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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA E INTERCULTURALIDADE
DOUTORADO EM LITERATURA E INTERCULTURALIDADE

COMO CONCHAS MORTAS QUE O MAR ABANDONARA


A SOLIDÃO EM MARIA JUDITE DE CARVALHO E DULCE MARIA CARDOSO

Rodrigo Luiz Castelo Branco Fischer Vieira

Projeto de tese apresentado ao Programa de Pós-


Graduação em Literatura e Interculturalidade, da Universidade
Estadual da Paraíba, como requisito para qualificação do Curso
de doutorado na Linha de pesquisa Literatura, memória e
estudos culturais.
Orientadora: Francisca Zuleide Duarte de Souza

Campina Grande, PB
Agosto, 2023
RESUMO

Esta tese propõe um estudo, com base na teoria das representações sociais,
formulada por Moscovici, das diferentes expressões da solidão e da ausência
em duas obras de escritoras portuguesas: Maria Judite de Carvalho, Seta
despedida, de 1995, e Dulce Maria Cardoso, Tudo são histórias de amor, de
2017. Através da leitura do comportamento, de falas e de atitudes, e da análise
de aspectos psíquicos de personagens femininos das duas escritoras,
pretende-se, ao final, traçar um panorama conciso dessas mulheres que
habitam narrativas marcadas por ausências reais e simbólicas, além da
questão da incomunicabilidade do “eu”. Apesar de ter escrito a mulher do
século XX, Maria Judite de Carvalho, hoje com antenas atentas, ainda fala. A
escritora capta perfis femininos atuais marcados por uma dependência físico-
psicológica, mantidas em posições de subalternidade dentro de uma lógica
patriarcal renitente, com seus desejos, seus prazeres e suas identidades
tolhidas. Um tipo de solidão sem cura e sem saída é recorrente em sua obra.
Uma solidão que se reproduz na consciência e no entendimento de mundo
dessas personagens, sobretudo, femininas e urbanas. Sublinhadas também por
uma ideia de solidão profunda, as personagens de Dulce Maria Cardoso
apresentam um vazio ou ausência existencial sob diversas formas: luto,
desestrutura familiar, orfandade. Nota-se, na mulher de Cardoso, sujeitos
femininos mais ousados e aguerridos contra uma sociedade androcêntrica e
patriarcal. São personagens que buscam romper com formas de invisibilidades
provocadas pelos desconfortos derivados da desigualdade social e de gênero.
Ao privilegiar o estudo comparado entre as duas escritoras, objetiva-se, em
primeiro lugar, estabelecer uma conexão temporal entre ambas, já que
Carvalho escreveu a mulher de um mundo pós-guerra, e Cardoso, em meio à
crise do capitalismo, expõe dramas cotidianos de sujeitos diáfanos. Em
segundo, entender os impulsos de comportamentos humanos diante de
eventos semelhantes, pensando os textos literários como construtos sociais
alicerçados por questionamentos humanos tais como o desespero ao amor e à
morte, a indiferença, a maldade e, sobretudo, a solidão. Portanto, a construção
da personagem contemporânea sob aspectos da solidão é o ponto a que esta
tese se direcionará, amparada por teorias críticas nessa perspectiva.
Palavras-chave: Maria Judite de Carvalho. Dulce Maria Cardoso. Solidão.
Representação. Representações sociais. Literatura.
Sleeper, de 1994, Paula Rego 1

1
A pintora luso-britânica, Paula Rego, exibe em muitas de suas telas, como Sleeper, uma
solidão atrelada à condição de “ser mulher” numa sociedade ainda misógina, num mundo que
insiste em negar direitos básicos, culminando em fragilidade e abandono.
1. INTRODUÇÃO

“Estar só é a condição original de todo ser humano. Cada


um de nós é só no mundo.”

Martin Heidegger

“A civilização converteu a solidão num dos bens mais


preciosos que a alma humana possa desejar.”

Gregorio Marañon

As citações que abrem este trabalho prenunciam como a solidão se nos


apresenta de modo paradoxal. Para Heidegger, ela é registrada sob o viés
ontológico, como originária e constitutiva da natureza humana; para Marañon, a
solidão é vista como um escape que permite ao sujeito nutrir sua
individualidade. Na esteira da perspectiva heideggeriana 2, a solidão,
inescapável a condição humana, sugere que a maioria das pessoas vive imersa
na dispersão e no barulho do mundo cotidiano, evitando assim o confronto com
sua própria solidão e inautenticidade, mas pode também se configurar, no
entendimento habitual, como algo terrível e que faz adoecer. Entre estes
extremos, há uma perspectiva dual que concebe os conceitos de Solidão e
Solitude, grosso modo, parte negativa e positiva da solidão, respectivamente.
Dessa maneira, a solidão (ou solidões) se apresenta como uma condição que

