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A HERANÇA MELANCÓLICA DA NEGRITUDE AZUL: RITA SANTANA E OS


VAZIOS DA COR

Conference Paper · April 2020

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Letícia Schuler Eider Madeiros


Universidade Federal da Paraíba Universidade Federal da Paraíba
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Anais do V Seminário MILBA - UFRPE 331
Entre a tradição e a contemporaneidade: insubmissas vozes de mulheres

2019 - ISBN 978-65-86547

A HERANÇA MELANCÓLICA DA NEGRITUDE


AZUL: RITA SANTANA E OS VAZIOS DA COR

Letícia Simões Velloso Schuler1


Eider Madeiros2

INTRODUÇÃO
As palavras, quando escritas, são capazes de nos revelar, muitas vezes, um
passado e suas marcas; vivências que foram responsáveis pela formação de um eu que,
nas letras, teve sua história percebida por outros olhares. Se especificarmos um pouco
mais nossa reflexão e enveredarmos pela literatura de mulheres negras, perceberemos
que, em alguns casos, há um tempo que, mesmo que para muitos já tenha findado, ainda
ecoa nesses espaços de manifestação, ainda se faz presente nessa escrita que tanto
pode nos dizem acerca do íntimo de alguém. São marcas, perdas e dores que ganham
concretude junto à arte da palavra.
O texto poético, enquanto recurso estilístico, é um desses lugares que pode expor
ao leitor, a partir de um eu lírico, subjetividades e possibilidades para olhar em direção ao
que não está explícito nas letras, ou seja, para além daquilo que está posto naquele
conjunto de versos. Para tanto, é necessário buscar e trilhar caminhos que nos conduzam
a uma melhor compreensão daquilo que vamos apreender, e, as elaborações teóricas da
psicanálise, campo de saber elaborado a partir de Sigmund Freud durante o século XIX,
dentre outras, nos fornece possibilidades para a execução de tal tarefa.
Dentre a rica lista de nomes de escritoras negras que conseguiram seu lugar na
literatura e tiveram suas vozes ouvidas, Rita Santana vem consolidando seu espaço na
contemporaneidade, por seu ecletismo e lírica do cotidiano. A professora e atriz baiana
inicia suas primeiras publicações em jornais, ao escrever contos para o Diário da tarde e
para o suplemento cultural do A tarde. Desde então, sua bibliografia conta obras em que a

1Graduanda da Licenciatura em Letras Língua Portuguesa na Universidade Federal da Paraíba – UFPB. E-


mail: leticiaschuler6@gmail.com
2Mestrande do Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGL na Universidade Federal da Paraíba –
UFPB. E-mail: eidermadeiros@gmail.com
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Entre a tradição e a contemporaneidade: insubmissas vozes de mulheres

2019 - ISBN 978-65-86547

poesia é protagonista. Tratado das veias (2006) é um exemplo delas, e é composto pelo
poema selecionado para nossa análise.
“Azul”, através daquilo que é evocado pelo eu-lírico, nos coloca diante de uma
trajetória que se estabeleceu enquanto uma herança de sua negritude; um passado que
foi perdido e teve na cor, papel decisivo para que vazios impossibilitassem uma plenitude
de ser todo; uma completude. Os estudos de Freud (1915) acerca da melancolia dialogam
com nossa reflexão, ao nos trazer contribuições a respeito dessas faltas que habitam o
sujeito. Assim, a interface entre a literatura, este campo que reverbera manifestações do
íntimo do ser humano, e a psicanálise, se estabelece enquanto possibilidade para base
de nossa proposta.
O lugar em que a voz do texto se vê construída é bastante significativo para
nossa reflexão. Mas é interessante destacarmos que, mesmo com a nítida percepção de
que a voz do poema é de uma mulher negra, precisamos compreender a capacidade que
ela nos dispõe para buscar outras informações, que, como já foi dito anteriormente, estão
além das linhas. As estruturas de um inconsciente, melancólico, já estão se manifestando
no texto. Percebemos que o encontro com o sofrimento desencadeia nessa configuração
psicológica, este, por sua vez, está atravessado também pelo elemento cor, o azul,
fundamentando, assim, nossa leitura psicanalítica.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
É a partir do texto “Luto e melancolia” (1915), escrito por Freud, que a psicanálise
confere ao mundo uma teorização sólida sobre os enigmas de uma das expressões mais
autênticas da dor de existir, que se traduz e se manifesta como uma insuficiência
constitutiva. É interessante destacar que o pai da psicanálise inicia sua teorização
baseando-se não apenas na melancolia, mas também no luto e em que medida esses
eventos psíquicos se aproximam ou se distanciam.
Este segundo se inscreve enquanto um afeto advindo pelo impacto da morte de
algo ou alguém querido, dessa forma, é uma reação natural a uma perda em que a
energia dirigida anteriormente a este objeto perdido, é desligada. Há uma inibição e
restrição do eu sem que a autoestima seja afetada, traço, dentre outros, que difere o luto
da melancolia. Pois, “no luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o
próprio Eu. O doente nos descreve seu Eu como indigno, incapaz e desprezível” (FREUD,
[1915] 2010, p. 176) e a autodepreciação, que ocorre insistentemente, impossibilita
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investimentos externos e nos coloca diante do fato de que a libido foi direcionada para o
próprio eu, o que ocasionou numa identificação com o objeto perdido. Assim, Freud
conclui que:

