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Campina Grande, PB
Agosto, 2023
RESUMO
Esta tese propõe um estudo, com base na teoria das representações sociais,
formulada por Moscovici, das diferentes expressões da solidão e da ausência
em duas obras de escritoras portuguesas: Maria Judite de Carvalho, Seta
despedida, de 1995, e Dulce Maria Cardoso, Tudo são histórias de amor, de
2017. Através da leitura do comportamento, de falas e de atitudes, e da análise
de aspectos psíquicos de personagens femininos das duas escritoras,
pretende-se, ao final, traçar um panorama conciso dessas mulheres que
habitam narrativas marcadas por ausências reais e simbólicas, além da
questão da incomunicabilidade do “eu”. Apesar de ter escrito a mulher do
século XX, Maria Judite de Carvalho, hoje com antenas atentas, ainda fala. A
escritora capta perfis femininos atuais marcados por uma dependência físico-
psicológica, mantidas em posições de subalternidade dentro de uma lógica
patriarcal renitente, com seus desejos, seus prazeres e suas identidades
tolhidas. Um tipo de solidão sem cura e sem saída é recorrente em sua obra.
Uma solidão que se reproduz na consciência e no entendimento de mundo
dessas personagens, sobretudo, femininas e urbanas. Sublinhadas também por
uma ideia de solidão profunda, as personagens de Dulce Maria Cardoso
apresentam um vazio ou ausência existencial sob diversas formas: luto,
desestrutura familiar, orfandade. Nota-se, na mulher de Cardoso, sujeitos
femininos mais ousados e aguerridos contra uma sociedade androcêntrica e
patriarcal. São personagens que buscam romper com formas de invisibilidades
provocadas pelos desconfortos derivados da desigualdade social e de gênero.
Ao privilegiar o estudo comparado entre as duas escritoras, objetiva-se, em
primeiro lugar, estabelecer uma conexão temporal entre ambas, já que
Carvalho escreveu a mulher de um mundo pós-guerra, e Cardoso, em meio à
crise do capitalismo, expõe dramas cotidianos de sujeitos diáfanos. Em
segundo, entender os impulsos de comportamentos humanos diante de
eventos semelhantes, pensando os textos literários como construtos sociais
alicerçados por questionamentos humanos tais como o desespero ao amor e à
morte, a indiferença, a maldade e, sobretudo, a solidão. Portanto, a construção
da personagem contemporânea sob aspectos da solidão é o ponto a que esta
tese se direcionará, amparada por teorias críticas nessa perspectiva.
Palavras-chave: Maria Judite de Carvalho. Dulce Maria Cardoso. Solidão.
Representação. Representações sociais. Literatura.
Sleeper, de 1994, Paula Rego 1
1
A pintora luso-britânica, Paula Rego, exibe em muitas de suas telas, como Sleeper, uma
solidão atrelada à condição de “ser mulher” numa sociedade ainda misógina, num mundo que
insiste em negar direitos básicos, culminando em fragilidade e abandono.
1. INTRODUÇÃO
Martin Heidegger
Gregorio Marañon
2
Em sua obra "Ser e Tempo", o filósofo alemão Martin Heidegger discute a questão da solidão
de uma maneira peculiar. Heidegger argumenta que a solidão é uma condição fundamental da
existência humana e não deve ser vista meramente como uma ausência de contato social. Para
Heidegger, a solidão não é um estado negativo a ser superado, mas sim uma dimensão
essencial da existência autônoma. No entanto, é somente ao confrontar e abraçar essa solidão
que podemos alcançar uma existência autônoma. Heidegger argumenta que a compreensão e
a compreensão do ser são possíveis apenas quando nos confrontamos com nossa própria
finitude e solidão. Ele afirma que a experiência da solidão nos coloca diante de nós mesmos,
forçando-nos a confrontar nossa individualidade e responsabilidade existencial. Através dessa
experiência solitária, podemos nos abrir para uma busca mais profunda de significado e
confiança. No entanto, Heidegger também adverte que a solidão autônoma não deve ser
confundida com o isolamento social ou o individualismo egoísta. Ele enfatiza que a solidão
autônoma não é uma retirada do mundo ou uma negação dos outros, mas sim um
reconhecimento da singularidade e da liberdade do ser humano. É uma abertura para o mundo
e para os outros a partir de um espaço interior de reflexão e autoconsciência. Assim, para
Heidegger, a solidão não é simplesmente um estado de solidão emocional ou social, mas uma
dimensão existencial que nos coloca diante de nossa própria individualidade e nos permite
buscar uma referência e um sentido mais profundo na existência.
pode ser ontológica, o sujeito não é livre para escolher a solidão, posto que ela
lhe é imposta pela própria natureza; quanto social, que, por sua vez, pode ser
voluntária e consciente ou imposta pelas circunstâncias as quais o sujeito está
exposto.
