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 “Eu como caranguejo, siri, lagosta, camarão, peixe de couro, enfim, tudo que Moisés proibiu, porque

quem autorizou a comer, não foi o homem, mas o próprio Jesus. ” Depois, aquele amigo querido,
citou o verso 11 de Mateus 15, que diz: “O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o
que sai da boca isso é o que contamina o homem”. Este apetite descontrolado está fundamentado em
um verso isolado que desfigura o contexto.
 Em primeiro lugar, aquele irmão equivocou-se ao dizer que quem proibiu comer carnes imundas foi
Moisés. Não! Deus é quem proibiu. Levíticos 11.
 Mateus 15: 2 – “Por que transgridem os Teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as
mãos quando comem pão”.
 Observe que o enredo começa com uma tradição. Entre as muitas, infindáveis e enfadonhas tradições
dos judeus, tinha preeminência aquela de, antes de qualquer refeição, lavar as mãos muitas vezes
(Mar 7.3), como se fora uma cerimônia solene. Aliás, era de fato uma ablução imposta, um
cerimonial preceituado. Lavava-se tanto as mãos, não para torná-las limpas, como é normal, antes de
qualquer refeição!
 Mas embora as leis dietéticas mosaicas ainda se aplicassem ao povo judeu, o que os fariseus fizeram
foi acrescentar tradições às leis de Deus - tradições que exigiam certas limpezas e lavagens
cerimoniais. Em um esforço para colocar uma “cerca em torno da lei” e para impedir as pessoas da
contaminação cerimonial, eles desenvolveram “regras” elaboradas sobre “lavar”. Eles enfatizaram
excessivamente o princípio da “limpeza” a ponto de comer qualquer coisa com as mãos sujas,
resultando em tanta contaminação como se um judeu tivesse comido alimentos proibidos.
 Não se tratava simplesmente de lavar-se com sabão e água e limpar-se. Não, não. Havia os
movimentos certinhos que deviam ser feitos, tudo direitinho. A quantidade mínima de água que
poderia ser usada devia caber pelo menos numa metade da casca de ovo. Então era preciso derramar
um pouco d’água nos dedos e palmas da mão, primeiro uma, depois outra, erguendo a mão o bastante
para que a água escorresse pelos punhos, mas não além deste ponto. Além disto a pessoa tinha de
cuidar que a água não escorresse pelas costas da mão. E depois a pessoa deveria esfregar uma mão
na outra, indo e vindo, para lá e para cá. Se não houvesse água nenhuma, poderia ser feita uma
espécie de lavagem a seco, simplesmente fazendo os movimentos como se com água. Mas de modo
algum a pessoa poderia sentar-se à mesa para comer sem ter praticado esta cerimônia. ” – Inspiração
Juvenil, 1979, pág. 349, Jan. S. Doward.
 O problema suscitado naquela oportunidade não é o da comida em si, mas a maneira de se comer,
isso é muito claro. O verso 2 informa cristalinamente que a dificuldade residia em lavar ou NÃO
lavar as mãos.
 Portanto, está claro que, naquela oportunidade, quando Jesus mencionou o verso que estamos
estudando, não havia sobre aquela mesa nenhuma carne proibida por Deus, e muito menos houve
autorização para o seu consumo, pois desde este incidente de Mateus 15 até Atos 10, passaram-se
algumas décadas e Pedro disse categoricamente, diante do lençol cheio de animais que descia do
Céu: “Nunca, Senhor, comi coisa... imunda”.
 Jesus sempre Se serviu de parábolas e expressões metafóricas, para ilustrar verdades eternas. Por isso
que, relativo a esse verso, não podemos fazer uma aplicação literal, porque o Senhor Jesus nunca
teve tal intenção. Sabe por quê? Porque nem tudo o que entra pela boca vai para o ventre e é lançado
fora. Por exemplo: arsênico, formicida, soda cáustica, etc. Você acha que Jesus não sabe disso? Não
foi Ele que fez nosso estômago? (Em sã consciência e usando o bom senso, também ninguém
comeria alguma coisa envenenada para pôr à prova este texto. Isto seria tentar ao Senhor, o que é
proibido por Ele mesmo).
