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Psicologia da

Aprendizagem
Unidade IV
Desenvolvimento e aprendizagem
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
RAQUEL ELISABETH DUMASZAK
AUTORIA
Raquel Elisabeth Dumaszak
Sou formada em Psicologia, na modalidade Bacharelado
e Licenciatura, e desde então atuo com Psicologia, Educação e
Aprendizagem. Tenho interesse por assuntos que envolvem neurociências,
comportamento e cognição, temáticas que segui na pós-graduação. Fui
convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores
independentes e espero contribuir bastante com seu aprendizado teórico
e profissional!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de apresentar um
de uma nova novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessárias as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
Teorias do desenvolvimento................................................................... 10
O Behaviorismo...........................................................................................................................................................10

Watson: o pai do Behaviorismo.................................................................................................................... 11

Aprendizagem por condicionamento clássico........................................ 13

A teoria de Skinner................................................................................................................................................... 16

Aprendizagem por condicionamento operante..................................... 18

O humanismo................................................................................................. 23
Carl Rogers: breve histórico.............................................................................................................................24

A pessoa como centro.........................................................................................................................................25

O ensino centrado no aluno............................................................................................................................27

A psicanálise.................................................................................................. 33
Freud e a Psicanálise: breve histórico....................................................................................................33

As fases de desenvolvimento na Teoria Psicanalítica...........................................................36

A fase oral...........................................................................................................................37

A fase anal......................................................................................................................... 38

A fase fálica...................................................................................................................... 39

Período de latência e fase genital.................................................................... 41

A Psicanálise e a Educação.............................................................................................................................42

Aprendizagem na adolescência............................................................44
Estresse e estratégias de resiliência.......................................................................................................46

A ansiedade na sala de aula...........................................................................................................................48


Psicologia da Aprendizagem 7

04
UNIDADE
8 Psicologia da Aprendizagem

INTRODUÇÃO
No campo do desenvolvimento infantil, existem várias teorias, que
abordam desde as fases do crescimento da criança até a maneira como
ela se comporta no mundo. Nesta unidade, trabalharemos as três teorias
fundamentais do desenvolvimento, bem como suas implicações no processo
de aprendizagem.

A primeira, o Behaviorismo, tem como foco do desenvolvimento o


comportamento da criança diante das situações vividas por ela. Assim, ele
acontece mediante estímulos no ambiente e respostas emitidas pelo sujeito, e
a aprendizagem também é concebida dessa forma.

Na segunda, o Humanismo, o foco é no sujeito. O desenvolvimento e


a aprendizagem acontecem por meio das experiências vividas pelo homem
no mundo e de como essas vivências se constroem mediante as relações
interpessoais que cada sujeito estabelece. A aprendizagem, neste caso é
autodeterminada.

Na terceira, a Psicanálise, o desenvolvimento se dá a partir da


organização da energia em torno das zonas erógenas, constituindo, assim,
fases de desenvolvimento. A aprendizagem acontece por meio da relação
afetiva e de identificação que existe entre professor e aluno.

Ainda abordaremos alguns fatores que interferem de forma negativa


na aprendizagem e atrapalham o desempenho escolar, principalmente de
adolescentes: o estresse e a ansiedade.

A aprendizagem é um processo importante em todas as fases da vida


escolar e deve ser entendida de diferentes formas para que no ambiente da
sala de aula seja mais bem aproveitada.
Psicologia da Aprendizagem 9

OBJETIVOS
Que você seja muito bem-vindo à Unidade 4 – Desenvolvimento e
aprendizagem. Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes
objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos:

1. Definir os conceitos relacionados com as teorias do


desenvolvimento humano.

2. Compreender o pensamento humanístico de Carl Rogers no que


concerne à pessoa como o centro e ao ensino centrado no aluno.

3. Entender os princípios da psicanálise de Freud, identificando suas


fases, fazendo um paralelo entre elas e a educação.

4. Lidar com o estresse e a ansiedade dos estudantes em fase de


adolescência, aplicando as estratégias de resiliência.

Então, preparado para uma viagem rumo ao conhecimento? Vamos lá!


10 Psicologia da Aprendizagem

Teorias do desenvolvimento
OBJETIVO:

Neste capítulo, vamos entender os conceitos relacionados


às teorias do desenvolvimento humano. E então, preparado?
Vamos lá!

As teorias do desenvolvimento nos ajudam a compreender as


crianças e os adolescentes por meio da descrição e exploração das
mudanças psicológicas, comportamentais e de personalidade que
sofrem no decorrer do tempo. Elas buscam explicar de que maneiras
esses pequenos sujeitos mudam no decorrer do tempo e como essas
mudanças afetam a sua aprendizagem. As teorias são importantes para
delimitar algumas diferenças existentes na personalidade de crianças e
adultos.

O interesse pelo estudo do desenvolvimento da infância é recente


em termos de História da Humanidade. Até o século XIX, aproximadamente,
as crianças eram tratadas como adultos; a partir dos 3 a 4 anos de idade, já
participavam das mesmas atividades que eles.

No início do século XX, percebe-se uma preocupação mais ampla


com as crianças e com a necessidade da educação formal. A disciplina
era exercida ainda de forma violenta, com castigos tanto em casa como
na escola. Essas atitudes somente começaram a mudar com o estudo
sistemático e científico do desenvolvimento da criança.

Ao longo desta unidade, vamos discorrer sobre a relevância desse


saber, mostrando algumas das importantes teorias do desenvolvimento
infantil e como elas estão relacionadas à aprendizagem.

O Behaviorismo
A abordagem comportamental entende que a aprendizagem é
regulada por fatores situacionais: a situação em que o comportamento
ocorre (em que momento o aluno se comporta de determinada maneira),
o próprio comportamento (que comportamento ele manifesta) e as suas
Psicologia da Aprendizagem 11

consequências (o que acontece com o aluno quando ele se comporta de


determinada maneira). O efeito da interação dessas contingências sobre o
aluno depende de suas características internas somadas à sua história de
vida e ao momento específico em que a aprendizagem está ocorrendo.

A teoria comportamental trabalha com modificações de


comportamento, utilizando técnicas próprias, e é especialmente
aplicada quando é necessário clarificar e estabelecer limites, extinguir
comportamentos inadequados ou desenvolver novos comportamento.
Geralmente, suas técnicas são utilizadas juntamente com outras
abordagens complementares.

O Behaviorismo salienta a importância do planejamento da


ação pedagógica, fazendo com que a aprendizagem do aluno gere
consequências naturalmente reforçadoras (positivas) ao aprender.

Watson: o pai do Behaviorismo


Ivan Pavlov foi um fisiologista russo que descobriu a Teoria do
Reflexo Condicionado em suas pesquisas com cães. Seus estudos
serviram de base para as teorias comportamentais de Watson e Skinner.

As teorias comportamentais do desenvolvimento têm sua base


no Positivismo, em que o conhecimento, para ser de fato uma ciência,
precisava passar por etapas sistemáticas de observação e confirmação
empírica. Assim, em meados do século XIX, nos Estados Unidos, J. B.
Watson foi o primeiro representante do ambientalismo.

DEFINIÇÃO:

Positivismo: escola filosófica criada pelo francês


Augusto  Comte (1798-1857). Para os filósofos positivistas,
a ciência deve ser construída por meio de um protocolo
sistemático de observações empíricas e de fenômenos
concretos passíveis de serem observados e confirmados
por consenso público.

Watson ficou famoso por uma declaração, em que dizia:


12 Psicologia da Aprendizagem

“Deem-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e o


mundo que eu especificar para criá-las e garanto poder tomar qualquer
uma ao acaso e treiná-la para ser o especialista que se escolher –
médico, advogado, artista, gerente comercial e até mesmo mendigo ou
ladrão, independentemente de seus talentos, inclinações, tendências
habilidades, vocações e da raça de seus ancestrais”.
Figura 1 – J. B. Watson

Fonte: Wikipedia

Com esse discurso, Watson dava início aos estudos do


comportamento e da influência do ambiente na aprendizagem. Ele lançava
o Behaviorismo e transformava a análise da aprendizagem no estudo da
modificação do comportamento como resultado da experiência.

Alguns pontos do pensamento de Watson são fundamentais:

• Rejeição à introspecção – Watson acreditava que a introspecção


era uma fonte insatisfatória de dados e que a ciência deveria lidar
apenas com fatos acessíveis a todos.