[...] a partir de então este pôde ser julgado por uma instância especial como um
objeto, o objeto abandonado. Desse modo a perda do objeto se transformou numa
perda do Eu, e o conflito entre o Eu e a pessoa amada, numa cisão entre a crítica
do Eu e o Eu modificado pela identificação. (FREUD, [1915] 2010, p. 181).

Detendo-nos um pouco mais na instância psíquica melancólica, perceberemos


que ela é responsável pelo arruinamento do eu e se caracteriza enquanto “um abatimento
doloroso, uma cessação do interesse pelo mundo exterior, perda da capacidade de amar,
inibição de toda atividade [...] que se expressa em recriminações e ofensas à própria
pessoa” (FREUD [1915] 2010, p. 172-173). Os melancólicos lidam com uma perda de
natureza ideal (alheia à consciência) e com a falta de clareza em relação àquilo que se foi
junto ao objeto. Além disso, as angústias de aniquilamento colaboram para o
transbordamento do eu, que deposita a agressividade em si mesmo. Esse eu se vê
perdido na temporalidade e no espaço, circunstâncias em que a razão lhe escapa e o jogo
de saber-se quem perdeu, mas não o que perdeu nesse alguém, o torna refém e sem
grandes chances de vitória.
Podemos destacar que a aproximação ou semelhança entre o luto e a melancolia
estão relacionadas ao fato de que o desejo de recuperar aquilo que foi perdido, se faz
presente. É um trabalho interno que se assemelha àquilo que Freud denomina de afeto
normal.
Historicamente, a melancolia antecede Freud em suas relações com a poesia. As
dimensões do gênio artístico, da sensibilidade estética, até certo momento estiveram
associadas, em especial na renascença, a um pressuposto necessário ao processo
criativo, tipicamente delineado pela solidão indispensável ao indivíduo artista. No
Romantismo, essa condição se atrelou a um estatuto da beleza, consagrando-se como
elemento necessário sobretudo no “acesso” ao germe do sofrimento original, que seria,
em princípio, característico do vazio ou tédio existencial romântico. (PRIGENT, 2005).
À luz de Kipfer e Chapman (2007), a melancolia vem se associar dinamicamente
na língua inglesa coloquial estadunidense com a cor azul em torno dos anos 1600, em
virtude de sua tonalidade cromática baixa em comparação às demais cores primárias
(vermelho e amarelo). De forma livre, por estar presente na natureza principalmente no
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céu, o pigmento azulado se associou à ideia de deparar-se com o infinito, com o


esmaecimento dos horizontes diante da contemplação do fato de alguém ter partido, no
sentido cristianizado, para os planos elevados do paraíso, e, consequentemente, com a
introjeção dessas sensações de modo a “vibrar” mais baixo, down low ou low-down, ainda
que, intensa e profundamente, através do blues.
Fato curioso nesse aspecto está na relação que a melancolia estabelece
metonimicamente com outros significantes. Em um verbete apresentado por Kipfer e
Chapman (2007, p. 101), o blues se atrela à melancolia e à gíria black dog, por volta dos
anos 1800, exemplificada na sentença: “The black dog’s got you chewed to the bone”;
algo como “o cachorro negro te mastigou até os ossos”, e que nos remete à noção de
melancolia como possessão que corrói quem por ela é acometido, noção comum no
medievo, em que o fenômeno se aproximava de uma concepção diabólica. A lenda do
diabo do blues de Robert Johnson3 nas encruzilhadas do Delta do Blues do Mississipi não
soaria menos familiar, tendo em vista que evoca, em um gênero musical intitulado blues,
não apenas a tristeza típica de suas melodias e canções, mas a possessão –
transmissível quiçá pela própria música – de um afecção na alma que se entristeceu por
não saber mais o que perdeu junto ao abandono ou a ruína do objeto amado perdido.