2
Em sua obra "Ser e Tempo", o filósofo alemão Martin Heidegger discute a questão da solidão
de uma maneira peculiar. Heidegger argumenta que a solidão é uma condição fundamental da
existência humana e não deve ser vista meramente como uma ausência de contato social. Para
Heidegger, a solidão não é um estado negativo a ser superado, mas sim uma dimensão
essencial da existência autônoma. No entanto, é somente ao confrontar e abraçar essa solidão
que podemos alcançar uma existência autônoma. Heidegger argumenta que a compreensão e
a compreensão do ser são possíveis apenas quando nos confrontamos com nossa própria
finitude e solidão. Ele afirma que a experiência da solidão nos coloca diante de nós mesmos,
forçando-nos a confrontar nossa individualidade e responsabilidade existencial. Através dessa
experiência solitária, podemos nos abrir para uma busca mais profunda de significado e
confiança. No entanto, Heidegger também adverte que a solidão autônoma não deve ser
confundida com o isolamento social ou o individualismo egoísta. Ele enfatiza que a solidão
autônoma não é uma retirada do mundo ou uma negação dos outros, mas sim um
reconhecimento da singularidade e da liberdade do ser humano. É uma abertura para o mundo
e para os outros a partir de um espaço interior de reflexão e autoconsciência. Assim, para
Heidegger, a solidão não é simplesmente um estado de solidão emocional ou social, mas uma
dimensão existencial que nos coloca diante de nossa própria individualidade e nos permite
buscar uma referência e um sentido mais profundo na existência.
pode ser ontológica, o sujeito não é livre para escolher a solidão, posto que ela
lhe é imposta pela própria natureza; quanto social, que, por sua vez, pode ser
voluntária e consciente ou imposta pelas circunstâncias as quais o sujeito está
exposto.
Fenômeno complexo e multidimensional, nesta tese, procuro lançar luz
sobre alguns aspectos da solidão a partir do farol da literatura. Em especial das
obras Seta Despedida, de Maria Judite de Carvalho e Tudo são histórias de
amor, de Dulce Maria Cardoso. Objetivo, ao final dessa análise, tentar
reconhecer como a solidão é ressignificada nessas narrativas, e como as
personagens dessas obras se comportam diante dessas solidões concebidas
de dizeres, de sujeitos e de sentidos outros.
Ambas exploram a solidão como um estado de isolamento emocional e
existencial, levando seus personagens e narradores a refletirem sobre suas
vidas e buscarem uma conexão com os outros.
Meu interesse pela literatura portuguesa surgiu no mestrado ao conhecer
as obras de escritores como Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz, Valter Hugo
Mãe e tantos outros criadores lusos com suas inventividades narrativas,
criando mundos com palavras e frases desafiadoras a quem as lê. Numa
tentativa de definir minhas sensações leitoras das obras dos portugueses
contemporâneos que compõem minha biblioteca particular, recorro à paráfrase
a Heráclito que Alberto Manguel cria ao se referir a sua biblioteca: “nunca
mergulhas no mesmo livro duas vezes”. Uma nova leitura é outra leitura nova.
A escrita portuguesa contemporânea, a meu ver, ora afronta o leitor que queda
desnorteado a cada encontro com a palavra, ora se materializa como ponto
norteador no GPS do mundo contemporâneo. Os portugueses constroem um
mundo que é um manual de não entender os outros.
Conheci pessoalmente Dulce Maria Cardoso em 2012, ano em que ela
participou da mesa Em Família no Festa Literária Internacional de Paraty
(FLIP). Na ocasião, havia lançado pela editora Tinta da China o livro O Retorno,
romance autoficcional sobre a descolonização dos brancos em Luanda, em
1970, onde aos seis anos vivia com seus pais. Tomou-me de assalto esse
romance amadurado em plena forma de sua escrita que usa com maestria as
particularidades de uma pós-memória na literatura contemporânea portuguesa
ao explorar a capacidade dos sujeitos de vivenciarem os acontecimentos e
contá-los ao mesmo tempo ou décadas depois. Isso significa que a narrativa
não se limita apenas à memória individual da autora, mas também inclui a visão
do protagonista Rui, que retorna a uma pátria desconhecida. Essa abordagem
mnemônica que permite a escrita de Cardoso explorar lacunas do passado,
trazendo à tona traumas e verdades, oferece-nos perspectivas mais amplas
sobre a experiência, no caso do romance, dos retornados e seus
descendentes, mas que também é recorrente na obra de Cardoso.
Meu primeiro contato com a obra de Maria Judite de Carvalho foi no
mestrado a partir da leitura do conto Seta Despedida, um texto de aparente
simplicidade que acoberta uma enorme complexidade e refinamento. Carvalho
constrói textos de maneira bastante peculiar, utilizando a economia e a sutileza
para des-cobrir significados escamoteados. Numa linguagem cuidadosa e
precisa, a autora explora temas profundos, como a ausência de identidade e a
imposição de rotinas. Produzindo imagens marcadas pela sutileza, Cardoso
conduz seu leitor pelo encantamento das descobertas às incertezas de quem
beira abismos.
Em tempos inquietantes como o nosso, de indefinições, de contradições,
de conflito civilizacional, a solidão, como tema, chegou a mim, tenho certeza,
nos dias difíceis de isolamento social, durante a pandemia de 2020. A
quarentena me fez perceber o quão esse assunto pode compor um
caleidoscópio de olhares ora positivos, ora negativos. A pandemia nos obrigou
e ainda obriga a repensar as bases de nossa civilização. O ser humano
contemporâneo diante de avanços significativos da globalização, da
urbanização, da revolução tecnológica, foi surpreendido por um impiedoso vírus
que se espalhou com velocidade implacável por todos os quadrantes do
planeta, não poupando regiões ricas de tecnologias avançadas, nem pobres
com condições sanitárias impraticáveis. A solidão chega, nesses dias,
remodelada pelo caos da vida moderna.
É óbvio que a solidão é um sentimento independentemente de gênero.
No entanto, ela pode ter um impacto particularmente significativo na vida das
mulheres devido a influências culturais e sociais que as afetam de maneira
desproporcional. Mutações significativas dos papéis femininos, como a
inserção ao mercado do trabalho, ao ambiente político, ao mundo das artes,
podem ter ampliado a rede social das mulheres e dirigido seus interesses para
além de uma constituição familiar tradicional. Ainda assim, o peso sócio-cultural
da solidão parece ser maior sobre elas. O papel social, porém, ainda pesa.
Mulheres são, historicamente, socializadas para serem cuidadoras e para
desempenhar papéis tradicionais de gênero, como serem esposas e mães.
Como resultado, há o enfrentamento a pressões sociais ditadoras de escolhas
particulares como o casamento e a maternidade. Um sentimento de
inadequação pode surgir do desvio a essas perspectivas impostas: se não
encontram um parceiro ou não têm filhos. Além disso, outro fatores como o
enfrentamento a dificuldades financeiras e sociais, a sobrecarrega com o
trabalho doméstico, ter menos acesso a oportunidades no mercado de trabalho
e o enfrentaento da discriminação na sociedade, podem ser condutores ao
sentimento de isolamento. A falta de suporte social pode afetar negativamente
a saúde mental, aumentando o risco de depressão e ansiedade.
Tanto a obra de Carvalho como a de Cardoso trazem personagens que
revelam como pensam, se comportam, idealizam valores, sobretudo, no que
cabe ao universo feminino. Tais personagens, mesmo atuando como dita as
rubricas do teatro social, são tomadas por inquietação e sensação de não
pertencimento. A solidão, o abandono e a exclusão emergem desse processo,
que, de certo modo, pode também mover outro processo, o de conscientização
do eu feminino. A proteção como opressão, a separação como abandono, a
ruptura emocional e o trauma não ultrapassado, talvez sejam os motivos do
estado de solidão. A solidão, talvez, seja transformadora, participando na
estruturação da autonomia dessas personagens.
Proponho, por fim, o exame reflexivo da solidão humana em suas mais
diversas especificidades constituintes e das perguntas surgidas do encontro
com essas personagens literárias:
1. A solidão humana deve ser observada particularmente ou pela relação
de contraste com sua antagonista, a não-solidão?
2. Como essa relação de contraste é construída? O que referencia o estar
sozinho ou acompanhado?
3. O que torna a solidão efetiva ou evitada? Um outro ente, humano ou
metafísico? E terá este outro ente a identificação com o que é humano
(na aparência, na maneira de viver)?
4. A presença ou ausência de outro ente são causas suficientes da solidão
e da não-solidão? Ou será preciso pensar em alguma coisa a mais?
Pensar em algo sem o qual a presença ou ausência de outro ente não
implique no estado de solidão e de não-solidão?
5. É possível elencar categorias de solidão? Que possíveis parâmetros
existenciais subentendem-se desta especificação?
6. Os fenômenos de solidão e de não solidão são partes circunstanciais da
condição humana, sobretudo, da mulher?
7. Como a solidão dos personagens se relaciona com a vida privada e
pública na sociedade?
8. A personagem literária tem condições de reproduzir com relevância o
peso do fenômeno da solidão? De que modo, elas refletem e imprimem
a possibilidade da solidão e da sua ausência na nossa forma de viver?
9. E, finalmente, nossas convicções sobre solidão e não-solidão serão
suficientes para resolver estes dois fenômenos ou serão incapazes de
esgotar tais discussões, sobretudo, pelo caráter mutante de sentido
deles? E, confirmada essa condição mutante, de que modo e a que
ponto é que essas transformações de sentido afetariam ou não o
comportamento das personagens analisadas e, consequentemente, a
nossa maneira de viver e de seguir alguma orientação em nossa
existência habitual?

Partindo dessas questões, essa tese, surgida numa série de incertezas,


propõe-se, ao final, ser um composto mutante, um sistema flexível de notações
em torno das discussões sobre solidão, tal como esse conceito se acha
formulado, à partida, de entendimentos habituais do que é solidão e, além
disso, de uma certa compreensão da maneira como esse fenômeno deve ser
investigado.
1.1. SOLIDÃO, SOLIDÕES, É QUESTÃO DE OPINIÕES

Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é


sozinho.
João Guimarães Rosa. Grande Sertão:
Veredas

Quem muito se evita, se convive.


João Guimarães Rosa. Grande Sertão:
Veredas

Double Heads on Red, de 2014, George Condo3

Feita essa inserção, breve, entro no território dos exames inacabados e


inacabáveis sobre solidão. Numa tentativa de definição, submeto a temática
aos saberes de autores diversos, salientando a vitalidade fecundadora desse
assunto. Discutida por uma diversidade de áreas, filosofia, saúde, sociologia,
nesse estudo, o fenômeno da solidão terá enfoque a partir da estética literária.

3
A ansiedade do sujeito está diretamente ligada aos retratos de George Condo que pintam o
grotesco, o medo, o desassossego e o isolamento em si. Ao embaralhar as figuras, o artista
aponta para os conflitos internos do indivíduo, causados pelas perturbações cotidianas do
nosso modo de vida.
Entretanto, num primeiro momento, para compreender o estado de solidão,
uso como base teórica diferentes pensadores que refletem sobre a condição
humana em relação a si mesmo e aos outros.
Começo com a literatura. Retomo ao subtítulo, paráfrase da genialidade
de Guimarães Rosa em Grande Sertão: veredas que, em sua diversidade de
reflexões, também é um ensaio sobre a solidão. Riobaldo, herói problemático à
luz de Lukács4, em seu labirinto narrativo, exprime angústias e
questionamentos existenciais, relacionados a uma solidão profunda. Ele
carrega uma certa sensação de isolamento e vulnerabilidade diante dos perigos
do mundo, sugerindo uma solidão inerente à existência, já que “viver é negócio
muito perigoso”.
O clichê aristotélico, e não por isso menos verdadeiro, afirma que o ser
humano é um animal político, apto a viver em comunidade. A importância das
relações sociais para a constituição e manutenção da maioria dos indivíduos é
inegável. Em contrapartida, o trágico social de sempre, enxerga a solidão, a
limitação nas relações interpessoais, como um grande infortúnio e mal-estar.
Sem indulgência, a solidão é vista como um sentimento desagradável,
resultado, quase sempre, de relações falhadas, indesejáveis ou deficientes,
quando não, sequela de pena ou punição social.
Ademais, a solidão irrompe-se tanto na presença quanto na ausência de
outro /outros. Em meio à adversidade, o sujeito pode redescobrir os aspectos
fundamentais e originais da existência humana como forma de desfrutar da
solidão. Vivência específica para cada indivíduo a partir de ângulos
socioculturais e ambientais, a solidão quando experiência positiva é chamada
de solitude. Nosso processo de composição humana parte de um lugar não-
físico que é a subjetividade do outro. Para manifestar-se como si mesmo, cada
indivíduo precisa ser descoberto por outro. Como afirma Gilberto Safra (2011)
muitas pessoas vivem no mundo com a sensação de não pertencimento, o
habitam sem que “tenham tido início como um ser frente a outro”. E completa:

Há necessidade, para o acontecer humano, de que cada


indivíduo seja recebido e encontrado por outro, que lhe
dê esse lugar e que lhe proporcione o início de si mesmo.
Não é possível falar de quem quer que seja sem que se

4
Georg Lukács. A teoria do romance.
fale de um outro. SAFRA, Gilberto, Prefácio. In: MANSUR,
Lucia Helena B. Solidão-Solitude. P. 11-12.

Recorro a Winnicott5 que, embora não tenha se dedicado explicitamente


ao conceito de solidão ou solitude, seu trabalho oferece insights sobre aspectos
relacionados à experiência humana. A ênfase no papel dos primeiros
relacionamentos, da autorreflexão e do equilíbrio entre convivência e solidão de
Winnicott pode fornecer uma estrutura para entender a experiência da solidão e
a necessidade de conexões significativas na vida humana. Winnicott enfatizou
a importância da relação mãe-bebê no desenvolvimento inicial. De acordo com
Winnicott, uma mãe, ao fornecer um ambiente de apoio e carinho, permite ao
bebê o desenvolvimento de sensações de segurança e um senso saudável de
si mesmo. Essa conexão e sintonia precoces entre o bebê e o cuidador
estabelecem as bases para relacionamentos futuros e a capacidade do
indivíduo para, no pensamento de Winnicott, uma solidão saudável. Para
Winnicott, a solidão saudável é essencial para o bem-estar psicológico. Ele
acreditava que os indivíduos precisam tanto de relacionamento quanto de um
senso de identidade para prosperar. A solidão, ou estar sozinho consigo
mesmo, permite a autorreflexão, a expressão criativa e o desenvolvimento de
um autêntico senso de identidade. É na solidão que uma pessoa pode explorar
seu mundo interior, envolver-se em brincadeiras imaginativas e encontra fontes
de significado pessoal. Winnicott não pretendeu radiografar a solidão, mas
afirmá-la não como exclusividade de adultos. Associá-la, também, à ideia de
abandono. Os bebês nos primeiros dias de vida se sentem abandonados, e
choram pelo colo, pela sensação primitiva e protetora da mãe. Crianças em
idade escolar se sentem excluídas ora pela família no início dos primeiros anos
letivos, ora pelos colegas de classe, durante as férias. Adolescentes não são
imunes à solidão. Nessa fase, é comum nos sentirmos sós por motivos vários:
incomunicabilidade com os pais, inadaptação social, não reconhecimento com
o sujeito em formação.

Por outro lado, Winnicott reconheceu que experiências excessivas ou


prolongadas de isolamento podem ser prejudiciais ao bem-estar de um

5
O pediatra e psicanalista britânico, Donald Woods Winnicott, fez contribuições significativas
para o campo da psicologia infantil e da teoria das relações objetais.
indivíduo. Ele destaca a importância de uma integração equilibrada de
relacionamento e solidão, sugerindo que indivíduos saudáveis são capazes de
ficar sozinhos e estabelecer conexões significativas uns com os outros.
Enxergando a solidão como um sinal de necessidades relacionais não
atendidas, Winnicott destacou a importância do apoio social e das relações
interpessoais no combate aos sentimentos de isolamento.

Escritores como John Donne nos ensinam que “nenhum homem é uma
ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra 6”.
No longo poema épico Le fin de Satan, Victor Hugo manifesta que o “o inferno
inteiro está contido em uma palavra: solidão.” Posteriormente, Victor restaura
suas ideias e revela: “a solidão é boa para as grandes mentes, mas ruim para
as pequenas. Perturba os cérebros que não ilumina” 7. T. S. Eliot corrobora com
a visão hugoana pessimista ao dizer que “o inferno é único, o inferno é estar
só, as suas demais figuras são meras projeções”.
Em 1530, Michel de Montaigne se afastou da vida em sociedade,
inclusive entregou seu cargo de conselheiro no Parlamento de Bordeaux, para
mergulhar em uma vida de solidão. Em 1580, o filósofo e ensaísta
renascentista francês, explorou o conceito de solidão em Os ensaios. A
perspectiva montaigniana sobre a solidão tem um sabor autobiográfico e reflete
suas próprias experiências e observações.
Montaigne parte do questionamento ao adágio “não nascemos para o
interesse particular, mas para o público” e que enfrentamos o alvoroço humano
para retirar dele, do que é público, nosso interesse particular. A ambição nos
dá o gosto da solidão, reforça Montaigne. Na sequência, movimenta seu
pensamento e alarga o campo de significações sobre solidão.
Montaigne viu a solidão como uma oportunidade de se envolver em
introspecção e autorreflexão. Ele acreditava que estar sozinho permite que os
indivíduos explorem seus próprios pensamentos e emoções sem distrações
externas. Na solidão, pode-se mergulhar nas profundezas de seu ser e obter
uma compreensão mais profunda de si mesmo. De acordo com Montaigne,
abraçar a solidão permite que os indivíduos escapem das pressões sociais,
conectem-se com a natureza, encontrem a verdadeira companhia dentro de si
6
Meditação XVII de John Donne (1572-1631) em Devotions upon Emergent Occasions (1624).
7
Victor Hugo. Citado no livro “Elogio à solidão”, Stephen Batchelor (Ed. Gryphus, p. 9). 
mesmos e experimentem liberdade e independência. Montaigne considerava a
solidão um meio de escapar das pressões e influências da sociedade. Ele
acreditava que passar um tempo sozinho permitiria aos indivíduos o
distanciamento das normas, expectativas e julgamentos sociais. Na solidão,
poder-se-iam explorar livremente seus próprios pensamentos e ideias, sem ser
afetado pelas opiniões e preconceitos dos outros.
Montaigne também enfatizou a conexão entre solidão e natureza. Ele
acreditava que estar sozinho em um ambiente natural permite que os
indivíduos se conectem com a harmonia e a beleza do mundo natural. Nesses
momentos, pode-se experimentar uma sensação de tranquilidade e encontrar
consolo na simplicidade da natureza.
Ao contrário da crença popular, Montaigne nota a solidão não como um
estado de isolamento, mas como uma fonte de autêntico companheirismo. Ele
argumentou que a solidão oferece aos indivíduos uma oportunidade de
desenvolver um relacionamento profundo e genuíno consigo mesmos. Ao
abraçar a solidão, a pessoa pode se tornar sua melhor companhia e encontrar
conforto em seus próprios pensamentos.
Por fim, Montaigne entende a solidão como um caminho para a liberdade
e a independência. Ele acreditava que estar sozinho concede aos indivíduos a
liberdade de perseguir seus próprios interesses, pensamentos e desejos sem
quaisquer restrições externas. A solidão permite que os indivíduos cultivem sua
individualidade e desenvolvam um senso de autonomia.
Corrobora com a ideia de solidão montaigniana, a do filósofo francês
Jean-Jacques Rousseau, do século XVIII, que também escreveu
extensivamente sobre a solidão e a necessidade de se reconectar com a
natureza e consigo mesmo, enfatizando a importância de se afastar das
distrações da sociedade para encontrar a verdadeira felicidade.
Ideias semelhantes possuem Friedrich Nietzsche e Ralph Waldo
Emerson. O primeiro explorou a ideia de solidão como uma condição
necessária para o desenvolvimento do século do indivíduo. Nietzsche
argumentou que a solidão pode permitir um autoconhecimento mais profundo
e a criação de valores autênticos. Já o poeta e ensaísta americano também
avaliou a solidão como uma experiência enriquecedora. Waldo Emerson
acreditou na importância de se encontrar consigo mesmo e conectar-se com a
natureza para obter uma compreensão mais profunda do mundo.
O escritor e ensaísta mexicano, Octavio Paz, tem uma bela e célebre
obra, "O Labirinto da Solidão", em que explora a solidão como uma
característica particularmente proeminente na identidade mexicana, mas
também como uma condição fundamental da existência humana, uma
experiência que todos nós compartilhamos em algum momento de nossas
vidas.
Para Paz, a solidão não é apenas um estado emocional, mas uma
condição existencial que molda a maneira como cada indivíduo se relaciona
consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Paz descreve a descreve
como um labirinto, uma metáfora para a complexidade e a profundidade da
experiência humana. Ele argumenta que a solidão é uma condição inerente à
existência humana, mas que é particularmente acentuada na cultura mexicana
devido à sua história única e à sua posição geográfica e cultural entre a
América do Norte e a América Latina. Condição ao mesmo tempo uma fonte de
angústia e uma fonte de força e resiliência, Paz descreve:
"A solidão mostra-nos o que somos e o que perdemos. É
o espelho da morte, é a morte. Quando o homem se
encontra sozinho, se sente vazio e desnudo. A solidão
nos assusta porque é a ante-sala da morte" (Paz, 1950).

A solidão seria para Paz uma experiência paradoxal, pois, embora seja
dolorosa, também é uma fonte de liberdade e autenticidade. E continua:
"A solidão é o fato mais profundo da condição humana. O
homem é o único ser que se sente sozinho e o único que
busca o outro. Sua natureza - se essa palavra pode ser
usada em referência ao homem, que se desnaturalizou a
si mesmo - é buscar o outro, mas ele o busca em vão. O
outro não nos satisfaz nunca. O homem é nostalgia e
busca de Deus" (Paz, 1950).

Vista também como condição coletiva, a solidão é uma característica


definidora da identidade mexicana, moldada por uma história de conquista,
colonização e resistência. Paz enxerga que "O mexicano, seja jovem ou velho,
criollo ou mestizo, general ou operário ou advogado, parece-se consigo
mesmo. A solidão é a profunda solidão do México, e é o que nos define" (Paz,
1950).
Para além do ser mexicano, Paz discute a solidão como uma experiência
universal, transcendendo fronteiras culturais. Questões existenciais mais
amplas, como a busca de significado na vida, a alienação moderna e o
estresse entre individualidade e pertencimento social, seriam as fontes de
solidão. Paz afirma que todos nós, em algum momento de nossas vidas, nos
sentimos sós. Avançando, revela-nos: “todos os homens são sós” (PAZ, 2014).
Para Paz, somos seres abandonados pelo que já fomos e que vivemos num
constante ingresso em um futuro estranho: “O homem é o único ser que se
sente sozinho, o único que é busca de outro” (PAZ, 2014). Entendo esse outro
como alguém externo a cada um de nós ou como um outro que fomos. Paz
continua:
O homem é nostalgia e busca de comunhão. Por isso,
toda vez que se sente a si mesmo, sente-se como
carência de outro, como solidão. (PAZ, 2014)

Paz acredita que ao nascermos deixamos um estado de vida pura em


estado bruto e ingressamos num fluir ignorante de si. Na vida de dentro do
ventre, segundo Paz, não há pausa entre desejo e satisfação:
A nossa sensação de viver se manifesta como separação
e ruptura, desamparo, queda no ambiente hostil ou
estranho. À medida que crescemos, essa sensação
primitiva se transforma em sentimento de solidão. (PAZ,
2014).