• Maior crença no ambiente do que na hereditariedade – no


pensamento de Watson, predominavam fatores objetivos em
detrimento daquilo que era subjetivo; logo, priorizava-se aquilo
que poderia ser aprendido por meio dos sentidos e da observação.
Psicologia da Aprendizagem 13

• O efeito do ambiente na aprendizagem se dá por meio de


condicionamento de reflexos – assim, não seria necessário recorrer
a faculdades não observáveis para explicar comportamentos de
homens e animais.

Watson foi considerado o pai do Behaviorismo norte-americano. Ele


era discípulo de Pavlov, nos estudos de reflexo condicionado, e inspirou
outros pesquisadores, como E. L. Thorndike, que desenvolveu a Lei do
Efeito em sua pesquisa.

DEFINIÇÃO:

Lei do Efeito: a repetição de um ato que causa um resultado


desejável aumenta a probabilidade de ocorrência desse
mesmo ato.

Pavlov, em suas pesquisas, chegou à seguinte formula: a associação


de um estímulo não condicionado (comida), com a apresentação de um
estímulo neutro (campainha), pode provocar uma resposta condicionada
(salivação), ou seja, aprendida.

Aprendizagem por condicionamento clássico


Pavlov desenvolveu as suas pesquisas sobre o condicionamento
do comportamento analisando as atitudes de cães. Pavlov foi o primeiro
a desenvolver uma teoria sobre o condicionamento do comportamento,
que, teoricamente, poderia ser aplicada a qualquer contexto.

Primeiramente, consideramos que o estímulo reflexo ou


incondicionado (S1) gera uma resposta incondicionada (R1). A salivação
dos cães de Pavlov é, inicialmente, uma resposta incondicionada ao
estímulo incondicionado, que é o alimento.

Estímulo incondicionado: estímulo que elicia automaticamente


uma resposta incondicionada, por exemplo, o alimento.

Resposta incondicionada: resposta que é automaticamente


eliciada pelo estímulo incondicionado, por exemplo, a salivação.
14 Psicologia da Aprendizagem

Pavlov descobriu, então, que, associando um estímulo neutro (S2),


como o som de uma sineta, antes do estímulo incondicionado, os cães
já começavam a salivar. A isso, deu-se o nome de condicionamento. Um
som é apresentado logo antes do EI (alimento). Os dois estímulos são,
então, associados, gerando uma resposta.

Depois do processo de condicionamento, os cães passaram a salivar


assim que ouviam a sineta. O som passou a ser um estímulo condicionado
(S2), e a salivação, uma resposta condicionada (R2).

Estímulo condicionado: estímulo que passa a eliciar uma nova


resposta após o condicionamento clássico, por exemplo, o som da sineta.

Resposta condicionada: resposta eliciada pelo estímulo


condicionado após o condicionamento clássico.

Observe a Figura 2.
Figura 2 – Esquema de aprendizagem por condicionamento clássico

Em que:

S1: estímulo incondicionado.

R1: resposta incondicionada.

S2: estímulo neutro/estímulo condicionado.

R2: resposta condicionada.


Fonte: Elaborada pela autora (2021).
Psicologia da Aprendizagem 15

SAIBA MAIS:

Para saber mais sobre o assunto, assista ao vídeo


Condicionamento clássico explicado, do canal Universo da
Psicologia, clicando aqui.

VOCÊ SABIA?

Watson ficou tão impressionado com os estudos de Pavlov


sobre o condicionamento de comportamentos que resolveu
testar a aplicabilidade do método em respostas emocionais
humanas, como o medo. Para isso, ele e sua assistente de
pesquisa, Rosalie Rayner, realizaram um estudo com um
bebê de 11 meses, o pequeno Albert. Watson usou como
estímulo neutro um rato de laboratório. Albert não tinha
medo do rato; quando ele o viu antes do condicionamento,
aproximou-se dele e o tocou. Watson, então, esgueirou-se
por trás de Albert e bateu com um martelo em uma barra
de ferro, produzindo um som muito forte. A resposta de
Albert foi de evitação e fuga (chorar e tentar engatinhar para
longe) a esse ruído. Watson e Rayner associaram então a
visão do rato com o ruído até que apenas a visão do rato
produzia a resposta de medo e evitação em Albert. Watson
demonstrou, com esse experimento, que com é possível
condicionar até mesmo respostas emocionais a partir do
condicionamento clássico.

Figura 3 – Watson e o experimento com o pequeno Albert

Fonte: Wikipedia
16 Psicologia da Aprendizagem

A teoria de Skinner
Figura 4 – B. F. Skinner

Fonte: Wikipedia

B. F. Skinner nasceu em 1904, na Pennsylvania, ano em que Pavlov


recebia o Prêmio Nobel de Medicina. Ele estudou a obra de Watson
Behavior: an Introduction to Comparative Psycology e a publicação de
Thorndike, Psicologia Educacional. Em 1931, Skinner concluiu o Doutorado
em Psicologia em Harvard e começou a lecionar na Universidade de
Minnesota, em 1936.

VOCÊ SABIA?

Skinner escreveu diversas obras ao longo de sua carreira,


entre elas o romance Walden II (1948), que retrata uma
sociedade ideal, em que não há violência, privilégios,
divisão de classes e propriedade privada. Skinner deixa
claro, neste livro, sua crença de que a vida do homem pode
ser boa mediante um planejamento que vise ao maior bem
para o maior número de pessoas, aplicando os princípios
da Teoria de Reforçamento.

A proposta teórica de Skinner era fundamentada na análise científica


do comportamento. Nesse pensamento, o homem não é autodeterminado
nem autossuficiente, mas determinado pelo ambiente. Para Skinner,
Psicologia da Aprendizagem 17

as versões iniciais do ambientalismo eram falhas, pois deixavam muito


espaço para o indivíduo autônomo, e, para ele, o ambiente assume
funções que antes eram atribuídas ao homem.

Skinner ressalta que o homem não controla o ambiente; contudo,


também não é uma vítima dele. O homem é controlado por um ambiente
que ele ajuda a construir. Desse modo, os estímulos (Sa) que vêm do
ambiente geram respostas (R) no homem, que, por sua vez, devolve uma
resposta (Sc) ao ambiente.

Observe a Figura 5:
Figura 5 – Esquema do Condicionamento Operante

Fonte: Elaborada pela autora (2021).

A teoria de Skinner gira em torno do controle do comportamento e


dos estudos das consequências observáveis. Ele escolheu algumas áreas
do comportamento humano para dar exemplos sobre o controle.

• Controle pessoal.

• Educação.

• Governo.

Em todos esses aspectos, Skinner utiliza o sistema de reforço/


punição para explicar o controle. Toda sociedade estabelece normas e
regras de convivência; Skinner chama de reforço o recebimento de alguma
gratificação ou admiração – aquilo que recebemos como incentivo para a
manutenção de determinado comportamento. A punição, ao contrário, é a
consequência que escapa ao desejável. É utilizada sob forma de censura
ou acusação, com a intenção de extinguir um comportamento.

Skinner preconiza que todo comportamento pode ser aprendido,


inclusive o comportamento verbal, que ele define como o comportamento
reforçado pela mediação com outras pessoas.
18 Psicologia da Aprendizagem

A aquisição da linguagem, aqui, se dá por meio da imitação do


comportamento verbal dos adultos. Estes vão reforçando suas respostas
para que elas se tornem cada vez mais próximas do padrão de linguagem
considerado adequado. Como consequência desse reforçamento seletivo
da comunidade, a criança aprende a discriminar quais, entre as suas
verbalizações, implicarão reforços e quais não.

REFLITA:

Vimos até aqui que, a partir da análise do comportamento,


bastaria que manipulássemos as variáveis ambientais
mediante reforço aos comportamentos esperados e
punição para os comportamentos indesejáveis; seria
possível obter qualquer resultado que quiséssemos
aprender e ensinar o que melhor nos convém. Você
acredita que uma aprendizagem nesses moldes tenha um
resultado satisfatório? Acredita que seja duradouro?

Aprendizagem por condicionamento operante


No condicionamento clássico, a aprendizagem se dá pela associação
de estímulos ambientais e suas respostas. No condicionamento operante,
essa relação é complexificada, pois associa os comportamentos a suas
consequências, mediante processo de reforço ou punição. É chamado de
condicionamento operante porque opera no ambiente, produzindo uma
consequência.