Fenômeno complexo e multidimensional, nesta tese, procuro lançar luz
sobre alguns aspectos da solidão a partir do farol da literatura. Em especial das
obras Seta Despedida, de Maria Judite de Carvalho e Tudo são histórias de
amor, de Dulce Maria Cardoso. Objetivo, ao final dessa análise, tentar
reconhecer como a solidão é ressignificada nessas narrativas, e como as
personagens dessas obras se comportam diante dessas solidões concebidas
de dizeres, de sujeitos e de sentidos outros.
Ambas exploram a solidão como um estado de isolamento emocional e
existencial, levando seus personagens e narradores a refletirem sobre suas
vidas e buscarem uma conexão com os outros.
Meu interesse pela literatura portuguesa surgiu no mestrado ao conhecer
as obras de escritores como Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz, Valter Hugo
Mãe e tantos outros criadores lusos com suas inventividades narrativas,
criando mundos com palavras e frases desafiadoras a quem as lê. Numa
tentativa de definir minhas sensações leitoras das obras dos portugueses
contemporâneos que compõem minha biblioteca particular, recorro à paráfrase
a Heráclito que Alberto Manguel cria ao se referir a sua biblioteca: “nunca
mergulhas no mesmo livro duas vezes”. Uma nova leitura é outra leitura nova.
A escrita portuguesa contemporânea, a meu ver, ora afronta o leitor que queda
desnorteado a cada encontro com a palavra, ora se materializa como ponto
norteador no GPS do mundo contemporâneo. Os portugueses constroem um
mundo que é um manual de não entender os outros.
Conheci pessoalmente Dulce Maria Cardoso em 2012, ano em que ela
participou da mesa Em Família no Festa Literária Internacional de Paraty
(FLIP). Na ocasião, havia lançado pela editora Tinta da China o livro O Retorno,
romance autoficcional sobre a descolonização dos brancos em Luanda, em
1970, onde aos seis anos vivia com seus pais. Tomou-me de assalto esse
romance amadurado em plena forma de sua escrita que usa com maestria as
particularidades de uma pós-memória na literatura contemporânea portuguesa
ao explorar a capacidade dos sujeitos de vivenciarem os acontecimentos e
contá-los ao mesmo tempo ou décadas depois. Isso significa que a narrativa
não se limita apenas à memória individual da autora, mas também inclui a visão
do protagonista Rui, que retorna a uma pátria desconhecida. Essa abordagem
mnemônica que permite a escrita de Cardoso explorar lacunas do passado,
trazendo à tona traumas e verdades, oferece-nos perspectivas mais amplas
sobre a experiência, no caso do romance, dos retornados e seus
descendentes, mas que também é recorrente na obra de Cardoso.
Meu primeiro contato com a obra de Maria Judite de Carvalho foi no
mestrado a partir da leitura do conto Seta Despedida, um texto de aparente
simplicidade que acoberta uma enorme complexidade e refinamento. Carvalho
constrói textos de maneira bastante peculiar, utilizando a economia e a sutileza
para des-cobrir significados escamoteados. Numa linguagem cuidadosa e
precisa, a autora explora temas profundos, como a ausência de identidade e a
imposição de rotinas. Produzindo imagens marcadas pela sutileza, Cardoso
conduz seu leitor pelo encantamento das descobertas às incertezas de quem
beira abismos.
Em tempos inquietantes como o nosso, de indefinições, de contradições,
de conflito civilizacional, a solidão, como tema, chegou a mim, tenho certeza,
nos dias difíceis de isolamento social, durante a pandemia de 2020. A
quarentena me fez perceber o quão esse assunto pode compor um
caleidoscópio de olhares ora positivos, ora negativos. A pandemia nos obrigou
e ainda obriga a repensar as bases de nossa civilização. O ser humano
contemporâneo diante de avanços significativos da globalização, da
urbanização, da revolução tecnológica, foi surpreendido por um impiedoso vírus
que se espalhou com velocidade implacável por todos os quadrantes do
planeta, não poupando regiões ricas de tecnologias avançadas, nem pobres
com condições sanitárias impraticáveis. A solidão chega, nesses dias,
remodelada pelo caos da vida moderna.
É óbvio que a solidão é um sentimento independentemente de gênero.
No entanto, ela pode ter um impacto particularmente significativo na vida das
mulheres devido a influências culturais e sociais que as afetam de maneira
desproporcional. Mutações significativas dos papéis femininos, como a
inserção ao mercado do trabalho, ao ambiente político, ao mundo das artes,
podem ter ampliado a rede social das mulheres e dirigido seus interesses para
além de uma constituição familiar tradicional. Ainda assim, o peso sócio-cultural
da solidão parece ser maior sobre elas. O papel social, porém, ainda pesa.
Mulheres são, historicamente, socializadas para serem cuidadoras e para
desempenhar papéis tradicionais de gênero, como serem esposas e mães.
Como resultado, há o enfrentamento a pressões sociais ditadoras de escolhas
particulares como o casamento e a maternidade. Um sentimento de
inadequação pode surgir do desvio a essas perspectivas impostas: se não
encontram um parceiro ou não têm filhos. Além disso, outro fatores como o
enfrentamento a dificuldades financeiras e sociais, a sobrecarrega com o
trabalho doméstico, ter menos acesso a oportunidades no mercado de trabalho
e o enfrentaento da discriminação na sociedade, podem ser condutores ao
sentimento de isolamento. A falta de suporte social pode afetar negativamente
a saúde mental, aumentando o risco de depressão e ansiedade.
