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2. (Ufam-psc 2 2022) Assinale a alternativa que NÃO apresenta erro de ortoepia ou prosódia:
a) A etimologia das palavras é um estudo altamente especializado.
b) Fabrício abandonou o cristianismo e tornou-se mulçumano.
c) O carangueijo que servem naquele bar é de excelente qualidade.
d) Para estancar o sangue da ferida, aplicaram metiolate.
e) Tive o previlégio de presenciar o show de despedida de tão famoso cantor.
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O tungstênio é, sob condições padrão, um metal de cor branco cinza. Ele é encontrado na
natureza combinado a outros elementos. Foi identificado como um novo elemento em 1781, e
isolado pela primeira vez como metal em 1783. O tungstênio é o único metal da terceira série
de transição que se sabe ocorrer em biomoléculas, usadas por algumas espécies de bactérias.
É o elemento mais pesado utilizado por seres vivos. Porém, o tungstênio interfere com os
metabolismos do molibdênio e do cobre e é algo tóxico para a vida animal.
5. (Ufam-psc 1 2021) Leia o seguinte trecho do livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de
Holanda (Companhia das Letras, 2016, p. 97):
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De minha varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar. Não há ninguém na praia, que
resplende ao sol. O vento é nordeste, e vai tangendo, aqui e ali, no belo azul das águas,
pequenas espumas que marcham alguns segundos e morrem, como bichos alegres e
humildes; perto da terra a onda é verde.
Mas percebo um movimento em um ponto do mar; é um homem nadando. Ele nada a
uma certa distância da praia, em braçadas pausadas e fortes; nada a favor das águas e do
vento, e as pequenas espumas que nascem e somem parecem ir mais depressa do que ele.
Justo: espumas são leves, não são feitas de nada, toda sua substância é água e vento e luz, e
o homem tem sua carne, seus ossos, seu coração, todo seu corpo a transportar na água
Ele usa os músculos com uma calma energia; avança. Certamente não suspeita de
que um desconhecido o vê e o admira porque ele está nadando na praia deserta. Não sei de
onde vem essa admiração, mas encontro nesse homem uma nobreza calma, sinto-me solidário
com ele, acompanho o seu esforço solitário como se ele estivesse cumprindo uma bela missão.
Já nadou em minha presença uns trezentos metros; antes, não sei; duas vezes o perdi de vista,
quando ele passou atrás das árvores, mas esperei com toda confiança que reaparecesse sua
cabeça, e o movimento alternado de seus braços. Mais uns cinquenta metros, e o perderei de
vista, pois um telhado o esconderá. Que ele nade bem esses cinquenta ou sessenta metros;
isto me parece importante; é preciso que conserve a mesma batida de sua braçada, e que eu o
veja desaparecer assim como o vi aparecer, no mesmo rumo, no mesmo ritmo, forte, lento,
sereno. Será perfeito; a imagem desse homem me faz bem.
É apenas a imagem de um homem, e eu não poderia saber sua idade, nem sua cor,
nem os traços de sua cara. Estou solidário com ele, e espero que ele esteja comigo. Que ele
atinja o telhado vermelho, e então eu poderei sair da varanda tranquilo, pensando "vi um
homem sozinho, nadando no mar; quando o vi ele já estava nadando; acompanhei-o com
atenção durante todo o tempo, e testemunho que ele nadou sempre com firmeza e correção;
esperei que ele atingisse um telhado vermelho, e ele o atingiu"
Agora não sou mais responsável por ele; cumpri o meu dever, e ele cumpriu o seu.
Admiro-o. Não consigo saber em que reside, para mim, a grandeza de sua tarefa; ele não
estava fazendo nenhum gesto a favor de alguém, nem construindo algo de útil; mas certamente
fazia uma coisa bela, e a fazia de um modo puro e viril. Não desço para ir esperá-lo na praia e
lhe apertar a mão; mas dou meu silencioso apoio, minha atenção e minha estima a esse
desconhecido, a esse nobre animal, a esse homem, a esse correto irmão.