A pesquisa sobre o comportamento e suas consequências teve


início com Thorndike e sua caixa enigmática. Nos seus estudos com a
caixa, Thorndike desenvolveu a Lei do Efeito: qualquer comportamento
que resulte em consequência satisfatória tende a ser repetido, e qualquer
comportamento que resulte em consequência insatisfatória tende a não
ser repetido.
Psicologia da Aprendizagem 19

Figura 6 – E. Thorndike

Fonte: Wikipedia

Skinner, na década de 1930, redefiniu os termos de Thorndike.


Para ele, “consequências satisfatórias e insatisfatórias” eram expressões
subjetivas. Assim, no pensamento de Skinner, um reforçador é um
estímulo que aumenta a probabilidade de ocorrência de uma resposta
anterior; e um estímulo punitivo diminui a probabilidade de ocorrência
dessa resposta.

DEFINIÇÃO:

Reforçador: estímulo que aumenta a probabilidade de uma


resposta anterior.
Punitivo: estímulo que diminui a probabilidade de ocorrência
de uma resposta anterior.

Desse modo, o reforço é o processo pelo qual a probabilidade de


uma resposta é aumentada mediante a apresentação de um estímulo
reforçador depois da resposta, e a punição é o processo pelo qual a
chance de uma resposta ocorrer é diminuída mediante a apresentação de
um estímulo punitivo depois da resposta.
20 Psicologia da Aprendizagem

EXEMPLO: Imagine que você está condicionando operantemente


sua cachorra. Assim, se cada vez que ela se sentar, você der comida,
a comida será o estímulo reforçador, e o processo de aumentar o
comportamento de se sentar seria chamado de reforço. Igualmente, se
você a condicionasse a parar de pular sempre que apertar um spray de
água em seu rosto, o spray seria o estímulo punitivo, e o processo para
reduzir o comportamento de pular seria chamado de punição.

DEFINIÇÃO:

Reforço: processo pelo qual a chance de se obter uma


resposta é aumentada mediante a apresentação de
estímulo reforçador.
Punição: processo pelo qual a chance de se obter uma
resposta é diminuída mediante a apresentação de estímulo
punitivo.

Skinner não apenas redefiniu os termos da Lei de Efeito, mas


também ampliou a pesquisa, subdividindo os termos em reforço positivo
e negativo, e punição positiva e negativa. A palavra “positivo”, aqui, significa
que um estímulo foi adicionado; e a palavra “negativo” quer dizer que um
estímulo foi removido. Skinner também definiu dois tipos de estímulos:
estímulo apetitivo (agradável) e estímulo aversivo (desagradável).

DEFINIÇÃO:

Estímulo apetitivo: é um estímulo agradável. Por exemplo:


dinheiro, boas notas, comida.
Estímulo aversivo: é um estímulo desagradável. Por
exemplo: choque elétrico, notas baixas, doenças.
Reforço positivo: reforço em que é apresentado um
estímulo apetitivo.
Reforço negativo: reforço em que é removido um estímulo
aversivo.
Punição positiva: punição em que é apresentado um
estímulo aversivo. Punição negativa: punição em que é
removido um estímulo apetitivo.
Psicologia da Aprendizagem 21

No reforço positivo, é apresentado um estímulo apetitivo (agradável);


já na punição positiva, é apresentado um estímulo aversivo (desagradável).
Por exemplo, elogiar uma criança por fazer tarefas é um processo de
reforço positivo, pois se acrescenta um estímulo agradável, o elogio. Bater
em uma criança por não obedecer às regras é um exemplo de punição
positiva, pois se acrescenta um estímulo desagradável, a violência.

No reforço negativo, um estímulo aversivo é retirado; já na punição


negativa, um estímulo apetitivo é retirado. Um exemplo de reforço
negativo seria tomar um analgésico para dor de cabeça. A remoção da dor
(estímulo aversivo) leva a uma maior chance de repetir o comportamento
de tomar o analgésico. Um exemplo de punição negativa é proibir uma
pessoa de usar o carro (estímulo apetitivo) depois que ela chegou em
casa depois da hora combinada. Ser privada de dirigir levará à obediência
futuramente.

ACESSE:

Assista ao vídeo Skinner e o condicionamento operante para


saber mais sobre essa forma de condicionamento, clicando
aqui .

Observe o Quadro 1:
Quadro 1 – Reforço e punição negativos e positivos

Positivo Negativo

Reforço É apresentado um É removido um estímulo


estímulo agradável. desagradável.

Punição É apresentado um É removido um estímulo


estímulo desagradável. agradável.
Fonte: Elaborado pela autora (2021).
22 Psicologia da Aprendizagem

IMPORTANTE:

É importante ressaltar que o que serve de reforço ou


punição é relativo a cada indivíduo, em contexto específico
e em determinado momento. O que nos diz se um estímulo
serviu como reforçador ou punitivo é se o comportamento-
alvo continuar ocorrendo (reforço) ou parar (punição).

RESUMINDO:

E então, compreendeu tudo que estudamos neste capítulo?


Vamos revisar um pouco do que vimos. Neste capítulo,
você viu que o condicionamento clássico é a aquisição de
uma nova resposta (resposta condicionada) a um estímulo
previamente neutro (estímulo condicionado) que sinaliza,
confiavelmente, a chegada de um estímulo incondicionado.
Você também aprendeu que o condicionamento
operante é a aprendizagem a partir da associação dos
comportamentos as suas consequências. Desse modo,
comportamentos que são reforçados, ou seja, que
produzem consequências satisfatórias, serão fortalecidos.
Por outro lado, comportamentos que são punidos, ou
seja, que produzem consequências insatisfatórias, serão
enfraquecidos.
Psicologia da Aprendizagem 23

O humanismo
OBJETIVO:

Neste capítulo, vamos compreender o pensamento


humanístico de Carl Rogers no que diz respeito à pessoa
como o centro e ao ensino centrado no aluno. E então,
preparado? Vamos lá!

EXPLICANDO MELHOR:

O Humanismo faz parte da chamada Terceira tendência


na Psicologia americana. É denominado assim porque
se diferencia radicalmente das duas forças maiores da
Psicologia: o Behaviorismo e a Psicanálise. No Humanismo,
a ideia de homem psicológico é rejeitada e é adotado o
ponto de vista fenomenológico e existencialista para
compreender o indivíduo e o mundo.

O Existencialismo moderno se desenvolve em torno do conceito


fenomenológico de intencionalidade, significando a característica do
pensamento que independe dos fatos objetivos ou dos eventos externos.
Para clarificar a influência do Existencialismo, é importante esclarecer
alguns aspectos da Filosofia da época:

• Todas procedem de uma vivência existência, difícil de definir e


variável de filósofo para filósofo.

• O objetivo principal da investigação é o que chamamos de


existência, e o sentido atribuído a este vocábulo é variável, mas
trata-se de uma maneira de ser particularmente humana.

• A existência é concebida de maneira atualista. Ela nunca é, mas


cria-se em liberdade; é um projeto, um devir.

• Os existencialistas consideram o homem como mera subjetividade,


que é entendida em sentido criador: o indivíduo cria-se livremente
a si mesmo, ele é a sua liberdade.
24 Psicologia da Aprendizagem

IMPORTANTE:

O Humanismo é também um dos pilares da Psicologia


da terceira força. Com interesse pelos valores humanos,
o reconhecimento da pessoa é a entidade de valor
incalculável. O Humanismo contemporâneo assume
um caráter comunitário, diferentemente do Humanismo
histórico da Renascença.

Carl Rogers foi o teórico que identificou essa terceira tendência na


Psicologia e quem representou essa nova vertente teórica.

Carl Rogers: breve histórico


Figura 7 – Carl Rogers

Fonte: Wikipedia

Carl Rogers foi um terapeuta-educador que não priorizou nenhuma


das duas profissões – e isso não o prejudicou. Ele via em ambas a
oportunidade de desenvolvimento do ser humano. Seu trabalho não
consistia em analisar o campo da Educação nem o campo da Saúde
Mental, mas sim na defesa de uma atitude profissional que facilitasse o
desenvolvimento de todos.
Psicologia da Aprendizagem 25

Rogers nasceu em 1902, em Illinois; em uma família religiosa. Cresceu


isolado e limitado pelas crenças religiosas e pela rigidez moral da família.
Em 1922, em uma viagem a Pequim para assistir a uma conferência da
Federação Mundial de Estudantes Cristãos, fez uma excursão pela China
Ocidental. Segundo relatos, a partir desta viagem, seus objetivos, valores,
propósitos e sua filosofia passaram a ser os seus próprios, divergente de
tudo que lhe havia sido transmitido até então pelos pais.