Tanto a obra de Carvalho como a de Cardoso trazem personagens que
revelam como pensam, se comportam, idealizam valores, sobretudo, no que
cabe ao universo feminino. Tais personagens, mesmo atuando como dita as
rubricas do teatro social, são tomadas por inquietação e sensação de não
pertencimento. A solidão, o abandono e a exclusão emergem desse processo,
que, de certo modo, pode também mover outro processo, o de conscientização
do eu feminino. A proteção como opressão, a separação como abandono, a
ruptura emocional e o trauma não ultrapassado, talvez sejam os motivos do
estado de solidão. A solidão, talvez, seja transformadora, participando na
estruturação da autonomia dessas personagens.
Proponho, por fim, o exame reflexivo da solidão humana em suas mais
diversas especificidades constituintes e das perguntas surgidas do encontro
com essas personagens literárias:
1. A solidão humana deve ser observada particularmente ou pela relação
de contraste com sua antagonista, a não-solidão?
2. Como essa relação de contraste é construída? O que referencia o estar
sozinho ou acompanhado?
3. O que torna a solidão efetiva ou evitada? Um outro ente, humano ou
metafísico? E terá este outro ente a identificação com o que é humano
(na aparência, na maneira de viver)?
4. A presença ou ausência de outro ente são causas suficientes da solidão
e da não-solidão? Ou será preciso pensar em alguma coisa a mais?
Pensar em algo sem o qual a presença ou ausência de outro ente não
implique no estado de solidão e de não-solidão?
5. É possível elencar categorias de solidão? Que possíveis parâmetros
existenciais subentendem-se desta especificação?
6. Os fenômenos de solidão e de não solidão são partes circunstanciais da
condição humana, sobretudo, da mulher?
7. Como a solidão dos personagens se relaciona com a vida privada e
pública na sociedade?
8. A personagem literária tem condições de reproduzir com relevância o
peso do fenômeno da solidão? De que modo, elas refletem e imprimem
a possibilidade da solidão e da sua ausência na nossa forma de viver?
9. E, finalmente, nossas convicções sobre solidão e não-solidão serão
suficientes para resolver estes dois fenômenos ou serão incapazes de
esgotar tais discussões, sobretudo, pelo caráter mutante de sentido
deles? E, confirmada essa condição mutante, de que modo e a que
ponto é que essas transformações de sentido afetariam ou não o
comportamento das personagens analisadas e, consequentemente, a
nossa maneira de viver e de seguir alguma orientação em nossa
existência habitual?
3
A ansiedade do sujeito está diretamente ligada aos retratos de George Condo que pintam o
grotesco, o medo, o desassossego e o isolamento em si. Ao embaralhar as figuras, o artista
aponta para os conflitos internos do indivíduo, causados pelas perturbações cotidianas do
nosso modo de vida.
Entretanto, num primeiro momento, para compreender o estado de solidão,
uso como base teórica diferentes pensadores que refletem sobre a condição
humana em relação a si mesmo e aos outros.
Começo com a literatura. Retomo ao subtítulo, paráfrase da genialidade
de Guimarães Rosa em Grande Sertão: veredas que, em sua diversidade de
reflexões, também é um ensaio sobre a solidão. Riobaldo, herói problemático à
luz de Lukács4, em seu labirinto narrativo, exprime angústias e
questionamentos existenciais, relacionados a uma solidão profunda. Ele
carrega uma certa sensação de isolamento e vulnerabilidade diante dos perigos
do mundo, sugerindo uma solidão inerente à existência, já que “viver é negócio
muito perigoso”.
O clichê aristotélico, e não por isso menos verdadeiro, afirma que o ser
humano é um animal político, apto a viver em comunidade. A importância das
relações sociais para a constituição e manutenção da maioria dos indivíduos é
inegável. Em contrapartida, o trágico social de sempre, enxerga a solidão, a
limitação nas relações interpessoais, como um grande infortúnio e mal-estar.
Sem indulgência, a solidão é vista como um sentimento desagradável,
resultado, quase sempre, de relações falhadas, indesejáveis ou deficientes,
quando não, sequela de pena ou punição social.
Ademais, a solidão irrompe-se tanto na presença quanto na ausência de
outro /outros. Em meio à adversidade, o sujeito pode redescobrir os aspectos
fundamentais e originais da existência humana como forma de desfrutar da
solidão. Vivência específica para cada indivíduo a partir de ângulos
socioculturais e ambientais, a solidão quando experiência positiva é chamada
de solitude. Nosso processo de composição humana parte de um lugar não-
físico que é a subjetividade do outro. Para manifestar-se como si mesmo, cada
indivíduo precisa ser descoberto por outro. Como afirma Gilberto Safra (2011)
muitas pessoas vivem no mundo com a sensação de não pertencimento, o
habitam sem que “tenham tido início como um ser frente a outro”. E completa:
4
Georg Lukács. A teoria do romance.
fale de um outro. SAFRA, Gilberto, Prefácio. In: MANSUR,
Lucia Helena B. Solidão-Solitude. P. 11-12.