ANÁLISE E REFLEXÕES
A cultura, em seus registros, atribuiu ao azul uma determinada representação que
nos remete à tristeza e pode ser um modo pelo qual esse sentimento se manifesta e nos
diz de uma imensidão do vazio, de uma ausência.
No quesito artístico, em sequência ao que já pontilhamos anteriormente, diversos
exemplos podem ser citados. Para ressaltar apenas alguns, no cinema, a Trilogia das
cores de Krzysztof Kielowski dá destaque à composição cênica azulada em A liberdade é
azul (1993), ao acompanhar a trajetória enlutada de sua protagonista. Outro exemplo que
se associa à negritude está numa obra recente, dirigida por Barry Jenkins, premiada com
o Oscar, Moonlight (2016). O filme se inspirou na peça dramática de Tarell Alvin McCraney
em que se pontua como semiose central a representação de um doloroso vazio na

3 Robert Johnson (1911-1938) é considerado uma lenda do blues como ter conseguido estabelecer o
formato de doze compassos para este gênero musical, de modo bastante surreal, tendo em vista que
conseguiu aprender e dominar o violão e essa técnica em tempo muito curto, durante um desaparecimento
repentino decorrente de tragédias e perdas pessoais. Nesse eventual “retiro”/sumiço, criou-se a alegação
de que essa avançada habilidade foi adquirida em uma negociação com o próprio diabo pelo preço de sua
alma.
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descoberta da identidade sexual para um homossexual negro, através da imagem de que


ao luar, meninos negros parecem azuis. Mar, crepúsculo e azul inundam a fotografia deste
sensível filme.
Na música, além do caso Robert Johnson, La belle de jour (1986), de Alceu
Valença, é certeira ao anunciar “os olhos azuis [da musa] como a tarde / a tarde de um
domingo azul” na despedida triste do descanso interrompido com a chegada e da primeira
moça linda que inspirou o poeta e deixou a marca de sua perda desde idos tempos na
praia de Boa Viagem. O disco Blue (1971), da canadense Joni Mitchell, é outro exemplo
emblemático que trata da perda incessante de amores e desamores, que deixam o rastro
de vazio em suas passagens. O Kind of blue (1959), do norte-americano Miles Davis, é
emblemático ao levar a morosidade do blues ao jazz e ter se consagrado como obra-
prima do músico.
Nas artes plásticas, o exemplo de Mulher agachada (1902), de Pablo Picasso, é
não apenas significativo por sua completa constituição azulada, mas por expressar tanto a
solidão como a postura cabisbaixa de uma personagem retratada em profunda
individualidade, voltando totalmente a si mesma, recostada em sua pálida melancolia.
Em linhas gerais, o azul na arte reforça a própria relação metonímica que Rita
Santana empreenderá em seus versos, levando-nos ao exercício de leitura que nos
propomos aqui. Destacamos assim dois recortes:

[...] Ando azul porque não me reconheço gente.


Sou o próprio azul, simples, etéreo, incorpóreo,
Dos maios, dos setembros foscos de tanto sol,
De tanta ardência, dos poetas mais plácidos.
Azul dos palácios encantados, azul das moscas azuis,
Das estrias recobertas por cremes de milagres,
Azul da minha saudade-não-sei, de tanta coisa ida.
Tantas promessas me prometi,
Foram tantos os protestos advérbios,
Tantos esticamentos de veias,
Numa garganta de cobre fundido em ouro dos mais puros.

Estou em apuros porque sobrevivi até mais tarde,


Mas carrego mortes que desconheço porque sou pobre:
Deixei de estudar filosofia,
Deixei de fazer poesia,
Deixei de ir ao encontro do sol.
Perdi a maria-fumaça da minha infância,
Pra uma indústria de cacau.
Perdi os leões de mármore da minha infância,
Pras chácaras dos coronéis.
Perdi minha alegria
Pra essa incompetência diante da vida.
(SANTANA, 2006, p. 15).
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No tocante à melancolia, o eu-lírico que se vê dotado de uma “saudade-não-sei,


tanta coisa ida” confirma a caracterização desse sentimento de apatia e falta para com um
objeto de desejo que não se tem ideia de seu destino de perda. A autodepreciação
introjetiva das perdas da infância, ainda que identificadas como perdas causadas por
usurpadores, desemboca na própria perda da alegria e na denominação de
“incompetência diante da vida”. Essas disposições corroboram a assertiva de estarmos
diante de um eu melancólico que, conforme pontua Freud, não ultrapassou a superação
libidinal de suas perdas e as lançou para dentro de si mesmo.
Essa configuração sucede continuamente, como podemos observar no recorte
seguinte, no momento em que se metamorfoseia a perda em direção à consolidação de
uma dor que se transmuta em incapacidade de lidar satisfatoriamente com o outro. A dor
estaria, assim, como alternativa única e indesviável perante a vida.

[...]
Não sei tratar dos amigos.
Sei tratar alguns peixes, mas dos homens não sei.
Suas escamas crespas,
Vísceras rubras demais pra minha paciência dilatada.
São flamas demais entre nós, os amigos.
Perdi e encontrei terezas, jorges, tonhos, miguéis, primos,
Aluguéis, janelas, gudes, bordados, assovios, cartas de amor,
Fraudes descartáveis, autorias duvidosas, alarmes, amores...

Perdi também palavras raras, livros,


Sonetos, versos de adolescer,
Pus, espúrios párias, pipas, chances,
Galhos secos ofertados à ilusão,
Sangue, suores, caldos de gozos raros,
Disparos de olhares que não vi,
Envelopes, vozes, madrinha, ruas, pessoas,
Esperanças, alianças, presentes,
Crianças, avós - todos os avós já perdidos - analices e luzias.
Faço qualquer coisa pra resolver
A inapetência diante da praticidade dos futurosos,
Dos que já deram certo, dos corretos, dos sem dores,
Dos bem-sucedidos, dos resolvidos, simplórios,
Dos que têm dor de dente
Mas não sabem o que é dor de alma.
(SANTANA, 2006, p. 15).

A dor e o sofrimento são aspectos variantes na perspectiva do luto e da


melancolia, pois tensionam os limites da própria ultrapassagem de suas manifestações
enquanto sintomas. Na voz lírica de “Azul” termina por ser inevitável a compreensão de
que diversas marcas do sofrimento negro se apresentam por entre os versos do poema.
As perdas dolorosamente traumáticas para alguns, terminam por serem constitutivas do
sofrimento contínuo para outros.
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Expandindo o processo de leitura do texto poético, a transição entre um plano de


perspectiva mais amplo que vai se estreitando para o eu-lírico nos leva a encarar que a
diáspora africana deixa seus rastros na genealogia familiar que se viu perdida em nomes
substantivados: “terezas, jorges, tonhos, miguéis, primos [...] analices e luzias”. O
sofrimento da negritude, que põe o outro para o patamar da branquitude causadora de
diversas perdas, pode ser analisado como uma herança de trauma histórico, de uma
melancolia, pela concepção mais alargada, que se prolonga e dá o tom, a vibração baixa,
o pigmento de solidão ao sofrimento de um povo que se habituou a perder, sem saber
mais exatamente o que fora perdido, até como memória.
Por outro lado, se abrangermos um pouco mais essa reflexão, chegaremos a uma
hipótese de que o sofrimento negro dialoga, em certa medida, com aquilo que todos nós,
enquanto seres humanos compartilhamos, a afronta com o sofrimento. É algo universal
com o qual todos nós lidamos. O ser humano é do sofrer, ele é do trágico, é do ter que,
inevitavelmente, se deparar com as perdas e os vazios. As marcas, as perdas e as dores
marcaram um passado, mais especificamente, aquele de que os negros foram vítimas,
mas se deslocam para o presente, por serem aspectos que compõem uma instância que
nos é comum. Diante dessa coletividade do sentimento, ressaltamos que:

[...] a tristeza faz parte de cada um de nós. É ingrediente que nos constitui, e sem
o qual não tomaríamos consciência, pois somos todos, enquanto seres falantes,
forjados por uma perda, modelados por uma falta resultante de nossa retirada do
universo da natureza. É por isso que as separações – ou a separação da mão,
quem sabe da mãe-terra, mãe nutriente –, lançando o homem no desamparo, são
muito frequentemente evocadas na origem desse mal-estar. (PERES, 2003, p. 10).

