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Dizes-me: tu és mais alguma coisa

Neste poema, Alberto Caeiro afasta-se da sua ingenuidade semelhante à


da Natureza, comparado-se a esta.

Dizes-me: tu és mais alguma coisa


Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?

No início do poema, o sujeito poético constata que há diferenças entre ele e


uma pedra ou uma planta. Estas diferenças são o pensamento, os sentimentos, ter
a capacidade de escrever, ter ideias e ter consciência dessas capacidades. O
sujeito possui consciência, enquanto que a planta ou a pedra não.

Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas:
Só me obriga a ser consciente.

Depois de se aperceber de que a consciência não o obriga a conseguir


explicações sobre o mundo. Admite não poder achar-se nem superior nem inferior à
pedra ou à planta, mas apenas diferente. Sim, o sujeito possui consciência, mas
isso não significa que ele tenha que ter opinião sobre as coisas ou aquilo que
acontece.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.


Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

Ter consciência só o obriga a ser consciente e a ver as coisas como elas são.
Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

Por possuímos consciência temos de ter uma opinião sobre as coisas? Ou


será que a consciência tem a mesma importância que a cor? Perante isto, o sujeito
poético torna a afirmar que sabe que é diferente, mas ser diferente apenas lhe
permite isso mesmo, ser diferente, não o torna superior.

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.


Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.

Sendo Caeiro um poeta das sensações, ele não pensa no mundo e na vida,
apenas sente.
É importante realçar a repetição dos verbos ser e existir e da expressão
“meus sentidos”. O que o poeta sabe? Sabe da existência de si, das pedras e das
plantas. A diferença que separa o poeta das pedras e plantas é a consciência de
que ele próprio e as coisas à sua volta existem.

Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.


Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Caeiro está consciente que, relativamente à sua escrita e às suas ideias
sobre o mundo, ele é claramente superior à pedra ou à planta, já que estas não têm
capacidade para escrever nem pensar.
O sujeito poético conclui que cada ser tem a sua função e dever no mundo e
não pode afirmar ser superior a eles apenas por ser poeta.

Mas não digo isso: digo da pedra, «é uma pedra»,


Digo da planta, «é uma planta»,
Digo de mim «sou eu».
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?

Na sua dicotomia de ser ou não ser inferior à pedra ou à planta, o sujeito


poético apenas afirma que cada uma é o que é. Salienta-se aqui o seu objetivismo
próprio: ele apenas é ele mesmo com as suas capacidades e isso basta-lhe.
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Ricardo Reis

O sujeito poético dirige-se ao seu Mestre, Alberto Caeiro, e escreve-lhe


sobre a aprendizagem que fez. O sujeito apresenta-lhe um discurso sobre
como se deve viver. Este enumera uma série de conselhos destinados a um
«nós», no qual ele se inclui, bem como um conjunto de regras, que contêm
uma filosofia de vida.

Na primeira estrofe o sujeito poético refere a solução para como se deve


viver. Este menciona que o tempo que vai passando até chegar a morte (“Todas as
horas que nós perdemos”) tem ser vivido de forma calma se encaramos a vida de
forma leve.
A metáfora usada nos versos 5 e 6 refere isso mesmo (“Qual numa jarra, Nós
pomos flores”). A jarra corresponde às horas e como estas podem ser preenchidas
ou não. Já as flores são a fugacidade da vida, pois assim como os humanos as
plantas murcham (morrem).
Na 2ª estrofe, o sujeito poético defende que devemos manter-nos
indiferentes perante sentimentos intensos, mantendo-nos afastados das
perturbações do quotidiano. Este menciona também que se não soubermos viver a
vida podemos apenas observar a mesma e assim evita-se alegrias e tristezas.

Na 3ª estrofe, o sujeito continua com o mesmo pensamento. Diz que


devemos apenas deixar a vida passar diante de nós.
Diz ainda que devemos considerar a atitude das crianças e viver como elas.
Viver sem preocupações, sem consciência da passagem do tempo e da certeza da
morte. Faz referência também ao bucolismo, que relembra a poesia de Caeiro ao
mencionar que devemos viver a contemplar a Natureza.