5
O pediatra e psicanalista britânico, Donald Woods Winnicott, fez contribuições significativas
para o campo da psicologia infantil e da teoria das relações objetais.
indivíduo. Ele destaca a importância de uma integração equilibrada de
relacionamento e solidão, sugerindo que indivíduos saudáveis são capazes de
ficar sozinhos e estabelecer conexões significativas uns com os outros.
Enxergando a solidão como um sinal de necessidades relacionais não
atendidas, Winnicott destacou a importância do apoio social e das relações
interpessoais no combate aos sentimentos de isolamento.
Escritores como John Donne nos ensinam que “nenhum homem é uma
ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra 6”.
No longo poema épico Le fin de Satan, Victor Hugo manifesta que o “o inferno
inteiro está contido em uma palavra: solidão.” Posteriormente, Victor restaura
suas ideias e revela: “a solidão é boa para as grandes mentes, mas ruim para
as pequenas. Perturba os cérebros que não ilumina” 7. T. S. Eliot corrobora com
a visão hugoana pessimista ao dizer que “o inferno é único, o inferno é estar
só, as suas demais figuras são meras projeções”.
Em 1530, Michel de Montaigne se afastou da vida em sociedade,
inclusive entregou seu cargo de conselheiro no Parlamento de Bordeaux, para
mergulhar em uma vida de solidão. Em 1580, o filósofo e ensaísta
renascentista francês, explorou o conceito de solidão em Os ensaios. A
perspectiva montaigniana sobre a solidão tem um sabor autobiográfico e reflete
suas próprias experiências e observações.
Montaigne parte do questionamento ao adágio “não nascemos para o
interesse particular, mas para o público” e que enfrentamos o alvoroço humano
para retirar dele, do que é público, nosso interesse particular. A ambição nos
dá o gosto da solidão, reforça Montaigne. Na sequência, movimenta seu
pensamento e alarga o campo de significações sobre solidão.
Montaigne viu a solidão como uma oportunidade de se envolver em
introspecção e autorreflexão. Ele acreditava que estar sozinho permite que os
indivíduos explorem seus próprios pensamentos e emoções sem distrações
externas. Na solidão, pode-se mergulhar nas profundezas de seu ser e obter
uma compreensão mais profunda de si mesmo. De acordo com Montaigne,
abraçar a solidão permite que os indivíduos escapem das pressões sociais,
conectem-se com a natureza, encontrem a verdadeira companhia dentro de si
6
Meditação XVII de John Donne (1572-1631) em Devotions upon Emergent Occasions (1624).
7
Victor Hugo. Citado no livro “Elogio à solidão”, Stephen Batchelor (Ed. Gryphus, p. 9).
mesmos e experimentem liberdade e independência. Montaigne considerava a
solidão um meio de escapar das pressões e influências da sociedade. Ele
acreditava que passar um tempo sozinho permitiria aos indivíduos o
distanciamento das normas, expectativas e julgamentos sociais. Na solidão,
poder-se-iam explorar livremente seus próprios pensamentos e ideias, sem ser
afetado pelas opiniões e preconceitos dos outros.
Montaigne também enfatizou a conexão entre solidão e natureza. Ele
acreditava que estar sozinho em um ambiente natural permite que os
indivíduos se conectem com a harmonia e a beleza do mundo natural. Nesses
momentos, pode-se experimentar uma sensação de tranquilidade e encontrar
consolo na simplicidade da natureza.
Ao contrário da crença popular, Montaigne nota a solidão não como um
estado de isolamento, mas como uma fonte de autêntico companheirismo. Ele
argumentou que a solidão oferece aos indivíduos uma oportunidade de
desenvolver um relacionamento profundo e genuíno consigo mesmos. Ao
abraçar a solidão, a pessoa pode se tornar sua melhor companhia e encontrar
conforto em seus próprios pensamentos.
Por fim, Montaigne entende a solidão como um caminho para a liberdade
e a independência. Ele acreditava que estar sozinho concede aos indivíduos a
liberdade de perseguir seus próprios interesses, pensamentos e desejos sem
quaisquer restrições externas. A solidão permite que os indivíduos cultivem sua
individualidade e desenvolvam um senso de autonomia.
Corrobora com a ideia de solidão montaigniana, a do filósofo francês
Jean-Jacques Rousseau, do século XVIII, que também escreveu
extensivamente sobre a solidão e a necessidade de se reconectar com a
natureza e consigo mesmo, enfatizando a importância de se afastar das
distrações da sociedade para encontrar a verdadeira felicidade.
