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Pr.

Ary Queiroz Vieira Júnior 1


A Santidade do Sexo

A Santidade do Sexo

1. Introdução

Antes de adentrarmos às questões relacionadas à sexualidade, urge fazermos


algumas considerações preliminares. Se não, vejamos:

1.1) Não desejamos flertar nem de longe com todo esse estardalhaço acerca
do sexo que está sendo divulgado em nossos dias. Nas palavras de J. Allan Peterson,
“sexo, sexo, sexo. A nossa cultura está chegando ao ponto de saturação total. A fossa
está transbordando. Livros, revistas, discos e filmes o proclamam incessantemente (...)
todos os dias, o dia todo, bombardeia-nos essa mensagem como petardos vindos de um
canhão de lavagem cerebral: ‘consiga do sexo tudo o que ele pode dar. De todo jeito. Em
todo o tempo. Você só vive uma vez. Goze o que puder. Não deixe passar a
oportunidade. O amanhã não existe’”. É tudo isso que nossa sociedade tem vivido e,
portanto, não devemos utilizar um segundo de nosso tempo para fazermos coro com esse
som maligno que embriaga e mata a consciência.

Enquanto repenso estes estudos (outubro/2011), folheio um artigo da Revista Veja


de julho de 1990, que teve como título de capa “Sexo e Violência na TV: o impacto sobre
as crianças”. A pedido da Veja, alunos do curso de Rádio e TV da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo contaram as cenas de erotismo,
nudez e violência mostrados pela televisão durante uma semana. Os números apontados
(pasmem, há 21 anos!) já eram estarrecedores. A pesquisa deu conta de que uma criança
de cinco anos que assistia TV duas horas por dia, ao final de um ano teria assistido a
1.168 piadas sobre sexo, 7.446 cenas de nudez e mais de 12.600 disparos de arma de
fogo. Tamanha exposição nada pode gerar senão profunda insensibilização para com
práticas sexuais de toda sorte pervertidas e uma geração de viciados em pornografia.
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1.2) Não queremos cortejar nem por um segundo a filosofia hedonista.


Hedonismo é a doutrina filosófica que faz do prazer o fim último da vida. O hedonismo
preconiza que tudo o que traz prazer é certo, sendo errado tudo aquilo que inibe ou
constrange a plena posse daquele prazer.

Seguindo esta filosofia, o mundo tem aceitado que se o casamento não


proporciona o prazer anelado, que seja encontrado, noutro lugar, onde quer que esteja.
Que não haja regulamento e restrições, contanto que o prazer encontre livre curso, não
importando as consequências danosas proporcione.

1.3) Vale acrescentar que não é o sexo que proporcionará a tão sonhada
felicidade. Cumpre-nos informar-lhe que se você não é uma pessoa feliz, realizada, não
será uma transformação em sua vida sexual que fará isso por você. Afirmar que para
sermos felizes dependemos que algo aconteça em nosso cônjuge e em nossa relação
conjugal é entregar a nossa vida em mãos erradas.

Nas palavras do Dr. Lloyd-Jones, “a tragédia (...) da posição moderna é que ela vê
a felicidade apenas como experiência (...). Esta é a ideia de felicidade: a gratificação do
meu desejo do momento; nada mais é levado em consideração. A pessoa como um todo
– a mente, a alma, a consciência – não é considerada; as consequências não são levadas
em consideração”.

Almejamos que as anotações que o leitor encontrará a seguir sejam muitíssimo


úteis quanto a toda a questão que circunda a sexualidade. No entanto, e mais que isso,
asseveramos ardentemente que a felicidade deve estar para além do estado atual da
sexualidade e jamais depende dela. Que nossa felicidade provenha da consciência de
uma vida de paz com Deus, do acesso à Sua presença, da convicção da comunhão com
Ele. Que entendamos que felicidade é o estado daquelas vidas que tiveram suas
consciências purificadas das obras mortas para servirem ao Deus vivo (Hb 9:14).

É aqui que perguntamos por que tantas pessoas vivem para a busca do ‘prazer a
todo custo’. A resposta é clara: elas não são felizes! Se fossem, não viveriam neste
desespero por uma suposta felicidade que, cegos, tentam agarrar no escuro enquanto
tateiam em vão.
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Que ouçamos a voz do sábio pregador: “Disse eu no meu coração: Ora vem, eu te
provarei com alegria; portanto goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade” (Ec
2:1).

1.4) Por outro lado, devemos evitar posturas doentia e excessivamente


escrupulosas quanto às questões da sexualidade1. Certo é que muitos assumiram
uma atitude exacerbadamente pudica com relação ao sexo. “Pedro Lombardo e Graciano
advertiram aos cristãos de que o Espírito Santo saía do quarto, quando um casal
praticava o ato sexual – mesmo que fosse com o objetivo de conceber um filho! Outros
líderes eclesiásticos ensinavam com insistência que Deus exigia abstinência sexual em
todos os dias santos. E, além disso, os casais eram aconselhados a não manterem
relações sexuais às quintas-feiras, por ser o dia em que Cristo fora preso; nem às sextas-
feiras, em honra de sua crucificação; aos sábados, em honra da Virgem Maria; aos
domingos, pela ressurreição de Jesus; e às segundas-feiras, em respeito pelas almas
falecidas. A igreja procurava controlar cada faceta da vida do homem, não lhe deixando
possibilidade de buscar a vontade de Deus, nem ao casal o direito de decidir por si
mesmo como iria viver os mais íntimos aspectos da vida conjugal” (Tim e Beverly
LaHaye).

1
Genival Veloso de França aponta, dentre outras, as causas as religiosas (identificação com o pecado) e as
culturais (conceitos de pudor e decência) como ensejadoras de frigidez, que denomina como “distúrbio do
instinto sexual que se caracteriza pela diminuição do apetite sexual na mulher, devido a vaginismo ou
doenças psíquicas ou glandulares.
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2. Princípios Basilares

No que pertine ao nosso tema, o propósito é mais uma vez entendermos com
clareza o que a Bíblia tem a ensinar, convictos estando de que Deus tem o melhor
Conselho, a última palavra, quanto a todos os aspectos da nossa existência.

A Reforma Protestante trouxe a ousadia necessária para que os dogmas da Igreja


Católica começassem a ser questionados e estimulou o retorno à Palavra de Deus. É a
partir dela, e somente dela, que temos extraído os princípios que nos devem nortear cada
aspecto de nossa existência. Citando mais uma vez Lloyd-Jones, “o cristão nada sabe
além da Bíblia”.

Nesse passo, portanto, desejamos elencar os princípios basilares sobre os quais


devemos construir o edifício sólido do conhecimento acerca da temática.

2.1) O sexo é uma criação de Deus. Antes do pecado, e antes mesmo de


qualquer outro mandamento dado ao primeiro casal, é dito que “Deus os abençoou, e
Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra (...)” (Gn 1:28). Em Gn 2:22
somos informados que Eva foi formada por Deus e trazida a Adão por Ele e, após a
celebração de Gn 2:24, é-nos dito que “ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e
não se envergonhavam” (Gn 2:25). Pelo que é simples supor que Adão e Eva viviam suas
experiências sexuais.

Tendo feito o primeiro casal, Deus os uniu, inclusive sexualmente, e pôs sua
aprovação “em tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom (...)” (Gn 1:31).

2.2) Nada há de errado com o sexo, em si mesmo. Dizer que nada há de errado
com o sexo, em si mesmo, é tão só inferir logicamente do fato de que o sexo é uma
criação de Deus.