Em 1924, iniciou seus estudos no Unios Theological Seminary e


concluiu seu Doutorado em 1931, no Teacher College da Universidade de
Columbia. Em 1930, já publicava artigos em revistas especializadas.

Seu primeiro trabalho foi em um centro de orientação infantil, em


Rochester. Nos 12 anos que trabalhou neste centro, Rogers desenvolveu
seu modelo terapêutico, que ele denominou Terapia de relacionamento.

VOCÊ SABIA?

Rogers produziu vídeos sobre o seu método de trabalho,


para fins de pesquisa e de aperfeiçoamento da técnica.
Alguns vídeos estão disponíveis da Internet. Assista a um
deles, clicando aqui .

Em 1951, Rogers publicou o livro Terapia centrada do cliente, no qual


ele ressalta o aspecto mais revolucionário de seu pensamento: o cliente
é quem deve ter a força orientadora da relação terapêutica. Em 1969,
lançou a obra Liberdade para aprender, um marco para a Educação, pois
continha as condições educacionais necessárias para Rogers.

A explicação Rogeriana do processo de aprendizagem escolar


também é entendida como uma terceira força nas teorias de aprendizagem,
por se diferenciar das teorias associacionistas e cognitivas. Rogers
entendia a aprendizagem escolar como um processo de autorrealização.

A pessoa como centro


Rogers desenvolveu uma teoria terapêutica que ficou conhecida
como representante da terceira força em Psicologia. Essa abordagem
Rogeriana sobre personalidade e conduta enfatiza o sujeito e suas
26 Psicologia da Aprendizagem

relações interpessoais; com foco no desenvolvimento da personalidade


do indivíduo, na construção e na organização pessoal da realidade; na
capacidade de atuar como um ser integrado. A orientação interna do
sujeito, o autoconceito e a visão autêntica de si mesmo são também
conceitos que Rogers enfatizou em seus escritos.
Figura 8 – Terapia

Fonte: Freepik

Na perspectiva Rogeriana, o homem é único, tanto em sua vida


interior, em suas percepções, quanto na sua avaliação do mundo. A pessoa
é considerada um processo contínuo de descoberta de seu próprio ser.
Não há modelo a ser seguido.

O objetivo do homem é a autorrealização, o uso pleno de suas


potencialidades e capacidades. Para Rogers, o homem não tem um fim
determinado, mas tem liberdade para se apresentar como um projeto
permanente e inacabado. O homem é arquiteto de si mesmo, como
afirma o autor; é consciente de sua incompletude ao mesmo tempo em
que sabe que é um ser em transformação e um agente transformador da
realidade.
Psicologia da Aprendizagem 27

DEFINIÇÃO:

A teoria Rogeriana enfatiza sujeito, porém não há uma


dicotomização do homem e mundo. O homem se atualiza
e atualiza o mundo.

Para Rogers, o ser humano reconstrói em si o mundo exterior a


partir de sua percepção, dos estímulos e das experiências, e lhes atribui
significados próprios. O mundo é produzido pelo homem e tem papel
fundamental na criação de condições de expressão para a pessoa, cuja
tarefa é o desenvolvimento pleno do seu potencial inerente.

O foco da teoria Rogeriana é o sujeito, mas uma das condições


necessárias para o desenvolvimento individual é o ambiente. A visão
de mundo e da realidade é desenvolvida impregnada de conotações
particulares à medida que o homem experiencia o mundo e os elementos
experienciados vão adquirindo significados para ele.

Segundo Rogers, o papel do subjetivo não deve ser minimizado.


Assim sendo, ele rejeita qualquer forma de controle e manipulação das
pessoas, mesmo que seja sob o pretexto de torná-las mais felizes. A
crença na fé e a confiança – termos de Rogers – na capacidade da pessoa
em seu próprio crescimento constituem o pressuposto básico da teoria
Rogeriana.

O ensino centrado no aluno


Vimos que, para Rogers, o sujeito deve estar no centro de tudo,
e não poderia ser diferente quando pensamos no âmbito educacional.
O sujeito tem papel fundamental na elaboração do conhecimento. Para
o autor, o homem conhece ao experienciar realidades que possuam
significados concretos para ele e, além disso, que proporcionem mudança
e crescimento.
28 Psicologia da Aprendizagem

Figura 9 – O sujeito na elaboração de seu conhecimento

Fonte: Pixabay

NOTA:

A educação não deve ser apenas para a pessoa em situação


escolar, mas para o homem. Tudo o que está a serviço do
crescimento das pessoas, do interpessoal ou do intergrupal
é educação. Nesse processo de aprendizagem, os motivos
de aprender devem ser os do próprio aluno.

A finalidade da educação é criar condições que facilitem a


aprendizagem do aluno, liberando sua capacidade de autoaprendizagem,
tornando possível o seu desenvolvimento intelectual e emocional. Seria
a criação de condições nas quais os alunos pudessem ter iniciativa,
responsabilidade, autodeterminação, discernimento, que soubessem
aprender coisas que lhes serão úteis para a solução de seus problemas e
que tais conhecimentos os capacitem a adaptar-se com flexibilidade nas
novas situações.
Psicologia da Aprendizagem 29

A escola, de acordo com esse posicionamento, respeita a criança


como ela é, oferece condições para que ela possa desenvolver-se e
possibilita e estimula a autonomia do aluno.

Uma escola que faz com que alunos ativos fiquem sentados em
carteiras, estudando assuntos em sua maior parte inúteis, é uma escola
má. Será boa apenas para os que acreditam em escolas desse tipo, para
os cidadãos não criadores que desejam crianças dóceis, não criadoras,
prontas a se adaptarem a uma civilização cujo marco de sucesso é
o dinheiro. Criadores aprendem o que desejam aprender para ter os
instrumentos que o seu poder de inventar e o seu gênio exigem. Não
sabemos quanta capacidade de criação é morta nas salas de aula (NEILL,
[s. d.] apud MIZUKAMI, 1986).
Figura 10 – A educação não se dá apenas na sala de aula, mas em todo lugar que estimule
a autonomia e possibilite novas experiências

Fonte: Pixabay

Neill era radical em relação a como a escola deveria ser. Mas, quanto
à proposta Rogeriana, tentativas de aplicação foram feitas levando em
consideração os limites da escola, contudo estabelecendo um ambiente
de aprendizagem que favorecesse a liberdade para aprender.
30 Psicologia da Aprendizagem

Rogers propunha um ensino não diretivo, ou seja, dirigir a pessoa


à sua própria experiência, para que, assim, ela possa se estruturar e agir.
A não diretividade implica um conjunto de técnicas que têm como base
a confiança e o respeito pelo aluno. A partir disso, é possível afirmar que
há uma teoria da aprendizagem na proposta Rogeriana para a Educação.
Seus princípios básicos são:

• Todo aluno tem potencialidade para aprender a tendência e


realizar essa potencialidade.

• Todo aluno possui capacidade organísmica de valoração.

• Todo aluno manifesta resistência à aprendizagem significativa.

• Se for pequena a resistência do aluno, então ele realiza sua


potencialidade para aprender.

• O aluno, ao realizar sua potencialidade para aprender, torna-se


aberto à experiência, reciprocamente.

• A autoavaliação é função da capacidade organísmica de valoração.

• A criatividade é função da autoavaliação.

• A autoconfiança é função da autoavaliação.

• A independência é função da autoavaliação.

O professor, nesta abordagem, assume o papel de facilitador


da aprendizagem, devendo ser autêntico (aberto a experiências) e
congruente, isto é, integrado, o que implica, também, aceitar seu aluno e
compreender os sentimentos que ele possui.