 Eles estavam defendendo a ideia de que a “pureza” religiosa diante de Deus tinha a ver com coisas
externas. Mas Jesus respondeu a esse argumento dizendo, em termos claros e ousados: “Não é o que
entra pela boca que contamina o homem; mas o que sai da boca, isso contamina o homem ” (vers.
11).
 Acredito que o que Jesus disse às multidões - e, por implicação, também aos escribas e fariseus - foi
extraordinariamente impressionante. Foi, de fato, tão “chocante” para o impulso “religioso” humano
normal, natural, que os discípulos simplesmente tiveram que perguntar mais a Jesus sobre isso.
Marcos nos diz, em seu relato, que todos os discípulos queriam perguntar a Jesus sobre isso; mas
obviamente - como costumavam fazer - eles permitiram que Pedro falasse.
 Ele está nos ensinando que a verdadeira contaminação diante de Deus não é uma questão de coisas
externas - lavagens cerimoniais ou hábitos específicos de dieta. Se a contaminação realmente viesse
por meio dessas coisas, então “pureza” diante de Deus seria uma questão sobre a qual poderíamos
fazer algo por conta própria. Tudo o que temos a fazer é seguir as regras e ficaremos bem.
 Observe que Pedro chama o que Jesus diz no versículo 11 de “uma parábola”. A palavra “parábola”
refere-se literalmente a algo “jogado no chão junto com” outra coisa. Foi uma história ou quadro de
palavras que Jesus pintou - um instantâneo da vida cotidiana - que Ele usou para ilustrar uma
verdade espiritual.
 O verdadeiro espírito dessa lei que vai além das meras aparências. “Vocês ouviram o que foi dito aos
antigos: 'Não matarás, e quem quer que assassinar estará em perigo de ser julgado. Mas eu vos digo
que todo aquele que se zangar sem justa causa com seu irmão, estará sob perigo de julgamento...”
(Mateus 5.21-22). Ou “Ouvistes que foi dito aos antigos: 'Não cometerás adultério.' Mas eu vos digo
que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com
ela” (vv. 27-28). Ou “Ouvistes que foi dito aos antigos: 'Não jureis falsamente, mas cumprireis os
vossos juramentos ao Senhor'. Mas eu digo a você, não xingue. . . Mas deixe seu 'Sim' ser 'Sim' e seu
'Não', 'Não' ” (vv. 33-37).
 Eles não deveriam ter ficado chocados e surpresos quando Jesus lhes ensinou que um homem não é
contaminado por meras coisas externas, mas pelo que está “dentro”.
 Tradição. Literalmente, “uma entrega”, ou “uma transferência", que é transferida a outros oralmente
ou por escrito.
 Com o tempo, essa tradição oral, originalmente destinada a proteger a lei escrita do AT, chegou a ser
considerada mais sagrada do que a própria lei (ver DTN, 395). Por uma obediência mecânica às
exigências da tradição oral, a pessoa automaticamente estaria guardando a lei escrita, incluindo os
dez mandamentos. Em outras palavras, se uma pessoa cumprisse com o sentido exato da
interpretação tradicional da lei, ela não precisaria se preocupar com o espírito da lei escrita.
 Os comentaristas geralmente se desviam do ponto principal, nos v. 15 a 23, aplicando a discussão ao
problema dos alimentos cárneos puros e impuros diferenciados em Levítico 11. O contexto deixa
claro que Jesus não estava colocando em dúvida qualquer preceito do AT, mas negando a validade
da tradição oral.
 Aqui, especificamente, trata-se da tradição que declarava que o alimento ingerido com as mãos não
devidamente lavadas, no sentido ritualístico, tornava-se a causa da contaminação. Era sempre, e
exclusivamente, contra “os preceitos de homens” (v. 7) que Jesus protestava, em nítida distinção do
"mandamento de Deus” (v. 8), conforme estabelecido nas Escrituras. Eles estavam em uma
comunidade completamente ritualística, onde tudo era sinônimo de pureza ou impureza.

 Embora o ato talvez nunca seja consumado, o pensamento, a intenção ou o desejo já revelam a
contaminação dentro do homem. Como precisamos cuidar dos nossos corações!
 Sua devoção se tornou uma demanda de comportamento e regras feitas pelo homem. Seus corações
estavam distantes de Deus e, como resultado, seu culto era em vão.