(ANDRADE, Carlos Drummond de; et al. Elenco de cronistas modernos. 8. ed. Rio de Janeiro;
José Olympio, 1984. p. 128-129)
6. (Espcex (Aman) 2024) Observe o seguinte trecho: "Mais uns cinquenta metros, e o perderei
de vista".
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– Morou mais de vinte anos nesta casa? Então vai sentir “uma coisa” quando ela for
demolida. Começou a demolição. Passando pela rua, ele viu a casa já sem telhado, e
operários, na poeira, removendo caibros. Aquele telhado que lhe dera tanto trabalho por causa
das goteiras, tapadas aqui, reaparecendo ali. Seu quarto de dormir estava exposto ao céu, no
calor da manhã. Ao fundo, no terraço, tinham desaparecido as colunas da pérgula, e a
cobertura de ramos de buganvília – dois troncos subindo do pátio lá embaixo e enchendo de
florinhas vermelhas o chão de ladrilho, onde gatos da vizinhança amavam fazer sesta e
surpreender tico-ticos.
Passou nos dias seguintes e viu o progressivo desfazer-se das paredes, que
escancarava a casa de frente e de flancos jogando-a por assim dizer na rua. Os marcos das
portas apareciam emoldurando o vazio. O azul e as nuvens circulavam pelos cômodos, em
composição surrealista. E o pequeno balcão da fachada, cercado de ar, parecia um mirante
espacial, baixado ao nível dos míopes.
A demolição prosseguiu à noite, espontaneamente. Um lanço de parede desabou
sozinho, para fora do tapume, quando já cessara na rua o movimento das lotações. Caiu
discreto, sem ferir ninguém, apenas avariando – desculpem – a rede telefônica.
A casa encolhera-se, em processo involutivo. Já agora de um só pavimento, sem teto,
aspirava mesmo à desintegração. Chegou a vez da pequena sala de estar, da sala de jantar
com seu lambri envernizado a preto, que ele passara meses raspando a poder de gilete, para
recuperar a cor da madeira. E a vez do escritório, parte pensante e sentinte de seu mecanismo
individual, do eu mais íntimo e simultaneamente mais público, eu de gavetas sigilosas,
manuseadas por um profissional da escrita. De todo o tempo que vivera na casa, fora ali que
passara o maior número de horas, sentado, meio corcunda, desligado de acontecimentos,
ouvindo, sem escutar, rumores que chegavam de outro mundo – cantoria de bêbados, motor de
avião, chorinho de bebê, galo na madrugada.
E não sentiu dor vendo esfarinharem-se esses compartimentos de sua história pessoal.
Nem sequer a melancolia do desvanecimento das coisas físicas. Elas tinham durado, cumprido
a tarefa. Chega o instante em que compreendemos a demolição como um resgate de formas
cansadas, sentença de liberdade. Talvez sejamos levados a essa compreensão pelo trabalho
similar, mais surdo, que se vai desenvolvendo em nós. E não é preciso imaginar a alegria de
formas novas, mais claras, a surgirem constantemente de formas caducas, para aceitar de
coração sereno o fim das coisas que se ligaram à nossa vida.
Fitou tranquilo o que tinha sido sua casa e era um amontoado de caliça e tijolo, a ser
removido. Em breve restaria o lote, à espera de outra casa maior, sem sinal dele e dos seus,
mas destinada a concentrar outras vivências. Uma ordem, um estatuto pairava sobre os
destroços, e tudo era como devia ser, sem ilusão de permanência.
Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. 12. ed. Rio de Janeiro: Livraria
José Olympio Editora, 1979.