Ele descreve a solidão como um estado perigoso e temível,


especialmente para o homem primitivo. O grupo é a única fonte de saúde e o
solitário é visto como um enfermo, uma ameaça à sociedade. Todos os
homens, em algum momento de suas vidas, se sentem solitários; todos os
homens estão solos. Viver é se separar do que fomos para nos tornarmos o
que vamos ser, um futuro sempre estranho. A solidão é o fundo último da
condição humana. O homem é o único ser que se sente sozinho e o único que
busca o outro (P. 85-86). A solidão também é pena, condenação e expiação. É
um castigo, mas também uma promessa do fim de nosso exílio. Toda vida está
habitada por esta dialética (P 86). Paz observa que a solidão é a condição
fundamental e o fundo final da existência após a ruptura com a antiga
sociedade fechada. A solidão e o pecado original se identificam. E saúde e
comunhão voltam a ser termos sinônimos, só que situados em um passado
remoto. Paz também aborda a solidão moderna, promíscua dos hotéis,
escritórios, oficinas e cinemas, que não é uma prova que afina a alma, um
necessário purgatório. É uma condenação total, espelho de um mundo sem
saída.
O ser humano, numa infinda tentativa de resgatar os elos do
paraíso/ventre que o unia à vida primitiva, empreende esforços que buscam
abolir a solidão e a sensação de abandono. Paz elenca ainda duas vertentes
semânticas do sentir-se só: uma que se traduz na consciência de si mesmo; e
outra, no desejo de sair de si. Sendo o ser humano solitário por natureza, a
solidão se manifesta sempre como prova e purgação, que serão superadas
pela plenitude, pela reunião, pela concórdia com o mundo que nos esperam na
saída desse labirinto da solidão.
Noreena Hertz em O século da solidão, a solidão é tanto um estado
interno quanto um estado existencial: pessoal, social, econômico e político. O
solitário, inclusive, modifica o funcionamento da democracia. Ser um cidadão
que não se conecta a outros cidadãos, fragiliza não só o vínculo social, assim
como compromete sua relação também com o Estado.
No livro "Origens do Totalitarismo", Hannah Arendt explora a complexa
interação entre solidão, manipulação e totalitarismo. Ela argumenta que a
solidão, mais do que o isolamento, é uma condição que pode preparar as
pessoas para o domínio totalitário. Arendt distingue entre isolamento, uma
condição política, e solidão, uma condição social. Segundo Arendt:
"O isolamento ocorre no âmbito político, enquanto a solidão
ocorre no âmbito social. Uma pessoa pode estar isolada (ou
seja, incapaz de agir porque não há ninguém com quem agir)
sem estar solitária" (p. 524, 526).

A solidão pode levar à perda do próprio eu, que pode ser realizado
quando se está sozinho, mas cuja identidade só é confirmada pela companhia
confiante e fidedigna dos iguais. Nessa situação, o homem perde a confiança
em si mesmo como parceiro dos próprios pensamentos e perde a confiança
elementar no mundo que é necessária para ter qualquer experiência. Arendt
afirma:
"Uma pessoa pode estar sozinha, isto é, sem companhia, e
ainda assim não estar solitária, desde que acredite no mundo e
em sua própria identidade" (p. 526, 527).
A solidão organizada, de acordo com Arendt, é mais perigosa do que a
impotência organizada de todos os que são dominados pela vontade tirânica e
arbitrária de um único homem:

"A solidão e a dedução do pior por meio da lógica ideológica,


que advém da solidão, representam uma situação anti-social e
contêm um princípio que pode destruir toda forma de vida
humana em comum" (p. 528).

Arendt vê a solidão como uma condição que facilita a ascensão do


totalitarismo8. O isolamento dos indivíduos, os despersonaliza e os torna
suscetíveis ao terror totalitário. Ela conclui:
"O que prepara os homens para o domínio totalitário no mundo
não totalitário é o fato de que a solidão, que já foi uma
experiência fronteiriça, sofrida geralmente em certas condições
sociais marginais como a velhice, passou a ser, em nosso
século, a experiência diária de massas cada vez maiores" (p.
528).

Comumente referida a uma falha nos relacionamentos, por crê-las


desagradáveis ou a uma ausência de satisfação nas relações interpessoais, a
palavra solidão tem sua etimologia referida a ‘só’, termo que, por sua vez, vem
do latim solus e pode significar tanto ‘desacompanhado’ e ‘solitário’ como
‘único’ (CUNHA, 2001).
De seres sociais, para Aristóteles, a seres originariamente solitários,
como aponta Heiddeger, a solidão pode ocorrer tanto na presença quanto na
ausência do outro. A esse respeito, Ruggero (2004) define a solidão
sociológica, que se revela pela ausência dos outros, mas lembra, também, que
a solidão pode ser ontológica – própria do ser enquanto ser - quando se revela
na presença de outros, a também chamada ‘solidão acompanhada’.
Parafraseando a Minkowski, quando define sofrimento, poderíamos dizer que a
solidão também é do domínio do pathos, é “do domínio do pathos humano, e
nele o homem reconhece o seu aspecto humano” (MINKOWSKI, 1999, p. 156).

8
Apesar de não abordar a questão do Totalitarismo diretamente, as autoras escolhidas,
sobretudo Carvalho, viveram, ou vivenciaram consequências, boa parte de suas vidas sob o
regime ditatorial de Salazar.
1.2. A SOLIDÃO É FERA, SOLIDÃO DEVORA - A história da solidão e das
solitárias - Andrômaca, Penelope, Judith (bíblia) …

“Quem não souber povoar a sua solidão,


também não conseguirá isolar-se entre a
gente”

C. Baudelaire

A solidão mostra o original, a beleza


ousada e surpreendente, a poesia. Mas a
solidão também mostra o avesso, o
desproporcionado, o absurdo e o ilícito.
T. Mann. Morte em Veneza

Sem título, de 2010, Josef Hofer9

Desde suas origens, a solidão é companheira da humanidade. Os


contextos históricos-sociais e políticos moldaram os tipos de solidão, bem ou
infortúnio, permitiu com que muitos, a partir dela, chegassem a si mesmos
afastados do caos urbano das multidões, e também foi um manancial de
angústias para os abandonados, excluídos e ignorados.

A solidão para Filón de Alexandria não era algo negativo, mas sim uma
oportunidade para completar sua filosofia e buscar uma conexão com Deus.
Ele via a solidão como um meio de acalmar a mente e focar na meditação e na
contemplação filosófica.
Filón acreditava que a solidão era necessária para alcançar a verdadeira

9
Permeada pelo silêncio e pela solidão, a obra do austríaco, Josef Hofer, tem o isolamento e o
desejo de liberdade como paradoxos fundantes. Surdo e mudo, Hofer expressa em sua arte a
superação, ou até mesmo o triunfo sobre sua deficiência através dos corpos que desenha.
sabedoria e entender os mistérios divinos. Ele acreditava que, ao passar tempo
sozinho, poderia se aprofundar em seu conhecimento e entender a verdade
que estava além do mundo físico.
Assim, a solidão para Filón de Alexandria era vista como uma condição
essencial para a contemplação filosófica e para alcançar a união divina. Ele
acreditava que a solidão era uma benção, não uma maldição, e que a
verdadeira realização espiritual só poderia ser alcançada através da
introspecção e da solitude.
1.3. A CULPA DE PROMETEU, A ANGÚSTIA DE PANDORA

Oh, alegre solidão, companhia dos tristes!

Miguel de Cervantes. Los trabajos de Persiles y


Sigismunda

dia 85: saudades de um corpo que não eu.

Clarissa Mendes. Notas dispersas de uma artista


em quarentena

Prometeu acorrentado, de 1640, Jacob Jordaens

Segundo Minois, a religião, os mitos e a ficção, na Grécia antiga, propõem


uma concepção de solidão primordial, característica constituinte dos heróis. Se
nas cidades, a solidão quase não existia, ou era negada, excluída por “uma
organização coletiva rigorosa”, nos mitos, entretanto, a solidão, embora não
protagonize as ficções, têm aspectos trágicos.
Os mitos de Prometeu e Pandora, por exemplo, se completam em suas
histórias, e de certa maneira, transitam pelas veredas da solidão. Bauman
(2001) salienta que os mitos não são histórias meramente divertidas, mas
objetos de aprendizagem por meios dos quais mensagens se reiteram
constantemente, que só pela escolha individual podem ser esquecidas ou
negligenciadas. Luc Ferry (2022) concorda com Bauman ao não limitar os mitos
à simples diversão literária, mas também visam definir parâmetros de uma vida
bem-sucedida para nós, mortais. Ferry se aprofunda nas obras de Hesíodo,
Teogonia e Trabalhos e dias, para nos contar como os mitos de Pandora e
Prometeu protagonizam a passagem da idade de ouro e para a idade de
ferro10.
Conhecido por sua inteligência e engenhosidade, Prometeu, de linhagem
titã, desafiou os deuses ao devolver aos homens o fogo de Hefesto, o deus
ferreiro, permitindo que eles obtivessem conhecimento e progresso. No
entanto, essa ação desafiou Zeus, o rei dos deuses, que decidiu punir
Prometeu e os homens. O castigo dos homens foi a ‘expulsão’ da Idade de
Ouro, época de grande fartura e que ninguém precisava trabalhar para obter
alimentos e proteção. Como penalidade, Prometeu, por sua vez, foi
acorrentado a uma rocha no topo do monto Cáucaso. Durante o dia, uma águia
devorava seu fígado, que se regenerava durante a noite, perpetuando seu
sofrimento. Prometeu passou anos em sua solidão, suportando a dor constante
de ter seu fígado arrancado repetidamente 11. Privado de qualquer contato
humano, Prometeu, além da dor física, estava condenado a enfrentar seu
castigo em solidão absoluta. Essa história mitológica destaca a natureza
torturante da solidão e os efeitos devastadores que ela pode ter sobre a psique
humana. Prometeu, apesar de sua inteligência e astúcia, foi isolado e
submetido a uma dor constante como punição por suas ações.

