Na vida, o ser humano tende a prender-se à sua visão subjetiva. É
fato que isso ocorre com frequência no universo feminino. Ser vítima do próprio subjetivismo é altamente perigoso. Isto porque ele - preso a suas convicções e considerando-as corretas - avalia o próximo de acordo com os próprios critérios, e as coisas não correm satisfatoriamente. Além de causar sofrimentos aos semelhantes, ele mesmo se aflige. Por esse princípio, o ser humano sempre deve analisar-se objetivamente, isto é, deve criar dentro de si um "segundo eu", que o observe e o critique. Agindo assim, certamente não incorrerá em erros. Há um episódio interessante que envolve Ruiko Kuroiwa , ex-diretor do antigo jornal Yorozu Choho e conhecido tradutor de romances. Ao mesmo tempo, ele era um pensador que eu ouvia com frequência. Citarei um trecho dele que muito me impressionou: "Ninguém nasce perfeito. Se o ser humano deseja verdadeiramente se aperfeiçoar, deve criar um 'segundo eu', o que se pode chamar de um segundo nascimento." Ainda hoje, sinto o quanto fui movido e beneficiado por essa teoria.
Jornal Kyusei nº 54, 18 de março de 1950
A VERDADE SOBRE A SAÚDE
Ao falar sobre saúde, o que devemos saber, em primeiro lugar, é
que sua essência consiste na obediência e no respeito à Natureza. Antes de mais nada, deve-se pensar: com que objetivo Deus criou o ser humano? Segundo nossa interpretação, foi para construir um mundo pleno de Verdade, Bem e Belo. Imagino que uma teoria incomum como essa seja difícil de ser aceita de imediato. É claro que não se sabe se levará dezenas, centenas, milhares ou até milhões de anos para o mundo ideal se concretizar. Contudo, não se pode negar que os fatos do passado nos mostram que o mundo vem caminhando passo a passo neste sentido. A verdade é que Deus é espírito, e o ser humano, matéria; ambos, espírito e matéria, estão, conjuntamente, empreendendo uma evolução ilimitada e não resta dúvida que o ser humano é o encarregado disso. Em consequência, sua responsabilidade é realmente enorme, e a condição fundamental para a execução dessa obra grandiosa é a saúde. Assim sendo, Deus atribuiu uma missão a cada pessoa, concedendo-lhe, logicamente, a saúde necessária para cumpri-la. Com efeito, se ela perder a saúde, o sagrado objetivo de Deus não será alcançado. Tomando essa lógica por base e refletindo profundamente, concluiremos que a saúde é o estado original do ser humano e deveria ser o normal. Logo, é surpreendente que ele adoeça com tanta facilidade, ou seja, que seu corpo entre em estado de anormalidade. Sendo assim, compreender com clareza essa lógica e fazer com que o ser humano recupere seu estado normal de saúde está coerente com o objetivo de Deus. Nesse sentido, o que descobrimos quando analisamos o estado de anormalidade do corpo humano? Descobrimos que esse estado é devido às ações contrárias à natureza. Em vista disso, a verdadeira medicina é a que restaura a normalidade do corpo humano ao perceber tais ações e corrigi-las. Esta é a forma correta da medicina. Quais ações seriam, então, contrárias à natureza? Quando nasce, o ser humano alimenta-se de leite materno ou com o leite animal, pois ainda não tem dentes, e seu aparelho digestório, recém-formado, é muito frágil. Gradualmente, porém, nascem-lhe os dentes e, à medida que suas funções orgânicas se desenvolvem, ele começa a ingerir alimentação adequada. Existe uma grande variedade de alimentos, cada um com sabor característico. O corpo humano, por sua vez, está dotado de paladar para que a pessoa possa comer com prazer. Além disso, o ar, o fogo e a água existem em proporções necessárias à sua saúde, de modo que tudo foi criado de maneira realmente perfeita. Quanto ao corpo humano, vejamos: do cérebro se originam a razão, a memória e a emoção; os objetos são criados com as mãos; a locomoção é feita livremente por meio das pernas, e o corpo está provido de partes necessárias, como cabelos, pele, unhas, olhos, nariz, boca, ouvidos etc. Acrescente-se a isso que o corpo todo está recoberto de pele, a qual ressalta a beleza humana. Uma rápida observação já evidencia a realidade acima. Numa análise mais profunda, conclui-se que o corpo humano é uma maravilhosa obra da Criação, difícil de ser expresso por meio de palavras. Quando observamos uma única flor ou folha, os rios e as montanhas com sua beleza, inclusive os pássaros, os insetos, os peixes e outros animais, não podemos deixar de sentir grande admiração pela extraordinária Arte Divina. O ser humano é, especialmente, a obra- prima do Criador. E, no que se refere à sua reprodução como forma de preservação da espécie, ela é tão perfeita, que ultrapassa o limite das palavras. Assim sendo, o corpo humano é a obra máxima da criação divina. Devemos, pois, pensar bem sobre quais erros contrários à natureza estamos cometendo para a ocorrência das anormalidades chamadas doenças, que impedem a atividade humana. Eis um ponto que merece profunda reflexão por parte da humanidade.