Vocabulário
caibro s.m. elemento estrutural de um telhado, geralmente peças de madeira que se dispõem
da cumeeira ao frechal, a intervalos regulares e paralelas umas às outras, em que se cruzam e
assentam as ripas, frequentemente mais finas e compridas, e sobre as quais se apoiam e se
encaixam as telhas
pérgula s. f. espécie de galeria coberta de barrotes espacejados assentados em pilares,
geralmente guarnecida de trepadeiras
buganvília s.f. designação comum às plantas do gênero bougainvillea, trepadeira, muito
cultivadas como ornamentais
de flanco s. m. pela lateral
marco s. m. parte fixa que guarnece o vão de portas e janelas, e onde as folhas destas se
encaixam, prendendo-se por meio de dobradiças
tapume s. m. cerca ou vala guarnecida de sebe que defende uma área; anteparo, geralmente
de madeira, com que se veda a entrada numa área, numa construção
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lambri s. m. revestimento interno de parede, usado com fim decorativo ou para proteger contra
frio, umidade ou barulho; feito de madeira, mármore, estuque, numa só peça ou composto por
painéis, que vão até certa altura ou do chão ao teto (mais usado no plural)
caliça s.f. conjunto de resíduos de uma obra de alvenaria demolida ou em desmoronamento,
formado por pó ou fragmentos dos materiais diversos do reboco (cal, argamassa ressequida) e
de pedras, tijolos desfeitos
lote s. m. porção de terra autônoma que resulta de loteamento ou desmembramento; terreno
de pequenas dimensões, urbano ou rural, que se destina a construções ou à pequena
agricultura
8. (Espcex (Aman) 2023) Assinale a alternativa em que todos os vocábulos possuem o mesmo
número de fonemas.
a) vizinhança – composição – tranquilo
b) telhado – quarto – pequeno
c) chorinho – ninguém – terraço
d) desintegração – acontecimentos – desvanecimento
e) envernizado – escritório – mecanismo
Adaptado de: ASSIS BRASIL, L. A. O pintor de retratos. Porto Alegre: L&PM, 2002.
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9. (Ufrgs 2023) Assinale a alternativa que contém apenas palavras com dígrafos consonantais.
a) Carducci (ref. 1) – líquidos (ref. 10) – caixa-baú (ref. 17).
b) chamava (ref. 3) – indigente (ref. 13) – Pappalardo (ref. 14).
c) conhecer (ref. 5) – cheiro (ref. 9) – pequenos (ref. 21).
d) gesto (ref. 07) – tamanhos (ref. 19) – Charles (ref. 22).
e) quadrangulares (ref. 18) – garrafas (ref. 24) – chapa (ref. 27).
Para produzir o efeito de humor da tirinha, o cartunista mobiliza o seguinte recurso expressivo:
a) gradação.
b) eufemismo.
c) redundância.
d) ambiguidade.
e) contradição.
O escritor Jonathan Lethem disse que, quando as pessoas chamam algo de “original”, nove
entre dez vezes elas não conhecem as referências ou as fontes originais envolvidas.
O que um bom artista entende é que nada vem do nada. Todo trabalho criativo é construído
sobre o que veio antes. Nada é totalmente original.
Está lá na Bíblia: “Não há nada de novo debaixo do sol.” (Eclesiastes 1:9)
Alguns acham essa ideia deprimente, mas ela me enche
de esperança. É como o escritor francês André Gide assinalou: “Tudo que precisa ser dito já foi
dito. Mas, já que ninguém estava ouvindo, é preciso dizer outra vez.”
Se estivermos livres do fardo de ser completamente originais, podemos parar de tentar
construir algo do nada e abraçar a influência ao invés de fugirmos dela.
11. (Uea 2024) Sentido próprio, ou denotativo, é o sentido literal, aquele que se costuma
atribuir a uma palavra.
Sentido figurado, ou conotativo, é um sentido derivado, simbólico, que pode ser atribuído a uma
palavra em determinado contexto.
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12. (Uea 2024) Termo expletivo é uma palavra ou expressão que não exerce função
gramatical numa oração, mas que dá ênfase, realce, a algum aspecto do que se está dizendo.
Canção do exílio
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1
gaturamo: espécie de pássaro.
2
monista: relativo a monismo, uma vertente filosófica.
3
sururu: briga envolvendo muitas pessoas, confusão.
4
Gioconda (La Gioconda): a conhecida pintura Mona Lisa de Leonardo da Vinci.
13. (Uea-sis 3 2024) Na construção de seu poema, Murilo Mendes mobiliza fundamentalmente
o seguinte recurso expressivo:
a) intertextualidade.
b) redundância.
c) gradação.
d) personificação.
e) ambiguidade.