O aluno, nesta abordagem, deve responsabilizar-se pelos objetivos


referentes à aprendizagem que têm significado para ele e precisa ser
compreendido como um ser que se autodesenvolve e cujo processo de
aprendizagem deve-se facilitar.
Psicologia da Aprendizagem 31

DEFINIÇÃO:

A aprendizagem, para Rogers, tem a qualidade de um


envolvimento pessoal – a pessoa como um todo, tanto
no sentido sensível quanto sob o aspecto cognitivo.
Ela é autoiniciada. Mesmo quando o primeiro impulso
ou o estímulo vem de fora, o senso de descoberta, do
alcançar, do captar e do compreender vem de dentro. É
penetrante. Suscita modificação no comportamento, nas
atitudes, talvez mesmo na personalidade do educando.
É avaliada pelo educando. Este sabe se está indo ao
encontro de suas necessidades, em direção ao que quer
saber. O lócus da avaliação pode-se dizer, reside, afinal, no
educando. Significar é a sua essência. Quando se verifica
a aprendizagem, o elemento de significação desenvolve-
se, para o educando, em sua experiência como um todo
(ROGERS, 1972 apud MIZUKAMI, 1986).
32 Psicologia da Aprendizagem

RESUMINDO:

E então, compreendeu tudo que estudamos neste capítulo?


Vamos revisar um pouco do que vimos. Neste capítulo, você
viu que, na perspectiva Rogeriana, ser humano significa ser
um organismo em processo de integração, independente,
autônomo, que deve ser aceito e respeitado, uma pessoa
na qual os sentimentos e experiências ocupam um
papel importante no desenvolvimento, que possui uma
capacidade de autogerir-se, de se reajustar, capacidade
que deve ser liberadas não diretivamente; considerada
no aqui e agora, que interage com outras pessoas, é
compreendida e se aceita tal como é. Você também
aprendeu que a proposta Rogeriana para a Educação é a
de que esta restaure e estimule a curiosidade do aluno;
encoraje-o a escolher seus próprios interesses; promova
todos os tipos de recursos; permita que o aluno faça
escolhas responsáveis e que assuma a responsabilidade
das consequências de suas opções; dê ao aluno papel
ativo na formação e na construção de um programa que ele
faz parte; promova interação entre os meios reais; focalize,
por meio da interação, os problemas reais; desenvolva a
autodisciplina e crítica, para que os alunos sejam capazes
de avaliar tanto as suas quanto as contribuições dos outros;
e capacite o aluno a adaptar-se inteligente, flexível e
criativamente a novas situações problemáticas do futuro.
Psicologia da Aprendizagem 33

A psicanálise
OBJETIVO:

Neste capítulo, vamos entender os princípios da Psicanálise


de Freud, identificar suas fases e fazer um paralelo entre
elas e a Educação. E então, preparado? Vamos lá!

Um dos marcos do século XX é a Psicanálise e a descoberta do


inconsciente. Não se pode dissociar a imagem de Sigmund Freud da
origem e consolidação dessa teoria, apesar da existência de grandes
nomes entre os colaboradores iniciais. Diante disso, vamos a um estudo
dos principais conceitos da Psicanálise e a sua relação com a Educação.

Freud e a Psicanálise: breve histórico


Figura 11 – Sigmund Freud

Fonte: Wikipedia
34 Psicologia da Aprendizagem

Sigmund Freud nasceu em Freiberg, em 1856. Ingressou seus


estudos na Universidade de Viena, em 1873, concluindo a faculdade de
Medicina em 1881. Dedicou-se à Psiquiatria para posteriormente concluir
que os conhecimentos existentes não eram significativos. Nas décadas
de 1880 e 1890, Freud foi reconhecido como um neurologista de renome.

Iniciou os estudos com Charcot, em Paris, um psiquiatra conhecido


por seus estudos e trabalhos com pessoas histéricas. Freud acompanhou
seus seminários e a descoberta de que fenômenos histéricos e a hipnose
constituíam um mesmo processo. Embora mais tarde as teorias de Charcot
não tivessem sido úteis para a Psicanálise, os estudos sobre o processo
sugestivo e os sintomas de doenças mentais constituíram a base para o
pensamento de Freud.
Figura 12 – Charcot no Hospital Salpêtrière, em Paris

Fonte: Wikipedia
Psicologia da Aprendizagem 35

SAIBA MAIS:

O principal colaborador para as ideias iniciais de Freud é


Joseph Breuer, médico que realizava na Áustria pesquisas
sobre o tratamento da histeria com a hipnose. O trabalho
de Breuer no caso Ana O. ficou conhecido como o primeiro
caso tratado no modelo psicanalítico. O método de eliminar
os sintomas com a retomada de recordações traumáticas
passadas, chamado Método Catártico, ficou conhecido
como a cura pela fala.

Em linhas gerais, estes são os dados iniciais da teoria de Freud, que


continuou a ser construída nos 50 anos que se seguiram. As obras centrais
do modelo psicanalítico são: Os estudos sobre a histeria, escritos com
Breuer em 1893-1895; A interpretação dos sonhos (1900); Psicopatologia
na vida cotidiana, (1901); Três ensaios para uma teoria sexual (1905); Os
três ensaios clínicos (1909-1911) – o pequeno Hans, o homem dos ratos
e o caso Schreber –; Os instintos e seus destinos (1915); Luto e melancolia
(1917); Além do princípio do prazer (1920); O Ego e o Id (1923); e Inibição,
sintoma e angústia (1926).
Figura 13 – A interpretação dos sonhos em sua primeira edição, em 1900

Fonte: Wikimedia commons.


36 Psicologia da Aprendizagem

As fases de desenvolvimento na Teoria


Psicanalítica
A Teoria Psicanalítica versa sobre a estruturação psíquica, a
existência de processos inconscientes e sua influência na vida do sujeito.
Na teoria, estão presentes conceitos que não cabem ser explicitados aqui,
mas ressaltaremos aqueles que são necessários para compreender as
fases de desenvolvimento infantil que Freud desenvolveu ao longo dos
seus estudos.

DEFINIÇÃO:

A libido é uma energia afetiva original, que mobiliza o


organismo na direção de seus objetivos e progressivas
organizações durante o desenvolvimento, cada uma
suportada por uma organização biológica. Cada nova
organização da libido é apoiada em uma zona erógena
corporal e caracteriza uma fase de desenvolvimento.

A libido é uma energia voltada para a obtenção de prazer. Nesse


sentido, define-se a libido como uma energia sexual, em um sentido
amplificado do termo, e cada fase de desenvolvimento como uma etapa
psicossexual de desenvolvimento.

IMPORTANTE:

A sexualidade não é vista por Freud em seu sentido usual,


mas abarca a evolução de todas as ligações afetivas
estabelecidas desde o nascimento até a sexualidade
genital adulta, ou seja, a energia sexual mencionada é, para
a Psicanálise, uma energia vital, que move as estruturas do
sujeito.

Ao organizar-se em torno das zonas erógenas definidas, a libido


caracteriza as fases do desenvolvimento infantil: fase oral, fase anal e fase
fálica. Há também um período intermediário, sem novas organizações,
antes da fase final: o chamado período de latência. E, por fim, a fase
genital, que é uma organização adulta.
Psicologia da Aprendizagem 37

DEFINIÇÃO:

Define-se a fase de desenvolvimento como a organização


da libido em torno de uma zona erógena, dando uma
fantasia básica e uma modalidade de relação de objeto.

A fase oral
Ao nascer, o bebê perde a relação simbiótica com a mãe e, com o
corte do cordão, a separação é irreversível. A criança deve, assim, iniciar
a sua adaptação ao meio. A luta entre os instintos de vida e de morte já é
um combate franco nesse momento.

Os processos já existentes na vida intrauterina, de incorporar os


alimentos e excretar o que é prejudicial, serão agora deslocados para as
relações com o mundo. A amamentação é um exemplo disso.

Ao nascer, a estrutura sensorial mais desenvolvida é a boca. É por


ela que se buscará o equilíbrio homeostático aparentemente perdido.
É pela boca que começará a provar e a conhecer o mundo, e fará sua
primeira e mais importante descoberta afetiva: o seio. O seio é o primeiro
objeto de ligação infantil com o mundo, é o depositário dos seus primeiros
amores e ódios.

Neste momento, a libido está organizada em torno da zona erógena


oral, e a modalidade de relação oral é a incorporação. A criança incorpora
o leite e o seio, e isso é o equivalente a ter a mãe dentro de si. O vínculo
inicial pode então ser estabelecido. Tudo o que a criança pega é levada à
boca. É comendo que ela conhece o mundo e que as identificações são
estabelecidas.
38 Psicologia da Aprendizagem

IMPORTANTE:

Freud percebe que, além da necessidade de alimentação,


a criança sente prazer no ato de mamar. O prazer oral é uma
modalidade que se estabelece paralelamente ao prazer
de se alimentar, mas que se separa dele. Esse vínculo de
prazer inicial será a base de futuras ligações afetivas.
Devemos ter em mente que os modelos psicológicos são
organizados sempre tendo como base alguma organização
biológica. Assim, a modalidade incorporativa é a estrutura
de base do primeiro ano de vida.