Na 4ª estrofe refere mais uma vez, fazendo uso do bucolismo, que a vida
deve ser vivida sem preocupações e sem agitações.
A utilização das expressões «à beira-rio» e «à beira-estrada» remetem a ideia de
nos mantermos na margem da vida sem seguir a estrada, sem estabelecer metas
ou objetivos.

Na 5ª estrofe o sujeito poético debruça-se sobre o tempo e como este passa,


fala sobre como a vida é breve e como a sua passagem nos atormenta, sendo por
este motivo necessário desvalorizá-la. Desse modo o sujeito poético aceita a
passagem do tempo, o envelhecimento e a morte de forma voluntária, porque não
vale a pena combater o inevitável.

Na estrofe seguinte (6), o sujeito poético afirma a inutilidade de qualquer


esforço «Não vale a pena / Fazer um gesto.» (vv. 31-32). pois é impossível escapar
à ação cruel do Tempo, que tudo destrói: “Não se resiste / Ao deus atroz / Que os
próprios filhos / Devora sempre.” ou seja, não vale a pena resistirmos à passagem
do tempo e à morte pois nada podemos fazer para a evitar.
O deus atroz mencionado é Cronos (ou Saturno para os romanos), a
divindade que simboliza o tempo e que devorou cinco dos seus seis filhos mal eles
nasceram com medo que o seu trono lhe seria roubado por um deles.
Nas últimas duas estrofes, o sujeito poético apresenta a solução (“Colhamos
flores. / Molhemos leves / As nossas mãos / Nos rios calmos”, usufruindo do
sensacionismo de Caeiro e explica que devemos viver o momento presente de
forma moderada e calma, na esteira do carpe diem.
Mais uma vez, faz referências à Natureza onde os «rios calmos» simbolizam
a passagem do tempo (em direção à morte), sendo também associado uma ideia
de serenidade.

Os versos 43 e 44 sugerem que devemos seguir o ritmo e o curso da


Natureza e das suas leis. As referências aos «girassóis», às «flores» e aos «rios»
apresentam a Natureza como a realidade com que o «nós» se identifica e deve
seguir. Se assim o fizermos, encararemos o momento da morte de forma tranquila e
viveremos a vida sem sensação de culpa: “Da vida iremos / Tranquilos, tendo / Nem
o remorso / De ter vivido.”.

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Álvaro de campos
Adiamento

O poema “Adiamento” enquadra-se na fase “intimista” de Álvaro de


Campos, uma fase posterior à grande ebulição modernista, onde os textos de
Campos exaltavam sobretudo a modernidade e a civilização.
Estamos perante uma fase que mostra sobretudo um grande cansaço e
desilusão com a vida.
O título esclarece-nos sobre o propósito do poema, onde nos é
apresentado um pensamento cansado que transmite a ideia de que nada é
possível na vida.
A sua desilusão corresponde ao que o sujeito sente que não conseguiu
atingir, sentimento que acompanha Pessoa ao longo de sua vida.

«Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo» - 1º diapositivo

A sociedade que o sujeito conhece não lhe interessa pela simples razão que
nela convivem indivíduos que sentem de modo convencional e que vivem as
respetivas vidas de acordo com normas que o sujeito poético não se identifica.
Assim sendo, prefere isolar-se da restante humanidade. Campos simula
então um pacto com essa sociedade que rejeita e imagina planos para se identificar
com esses outros. No entanto, como ninguém lhe interessa realmente, vai adiando
sucessivamente esses planos.
A vida real do sujeito poético é por ele metaforicamente caracterizada como
«um sono». O termo revela que o sujeito poético vive numa constante apatia
relativamente a tudo e a todos como um sonâmbulo.
O que realmente lhe interessa no presente são as recordações da sua
infância, o tempo em que ia ao circo e era feliz: «Quando era criança o circo de
domingo divertia-me toda a semana.» (2º diapositivo) As recordações infantis
contrastam com o momento atual. Apenas as recordações lhe dão algum prazer.
Porém estas também contribuem para o entristecer já que o passado recordado não
voltará. A infância simboliza a vida vivida com espontaneidade, sem a sensação de
isolamento que vive no presente. A infância é também a época em que a vida
parece eterna e tudo é permitido, contrastando com as responsabilidades da vida
adulta. O adulto tem de se inserir na sociedade, mas o sujeito poético recusa essa
vida. Assim, embora se lamente, o sujeito poético não deixa de insinuar a sua
superioridade relativamente aos demais. Portanto, sofre a solidão em que ele
próprio escolheu viver.

