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O QUE CONTAMINA?

O MORAL, O CERIMONIAL OU O RITUALÍSTICO? MARCOS


7.1-23

EDMARIO DE JESUS
“Eu como caranguejo, siri, lagosta, camarão, peixe de couro, enfim, tudo o que MOISÉS PROIBIU, porque quem autorizou a
comer, não foi o homem, MAS O PRÓPRIO JESUS. ” Depois, aquele amigo querido, citou o verso 15 de Marcos 7, que diz:
“O que CONTAMINA o homem não é o que ENTRA NA BOCA, mas o que SAI DA BOCA isso é o que CONTAMINA o
homem”. Este apetite descontrolado está fundamentado em um VERSO ISOLADO que desfigura o contexto.
Em 1º lugar, aquele irmão EQUIVOCOU-SE ao dizer que quem PROIBIU comer carnes
imundas foi Moisés. Não! DEUS É QUEM PROIBIU. Levíticos 11.
Em Marcos 7.5, há uma INDAGAÇÃO DOS LÍDERES que dizem assim: “Por que não andam os teus
discípulos conforme a TRADIÇÃO DOS ANCIÃOS, mas comem o pão SEM LAVAR AS MÃOS?”
Observe que o enredo COMEÇA COM UMA TRADIÇÃO. Entre as muitas, INFINDÁVEIS E ENFADONHAS
tradições dos judeus, tinha preeminência aquela de, antes de qualquer refeição, LAVAR AS MÃOS MUITAS VEZES
(Mar 7.3), como se fora uma CERIMONIA SOLENE. Aliás, era de fato uma PURIFICAÇÃO IMPOSTA, um
cerimonial preceituado. Lavava-se tanto as mãos, NÃO PARA TORNÁ-LAS LIMPAS, como é normal, antes de
qualquer refeição!
Embora as leis dietéticas mosaicas AINDA SE APLICASSEM AO POVO JUDEU, o que
os fariseus fizeram foi ACRESCENTAR TRADIÇÕES ÀS LEIS DE DEUS - tradições
que exigiam certas LIMPEZAS E LAVAGENS CERIMONIAIS. Em um esforço para
impedir as pessoas da contaminação cerimonial, eles desenvolveram “REGRAS”
elaboradas sobre “LAVAR”. Eles enfatizaram excessivamente o princípio da
“LIMPEZA” a ponto de comer qualquer coisa COM AS MÃO SUJAS, resultando em
tanta contaminação como se um judeu TIVESSE COMIDO ALIMENTOS PROIBIDOS.
COMO ERA A LAVAGEM DAS MÃOS?
Não se tratava simplesmente de LAVAR-SE COM SABÃO E ÁGUA. Havia os MOVIMENTOS que deviam ser feitos,. A
quantidade MÍNIMA DE ÁGUA que poderia ser usada devia caber pelo menos NUMA METADE DA CASCA DO OVO.
Então era preciso derramar um pouco d’água NOS DEDOS E NAS PALMAS DAS MÃOS, primeiro uma, depois outra,
erguendo a mão o bastante para que A ÁGUA ESCORRESE PELOS PUNHOS, mas não ALÉM deste ponto. Além disto a
pessoa tinha de cuidar que a água NÃO ESCORRESSE PELAS COSTAS DAS MÃOS. E depois a pessoa deveria esfregar
UMA MÃO NA OUTRA, indo e vindo, para lá e para cá. Se não houvesse água nenhuma, poderia ser feita UMA ESPÉCIE
DE LAVAGEM A SECO, simplesmente fazendo os MOVIMENTOS COMO SE COM A ÁGUA. Mas de modo algum a
pessoa poderia SENTAR-SE À MESA para comer sem ter PRATICADO ESTA CERIMONIA. ” – Inspiração Juvenil,
1979, pág. 349, Jan. S. Doward.
Com o tempo, ESSA TRADIÇÃO ORAL, originalmente destinada a PROTEGER a lei escrita do AT, chegou a
ser considerada MAIS SAGRADA QUE A PRÓPRIA LEI (DTN, 395). Por uma OBEDIENCIA MECANICA
às exigências da tradição oral, a pessoa automaticamente estaria GUARDANDO A LEI ESCRITA, incluindo
os dez mandamentos. Em outras palavras, se uma pessoa cumprisse com o sentido exato da interpretação
TRADICIONAL DA LEI, ela não precisaria se preocupar com O ESPÍRITO DA LEI ESCRITA.