No segundo e terceiro ano, o controle muscular e a organização


psicomotora estão em maturação. É o período em que se inicia o andar, o
falar e que se estabelece o controle dos esfíncteres. No início do segundo
ano de vida, a libido passa da organização oral para a anal.

Dois processos psicológicos básicos estão se organizando: o


primeiro diz respeito às fantasias que a criança elabora sobre os primeiros
produtos, realmente seus, que coloca no mundo; o segundo, ao modelo
de relação a ser estabelecido com o mundo por meio de seus produtos.
Primeiro a criança desenvolve o sentimento de ter coisas suas, que ela
produz e que pode ofertá-las ou negá-las ao mundo. Percebemos isso no
andar e no falar, de modo mais imediato.

A fase anal

NOTA:

O período é denominado fase anal pois a libido se organiza


sobre a zona erógena anal. A fantasia básica será ligada aos
primeiros produtos, principalmente ao valor simbólico das
fezes. Duas modalidades de relação serão estabelecidas: a
projeção e o controle.
Psicologia da Aprendizagem 39

Figura 14 – Estátua feminina com um bebê: fase anal

Fonte: Pixabay

As fezes assumem um lugar central na fantasia da criança. São


objetos que vêm de dentro do próprio corpo, que são parte dessa criança,
de certo modo. São objetos que geram prazer ao serem produzidos.
Durante o treino de esfíncteres, as fezes são dadas como presentes ou
recompensa aos pais, e, se o ambiente é hostil, são retidas.

Quando o desenvolvimento é normal, cada elemento que a criança


produz é sentido como bom e valorizado. O sentimento básico que fica
estabelecido a conduzirá por todas as fases posteriores da vida ao sentir
que ela é adequada e que o que ela produz é bom, portanto será sempre
livre e estimulada a produzir. Esse sentimento de que o que produzimos
é bom é necessário para todas as reações produtivas que estabelecemos
com o mundo: trabalho, família, filhos, sociedade.

A fase fálica
No terceiro ano de vida, a libido se organiza novamente; agora, a
erotização passa a ser dirigida para os genitais. Há um interesse infantil por
eles, a masturbação torna-se frequente e normal, e surge a preocupação
40 Psicologia da Aprendizagem

com as diferenças entre meninos e meninas. Essa discriminação sexual


não caracteriza a existência de dois genitais, o masculino e o feminino,
mas apenas a presença ou ausência do pênis. Então, meninos são aqueles
que têm pênis, e meninas, aquelas que não o possuem.

A erotização dos genitais, que se inicia nesse período, traz a


fantasia de meninos e meninas terem um pênis. Mas, à medida que
o desenvolvimento se processa, a percepção correta da realidade
confirmará para a criança que só o homem é portador de pênis, ficando
a mulher na condição de castrada. Na visão Freudiana, essa organização
do pensamento infantil fornecerá as bases diferenciais das organizações
psicológicas masculinas e femininas.

Nesta fase, a fantasia básica é fálica, e a tarefa deste momento é


organizar os modelos de relação entre o homem e a mulher.

IMPORTANTE:

Nunca devemos nos esquecer de que estamos falando,


aqui, da organização da fantasia infantil. A procura por
parceiros para satisfação sexual real é uma tarefa da vida
adulta, é um trabalho da fase genital. A libido está organizada
em torno da zona erógena genital, mas configurada pela
fantasia fálica. Há um acúmulo de tensão, de energia que
deve ser descarregada na sensação de prazer. E a descarga
de energia, neste caso, energia sexual, implica busca por
um objeto, neste caso, um elemento do sexo oposto.

É, portanto, natural que, nesta etapa, o menino busque uma figura


feminina que cumpra este papel. E a figura feminina que ele tem mais
próxima é a mãe. A maioria dos vínculos de prazer da infância está ligado
a ela; a mãe preenche este papel na fantasia infantil. E é esta relação que
servirá de suporte para que, quando adulto, possa buscar uma parceira
sexual com quem estabelecerá vínculos afetivos e sexuais.

O pai, neste momento, também tem papel fundamental na fantasia


da criança e coloca-se como um interceptor entre o filho e a mãe. As
fantasias infantis de se casar com a mãe, ou ser seu namorado, são
vedadas pelo pai. O menino fica, então, com um sentimento ambivalente
Psicologia da Aprendizagem 41

de ódio e amor em relação ao pai. Isso é o que Freud chamou de Complexo


de Édipo.

DEFINIÇÃO:

Complexo de Édipo: estabelece-se um triangulo amoroso


– o pai, a mãe e o filho. O pai, maior, mais forte e dono da
mãe, é sentido pelo filho como um adversário contra o qual
não pode lutar. Na fantasia infantil, devido à erotização e
ao amor pela mãe, o pai, como forma de punição, o castra.
Configura-se, então, o temor pela castração, que obriga o
menino a reprimir a atração sentida pela mãe.

A repressão que ocorre no Édipo marca o fim da fase fálica infantil


e estabelece o modelo de busca de um amor que será retomado na
adolescência.

VOCÊ SABIA?

Édipo Rei é uma  peça  do  teatro grego antigo  escrita


por  Sófocles  por volta de  427 a.C. Aristóteles, na
sua  Poética, considerou esta obra como o mais perfeito
exemplo de tragédia grega. Centra-se na família de Édipo,
descrevendo eventos com mais de 8.000 anos. A história
desta família é determinada por uma profecia que Édipo irá
matar o seu pai e se casar com a sua mãe; a ação desta
primeira peça é a descoberta da realização dessa profecia
(WIKIPÉDIA, 2022).

Período de latência e fase genital


Com a repressão que ocorre no Édipo, a energia libidinal se desloca
para outros objetivos não sexuais. A isso, chamamos de realizações
socialmente produtivas de sublimação. O período de latência caracteriza-
se pela canalização das energias sexuais para o desenvolvimento social.
Não há uma nova organização de zona erógena, nem de fantasias
básicas, nem de novas modalidades de relações objetais. É um período
intermediário entre a fase fálica e a fase genital adulta. A sexualidade
permanece reprimida até sua eclosão na puberdade.
42 Psicologia da Aprendizagem

Alcançar a fase genital constitui, para a Psicanálise, o pleno


desenvolvimento do adulto normal. As adaptações biológicas e
psicológicas foram realizadas, agora é a hora das realizações. É capaz
de amar num sentido amplo, definindo um vínculo sexual significativo e
duradouro.

A Psicanálise e a Educação
Em seu estudo autobiográfico, Freud afirma que não contribui
com coisa alguma para a aplicação da Psicanálise à Educação, mas é
compreensível que as investigações da vida sexual das crianças e de seu
desenvolvimento psicológico tenham atraído à atenção dos educadores
e lhes mostrado seu trabalho sob uma nova luz.

Apesar disso, na análise de sua obra, podemos identificar algumas


vezes em que ele fez referência à Educação. Em O mal-estar da civilização,
ele apresenta a primeira tarefa da educação: a criança deve aprender a
controlar seus instintos. É impossível conceder-lhe liberdade de pôr em
prática todos os seus impulsos sem restrições.

A educação e a terapêutica, para Freud, acham-se em relação


atribuível uma com a outra. A educação procura garantir que algumas
disposições da criança não causem qualquer prejuízo ao indivíduo ou à
sociedade. A educação constitui uma profilaxia, que se destina a prevenir
tanto a neurose quanto a perversão; a psicoterapia procura desfazer
o menos estável dos dois resultados e instituir uma espécie de pôs-
educação.

O educador, contudo, trabalha com um material que é plástico,


aberto a toda impressão, e tem de observar a obrigação de não moldar
a jovem mente de acordo com suas próprias ideias pessoais, mas
segundo as disposições e possibilidades do educando (FREUD [s. d.] apud
GOULART, 2015).