10
De acordo com a obra de Hesíodo, existem cinco idades distintas: Idade de Ouro, Idade de
Prata, Idade de Bronze, Idade dos Heróis e Idade de Ferro. A Idade de Ouro é considerada a
primeira e mais perfeita era da humanidade. Durante esse período, os seres humanos viveram
em completa harmonia e felicidade. Não havia dor, sofrimento ou conflitos. As pessoas viviam
em paz, desfrutando de uma abundância de alimentos e riquezas. A doença e o sofrimento
eram praticamente desconhecidos, e as pessoas morriam pacificamente em um sono tranquilo.
Nesta era, as pessoas também tiveram contato direto com os deuses e viviam sob sua
proteção. Na era seguinte, a Idade de Prata, os seres humanos decidiram se tornar mais
egoístas e desobedientes aos deuses. Viveram pela primeira vez as estações do ano e as
pessoas tiveram que aprender a cultivar a terra para sobreviver. A Idade de Prata foi
caracterizada por uma sociedade mais fragmentada e menos perfeita em comparação com a
Idade de Ouro. Na sequência, veio a Idade de Bronze, os seres humanos tornaram-se ainda
mais belicosos e agressivos. Eles sabiam usar armas de bronze e lutar entre si. A Idade de
Bronze foi marcada por guerras e violência, com as pessoas se engajando em batalhas
sangrentas. A Idade dos Heróis ocorreu após a Idade de Bronze. Nesse período, viveram os
grandes heróis e semideuses da mitologia grega, como Hércules e Perseu. Eles eram
considerados filhos de deuses e mortais, e suas histórias eram cheias de heróis feitos e
aventuras extraordinárias. A última era, a Idade de Ferro, é considerada a mais degenerada de
todas. Nesta era, a humanidade caiu em uma profunda degradação moral. As pessoas se
tornaram gananciosas, injustas e desrespeitosas. Não havia mais respeito pelos deuses, nem
pela justiça ou pela moralidade. Hesíodo descreve a Idade de Ferro como um tempo de
sofrimento, em que as pessoas se esforçavam para sobreviver e enfrentavam dificuldades
constantes. A guerra, a fome e as doenças eram comuns nessa era.

11
Na Teogonia, Hesíodo afirma que Héracles, filho de Zeus e da mortal Alcmena, liberta
prometeu de seus tormentos.
Na esteira do mito de Prometeu, surge o de Pandora, a primeira mulher
humana. Zeus, com um propósito malicioso de castigar ainda mais aos
homens, ordenou que Hefesto criasse uma mulher chamada Pandora.
Modelada à imagem e semelhança das deusas, dotada de beleza e encanto
irresistíveis, Pandora foi enviada a Epimeteu, irmão de Prometeu, como um
presente. Com ela, Zeus enviou uma jarra, advertindo para que ela nunca a
abrisse. Incapaz de resistir à tentação e a curiosidade, Pandora abriu a jarra,
liberando, assim, todos os males e desgraças que afetariam à humanidade:
doenças, guerras, fome, pobreza, solidão. Assustada e desesperada, Pandora
deixa pendurada nas bordas da jarra um último elemento: a esperança.
Embora Pandora tenha desencadeado sofrimento sobre a humanidade,
a esperança é registrada como um elemento que poderia trazer conforto e
consolo. Para Ferry, apesar de Hesíodo parecer tremendamente misógino, o
mito de Pandora representa a dualidade inerente à condição humana. Pandora
é um símbolo das potencialidades e dos perigos da existência humana. Ao
mesmo tempo em que traz consigo as aflições e as adversidades do mundo,
ela também traz a esperança, a capacidade de superação e a busca pelo
sentido da vida. Para Ferry, a jarra de Pandora simboliza a curiosidade humana
e o desejo de conhecimento. Ele argumenta que, ao abrir a jarra, Pandora
desencadeou todas as calamidades e sofrimentos da humanidade, apesar de
ter deixado o único elemento que poderia mitigar o sofrimento humano, a
esperança, o ato de Pandora abate sobre os homens a infelicidade suprema, a
morte:
à nova vida que a mulher dá - quando se passa do
nascimento a partir da terra decidido e organizado pelos
deuses, ao nascimento por união sexual - corresponde
uma nova morte, antecedida por sofrimentos, trabalhos,
doenças e todos os males associados à velhice e que os
seres humanos da idade de ouro desconheciam.
(FERRY, 2022, p. 125)

Pandora representa a dualidade inerente à condição humana, é um


símbolo das potencialidades e dos perigos da nossa existência. Ao mesmo
tempo em que traz consigo as aflições e as adversidades do mundo, ela
também traz a esperança, a capacidade de superação e a busca pelo sentido
da vida.
Nota-se em uma leitura mais atenta dos poemas de Hesíodo, que
Prometeu ao devolver o fogo aos homens, instaura um paradoxo: Zeus manda
criar a primeira mulher, Pandora, cuja linhagem seria a ruína dos homens, mas
também seria um mal necessário, pois:
A bela descende a estirpe das femininas mulheres. Dela
procede a linhagem funesta das mulheres, que traz
grandes sofrimentos para os mortais. Elas vivem com os
homens, companheiras apenas na abundância, sem
aceitar a pobreza austera. Tal como nas protegidas
colmeias, onde as abelhas nutrem os maléficos zangões.
Dia após dia, do nascer ao pôr do sol, elas trabalham
arduamente, para formar os brancos favos de mel,
enquanto eles permanecem abrigados nos alvéolos bem
cobertos, recolhendo em seu ventre a fadiga alheia (...) E
outro mal Zeus lhe enviou em troca de um bem, pois
aquele que desejar fugir do matrimônio e das obrigações
com mulheres, se não se casar, chega à funesta velhice
sem ter quem o ampare. (p.52)

Mais uma vez, a penalidade para a desobediência é o abandono e a


solidão. O mito de Pandora, pode ser lido também como uma constatação de
que a solidão para os antigos gregos, como afirma George Minois 12 (2013), é
uma “espécie de tabu trágico que forma a trama da existência humana por trás
da fachada convencional da sociabilidade e da comunicação”.
O grego antigo, e consequentemente os romanos, se entrelaçaram numa
malha de interações e de dependências em que o isolamento e a solidão eram
praticamente inconcebíveis. Nem o Olimpo escapava a essa regra. Moldados à
imagem do ser humano e, de certa forma, também da sociedade, o mundo
divino greco-romano, como é sabido, era politeísta, um coletivo de deuses 13.
Completa Minois:
Para os agrupamentos estáveis e estruturados das
cidades Gregas, centradas na ágora e nas assembleias
deliberativas, era necessário um panteão de deuses
falantes e sociáveis, no qual ninguém ficasse à parte. E
as relações entre os homens e os deuses eram uma
questão coletiva: o culto era familiar e cívico, nunca
individual. (Minois, p. 6)