Aqui, especificamente, trata-se da tradição que declarava que o alimento ingerido NÃO
DEVIDAMENTE LAVADAS, no sentido RITUALÍSTICO, tornava-se a causa da
CONTAMINAÇÃO. Era sempre, e exclusivamente, contra “OS PRECEITOS DOS HOMENS”
(vers. 7) que Jesus protestava, em nítida distinção do “MANDAMENTO DE DEUS” (vers. 8),
conforme estabelecido nas Escrituras. Eles estavam em uma comunidade COMPLETAMENTE
RITUALÍSTICA, onde tudo era sinônimo de PUREZA OU IMPUREZA.
O contexto não trata da impureza BIOLÓGICA, mas da impureza CERIMONIAL à qual, supostamente, as pessoas se
expunham a partir da OMISSÃO DA LAVAGEM RITUAL. O tipo de comida que os discípulos ingeriam NÃO É REFERIDO,
mas APENAS A FORMA como eles o faziam (vers. 2, 5, 15). DO COMEÇO AO FIM, Cristo lida com a difícil questão do
contraste entre o “MANDAMENTO DE DEUS” e a “TRADIÇÃO DOS HOMENS”. A corrupção, É MORAL, não cerimonial.

A tradição dos anciãos NÃO ERA A LEI DE MOISÉS, e sim uma tradição oral BASEADA
NA INTERPRETAÇÃO DA LEI. Eles lavavam as mãos como um cerimonial para
REMOVER AS IMPUREZAS, não por higiene pessoal (Mc 7.2-4).
As tradições ensinavam: que se o homem NÃO LAVASSE AS MÃOS antes de comer pão,
ESTARIAM EM PECADO. Existiam inúmeras tradições, que não estavam sendo colocadas
em pauta, mas, JESUS AS CONHECIA, e por isso, os confrontou.
O problema suscitado naquela oportunidade NÃO É O DA COMIDA EM SI, mas a maneira de se comer,
isso é muito claro. O verso 2 informa que a dificuldade residia EM LAVAR OU NÃO AS MÃOS.
Está claro que, naquela oportunidade, não havia sobre aquela mesa NENHUMA CARNE PROIBIDA POR
DEUS, e muito menos houve AUTORIZAÇÃO PARA O SEU CONSUMO, pois desde este incidente de
MARCOS 7 ATÉ ATOS 10, passaram-se algumas décadas e Pedro disse categoricamente, diante do LENÇOL
CHEIO DE ANIMAIS que descia do Céu: “NUNCA, SENHOR COMI COISA IMUNDA”.
Os comentaristas geralmente SE DESVIAM DO PONTO PRINCIPAL, nos v. 15 a 23, aplicando a discussão ao problema
dos ALIMENTOS CÁRNEOS PUROS E IMPUROS diferenciados em Levítico 11. O contexto deixa claro que Jesus não
estava COLOCANDO EM DÚVIDA qualquer preceito do AT, mas negando A VALIDADE DA TRADIÇÃO ORAL.
VAMOS CONSIDERAR AS PALAVRAS DE JESUS
Num estilo CLÁSSICO DOS RABINOS, Jesus respondeu a acusação dos escribas e fariseus COM UMA
PERGUNTA. Já que eles haviam ACUSADO JESUS E SEUS DISCÍPULOS de terem transgredido os
ensinamentos antigos dos rabinos, Ele, por sua vez, acusou-os de terem TRASNGREDIDO O
MANDAMENTO DE DEUS. Os escribas e fariseus colocavam seus conceitos ACIMA DA REVELAÇÃO DE
Eles estavam defendendo a ideia de que a “PUREZA” DEUS.religiosa diante de Deus tinha a ver COM COISAS
EXTERNAS. Mas Jesus respondeu a esse argumento dizendo, em termos claros e ousados: “Não é o que entra
pela boca que CONTAMINA O HOMEM; mas o que sai da boca, isso contamina o homem ” (vers. 15).
Ele está nos ensinando que a VERDADEIRA CONTAMINAÇÃO diante de Deus não é uma questão de
EXTERNAS - lavagens cerimoniais ou hábitos específicos de dieta. Se a contaminação realmente viesse por
meio dessas coisas, então “PUREZA” diante de Deus seria uma questão sobre a qual poderíamos FAZER
ALGO POR CONTA PRÓPRIA. Tudo o que temos a fazer é SEGUIR AS REGRAS E FICAREMOS BEM.
A devoção dos judeus se tornou uma demanda de COMPORTAMENTO E REGRAS DOS HOMENS. Seus
corações estavam DISTANTES DE DEUS e, como resultado, SEU CULTO ERA EM VÃO.
O que a pessoa pensa no seu coração, ISSO É O QUE ELA É. Mas como é que os pensamentos NASCEM NO
CORAÇÃO, a fonte de toda reflexão? Por meio da VISÃO, da AUDIÇÃO e dos demais SENTIDOS. A
matéria-prima de nossas ações é o que RECEBEMOS NA MENTE e permitimos que chegue ao coração.
A contaminação de um indivíduo NÃO VEM DE FORA. O que vem de fora apenas PASSA PELO SISTEMA
DIGESTÓRIO e acaba sendo excluído. Embora o ato talvez nunca seja consumado, o pensamento, a intenção
ou o desejo JÁ REVELAM CONTAMINAÇÃO DENTRO DE NÓS. Como precisamos CUIDAR dos nossos
No mundo atual os seres humanos fazem tantas pesquisas SOBRE A QUALIDADE DOS ALIMENTOS.
Fazemos tantas DIETAS, baseadas em alimentos “SAUDÁVEIS", cuidamos bem do corpo, mas será que
estamos CUIDANDO BEM DAS COISAS ESPIRITUAIS? Será que estamos fazendo UMA FILTRAGEM
daquilo que está entrando em NOSSOS CORAÇÕES, potencializando, ou não, nossa humanidade caída?