14. (Ufam-psc 3 2023) Leia o texto a seguir, intitulado GRAMÁTICA, publicado em uma rede
social pelo escritor amazonense Sérgio Freire:
GRAMÁTICA
Quando ele disse “eu gosto de você”, ela ficou sem fala. Ela já sabia disso. Ele já tinha dito de
outras formas, por meio de gestos, por meio de olhares, por meio de indiretas. Mas ouvir as
palavras ditas naquela oração simples a deixou nas nuvens. Um sentimento que já lhe habitava
sorriu e se arrumou, com sua melhor roupa, em forma de pronome, sujeito e predicado. Flutuou
cantando pelos ares nos fonemas surdos e sonoros e bailou na prosódia. As palavras mexeram
com a semântica de seus afetos e bagunçaram a sua sintaxe particular. A linguagem pode ter
coordenadas sindéticas de várias formas, comparativos sintéticos e analíticos, verbos regulares
e defectivos. Mas a força da linguagem surge mesmo quando se fala – mesmo pelo silêncio.
Porque a língua surge em forma de oração. Por isso é divina. Quando se trata de amor, não
oração há sem sujeito.
Fonte: https://bit.ly/40J0UV5
I. O autor faz uso de metalinguagem, já que faz referência à linguagem para transmitir uma
ideia sobre a linguagem.
II. No trecho “Um sentimento que já lhe habitava sorriu e se arrumou, com sua melhor roupa,
em forma de pronome, sujeito e predicado”, observa-se uma prosopopeia.
III. No trecho “Ele já tinha dito de outras formas, por meio de gestos, por meio de olhares, por
meio de indiretas”, observa-se uma paranomásia.
IV. No trecho “Porque a língua surge em forma de oração. Por isso é divina”, verificamos a
polissemia do substantivo oração.
V. No trecho “Um sentimento que já lhe habitava sorriu e se arrumou”, a função sintática
assumida pela palavra que é a de objeto direto.
I. E no fim da história, eis que o “homem de família” traía sua esposa com a amante nos fins de
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semana.
II. Naquele dia, finalmente e para o seu descanso, o doente entregou a alma a Deus.
III. “Era quase escravidão, mas ela me tratava como um rei.” (Renato Russo).
IV. Os moradores deste bairro correm um grande risco de serem soterrados por esta montanha
de lixo.
V. A neve branca sorria e convidava os turistas que a viam pela primeira vez a chegar perto.
O gerente [...] me encarou, o rosto tenso, mãos nos bolsos da calça. [...] Meu pai não
tinha renovado o seguro do Eldorado, e a empresa ainda devia muito dinheiro ao banco inglês.
Estiliano não sabia disso?
Era um assunto do doutor Cordovil. Teu pai não autorizava ninguém a assinar apólices
de seguro. Ele ia renovar, mas morreu.
Então o gerente continuou: no naufrágio do Eldorado a Companhia Adler tinha perdido
oitenta toneladas de borracha e castanha, e movia um processo contra a empresa; as taxas
portuárias não haviam sido pagas para a Manaus Harbour... O falatório desastroso me irritou.
Eu não sabia de nada; a ignorância era a minha fraqueza. O gerente parou de falar, sentou e
apoiou os cotovelos na escrivaninha, os dedos na testa, o olhar de admiração e saudade na
fotografia do meu pai. Eu não conseguia encarar Amando, nem na parede. Murmurei: A
empresa afundou. Ouvi alguém dizer em voz baixa: Covarde.
Perguntei ao gerente o que ele estava dizendo.
Permaneceu mudo, na mesma posição. O retrato do meupai parecia me desafiar.
Covarde. Não serves para nada. Era a voz de Amando Cordovil. As mesmas palavras. Ou
minha memória repetia o que eu tinha ouvido tantas vezes? Então naquela manhã fui com o
gerente ao banco inglês.
O empréstimo. Só de pensar, fico agoniado. [...] Senti o mesmo sufoco quando o
diretor do banco me mostrou os documentos assinados por Amando. A dívida, uma fortuna. Saí
tonto, peguei o bonde para a chácara e esperei Estiliano em Manaus.