 Além disso, o contexto (v. 1-14, 20-23)
 não trata da impureza biológica, mas da
 impureza cerimonial à qual, supostamente,
 as pessoas se expunham a partir da omissão
 da lavagem ritual (ver com. do v. 15). O tipo
 de comida que os discípulos ingeriam (v. 2, 5)
 não é referido, mas apenas a forma como eles
 o faziam (ver com. dos v. 2, 5, 15). Do começo
 ao fim, Cristo lida com a difícil questão do contraste entre o “mandamento de Deus” e a
 “tradição dos homens”. A corrupção, segundo Ele, é moral, não cerimonial
 Os fariseus estavam errados ao julgar que suas purificações os mantinham espiritualmente limpos.
 A contaminação de um indivíduo não vem de fora. O que vem de fora apenas passa pelo sistema
digestor e acaba sendo excluído.
 Pensamentos malignos, assassínio, adultério, imoralidade sexual, desvio, falso testemunho, calúnia –
tais atitudes e palavras surgem de dentro do coração perverso.
 Essas questões – não se o indivíduo come alimento sem lavar as mãos – revelam impureza espiritual.
 A tradição dos anciãos não era a Lei de Moisés, e sim uma tradição oral baseada na interpretação da
Lei. Eles lavavam as mãos como um cerimonial para remover as impurezas, não por higiene pessoal
(Mc 7.2-4).
 Num estilo clássico dos rabinos, Jesus respondeu a acusação dos escribas e fariseus com uma
pergunta. Já que eles haviam acusado Jesus e Seus discípulos de terem transgredido os ensinamentos
antigos dos rabinos, Ele, por sua vez, acusou-os de terem transgredido o mandamento de Deus. Os
escribas e fariseus colocavam seus conceitos acima da revelação de Deus, e ainda assim afirmavam
que lhe obedeciam.
 O que a pessoa pensa no seu coração, isso é o que ela é. Mas como é que os pensamentos nascem no
coração, a fonte de toda reflexão? Por meio da visão, da audição e dos demais sentidos. A matéria-
prima de nossas ações é o que recebemos na mente e permitimos que chegue ao coração. Davi
expressou tal verdade desta maneira: Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra
ti (Sal 119.11). Encontramos o mesmo conceito, mas focalizando a ação negativa, no Salmo 101.3:
Não porei coisa má diante dos meus olhos. Paulo descreve o cristão como aquele que leva cativo
todo entendimento a obediência de Cristo (2 Cor 10.5).
 Os escribas e fariseus, estavam preocupados com as tradições, e escandalizaram quando Jesus Cristo
os confrontou, mostrando que pelas tradições transgrediam a autoridade de Deus.
 Existem os alimentos espirituais que nos contaminam, aqueles que não entram em nossas vidas pela
boca, mas sim: pelos olhos e ouvidos. E assim penetra em nossos corações, e potencializam nossa
humanidade caída, desvirtuam o verdadeiro ensino de Cristo. Estes devemos filtrar se agradam, ou
não, a Deus.
 As tradições ensinavam: que se o homem não lavasse as mãos antes de comer pão, estariam em
pecado. Existiam inúmeras outras tradições, que não estavam sendo colocadas em pauta, mas, Jesus
Cristo as conheciam, e por isso, os confrontou.
 No mundo atual os seres humanos fazem tantas pesquisas sobre a qualidade dos alimentos. Fazemos tantas
dietas, baseadas em alimentos "saudáveis", cuidamos bem do corpo, mas será que estamos cuidando bem das
coisas espirituais? Será que estamos fazendo uma filtragem daquilo que está entrando em nossos corações,
potencializando, ou não, nossa humanidade caída?
 Jesus usa o vocábulo “coração” para representar a faculdade que planeja e decide. Na verdade, a mente é a
sede dos pensamentos e decisões. É aí onde atua o Espírito Santo, e todos os atos e gestos são dirigidos por
este comando motor (sensório). Desta maneira, estas “coisas” procedem, não do coração em si, mas, da mente.
 De dentro. Jesus conclui a questão com uma declaração das coisas que “contaminam o homem" (v. 23). A
corrupção, segundo Ele, é moral, não cerimonial.
 Vejamos as coisas que Jesus enumera como as que saem do coração e poluem ao homem.
 Começa com os maus pensamentos (dialogismoi). Todo ato pecaminoso externo é precedido por um ato
interno de decisão; portanto, Jesus começa com o mau pensamento do qual procede a má ação.