20 de abril de 1950
A VITÓRIA DO CULTIVO NATURAL: A FORÇA DO SOLO
O princípio da Agricultura Natural consiste em fazer manifestar a força do solo. Isto porque, até agora, o ser humano desconhecia a verdadeira natureza do solo, ou melhor, não lhe era dado conhecê-la. Tal desconhecimento levou-o a adotar o uso de adubos e, despercebidamente, acabou por colocá-lo em um a situação de total dependência em relação a eles, o que tornou essa prática uma verdadeira superstição. No começo, por melhor que eu explicasse o que era o cultivo agrícola sem adubos, as pessoas não me davam ouvidos e riam de mim. No entanto, fui sendo recompensado aos poucos e, ultimamente, a cada ano que passa, os praticantes do cultivo natural têm aumentado, mesmo porque os resultados das colheitas, em toda parte, têm sido surpreendentes. Ainda que, no momento, a maioria seja da esfera dos fiéis de nossa Igreja, de hoje em diante surgirão gradativamente, em várias regiões, simpatizantes fora desse círculo. Nosso método agrícola está se expandindo rapidamente; portanto, já se pode imaginar que não está longe o dia em que ele será praticado em todo o território japonês. Assim sendo, falando francamente, acho que nossa forma de cultivo poderá ser divulgada como “movimento de derrubada da superstição do adubo”. Por ser uma agricultura que não usa absolutamente adubos, nem na forma de esterco nem de fertilizantes químicos, mas somente compostos naturais, é denominada de método de cultivo natural. Evidentemente, a matéria-prima dos compostos naturais são as folhas e os capins secos, que se produzem naturalmente. Contrariamente, os adubos químicos e os dejetos humanos, o esterco de cavalo ou galinha, os resíduos de peixe e as cinzas de madeira não caem do céu nem brotam da terra: são aplicados pelo ser humano. Portanto, não é preciso dizer que a utilização dos mesmos é antinatural. Originariamente, é certo que nada poderia existir neste mundo sem as benesses da Grande Natureza, ou seja, nada nasceria nem se desenvolveria sem os três elementos: fogo, água e terra. Em termos científicos, esses elementos correspondem, respectivamente, ao oxigênio do fogo, ao hidrogênio da água e ao nitrogênio da terra. No começo, por melhor que eu explicasse o que era o cultivo agrícola sem adubos, as pessoas não me davam ouvidos e riam de mim. No entanto, fui sendo recompensado aos poucos e, ultimamente, a cada ano que passa, os praticantes do cultivo natural têm aumentado, mesmo porque os resultados das colheitas, em toda parte, têm sido surpreendentes. Ainda que, no momento, a maioria seja da esfera dos fiéis de nossa Igreja, de hoje em diante surgirão gradativamente, em várias regiões, simpatizantes fora desse círculo. Nosso método agrícola está se expandindo rapidamente; portanto, já se pode imaginar que não está longe o dia em que ele será praticado em todo o território japonês. Assim sendo, falando francamente, acho que nossa forma de cultivo poderá ser divulgada como “movimento de derrubada da superstição do adubo”. Por ser uma agricultura que não usa absolutamente adubos, nem na forma de esterco nem de fertilizantes químicos, mas somente compostos naturais, é denominada de método de cultivo natural. Evidentemente, a matéria-prima dos compostos naturais são as folhas e os capins secos, que se produzem naturalmente. Contrariamente, os adubos químicos e os dejetos humanos, o esterco de cavalo ou galinha, os resíduos de peixe e as cinzas de madeira não caem do céu nem brotam da terra: são aplicados pelo ser humano. Portanto, não é preciso dizer que a utilização dos mesmos é antinatural. Originariamente, é certo que nada poderia existir neste mundo sem as benesses da Grande Natureza, ou seja, nada nasceria nem se desenvolveria sem os três elementos: fogo, água e terra. Em termos científicos, esses elementos correspondem, respectivamente, ao oxigênio do fogo, ao hidrogênio da água e ao nitrogênio da terra. Na agricultura, não existe um só produto que não tenha relação com o oxigênio, o hidrogênio e o nitrogênio. Assim, Deus fez com que os cereais e as hortaliças que constituem os alimentos para a sobrevivência do ser humano possam ser produzidos na quantidade exata de sua necessidade. Analisando a lógica que se segue, será possível compreender isso perfeitamente. Seria um absurdo se Deus criasse o ser humano e não providenciasse os alimentos que lhe possibilitariam a vida. Logo, o fato de determinado país não conseguir produzir os alimentos necessários à sua população é porque, em algum ponto, ele não está de acordo com as Leis da Natureza criadas por Deus. Assim sendo, enquanto não se atentar para isso, não será possível sequer imaginar a solução para o problema da escassez de alimentos. A Agricultura Natural proposta por mim tem como base o princípio já citado, e o atual empobrecimento e o cansaço dos agricultores japoneses pela falta de alimentação serão solucionados sem dificuldades com a prática desse método. Deus, que a tudo vê, não deixa passar despercebida essa situação equivocada e, por meio de Seu grandioso amor e misericórdia de não os deixar desamparados, está se dignando levar, por meu intermédio, o princípio da Agricultura Natural ao conhecimento da sociedade. Urge, portanto, que os agricultores despertem e adotem o quanto antes nosso método. Só assim poderão sair dessa situação. Conforme já mencionado, os três elementos – fogo, água e terra –, são as forças motrizes para desenvolvermos os produtos agrícolas. Portanto, se houver uma boa incidência de Sol, se garantirmos um bom abastecimento de água e se plantarmos em uma terra pura, é certo que obteremos um grande êxito, jamais visto. Não se sabe quando, mas o ser humano cometeu um equívoco sem tamanho, que foi a utilização de adubos. Isso se deu por ele desconhecer, por completo, a natureza do solo. Efeitos contrários dos adubos No início, a aplicação de adubos traz considerável resultado, todavia, se essa prática durar por muito tempo, a ocorrência gradativa de efeitos contrários será inevitável. Ou seja: as plantas vão-se enfraquecendo, perdem a capacidade inerente de absorver os nutrientes existentes no solo e alteram suas características, precisando assimilar adubos como nutrientes. Poderão compreender melhor, se fizermos uma analogia com os toxicômanos. Quando alguém começa a fazer uso de drogas, sente uma sensação muito agradável e, durante certo período, muitas vezes, o funcionamento do cérebro se torna mais vivaz. Por não conseguir esquecer esse prazer, a pessoa, pouco a pouco, se aprofunda cada vez mais no vício e não consegue livrar-se dele. Nessa condição,quando o efeito do tóxico acaba, ela fica em estado de letargia ou sente dores violentas, e nada consegue fazer. Uma vez que a situação se torna intolerável, embora saiba o mal que isso lhe faz, acaba consumindo a droga novamente. E chega até mesmo a roubar, para obter recursos para adquiri-la. Fatos semelhantes são constantemente noticiados nos jornais e podemos compreender quão nocivo esse tóxico é. Aplicando tal lógica à agricultura, compreendemos de imediato e afirmamos que, hoje, todos os solos cultiváveis do Japão estão viciados em adubos, ou seja, gravemente doentes. Todavia, tendo-se tornado cegos adeptos dos adubos, os agricultores não conseguem despertar. Ocasionalmente, ao ouvirem minhas explicações, eles resolvem suspender o uso de adubos artificiais e iniciar o cultivo natural. No entanto, como nos primeiros