Uns dez dias depois ele apareceu. Já sabia de tudo: eu tinha sido ingênuo ou
irresponsável. Fui as duas coisas, pensei. Mas fiz questão de dizer que só meu pai fazia a
renovação do seguro. Vim antes porque li a notícia do naufrágio nos jornais de Belém, ele
disse. E então revelou que estava em Manaus havia uma semana. Não quis perder tempo,
prosseguiu. Conversei com o juiz, com os diretores do banco e da Adler.
Explicou que os dois batelões estavam atracados no Manaus Harbour, confiscados
pela justiça. Essas barcaças velhas não valiam muito, mas era possível vendê-las. O que tinha
valor era o cargueiro alemão: o Eldorado.
Acusei o gerente de leviano, podia ter evitado essas dívidas. Estiliano não se alterou: o
gerente era uma sombra do meu pai, e uma sombra não podia pensar em tudo. Mas era
preciso vender os dois batelões?
Vais ter que vender tudo: esta chácara, o edifício da empresa e o terreno de Flores.
Como eu ia admitir? Queria casar com Dinaura, viajar com ela.
Vives em outro mundo, disse Estiliano. Se não venderes tudo, podes ser preso. As
pequenas companhias de navegação da Amazônia estão falidas. Sai desta chácara e anda
pela cidade. Aquela moça arrancou tua cabeça, te deixou sem razão. Cego.
16. (Uea 2023) A palavra empregada em sentido figurado está sublinhada em:
a) “Estiliano não se alterou: o gerente era uma sombra do meu pai” (10º parágrafo).
b) “Já sabia de tudo: eu tinha sido ingênuo ou irresponsável” (8º parágrafo).
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Mergulhei numa comprida manhã de inverno. O açude apojado, a roça verde, amarela
e vermelha, os caminhos estreitos mudados em riachos, ficaram-me na alma. Depois veio a
seca. Árvores pelaram-se, bichos morreram, o sol cresceu, bebeu as águas, e ventos mornos
espalharam na terra queimada uma poeira cinzenta. Olhando-me por dentro, percebo com
desgosto a segunda paisagem. Devastação, calcinação. Nesta vida lenta sinto-me coagido
entre duas situações contraditórias — uma longa noite, um dia imenso e enervante, favorável à
modorra. Frio e calor, trevas densas e claridades ofuscantes.
Naquele tempo a escuridão se ia dissipando, vagarosa. Acordei, reuni pedaços de
pessoas e de coisas, pedaços de mim mesmo que boiavam no passado confuso, articulei tudo,
criei o meu pequeno mundo incongruente. Às vezes as peças se deslocavam — e surgiam
estranhas mudanças. Os objetos se tornavam irreconhecíveis, e a humanidade, feita de
indivíduos que me atormentavam e indivíduos que não me atormentavam, perdia os
característicos.
Bem e mal ainda não existiam, faltava razão para que nos afligissem com pancadas e
gritos. Contudo as pancadas e os gritos figuravam na ordem dos acontecimentos, partiam
sempre de seres determinados, como a chuva e o sol vinham do céu. E o céu era terrível, e os
donos da casa eram fortes. Ora, sucedia que minha mãe abrandava de repente e meu pai,
silencioso, explosivo, resolvia contar-me histórias. Admirava- me, aceitava a lei nova, ingênuo,
admitia que a natureza se houvesse modificado. Fechava-se o doce parêntese — e isto me
desorientava.
Na manhã de inverno as cercas e as plantas quase se dissolviam, a neblina vestia o
campo, dos montes de lixo do quintal subia fumaça, pingos espaçados caíam das goteiras, a
cruviana1 mordia a gente. Sapatões de vaqueiros depositavam grossas camadas de barro no
tijolo. Roupas molhadas deixavam manchas largas nos bancos do copiar. As paredes úmidas
enegreciam. Deitava-me na rede, encolhia-me, enrolava-me nas varandas.
(Infância, 2020.)
1
cruviana: vento intenso e gelado.
17. (Uea 2023) Está empregada em sentido figurado a palavra sublinhada em:
a) “Sapatões de vaqueiros depositavam grossas camadas de barro no tijolo” (4º parágrafo).
b) “Nesta vida lenta sinto-me coagido entre duas situações contraditórias” (1º parágrafo).
c) “O açude apojado, a roça verde, amarela e vermelha, os caminhos estreitos mudados em
riachos, ficaram-me na alma” (1º parágrafo).
d) “Os objetos se tornavam irreconhecíveis” (2º parágrafo).
e) “Mergulhei numa comprida manhã de inverno” (1º parágrafo).