Sabemos que, para a criança, o professor é um substituto paterno. O


professor pode, assim, abrir ou bloquear o caminho para a aprendizagem.
O papel da transferência na relação criança-professor é fundamental.
Psicologia da Aprendizagem 43

IMPORTANTE:

Embora o professor não seja um terapeuta, é importante


que ele conheça os fenômenos psíquicos que permeiam a
relação dele com o aluno. A identificação com o professor
é de maior importância para o desenvolvimento da
personalidade e para a aprendizagem intelectual. Além
disso, quanto às fantasias das crianças expressas no
brincar e no falar, o professor pode, desde a pré-escola, ser
orientado para lidar com elas.

SAIBA MAIS:

Se você ficou interessado em saber mais sobre as fases de


desenvolvimento psicossexual e a relação da Psicanálise
com a Educação, assista aos vídeos Freud – Complexo
de Édipo e fases psicossexuais, neste link , e Freud –
Transferência e Educação, disponível aqui .

RESUMINDO:

E então, compreendeu tudo que estudamos neste


capítulo? Vamos revisar um pouco do que vimos. Neste
capítulo, você viu que a libido é uma energia voltada para
a obtenção de prazer. Nesse sentido, define-se a libido
como uma energia sexual, em um sentido amplificado do
termo, e cada fase de desenvolvimento como uma etapa
psicossexual de desenvolvimento. Você também aprendeu
que a sexualidade não é vista por Freud em seu sentido
usual, mas abarca a evolução de todas as ligações afetivas
estabelecidas desde o nascimento até a sexualidade
genital adulta, ou seja, a energia sexual mencionada é, para
a Psicanálise, uma energia vital, que move as estruturas do
sujeito. Por fim, compreendeu que a libido caracteriza as
fases do desenvolvimento infantil – fase oral, fase anal e
fase fálica – e que há também um período intermediário,
sem novas organizações, antes da fase final, o período de
latência; e a fase genital, que é uma organização adulta.
44 Psicologia da Aprendizagem

Aprendizagem na adolescência
OBJETIVO:

Neste capítulo, vamos aprender a lidar com o estresse e com


a ansiedade dos adolescentes, aplicando as estratégias de
resiliência. E então, preparado? Vamos lá!

Falamos, até aqui, sobre os diferentes modos de compreender a


aprendizagem. Seja na infância ou na adolescência, os autores das teorias
mencionadas não se diferenciam muito. Alguns aspectos, porém, devem
ser ressaltados no período da adolescência, como fatores que podem
alterar o rendimento escolar: o estresse e a ansiedade.

No Behaviorismo, a aprendizagem é regulada por fatores


situacionais (estímulo externo) que geram alguma consequência
(resposta) no ou para o indivíduo. No Humanismo, a aprendizagem
se dá pela experiência do homem com o mundo, por meio da sua
autodeterminação e autorregulação. Na Psicanálise, a aprendizagem
é permeada pela afetividade e pela transferência na relação professor-
aluno – a identificação é fundamental.

O rendimento escolar pode ser definido como as modificações no


indivíduo, que são proporcionadas pela aprendizagem, e a capacidade
de recorrer a sua estrutura cognitiva para ultrapassar as dificuldades e
solucionar problemas, medido por notas ou conceitos que apontam
para o aproveitamento ou não aproveitamento da situação de ensino e
aprendizagem.

O desempenho escolar pode ser afetado por diversos fatores:


externos, como a escola e a família; e internos, como autoconceito
acadêmico, a motivação, a ansiedade e outros.
Psicologia da Aprendizagem 45

NOTA:

Estudos acadêmicos sobre desempenho escolar


salientam que, quando professores demonstram apoio,
carinho, aprovação e elogios, os alunos apresentam maior
desempenho escolar. E quando a escola oferece apoio,
mais estabilidade e flexibilidade, e quando pais estão
cientes das necessidades desenvolvimentais de seus filhos,
apoiando suas decisões, um clima favorável é estabelecido.

Depois da família, a escola tem sido percebida como um local ideal para
a construção de novas maneiras de compreender a sociedade e de construir
novos hábitos, incluindo, aqui, hábitos de saúde. De acordo com a concepção
que a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem de saúde, entendemos que
fatores ligados à escola podem influenciar na saúde do indivíduo.

DEFINIÇÃO:

A OMS define saúde como:

Um estado de completo bem-estar físico,


mental e social, e não consiste apenas na
ausência de doença ou de enfermidade. [...] A
extensão a todos os povos dos benefícios dos
conhecimentos médicos, psicológicos e afins
é essencial para atingir o mais elevado grau de
saúde (NEPP-DH, [s. d.], on-line).

REFLITA:

A saúde psicológica é diretamente ligada à saúde física


de um sujeito. Sendo assim, compreendemos que
adolescentes que não conseguem construir, manter
e modificar adequadamente as características dos
relacionamentos interpessoais frequentemente evoluem
para quadros depressivos e ansiosos. Levando em
consideração que a aprendizagem se dá em um meio
social – a escola –, por meio da relação entre professor-
aluno e aluno-aluno, a qualidade dessa aprendizagem fica
comprometida.
46 Psicologia da Aprendizagem

A adolescência é um período marcado por diversos conflitos


relacionados à identidade, ao futuro, às transformações corporais; assim,
as dificuldades nos relacionamentos interpessoais e o estresse podem ser
causados tanto por modificações sociais que o sujeito vivencia nesta etapa
quanto pelas suas mudanças biológicas que caracterizam a puberdade.

Estresse e estratégias de resiliência


Um evento estressor é caracterizado como um estímulo que
ameaça o organismo, gerando consequências que podem ser físicas ou
psicológicas. Podemos facilmente identificar como evento estressor a
morte de alguém, um acidente, uma violência, uma doença física, entre
outros. Contudo, episódios diários menores, eventos corriqueiros, como
pequenas frustrações, demandas irritantes e coisas que acontecem no
dia a dia, podem causar prejuízos e ser igualmente nocivas.

EXPLICANDO MELHOR:

O estresse é uma condição patológica que se desenvolve


quando o indivíduo conclui que as dificuldades eventuais
são excessivas e que a sua capacidade de enfrentá-las é
menor. Isso impossibilita que o indivíduo crie estratégias
para lidar com esses eventos estressores. Essa diferença
entre o evento estressor e a capacidade do indivíduo de
superá-lo altera sua qualidade de vida, trazendo prejuízos,
diminuindo a motivação para atividades diárias. Pode
também provocar uma sensação de incompetência,
inabilidade e, em consequência, baixa autoestima.

DEFINIÇÃO:

O evento estressor pode ser definido como uma situação


do dia a dia que causa irritação, frustração, diminuição de
motivação ou nervosismo. Pode também ser uma situação
maior como um ataque violento, a morte de alguém, a
descoberta de uma doença.

O estresse provoca mudanças na vida do indivíduo, tanto biológicas


quanto psicológicas. A resposta corporal do indivíduo, em termos
Psicologia da Aprendizagem 47

neurobiológicos, é uma ativação do sistema nervoso simpático e da


hipófise, glândula responsável pelo gerenciamento das emoções e por
manter a homeostase.

Já as respostas psicológicas são várias e também relativas. Cada


indivíduo reage de uma forma diante de um evento estressor, mas, em
geral, envolvem cansaço, confusão mental, dificuldade de concentração,
prejuízo na memória, queda de produtividade, irritabilidade, agressividade,
apatia, queda de autoestima, desgaste, isolamento, falta de energia,
baixo rendimento escolar, comportamento hiperativo, hipersensibilidade
emotiva, depressão e outras psicopatologias.

Alguns autores sugerem a resiliência e o uso de estratégias de coping


como forma de enfrentamento desses eventos estressores. A resiliência
tem sido definida como a capacidade que o indivíduo possui de superar
as adversidades ou a habilidade de lidar com algum episódio estressor e
superá-lo. Já as estratégias de coping são os esforços empregados pelo
indivíduo na tentativa de lidar com situações estressantes.

