Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Na obra de Caeiro, há um objectivismo absoluto. Não lhe interessa o que se encontra por de trás das
coisas. Recusa o pensamento, sobretudo o pensamento metafísico. Para representar esta temática,
podemos recorrer a alguns versos do “guardador de rebanhos”:
“Porque pensar é não compreender ...”
“O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos)”
“Pensar incomoda como andar à chuva”
“Porque o vejo. Mas não penso nele”
“O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.”
“Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar”
Caeiro é o poeta do olhar, procura ver as coisas como elas são, sem lhes atribuir significados ou
sentimentos humanos. Considera que as coisas são como são. Este aspecto da poesia do “Mestre”
pode ser comprovado nos seguintes versos:
“As cousas não têm significação: têm existência.”
“Cada coisa é como é”
“Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,”
“A luz é a realidade imediata para mim”
A poesia de Caeiro é construída através das sensações, apreciando-as como boas por serem naturais
(para ele o pensamento torna a realidade abstracta/confusa, tornando-a “irreal”).
“Para além da realidade imediata não há nada”
“Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...”
“Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar”
“E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.”
Caeiro vê o mundo sem a necessidade de explicações, sem princípio nem fim, e confessa que existir
é um facto maravilhoso, por isso crê na “eterna novidade do mundo” (“Sinto-me nascido a cada
momento”).
Condena o excesso de sensações, pois a partir de um certo grau de sensações passam de alegres a
tristes. Podemos comprovar isto, temos por exemplo:
“Me sinto triste de gozá-lo tanto.”
Caeiro escreve espontaneamente, sendo a sua poesia inegavelmente natural, como podemos verificar
nos seguintes versos:
“Não me importo com as rimas”
“E a minha poesia é natural como o levantar-se vento...”
“E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada.
E assim escrevo, ora bem ora mal,
Ora acertando com o que quero dizer ora errando,”
Optando pela vida no campo, acredita na Natureza, defendendo a necessidade de estar de acordo
com ela, de fazer parte dela. Para comprovar este facto, temos os seguintes versos:
“E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada.”
“Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,”
O “Mestre” mostra-se um poeta pagão, que sabe ver o mundo dos sentidos, ou melhor, sabe ver o
mundo sensível onde se revela o divino, em que não precisa de pensar, como podemos ver em:
“Não acredito em Deus porque nunca o vi”
“Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;”
“E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,”
O poeta confessa, no poema “guardador de rebanhos”, não ter “ambições nem desejos”. Ser poeta é a
sua “maneira de ficar sozinho”.
Linguagem e Estilo
Ao analisar os poemas de Alberto Caeiro (anexos) pode concluir que o poeta utiliza:
Composição poética: verso livre; ausência de rima e métrica regular; esquemas rítmicos diversos;
presença de assonâncias; de aliterações e de onomatopeias.
Linguagem: simples, repetitiva, oralizante e prosaica; rara adjectivação; predomínio do verbo “ser”
e do Presente do Indicativo.
Sintaxe: simples, com predomínio da coordenação.
Estilo: discursivo, com uso de paralelismos, assíndetos, polissíndetos, tautologias, comparações e
metáforas.
Disciplinado, abdica de lutar e conforma-se com a condição trágica da existência; Reis prepara-
se para a morte (encenação) através da sua filosofia de vida: ele não é ator na vida, porque não
age; ele é um passivo espectador da vida que passa - «Sábio é o que se contenta com o
espetáculo do Mundo.»)
Na poesia de Ricardo Reis, há um sentimento da fugacidade da vida, mas ao mesmo tempo uma
grande serenidade na aceitação da relatividade das coisas e da miséria da vida. Para o poeta, a vida é
efémera, ou seja, curta, e o futuro é imprevisível, sendo por isso que Reis estabelece uma filosofia de
vida: “carpe diem”, isto é, aproveitar o momento, o prazer de cada instante. Estas temáticas estão
presentes nos seguintes versos:
“Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem”
“Breve o dia, breve o ano, breve tudo.
Não tarda nada sermos”
“O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.”
Embora tema a morte, pois desconhece-a, não contesta as leis do destino, às quais nem os deuses são
superiores, e por causa das quais afirma não ter liberdade:
“Como acima dos deuses o Destino
É calmo e inexorável,”
“Na sentença gravada do Destino”
Reconhecendo a fraqueza humana e a inevitabilidade da morte, Reis procura uma forma de viver
com um mínimo de sofrimento. Para isso, defende um esforço lúcido e disciplinado para obter uma
calma qualquer. Para comprovar isto, temos como exemplos os versos:
“Igual é o fado, quer o procuremos,
Quer o 'speremos”
“O Fado cumpre-se.”
