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A estabilidade da natureza e a nossa

transitoriedade como mortais – Ecles. 1.4-8.

EDMARIO DE JESUS CORREIA


Uma geração vai-se, e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre. O sol nasce, e o
sol se põe, e corre de volta ao seu lugar donde nasce. O vento vai para o sul, e faz o seu giro vai
para o norte; volve-se e revolve-se na sua carreira, e retoma os seus circuitos. Todos os ribeiros
vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios correm, para ali
continuam a correr. Todas as coisas estão cheias de cansaço; ninguém o pode exprimir: os olhos
não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir. Ecles. 1.4-8
O texto (4-8) convida o leitor a parar no tempo e REFLETIR SOBRE O SENTIDO DA
VIDA em sua situação particular. Para isso, descreve O RITMO DO COSMOS E DA
HISTORIA HUMANA, tal como o autor o percebe. Os quatro elementos usados ​(TERRA,
SOL, VENTOS E MARES), aparentemente representam os elementos ORIGINAIS DA
COSMOGONIA GREGA. A abundância de particípios indica uma AÇÃO CONTÍNUA.
Nos versos. 4-7 aparecem 14 verbos de MOVIMENTO. Repetidamente os verbos ANDAR,
VIRAR, CHEGAR E RETORNAR, porém a imagem final parece fixa, como as hélices de
um ventilador em alta velocidade. Há um movimento CÍCLICO DESCRITO
PEJORATIVAMENTE, tanto nas gerações quanto no cosmos. Por causa de sua
EXPERIENCIA HISTÓRICA FRUSTRANTE, Qoheleth percebe o cosmos como uma
MÁQUINA CÓSMICA que não admite interferência. O sistema cósmico (assim como o
econômico) DEVASTA A SUBJETIVIDADE DO SER HUMANO, não há consciência
humana capaz de intervir em seu progresso.
Uma geração vai-se, e outra geração vem...
A referência a uma “geração” VINDO E INDO (1.4) uma após a outra não deve ser relacionada com OS CICLOS da
natureza, mas com AS GERAÇÕES HUMANAS. Um grupo de pessoas está ENTRANDO e um outro grupo está
PASSANDO, entretanto a terra parece PERMANECER EM SEU LUGAR. Portanto, a despeito das mudanças
observadas entre os mortais, HÁ UM PONTO FIXO DE PERMANENCIA: A terra permanece! Assim, o estado
TRANSITÓRIO dos seres humanos é contrastado de forma notável com a condição CONTÍNUA E PERMANENTE
DA TERRA.
Por que devem as coisas na natureza parecer tão duradouras EM COMPARAÇÃO COM A TRANSITORIEDADE DO
SER HUMANO? Para Salomão a confiança VISÍVEL que temos é a natureza que é ESTÁVEL em meio a toda essa
mudança.
Quando as pessoas pensam na geração seguinte, elas costumam PENSAR EM TERMOS DE PROGRESSO. Nossos
filhos são nosso futuro; ELES REALIZARÃO COISAS que vão muito além de qualquer coisa que nós jamais
pudemos sonhar. Seja a geração X, a geração Y ou a geração Z, sempre querem nos dar ESPERANÇA PARA O
FUTURO.
Mas, como sempre, Eclesiastes NOS FAZ COLOCAR OS PÉS NO CHÃO. Geração vai e geração vem,
diz o autor. Uma geração pode estar EMERGINDO, mas, ao mesmo tempo, outra geração está
MORRENDO. Em breve, a geração mais nova SE TORNARÁ A GERAÇÃO MAIS VELHA, e haverá
outra geração depois desta. É SEMPRE A MESMA COISA. O conflito de gerações também NUNCA
PARECE MUDAR. Aos olhos da geração emergente, toda pessoa acima dos 40 PARECE ANTIQUADA E
DESCONECTADA.
A emergência de cada geração PASSA A IMPRESSÃO de que algo esteja acontecendo, mas, na verdade,
NADA ACONTECE. Uma procissão aparentemente infinita de pessoas VEM E VAI, “mas a terra permanece
para sempre” (Ecles. 1.4). O que é mais vão do que esta vaidade: que a terra, QUE FOI FEITA PARA O
HOMEM, PERMANECE – mas os homens em si, os senhores da terra, DE REPENTE SE DISSOLVE EM
O sol nasce, e o sol se põe, e corre de volta ao seu lugar donde nasce.