meses os resultados são insatisfatórios, concluem, precipitadamente, que o certo mesmo é usar os adubos e, desistindo da mudança, voltam à prática anterior. Já que nosso método de cultivo está alicerçado na fé, as pessoas o praticam sem duvidar de nada do que eu digo. Assim procedendo, elas chegam a compreender facilmente o verdadeiro valor da Agricultura Natural. Descreverei a sequência dos fatos que ocorrem com a mudança para a Agricultura Natural. No caso do arroz, ao se transplantarem as mudas para o arrozal, durante algum tempo a coloração das folhas não é satisfatória, e os talos permanecem finos e, no geral, o pé de arroz apresenta-se visivelmente bem inferior ao dos demais arrozais convencionais. Isso dá ensejo à zombaria por parte dos agricultores vizinhos, o que leva o produtor iniciante da nossa agricultura a vacilar, questionando se está no caminho certo. Cheio de preocupação e aflição, ele começa a orar a Deus. Passados dois ou três meses, os pés de arroz começam a se tornar mais viçosos e, na época do crescimento, pode ser observada uma ampla recuperação, o que traz um grande alívio para o agricultor. Finalmente, às vésperas da colheita, seu desenvolvimento já se apresenta normal ou até maior, o que tranquiliza os agricultores. Ao se proceder à colheita, ocorre o inesperado: o volume da produção do arroz, por exemplo, ultrapassa as previsões. Ademais, o produto é de boa qualidade, possui brilho e consistência, e seu sabor é inigualável. Geralmente, ele se enquadra na classificação tipo 1 ou 2 e, na pior das vezes, no tipo 3. Seu peso é também maior em uma proporção de 5 a 10% acima do peso do arroz cultivado com adubos, e o mais interessante é que, devido à sua consistência, o rendimento não se reduz com o cozimento; ao contrário, aumenta em 20% ou 30%. Assim, mesmo que a ingestão de arroz seja 30% a menos, a pessoa se sente plenamente satisfeita. Logo, até do ponto de vista econômico, é vantajoso. Logo, se todos os japoneses comessem o arroz da Agricultura Natural, o resultado seria equivalente ao que se obteria com um incremento de produção de 30%. Mesmo mantendo a quantidade de produção atual, a importação de arroz se tornaria desnecessária, o que seria maravilhoso para a economia nacional. Superstição do adubo Esclarecendo melhor o assunto, o fato de as plantas parecerem fracas durante dois ou três meses se deve à presença de toxicidade dos adubos tanto no solo quanto nas sementes. Com o passar dos dias, essa toxicidade vai sendo eliminada, e o solo e a plantação tendem a melhorar, restabelecendo-se a capacidade original de ambos. Acho que esta teoria é perfeitamente compreensível para os agricultores, pois eles sabem que, após o acréscimo de água do campo do arrozal ou uma chuva forte, mesmo nos arrozais alagados em estado já degradado, sobrevêm certas melhoras. Isso ocorre porque o excesso de toxicidade dos adubos foi lavado e reduzido. Quando o desenvolvimento das plantas não é bom, os agricultores costumam repor terras de outras localidades ao solo e, com isso, se observa uma ligeira melhora. Os agricultores acham que, com as sucessivas e contínuas plantações, o solo foi-se tornando pobre devido à absorção de seus nutrientes pelas plantas; por esse motivo, a melhora sobrevém com a reposição de novas terras. Todavia, isso é um equívoco, pois o solo se enfraqueceu e tornou-se pobre em decorrência da toxicidade dos adubos utilizados, ano após ano. Por intermédio dessa interpretação, podemos perceber facilmente o quanto os agricultores estão influenciados pela superstição do adubo. Os efeitos do uso de compostos orgânicos Vou explicar a aplicação de materiais orgânicos naturais. Em se tratando do cultivo de arroz, corta-se a palha do arroz em pedaços bem pequenos, os quais devem ser bem incorporados ao solo, para aquecê-lo. No caso de outras culturas, em canteiros de terra, deve-se proceder à decomposição das folhas e do capim secos e misturá-los bem à terra A razão disso é para evitar o endurecimento do solo, pois, neste caso, as raízes das plantas têm dificuldade para se desenvolver. A respeito disso, atualmente, dizem que é bom fazer o ar chegar às raízes, mas isso não é verdade, pois não há nenhuma razão para isso ser benéfico. Se o ar consegue chegar às raízes, é pelo simples fato de que o solo não está compactado. Trata-se de uma interpretação equivocada dos agrônomos a respeito disso. Assim sendo, no caso de cultivos cujas raízes não se aprofundam muito no solo, basta misturar à terra compostos de capim. Com relação aos produtos de raízes mais profundas, deve-se preparar um leito com compostos de folhas de árvores a uma profundidade de mais ou menos 30 cm, o qual servirá para aquecer a terra. Tratando-se da espessura do leito para as plantas de raízes profundas, pelo fato de existirem vários tipos de raízes, ele deve ter a espessura que seja de acordo com cada cultura. Geralmente, as pessoas pensam que existem elementos fertilizantes nos compostos naturais, mas isso não é verdade. Sua função é aquecer o solo, bem como não o deixar endurecer. No caso de ocorrer ressecamento do solo junto às raízes, é preciso forrar essa parte com uma quantidade considerável de compostos orgânicos, pois esse procedimento faz manter a umidade do solo. São esses, efetivamente, os três benefícios eficazes dos compostos naturais. Como puderam compreender pelo que foi exposto, a base da Agricultura Natural consiste em vivificar o solo, o que significa conservá-lo sempre puro, não utilizando impurezas como os adubos artificiais. Dessa forma, não encontrando nenhum empecilho, o solo poderá manifestar suas propriedades integralmente. Além disso, é estranho o fato de os agricultores afirmarem: “Vamos deixar o solo descansar”, o que também vem a ser um erro. Quanto mais se cultiva, melhor o solo se torna. Em termos humanos, quanto mais se trabalha, mais saudável se fica; quanto mais se descansa, menos saudável. A respeito disso, os agricultores interpretam de forma oposta, acreditando que, quanto mais se realizam os cultivos de forma sucessiva, mais fraco o solo vai ficando, em virtude do maior consumo dos seus nutrientes pelas plantas e, assim, procuram beneficiá-lo fazendo-o “repousar”. Isto tudo está completamente errado. Devido aos equívocos, os agricultores acham que a cultura repetitiva é danosa e mudam a área de plantio todos os anos o que, lamentavelmente, é uma ignorância e está fora de cogitação. Cultura repetitiva, colheita farta Assim, em nosso método de cultivo, consideramos a cultura repetitiva uma prática benéfica. Uma prova disso é o milho que venho produzindo por sete anos, em Gora, Hakone, em uma terra misturada com pequenas pedras que, sem dúvida, seria classificada como incultivável. Apesar da má qualidade do solo, a colheita deste ano foi maravilhosa: as espigas, mais longas que o normal; os grãos, bem juntinhos e enfileirados, mais adocicados, macios e saborosos. Por que digo que a cultura repetitiva é boa? O solo tem a capacidade inerente e natural de se adaptar ao que é plantado nele. Se fizermos uma comparação com o ser humano, poderemos compreender melhor. As pessoas que executam trabalhos braçais têm seus músculos desenvolvidos; os escritores, que usam mais a cabeça, têm o seu intelecto evoluído. Por essa mesma razão, quem muda constantemente de profissão ou de localização não obtém sucesso, o que nos leva a concluir o quanto os agricultores estiveram errados até hoje.