Ideias semelhantes possuem Friedrich Nietzsche e Ralph Waldo
Emerson. O primeiro explorou a ideia de solidão como uma condição
necessária para o desenvolvimento do século do indivíduo. Nietzsche
argumentou que a solidão pode permitir um autoconhecimento mais profundo
e a criação de valores autênticos. Já o poeta e ensaísta americano também
avaliou a solidão como uma experiência enriquecedora. Waldo Emerson
acreditou na importância de se encontrar consigo mesmo e conectar-se com a
natureza para obter uma compreensão mais profunda do mundo.
O escritor e ensaísta mexicano, Octavio Paz, tem uma bela e célebre
obra, "O Labirinto da Solidão", em que explora a solidão como uma
característica particularmente proeminente na identidade mexicana, mas
também como uma condição fundamental da existência humana, uma
experiência que todos nós compartilhamos em algum momento de nossas
vidas.
Para Paz, a solidão não é apenas um estado emocional, mas uma
condição existencial que molda a maneira como cada indivíduo se relaciona
consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Paz descreve a descreve
como um labirinto, uma metáfora para a complexidade e a profundidade da
experiência humana. Ele argumenta que a solidão é uma condição inerente à
existência humana, mas que é particularmente acentuada na cultura mexicana
devido à sua história única e à sua posição geográfica e cultural entre a
América do Norte e a América Latina. Condição ao mesmo tempo uma fonte de
angústia e uma fonte de força e resiliência, Paz descreve:
"A solidão mostra-nos o que somos e o que perdemos. É
o espelho da morte, é a morte. Quando o homem se
encontra sozinho, se sente vazio e desnudo. A solidão
nos assusta porque é a ante-sala da morte" (Paz, 1950).
A solidão seria para Paz uma experiência paradoxal, pois, embora seja
dolorosa, também é uma fonte de liberdade e autenticidade. E continua:
"A solidão é o fato mais profundo da condição humana. O
homem é o único ser que se sente sozinho e o único que
busca o outro. Sua natureza - se essa palavra pode ser
usada em referência ao homem, que se desnaturalizou a
si mesmo - é buscar o outro, mas ele o busca em vão. O
outro não nos satisfaz nunca. O homem é nostalgia e
busca de Deus" (Paz, 1950).
A solidão pode levar à perda do próprio eu, que pode ser realizado
quando se está sozinho, mas cuja identidade só é confirmada pela companhia
confiante e fidedigna dos iguais. Nessa situação, o homem perde a confiança
em si mesmo como parceiro dos próprios pensamentos e perde a confiança
elementar no mundo que é necessária para ter qualquer experiência. Arendt
afirma:
"Uma pessoa pode estar sozinha, isto é, sem companhia, e
ainda assim não estar solitária, desde que acredite no mundo e
em sua própria identidade" (p. 526, 527).
A solidão organizada, de acordo com Arendt, é mais perigosa do que a
impotência organizada de todos os que são dominados pela vontade tirânica e
arbitrária de um único homem:
8
Apesar de não abordar a questão do Totalitarismo diretamente, as autoras escolhidas,
sobretudo Carvalho, viveram, ou vivenciaram consequências, boa parte de suas vidas sob o
regime ditatorial de Salazar.
1.2. A SOLIDÃO É FERA, SOLIDÃO DEVORA - A história da solidão e das
solitárias - Andrômaca, Penelope, Judith (bíblia) …
C. Baudelaire
A solidão para Filón de Alexandria não era algo negativo, mas sim uma
oportunidade para completar sua filosofia e buscar uma conexão com Deus.
Ele via a solidão como um meio de acalmar a mente e focar na meditação e na
contemplação filosófica.
Filón acreditava que a solidão era necessária para alcançar a verdadeira
9
Permeada pelo silêncio e pela solidão, a obra do austríaco, Josef Hofer, tem o isolamento e o
desejo de liberdade como paradoxos fundantes. Surdo e mudo, Hofer expressa em sua arte a
superação, ou até mesmo o triunfo sobre sua deficiência através dos corpos que desenha.
sabedoria e entender os mistérios divinos. Ele acreditava que, ao passar tempo
sozinho, poderia se aprofundar em seu conhecimento e entender a verdade
que estava além do mundo físico.
Assim, a solidão para Filón de Alexandria era vista como uma condição
essencial para a contemplação filosófica e para alcançar a união divina. Ele
acreditava que a solidão era uma benção, não uma maldição, e que a
verdadeira realização espiritual só poderia ser alcançada através da
introspecção e da solitude.
1.3. A CULPA DE PROMETEU, A ANGÚSTIA DE PANDORA
10
De acordo com a obra de Hesíodo, existem cinco idades distintas: Idade de Ouro, Idade de
Prata, Idade de Bronze, Idade dos Heróis e Idade de Ferro. A Idade de Ouro é considerada a
primeira e mais perfeita era da humanidade. Durante esse período, os seres humanos viveram
em completa harmonia e felicidade. Não havia dor, sofrimento ou conflitos. As pessoas viviam
em paz, desfrutando de uma abundância de alimentos e riquezas. A doença e o sofrimento
eram praticamente desconhecidos, e as pessoas morriam pacificamente em um sono tranquilo.