O escritor aos hebreus (13:4a) escreveu que “venerado seja entre todos o
matrimônio (...)”. Ele investe contra a influência do ascetismo, que proibia o casamento
como se o celibato fosse um tipo superior de santidade. Calvino, comentando este
versículo, entende a expressão ‘entre todos’ “no sentido em que não há nenhuma classe
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humana à qual se deva proibir o matrimônio. O que permitiu à raça humana,


universalmente”, continua o reformador de Genebra, “é lícito a todos, sem exceção. Com
isso quero dizer que todos que se encontram aptos para o matrimônio e necessitam dele
devem desfrutá-lo”.

Corroborando ainda este meu ponto, Tim e Beverly LaHaye nos lembram que “o
Senhor Jesus escolheu um casamento para ser o cenário do Seu primeiro milagre”, além
de ratificar a primeira celebração como norma definitiva (cf. Jo 2:1-11; Mt 19:5): “e serão
os dois uma só carne”.

2.3) O sexo, uma criação de Deus e, por isso, ‘bom’ em si mesmo, foi dado
para a satisfação humana em seu sentido mais pleno. Primeiro, lembramos a bênção
da geração de filhos (“frutificai e multiplicai-vos”), a maior dentre outras satisfações e o
maior dentre os demais propósitos.

Segundo, citamos a bênção do companheirismo. Por dez vezes, no Antigo


Testamento, o verbo hebraico ‘yada’(conhecer) é usado para relação sexual. “E conheceu
Adão a Eva, sua mulher (...)” (Gn 4:1). O sexo é a maneira mais íntima, completa e
pessoal que há em toda a expressão de companheirismo. Na relação sexual há a mais
completa doação e é a maior expressão de confiança, de compartilhamento e de
identificação. É o ato sexual que faz do termo “uma só carne” uma realidade.

Terceiro, somos levados à bênção do prazer sexual em si mesmo. O sexo também


foi dado por Deus para o prazer! O texto de Gn 26:6-9 nos informa que a mentira de
Isaque foi desmascarada quando Abimeleque o viu “brincando com Rebeca sua mulher”
(v.8). A palavra, também traduzida por “acariciando”, vem da mesma raiz do nome Isaque,
pelo que nos parece que o autor quis fazer um jogo de palavras: “o acariciador
acariciava”. Não sabemos, na verdade, o que viu Abimeleque, mas, seja lá o que viu o fez
concluir que aquelas brincadeiras não eram próprias para irmãos. John Gill comentou
como Isaque e Rebeca estar-se-iam rindo e abraçando, beijando-se com frequência e
coisas como essas. Em Dt 24:5 informamo-nos que o recém casado era liberado de
serviços militares “por um ano inteiro (...) para alegrar a mulher que tomou”. Que além de
deixar herdeiros, o casal gozasse os prazeres iniciais do casamento. Em Cantares, os
prazeres do sexo são descritos numa riqueza inexcedível de ilustrações. Diz-se que são
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melhores que o vinho para alegrar (4:10a), mais saborosos que favos de mel e leite
(4:11). As alegrias do sexo são comparáveis à participação em um oásis, onde se bebe
de um manancial e colhem-se os frutos mais deliciosos e as mais raras especiarias (4:12-
15; cf. Pv 5:15, 18). “Seja bendito o teu manancial e alegra-te com a mulher da tua
mocidade”.

2.4) O sexo só exala sua beleza e só reflete o propósito do Criador quando


vivido dentro do casamento, conforme ordenado por Deus. Hernandes Dias Lopes
sintetiza com maestria “os quatro grandes pilares do casamento como instituição divina”,
observando Mc 10:6-9: o casamento é heterossexual (“Deus os fez homem e mulher”),
monogâmico (“deixará o homem a seu pai e mãe e unir-se-á a sua mulher”),
monossomático (“serão os dois uma só carne”) e indissolúvel (“o que Deus ajuntou não
separe o homem”). Pois bem, é somente no casamento como instituído pelo Criador que
o sexo deve ser vivenciado.

Nesse sentido, leiamos as palavras do apóstolo Paulo: “(...) por causa da impureza,
cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido” (I Co 7:2). Fácil
observar das palavras do escritor sagrado que dentre as razões pelas quais Deus
estabeleceu o casamento está a prevenção dos pecados de ordem sexual, fato que levou
Augustus Nicodemus e Minka Schalkwijk afirmarem que “da perspectiva das Escrituras,
sexo é algo só para o casamento”, e que Paulo “não vê outra opção legítima, nem um
outro caminho válido diante de Deus para satisfação sexual que não seja o casamento”.

Lamentavelmente, uma pesquisa feita pela Unesco em parceria com o Ministério


da Saúde em 2002, revelou que os brasileiros estão perdendo a virgindade mais cedo: os
meninos aos 14 anos e as meninas aos 15, enquanto que em 1998 a média era de 16 e
19 anos, respectivamente2.

Concluímos, pois, com William Hendriksen, para quem, “em seu cenário
apropriado, o sexo é um maravilhoso dom de Deus. Entretanto, não há lugar para a

2
De acordo com pesquisa do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) no Rio de
Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife, 43% dos católicos são a favor do sexo
antes do casamento.
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luxúria e a vulgaridade. Isso é errôneo sempre e em qualquer lugar, seja para os solteiros
ou para os casados”.

3. Desvios da sexualidade

Gn 3:1-7 apresenta-nos o relato da queda. O casal estava em plena comunhão


com Deus e em perfeita harmonia entre si. Mas o ato de desobediência em comer do fruto
de determinada árvore, que lhe havia sido proibido (Gn 2:17), trouxe consequências
imediatas.
A primeira experiência de culpa dos primeiros pais foi a sua descoberta quanto à
nudez (Gn 3:7), expressa em termos de vergonha. A intimidade do casamento (Gn 2:24)
sofreu séria avaria. Percebe-se que o aspecto sexual da humanidade foi muitíssimo
atingido, ensejando o surgimento de toda forma de iniquidade, perversão, exagero e
descontrole nesta área. É nesse quadrante que devemos compreender toda a sujeira
relacionada à sexualidade.
A Bíblia ocupa-se com toda esta questão da santidade do sexo, porque atenta à
santidade do lar e ao retorno à condição original de dignidade planejada pelo Criador.
Guardar a santidade do sexo é resguardar a santidade do lar, proteger a família e viver de
modo que a glória de Deus seja reconhecida nas relações humanas.
“Porneia” é a palavra grega mais geral para relações e relacionamentos sexuais
ilícitos e imorais. “Porneia” brota de um coração não regenerado (Mt 15:19; Mc 7:21), daí
que Paulo a trata como uma “obra da carne” (Gl 5:19). A sanha homossexual das
civilizações de Sodoma e Gomorra foi chamada por Judas (Jd 7) de “porneia”. Portanto,
de “porneia” deve-se arrepender (II Co 12:21; Ap 2:21), abster (I Ts 4:3) e fazer morrer (Cl
3:5).
A seguir, trataremos das principais formas de desvios da sexualidade como
divinamente instituída, que certamente podem ser descritas como “porneia”.
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3.1) Edipismo: a tendência ao incesto.