É possível concluirmos que a falta se firma enquanto esse elemento que nos
constitui e proporciona um sentimento de morte, mesmo que a vida ainda habite o corpo
do indivíduo; é uma fraqueza que domina o eu e destitui a existência de sentido, de razão.
“Azul” nos coloca diante de uma dolorosa memória que é tecida a partir dos
acontecimentos da própria existência. A voz poética rememora as perdas sofridas ao
longo da vida e as chances perdidas por ser negra. A perda, na forma mais ampla da
palavra, se torna a grande companheira dessa voz, e o sentimento de orfandade, em
meio a separações, desilusões e rejeições, a conduz durante a vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Neste presente exercício de leitura, o texto poético de Rita Santana nos tocou
sobretudo ao conseguir transitar pelo limiar entre a caracterização de sua escrita, de
mulher negra – ainda que problemática quanto ao fato de o gênero lírico romper com essa
delimitação –, e a universalização de uma voz que superpõe à tessitura de seu lirismo, as
características do sentimento de perda e de sua individualidade dentro dos contornos da
melancolia.
A composição de “Azul” nos lançou um desafio de perceber que sua presença
constituía uma riqueza no campo das cores, pois a cor carregada na negritude, ainda
mais se for bastante escura, também se valeria de uma poética do retinto ao reluzir as
marcas do sofrimento do povo negro por meio de uma cor que concentra tantas
ambuiguidades representacionais, mas não menos associadas à própria história dos
afrodescendentes mundo afora. Do blues ao black dog, da pele reluzindo ao luar ao
“próprio azul, simples, etéreo, incorpóreo” que a tudo compõe, os vazios de um céu
exigem de nosso olhar contemplativo sentidos outros à beleza de todas as cores.

REFERÊNCIAS
FREUD, Sigmund. Luto e melancolia. In: FREUD, Sigmund. Introdução ao narcisismo,
ensaios sobre a metapsicologia e outros textos (1914-1916). São Paulo: Companhia das
Letras, 2010.

KIPFER, Barbara Ann; CHAPMAN, Robert L. Dictionary of American slang. New York:
HarperCollins, 2007.

MOONLIGHT. Direção de Barry Jenkins. Estados Unidos: Plan B Entertainment, 2016


(110 min.)

PERES, Urania Tourinho. Depressão e melancolia. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

PICASSO, Pablo. Crouching woman. 1902. Pintura, óleo sobre tela, 90x71 cm.

PRIGENT, Hélène. Mélancolie: les métamorphoses de la dépression. Paris: Gallimard;


RMN, 2005.

SANTANA, Rita. Tratado das veias. Salvador: FCEB, 2006.

TRILOGIA das cores: A liberdade é azul. Direção de Krzysztof Kielowski. França: MK2,
1993 (100 min.)
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ANAIS DO V SEMINÁRIO MILBA


-2019-
V Seminário MILBA - UFRPE
Entre a tradição e a contemporaneidade: insubmissas vozes de mulheres

CEGOE, 18 e 19 de outubro de 2019

Homenageadas: Maria Firmina dos Reis, Odailta Alves e Carolina Maria de


Jesus
Grupos de Pesquisa MILBA - Memória e Imaginário das Literaturas
Brasileira e Africanas

Iêdo de Oliveira Paes


Amanda Brandão Araújo Moreno
Natanael Duarte de Azevedo
Rozelia Bezerra (Orgs.)
Anais do V Seminário MILBA - UFRPE
Entre a tradição e a contemporaneidade: insubmissas vozes de mulheres

2019 - ISBN 978-65-86547

Iêdo de Oliveira Paes


Amanda Brandão Araújo Moreno
Natanael Duarte de Azevedo
Rozelia Bezerra
(Organizadores)

ANAIS DO V SEMINÁRIO MILBA

V SEMINÁRIO MILBA UFRPE


Entre a tradição e a contemporaneidade: insubmissas
vozes de mulheres

5ª edição

Volume único

Recife
Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE
2019
Anais do V Seminário MILBA - UFRPE
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


Sistema Integrado de Bibliotecas da UFRPE
Biblioteca Central - Recife-PE, Brasil

S471c Seminário MILBA-UFRPE (5 : 2019 : Recife, PE).


Anais do V Seminário MILBA-UFRPE, 18 e 19 de outubro de 2019, Recife,
PE / Iêdo de Oliveira Paes, Amanda Brandão Araújo Moreno, Natanael Duarte
de Azevedo, Rozelia Bezerra (organizadores). – Recife: EDUFRPE, 2020.
582 p.

ISBN: 978-65-86547

Grupo de Pesquisa MILBA – Memória e Imaginário nas


Literaturas Brasileiras e Africanas - UFRPE.
Homenageadas: Carolina Maria de Jesus, Odailta Alves e Maria Firmina dos Reis.