Nesta era, as pessoas também tiveram contato direto com os deuses e viviam sob sua
proteção. Na era seguinte, a Idade de Prata, os seres humanos decidiram se tornar mais
egoístas e desobedientes aos deuses. Viveram pela primeira vez as estações do ano e as
pessoas tiveram que aprender a cultivar a terra para sobreviver. A Idade de Prata foi
caracterizada por uma sociedade mais fragmentada e menos perfeita em comparação com a
Idade de Ouro. Na sequência, veio a Idade de Bronze, os seres humanos tornaram-se ainda
mais belicosos e agressivos. Eles sabiam usar armas de bronze e lutar entre si. A Idade de
Bronze foi marcada por guerras e violência, com as pessoas se engajando em batalhas
sangrentas. A Idade dos Heróis ocorreu após a Idade de Bronze. Nesse período, viveram os
grandes heróis e semideuses da mitologia grega, como Hércules e Perseu. Eles eram
considerados filhos de deuses e mortais, e suas histórias eram cheias de heróis feitos e
aventuras extraordinárias. A última era, a Idade de Ferro, é considerada a mais degenerada de
todas. Nesta era, a humanidade caiu em uma profunda degradação moral. As pessoas se
tornaram gananciosas, injustas e desrespeitosas. Não havia mais respeito pelos deuses, nem
pela justiça ou pela moralidade. Hesíodo descreve a Idade de Ferro como um tempo de
sofrimento, em que as pessoas se esforçavam para sobreviver e enfrentavam dificuldades
constantes. A guerra, a fome e as doenças eram comuns nessa era.
11
Na Teogonia, Hesíodo afirma que Héracles, filho de Zeus e da mortal Alcmena, liberta
prometeu de seus tormentos.
Na esteira do mito de Prometeu, surge o de Pandora, a primeira mulher
humana. Zeus, com um propósito malicioso de castigar ainda mais aos
homens, ordenou que Hefesto criasse uma mulher chamada Pandora.
Modelada à imagem e semelhança das deusas, dotada de beleza e encanto
irresistíveis, Pandora foi enviada a Epimeteu, irmão de Prometeu, como um
presente. Com ela, Zeus enviou uma jarra, advertindo para que ela nunca a
abrisse. Incapaz de resistir à tentação e a curiosidade, Pandora abriu a jarra,
liberando, assim, todos os males e desgraças que afetariam à humanidade:
doenças, guerras, fome, pobreza, solidão. Assustada e desesperada, Pandora
deixa pendurada nas bordas da jarra um último elemento: a esperança.
Embora Pandora tenha desencadeado sofrimento sobre a humanidade,
a esperança é registrada como um elemento que poderia trazer conforto e
consolo. Para Ferry, apesar de Hesíodo parecer tremendamente misógino, o
mito de Pandora representa a dualidade inerente à condição humana. Pandora
é um símbolo das potencialidades e dos perigos da existência humana. Ao
mesmo tempo em que traz consigo as aflições e as adversidades do mundo,
ela também traz a esperança, a capacidade de superação e a busca pelo
sentido da vida. Para Ferry, a jarra de Pandora simboliza a curiosidade humana
e o desejo de conhecimento. Ele argumenta que, ao abrir a jarra, Pandora
desencadeou todas as calamidades e sofrimentos da humanidade, apesar de
ter deixado o único elemento que poderia mitigar o sofrimento humano, a
esperança, o ato de Pandora abate sobre os homens a infelicidade suprema, a
morte:
à nova vida que a mulher dá - quando se passa do
nascimento a partir da terra decidido e organizado pelos
deuses, ao nascimento por união sexual - corresponde
uma nova morte, antecedida por sofrimentos, trabalhos,
doenças e todos os males associados à velhice e que os
seres humanos da idade de ouro desconheciam.
(FERRY, 2022, p. 125)
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Georges Minois, historiador francês, é autor de uma copiosa obra em que empreendeu
notáveis revisões monográficas de assuntos culturais imprescindíveis relacionados com as
mentalidades da sociedade occidental. A obra História da solidão e dos solitários é a obra
basilar dessa tese.
13
O Deus Solitário monoteísta será inventado pelos povos nômades do deserto como afirma
Minois (2013).
Para além da vida religiosa, incluo nessa perspectiva da coletividade
greco-romana os espetáculos nas arenas, as olimpíadas, o teatro, a literatura
executada nos espaços públicos pelos rapsodos, as academias de filosofia,
tudo fechado numa rede social em que o isolamento, imposto ou espontâneo,
era um ataque e um delito ao coletivo. Obediência, trabalho, disciplina, leis
morais em detrimento ao prazer de exercer toda a singularidade de ser livre,
era um atentado contra à cidade.
A coletividade predomina nos mitos gregos de origem. Nas lendas de
Argos, Egialeu e Foroneu foram os primeiros humanos, filhos de uma divindade
fluvial, Ínaco, e da ninfa oceânida Mélia, que por sua vez era filha de Oceano e
Tethys. Nos chamados Catálogos, onde são narradas as histórias da Grécia
Central, o primeiro homem, Deucalião, filho de Prometeu e sobrevivente de um
dilúvio, repovoou a terra junto com sua esposa, Pirra. Em ambos os mitos,
pressupõe-se a presença de outros humanos, porque a lógica racional não é o
forte dessas narrativas, “para além das incoerências, retenhamos este traço
essencial: o homem nunca esteve só” (MINOIS: 2013).