Incesto é uma forma agravada de fornicação ou adultério, por ser uma união sexual
ilícita entre parentes consangüíneos ou proximamente relacionados. É “o impulso do ato
sexual com parentes próximos” (Genival Veloso de França).
“Na qualidade de um povo santo, separado para ter uma ligação especial com o
Senhor, Israel não podia imitar as práticas de outros povos” (Oxford Annotated Biblie). A
legislação mosaica, portanto, tinha por intuito separar o povo de Israel dos costumes e
das atividades pagãs. No antigo Egito, por exemplo, a união incestuosa não era apenas
permitida, mas, em alguns casos, era até exigida. Que Israel não imitasse os costumes
pagãos (Lv 18:3-5; 24-27).
Os capítulos 18 e 20 dão-nos os graus de parentesco que excluíam o casamento
ou as experiências sexuais. Pela expressão “descobrir a nudez” quer-se dizer “ter sexo
com” ou “casar com” (Lv 18:6), quando se está a proibir tanto a relação sexual ocasional
quanto o casamento com parentes mencionados nos versículos que se seguem.
Em Lv 18:7, o incesto com a mãe é proibido, embora, por inferência, também o seja
da filha com o seu pai (cf. Gn 19:32-38). Esta prática era comum entre os persas,
egípcios, cananeus e permaneceu entre os japoneses. O castigo deste incesto era a
morte (Lv 20:11), talvez por apedrejamento. O código de Hamurabi prescrevia a fogueira.
Em Lv 18:8, o incesto com a madrasta é vedado. Temos como exemplos deste
pecado, os casos de Rúben com Bila (Gn 35:22; cf. 49:3,4) e de Absalão com as
mulheres de Davi, seu pai (II Sm 16:20-23; cf. I Rs 2:17). No Novo Testamento, há um
caso mencionado em I Co 5:1-4 (cf. Dt 22:30). Quanto à punição, ver Lv 20:11.
Em Lv 18:9, 11, temos a proibição de relações sexuais com irmãs, germanas ou
unilaterais. O exemplo que nos salta aos olhos é o do patriarca Abraão (Gn 20:12).
Observamos ainda a loucura de Amnom com Tamar (II Sm 13:11-14). Uma maldição é
pronunciada contra aqueles que incorressem neste tipo de relação em Dt 27:22. A
punição era a pena de morte (Lv 20:17), talvez por apedrejamento.
Em Lv 18:10, o incesto com a neta é proibido. Por inferência, deduz-se que sexo
com a filha era proibido, já que o era com a neta. A punição não é mencionada.
Deduzimos tenha sido o apedrejamento.
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Em Lv 18:12, 13, temos a proibição de relação incestuosa com tias paternas ou


maternas3. O próprio Moisés era filho de uma relação destas (Ex 6:20). Naor, irmão de
Abraão, casou-se com Milca, filha de seu irmão Harã (Gn 11:29). Otniel casou-se com sua
sobrinha Acsa, filha de Calebe, seu irmão mais velho (Js 15:17; Jz 1:13). Heródoto nos
informa, e Tácito, que os persas, gregos e romanos casavam-se com as tias. A punição
deste pecado seria infertilidade por maldição divina (Lv 20:19, 20). Em Lv 18:14 é proibido
o sexo com as tias por afinidade, ou a esposa do tio. Quanto à punição, ver Lv 20:20.

Em Lv 18:15 é proibida a relação sexual com a nora. A punição seria a execução


(Lv 20:12), provavelmente por apedrejamento. Um caso da transgressão dessa lei foi o
vergonhoso incesto de Judá com sua nora Tamar (Gn 38). Relação incestuosa com a
sogra não é mencionada em Lv 18, mas ocorre em Lv 20:14 e Dt 27:23, cuja punição
seria morte na fogueira.

Em Lv 18:16 proíbe-se relação sexual com a cunhada. Herodes Antipas tornou-se


culpado deste pecado e foi repreendido por João Batista (Mt 14:3, 4). A punição deste
pecado seria infertilidade por maldição divina (Lv 20:21). Exceção à regra seria o
casamento por levirato, quando um homem deveria casar-se com a viúva sem filhos de
seu irmão, com a fim de perpetuar sua descendência (DDT 25:5-10). Segundo o relato de
Gn 38:6-10, Onã é punido por Deus com morte por não haver cumprido a tarefa do
levirato que lhe cabia. A maneira como os saduceus tentaram ‘apanhar’ o Senhor Jesus
tem a prática do levirato como pressuposto (Mt 22:23-28).

Em Lv 18:17 é defeso o sexo com uma mulher e sua filha ou neta, mesmo que a
mãe/avó viesse a falecer. A punição específica a esse pecado não foi mencionada. Por
inferência de Lv 20:14, conclui-se pela morte na fogueira.

Em Lv 18:18 é proibida a relação com duas irmãs, ou que se casasse com duas
irmãs ao mesmo tempo. Jacó casou-se com duas irmãs (Gn 29:28-30), mas isso ocorreu
antes da lei mosaica. Não há menção de uma punição específica para este caso.

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A doutrina forense tem defendido a atualidade da vigência do Decreto-Lei 3.200/1941, que, em seu art. 2º,
permite a possibilidade do casamento entre parentes colaterais de terceiro grau (tio/sobrinha; tia/sobrinho),
quando exame pericial comprovar que não resultará em risco à prole. Uma aberração perpetuada no direito
brasileiro.
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3.2) Homossexualismo: feminino e masculino.

O homossexualismo masculino é também chamado de uranismo e pederastia; o


feminino, de safismo, lesbianismo ou tribadismo. O homossexualismo pode manifestar-se
ainda em termos de travestismo (gratificação com o uso de vestes e atitudes do sexo
oposto) e transexualismo (inconformação com o próprio estado sexual).

Se apenas 4% das populações modernas se compõem de verdadeiros


homossexuais, uma horrenda taxa de 20% é de bissexuais (Champlin). “A famosa
investigação do zoólogo americano Alfred C. Kinsey sobre a sexualidade humana o levou
a concluir que 4% dos homens (pelo menos os americanos brancos) são exclusivamente
homossexuais por toda a vida; 10% o são por até três anos; 37% têm algum tipo de
experiência homossexual entre a adolescência e a idade adulta. A percentagem de
mulheres homossexuais, segundo observou, é mais baixa, embora atinja a casa dos 4%
entre as idades de 20 e 35” (John Stott)4.

Para o renomado estudioso da medicina legal, Genival Veloso de França,


homossexualismo é “uma das formas mais comuns de transtorno da identidade sexual” e
“a prova indiscutível de uma personalidade anormal, pelas profundas modificações da
conduta e da afetividade”.

Mas, essa posição longe está da unanimidade. Em 1973, a Associação Americana


de Psiquiatria deixou de classificar a homossexualidade como transtorno mental. Em
1985, o Conselho Federal de Medicina deixou de considerá-la como desvio sexual, e a
OMS (Organização Mundial de Saúde), em 1990, retirou a homossexualidade da
Classificação Internacional de Doenças.

4
Mas os números apontados não são exatos. Em 2003, uma equipe do Hospital das Clínicas de São Paulo
preparou uma pesquisa com 7000 entrevistados, homens e mulheres, de 18 a 70 anos, pertencentes a
todas as classes sociais e regiões. Resultado: 10% disseram-se homossexuais.
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Percebe-se, nesse diapasão, que o homossexualismo (ou homoafetividade) passou


por diversas fases nesse caminho de “conquistas”. A princípio, a conduta era revestida de
silêncio e anonimato, passando em seguida da exposição mais franca e aberta até as
lutas e reivindicações pela institucionalização da “família homoafetiva”.

Países como Portugal, Espanha, Holanda, Bélgica, Noruega, Suécia, Islândia,


Canadá e África do Sul já permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Na
América Latina, a Argentina foi o primeiro Estado a autorizar o casamento nessas bases,
em apertada votação (33 votos a favor e 27 contra) no Senado, em 15 de julho de 2010.

Na Brasil, julgados esparsos decidiram, a priori, no sentido de se conceder direitos


próprios de família, acerca do reconhecimento da sociedade de fato, hipótese em que, no
caso de dissolução, dever-se-ia aferir a contribuição de cada um dos sócios para se
proceder à partilha na proporção dos esforços de cada um. A par destas posições
jurisprudenciais, já existiam decisões judiciais reconhecendo mesmo a união estável entre
homossexuais, mormente ao argumento de que tais relacionamentos baseiam-se em
“afeto”.