1. Mulheres e literatura - 2. Escritoras 3. Literatura - Escritoras


4. Literaturas de língua portuguesa I. Paes, Iêdo de Oliveira, org.
II. Moreno, Amanda Brandão Araújo, org. III. Azevedo, Natanael Duarte de, org.
IV. Bezerra, Rozelia, org. V. Título

CDD 809.3
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ÍNDICE

A POESIA DE MARIA REZENDE: A “NOVA MULHER’’ E SUA EMANCIPAÇÃO


SEXUAL 15
Alessandro F. Silva dos Santos 15

SOLANO TRINDADE E GIOVANI CIDREIRA: IDENTIDADE E NÃO-LUGAR NAS


POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS 29
Aline Ferreira Pereira 29

Elaine Morais Lourenço 29

Amanda Ramalho de Freitas Brito (Orientadora). 29

MULHERES NO FANTÁSTICO: 40
REVISITANDO SILVINA OCAMPO 40
Amanda Brandão Araújo Moreno 40

A DESMISTIFICAÇÃO E DENÚNCIA DE MARIA FIRMINA DOS REIS EM ÚRSULA: UM


NOVO OLHAR SOBRE A MULHER NEGRA NA LITERATURA BRASILEIRA 53
Amanda Gabriele dos Santos 53

POESIA CONCRETA E ENSINO: QUANDO A LITERATURA SE TORNA UM


FACILITADOR PARA A COMPREENSÃO LINGUÍSTICA NO ENSINO BÁSICO 67
Ana Clara dos Santos Barbosa 67

Renata Pimentel Teixeira 67

CANTOS DE HOMENS, GESTOS DE MULHERES: A SINFONIA ERÓTICA DE LYA


LUFT. 81
Anderson Soares e Silva Cândido 81

Hermano de França Rodrigues 81

PERSONAGENS MÍTICO-PERFORMÁTICAS DE LUCILA NOGUEIRA 90


André Cervinskis 90

A POÉTICA DE CONCEIÇÃO EVARISTO TECENDO O ROSÁRIO DAS MULHERES


NEGRAS 101
Andresa Karine Rodrigues Novais de Jesus 101

KAMEL DAOUD: RESSIGNIFICAÇÃO DE CAMUS E DA MEMÓRIA ARGELINA NA


FICÇÃO 111
Ariane da Mota Cavalcanti 111

DESLOCAMENTOS DO FEMININO NO ROMANCE CONTEMPORÂNEO: A


CRITICIDADE AO CORPO NA OBRA PERDIDA 123
Ariele Gomes Silva de Oliveira 123

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Entre a tradição e a contemporaneidade: insubmissas vozes de mulheres

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Amanda Ramalho de Freitas Brito (Orientadora) 123

A QUESTÃO ÚRSULA: APONTAMENTOS SOBRE AS REPRESENTATIVIDADES


NEGRA E FEMININA NO ROMANTISMO BRASILEIRO 133
Ariella Mônica Lemos Rophe dos Santos 133

O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO NA CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE


FEMININA NAS PERSONAGENS PECOLA EM ‘‘O OLHO MAIS AZUL’’ E IFEMELU EM
‘’AMERICANAH’’ 149
Bianca de Carvalho Lopes Barros 149

O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA LITERATURA ATRAVÉS DA PRODUÇÃO


CINEMATOGRÁFICA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA 157
Carlos Eduardo da Silva 157

José Arthur Nascimento Gomes 157

AS SINGULARIDADES NA REPRESENTAÇÃO DO FEMININO PELA ÓTICA DO


FANTÁSTICO EM DOIS CONTOS DE SILVINA OCAMPO 166
Cinthia Maria Tenório da Conceição 166