No entanto, a capacidade grega em explorar as profundezas da
essência humana, não iria se negar a abordar um tópico tão característico de
nossa existência como é a solidão. Mas como pontua Minois, essa abordagem
foi enviesada, quase inconsciente, “como potencialidade temível e no entanto
inelutável da tragédia humana” (MINOIS: 2013).
Narrado por Ovídio nas Metamorfoses, e por Virgílio nas Bucólicas, no
mito de Narciso, apesar de insinuada, a solidão ocupa um papel significativo.
Jovem extremamente bonito e orgulhoso, filho do deus-rio Cefiso e da ninfa
Liríope, Narciso despertou o amor e a paixão em muitos que o cercavam, tanto
homens quanto mulheres. Ele, porém, era tão obcecado por sua própria
imagem que rejeitava todos os pretendentes que se aproximavam dele. Não
alcançando satisfação nas relações sociais, Narciso preferia ficar sozinho. Em
uma versão do mito, uma ninfa chamada Eco se apaixonou por Narciso, mas
ele a rejeitou cruelmente. Como resultado, Eco murchou de tristeza até se
resumir em sua voz ecoando pelos bosques e grutas. Narciso, após desprezar
outra Ninfa, foi amaldiçoado pela deusa Nêmesis: ao olhar para a própria
imagem refletida na água, se apaixona perdidamente por si mesmo e foi
consumido por essa paixão, incapaz de se afastar do reflexo. Duas versões
famosas surgem a partir de então: em uma, ele pensa ser uma náiade, um ser
mítico aquático e mergulha tentando apanhá-la. Na outra, Narciso, como
preconizou Tirésias14acaba se atirando na água ao perceber que se tratava de
sua própria imagem, e que seria impossível amar a si mesmo. Narciso acaba
se metamorfoseando em uma flor branca e amarela. Morre triste e só e, ficando
à beira de um lago, olhando para a sua própria imagem até o fim. Mesmo que
não haja uma interpretação oficial desse mito, é fato que o amor excessivo por
si foi sua tragédia. A irremediável solidão de Narciso simboliza a incapacidade
do ser humano de encontrar conexão verdadeira com outras pessoas e consigo
mesmo.
A solidão também desempenha um papel importante no mito de
Belerofonte contado por Homero no canto VI da Ilíada. Belerofonte, filho adotivo
de Glauco de Corinto, era conhecido por sua bravura e habilidades como
cavaleiro. No entanto, ele se tornou vítima de sua própria arrogância e foi
castigado pelos deuses. Esse herói serve em Tirinto ao rei Preto (ou Proeto) e
durante algum tempo vive sob a proteção dele. Porém, a rainha Anteia, bela e
sedutora, se sente atraída pelo herói. Belerofonte evita todas as suas investidas
por lealdade ao rei. Indignada com a rejeição, ela inverte o jogo. E o rei Preto
termina acreditando que Belerofonte assedia sua esposa. Indignado, o rei pede
ajuda a seu sogro, Lobates, o rei da Lídia. Este envia Belerofonte para matar a
Quimera, criatura feroz e monstruosa que apavorava o reino. Com a ajuda do
Pégaso, um cavalo alado, Belerofonte conseguiu derrotá-la, mas sua vitória o
levou a acreditar que era igual aos deuses. Ameaçado por seu orgulho
excessivo, Zeus dirige-lhe desafios ainda mais difíceis. Belerofonte é enviado
para combater as Amazonas, guerreiras selvagens, e enfrentar os solípedes,
uma raça de criaturas com apenas uma perna. Embora ele tenha superado
tantos desafios, pode-se interpretar que a arrogância o acabou levando a sua
queda. Ele passou a se isolar da sociedade humana, acreditando que não tinha
outro ser igual. Belerofonte se torna cada vez mais miserável e solitário:
14
Nessa versão, o adivinho Tirésias diz a Liríope, sua mãe, que ele morrerá ao conhecer sua
própria imagem.
“Quando também Belerofonte foi odiado por todos os
deuses, vagueou, só, pela planície de Aleia, devorando o
seu próprio coração e evitando as veredas humanas”.15
A construção da personagem
Segundo Cândido, a personagem representa, no enredo, "a
possibilidade dd adesão afetiva e intelectual do leitor, pelos mecanismos de
identificações, projeção, transferência etc. " p. 54
Aqui estão três perguntas que você pode fazer sobre o conteúdo do PDF:
1. Como a Teoria das Representações Sociais de Moscovici é aplicada no estudo
da solidão na literatura?
2. Quais são as principais obras literárias analisadas neste estudo e como elas
retratam a solidão?