Mas, indubitavelmente, a decisão judicial mais marcante nessa toada de “vitórias


homossexuais” foi tomada pelo Supremo Tribunal Federal, julgando a ADI 4277 (Ação
Direta de Inconstitucionalidade 4277). Nessa decisão, o STF, ao arrepio da Constituição
Federal (cf. art. 226, § 3º) e do Código Civil (cf. art. 1.723) vigentes, e ainda fazendo as
vezes de verdadeiro legislador, reconheceu a existência da união estável homossexual
como entidade familiar, em inteira paridade com uniões heterossexuais e para todos os
fins de direito de família (adoção, herança, regime de bens, dissolução e partilha etc.).

Outro capítulo dessa “novela” medonha versa sobre a transgenitalização e da


alteração do prenome e do sexo no registro civil.

O art. 13 do Código Civil/2002 proíbe o ato de disposição do próprio corpo, quando


importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. O
conceito de “bons costumes”, entretanto, é fluido e, certamente, se cirurgias de mudança
de sexo contrariavam os “bons costumes” na década de 70 do século passado, época em
o Código em vigor foi gestado, hoje já não contrariam, mormente em uma sociedade que
vê seus valores morais se esboroarem numa velocidade estonteante.
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O Conselho de Justiça Federal, já capitulando ante a crescente degradação moral


da sociedade, posicionou-se do seguinte modo em seu Enunciado 276: “O art. 13 do
Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as
cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos
pelo Conselho Federal de Medicina, e a conseqüente alteração do prenome e do sexo no
Registro Civil”.

Atualmente, tais cirurgias são regulamentadas pela Resolução 1.652/02 (que


revogou a Resolução 1.482/97) do Conselho Federal de Medicina, perfilhando o
transexualismo com as características do “1) Desconforto com o sexo anatômico natural;
2) Desejo expresso de eliminar os genitais (...); 3) Permanência desses distúrbios de
forma contínua e consistente por, no mínimo, dois anos; 4) Ausência de outros
transtornos mentais”.

Uma vez permitida a transgenitalização, o caminho estava aberto para a alteração


do prenome e do sexo no registro civil. O argumento é que o transexual sofreria toda sorte
de constrangimentos e seria constantemente exposto ao ridículo se tivesse que
apresentar-se com nome masculino apesar da aparência feminina.

Notável que após uma das palestras que dei sobre o tema, fui informado de um
caso real por alguém que me ouvia. Era a história de um rapaz recém chegado em uma
cidade, que começou um relacionamento com uma moça de seu novo domicílio. O
namoro ia se fortalecendo. Ele, muito animado com a beleza da moça, conversava com
seus colegas de faculdade sobre suas intenções de casamento etc. Até que veio a
descobrir tratar-se sua “namorada” de um transexual. Ficamos a imaginar, com certa dose
de indignação, que as próximas gerações, com muito mais razões, poderão contrair
relacionamentos duradouros e casamentos do tipo “gato por lebre”.

Outra história hedionda ouvi de um site confiável, que noticiava uma mudança de
sexo do menino T.L., da Califórnia, “filho” de um casal de lésbicas. As “mães” perceberam
o jeito efeminado do garoto, observaram que dizia “sou uma menina” dentre as primeiras
frases ditas por ele e que aos sete anos ameaçou mutilar o próprio órgão sexual. Pronto.
Decidiu-se que a melhor hora para a mudança de sexo era na infância, processo que já
se iniciou. O menino T.L. começou um tratamento hormonal aos oito anos, que impedirá o
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desenvolvimento de ombros largos, voz grave, pelos faciais e ajudará no desenvolvimento


de características femininas.

A despeito de todas as “conquistas”, o movimento LGBT não está satisfeito. Quer-


se a criminalização de manifestações contrárias ao homossexualismo e a legalização do
casamento civil homoafetivo, na mesma senda da lei argentina.

Todavia, o que mais nos ocupa é a saúde da Igreja de Cristo. Anelamos ver se
nossos irmãos estão firmes na verdade da palavra de Deus e andam a observando. É
dizer, queremos investigar, nesse passo da caminhada, o que Deus prescreve a respeito
do homossexualismo.

A Bíblia contém quatro grupos de passagens que trazem claras proibições ao


homossexualismo. Primeiro, a história de Sodoma (em Gn 19:1-3), d’onde vem o nome
“sodomia”. Conforme a visão cristã tradicional, os habitantes de Sodoma foram “culpados
de práticas homossexuais”, por tentarem (sem sucesso) “infligir aos dois anjos que Ló
estava recebendo em sua casa”. De modo semelhante, temos a história narrada em Jz
19, episódio ocorrido em Gibeá. Na ocasião, outro residente (desta vez um velho
anônimo) convida dois estrangeiros (não anjos, mas um levita e sua concubina) para sua
casa. Uns homens cruéis cercaram sua casa e fizeram a mesma exigência dos
sodomitas, para que o visitante fosse para fora “para que o conhecessem”. Em ambos os
textos “conhecer” é eufemismo para ato sexual (cf. Gn 4:1, 17,25).

Segundo a interpretação preferida do movimento homossexual, “conhecer” não


significa “fazer sexo”, mas, simplesmente, “travar conhecimento”. Ló teria hospedado
estrangeiro sobre cujas intenções não se sabia. Destarte, o pecado de Sodoma, como
dos homens de Gibeá, teria sido o de invadir a privacidade dos hospedeiros e violar leis
de hospitalidade.

John Stott, em apoio à tradição cristã, afirma que (1) “Os adjetivos ‘perverso’, ‘vil’ e
‘desgraçado’ (Gn 19:7; Jz 19:23) não parecem adequados para descrever uma violação
de hospitalidade; (2) a oferta das mulheres no lugar dos homens realmente parece como
se houvesse alguma conotação sexual no episódio; (3) embora o verbo ‘yada’ seja usado
apenas 10 vezes para intercurso sexual (...) 6 dessas ocorrências estão em Gênesis, e
uma na própria história de Sodoma (...) (v.8); (4) (...) a inequívoca declaração de Judas
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 14
A Santidade do Sexo

[Jd 7] não pode ser descartada como simplesmente um erro copiado do pseudo-
epigrafado judaico”. Acresça-se que II Pe 2:8 chama o pecado dos sodomitas de “obras
iníquas”.

Em seguida, temos os textos levíticos (18:22; 20:13), que, segundo a “exegese


gay”, proíbem rituais religiosos ligados à idolatria, sem qualquer relação com a
homoafetividade. Nada mais enganoso. Os textos claramente condenam o
homossexualismo e o denunciam como “abominação”. Como vimos na história de Gibeá
(Jz 19:27), os israelitas não abandonaram de vez esse vício (cf. I Rs 14:24). A punição
dos homossexuais em Israel era a morte, provavelmente pelo apedrejamento, donde se
infere a gravidade com que o pecado era considerado.

Na lei mosaica, a proibição do homossexualismo é extensão do sétimo


mandamento (“não adulterarás”, Ex 20:14), que, do modo mais amplo possível qualquer
forma de imoralidade sexual, mormente como proteção à família. A lei nada mais é que
um mandamento de retorno ao princípio, à maneira estabelecida por Deus (Gn 2:18, 23).
Deus fez uma mulher para um homem. A unidade deve ser vivida na diversidade de sexos
(Gn 2:24).

Terceiro, temos as declarações de Paulo em Rm 1, em sua descrição do mundo


greco-romano de seus dias. Os pagãos suprimiram a verdade e se voltaram aos ídolos.
Em julgamento, “Deus os entregou” às suas mentes depravadas (1:24, 26,28). Mais uma
vez o texto é manipulado pelo “movimento cristão LGBT”, para quem Paulo estaria
condenando a prática dos “pervertidos” (prática homossexual de macho heterossexual) e
não dos “invertidos” (homens e mulheres com disposição homossexual). Percebe-se,
todavia, que para Paulo o homossexualismo é sempre contrário à natureza (physis),
significando a ordem criada por Deus, que não se deriva de um determinismo biológico e
sim da apostasia do coração. Para o apóstolo, violar a physis é violar a ordem criada por
Deus.