Letícia Leite Inojosa 166

AUTORIA NEGRA E DIÁLOGOS ANTIRRACISTAS EM OMO-OBA: HISTÓRIAS DE


PRINCESAS, DE KIUSAM DE OLIVEIRA 177
Daniela Galdino Nascimento 177

DOS INFORTUNIOS DA VIRTUDE AO TRIUNFO DA CARNE: BEM(DITAS) AS


PROSTITUTAS, EM CLARICE LISPECTOR 198
Elisangela Marcos Sedlmaier 198

Hermano de França Rodrigues (Orientador) 198

“EU JÁ ESTOU NO FUTURO”: ESPECTROS DA MODERNIDADE EM O OUTRO PÉ


DA SEREIA, DE MIA COUTO 206
Fabio Gustavo Romero Simeão 206

O “EU” DESPEDAÇADO NO VAZIO QUE DIZ TUDO: UMA LEITURA ESTÉTICA DA


OBRA A OBSENA SENHORA D 220
Flávia Valéria Salviano Serpa 220

SOBRE A DESTERRITORIALIZAÇÃO EM ORLANDA AMARÍLIS 232


Gabrielle Carla dos Santos Bernardo 232

Erica Soraia Soares de Lacerda 232

Nefatalin Gonçalves Neto(Orientador) 232

O ESTRANHO EM MIM: QUANDO O ÓDIO (DES)ESTRUTURA O SER E O MUNDO 239


Isaque da Silva Moraes 239

Anais do V Seminário MILBA - UFRPE


Entre a tradição e a contemporaneidade: insubmissas vozes de mulheres

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Hermano de França Rodrigues 239

A DOR DE EXISTIR”: O DESMORONAMENTO DE MACABÉA NO ROMANCE A HORA


DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR. 246
Israela Rana Araújo Lacerda 246

Hermano de França Rodrigues 246

O QUERER FEMININO E A DEVASTAÇÃO DO FALO PELA INVOCAÇÃO DA VOZ


FEMININA EM NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 257
Jardel Bandeira Raimundo (UFPB) 257

Hermano de França Rodrigues (PPGL/UFPB) 257

RECIFE E O REGIME DITATORIAL MILITAR: UM OLHAR ATRAVÉS DAS CRÔNICAS


269
Jhonata Roberto de Aquino 269

Renata Pimentel Teixeira 269

INSUBMISSAS VOZES DE MULHERES E A MEMÓRIA DA DITADURA CIVIL-MILITAR


NO BRASIL E NA ARGENTINA: UMA ANÁLISE COMPARADA DOS RELATOS DE
MARIA PILLA E NORA STREJILEVICH 282
João Ricardo Pessoa Xavier de Siqueira 282

O FANTÁSTICO E A FIGURA FEMININA NOS CONTOS "LAS VESTIDURAS


PELIGROSAS" E "EL VESTIDO VERDE ACEITUNA", DE SILVINA OCAMPO 291
José Victor Ferreira Sousa 291

Paloma Gomes de Freitas 291

PELAS MARGENS DO CÂNONE: UMA ANÁLISE DOS DESDOBRAMENTOS DO


PROCESSO DE CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DA LITERATURA MARGINAL NO
BRASIL 302
Joseildo Joaquim de Oliveira Sousa 302

“O QUE É A MEMÓRIA SENÃO A MIGALHA?”: VERGONHA E DOR EM LYGIA


FAGUNDES TELLES 315
Leonardo Monteiro de Vasconcelos 315

VOZES DO POVO, ECOS DA CIDADE: AS EXPRESSÕES DO HUMANO NA PROSA


DE ARIADNE QUINTELLA 324
Letícia Mª Quintella Viana 324

A HERANÇA MELANCÓLICA DA NEGRITUDE AZUL: RITA SANTANA E OS VAZIOS


DA COR 331
Letícia Simões Velloso Schuler 331

Eider Madeiros 331

Anais do V Seminário MILBA - UFRPE


Entre a tradição e a contemporaneidade: insubmissas vozes de mulheres

2019 - ISBN 978-65-86547

VISTA DE UMA PERSPECTIVA ANÁLOGA À ÓPTICA A LITERATURA - COMPOSIÇÃO


DE TODAS AS CORES DO ESPECTRO DE CORES, A COR BRANCA 339
Luiz Henrique Costa de Santana 339

Naiara Santina dos Santos Ferreira 339

CLARICE LISPECTOR E O CAMPO LITERÁRIO NO BRASIL 348


Maíra Honorato Marques de Santana 348

Iêdo Paes(Orientador) 348

A DESCONSTRUÇÃO DO DISCURSO PATRIARCAL NA POESIA CONTEMPORÂNEA


DE CRISTIANE SOBRAL 363
Marcia Danieli da Silva Costa 363

A INSURGÊNCIA POÉTICA DE ODAILTA ALVES NO POEMA EVOCAÇÃO DO RECIFE


nº2 375
Márcia Maracajá Pessoa Pereira 375

Iêdo Oliveira Paes 375

ESCREVER SOBRE SI PARA CRIAR O OUTRO: 388


CORPO E FEMININO EM ANA SUY SESARINO KUSS 388
Marcillia Poncyana Félix Bezerra (UFPB) 388