Existem alimentos espirituais QUE NOS CONTAMINAM, aqueles que NÃO ENTRAM em nossas vidas pela
boca, mas PELOS OLHOS E OUVIDOS, penetra em NOSSO CORAÇÃO, e potencializa nossa humanidade
caída, DESVIRTUA o verdadeiro ensino de Cristo. Estes devemos FILTRAR se agradam, ou não, a Deus.

Jesus conclui a questão com uma declaração das coisas que “CONTAMINAM O
HOMEM" (vers. 23). A corrupção, segundo Ele, É MORAL E NÃO CERIMONIAL.
Pensamentos MALIGNOS, assassínio, adultério, imoralidade sexual, DESVIO, falso
testemunho, calúnia – tais atitudes e palavras SURGEM DE DENTRO do coração perverso.

Jesus usa o vocábulo “CORAÇÃO” para representar a faculdade que PLANEJA E


DECIDE. Na verdade, a mente é a sede dos PENSAMENTOS E DECISÕES. É aí onde atua
o Espírito Santo, e todos os atos e gestos são dirigidos por este comando motor
(SENSÓRIO). Desta maneira, estas “coisas” procedem, NÃO DO CORAÇÃO EM SI, MAS,
DA MENTE.
Vejamos as coisas que Jesus enumera como as que saem do coração (MENTE) e poluem ao homem.
Começa com os MAUS PENSAMENTOS διαλογισμός (dialogismoi). Todo ato pecaminoso EXTERNO é precedido por um
ato INTERNO de decisão; portanto, Jesus começa com o mau pensamento DO QUAL PROCEDE A MÁ ACÃO.
Logo vêm as fornicações πορνεία (porneiai); a palavra fornicações é MUITO AMPLA –
significa TODA CLASSE DE VÍCIO SEXUAL.
Logo seguem os furtos κλοπή (klopai). Em grego há DUAS PALAVRAS para designar a um ladrão:
KLEPES E LESTES. Lestes é um bandoleiro; BARRABÁS era um “lestes” (João 18.40) e um bandoleiro
é um FORA DA LEI. KLEPES é um ladrão; JUDAS ERA UM LADRÃO quando subtraía da bolsa (João
12.6).
Logo na lista vêm ASSASINATOS E ADULTÉRIOS, e seu significado é claro. Logo vêm as AVAREZAS -
COBIÇAS (πλεονεξία). Pleonexia vem de DUAS PALAVRAS GREGAS que significam TER MAIS. Tem
sido definido como O MALDITO AMOR AO TER; "o espírito que arrebata o que NÃO É CORRETO
TER", "o funesto apetite do que PERTENCE AOS OUTROS". É o espírito que SE APODER DAS
COISAS.
Platão disse: "O desejo do homem é como uma
PENEIRA ou um COPO PERFURADO que tenta
encher, mas nunca pode." Pleonexia é esse afã de
ter que está no coração do homem que vê a
FELICIDADE NAS COISAS e não em Deus.
Maldades: Em grego há DUAS PALAVRAS para mau: KAKOS, que descreve algo que é MAU EM SI
MESMO. Descreve uma PESSOA OU COISA que é ativamente má. O recipiente térmico que aqui se usa é
πονηρία Poneriai. O homem que é poneros é aquele em CUJO O CORAÇÃO HÁ O DESEJO DE FAZER