REFLITA:

Você já passou por alguma situação em que exercitou a


resiliência? Quais foram as suas estratégias para superar
uma situação de estresse? As estratégias de coping são
recursos cognitivos, emocionais e comportamentais
orientados para a redução do estresse em situações
adversas. A estratégia a ser empregada em tal situação
depende da avaliação que o indivíduo faz dela. Assim, em
situações avaliadas como modificáveis, o indivíduo emprega
estratégias que focalizam o problema, e em situações
avaliadas como não modificáveis, as estratégias focalizam
na emoção. Autores mencionam que as estratégias mais
utilizadas por adolescentes são de distração que envolve
relaxamento, por exemplo, a prática de exercícios, o abuso
de substâncias, entre outras. Essas estratégias são para
alívio temporário do estresse, mas não atuam na fonte do
problema.
48 Psicologia da Aprendizagem

Figura 15 – Alunos exercitando a meditação como estratégia contra o estresse

Fonte: Freepik

A aprendizagem pode ser afetada positiva ou negativamente


por diferentes fatores. Podemos perceber que os fatores estressores
influenciam negativamente nesse processo, mas é possível, mesmo
dentro da sala de aula, ensinar aos alunos adolescentes como lidar
com esses eventos, criando estratégias de enfrentamento próprias de
cada sujeito. Com o fortalecimento dessas estratégias e do senso de
capacidade de superação dos problemas, a tendência é de que cada vez
menos esses eventos interfiram no desempenho escolar dos alunos.

A ansiedade na sala de aula


Anteriormente, vimos como o estresse pode afetar os alunos em
sala de aula. Agora, abordaremos outro fator que interfere no desempenho
de alunos, em grande parte nos adolescentes: a ansiedade.
Psicologia da Aprendizagem 49

Figura 16 – Ansiedade diante de situações escolares pode atrapalhar o desempenho


escolar

Fonte: Pixabay

EXPLICANDO MELHOR:

A ansiedade pode ser caracterizada como uma sensação


de perigo iminente, aliada a uma atitude de expectativa,
que provoca uma perturbação mais ou menos profunda.
Também pode se manifestar como um sentimento
avassalador de medo de tudo que está relacionado
ao contexto escolar ou a certas situações escolares,
determinadas disciplinas, professores, situações de
avaliação, colegas, entre outros.

Diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento da


ansiedade:

• Fatores comuns relacionados ao ambiente familiar são: pais


excessivamente críticos, constantes comparações, alto nível de
exigência quanto à realização do filho.

• Fatores mais comuns relacionados ao ambiente escolar são:


criar expectativas não realistas com relação ao desempenho
50 Psicologia da Aprendizagem

de seus alunos, promover um clima de pressão para realização


das tarefas, comparação entre os alunos, sistema de avaliação
rígido e ameaçador, clima de competição. O surgimento da
ansiedade também está associado à capacidade de a criança ou
o adolescente interpretar seu desempenho escolar, em relação a
sua turma e ao seu próprio desempenho anterior.

REFLITA:

É possível diferenciar a ansiedade em duas formas


distintas: a preocupação e a emotividade. A preocupação
é um componente cognitivo e diz respeito às expectativas
negativas sobre si mesmo, por exemplo, a situação de
prova e suas possíveis consequências. Já a emotividade
está relacionada a sentimentos de desprazer, nervosismo
e tensão, com presença (ou não) de sintomas físicos,
como tremores, suores, taquicardia e outros. Apesar de
serem distintas, a preocupação e a emotividade estão
correlacionadas.

O desempenho escolar é afetado negativamente em grande parte


pela preocupação, porque os sintomas da emotividade tendem a diminuir
quando o teste ou exame começa; à medida que as preocupações
permanecem, podem aumentar e tendem a permanecer mesmo depois
da avaliação.

EXPLICANDO MELHOR:

A ansiedade diante de avaliações tem sido uma


preocupação dos educadores, considerando que ela
tende a aumentar com a avançar da escolaridade, gerando
um padrão motivacional disfuncional que prejudica o
desempenho acadêmico dos alunos. Visto que a situação
de avaliação escolar é um mal necessário, cabe aos
professores, à escola e à família auxiliarem o aluno a lidar
de forma mais funcional com situações ansiógenas.
Psicologia da Aprendizagem 51

Teóricos da Psicologia cognitiva acreditam que alunos ansiosos


têm hábitos de estudos deficientes, apresentam dificuldade de organizar
o material e não processam a informação adequadamente; e isso
retroalimenta o ciclo da ansiedade. Como resposta, hábitos efetivos de
estudos capacitam os alunos a organizar tarefas de modo que elas exijam
menos capacidade cognitiva do que seria necessário, alimentando, assim,
bons hábitos de estudos, gerando motivação e diminuindo a ansiedade.

Existe a hipótese de que a ansiedade tende a aumentar as


demandas feitas na capacidade cognitiva enquanto hábitos apropriados
de estudos e estratégias efetivas para realização de provas capacitam o
aluno altamente ansioso a lidar mais apropriadamente com as demandas
da tarefa.

A psicologia cognitiva tem demonstrado que as estratégias de


aprendizagem podem auxiliar no controle de variáveis como a ansiedade,
a motivação para a aprendizagem, as atribuições de causalidade para
o sucesso e fracasso escolar, entre outras, e, dessa forma, contribuir
para a manutenção de um estado interno satisfatório que favoreça a
aprendizagem. Assim, podemos dizer que nem todos os problemas
podem ser resolvidos na escola, mas, em algumas questões relacionadas
à ansiedade, principalmente à ansiedade relacionada a momentos de
avaliação, o professor pode e deve auxiliar seu aluno a lidar de uma forma
mais funcional com esse momento.

Há alguns procedimentos que o educador pode adotar em sala de


aula, a fim de prevenir o desenvolvimento da ansiedade, como: esclarecer
a finalidade da avaliação, atenuar a pressão do tempo na realização de
avaliações, informar aos alunos quanto à forma de avaliação, fornecer
instruções sobre o tempo, minimizar o uso de comparações em sala de
aula, evitar que alunos ansiosos tenham que se expor em sala de aula,
avaliar de várias maneiras diferentes, não só por testes e provas, ressaltar
os pontos fortes de seus alunos e auxiliar na superação das dificuldades.
São práticas importantes e de fácil uso para o professor e que contribuem
para a prevenção da ansiedade em sala de aula.
52 Psicologia da Aprendizagem

Figura 17 – Professora e alunos trabalhando juntos

Fonte: Freepik

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no tema, leia o artigo Infância,


mídias e aprendizagem: autodidaxia e colaboração,
clicando aqui .
Psicologia da Aprendizagem 53

RESUMINDO:

E então, compreendeu tudo que estudamos neste


capítulo? Vamos revisar um pouco do que vimos. Neste
capítulo, você viu que o desempenho escolar pode ser
afetado por diversos fatores: externos, como a escola e
a família; e internos, como autoconceito acadêmico, a
motivação, a ansiedade e outros. Você também entendeu
que o desempenho escolar é afetado negativamente em
grande parte pela preocupação, porque os sintomas da
emotividade tendem a diminuir quando o teste ou exame
começa; à medida que as preocupações permanecem,
podem aumentar e tendem a permanecer mesmo depois
da avaliação. Por fim, você aprendeu estratégias que
educador pode adotar em sala de aula, a fim de prevenir
o desenvolvimento da ansiedade, como: esclarecer a
finalidade da avaliação, atenuar a pressão do tempo na
realização de avaliações, informar aos alunos quanto à
forma de avaliação, fornecer instruções sobre o tempo etc.
54 Psicologia da Aprendizagem

REFERÊNCIAS
BELLONI, M. L.; GOMES, N. G. Infância, mídias e aprendizagem:
autodidaxia e colaboração. Revista Educação e Sociedade, v. 29, n. 104,
p. 717-746, 2008.

ÉDIPO REI. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikipedia


Foundation, 2022. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.
php?title=%C3%89dipo_Rei&oldid=62973904. Acesso em: 6 fev. 2022.

GOULART, I. B. Psicologia da Educação: fundamentos teóricos e


aplicações à prática pedagógica. 21. ed. Curitiba: Vozes, 2015.

RAPPAPORT, C. R.; FIORI, W. R.; DAVIS, C. Psicologia do


Desenvolvimento: a idade pré-escolar. São Paulo: EPU, 1981.

RAPPAPORT, C. R.; FIORI, W. R.; DAVIS, C. Psicologia do


Desenvolvimento: teorias do desenvolvimento, conceitos fundamentais.
São Paulo: EPU, 1981.

SILVA, J. E. C. A música dos sonhos. Trivium, Rio de Janeiro, v. 6, n.


2, p. 75-89, jul./dez. 2014.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Constituição


da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO). NEPP-DH, [s. d.].
Disponível em: http://www.nepp-dh.ufrj.br/oms2.html#:~:text=A%20
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