As boas-novas para a sericultura
Finalizando, gostaria de dizer que, se criarmos o bicho-da-seda com folhas de amoreira cultivadas sem adubos, ele não adoecerá, seus fios serão de muito boa qualidade, resistentes, brilhantes, e o aumento da produção será garantida. Se tal prática fosse realizada em nível nacional, evidentemente ocasionaria uma grande revolução no mundo da sericultura e traria incalculáveis benefícios à economia do nosso país. Jornal Eiko nº 79, 22 de novembro de 1950
CULTIVO AGRÍCOLA SEM ADUBOS
Para explicar o que é o cultivo agrícola sem adubos, começarei pelo seu princípio básico. Afinal, o que é o solo? Sem dúvida, ele foi feito pelo Criador para cultivarmos cereais e hortaliças, que são importantíssimos para a manutenção da vida humana. Por conseguinte, sua essência é profundamente misteriosa, impossível de ser decifrada pela ciência materialista. Até hoje, a agricultura, sem perceber, acabou tomando o rumo errado e, como consequência, menosprezou a força do solo, chegando à conclusão de que, para se obterem produtos agrícolas melhores, o solo dependia da adubação artificial, que usa esterco, fertilizantes químicos, entre outros, fato verificado até hoje. Consequentemente, com o empobrecimento e as modificações gradativas das características do solo, sua capacidade produtiva acabou diminuindo. Sem perceber isso, o ser humano se iludiu, acreditando que a causa das más colheitas é a falta de adubos e passou a utilizá-los em maior quantidade, o que acabou reduzindo, ainda mais, a força do solo. Atualmente, o solo japonês está tão pobre, que a unanimidade dos agricultores lamenta o fato. Vou listar alguns fatos para que fique claro como a adubação artificial é terrível. 1 – Hoje, o maior problema talvez seja o aparecimento de pragas. No entanto, sem procurar elucidar as causas do seu surgimento, os agricultores têm-se concentrado apenas no seu extermínio. Penso que eles agem assim justamente por não conseguirem descobrir a causa e acreditarem, sem alternativa, ser essa a melhor maneira de combatê- las. O fato é que as pragas surgem dos adubos, e o atual aumento das espécies de pragas é inteiramente decorrente do crescimento dos tipos de adubos. Os agricultores desconhecem que os pesticidas empregados, ainda que consigam combater os insetos indesejados, infiltram-se no solo e o degradam, causando o aparecimento dessas pragas. 2 – Absorvendo os adubos, as plantas enfraquecem acentuadamente e dobram-se com facilidade ante a ação do vento e da água. Da mesma forma, pela ocorrência da queda das flores, a quantidade de frutos é reduzida. Além disso, pelo fato de as plantas alcançarem maior altura e suas folhas se tornarem maiores, os frutos acabam ficando na sombra. Por essa razão, no caso do arroz, do trigo, da soja, as cascas ficam mais grossas e os grãos, menores. 3 – O sulfato de amônia ou a amônia presente no esterco, bem como os demais fertilizantes químicos, na maioria, são venenos violentos. Uma vez que eles são absorvidos pelas plantas, geralmente acabam sendo ingeridos também pelo ser humano. Mesmo que isso ocorra em quantidades ínfimas, não se pode dizer que essas substâncias não façam mal à nossa saúde. A realidade nos mostra que mais de 80% dos japoneses possuem parasitas, principalmente o verme intestinal, e sua causa evidentemente são as ovas contidas no esterco que se desenvolvem no interior do corpo humano. A própria Medicina está a afirmando ultimamente que, se suspender por dois a três anos a utilização do esterco como adubo, o problema de verme s e demais parasitas deixará de existir. Nesse aspecto, os resultados obtidos pela agricultura sem o uso de adubos são fabulosos. 4 – Ultimamente, o preço dos adubos tem aumentado, de modo que a despesa que se tem com eles é quase igual à receita oriunda da venda da produção aos órgãos controladores, cujos cálculos não condizem com os dos agricultores, que, por sua vez, são forçados a vender seus produtos também no mercado paralelo. 5 – É grande o esforço e o trabalho expendidos com a compra e a aplicação de adubos e inseticidas. 6 – Os produtos obtidos por meio do cultivo sem adubos são extremamente saborosos e, como se desenvolvem bem, tanto o tamanho do produto quanto a colheita são bem maiores que os adquiridos com adubos. Com o que acabamos de expor, creio que o leitor pôde compreender que a toxicidade dos adubos é realmente pavorosa e que o cultivo que não os utiliza é muito mais vantajoso. Em uma análise geral, podemos concluir que, na economia agrícola, não será nada difícil duplicar seu lucro. Não seria exagero afirmar que, na verdade, se trata de uma revolução jamais vista na agricultura japonesa. Com o que acabamos de expor, creio que o leitor pôde compreender que a toxicidade dos adubos é realmente pavorosa e que o cultivo que não os utiliza é muito mais vantajoso. Em uma análise geral, podemos concluir que, na economia agrícola, não será nada difícil duplicar seu lucro. Não seria exagero afirmar que, na verdade, se trata de uma revolução jamais vista na agricultura japonesa. O que penso é o seguinte: entre os japoneses, quantos deles conhecem o verdadeiro sabor das hortaliças e legumes? Diríamos que pouquíssimos. Isso porque, evidentemente, hoje não existe nenhum produto agrícola em que não se utilizem fertilizantes químicos e esterco. Absorvendo esses elementos, os produtos acabam perdendo o sabor atribuído pelos Céus. Se, ao invés disso, fizermos com que os mesmos absorvam os nutrientes da própria terra, seu sabor natural, que é realmente magnífico, surgirá espontaneamente. Minha alegria de viver tornou-se incalculavelmente maior após conhecer o sabor das hortaliças e legumes cultivados sem os adubos. Além da economia de dinheiro e de mão de obra, ficamos livres do desagradável mau cheiro e do risco da propagação de