Andy Warhol é um dos principais nomes da pop Art. Surgida nos anos 1950, na
Inglaterra, o movimento teve seu ápice na década de 1960, quando chegou aos EUA. A pop Art
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(Enio Rodrigo Barbosa. “Andy Warhol: um ícone do século XX”. Revista Ciência e Cultura, vol.
62, nº 2, 2010. Adaptado.)
Mergulhei numa comprida manhã de inverno. O açude apojado, a roça verde, amarela
e vermelha, os caminhos estreitos mudados em riachos, ficaram-me na alma. Depois veio a
seca. Árvores pelaram-se, bichos morreram, o sol cresceu, bebeu as águas, e ventos mornos
espalharam na terra queimada uma poeira cinzenta. Olhando-me por dentro, percebo com
desgosto a segunda paisagem. Devastação, calcinação. Nesta vida lenta sinto-me coagido
entre duas situações contraditórias — uma longa noite, um dia imenso e enervante, favorável à
modorra. Frio e calor, trevas densas e claridades ofuscantes.
Naquele tempo a escuridão se ia dissipando, vagarosa. Acordei, reuni pedaços de
pessoas e de coisas, pedaços de mim mesmo que boiavam no passado confuso, articulei tudo,
criei o meu pequeno mundo incongruente. Às vezes as peças se deslocavam — e surgiam
estranhas mudanças. Os objetos se tornavam irreconhecíveis, e a humanidade, feita de
indivíduos que me atormentavam e indivíduos que não me atormentavam, perdia os
característicos.
Bem e mal ainda não existiam, faltava razão para que nos afligissem com pancadas e
gritos. Contudo as pancadas e os gritos figuravam na ordem dos acontecimentos, partiam
sempre de seres determinados, como a chuva e o sol vinham do céu. E o céu era terrível, e os
donos da casa eram fortes. Ora, sucedia que a minha mãe abrandava de repente e meu pai,
silencioso, explosivo, resolvia contar-me histórias. Admirava-me, aceitava a lei nova, ingênuo,
admitia que a natureza se houvesse modificado. Fechava-se o doce parêntese — e isso me
desorientava.
(Infância, 2020.)
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20. (Uea-sis 3 2023) O Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa define “antítese”
como “figura pela qual se opõem, numa mesma frase, duas palavras ou dois pensamentos de
sentido contrário”, a exemplo do que se verifica em:
a) “ventos mornos espalharam na terra queimada uma poeira cinzenta” (1º parágrafo).
b) “Frio e calor, trevas densas e claridades ofuscantes” (1º parágrafo).
c) “pedaços de mim mesmo que boiavam no passado confuso” (2º parágrafo).
d) “Às vezes as peças se deslocavam — e surgiam estranhas mudanças” (2º parágrafo).
e) “Admirava-me, aceitava a lei nova, ingênuo, admitia que a natureza se houvesse modificado”
(3º parágrafo).
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Gabarito:
Resposta da questão 1:
[E]
Na palavra "fofoqueira", há quatro fonemas consonantais (referente às letras f, f, qu, r), quatro
fonemas vocálicos (referente às letras o, o, e, a) e um fonema semivocálico (referente à letra i).
Resposta da questão 2:
[A]
Resposta da questão 3:
[C]
Resposta da questão 4:
ANULADA
A única afirmação incorreta é a [IV], já que vemos dois substantivos que formam um composto e, assim,
a palavra “padrão” não deve ir para o plural.
Resposta da questão 5:
[E]
insucesso: temos 9 letras, porém somente 7 fonemas, já que as letras “in”, juntas, formam um
fonema /ĩ/, e “ss” forma um fonema /s/.
holandesa: temos 9 letras, porém somente 7 fonemas, já que as letras “ho”, juntas, formam um
fonema /o/, e “an” forma um fonema /ã/.
corrente: temos 8 letras, porém somente 6 fonemas, já que as letras “rr”, juntas, formam um
fonema /rr/, e “en” forma um fonema /ẽ/.