Quarto, temos outros textos paulinos (I Co 6:9, 10; I Tm 1:9-11), nos quais
aparecem as palavras gregas ‘arsenokoitai’ (em ambos) e ‘malakoi’ (em I Co somente).
Segundo leitura com tendência homoafetiva, nestes textos Paulo tinha em mente a
pederastia comercial entre homens mais velhos e adolescentes, ensejando a corrupção
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 15
A Santidade do Sexo

destes. “Malakoi’ (efeminados) é literalmente “macio ao toque”, e, metaforicamente, entre


os gregos, indicava o homem que representava o papel passivo no intercurso
homossexual. ‘Arsenokoitai’ (sodomitas) significa literalmente “macho na cama” e os
gregos usavam esta expressão para descrever aquele que fazia as vezes do homem na
relação homossexual. Donde se infere que quaisquer formas de homossexualismo
(inclusive entre homens e travestis ou transexuais) constituem-se, no primeiro texto, em
óbice ao reino de Deus e, no segundo, uma marca dos transgressores da Sua lei moral.

Quer pelo crescimento exacerbado, quer pela repercussão ou pelos desafios que
apresenta, o homossexualismo permanece alardeando a sociedade por atentar às
questões morais, sociais, familiares e jurídicas.

3.3) Bestialismo ou zoofilismo.

É a perversão que consiste na satisfação sexual com animais domésticos, prática


mais comum no campo que no meio urbano. “O Relatório Kinsey sobre o sexo mostrou
que entre 40 e 50% da população rural dos EUA têm cometido atos dessa natureza. Mas
nas áreas urbanas a taxa de pessoas envolvidas é de somente 4%” (Champlin).

Esse pecado é chamado de confusão, ou seja, uma desordem da natureza (Lv


18:23; 20:15, 16; DDT 27:21; Ex 22:19). A punição para quem praticasse sexo com
animais era a morte.
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 16
A Santidade do Sexo

3.4) Outras formas medonhas de perversão sexual.

Erotismo é a tendência abusiva aos atos sexuais. No homem, chama-se satiríase;


na mulher, ninfomania ou uteromania. Caracteriza-se pelo ardor insaciável do desejo
sexual.

Exibicionismo é a perversão consistente na satisfação sexual de mostrar seus


órgãos genitais, em geral à distância e em locais públicos.

Mixoscopia caracteriza-se pelo desejo iníquo de presenciar o coito de terceiros.


Trata-se voyeurismo (derivado das expressões francesas voyeurs ou voyeuses).

Pluralismo é torpeza que se manifesta na prática sexual com mais de três


participantes, e, nas palavras de Genival Veloso de França, traduz “um elevado grau de
desajustamento moral e sexual”.

Swapping, por sua vez, é a prática horrenda que se perfaz pela troca consentida
de parceiros entre dois ou mais casais.

Gerontofilia é a atração de indivíduos jovens por pessoas de excessiva idade. Por


outro lado, pedofilia, segundo Genival Veloso de França, “é a perversão sexual que se
apresenta pela predileção erótica com crianças, indo desde os atos obscenos até a
prática de manifestações libidinosas”. França alerta que “há uma verdadeira indústria de
confecção de álbuns com crianças despidas que são avidamente compulsados ou em
sites na Internet visitados por esses pervertidos”.

O que colacionamos até aqui demonstrou suficientemente ao leitor que a lista de


perversões sexuais é interminável. Faltaria tempo para acrescentar as práticas horrendas
da necrofilia (impulsão de praticar sexo com cadáver), sadismo (satisfação sexual pelo
sofrimento do parceiro), masoquismo (prazer sexual na própria dor, sofrimento ou
humilhação) e outras torpezas do gênero.

À guisa de arremate, anotamos tão só que não há limites à perversão do instinto


sexual. A sede de inovação, a busca desenfreada pelo prazer a todo custo e a super
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 17
A Santidade do Sexo

erotização têm, juntas, conduzido a perversões inimagináveis, a patologias e à


desestabilidade das relações e da família em uma sociedade que anda a galopes em
direção a completa destruição de todo e qualquer senso de moral.

3.5) Dentre outras práticas controvertidas, se não pervertidas, se encontram


os sexos oral e anal.

A pesquisa de Tim e Beverly LaHaye, realizada com 3.377 pessoas, dos quais 98%
professaram ser crentes verdadeiros, indicou “que o sexo oral está aumentando hoje,
graças à amoral educação sexual, à pornografia, à moderna literatura sexual e à
decadência moral de nossos dias”. A pesquisa revelou que a prática entre os cristãos é
menos comum. “Obviamente, a comunidade cristã ainda não aceitou unanimemente o
sexo oral. A maioria dos conselheiros cristãos mostra-se relutante em condenar ou apoiar
a prática, deixando a decisão com o indivíduo. Contudo, parece existir um grande número
de crentes que desfrutam de uma vida amorosa satisfatória e feliz sem esta prática”,
asseveraram.

“Estamos convencidos”, afirma o casal LaHaye, “de que nada tomará o lugar do
tradicional ato conjugal como o principal método de expressão do amor conjugal entre
pessoas casadas”.

Quanto ao sexo oral, alguns entendem como carícias preliminares do jogo do sexo,
não sendo mesmo o caso de substituir o intercurso normal. O que não acontece ao sexo
anal.

Na verdade, o sexo anal é uma perversão da natureza, como Deus a planejou. É o


sexo dos sodomitas. É uma distorção promovida pela pornografia que desafia o propósito
de Deus para o sexo e seu prazer ligado à procriação. Nem por um segundo defendemos
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 18
A Santidade do Sexo

a procriação como a única bênção a ser auferida do sexo, no entanto, bênção alguma
está dissociada inteiramente desta, como pretende o sexo anal.

4. Adultério: gravidade, causas e prevenção.

4.1) A gravidade do adultério

Vê-se a gravidade do adultério na forma como foi punido no Antigo Testamento:


morte por apedrejamento (cf. Lv 18:20; 20:10). O adultério já era passível de castigo nos
códigos legais antigos, que remontam ao segundo milênio a.C., como o código Lipit-Istar,
o Código de Hamurábi e as antigas leis assírias. No Novo Testamento, o adultério é dito
como incompatível com Reino de Deus (I Co 6:9-10) e como causa que sujeita o adúltero
ao julgamento divino (Hb 13:4).
Segundo o ensino do Senhor Jesus, o sétimo mandamento (Ex 20:14; Dt 5:18) já é
violado quando se olha “para uma mulher com intenção impura”, caso em que, “no
coração, já adulterou com ela” (Mt 5:28). É dizer, se a infidelidade ao matrimônio é
pecado, qualquer tendência nesta direção igualmente já o é. Não ignoramos que os
grandes pecados nascem das maquinações do coração (Mt 15:19). Ademais, observamos
que se o “não adulterarás” já é quebrado na mente, proíbe-se com ele o adultério
consentido, o virtual e o consumo de pornografia.
Das pesquisas da Redbook, somos informados que apenas 3% das pessoas
interrogadas não consideram o adultério errado, o que nos faz concluir que mesmo os
adúlteros não consideram a prática saudável.

Nesse passo de nosso estudo sobre “a santidade do sexo”, desejo tecer breves
anotações acerca das razões que tornam o adultério algo especialmente grave. Se não,
vejamos.
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 19
A Santidade do Sexo

4.1.1) O adultério projeta-se contra a santidade do lar. “Venerado seja entre todos o
matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição e aos adultérios,
Deus os julgará” (Hb 13:4). Há uma ameaça de punição àquele que lança mácula sobre o
matrimônio, tal é o caso dos impuros e adúlteros.