E mais uma ilustração do mesmo princípio: “Levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo”
(Ecles. 1.5). Este é o versículo que ERNEST HEMINGWAY levou à fama como título de seu melhor romance – O SOL
TAMBÉM SE LEVANTA (1926). A princípio, Hemingway começa seu romance CITANDO O VERSO 4, sobre as gerações
que vêm e vão, MAS O EDITOR SUGERIU O VERSO 5, que funcionaria bem como título. Hemingway concordou,
provavelmente porque compartilhava da mesma POSTURA BÁSICA DE ECLESIASTES em relação à ausência de
SENTIDO na vida debaixo do sol.
Até a jornada diária do sol PARECE SEM SENTIDO. O sol dá suas voltas, mas nunca chega a LUGAR ALGUM. Dia após
dia, a bola de fogo no céu se LEVANTA, se põe e se levanta NOVAMENTE. Seu movimento é repetitivo, MAS NÃO
PROGRESSIVO, igual à vida. Pink Floyd disse algo semelhante numa música do álbum THE DARK SIDE OF THE
MOON: Então, você CORRE para alcançar o sol, mas ele está SE PONDO Dando a volta para se levantar NOVAMENTE.
O sol é o MESMO num sentido relativo, mas você está MAIS VELHO, Com menos fôlego e um dia MAIS PRÓXIMO DA
MORTE.
O maior crime do homem foi ter nascido e se misturado A TODA ESSA INSENSATEZ E NULIDADE. A
incessante repetição da natureza, quanto às mesmas coisas, É TÃO INÚTIL COMO A LABUTA SEM ALVO
DO HOMEM (vers. 3). Nenhum hebreu ortodoxo teria falado SOBRE OS CÉUS EM TERMOS
SEMELHANTES.
Deus estabeleceu os LIMITES do mar, deu ORDENS ao verão e ao inverno, DETERMINOU que o sol governe
o dia, a lua a noite, e chama as estrelas pelos seus nomes. Contudo, diz o Pregador: Tire Deus, e a criação JÁ
NÃO REFLETIRÁ SUA GLÓRIA, mas ilustrará o enfado da humanidade. QUANDO ADÃO CAIU, A
CRIAÇÃO TAMBÉM CAIU (Gen. 3.17-19). Se a humanidade está enfadada, A CRIAÇÃO ESTÁ
ENFADADA COM ELA. “Volta ao seu lugar” traduz um verbo que significa “ARQUEJAR”. Indica que o sol
está cansado, como “UM ATLETA MUITO OFEGANTE NA CORRIDA”. Os particípios repetidos do
versículo 6, no hebraico, traduzidos por vai... faz... volve-se... revolve-se... retorna... EM SI MESMOS DÃO
Os ventos volve-se e revolve-se na sua carreira...
Volve-se, e revolve-se. No original hebraico deste verso, as palavras derivadas da raiz GIRAR E RODEAR são
empregadas quatro vezes para DESTACAR A IDEIA DE ATIVIDADES E REPETIÇÃO INCESSANTES. A
palavra também é utilizada para descrever a marcha do EXÉRCITO DE JOSUÉ AO REDOR DE JERICÓ
(Jos. 6.3,15) e as VOLTAS DOS ISRAELITAS ao rodear a montanha de Seir por vários dias (Deut. 2.1, 3).
Salomão não estava se queixando dos INCESSANTES CICLOS DA NATUREZA, mas via neles um PARALELO aos ciclos
da vida humana (Ecles. 1.4). A vida do ser humano, de geração a geração, é uma simples questão de repetição, SEM
NENHUM OBJETIVO SUBLIME EM VISTA? Não deveria haver um ponto culminante para a existência da
humanidade? Deus não tem um propósito eterno que suplantará esta sequência aparentemente interminável de atividade
do gênero humano? A exatidão científica da descrição que aqui se dá AO MOVIMENTO DAS MASSAS DE AR sobre a
superfície da Terra é INIGUALÁVEL NA LITERATURA ANTIGA e revela um conhecimento das leis da natureza MUITO
SUPERIOR DAQUELA ÉPOCA.
Que diferença faz aos ventos SOPRAR OU NÃO SOPRAR, soprar para o sul ou para o norte, OU NÃO SOPRAR DE MANEIRA
ALGUMA? Essa foi a maneira pela qual o triste filósofo SUMARIZOU AS COISAS para provar sua tese da INUTILIDADE
TOTAL.