Incompatíveis: temos 13 letras, porém somente 11 fonemas, já que as letras “in”, juntas,
formam um fonema /ĩ/, e “om” forma um fonema /õ/.
equatoriais: temos 11 letras e 11 fonemas, já que cada letra, nesse caso, equivale a um
fonema.
Resposta da questão 6:
[A]
Resposta da questão 7:
[A]
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Resposta da questão 8:
[B]
Resposta da questão 9:
[C]
Dígrafos consonantais acontecem quando duas letras formam um som de uma única
consoante, formados por duas consoantes ou por uma consoante e uma vogal. Lembrando que
“gu” e “qu” são dígrafos, se seguidos de “e” ou “i”, exceto se forem pronunciados. Assim, as
opções [A], [B], [D] e [E] são incorretas, pois
As opções [A], [B], [C] e [E] são incorretas, pois a tirinha NÃO
Assim, é correta a opção [D], já que o cartunista usa o recurso expressivo da ambiguidade ao
afirmar que o fato de lhe terem nascido escamas e rabo o aproximou de seus “pets”, cão, gato
e peixe, este último dificilmente caracterizado como “pet”.
Em “abraçar a influência ao invés de fugirmos dela”, o verbo “abraçar” não foi usado em sentido
denotativo, ato de envolver alguém ou algo com os braços, mas sim com valor figurado, como
“aceitar”, “compreender”.
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Em “E no fim da história, eis que o “homem de família” traía sua esposa com a amante nos fins
de semana”, a ironia está presente pela caracterização do homem como “de família”, já que a
traição é algo totalmente contrário ao que se espera desse tipo de sujeito. Na frase “Naquele
dia, finalmente e para o seu descanso, o doente entregou a alma a Deus”, o eufemismo é
responsável por suavizar a ideia de morte. Em “Era quase escravidão, mas ela me tratava
como um rei”, a oposição de “escravidão” e “rei” configura a antítese. Em “Os moradores deste
bairro correm um grande risco de serem soterrados por esta montanha de lixo”, há uma
hipérbole pelo exagero da afirmação. Por fim, há prosopopeia em “A neve branca sorria e
convidava os turistas que a viam pela primeira vez a chegar perto”, pois a neve é personificada
com ações humanas.
No fragmento “Estiliano não se alterou: o gerente era uma sombra do meu pai”, o vocábulo
“sombra” é empregado em sentido figurado, visto que foi usado para representar a proximidade
do personagem e seu modo de ação, não para indicar, de fato, um espaço não atingido pela
luz.
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ventos mornos espalharam na terra queimada uma poeira cinzenta”, o narrador recorre à
antítese, marcando de forma direta a oposição em “Frio e calor, trevas densas e claridades
ofuscantes”.
Pode-se afirmar que um aparente paradoxo está presente no último parágrafo, nos aspectos
que a professora e pesquisadora Elaine Caramelo expõe sobre o artista, já que afirma que ele,
embora não demonstrasse acreditar no sonho americano, recorria a representantes do poder
americano em suas obras, isto é, há certa incoerência entre tais pontos.
As opções [A], [C], [D] e [E] transcrevem segmentos em que estão presentes
[A] personificação
[C] metáfora
[D] analogia
[E] linguagem denotattiva
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Legenda:
Q/Prova = número da questão na prova
Q/DB = número da questão no banco de dados do SuperPro®
9.............224399.....Elevada.........Português......Ufrgs/2023............................Múltipla escolha
10...........241176.....Média.............Português......Uea/2024..............................Múltipla escolha
11...........240039.....Baixa.............Português......Uea/2024..............................Múltipla escolha
12...........241179.....Elevada.........Português......Uea/2024..............................Múltipla escolha
16...........223843.....Baixa.............Português......Uea/2023..............................Múltipla escolha
17...........223855.....Baixa.............Português......Uea/2023..............................Múltipla escolha
18...........223851.....Elevada.........Português......Uea/2023..............................Múltipla escolha
19...........223856.....Elevada.........Português......Uea/2023..............................Múltipla escolha
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