12
Georges Minois, historiador francês, é autor de uma copiosa obra em que empreendeu
notáveis revisões monográficas de assuntos culturais imprescindíveis relacionados com as
mentalidades da sociedade occidental. A obra História da solidão e dos solitários é a obra
basilar dessa tese.
13
O Deus Solitário monoteísta será inventado pelos povos nômades do deserto como afirma
Minois (2013).
Para além da vida religiosa, incluo nessa perspectiva da coletividade
greco-romana os espetáculos nas arenas, as olimpíadas, o teatro, a literatura
executada nos espaços públicos pelos rapsodos, as academias de filosofia,
tudo fechado numa rede social em que o isolamento, imposto ou espontâneo,
era um ataque e um delito ao coletivo. Obediência, trabalho, disciplina, leis
morais em detrimento ao prazer de exercer toda a singularidade de ser livre,
era um atentado contra à cidade.
A coletividade predomina nos mitos gregos de origem. Nas lendas de
Argos, Egialeu e Foroneu foram os primeiros humanos, filhos de uma divindade
fluvial, Ínaco, e da ninfa oceânida Mélia, que por sua vez era filha de Oceano e
Tethys. Nos chamados Catálogos, onde são narradas as histórias da Grécia
Central, o primeiro homem, Deucalião, filho de Prometeu e sobrevivente de um
dilúvio, repovoou a terra junto com sua esposa, Pirra. Em ambos os mitos,
pressupõe-se a presença de outros humanos, porque a lógica racional não é o
forte dessas narrativas, “para além das incoerências, retenhamos este traço
essencial: o homem nunca esteve só” (MINOIS: 2013).
No entanto, a capacidade grega em explorar as profundezas da
essência humana, não iria se negar a abordar um tópico tão característico de
nossa existência como é a solidão. Mas como pontua Minois, essa abordagem
foi enviesada, quase inconsciente, “como potencialidade temível e no entanto
inelutável da tragédia humana” (MINOIS: 2013).
Narrado por Ovídio nas Metamorfoses, e por Virgílio nas Bucólicas, no
mito de Narciso, apesar de insinuada, a solidão ocupa um papel significativo.
Jovem extremamente bonito e orgulhoso, filho do deus-rio Cefiso e da ninfa
Liríope, Narciso despertou o amor e a paixão em muitos que o cercavam, tanto
homens quanto mulheres. Ele, porém, era tão obcecado por sua própria
imagem que rejeitava todos os pretendentes que se aproximavam dele. Não
alcançando satisfação nas relações sociais, Narciso preferia ficar sozinho. Em
uma versão do mito, uma ninfa chamada Eco se apaixonou por Narciso, mas
ele a rejeitou cruelmente. Como resultado, Eco murchou de tristeza até se
resumir em sua voz ecoando pelos bosques e grutas. Narciso, após desprezar
outra Ninfa, foi amaldiçoado pela deusa Nêmesis: ao olhar para a própria
imagem refletida na água, se apaixona perdidamente por si mesmo e foi
consumido por essa paixão, incapaz de se afastar do reflexo. Duas versões
famosas surgem a partir de então: em uma, ele pensa ser uma náiade, um ser
mítico aquático e mergulha tentando apanhá-la. Na outra, Narciso, como
preconizou Tirésias14acaba se atirando na água ao perceber que se tratava de
sua própria imagem, e que seria impossível amar a si mesmo. Narciso acaba
se metamorfoseando em uma flor branca e amarela. Morre triste e só e, ficando
à beira de um lago, olhando para a sua própria imagem até o fim. Mesmo que
não haja uma interpretação oficial desse mito, é fato que o amor excessivo por
si foi sua tragédia. A irremediável solidão de Narciso simboliza a incapacidade
do ser humano de encontrar conexão verdadeira com outras pessoas e consigo
mesmo.
A solidão também desempenha um papel importante no mito de
Belerofonte contado por Homero no canto VI da Ilíada. Belerofonte, filho adotivo
de Glauco de Corinto, era conhecido por sua bravura e habilidades como
cavaleiro. No entanto, ele se tornou vítima de sua própria arrogância e foi
castigado pelos deuses. Esse herói serve em Tirinto ao rei Preto (ou Proeto) e
durante algum tempo vive sob a proteção dele. Porém, a rainha Anteia, bela e
sedutora, se sente atraída pelo herói. Belerofonte evita todas as suas investidas
por lealdade ao rei. Indignada com a rejeição, ela inverte o jogo. E o rei Preto
termina acreditando que Belerofonte assedia sua esposa. Indignado, o rei pede
ajuda a seu sogro, Lobates, o rei da Lídia. Este envia Belerofonte para matar a
Quimera, criatura feroz e monstruosa que apavorava o reino. Com a ajuda do
Pégaso, um cavalo alado, Belerofonte conseguiu derrotá-la, mas sua vitória o
levou a acreditar que era igual aos deuses. Ameaçado por seu orgulho
excessivo, Zeus dirige-lhe desafios ainda mais difíceis. Belerofonte é enviado
para combater as Amazonas, guerreiras selvagens, e enfrentar os solípedes,
uma raça de criaturas com apenas uma perna. Embora ele tenha superado
tantos desafios, pode-se interpretar que a arrogância o acabou levando a sua
queda. Ele passou a se isolar da sociedade humana, acreditando que não tinha
outro ser igual. Belerofonte se torna cada vez mais miserável e solitário:

14
Nessa versão, o adivinho Tirésias diz a Liríope, sua mãe, que ele morrerá ao conhecer sua
própria imagem.
“Quando também Belerofonte foi odiado por todos os
deuses, vagueou, só, pela planície de Aleia, devorando o
seu próprio coração e evitando as veredas humanas”.15

Pairando sobre a personagem central, a solidão no mito de que


Hermafrodita16, filho de Hermes e Afrodite, era usufruída pelo semideus como
uma forma de preservar sua independência emocional. A solidão é mantida na
história quando Hermafrodita, após crescer em uma região montanhosa, decide
explorar o mundo além das montanhas. Durante sua jornada, ele chega a um
lago tranquilo onde decide se banhar. Foi nesse momento que a ninfa Salmacis,
uma das ninfas do lago, se apaixonou perdidamente por ele e tentou seduzi-lo.
Hermafrodita, no entanto, rejeitou as investidas amorosas de Salmacis e
se levou dela, buscando ficar sozinha. A solidão aqui é representada pela
recusa de Hermafrodita em se envolver emocionalmente com a ninfa. No
entanto, Salmacis era uma ninfa obstinada e, desesperada por unir-se a ele, ela
rezou aos deuses para que nunca fossem separados.
Os deuses atenderam ao seu pedido, e quando Hermafrodita finalmente
cedeu à insistência de Salmacis e se uniu a ela no lago, eles se tornaram uma
única entidade, combinando as características masculinas e femininas de
ambos. Essa união evoluiu no hermafroditismo como um fenômeno na
natureza. Embora a solidão não seja um tema central no mito de Hermafrodita,
é notável a resistência inicial de Hermafrodita em se envolver romanticamente
com Salmacis, buscando a solidão como uma forma de preservar sua
independência emocional. No entanto, a história se desenrola de forma que a
união ocorre e a solidão de Hermafrodita é superada por meio dessa fusão
permanente com Salmacis.
A literatura grega antiga apresenta também personagens femininas que
enfrentam diferentes formas de solidão. Partindo da androginia para a solidão
da mulher, recorro ao mito de Dânae. Filha do rei Acrísio e Eurídice, essa
15
Homero, Ilíada, p. 240.
16
Descrito como uma figura andrógina, ele possuía características tanto masculinas quanto
femininas.
heroína grega foi trancada em uma em uma câmara de bronze subetrrânea por
seu pai, pois esse deveria evitar qualquer possibilidade de sua filha ter um filho,
já que o Oráculo havia predestinado seu assassinato por seu futuro neto. Dânae
foi mantida em um confinamento solitário, não tinha contato com outras
pessoas e era privada de qualquer forma de companhia ou interação social. A
solidão era uma parte essencial de seu cativeiro.
No entanto, apesar de seu abandono, Dânae foi visitada por Zeus,
fecundador obstinado, em forma de chuva de ouro. Ele conseguiu entrar na
torre e se relacionou com Dânae. Dessa concepção originou-se Perseu. Dânae
encontrou uma conexão divina e deu à luz a um herói. Durante algum tempo, o
menino pôde ser criado secretamente, mas após descoberto o fato, Acrísio
descobriu a existência do neto e temendo a profecia e não acreditando na
origem divina do neto, mas na ação criminosa de seu irmão e rival, Preto, o
Acrísio manda encerrar a filha e o neto num cofre e os lança ao mar.
No entanto, a solidão de Dânae continua Eventualmente, Dânae e Perseu
foram resgatados por servidores e a história deles continua, mas a solidão
inicial de Dânae na torre e o confinamento subsequente no mar representam
uma parte importante da narrativa mitológica. A solidão de Dânae é retratada
como uma situação imposta a ela pelo destino e pelas circunstâncias, mas
também é um elemento que contribui para o desenvolvimento do mito e do
herói Perseu.
Uma das personagens mais conhecidas é Medeia, que se sente isolada
por ser estrangeira em uma sociedade estrangeira e por não ser aceita pelos
habitantes locais. Ela também se sente sozinha e traída quando seu marido,
Jasão, a abandona. O sentimento de solidão de Medeia se intensifica quando
ela decide se vingar matando os filhos que teve com Jasão. Outra personagem
feminina que enfrenta a solidão é Antígona, que é excluída da sociedade por se
rebelar contra as leis de seus governantes e por honrar os rituais funerários
para seu irmão, mesmo que isso fosse proibido. Ela enfrenta sua solidão
quando é condenada à morte e presa em um túmulo de pedra. Além disso, a
poetisa Safo, conhecida como a "10ª musa", expressa sua própria solidão em
seus poemas. Ela é conhecida por seus versos líricos que expressam
sentimentos intensos de amor e desejo, mas também de isolamento e solidão.