4.1.2) O adúltero milita contra uma instituição divina – o casamento. “Assim não
são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”
(Mt 19:6). O adultério causa tal rompimento ao ajuntamento feito por Deus que torna
possível à vítima segundas núpcias legítimas perante Ele (Mt 19:9). Aqui, o casamento
enquanto instituição é considerado objetivamente em sua seriedade. Deus é o seu
primeiro celebrante e o seu instituidor. Afrontá-lo é voltar-se contra uma instituição divina,
frise-se.

4.1.3) O adultério é uma violação de um pacto realizado na presença de Deus. Pv


2:17 fala da mulher estranha “que deixa o guia da sua mocidade e se esquece da aliança
do seu Deus”. Segundo o profeta Malaquias, eis a razão pela qual Deus havia desprezado
o ofício dos sacerdotes em seu tempo: “Por que o Senhor foi testemunha entre ti e a
mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a
mulher da tua aliança” (Ml 2:14). A par da noção de casamento como instituição, subsiste
a ideia de casamento como acordo livre de vontades entre pessoas livres. Ali, Deus é o
instituidor, aqui, a testemunha de um pacto. Ali, casamento é objetivamente considerado;
aqui, subjetivamente considerado, sendo Deus a testemunha deste santo acordo. Não se
pode olvidar que Deus respeita nossos acordos, se legítimos, e quer que os respeitemos
(cf. Js 9).

4.1.4) O adultério (e quaisquer outras formas de prostituição) é um ato


singularmente grave pelo modo como se insurge contra a verdade sobre o corpo do
cristão.

No texto de I Co 6, o verso 13 informa-nos que não há conexão entre o corpo e a


prostituição como há entre o alimento e o estômago. A conexão é entre o corpo e o
Senhor, que ressuscitará o corpo (14). No verso 15 é-nos dito que os nossos corpos são
membros do Corpo de Cristo. A gravidade do adultério está no fato de que membros do
Corpo de Cristo são retirados do seu uso apropriado e tornados membros de meretriz.
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 20
A Santidade do Sexo

Como podemos dar-nos a uma unidade espúria em um ato sexual ilícito, quando estamos
unidos ao Senhor? (vs. 16,17). Portanto, “fugi da prostituição”. Não existe outro modo de
tratar o caso!

Passo seguinte, a singularidade do adultério é descrita no v. 18. “A assertiva do


Apóstolo é estritamente veraz. O alcoolismo e a glutonaria são pecados feitos no corpo e
através do corpo, sendo praticados mediante o abuso do mesmo, porém, são coisas
introduzidas de fora, erradas em seu efeito, cujo efeito é dever de cada indivíduo prever e
evitar”. Mas a fornicação é uma usurpação daquele corpo que pertence ao Senhor. Não é
um efeito sobre o corpo, com base na participação de coisas vindas de fora, mas, antes,
uma “degradante solidariedade física, incompatível com a solidariedade do crente em
Cristo”, uma contradição da verdade do corpo, proveniente de si mesmo.

Leon Morris descreve a singular gravidade do adultério deste modo: “Outros


pecados contra o corpo, por exemplo a bebedice e a glutonaria, envolve o uso de algo
que vem de fora do corpo. O apetite sexual surge de dentro. Aqueles se prestam para
outros propósitos, por ex., a sociabilidade. Este não tem outro propósito que o da
gratificação da lascívia. Aqueles são pecaminosos quando usados em excesso. Este é em
si mesmo pecaminoso”.

4.1.5) Quinto, adultério é uma estupidez. “O caminho dos prevaricadores é áspero”


(Pv 13:15). A princípio parece doce. É a solução que “caiu do céu”. “Todos os meus
problemas serão resolvidos”. Até que se descobre que seu preço é alto: “Porque os
lábios da mulher estranha destilam favos de mel, e o seu paladar é mais suave do que o
azeite. Mas o seu fim é amargoso como o absinto, agudo como a espada de dois gumes.
Os seus pés descem para a morte; os seus passos estão impregnados do inferno. Para
que não ponderes os caminhos da vida, as suas andanças são errantes: jamais os
conhecerás. Agora, pois, filhos, dai-me ouvidos, e não vos desvieis das palavras da minha
boca. Longe dela seja o teu caminho, e não te chegues à porta da sua casa; para que não
dês a outrem a tua honra, e não entregues a cruéis os teus anos de vida; para que não
farte a estranhos o teu esforço, e todo o fruto do teu trabalho vá parar em casa alheia; e
no fim venhas a gemer, no consumir-se da tua carne e do teu corpo. E então digas: Como
odiei a correção! e o meu coração desprezou a repreensão! E não escutei a voz dos que
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 21
A Santidade do Sexo

me ensinavam, nem aos meus mestres inclinei o meu ouvido! No meio da congregação e
da assembléia foi que eu me achei em quase todo o mal” (Pv 5:3-14).

4.1.6) O adultério é especialmente grave por configurar-se numa traição em um


ambiente construído necessariamente sobre a base da confiança. Somente uma atitude
de extremo egoísmo exporia à instabilidade e ao sofrimento aqueles que nos são mais
próximos, que mais dependem e mais esperam de nós. Sem dúvida, “as lágrimas,
dúvidas e noites mal dormidas de pessoas que passaram pela trágica experiência da
traição conjugal e os filhos de pais separados devem nos alertar e sensibilizar” (Hans
Ulrich Reifler).

Quem permanece a vaguear em busca de pastos mais verdes não tem ideia do
frescor do seu próprio. “Bebe água da tua fonte, e das correntes do teu poço (...) seja
bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade. Como cerva
amorosa, e gazela graciosa, os seus seios te saciem todo o tempo; e pelo seu amor sejas
atraído perpetuamente (...)” (Pv 5:15,18,19). Noutras palavras, olhe para dentro, nunca
para fora do seu cercado!

“Russel Conwell conta uma história incomparável:

Era uma vez um idoso, penso que se chamava Ali Hafed. Ele era possuidor de uma
grande fazenda, pomar, campos de cereais, hortas. Fizera muitos investimentos, e estava
rico e contente. Um dia recebeu a visita de um velho sacerdote budista, um homem de
elevada estirpe. Eles se assentaram perto do fogo e o sacerdote contou-lhe a minuciosa
história da criação. E concluiu dizendo que os diamantes eram as pedras preciosas mais
raras e valiosas que haviam sido criadas; ‘gotas congeladas de luz solar’, e, se Ali tivesse
diamantes, ele poderia obter o que quisesse para si e para a sua família.

Ali Hafed começou a sonhar com diamantes – acerca de quanto eles valiam. E
tornou-se pobre. Ele não perdera nada, mas sentia-se pobre. Ele disse: ‘Quero uma mina
de diamantes’, e ficava acordado durante a noite.

Certa manhã ele decidiu vender a sua fazenda e tudo o que tinha, e viajar pelo
mundo, em busca de diamantes. Juntou o dinheiro que tinha, deixou a família aos
cuidados de um vizinho, e começou a sua busca. Viajou pela Palestina e pela Europa
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 22
A Santidade do Sexo

extensivamente, e nada encontrou. Por fim, depois que o seu dinheiro já fora todo gasto e
ele estava em farrapos, em miséria e pobreza, chegou em uma praia em Barcelona,
Espanha. Uma grande onda veio quebrando, e esse homem pobre, desanimado,
sofrendo, quase moribundo, não pôde resistir à terrível tentação de se lançar nessa onda
tremenda. E afundou, para nunca mais emergir.