parasitas. Essas hortaliças tornam-se mais saborosas, reduz-se o surgimento das pragas e ocorre o aumento da produção. Enfim, matam-se sete coelhos com uma só cajadada. Não consigo ficar sem agir por um minuto sequer diante de um problema tão sério. Quero levar esta boa-nova ao mundo inteiro e compartilhar seus benefícios o quanto antes possível. Primeiramente, quero explanar a teoria e sua prática. Afinal, qual é a capacidade do solo? Ele é formado pela união de três elementos fundamentais – terra, água e fogo –, que constitui a força da trilogia. Evidentemente, o elemento terra é a força fundamental para o desenvolvimento das plantas, e os elementos água e fogo são forças complementares. Logo, de acordo com a qualidade do solo, que é a força primordial, a influência nas plantas será boa ou má. Assim sendo, a condição básica para desenvolvermos um bom cultivo é a melhoria da qualidade do solo. Quanto melhores forem as propriedades do elemento terra, mais satisfatórios serão os resultados. Então, qual é o método para tornar o solo fértil? Sem dúvida, consiste em fortalecer sua vitalidade. Para tanto, é necessário, primeiramente, torná-lo puro e limpo, pois, quanto mais puro ele for, maior é sua força para o desenvolvimento das plantas. Até hoje, contudo, a agricultura considerava positivo aplicar ao solo o máximo possível de adubos, contrariando o que foi exposto acima, de onde se pode concluir o quanto ela está errada. Para explicar isso, acho que o leitor poderá compreender melhor se eu recorrer a uma explicação que mostra o contrário dessa lógica. O que seria isso? Desde a Antiguidade, os adubos são considerados indispensáveis ao plantio, mas a verdade é que quanto mais os agricultores os aplicam, mais eles vão “matando” o solo. Com a adubação, conseguem-se bons resultados temporariamente. Pouco a pouco, no entanto, o solo vai-se envenenando, tornando-se necessário o uso de mais adubos para a obtenção de boas colheitas. Assim, quanto maior for a quantidade de adubos, maior será o resultado contrário. A melhor prova disso está no fato de que, quando a colheita de arroz começa a diminuir, os rizicultores acrescentam terras de outros locais ao seu campo irrigado, para melhorá-lo. Com esse procedimento, a produção agrícola aumenta temporariamente. Nesses casos, eles partem de um julgamento equivocado e interpretam que o cultivo consecutivo, ao longo dos anos, absorve os nutrientes do solo, causando seu empobrecimento. Entretanto, não percebem que isso ocorreu devido à sucessiva utilização de adubos. As terras novas, isentas de adubos, que são introduzidas ao arrozal, têm atividade mais intensa e, por isso, é possível obter bons resultados. Gostaria de encerrar a explicação teórica e esclarecer, uma a uma, as vantagens práticas da não utilização de adubos. Um primeiro ponto a destacar como característica do cultivo sem adubos é a baixa altura das plantas. No cultivo com adubos, elas se tornam mais altas, e as folhas ficam maiores e mais densas. Tratando- se de leguminosas, conforme já me referi, os frutos ficam à sombra e não apresentam bom crescimento. Ocorre, também, uma maior queda das flores e, consequentemente, a frutificação também diminui. No caso da soja, em especial, se for cultivada sem adubos, a produção dobra, e nenhum grão se apresenta bichado. Ademais, seu sabor é incomparável, a ponto de deixar as pessoas admiradas. Da mesma forma, em outras espécies, como ervilhas, favas, a casca é excepcionalmente macia. Outro aspecto relevante é que, no cultivo sem adubos, jamais ocorrem fracassos. Às vezes, um leigo resolve plantar batatas e as colhe em quantidade reduzida e em tamanho pequeno. As pessoas costumam lamentar a péssima produção, mas não percebem que isso resultou do uso excessivo de adubos e interpretam o referido resultado de maneira equivocada, ou seja, atribuem o fracasso à falta de adubos e passam a usá-los em maior quantidade, o que faz piorar a situação. Se, nessas ocasiões, indagamos aos técnicos ou às pessoas experientes, estes dizem, por exemplo, que o motivo se encontra nas sementes, que não eram boas ou que foram semeadas fora da época apropriada, ou então, na acidez do solo. Todos dão respostas que fogem totalmente do ponto vital e sequer percebem a verdadeira causa. Contudo, as batatas produzidas sem o uso de adubos apresentam- se bem brancas, cremosas, de aroma agradável e saborosas. São tão deliciosas que, a princípio, nos fazem pensar que são de alguma espécie diferente. O mesmo se verifica com o inhame e outros tubérculos. A batata-doce, principalmente, deve ser plantada em canteiros altos e, entre estes, deve haver um a boa distância, de modo que recebam bastante sol. Dessa maneira, conseguem-se batatas enormes e deliciosas, capazes de impressionar qualquer pessoa. Aliás, parece que os próprios agricultores não costumam adicionar muito adubo ao solo quando se trata de produzir batata-doce. Agora, tecerei considerações a respeito do milho. Seu cultivo sem adubos tem apresentado tão ótimos resultados, que merece um destaque especial. No início, por um ou dois anos, a colheita pode não satisfazer às expectativas, visto que as sementes ainda contêm as toxinas dos adubos. Entretanto, por volta do terceiro ano, os resultados já começam a aparecer. Sem toxinas no solo nem nas sementes, o milho cresce com o caule bastante grosso, e suas folhas apresentam um verde vivo. Se for plantado em um local onde não há escassez de água nem de sol, as espigas apresentam- se longas, com os grãos bem- dispostos e sem espaços entre eles. Logo na primeira mordida, percebe-se que são macios e doces, com um sabor inesquecível. Quanto aos nabos, são branquinhos e lisos, cremosos, grossos e adocicados, o que os torna muito saborosos. Os nabos fibrosos e ásperos são decorrentes das toxinas dos