Esses exemplos mostram como a solidão é um tema recorrente na literatura


grega antiga, e como as personagens femininas lidam com sua solidão em
diferentes contextos e circunstâncias.
Penélope, a esposa de Ulisses, é um dos personagens mais importantes e
marcantes da Odisseia de Homero. Enquanto seu marido está longe, lutando
na Guerra de Tróia e depois navegando de volta para casa, Penélope aguarda
pacientemente em Ítaca, cercada por um grupo de pretendentes arrogantes
que esperam ganhar sua mão e seu trono.
Embora Penélope esteja rodeada de pessoas, ela ainda se sente
profundamente solitária e isolada devido à sua situação. Ela não pode confiar
em ninguém, nem mesmo nas suas criadas, já que elas podem ser leais aos
pretendentes. Ela sente-se impotente e indefesa, sujeita aos caprichos dos
homens que a cercam, sem o seu marido para protegê-la e defendê-la.
A solidão de Penélope é amplificada pelo fato de que ela questiona se
seu marido irá voltar. Ela aguarda ansiosamente a chegada de Ulisses, mas é
constantemente obrigada a lidar com homens que tentam assediá-la e tentam
convencê-la a se casar com eles. Além disso, ela precisa lidar com suas
próprias emoções conflitantes em relação ao seu marido - ela está feliz em vê-
lo voltar, mas também teme que ele a rejeite por causa dos anos que ela
passou sem ele.
Embora a solidão de Penélope seja dolorosa, ela é uma personagem
notável pela sua coragem, inteligência e perseverança. Ela usa sua astúcia e
seu tino para enganar os pretendentes, mantendo-os à distância enquanto
espera pela volta do seu amado marido. Sua solidão torna seu triunfo sobre
eles ainda mais emocionante, quando ela finalmente se reúne com Ulisses e
recupera o controle do seu reino e da sua vida.
Na mitologia grega, Medusa é uma das três Górgonas, criaturas com
cabelos de serpente, asas de ouro e presas afiadas. Medusa é conhecida por
sua aparência horripilante, com seus olhos que transformavam as pessoas em
pedra e sua cabeça toda emaranhada de cobras.
A solidão de Medusa vem de seu destino cruel. Ela foi castigada pelos
deuses e transformada em uma criatura tão horrível que todos que se
aproximavam morriam petrificados. Isolada em uma rocha no fundo do mar,
Medusa se tornou uma figura temida e solitária, incapaz de se conectar com
mais ninguém.
Mesmo aqueles que quisessem ajudar Medusa não poderiam abordá-la,
pois corriam o risco de serem transformados em pedra. Seus únicos
companheiros eram as criaturas marinhas e suas irmãs, também Górgonas.
Ainda assim, Medusa nunca perdeu completamente sua humanidade.
Ela ainda sentia a dor da solidão e da rejeição, mas estava confinada a um
destino terrível. A história de Medusa é uma tragédia, um conto sombrio sobre
a solidão e a punição divina.
Se não há, na sociedade grega, espaço para a solidão devido ao todo
orgânico, a uma unidade natural pertencendo a uma ordem superior (Minois:
2013), nos mitos, embora nunca dita abertamente, a solidão está implicada na
ideia de destino inelutável, de fatalidade:
Que solidão é maior que a solidão do homem quer levado
Por Um Destino Implacável, que segue uma vida traçada
para ele, sem poder se desviar, Faça o que quiser,
andando ao lado de seus semelhantes, cujos caminhos
também rígidos, cruzam o seu e depois se afastam
segundo o destino sem apelo? (MINOIS, 2013. P. 7,8)

Os heróis, os seres híbridos, os meio humanos e meio deuses que


ocupam um lugar entre a sociedade humana grega e o Olimpo, nos ensinam
também, entre tantos conteúdos, lições de solidão.
CAPÍTULO 2 - A solidão na literatura portuguesa
1.1. Maria Judite de Carvalho
1.2. Dulce Maria Cardoso

A construção da personagem
Segundo Cândido, a personagem representa, no enredo, "a
possibilidade dd adesão afetiva e intelectual do leitor, pelos mecanismos de
identificações, projeção, transferência etc. " p. 54

Em seus estudos, ele analisou a construção dos personagens nas obras


literárias, considerando sua complexidade, função na trama e relação com o
contexto social e histórico.

Cândido enfatizava a importância da personagem como elemento central na


obra literária, capaz de transmitir a visão de mundo do autor, retratar a
realidade social e despertar a empatia do leitor. Ele acreditava que os
personagens literários deveriam ser representações verossímeis e profundas,
capazes de refletir a complexidade da experiência humana.

Além disso, Antônio Cândido também explorou a evolução dos personagens ao


longo do tempo, destacando a transformação dos arquétipos clássicos em
personagens mais individualizados e multifacetados. Ele analisou como a
literatura refletiu as mudanças sociais e culturais, fazendo a representação das
personagens ao longo dos séculos.

Teoria das Representações Sociais de Moscovici é aplicada no estudo da solidão


na literatura ao analisar como as representações sociais são construídas na interseção do
espaço privado com o espaço público. Segundo essa teoria, as representações são
influenciadas pelas crenças, valores e hábitos das pessoas, que por sua vez são moldados
pelas representações sociais dominantes na sociedade. No contexto da solidão na
literatura, a teoria de Moscovici ajuda a compreender como as personagens são situadas
de acordo com suas crenças e valores, refletindo seu estado psicológico e a pressão das
representações sociais dominantes

Aqui estão três perguntas que você pode fazer sobre o conteúdo do PDF:
1. Como a Teoria das Representações Sociais de Moscovici é aplicada no estudo
da solidão na literatura?
2. Quais são as principais obras literárias analisadas neste estudo e como elas
retratam a solidão?
3. Além de "O Homem Duplicado" e "Afirma Pereira", existem outras obras literárias
que abordam a solidão de forma significativa?
a solidão pode ser transformadora para as mulheres, pois representa a distância
entre o mundo e o eu, ao mesmo tempo que demonstra a necessidade de auto-
descoberta e liberdade de escolha. Quando a mulher tem a chance de se auto-
descobrir, liberdade de escolha e condições de exercer múltiplos papéis, há uma
melhoria crescente no seu bem-estar psicológico. Os romances claricianos
retratam a busca de superar o limite de ser mulher para tornar-se um ser humano
autêntico.

a fragmentação do sujeito em "George" é evidenciada pela presença de várias


identidades contraditórias ou não resolvidas na personagem-título. Além disso, a
faceta da alteridade é apresentada de forma ampla e abrangente, possibilitando
variadas identificações, reconhecimentos e manifestações da identidade
fragmentada, tornando-a totalizante. O 5 também menciona que a palavra
composta "George" põe em questão a identidade equalizada e pode tanto
complementar o todo quanto reafirmar um ser isolado, sem trazer diferenciações
que afastem possibilidades de ser.

Conforme o 2, a personagem-título George se relaciona com suas outras


existências paralelas, como a jovem Gi e a velha Georgina, de forma a construir
uma personagem ficcional que também contém o outro do mundo fora da
realidade textual. A personagem encontra-se com suas outras existências do
passado e do futuro, e todas elas são ela mesma. A personagem não está fixa em
um tempo, um lugar ou um rosto, e a presença do múltiplo promove a
"singularidade" do contemporâneo e de personagens representativas desse tempo.

Os textos mencionam especificamente a imprecisão e a pluralidade como


características marcantes da ficção pós-moderna em "George".
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em "O Tempo e o Outro", Emmanuel Lévinas explora o tema da solidão


de uma maneira singular. Lévinas argumenta que a solidão é uma condição
fundamental da existência humana, e essa solidão está enraizada na estrutura
do tempo.

Para Lévinas, a solidão não é simplesmente a ausência de outras pessoas ao


nosso redor, mas sim uma experiência mais profunda de separação e distância
em relação ao outro. Ele sugere que, no âmago de nossa existência, estamos
sempre isolados e afastados dos outros, mesmo quando estamos em contato
físico com eles.

No entanto, Lévinas argumenta que a solidão não é uma condição definitiva e


irremediável. Ele propõe que a superação da solidão ocorre por meio do
encontro com o outro. Quando encontramos o outro, somos desafiados a sair
de nós mesmos e a reconhecer a alteridade e a singularidade do outro ser
humano. Esse encontro ético com o outro é fundamental para a nossa
responsabilidade em relação a ele.

Lévinas enfatiza que a solidão e o encontro com o outro são inseparáveis. A


solidão nos coloca diante da nossa própria finitude e nos obriga a reconhecer a
nossa responsabilidade em relação ao outro. A presença do outro nos convoca
a agir ética e responsavelmente, a reconhecer a sua humanidade e colocar suas
necessidades antes das nossas.

Assim, para Lévinas, a solidão não é apenas uma condição a ser superada, mas
também uma oportunidade para o crescimento e a transformação moral.
Através do encontro com o outro, podemos romper com nossa solidão
existencial e nos abrir para uma experiência mais profunda de conexão e
responsabilidade ética.

Byung-Chul Han, filósofo e crítico cultural nascido na Coreia, escreveu


extensivamente sobre vários aspectos da sociedade contemporânea, incluindo
a experiência da solidão ou solitude. Em muitas de suas obras, Han discute o
impacto da cultura digital, do consumismo e do mundo hiperconectado nas
experiências individuais, destacando a crescente prevalência da solidão e suas
consequências.

De acordo com Han, a sociedade contemporânea é caracterizada pelo que ele


chama de "sociedade de exaustão" ou "sociedade de realização", onde os
indivíduos são constantemente levados a serem produtivos e bem-sucedidos.
Essa busca incansável por conquistas e produtividade leva a uma sensação
avassaladora de ocupação, resultando na falta de conexões genuínas e
relacionamentos significativos. Nesse contexto, a solidão se torna um
fenômeno generalizado.

Han argumenta que as tecnologias digitais e as plataformas de mídia social,


embora prometam maior conectividade, podem na verdade exacerbar a solidão.
Ele sugere que no mundo digital as relações se tornam superficiais, baseadas
na performance e na autoapresentação. As pessoas selecionam suas personas
online, buscando validação por meio de curtidas e comentários, mas isso não
fornece uma sensação genuína de conexão e muitas vezes amplifica os
sentimentos de isolamento.

Além disso, Han critica a cultura consumista que enfatiza os desejos


individuais e a gratificação instantânea. Ele afirma que o consumismo cria uma
sociedade onde as pessoas estão constantemente em busca de novas
experiências e bens materiais, mas essa busca constante por novidades pode
levar à falta de satisfação e a um profundo sentimento de vazio.