“O Fado nos dispõe, e ali ficamos”
“Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! —“
Sendo um epicurista (pessoa dada à satisfação dos sentidos), o Poeta procura o prazer, sabiamente
gerido, com moderação e afastado da dor. Reis afirma que o ser humano deve ordenar a sua conduta
de forma a viver feliz, procurando o que lhe agrada.
“Na sentença gravada do Destino
Quero gozar as letras.”
“Tanto quanto vivemos, vive a hora”
“Cada dia sem gozo não foi teu”
“Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!”
“Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,oç-+´\…
Se quise'ssemos, trocar beijos e abraços e carícias,,. ´
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.”
“Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,”
A obra de R. Reis apresenta um epicurismo triste, uma vez que busca o prazer relativo, uma
verdadeira ilusão de felicidade, pois sabe que tudo é transitório. Podemos comprovar este facto nos
seguintes versos:
“Gozo sonhado é gozo, ainda que em sonho”
“Vem sentar-te, comigo, Lídia”
“A vida que deslembro,
Assim meus dias seu decurso falso”
“Na inteira liberdade
Que é a ilusão que agora
Nos torna iguais dos deuses.”
Próximo de Caeiro, há na sua poesia um fascínio pela natureza onde busca a felicidade relativa,
como se comprova nos seguintes versos:
“E os olhos cheios
De Natureza ...”
“E no seu calmo Olimpo
São outra Natureza.”
Ricardo reis refugia-se na aparente felicidade pagã que lhe atenua o desassossego. Procura alcançar a
quietude e a perfeição dos deuses, desenhando um novo mundo à sua medida:
“E no seu calmo Olimpo
São outra Natureza.”
“Tão pouco livres como eles no Olimpo,”
“Quer sobre o ouro de Apolo
Ou a prata de Diana”
“E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas”
O poeta afirma a crença nos deuses e nas presenças quase-divinas que habitam todas as coisas.
Afirma que os homens devem ter um “fado voluntário”, isto é, fingirem que são donos de si mesmos.
Nos seguintes versos podemos confirmar esta temática de Reis:
“Acima de nós-mesmos construamos
Um fado voluntário
Que quando nos oprima nós sejamos
Esse que nos oprime,
E quando entremos pela noite dentro
Por nosso pé entremos.”
“Os deuses concedem
Aos seus calmos crentes
Que nunca lhes trema
A chama da vida”
“A nossa vista as casas,
Podemos crer-nos livres.”
“Feliz em suma — quanto a sorte deu
A cada coração o único bem
De ele poder ser seu.”
Linguagem e Estilo
Ao analisar os poemas de Ricardo Reis (anexos) pode concluir que o poeta utiliza:
Composição poética: ode (tem a sua origem na poesia clássica grega), composição poética de
exaltação, era dotada de um esquema rígido na época clássica, mas os poetas modernos
abandonaram essa rigidez e usaram-na com esquemas variados.
Verso: regular – decassílabo alternado ou não com o hexassílabo; branco com recurso à assonância,
à aliteração e à rima interior.
Linguagem: erudita, latinizante (recurso a latinismos – utilização de locuções ou palavras próprias
da língua latina), como “vólucres, “insciente”, “óbulo”, “ínfero”, “estígio”. Uso frequente do
Gerúndio e do Imperativo.
Sintaxe: complexa, com predomínio da subordinação.
Estilo: denso, cuidadosamente construído, através de anástrofes (inversão da ordem normal das
palavras para se dar mais realce ao pensamento), hipérbatos (alteração da ordem mais comum das
palavras, prejudicando a clareza da expressão) e perífrases que remetem para a mitologia grega e
latina. Submissão da forma ao conteúdo.
consciência (lucidez) que desencadeia uma reflexão existencial angustiante; o vazio, a falta de afeto e a
ausência de ligação aos outros;
Linguagem e Estilo
Ao analisar os poemas de Álvaro de Campos (anexos) pode concluir que o poeta utiliza:
Composição poética: ode; quadra; verso em geral muito longo; ausência de rima; recurso à
onomatopeia, à aliteração, assonância e à rima interior.
Linguagem: simples, repetitiva, mistura de registos de língua; uso de interjeições; estrangeirismos,
neologismos.
Sintaxe: construções nominais infinitas e gerundivas.
Estilo: esfusiante, torrencial; com recurso a onomatopeias, anáforas, apóstrofes, enumerações,
oximoros; pontuação expressiva (exclamação, interrogações, reticências).
O tom arrebatado e a paixão pelo Moderno da fase futurista leva-nos a constatar o imaginário
épico: surge associado ao sujeito poético que sabe que é impossível encontrar a perfeição, porque deve
morrer em breve (“Se eu não morresse, nunca!” - O Sentimento dum Ocidental IV), então deseja que as
futuras gerações consigam mudar a sociedade tornando-a perfeita.