adubos. Aliás, as hortaliças produzidas sem adubos apresentam boa coloração, maciez e um suave e agradável aroma que estimula o apetite e, em absoluto, encontra-se sinais de pragas. Uma vez que não é aplicado esterco na fertilização, são muito mais higiênicas. O que gostaria de recomendar especialmente são as berinjelas obtidas por meio do cultivo sem adubos. Elas apresentam excelente coloração, aroma agradável e casca macia, as quais realmente estimulam o apetite. Em minha casa, atualmente, ninguém mais aprecia as berinjelas produzidas com adubos. Na produção de arroz, deve-se misturar bem a palha do arroz picada ao solo alagado, pois a mesma, por absorver o calor, aquece o solo. Há, ainda, um detalhe já bastante conhecido: a água fria das montanhas é prejudicial à plantação. Neste caso, não se devem fazer lagos intermediários no percurso de água, pois, devido à profundidade desses reservatórios, a água não chega a aquecer adequadamente. Por conseguinte, as valas devem ser as mais rasas e extensas possíveis. No caso de cucurbitáceas, como o pepino, a melancia, a abóbora, qualquer produtor conseguem obter excelentes produtos, como nunca experimentara. Os pés de arroz e de trigo são baixos, mas no que se refere à qualidade e quantidade de grãos, são excelentes. O arroz, sobretudo, apresenta peso, brilho, consistência, além de excelente paladar, e vem sendo sempre classificado como arroz de categoria superior. A pesar da forma simples, creio que pude expor as vantagens do cultivo agrícola sem adubos. Não devem existir melhores perspectivas do que essas que mencionei para os praticantes das hortas caseiras que vemos, atualmente, em quase todos os lugares. Principalmente, porque a aplicação de esterco não só acarreta transtornos insuportáveis aos praticantes amadores, como também pode trazer resultados ruins, além dos inconvenientes e indesejáveis vermes intestinais, que acabam se hospedando no intestino humano. Até agora, embora fosse por desconhecimento de causa, trabalhava-se muito e obtinha-se pouco sucesso. Em contrapartida, no meu caso, apenas semeio e não tenho maiores trabalhos a não ser a remoção do mato, que preciso realizar de vez em quando, e obtenho excelentes hortaliças. Portanto, posso afirmar que não há nada mais gratificante do que esse método de cultivo. Embora não haja necessidade de adubos químicos nem de esterco, conforme já foi explicado, é preciso usar compostos naturais intensivamente. Vou detalhar a respeito. O mais importante para o desenvolvimento das plantas, em qualquer cultivo, é ter cuidado com as pontas das raízes. Esse cuidado consiste em fazer com que as radicelas cresçam livremente e, para isso, deve-se evitar o endurecimento do solo. O composto natural precisa estar semidecomposto, pois, se o estiver totalmente, acabará facilitando a compactação do solo. Aquele que é feito usando-se somente capim, decompõe-se rapidamente, mas o composto de folhas de árvores demora muito mais, devido às fibras e nervuras, que são duras; por conseguinte, é necessário deixá-lo por longo tempo, até que ocorra sua suficiente decomposição. Como já a afirmei anteriormente, a razão disso reside na obstrução do crescimento das pontas das radicelas causada pelas fibras e nervuras das folhas utilizadas como compostos orgânicos. Ultimamente, ouvimos dizer que é bom fazer o ar chegar às raízes das plantas, mas acho que isso não tem sentido, pois sendo um solo poroso, que permite até passar o ar, nele se processará um bom desenvolvimento radicular. Por conseguinte, de fato, o ar nada tem a ver com isso. Manter o solo aquecido é outro ponto que merece atenção. No caso das hortaliças e legumes mais comuns, basta fazer uma camada de composto natural de mais ou menos 30 cm, a partir de uma profundidade de aproximadamente 30 cm. Tratando-se, por exemplo, de nabo, cenoura, bardana, cujas raízes constituem a parte mais importante, a profundidade deve ser compatível com o comprimento da raiz de cada planta. O composto à base de folhas de ervas e capim tem que ser bem misturado à terra. O composto à base de folhas de árvores deve ser aplicado para formar o leito sob o solo, conforme já expliquei anteriormente. Considero este o procedimento ideal. Ultimamente, fala-se muito na inconveniência da acidez do solo, mas a causa está nos adubos; portanto, se deixar de usá-los, essa preocupação passa a não mais existir. Há outro aspecto que surpreende as pessoas. A agricultura considera danosa a prática da cultura repetitiva. No entanto, tenho obtido ótimos resultados9 com esse procedimento. Além disso, a cada ano que passa, eles vêm melhorando. Pode até parecer milagre, mas há uma boa razão para isso. De acordo como que tenho declarado, para dar vida ao solo e ativar sua força, é necessário que se realize o maior número de vezes possível a cultura repetitiva, pois, assim, a terra cria naturalmente uma adaptabilidade no sentido de desenvolver melhor o cultivo de hortaliças e legumes. Sem a utilização de adubos, a quantidade de pragas poderá não chegar a zero, mas próximo a isso. Os próprios agricultores têm afirmado que o excede adubos aumenta as pragas. Para a produção de charutos, sabe-se que a melhor matéria-prima é produzida em Manila e Havana, que não apresenta folhas comidas por bichos, e o aroma é muito agradável. Certa vez, ouvi um especialista dizer que não se utiliza nenhum adubo na produção dessas folhas de fumo. A não ocorrência de insetos em ervas daninhas e o agradável aroma de algumas ervas silvestres comestíveis colhidas na primavera, entre elas a áster yomena e a salsa japonesa, são decorrentes, principalmente, da ausência de adubos. Há mais um aspecto ao qual se deve estar atento: quando se introduz o cultivo sem adubos em uma terra de agricultura convencional em que os adubos vinham sendo utilizados, não se