Em resposta a esta situação, Han defende a importância da solidão em vez do


isolamento. Ele distingue a solidão da solidão, sugerindo que a solidão é um
estado de estar sozinho, mas de uma forma significativa, permitindo a
introspecção e a auto-reflexão. A solidão, segundo Han, pode ser uma fonte de
criatividade, contemplação e conexão genuína consigo mesmo e com o mundo.

Han propõe que, ao recuperar momentos de solidão e resistir à pressão


constante para se conectar e ser produtivo, os indivíduos podem recuperar um
senso de autenticidade e encontrar um significado mais profundo em suas
vidas. Ao abraçar a solidão, as pessoas podem se libertar do ciclo de ocupação,
consumismo e relacionamentos superficiais e redescobrir o valor da genuína
conexão humana e auto-realização.

Vale a pena notar que este resumo é uma visão ampla das ideias de Byung-Chul
Han sobre solidão e solitude. Suas obras se aprofundam nesses tópicos com
muito mais detalhes, explorando vários aspectos filosóficos, sociológicos e
culturais.

REFERÊNCIAS
CUNHA, Antonio. Dicionário Etimológico da língua portuguesa. São Paulo:
Nova Fronteira, 2001.

SAFRA, Gilberto, Prefácio. In: MANSUR, Lucia Helena B. Solidão-Solitude – Passagens


femininas do estado civil ao território da alma. 2011, São Paulo, Editora da Universidade de
São Paulo. P. 11-12.

Como a teoria das representações sociais é aplicada no estudo da solidão na


literatura?
A teoria das representações sociais, formulada por Moscovici, é aplicada no estudo
da solidão na literatura ao analisar como as representações são construídas na interseção
do espaço privado com o espaço público. Essa teoria considera a relação dinâmica e
dialética entre o indivíduo e a sociedade, destacando como as representações sociais
dominantes na sociedade influenciam o pensamento e os sentimentos do indivíduo. No
contexto da solidão na literatura, essa teoria ajuda a compreender como os personagens
são afetados pelas representações sociais da solidão e como isso se reflete em sua
experiência de solidão.
Como a solidão dos personagens se relaciona com a vida privada e pública na
sociedade?A solidão dos personagens na literatura se relaciona com a vida privada e
pública na sociedade ao destacar a importância da alteridade, ou seja, da presença do
outro, na vida humana. A vida privada ou pessoal sem a alteridade pode levar ao estado de
solidão, enquanto a vida pública ou social, que inclui a presença do outro, pode
proporcionar a conexão e a interação social que ajudam a prevenir a solidão. A análise da
solidão na literatura com base na teoria das representações sociais também destaca como
as representações sociais dominantes na sociedade podem influenciar a experiência de
solidão dos personagens
Tal como se acham formuladas, supõem, à partida, um certo entendimento do que
é a solidão e do que é a não-solidão e, além disso, um certo entendimento do modo como
ambas devem ser investigadas.
RESPOSTA 4 que um entendimento adequado da solidão só pode ser obtido a partir
de um contraste permanente entre a solidão e o seu contrário; que a solidão e a não-
solidão são duas modalidades opostas da existência humana e que, por isso mesmo,
ambas devem ser entendidas com base na existência: como diferentes formas de a
existência se concretizar ou realizar;
5) que a solidão e a não-solidão só podem ser entendidas como algo que se
constitui a partir da ausência ou presença de outrem e que este outrem se acha sempre já
compreendido por nós (mesmo que só inexplicitamente) como possibilidade de
preenchimento ou realização da nossa existência.

Olá amigos uma vez mais nos encontramos aqui nesse entorno de literatura.
Como possível uma saída ou uma saúde pela literatura? Às vezes a gente nem atenta
para certas evidências. Chamar atenção para a Literatura e a uma certa concepção de
saúde como muitas vezes a literatura pensa por imagens a gente lembra a Brilhante
alegoria de Calvino o visconde partido ao meio antes inteiro ele é todo consciência de
si e dos outros depois perdida essa interesse ele ganha compreensão e solidariedade
com os outros. Frequentemente a literatura parece oferecer um vasto quadro de
anomalias, de desajeitados quando não diretamente rejeitados de humilhados e
ofendidos os que fazem exceção no corpo social portanto frágeis débeis doentes mas
que Justamente por isso põe em questão a noção de saúde social o ideal da besta
sadia. os doentes sabem o que os supostamente são ignoram as naturezas mais
complexas são as mais frágeis ou são as mais frágeis por serem complexas ricas de
dilaceramentos interiores e claro estamos diante de um desafio fundamental em
Literatura como dizer o desvio e a sutileza que a gramática social porque normativa
tende a sufocar? como dizer o singular desses destinos numa linguagem comum?
montaigne intuia isto desde longe é preciso passar por cima das regras comuns, da
civilidade até Para buscar sua verdade sua liberdade.
assim todo escritor abala a gramática social e deste modo saem do confronto
marcado. Como Jacó que lutou com o Anjo E Assim Segue manco torto mas a sua
forma de avançar posição incômoda sempre e onde sua saúde mental periga mas ele
é Aventureiro imprevisível desobediente sempre inseguro inaugural. A linguagem é o
chão de quem escreve mas é um chão incerto sempre a ser resolvido constantemente
Onde o escritor vê ameaçada a sua saúde Ele toma o cimento social primeiro a
linguagem e vai tentá-la tornar ductil plástil plástic ondea pla onde plasmar onde
plasmar onde plasmar outras Possibilidades de vida. literatura bem que poderia se
contentar com a prudência filosófica que define o ser falando de sua essência mas não
para a literatura não é enquanto seres que existimos mas enquanto modos vida é
espaço de criação incessante o modelo de saúde fosse o melhor ainda seria pouco
porque sacrificaria os possíveis os abertos a linguagem propicia os meios e a
liberdade de recusar o Real imposto de transformá-lo de recriá-lo toda criação forte é
um ato de insurreição. Muitas vezes nessa ida contra corrente nesse Abalo sísmico
sofrem abalos a saúde o senso comum, o juízo. Freud pressentiu isso Os poetas e os
romancistas são para o conhecimento da alma nossos Mestres porque eles se
abastecem de fontes inacessíveis a ciência. Solitário o escritor ainda assim toma a
dianteira sobre o filósofo e o analista isso porque ele surfa beirando abismo nas ondas
de energia desestabilizadora da linguagem. sua diferença na verdade é apenas um
signo Positivo de inadaptação de não resignação aos mecanismos alienantes da
suposta normalidade, Obediência trabalho disciplina leis Morais em detrimento do
prazer de exercer sua liberdade e toda a singularidade atenta contra a instituição. em
tempos de redes sociais a necessidade de se fabricar uma certa saúde mental na
preservação de um núcleo pessoal inalienável é ainda mais urgente por toda parte
somos ameaçados de diluição de insignificância acompanhamos tudo e todos em toda
parte o tempo todo essa é uma doença invisível que fica no ar que respiramos quando
já não aspiramos grandes coisas. hoje padecemos de uma normalidade morna sem
vigor de vida. desperta desejos incita criar em si novas normas de vida Superiores ou
ao menos diferentes das consensuais. pode ser Aventura individual à saúde a
coragem de ser si mesmo de se fabricar um caráter mais que um intelecto uma
imagem mais que um conceito um encantamento mais que uma doutrina.

De acordo com o 1, a culpa e a angústia são determinações ontológicas do


existencial da disposição, que permitem ao homem transcender-se em direção ao nada
que ele mesmo é. A angústia, em particular, retira o mundo do homem, lançando-o frente
às suas possibilidades de ser, ou seja, frente ao nada que ele mesmo é. Isso permite que o
homem se preocupe com o ser-no-mundo, em vez de se ocupar apenas com as coisas do
mundo. A culpa, por sua vez, é caracterizada como um modo de ser fundamental da
decadência, que é determinada ontologicamente pelo nada. Em resumo, a culpa e a
angústia permitem ao homem transcender-se em direção ao nada, o que pode ajudá-lo a
assumir o seu ser mais próprio.

De acordo com o 1, a culpa é a determinação ontológica do existencial da


facticidade, enquanto a angústia é a determinação ontológica do existencial da disposição.
A culpa diz respeito ao fato de o homem estar-lançado no mundo e misturado com ele,
enquanto a angústia é uma abertura que permite ao homem sair da publicidade do
cotidiano e assumir o seu ser, seja com propriedade ou impropriedade. Cada uma dessas
determinações ontológicas corresponde a uma determinação ôntica: a determinação
ôntico-existencial da facticidade é a decadência e a da disposição é o temor, ou seja, a
angústia velada. Em resumo, a culpa e a angústia são diferentes determinações
ontológicas que correspondem a diferentes modos de ser do ser-aí fático.
De acordo com o 1, a decadência é a determinação ôntica da facticidade na obra de
Heidegger. A facticidade é um modo de ser do ser-aí fático que diz respeito ao fato de o
homem estar-lançado no mundo e misturado com ele. A decadência, por sua vez, não pode
ser apreendida como uma queda de um estado original mais puro e superior, mas sim
como uma determinação existencial pertencente ao estar-lançado, à facticidade do
homem. Ela indica que o homem encontra-se entregue à impessoalidade do cotidiano e
que está junto ao mundo, ocupando-se com ele e tornando-se um com os demais entes.
Em resumo, a decadência é uma determinação ôntica da facticidade que indica a condição
do homem de estar-lançado no mundo e misturado com ele.

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