Salomão mostra que o vento RETORNA NOVAMENTE AOS SEUS CIRCUITOS ANTERIORES, por
mais que muitos sejam seus DESVIOS. Os ventos norte e sul são os dois ventos predominantes NA
PALESTINA E NO EGITO. Os circuitos dos ventos são transformados aqui no SÍMBOLO DA
EXISTENCIA DO HOMEM, sempre girando no círculo da vaidade e INCAPAZ DE AVANÇAR ALÉM
DELE.
O homem vive em busca de ALGO NOVO PARA SATISFAZER A MENTE; e mesmo as coisas deliciosas, por
REPETIÇÃO FREQUENTE, estão tão longe de produzir SATISFAÇÃO, que se tornam tediosas e problemáticas. O vento
sopra em todas as partes do mundo; sucessivamente retornando aos mesmos bairros. Esse é um SIMBOLO PERFEITO
Todos os rios...
Chegamos agora à INUTILIDADE DOS CICLOS TERRENOS. A evaporação retira água do mar, FORMA
NUVENS E DEPOSITA ÁGUA EM TERRA FIRME; ali, a água forma rios que, obedientemente, CORREM
DE NOVO PARA SUA ORIGEM, O MAR e o mesmo processo desanimador acontece seguidamente.
Como um 3º exemplo do INTERMINÁVEL CICLO DA NATUREZA, Salomão apresenta o ciclo DA ÁGUA. Embora as
forças naturais forneçam UM QUADRO DE REPETIÇÃO, sua atividade e suas funções foram designadas por Deus EM
HARMONIA COM SUA VONTADE. No entanto, na maioria dos casos, a atividade humana não foi designada por Deus e
não tende ao FIM SATISFATÓRIO QUE ELE TINHA O CRIAR-NOS. A humanidade tem buscado continuamente novos
caminhos PARA A FELICIDADE E SATISFAÇÃO, mas só atingirá seu objetivo quando estiver EM PAZ COM SEU
CRIADOR (Mat. 11.28-30).
Concluímos que o vento nos mostra A MESMA COISA, pois ele também não obtém um RESULTADO MELHOR QUE O
DO SOL. Ele parece ter toda liberdade de soprar como bem entende, e JESUS USA ESSA VERDADE COMO BASE para
uma de suas analogias mais famosas – NASCER DE NOVO pelo poder do Espírito Santo (João 3.8). No entanto, O VENTO
SEGUE SUAS CORRENTES COSTUMEIRAS. Ele sopra, passa e volta. Ele dá suas voltas, seguindo seu curso circular,
MAS NUNCA ALCANÇA O SEU DESTINO. Por mais constante que seja o seu movimento, ELE NUNCA PROGRIDE.

A despeito de todos os ESFORÇOS frenéticos dos rios, como se quisessem encher os mares, ELES
FRACASSAM. Os mares mantêm seu nível. A vida é muito SEMELHANTE. Tudo parece PRESO
NUMA ROTINA. Onde está o progresso? QUAL É O LUCRO PERMANENTE? Você passa sua
vida inteira trabalhando para uma empresa após a outra, MAS O QUE VOCE GANHA EM
TROCA DE SUA LABUTA? E o que você tem a mostrar por todo o TRABALHO EM CASA?
Sempre há mais REFEIÇÕES a serem preparadas, mais pisos a serem VARRIDOS, mais roupas a
Todas as coisas estão cheias de cansaço... os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
Canseiras. A palavra hebraica traduzida aqui é um adjetivo do verbo “LABUTAR" e está
relacionada a uma raiz arábica que significa “TER DOR, SOFRER”. A aparente esterilidade da
atividade humana e OS DESAPONTAMENTOS que a acompanham são os pontos
ENFATIZADOS
Não se fartam. A experiência exterior não AQUI.
pode SATISFAZER OS DESEJOS DO CORAÇÃO. As coisas, isto
é, as bênçãos materiais. As coisas que sensibilizam OS SENTIDOS FÍSICOS não proporcionam
necessariamente BEM ESTAR DURADOURO a menos que alcancem A MENTE E O CORAÇÃO, com os
quais se ouve a voz de Deus
A despeito do fato de a criação PERMANECER ATIVA, ao ponto de uma exaustão tal, que não se pode
descrever, ela é incapaz de dar ao homem secular QUALQUER SATISFAÇÃO DURADOURA.