obtêm bons resultados durante um ou dois anos, porque a terra está “intoxicada”. É como uma pessoa que bebe, deixa de fazê-lo abruptamente e, por algum tempo, fica meio atordoada. O mesmo problema se verifica com os fumantes inveterados quando, de repente, suspendem o fumo, ou quando os viciados em morfina ou cocaína ficam sem estes entorpecentes e não aguentam ficar sem eles. Deve-se, portanto, ter paciência por dois ou três anos e, nesse espaço de tempo, com a diminuição gradativa das toxinas de adubos no solo e nas sementes, o solo começará a manifestar sua força. Com as considerações que acabamos de tecer sobre o cultivo sem adubos, o leitor deverá ter compreendido o quanto a agricultura tradicional está errada. Evidentemente, este novo método não tem nenhuma ligação com a fé, bastando utilizar os compostos naturais para se obterem resultados surpreendentes. Contudo, conseguiremos um efeito ainda melhor se, além desse procedimento, purificarmos o solo por meio da Luz de Deus. Coletânea Série Jikan, vol. 2, 1º de julho de 1949
O PARAÍSO É O MUNDO DA ARTE
Tenho dito sempre que o Paraíso é o Mundo da Arte, mas se nos
limitarmos a essa afirmação, o conceito ficará por demais abstrato. Naturalmente, o aperfeiçoamento das artes plásticas, da literatura, das artes cênicas e das demais artes resultaria no mundo acima mencionado, o que seria amplamente satisfatório. Na realidade, é preciso que todas as artes estejam presentes, ou melhor, que tudo se transforme em arte; caso contrário, não podemos dizer que seja o verdadeiro Paraíso. A cura das doenças pelo Johrei proposto por mim, na realidade, é uma magnífica arte da vida. Isto porque, em sua essência, a arte deve satisfazer às três condições: Verdade, Bem e Belo. Antes de mais nada, no enfermo não há, fundamentalmente, Verdade. Isto porque, a Verdade consiste no fato de que o ser humano deve ser saudável. Quando ele perde a saúde, significa que não se encontra mais em seu estado natural. Tomemos, por exemplo, uma jarra: se ela sofrer alguma avaria, perderá sua utilidade, pois a água poderá vazar, ou ainda, não permanecerá mais em pé ou mesmo acabará se quebrando no momento do uso. Assim sendo, como objeto, nela não há mais verdade. Para que possamos utilizar a jarra novamente, precisamos consertá-la. O mesmo se dá com o ser humano. Se uma pessoa, por motivo de doença, não puder mais desempenhar suas atividades, acabará se sentindo inútil; por essa razão, é necessário “restaurá-la”. Eis por que existe o Johrei da nossa religião. A seguir, vamos analisar o bem. Se a pessoa não possuir qualquer parcela de bem e praticar somente o mal, ela não será um ser humano verdadeiro, mas um animal. Tal espécie de pessoa causa prejuízos à coletividade em que vive; portanto, significa que, muito mais que desnecessária, sua existência deve ser negada. Todavia, isso compete a Deus, que detém o poder de concessão da vida e da morte. Como resultado da própria conduta, muitas pessoas fracassam, sofrem com doenças ou caem na extrema pobreza. Algumas chegam a perder a vida. Isso vem a ser realmente o julgamento de Deus. Embora se fale no mal de forma geral, existe o mal praticado consciente ou inconscientemente. Assim sendo, o sofrimento de quem pratica o mal varia de acordo com essa diferença. Nesse aspecto, existe uma rigorosa imparcialidade. Para finalizar, falaria sobre o belo, mas por ser assunto do domínio de todos, dispenso maiores comentários. Como se pode observar claramente, a condição fundamental para transformar este mundo em paraíso está na concretização da Verdade, do Bem e do Belo. Assim sendo, tanto a cura das doenças que realizamos como a reforma dos métodos agrícolas são, evidentemente, artes. A primeira, conforme afirmei anteriormente, é a Arte da Vida, e a segunda, a Arte da Agricultura. A construção do protótipo do Paraíso Terrestre que estamos realizando paralelamente a estas duas é a Arte do Belo. Com a junção das três, ou seja, consubstanciada a trilogia Verdade-Bem-Belo, construiremos o Mundo da Luz, que não é senão a concretização do Paraíso Terrestre, do Mundo de Miroku. Jornal Eiko nº 72, 4 de outubro de 1950
POR QUE AS OBRAS DE ARTE CHEGAM ÀS MINHAS MÃOS
Quem já visitou o Museu de Belas-Artes de Hakone, sabe disso: nele,
temos inúmeras peças que não se conseguem obter facilmente e não há quem não fique admirado. A respeito disso, vou contar como tudo ocorreu. Comecei a adquirir esses objetos de arte logo após o término da Segunda Guerra Mundial. Naquela época, o Japão passou por uma transformação até então nunca vista. Os nobres, os milionários, os descendentes dos senhores feudais, os grandes conglomerados econômicos, enfim, quase todos os que pertenciam à classe privilegiada, perderam esse status simultaneamente. Pressionados repentinamente pela dificuldade financeira, eles se viram obrigados a desfazer-se das caligrafias, quadros, antiguidades, preservados zelosamente pelas famílias desde a época de seus ancestrais. Por conseguinte, surgiram no mercado muitas peças raras de excelente qualidade e baratas. Fiquei com muita pena, pois essas pessoas, para conseguirem pagar os altíssimos impostos lançados sobre seus bens, sem outra saída, precisavam vendê-los de qualquer forma, mesmo contra a vontade e inconformadas. Assim sendo, eu comprava os objetos, levado por uma grande vontade de ajudá-las, de modo que, sem mesmo pedir desconto, obtive a maioria deles pagando o preço estipulado. Ao mesmo tempo, é óbvio que sempre me esquivei dos lucros exorbitantes dos antiquários gananciosos. Dessa forma, as peças foram, pouco a pouco, sendo reunidas. Como tenho dito sempre, desde jovem eu gostava muito das belas- artes. Entretanto, minha capacidade de avaliação era a de um amador; aliás, eu não tinha ainda experiência em fazer negócios desse tipo, nem entendia de