3. Além de "O Homem Duplicado" e "Afirma Pereira", existem outras obras literárias
que abordam a solidão de forma significativa?
a solidão pode ser transformadora para as mulheres, pois representa a distância
entre o mundo e o eu, ao mesmo tempo que demonstra a necessidade de auto-
descoberta e liberdade de escolha. Quando a mulher tem a chance de se auto-
descobrir, liberdade de escolha e condições de exercer múltiplos papéis, há uma
melhoria crescente no seu bem-estar psicológico. Os romances claricianos
retratam a busca de superar o limite de ser mulher para tornar-se um ser humano
autêntico.
Assim, para Lévinas, a solidão não é apenas uma condição a ser superada, mas
também uma oportunidade para o crescimento e a transformação moral.
Através do encontro com o outro, podemos romper com nossa solidão
existencial e nos abrir para uma experiência mais profunda de conexão e
responsabilidade ética.
Vale a pena notar que este resumo é uma visão ampla das ideias de Byung-Chul
Han sobre solidão e solitude. Suas obras se aprofundam nesses tópicos com
muito mais detalhes, explorando vários aspectos filosóficos, sociológicos e
culturais.
REFERÊNCIAS
CUNHA, Antonio. Dicionário Etimológico da língua portuguesa. São Paulo:
Nova Fronteira, 2001.
Olá amigos uma vez mais nos encontramos aqui nesse entorno de literatura.
Como possível uma saída ou uma saúde pela literatura? Às vezes a gente nem atenta
para certas evidências. Chamar atenção para a Literatura e a uma certa concepção de
saúde como muitas vezes a literatura pensa por imagens a gente lembra a Brilhante
alegoria de Calvino o visconde partido ao meio antes inteiro ele é todo consciência de
si e dos outros depois perdida essa interesse ele ganha compreensão e solidariedade
com os outros. Frequentemente a literatura parece oferecer um vasto quadro de
anomalias, de desajeitados quando não diretamente rejeitados de humilhados e
ofendidos os que fazem exceção no corpo social portanto frágeis débeis doentes mas
que Justamente por isso põe em questão a noção de saúde social o ideal da besta
sadia. os doentes sabem o que os supostamente são ignoram as naturezas mais
complexas são as mais frágeis ou são as mais frágeis por serem complexas ricas de
dilaceramentos interiores e claro estamos diante de um desafio fundamental em
Literatura como dizer o desvio e a sutileza que a gramática social porque normativa
tende a sufocar? como dizer o singular desses destinos numa linguagem comum?
montaigne intuia isto desde longe é preciso passar por cima das regras comuns, da
civilidade até Para buscar sua verdade sua liberdade.
assim todo escritor abala a gramática social e deste modo saem do confronto
marcado. Como Jacó que lutou com o Anjo E Assim Segue manco torto mas a sua
forma de avançar posição incômoda sempre e onde sua saúde mental periga mas ele
é Aventureiro imprevisível desobediente sempre inseguro inaugural. A linguagem é o
chão de quem escreve mas é um chão incerto sempre a ser resolvido constantemente
Onde o escritor vê ameaçada a sua saúde Ele toma o cimento social primeiro a
linguagem e vai tentá-la tornar ductil plástil plástic ondea pla onde plasmar onde
plasmar onde plasmar outras Possibilidades de vida. literatura bem que poderia se
contentar com a prudência filosófica que define o ser falando de sua essência mas não
para a literatura não é enquanto seres que existimos mas enquanto modos vida é
espaço de criação incessante o modelo de saúde fosse o melhor ainda seria pouco
porque sacrificaria os possíveis os abertos a linguagem propicia os meios e a
liberdade de recusar o Real imposto de transformá-lo de recriá-lo toda criação forte é
um ato de insurreição. Muitas vezes nessa ida contra corrente nesse Abalo sísmico
sofrem abalos a saúde o senso comum, o juízo. Freud pressentiu isso Os poetas e os
romancistas são para o conhecimento da alma nossos Mestres porque eles se
abastecem de fontes inacessíveis a ciência. Solitário o escritor ainda assim toma a
dianteira sobre o filósofo e o analista isso porque ele surfa beirando abismo nas ondas
de energia desestabilizadora da linguagem. sua diferença na verdade é apenas um
signo Positivo de inadaptação de não resignação aos mecanismos alienantes da
suposta normalidade, Obediência trabalho disciplina leis Morais em detrimento do
prazer de exercer sua liberdade e toda a singularidade atenta contra a instituição. em
tempos de redes sociais a necessidade de se fabricar uma certa saúde mental na
preservação de um núcleo pessoal inalienável é ainda mais urgente por toda parte
somos ameaçados de diluição de insignificância acompanhamos tudo e todos em toda
parte o tempo todo essa é uma doença invisível que fica no ar que respiramos quando
já não aspiramos grandes coisas. hoje padecemos de uma normalidade morna sem
vigor de vida. desperta desejos incita criar em si novas normas de vida Superiores ou
ao menos diferentes das consensuais. pode ser Aventura individual à saúde a
coragem de ser si mesmo de se fabricar um caráter mais que um intelecto uma
imagem mais que um conceito um encantamento mais que uma doutrina.