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Ricardo Reis
Antes de nós nos mesmos arvoredos
Antes de nó s nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas nã o falavam
De outro modo do que hoje.
3.ª estrofe
• O sujeito poético exorta à fruiçã o calma do momento («carpe diem») e à
serenidade epicurista do contacto com a Natureza (“Tentemos pois com abandono
assíduo / Entregar nosso esforço à Natureza” – vv. 9-10).
• Por outro lado, exprime o desejo ú nico de identificaçã o e comunhã o com a
Natureza (“E nã o querer mais vida / Que a das á rvores verdes.” – vv. 11-12).
• Além disso, aconselha a aceitaçã o voluntá ria (“abandono assíduo” – v. 9) do tempo
de vida que nos é concedido e a aceitaçã o passiva da ordem das coisas, das leis que
regem o Universo (“Tentemos pois com abandono assíduo / Entregar nosso
esforço à Natureza”); ou seja, sugere que abandonemos definitivamente (“assíduo”
= constante, que nã o acaba) o que nos agita / perturba e que passemos a apreciar a
Natureza, a desfrutar calmamente o que ela tem para nos oferecer.
• O sujeito poético aspira à indiferença (pró xima da da Natureza) face à perturbaçã o
causada pela ameaça do Destino, nã o querendo “mais vida / Que a das á rvores
verdes” (vv. 11-12), alheio à agitaçã o do mundo, e à tranquilidade (ataraxia).
4.ª estrofe
• O sujeito lírico defende uma atitude de abnegaçã o face ao fatalismo da vida:
“Inutilmente parecemos grandes”.
• A ideia de grandeza que o Homem tem de si é inú til. O advérbio «inutilmente»
sugere que, apesar dos seus feitos e da imagem que tem de si mesmo, ele estará
sempre sujeito à s leis do Destino.
• Além disso, nada na Natureza está submetido ao ser humano, mesmo que este
assim pense: “(…) nada pelo mundo fora / Nos saú da a grandeza / Nem sem querer
nos serve.”.
5.ª estrofe
• Na quinta estrofe, é usada a primeira pessoa do singular, enquanto nas quatro
anteriores fora usada a primeira do plural. A que se deve esta mudança?
• Em primeiro lugar, nas primeiras quatro estrofes, o sujeito poético apresenta uma
reflexã o filosó fica sobre o tempo e os efeitos da sua passagem, sobre um Destino
comum a todos os seres humanos. Assim sendo, o recurso à primeira pessoa do
plural justifica-se, pois as conclusõ es e as recomendaçõ es que o sujeito poético rira
e faz sã o globais e aplicam-se a todos os seres humanos, incluindo o sujeito poético
(“nó s”, “Passamos”, “agitamo-nos”, etc.).
• Em segundo lugar, na ú ltima estrofe, o sujeito poético volta.se para si mesmo,
dando o seu exemplo pessoal e refletindo sobre a fugacidade da vida, a passagem
inexorá vel do Tempo e a pequenez dos atos humanos (vv. 17-18), reforçando a
ideia de que o Homem é débil perante forças maiores (vv. 19-20).
• Esta estrofe é toda ela uma interrogaçã o retó rica, através da qual o sujeito lírico
reflete sobre o valor da vida humana perante o poder do Tempo.
• Assim, tal como as pegadas deixadas (pelo sujeito poético) na areia sã o facilmente
apagadas pelas ondas (“Se aqui, à beira-mar, o meu indício / Na areia o mar com
ondas três o apaga” – vv. 19-20), a existência humana será sempre apagada pela
passagem do Tempo (“Que fará na alta praia / em que o mar é o Tempo?” – vv. 19-
20). Por outro lado, quer as pegadas quer a existência humana se revelam
transitó rias e sujeitas ao poder de forças que lhes sã o superiores.
• Desta forma, a interrogaçã o retó rica estabelece um contraste entre a pequenez do
Homem e a força grandiosa e inexorá vel que é o Tempo.
• A presença do nú mero 3 é bastante expressiva:
• Em suma, na ú ltima estrofe, o sujeito poético reflete sobre:
- a brevidade da vida;
- a passagem do Tempo;
- a consciência da morte;
• Resumindo: ao longo do poema, o sujeito lírico propõ e uma visã o pagã da
existência e defende a comunhã o do Homem com a Natureza, ao constatar a
brevidade e a efemeridade da vida humana. A ú nica atitude a adotar no sentido de
tudo isto encarar de forma tranquila, sem perturbaçã o, passa pela renú ncia à açã o,
ao esforço, pelo reconhecimento da sua inutilidade. Por outro lado, o ser humano é
inserido num mundo uno, situando-se ao mesmo nível que os elementos da
Natureza, aparecendo como parcela finita do infinito que é o Ser – Deus ter-se-ia
materializado nos diferentes objetos criados e nã o apenas no ser humano.
Recursos expressivos
• Nomes:
• Verbos nos modos imperativo e conjuntivo (com valor de imperativo):
traduzem a assunçã o de uma atitude filosó fica como forma de obter a
tranquilidade e o bem-estar.
• Advérbios de modo: