente que assegure a liberdade do voto.
Artigo XXII – Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança
social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo
com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais
indispensáveis a sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade.
Artigo XXIII
1 – Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, a condições
justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2 – Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por
igual trabalho.
3 – Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória,
que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade
humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
92
ANEXOS
4 – Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção
de seus interesses.
Artigo XXIV – Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação
razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Artigo XXV
1 – Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua
família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos
e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego,
doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência
em circunstâncias fora de seu controle.
Artigo XXVI
1 – Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos
graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução
técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada
no mérito.
Artigo XXVII
1 – Todo ser humano tem direito a participar livremente da vida cultural da comunidade,
de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.
2 – Todo ser humano tem direito à proteção de seus interesses morais e materiais
decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.
Artigo XXVIII – Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que
os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente
realizados.
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ANEXOS
Artigo XXIX
1 – Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual é possível o livre e
pleno desenvolvimento de sua personalidade.
Artigo XXX – Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como
o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa do direito de exercer qualquer
atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer direitos e
liberdades aqui estabelecidos.
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