“O homem que comprou a fazenda de Ali Hafede, certo dia levou o seu camelo
para o regato que havia em sua horta. Quando o camelo colocou o focinho naquele ribeiro
raso, o novo proprietário notou um brilho curioso de luz, que provinha de uma pedra nas
areias brancas da torrente. Ao esgravatar com os dedos a areia, ele encontrou um monte
das mais belas pedras preciosas: diamantes. Esta foi a descoberta da mais magnífica
mina de diamantes na história da humanidade: a Golconda. Os maiores diamantes que
enfeitam as coroas reais do mundo vieram dessa mina” (Peterson).

Pare de comparar seu cônjuge com quem quer que seja. Ele é especial. Ele é só
seu. Deus o separou para você. “Alegra-te com a mulher da tua mocidade”.

4.2) Causa e prevenção

Após havermos pensado sobre a gravidade do adultério, devemos ponderar sobre


quais as suas possíveis causas. Desse modo, ressalte-se, não desejamos justificá-lo.
Adultério é adultério, pecado grave contra Deus, contra a instituição divina do casamento,
contra estabilidade e santidade do lar, uma negação da verdade do corpo e ponto final.
Nada o tornará menos pecaminoso!

No entanto, apenas colocar sua gravidade não nos isenta da responsabilidade de


proteger o cônjuge contra os possíveis e não raros assaltos que todos sofremos. Assiste
razão a quem vê o adultério como uma fragilidade do casal, e não somente do adúltero.
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 23
A Santidade do Sexo

Embora tenhamos colocado alhures a realidade quanto aos prazeres da vida


sexual, é possível que muitos, ao terem lido, tenham pensado secretamente ou mesmo
dito abertamente: “Tudo bem, mas isto não corresponde à minha realidade”. Na
verdade, para alguns, a hora do sexo é a hora do terror, é o pior e o mais angustiante de
todos os momentos. Outros ainda já perderam as esperanças de reencontrarem o
caminho do prazer na cama e já vaticinaram: “melhor seria se ele não pensasse mais
nisso”. É nesse passo que surgem todos os tipos de desculpas: os afazeres, as crianças,
o cansaço, a enfermidade e coisas que valham, contanto que se livrem daquela hora.

Já em 1953, o Dr. Alfred Kinsey, chamado o pai do “relatório sexual”, “disse que
metade dos homens e um quarto das mulheres que entrevistou confessaram relações
extraconjugais”. Na pesquisa da Redbook, em 1974, quase um terço das mulheres
participaram de relações extraconjugais. Destas, cerca de 90% haviam tido sexo pré-
nupcial. A mesma pesquisa revelou que é duas vezes mais provável que esposas sem
religião tenham sexo fora do casamento do que aquelas fortemente religiosas.

Apenas anoto estes dados com a finalidade de apontar à insatisfação com o prazer
sexual no casamento. É óbvio, ressalte-se outra vez, que o adúltero não será justificado
pela negligencia que sofre em seu casamento, mas, é certo que alguns relacionamentos
propiciam a carência que gera o caso extraconjugal. É óbvio ainda que o cônjuge
insatisfeito esteja mais vulnerável aos ataques de Satanás, e isto não sou eu que digo!

Vejamos as palavras do escritor inspirado: “Mas, por causa da prostituição, cada


um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido. O marido pague
à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido. A mulher não tem
poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o
marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. Não vos priveis
um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao
jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela
vossa incontinência” (I Co 7:2-5).

Notemos que neste texto, o apóstolo indica uma das razões do matrimônio: “as
prostituições” (v 2). No verso 3, ele inicia sua fala sobre as obrigações do casamento, o
que desenvolve no verso 4, afirmando que os cônjuges “não têm poder sobre o seu
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 24
A Santidade do Sexo

próprio corpo”. A palavra “poder” aí é “autoridade”, indicando que os cônjuges não têm o
direito de usarem seus corpos completamente como queiram. Eles têm obrigações
mútuas, o que sugere que o ato sexual é algo absolutamente indispensável em tempos
normais.

No verso 5, Paulo desenvolve ainda a ideia de que um cônjuge pertence ao outro,


a ponto de chamar a negação do próprio corpo de ato de fraude. A privação, ensina, só
deve acontecer (1) “por mútuo consentimento”, (2) “por algum tempo” (e depois ajuntai-
vos outra vez) e (3) “para vos aplicardes ao jejum e à oração”, “para que Satanás não vos
tente pela vossa incontinência”.

Para Paulo, a nossa incontinência é tal que mesmo os afastamentos por mútuo
consentimento e santo propósito devem ser esporádicos e não tão longos. O que contribui
ao nosso ponto é que ambos, marido e mulher, se tornam mais vulneráveis quando o
casamento não lhes proporciona satisfatório prazer sexual.

Conservemos, pois, em mente a exortação apostólica de I Co 7: manter a relação


conjugal viva é um antídoto eficiente contra a incontinência na área sexual. Por isso,
desejo oferecer algumas notas sobre o que se pode fazer positivamente pela construção
e preservação de uma vida conjugal satisfatória. Vejamos.
Primeiro, controlemos o mal humor. Ninguém deseja ardentemente ir para a
cama com um eterno irritado, do tipo que de tudo reclama e para quem tudo está sempre
errado. Qualquer brisa suave é por ele interpretada como um tornado violento.
Segundo, vigiemos as palavras. “O homem prudente encobre o conhecimento,
mas o coração dos tolos proclama a estultícia” (Pv 12:23). Não percebemos que não dá
para ir à cama estando cheios de mágoas?
Terceiro, não percamos nenhuma oportunidade de elogiar nosso cônjuge.
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a
edificação, para que dê graça aos que a ouvem. E não entristeçais o Espírito Santo de
Deus, no qual estais selados para o dia da redenção.Toda a amargura, e ira, e cólera, e
gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas dentre vós, antes sede uns para com
os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus
vos perdoou em Cristo” (Ef4:29-32). Este foi o segredo do reencontro de Salomão e
Sulamita: palavras de elogio. Ela fala sobre o quanto admira seu amado, em 5:10-16. Ele
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 25
A Santidade do Sexo

declara-se apaixonadamente em 6:4-9 e 7:1-9. Até que novamente se reencontram em


7:10-13.
Quarto, lutemos contra a rotina. Ela é cruel. Sejamos criativos. Tomemos
iniciativas. Planejemos juntos o lazer que seja adequado para ambos. Invistamos em
momentos só para o casal, freqüentemente. Mas, acima de tudo, criemos uma rotina
agradável, vez que não vivemos da exceção, mas da regra.
Quinto, não guardemos mágoas. Quando formos magoados, abramos o coração
de um modo que não acusemos nosso cônjuge. Ao invés de dizermos: “você me
magoou”, digamos, “estou me sentindo ferido”, “preciso colocar meus sentimentos e lhe
perdoar”.
Sexto, tentemos conversar abertamente sobre sexo. Não precisamos ser nem
pornógrafos em nosso linguagem, nem demasiadamente escrupulosos. O livro de
Cantares é um exemplo claro do que digo. As falas são desinibidas sem ferirem nossa
sensibilidade. Essa é a linguagem do Espírito Santo. Nestas conversas, precisamos tentar
nos conhecer melhor. Gostos, preferências, coisas indesejadas, tudo precisa ser colocado
de modo claro.
Sétimo, tentemos vencer a inibição, se inibidos, ou tentemos respeitar a
inibição do outro, se desinibidos. Precisamos descobrir juntos, na intimidade do casal,
o que excita o outro, sem que haja qualquer tipo de coerção.
Oitavo, aprendamos a ceder. Raramente os casais se encontram no tocante ao
ritmo sexual. Muitas vezes aquilo que é escassez para um é transbordante para o outro.
Ambos deveremos ceder. O amor sabe sacrificar algo pelo outro. E o mais importante:
não nos sintamos rejeitados quando o cônjuge não estiver com vontade.
Nono, lembremo-nos que somos casados, e, como tais, possuímos deveres
para com o outro. “O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a
mulher ao marido” (I Co 7:3). Não podemos mais viver como bem desejamos a ponto de
negligenciarmos nossos deveres maritais.
Décimo, leiamos uma boa literatura cristã sobre o assunto. Há nas livrarias
tanto materiais bons quanto ruins. Escolha o melhor, o mais equilibrado e dê preferência a
autores consagrados à área de aconselhamento familiar, mormente com base em
exposições de textos bíblicos que tratam do assunto. Ademais, leituras que nos ajudam a
conhecer mais a Bíblia nos auxiliarão a sermos cristãos melhores e, por isso, cônjuges
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 26
A Santidade do Sexo