 Logo vêm as fornicações (porneiai); a palavra fornicações é muito ampla – significa toda classe de vício
sexual.
 Logo seguem os furtos (klopai). Em grego há duas palavras para designar a um ladrão: kleptes e lestes.
Lestes é um bandoleiro; Diabinho era um “lestes” (João 18.40) e um bandoleiro pode ser um homem muito
valente, embora fora da lei. Kleptes é um ladrão; Judas era um ladrão quando subtraía da bolsa (João 12.6).
Um kleptes é um ladrão enganoso e desprezível, que não tem sequer uma certa audácia galante que deve ter
um bandoleiro.
 Logo na lista vêm assassinatos e adultérios, e seu significado é claro. Logo vêm as avarezas (VM, cobiças)
(pleonexiai). Pleonexia vem de duas palavras gregas que significam ter mais. Tem sido definido como o
maldito amor ao ter; "o espírito que arrebata o que não é correto ter", "o funesto apetite do que pertence a
outros". É o espírito que se apodera das coisas, não para as acumular, como o avarento, a não ser para as
gastar em lascívias luxos.
 Platão disse: "O desejo do homem é como uma peneira ou um copo perfurado que tenta encher, mas nunca
pode." Pleonexia é esse afã de ter que está no coração do homem que vê a felicidade nas coisas e não em
Deus.
 Maldades: Em grego há duas palavras para mau: kakos, que descreve algo que é mau em si mesmo, e lhes pôr
que descreve uma pessoa ou uma coisa que é ativamente má. O recipiente térmico que aqui se usa é poneriai.
O homem que é poneros é aquele em cujo coração há o desejo de fazer o mal.
 A poneria não só corrompe ao homem que a padece, corrompe também os que a ouvem. Poneros – o Maligno
– é o título de Satanás. O pior dos homens, que faz a obra de Satanás, é o homem que, sendo ele próprio mau,
faz a outros tão maus quanto ele.
 Logo segue dolos, que se traduz engano (BJ, fraude). Vem de uma palavra que significa ceva. Emprega-se,
por exemplo, para uma armadilha para ratos. Quando os gregos estavam sitiando a Tróia e não podiam
conseguir entrar na cidade, enviaram aos troianos o presente de um grande cavalo de madeira, como se fosse
um sinal de boa vontade. Os troianos abriram suas portas e o introduziram na cidade. Mas o cavalo estava
cheio de gregos que durante a noite saíram e semearam a morte e a devastação na Tróia. Isso exatamente é
dolos. Dolos é um proceder matreiro, ardiloso, enganoso e traiçoeiro.
 Vem logo na lista a lascívia (luxúria) (aselgeia). Os gregos definiam a aselgeia como "uma disposição da alma
que rechaça toda disciplina", como "um espírito que não reconhece restrições, se lança a tudo o que seu
capricho e desenfreada insolência lhe sugerem". A grande característica do homem que é culpado de aselgeia
é que perdeu toda decência e vergonha.
 Logo vem a maledicência. A palavra é blasfêmia. Quando este termo se refere a palavras contra o homem,
significa calúnia; quando se refere a palavras contra Deus, é blasfêmia. Significa insultar ao homem ou a
Deus.
 Segue a soberba (hyperefania). A palavra grega significa literalmente "alguém mostrar-se por cima".
Descreve a atitude do homem que "tem certo desprezo por todos, menos por si mesmo". O interessante desta
palavra, no uso que os gregos lhe davam, é que descreve uma atitude que pode não se fazer pública jamais.
Pode ser que alguém, no íntimo de seu coração, esteja sempre se comparando com os demais. Até pode
aparentar humildade, mas em seu foro íntimo ser soberbo.
 Finalmente, vem a insensatez (afrosune). Isto não significa a insensatez devida a debilidade intelectual e falta
de cérebro; significa insensatez moral. Descreve, não o homem desprovido de miolo, e sim o que, como
dizemos, se faz de louco.
 É uma lista verdadeiramente terrível a que Jesus apresenta das coisas que saem do coração humano. Quando
entramos em analisá-la não podemos evitar que nos percorra um estremecimento. Entretanto, convoca-nos,
não a um afastamento desdenhoso dessas coisas, e sim a um honrado exame de nossos corações.

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