Hermano de França Rodrigues (UFPB) 388

O EROTISMO EM CENA: (DES)CORTINANDO IMAGENS NO TEATRO DO DESEJO395


Maria Genecleide Dias de Souza 395

Amanda Ramalho de Freitas Brito 395

Hermano de França Rodrigues 395

A PRÁTICA DE LEITURA DE INGRESSANTES NO ENSINO MÉDIO: UMA


ABORDAGEM SOBRE A CONCEPÇÃO DOS EDUCANDOS 403
Maria Kaline de Lima Pedroza 403

DA FÚRIA DOS AFETOS AO DECLÍNIO DO SUJEITO: A TIRANIA INDECOROSA DA


SOLIDÃO EM A CASA INVENTADA, DE LYA LUFT 414
Mariana Pinheiro Ramalho 414

Hermano de França Rodrigues 414

MEA MAXIMA CULPA:HORROR E JÚBILO NA TESSITURA FANTÁSTICA DE SILVINA


O'CAMPO 425
Matheus Pereira de Freitas 425

Hermano de França Rodrigues1 425

A PALAVRA POROSA À IMAGEM: O ITINERÁRIO DE CANDIDO PORTINARI, NA


ILUSTRAÇÃO DAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS 439
Anais do V Seminário MILBA - UFRPE
Entre a tradição e a contemporaneidade: insubmissas vozes de mulheres

2019 - ISBN 978-65-86547

Rafaela de Lima Costa 439

José Eduardo Gonçalves dos Santos 439

DOS ESCOMBROS DA CASA À PANCADARIA NAS RUAS: TRADIÇÃO E


RESISTÊNCIA NO CONTO “MARIA”, DE CONCEIÇÃO EVARISTO. 453
Rariela Valeska da Silva Salustino 453

Hermano de França Rodrigues 453

NEGRAS, RESISTÊNCIAS, BATUCADAS E MOTINS NO ESPAÇO URBANO DO


RECIFE OITOCENTISTA 462
Rejane Maria Pereira da Silva 462

OS LIAMES ENTRE INSUBMISSÃO E MODELO DE COMPORTAMENTO: A


PERSONAGEM ELECTRA, DE EURÍPIDES 474
Samantha Lima de Almeida 474

CELEBRAÇÃO DE AFRODITE: A CARNIFICINA MASCULINA NA ERÓTICA


CONTEMPORÂNEA 485
Silvio Tony Santos de Oliveira - UFPB 485

Hermano de França Rodrigues - UFPB 485

MÁRIO DE ANDRADE LEITOR DE CECÍLIA MEIRELES: UMA ANÁLISE DA CRÍTICA


ESTÉTICA A PARTIR DO ARTIGO “VIAGEM” (1939) 498
Taffarel Bandeira Guedes 498

ÉDIPO ENTRE ESPELHOS: IMAGENS TERRÍFICAS DA SOLIDÃO, NO ROMANCE


‘UM TIGRE NA SOMBRA’, DE LYA LUFT 512
Thiago Guilherme Calixto 512

Hermano de França Rodrigues 512

URSULA E PEDAÇOS DA FOMA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA EM CONTEXTO 520


Vanessa Maria Poteriko da Silva 520

O DRAMA DO COTIDIANO NOS CONTOS DE SÓNIA GOMES 534


Vincenzo Cammarata 534

LIMA BARRETO: DA BIOGRAFIA À FICÇÃO, UM PERCURSO DO DIÁRIO DO


HOSPÍCIO AO CEMITÉRIO DOS VIVOS 545
Wharlley Dawsley Oliveira Silva 545

Renata Pimentel Teixeira 545

PRETA É A MINHA PELE, PRETO É O LUGAR ONDE VIVO: A POÉTICA DA


PAISAGEM URBANA E A FENOMENOLOGIA DO HABITAR EM QUARTO DE
DESPEJO, DE CAROLINA MARIA DE JESUS 558
Wilck Camilo Ferreira de Santana 558

Anais do V Seminário MILBA - UFRPE


Entre a tradição e a contemporaneidade: insubmissas vozes de mulheres

2019 - ISBN 978-65-86547

QUANDO O OUTRO NOS REVELA A AUSÊNCIA: A DOMESTICAÇÃO DA SOLITUDE


PELA ESCRITA CLARICEANA 572
Yasmine Gabriela da Silva - UFPB 572

Hermano de França Rodrigues – UFPB 572

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