Este ponto de vista de “DEBAIXO DO SOL” contrasta com o pensamento judeu da Antiga Aliança, QUE AMAVA A
CRIAÇÃO E VIA NELA A MAJESTADE DO NOME DE DEUS, Salmos 8.1,9; 19.1; 89.9-12; 96.11-12. Olhava com
GRANDE ADMIRAÇÃO PARA OS CÉUS, Salmos 8.3; 19.1, 4-6. Ponderava nas LIÇÕES ENSINADAS pelos
animais, pelo vento, pela erva e pelas árvores, Salmos 32.9; 34.10; 35.5; 37.2, 35; 42.1; 50.10-11 E CANTAVA PARA A
GLÓRIA DE DEUS, em face daquilo que via e ouvia. Salmos 8; 19; 29; 65; 104. Via a natureza CANTAR DE
ALEGRIA I Salmo 65.12-13, e sabia que o CONTROLE DE DEUS NA CRIAÇÃO ERA PARTE DA REDENÇÃO,
Salmo 78. Tomando a deixa de Salomão, os sábios também se GLORIAVAM NA CRIAÇÃO e usavam suas lições
para atingirem seus próprios propósitos. Jó 28.7-8; 39.1-30; 41:1-34; Prov. 1.27; 5.19; 6.5-8; 7.22-23; 25.13; 27.8;
28.1, 15; 30.15, 19, 31. O Pregador mantém o ponto de vista de que tudo isto se perde QUANDO SE ALIMENTA
UMA PERSPECTIVA DEBAIXO DO SOL. Sobra apenas a natureza exaurida. O verbo enchem (sãba‘)
normalmente SE REFERE À SATISFAÇÃO DA FOME FÍSICA (por ex. Êxodo 16.8, 12); entretanto, aqui se refere
O que há de novo?
Se o sol e o vento e os poderosos rios NADA TEM A MOSTRAR EM TROCA DE SEU TRABALHO CONSTANTE, então
que ESPERANÇA TEMOS NÓS de realizar qualquer coisa na vida? O PREGADOR SE CANSA SÓ EM PENSAR NISSO.
Então, ele resume tudo que observou na natureza nestas palavras: “Todas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode
exprimir” (Ecles. 1.8). A vida é tão ENFADONHA, uma preocupação tão EXAUSTIVA, que é difícil até para colocar em
palavras.
Com essa declaração, o Pregador REFORÇA O TEMA CENTRAL DA SUA PREGAÇÃO. Ele está tentando
mostrar quanto a vida é CANSATIVA. No entanto, ele ainda não chegou AO FIM DE SEU ARGUMENTO.
Podemos começar pela PERCEPÇÃO SENSORIAL. Temos aqui um exemplo notável da fadiga de todas as coisas: “OS
OLHOS não se fartam de ver, nem se enchem os OUVIDOS DE OUVIR” (Ecles. 1.8). As pessoas estão sempre OLHANDO
E OUVINDO. Isso vale especialmente para a nossa ERA DA INFORMAÇÃO. A cada dia, vemos uma procissão INFINITA
DE IMAGENS VISUAIS: YouTube, BlackBerry, Netflix. Podemos ouvir também muitos sons: iPod, iPhone, iTunes, TV,
CD e mp3.
Contudo, mesmo após VERMOS E OUVIRMOS TUDO, nossos olhos e ouvidos ainda NÃO SE CONTENTAM. Queremos
ouvir e ver ainda mais. E logo voltamos a INGERIR MAIS daquela procissão infinita de sons e imagens. JAMAIS NOS
SATISFAZEMOS. Sempre há algo mais a ver, mais um JOGO A JOGAR, mais uma MÚSICA a ouvir. Assim, continuamos
mandando mensagens, POSTANDO VIDEOS E FOTOS no Face book, escrevendo no Twitter, etc. MAS O QUE
GANHAMOS COM ISSO? O que realizamos? Há algum LUCRO nisso? Estas são perguntas importantes que DEVEMOS
FAZER SOBRE TUDO QUE VEMOS E OUVIMOS: Isso me ajuda a fazer algum tipo de PROGRESSO, ou é a mesma
coisa de sempre? Como o mar que nunca se enche, “os olhos não se FARTAM de ver, nem se enchem os OUVIDOS DE
OUVIR” (Ecles. 1.8).
Todas as coisas são canseiras. Todas as coisas significam TUDO QUANTO SALOMÃO HAVIA
ESCRITO: os labores do homem. O espírito do homem torna-se CANSADO DE TANTO VER E OUVIR.

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