preços do mercado de arte. Consequentemente, só comprava as peças que me agradavam. Parece que essa maneira de agir deu certo, pois posso até dizer que, praticamente, não fiz nenhum mau negócio. Especialistas no assunto que visitaram o Museu de Belas-Artes de Hakone teceram elogios sinceros e não apenas para serem gentis: “Em todos os museus de belas-artes que visitei até hoje, é considerável o número de peças expostas de valor duvidoso, mas neste, todas são de excelente qualidade.” O Sr. Alan Priest, curador do Setor de Belas- Artes Orientais do Museu Metropolitano de Nova York, que nos visitou recentemente, também enalteceu sobretudo esse aspecto. Com o passar do tempo, o número de objetos foi-se avolumando, e minha capacidade de avaliação tornou-se cada vez mais aguçada. Comecei, então, a pensar que, em algum momento, precisaria construir um museu de belas-artes, e isso ocorreu há mais ou menos três anos. A partir daí, misteriosamente, superando as expectativas, começaram a chegar às minhas mãos as peças que vinham ao encontro desse objetivo, e assim passei a compreender claramente que, por fim, Deus começara a concentrar Sua força na construção do Museu de Belas-Artes. Os milagres relacionados a esse fato foram muitos; não sendo possível enumerar todos, citarei os mais relevantes. Logo no começo, um antiquário especialista em maki-e misteriosamente passou a me trazer, uma após outra, obras de alto nível. Não só eu, mas o próprio vendedor dizia que, para ele também eram fatos realmente inexplicados. Além disso, devido à conjuntura da época, consegui objetos excelentes por preços incrivelmente baixos; em termos de mercado atual, custar-me-iam, no mínimo, várias vezes mais. Todas as peças de maki-e de alta qualidade que atualmente estão expostas em nosso Museu de Belas-Artes foram adquiridas em apenas meio ano. Entre elas, estão expostas duas peças de autoria do extraordinário e renomado mestre Shossai Shirayama. Tenho, ainda, outras peças suas guardadas que pretendo expor posteriormente. Hoje quase já não existem obras desse artista à venda, de onde se conclui que há poucas e quem as possui, não abre mão delas. Por longa data, venho apreciando as obras do estilo Rinpa e as cerâmicas Ninsei. Com o passar dos anos, elas estão ficando cada vez mais caras e, ultimamente, já não existe quase nenhuma à venda. Assim sendo, parece que os interessados têm lamentado o fato. Entretanto, no conturbado período de pós-guerra, os preços eram baixíssimos, e pude adquirir uma quantidade considerável de obras, bem como compreender que aquilo era a manifestação do Poder de Deus. É por esse motivo que as obras que eu desejava adquirir ou as que necessariamente deveriam existir no Museu de Belas-Artes, eu conseguia sem falta. Todas as vezes que isso ocorria, o antiquário dizia: “É um mistério! É um milagre!” Ocorreu um fato interessante. Eu estava querendo adquirir a edição primeira e original da famosa série de xilogravuras intitulada “As 53 Vilas da Estrada Tokaido”, de Hiroshigue. Repentinamente, apareceu um antiquário especializado em xilogravuras que me ofereceu obras de Hiroshige e de outros artistas. Eu lhe disse que, se fosse a impressão original da série “As 53 Vilas da Estrada Tokaido”, eu a compraria na hora. Qual não foi o meu espanto, quando, no dia seguinte, ele a trouxe, dizendo: “Nunca vi algo tão misterioso. Ontem, assim que cheguei à minha casa, uma pessoa trouxe-me exatamente o que o senhor havia pedido. Fiquei muito surpreso, pois estava à procura dessa obra há quarenta anos, e ontem apareceu alguém para vendê-la. Realmente, é um fato inexplicável!” É claro que eu também fiquei comovido com o extraordinário milagre. Examinando a obra, vi que havia sido preservada por um renomado e importante senhor feudal. Soube, inclusive, que a magnífica encadernação que protegia a obra fora feita por um ancestral seu; por isso, fiquei duplamente surpreso e, mais uma vez, contente pelo seu baixo preço. A seguir, falarei sobre a cerâmica chinesa. Antigamente, eu não tinha o menor interesse pela referida cerâmica e muito menos capacidade de avaliá-la. Todavia, quando pensei que ela seria indispensável ao Museu de Belas-Artes, não tardou que chegassem às minhas mãos peças provenientes de várias localidades. São elas as que atualmente estão expostas no museu. Quando afirmo que foram colecionadas em apenas um ano, as pessoas não acreditam. Ao mesmo tempo, uma vez que eu não entendia absolutamente nada do assunto, no início, fui escolhendo com base nas explicações dos antiquários e orientado pelo meu sexto sentido. Hoje, os especialistas dizem que se sentem impressionados por verem reunidas tantas obras de qualidade. Em vista disso, como sempre, não tenho palavras para expressar o que sinto diante das grandiosas graças que Deus me tem concedido. Existem ainda inúmeros fatos interessantes, mas vou deixar por conta da imaginação do leitor. Explicarei, agora, o porquê da ocorrência de referidos milagres. Obviamente, os espíritos dos autores das obras, que estão no Mundo Espiritual, assim como os espíritos das pessoas que as estimavam e os daquelas que tinham alguma relação com elas, desejando acumular muitos méritos e, seguindo a forma correta, se empenharam para que as peças viessem até mim. Agindo assim, eles são salvos por meio dos méritos, e sua posição espiritual se eleva. Não é preciso dizer que foi pelo mesmo motivo que conseguimos construir este esplêndido Museu de Belas-Artes em tão pouco tempo. Basta que façamos uma reflexão, pois até agora, para se construir um museu dessa envergadura, era necessário que pessoas abastadas se empenhassem por toda uma vida; no entanto, este foi concluído muito rapidamente. Assim sendo, qualquer pessoa poderá ver que não se trata de obra humana. Jornal Eiko nº 177, 8 de outubro de 1952