As expressões anafóricas: «Amanhã é o dia dos planos./ Amanhã


sentar-me-ei à secretária para (…)», «Depois de amanhã terei (…)/ Depois de
amanhã serei (…)» mostram o «adiamento» de qualquer ação que vise alterar o
presente do sujeito poético e contribuem, por isso, para aumentar a dor do sujeito.
«Tenho vontade de chorar,/ Tenho vontade de chorar muito de repente, de
dentro…»

A ironia assim como a crítica à sociedade estão presentes em afirmações


como estas: «Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo…/ Antes,
não…/ Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.» (2º e 3º)
O «espectáculo» da sociedade não lhe agrada porque é sentido como uma
superficialidade com a qual não deseja fazer parte. Esta superficialidade de gente
com ideias convencionais e banais leva-o a pôr de lado qualquer tentativa de se
explicar, já que isso nada resolve. «Não, não queiram saber mais nada, é
segredo, não digo.» e, ainda, «Amanhã te direi as palavras, ou depois de
amanhã…/ Sim, talvez depois de amanhã…» (3) Assim o interlocutor implícito no
poema é visto como incapaz de compreender o pensamento do sujeito, o que
contribui para mostrar a superioridade sentida pelo sujeito poético relativamente à
sociedade à sua volta. Isto explica claramente a constante desistência pela parte do
sujeito a qualquer projeto que o inserisse nesse mesmo meio.

Como o sujeito é consciente das diferenças que o separam dos outros e sabe
que o passado feliz é irrepetível, resta-lhe viver com a amargura de que a
capacidade de reflexão não interessa à maioria das pessoas.
Cousas a dizer em AP:

panteísmo doutrina segundo a qual deus não é um ser pessoal distinto do mundo:
deus e o mundo seriam uma só substância

Bibliografia

➔ https://www.casafernandopessoa.pt/pt/fernando-pessoa/obra/alberto-caeiro ;
➔ https://www.ebiografia.com/ricardo_reis/ ;
➔ https://www.ebiografia.com/alvaro_de_campos/ ;
➔ http://arquivopessoa.net/textos/3358 ;
➔ http://arquivopessoa.net/textos/3408 ;
➔ https://esjapportugues12.blogs.sapo.pt/737.html ;
➔ https://prezi.com/mp9ll_eyatl-/sentes-pensas-e-sabes-que-pensas-e-sentes/ ;
➔ https://portugues-fcr.blogspot.com/2021/01/analise-de-mestre-sao-placidas.html ;
➔ https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/ricardo-reis.htm ;
➔ https://portugues-fcr.blogspot.com/2021/01/analise-de-mestre-sao-placidas.html ;
➔ Fernando Pessoa · Casa Fernando Pessoa ;
➔ https://sites.google.com/site/apontamentoslimareis/adiamento ;
➔ https://atena2010.wordpress.com/2011/04/19/adiamento-alvaro-de-campos/ ;
➔ https://brasilescola.uol.com.br/literatura/alvaro-de-campos.htm ;
➔ https://www.youtube.com/watch?v=Hb1_gKLWaGM&t=1s ;
➔ https://www.youtube.com/watch?v=Du2yqG-6XsI&t=8s ;
➔ https://www.youtube.com/watch?v=Z6wNazSuRFc&t=6s ;
➔ https://www.youtube.com/watch?v=fWueJs9Y2Lo&t=1s ;
➔ Imagens retiradas do Google Images ;

Concluindo, os heterónimos são completamente diferentes entre si, mesmo tendo sido formados
pelo mesmo poeta. Cada um deles apresenta diferentes crenças e, consequentemente, diferentes
características estilísticas e temáticas. Isto mostra claramente a capacidade de Pessoa de se
transfigurar e de se transformar noutros poetas.

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