MAU.
A Poneria não só CORROMPE O HOMEM QUE A PADECE, corrompe também OS QUE A
OUVEM. Poneros – o Maligno – É O TÍTULO DE SATANÁS. O pior dos homens, que faz a OBRA
DE SATANÁS, é o homem que, sendo ELE PRÓPRIO MAU, faz a outros tão maus QUANTO ELE.
Logo segue a palavra δόλος “DOLOS”, que SE TRADUZ ENGANO (BJ, fraude). Emprega-se, por
exemplo, para uma ARMADILHA PARA RATOS. Quando os gregos estavam SITIANDO TRÓIA e não
podiam conseguir entrar na cidade, enviaram aos troianos o presente de UM GRANDE CAVALO DE
MADEIRA, como se fosse um sinal de boa vontade. Os troianos abriram suas portas e o introduziram na
cidade. Mas o cavalo estava cheio de gregos que durante a noite saíram e semearam a morte e a
devastação na Tróia. ISSO É EXATAMENTE DOLOS. Dolos é um proceder matreiro, ardiloso,
ENGANOSO
Vem logo na lista a lascívia (luxúria) E TRAIÇOEIRO.
ἀσέλγεια (aselgeia). Os gregos definiam a aselgeia como “UMA
DISPOSIÇÃO DA ALMA QUE RECHAÇA TODA DISCIPLINA", como "um espírito que não
RECONHECE RESTRIÇÕES, se lança a tudo o que seu capricho e DESENFREADA INSOLENCIA lhe
sugerem". A grande característica do homem que é culpado de aselgeia é que perdeu TODA DECENCIA E
VERGONHA.
Logo vem a MALEDICENCIA. A palavra é βλασφημια blasfêmia. Quando este termo se
refere a palavras contra o homem, SIGNIFICA CALÚNIA; quando se refere a palavras
contra Deus, é blasfêmia. Significa INSULTAR AO HOMEM OU A DEUS.
Segue a soberba ὑπερηφανία (hyperefania). A palavra grega significa literalmente “ALGUÉM
MOSTRAR-SE POR CIMA". Descreve a atitude do homem que “TEM CERTO DESPREZO
POR TODOS MENOS POR SI MESMO". O interessante desta palavra, no uso que os gregos
lhe davam, é que descreve UMA ATITUDE QUE NÃO SE PODE FAZER PÚBLICA JAMAIS.
Pode ser que alguém, no íntimo de seu coração, esteja SEMPRE SE COMPARANDO COM OS
DEMAIS. Até pode aparentar humildade, mas EM SEU FORO ÍNTIMO É SOBERBO.

Finalmente, vem a insensatez ἀφροσύνη (afrosune). Isto não significa


a insensatez devida a DEBILIDADE INTELECTUAL; significa
INSENSATEZ MORAL. Descreve, não o homem DESPROVIDO DE
MIOLO, e sim o que, como dizemos, SE FAZ DE LOUCO.

É uma lista verdadeiramente TERRÍVEL a que Jesus apresenta das coisas que
SAEM DO CORAÇÃO HUMANO. Quando entramos em analisá-la não
podemos evitar que NOS PERCORRA UM ESTREMECIMENTO. Entretanto,
convoca-nos a um HONRADO EXAME DE NOSSOS CORAÇÕES.

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