melhores. Conheçamos as funções do seu corpo, ao máximo que pudermos, tanto quanto
do nosso cônjuge. Leiamos, ao menos, um bom livro por ano nesta área.
Décimo primeiro, procuremos ajuda em casos especiais. Alguns perpetuam um
problema por não se disporem a pedir socorro. Alguns casos pedem um conselheiro,
outros, um profissional médico.
Décimo segundo, zelemos o nosso corpo. Cuidemos de nossa saúde e da
higiene pessoal. Evitemos, por tudo nesta vida, os maus odores. Procuremos apresentar-
nos quase sempre atraentes para nosso cônjuge, mas nunca repulsivos.
Décimo terceiro, não usemos o sexo como uma arma que premia ou pune. Isto
é mais especialidade das mulheres, que costumam expressar sua insatisfação com a
negação do sexo.
Décimo quarto, e por outro lado, não apareçamos faceiros e agradáveis só
quando quisermos sexo. Isso é simplesmente patético! E ela sente-se usada ante
tamanho cinismo.
Décimo quinto, tenhamos em casa a devida privacidade e mantenhamos o
ninho devidamente apto para nos receber. Alguns não suportarão a casa de cabeça
para baixo. Sei que alguns se excedem nesse perfeccionismo. Mas, por favor, que o
mínimo suficiente seja observado.
Por fim, deixo-vos com este conselho de Augustus Nicodemus e Minka
Schaulkwijk: “mantenham expectativas realistas sobre o desempenho sexual a assim
evitarão frustrações (...) Os casais deveriam se conscientizar que é perfeitamente normal
não ter relações sexuais toda noite” (com grifo nosso).

4.3) E se nada funcionar?

Remetemos o leitor ao texto de Gn 29:30-35. O verso 26 deste capítulo explica,


ainda que não justifique, o que segundo Labão era costume em sua terra: “não se faz
assim no nosso lugar, que a menor se dê antes da primogênita”.
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior 27
A Santidade do Sexo

Sendo este o costume da terra, Lia não reivindicou estrita exclusividade


monogâmica. Os seus ciúmes não diziam respeito a privilégios sexuais. O que ela não
pode aceitar foi não ser amada! Ah, isso não.
O verso 30 nos informa que Jacó “amou também a Raquel mais do que a Lia”.
Esta, que amava seu marido (30:15a!), teve sua tristeza compensada pelo Senhor, pois
“vendo (...) que Lia era desprezada, abriu a sua madre” (v. 31).
Lia, que era “desprezada”, “preterida”, alimentava esperanças de conquistar o amor
do seu marido. E isto expôs nos nomes e expressões de sentimentos positivos que
proferia a cada novo filho.
Quero que você note que Jacó mantinha relações sexuais com Lia. Mas isso não
era o bastante. Lia precisava ser amada. Lia precisa entender as expressões do afeto de
Jacó, ver demonstração de seu interesse por ela.
A cada um dos primeiros três filhos há uma palavra que revela sua dor e um brado
de esperança renovada.
Nasceu o primeiro filho “e chamou-o Rúben”, nome que alguns dizem significar “eis
um filho!”, “pois disse: Porque o Senhor atendeu à minha aflição...”. A palavra hebraica
para ‘aflição’ é, literalmente “depressão”. Lia sentia-se deprimida por não ser amada.
Talvez esta seja a causa das depressões da esposa do leitor. Ela meramente está
convencida de que você não a ama! Mas, quanto à Liz, sua esperança é que “agora me
amará o meu marido”. Seria você tão surdo como Jacó que não consegue ouvir o clamor
de sua esposa?
Ao segundo filho Lia chamou-o Simeão, que talvez signifique ‘audição’, para indicar
que Deus continua lhe ouvindo. Por ocasião do nascimento de Simeão, lhe disse:
“porquanto o Senhor ouviu que eu era desprezada”. A palavra hebraica que é traduzida
para ‘desprezada’ significa “odiada”. Esta era a maneira como Lia entendia os
sentimentos de Jacó para com ela. Como você acha que reage na cama uma mulher que
se sente ‘odiada’ ou humilhada? Com que alegria você espera que ela lhe receba em
casa? Não, não, não se engane! O máximo que uma mulher assim poderá fazer é cumprir
sua ‘obrigação’ de esposa e dizer: “tome logo, homem, tome o que lhe devo”. É assim que
você a quer?
Lia revela mais de suas impressões com o terceiro filho. Ela se sentia distanciada
do seu marido e deixa escapar sua esperança que “agora esta vez se unirá meu marido a
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A Santidade do Sexo

mim”, como que dizendo: “não é possível que ele permaneça longe, já lhe dei três filhos”.
Lia talvez compartilhasse das expectativas tolas que ainda hoje sobrevivem, a saber, que
filhos prendem maridos. Em pensando assim, até que poderíamos justificar Lia, pela
cultura na qual ela estava inserida. Mas de modo algum desculpamos as mulheres que
continuam a gerar filhos com o fim de agarrar o marido. Não, não, jamais! O seu marido
tem que ficar com você por você. Jacó queria Raquel sem filhos mesmo. Elcana queria
Ana sem filhos mesmo. Veja como ele a consolava: “Ana, por que choras? E por que não
comes? E por que está mal o teu coração? Não te sou eu melhor do que dez filhos?” (I
Sm 1:8).
Lia concebe o quarto filho, “dizendo: Esta vez louvarei ao Senhor”. É possível que
Lia tenha aprendido que não deveria viver em torno de suas buscas pessoais. Que Deus
era mais importante que Jacó. Que melhor era parar para ver coisas maiores que Deus
estava fazendo do que viver em torno de um homem frágil como seu marido. Lia não foi a
mais amada das esposas de Jacó, mas por meio dela viria o Messias, nosso Senhor. “Por
isso chamou-o Judá, que significa ‘Deus seja louvado’”. Deus seja louvado, com ou sem o
amor de Jacó. Ou simplesmente teria achado Lia, na religião, uma maneira de afogar
suas mágoas? Quem não conhece mulheres mal amadas que canalizam sua carência
aos assuntos religiosos?
Não imaginamos ser o caso. Quero que você perceba a dignidade da fé desta
mulher, a Lia. Ela percebeu que mesmo as mais grandiosas estratégias podem falhar.
Não pode conquistar o marido nem lhe dando quatro filhos. A despeito disso, fez o que as
mulheres que nada mais esperam do marido deveriam fazer: encontrar seu amparo e seu
regozijo em Deus. Afinal, Deus, antes de querer que tenhamos uma vida sexual
plenamente satisfeita, deseja que busquemos o Seu Reino e sua justiça. A glória de Deus
deve animar-nos mais que qualquer satisfação de ordem pessoal.
Portanto, deixemo-nos encher pelo Espírito Santo, e cuidemos em nos esforçar
para que o fruto do Espírito seja cada vez mais evidente em nós. Julgamos plenamente
possível a um casal manter uma vida equilibrada, fiel, respeitosa e afetuosa, ainda que
não haja a melhor sexualidade possível.
A Deus toda a glória.
Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior

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