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Psicologia do

Desenvolvimento
Tainá Thies

Unidade 4

A psicologia da
Tainá Thies
aprendizagem,
Psicologia do
várias fases da
vida
Desenvolvimento
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autora
TAINÁ THIES
A AUTORA
Tainá Thies
Olá! Meu nome é Tainá Thies. Sou formada em Letras, com
especialização em Linguística, mestrado em Teoria da Literatura e,
atualmente, cursando Psicologia, com uma experiência técnico-
profissional na área de Educação e Aprendizagem de mais de 10 anos.
Atuei em empresas que me colocaram em contato com a diversidade do
povo brasileiro e me fizeram amar ainda mais a Educação, a Psicologia
e a Língua Portuguesa. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir
minha experiência de vida àqueles que estão iniciando suas profissões.
Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase
de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Teorias do Desenvolvimento e da Aprendizagem e suas
Implicações Pedagógicas........................................................................ 12
A Psicanálise de Freud e o desenvolvimento infantil .......................................... 12

Sigmund Freud (1856-1939)................................................................................... 12

Instâncias e Estruturas psíquicas...................................................................... 14

Fases do Desenvolvimento Psicossexual................................................... 18

Burrhus Frederic Skinner (1904-1990)............................................................ 22

Consequências – reforço e punição...............................................................24

Reforço..................................................................................................................................24

Punição ................................................................................................................................26

O humanismo de Rogers e a mudança ao longo da vida................................27

Carl Rogers (1902-1987)............................................................................................28

Abraham Maslow (1908- 1970)............................................................................ 31

Psiquismo da Criança Frente ao Processo de Aprendizagem... 33


Desenvolvimento da Confiança.............................................................................................33

Desenvolvimento do Apego....................................................................................................34

Desenvolvimento da autonomia, da iniciativa e produtividade.....................35

Psiquismo na adolescência e a Aprendizagem...............................38


Identidade............................................................................................................................................. 40

Sexualidade..........................................................................................................................................42

Andragogia e a Psicologia da aprendizagem em fase adulta..44


Inteligência na Vida Adulta........................................................................................................45

Educação na idade madura..................................................................................................... 48


Psicologia do Desenvolvimento 9

04
UNIDADE

A PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM, VÁRIAS FASES DA VIDA


10 Psicologia do Desenvolvimento

INTRODUÇÃO
Chegamos ao final de mais uma disciplina. Nesta unidade, vamos
verificar as principais linhas teóricas da Psicologia, Psicanálise, Behaviorismo
e Humanismo. Cada uma destas áreas estuda o ser humano de um ponto
de vista diferente, descrevendo o desenvolvimento e aprendizagem em
cada fase da vida. Nos aprofundaremos em alguma das características que
marcam infância, adolescência e vida adulta, relacionando-as a diferentes
teóricos, tais como: Freud, Skinner, Roger, Erikson e Bowlby. Esperamos
que você se interesse pelos conceitos trabalhados aqui para aprofundar
seus estudos cada vez mais, pesquisando as diferentes abordagens da
Psicologia do Desenvolvimento.

Vamos começar?
Psicologia do Desenvolvimento 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Extinguir entre as principais abordagens da psicologia moderna;

2. Discutir o desenvolvimento psíquico da criança;

3. Apontar o desenvolvimento psíquico na adolescência;

4. Investigar o desenvolvimento da aprendizagem na vida adulta.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
12 Psicologia do Desenvolvimento

Teorias do Desenvolvimento e da
Aprendizagem e suas Implicações
Pedagógicas

INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender as


principais abordagens da psicologia moderna. Portanto,
vamos focar em três grandes teorias, que descrevem como o
ser humano se desenvolve, aprende e muda ao longo da vida.
Para cada uma dessas três ações, falaremos de um teórico
fundador de uma das três grandes escolas de pensamento
da Psicologia: o Behaviorismo, a Psicanálise e o Humanismo.
E então? Será que conhecer o as teorias do desenvolvimento
auxiliam a compreender os processos e implicações da
pedagogia na aprendizagem? Então, vamos lá!

Assim, começaremos falando como a pessoa se desenvolve na


teoria de Freud (Psicanálise). Em seguida, veremos como o indivíduo
aprende na concepção de Skinner (Behaviorismo) e, por fim, como ocorre
a mudança ao longo da vida, pela visão de Rogers (Humanismo).

A Psicanálise de Freud e o
desenvolvimento infantil
Sigmund Freud (1856-1939)
Figura 1: Sigmund Freud (1856-1939)

Fonte: Wikimedia
Psicologia do Desenvolvimento 13

Freud começou sua carreira formando-se em Medicina e


atendendo em consultório particular, muito embora tivesse em mente
ser um pesquisador. Porém, não sendo rico e tendo origem judia, as
oportunidades para um jovem médico nem sempre eram das melhores
no início, e, por isso, optou por praticar a medicina, mais especificamente
a neurologia e os transtornos nervosos.

Para poder trabalhar com o tratamento dos transtornos nervosos,


Freud estudou com o psiquiatra Jean Charcot, o qual utilizava técnicas de
hipnose para tratar a histeria.

•• Para os psicanalistas, a histeria era uma desordem que afligia


mulheres, fazendo com que elas sofressem de ataques nervosos
e reações exageradas. Porém, este conceito mudou após tantas
pesquisas.

•• Para saber mais sobre a história da histeria e o seu conceito atual,


recomendamos a leitura o artigo “Histeria”, do psicólogo Giovani
Belintani, disponível em https://bit.ly/2FEscHO. Acesso em: 21 set.
2020.

Entretanto, Freud não se interessou pelo método da hipnose, e


voltou--se para o método empregado pelo médico Joseph Breuer, que
tratava os pacientes escutando-os. Os dois trabalharam juntos por um
tempo, mas se separaram em virtude de ideias contrárias a respeito das
causas da histeria.

A partir deste trabalho, Freud começou a pesquisar e escrever suas


pesquisas sobre a teoria psicanalítica. Aos poucos, ele foi colecionando
inúmeros discípulos, muitos dos quais seguiam com sua linha de
pensamento, e outros tantos romperam com Freud por não concordarem
com as suas teorias ou personalidade.

Assim, Freud desenvolveu uma das teorias mais robustas da


psicologia, a Psicanálise.
14 Psicologia do Desenvolvimento

ACESSE:

: O documentário sobre a vida e o trabalho de Freud, para saber


mais sobre o psicanalista tão famoso, que está disponível em
https://bit.ly/3mIerIq. Acesso em: 21 set. 2020.

Figura 2: Freud e o divã

Fonte: Pixabay

Instâncias e Estruturas psíquicas


Não teremos como dar conta, neste breve espaço, de todos os
pontos trabalhados na teoria de Freud, porém, precisamos entender como
a psiquê se forma, de acordo com a Psicanálise, para, então, podermos
discutir o seu desenvolvimento a partir dessa visão.

Assim:

A Psicanálise, o método terapêutico desenvolvido por Freud,


procura favorecer os pacientes na compreensão sobre seus
conflitos emocionais inconscientes, fazendo-lhes perguntas
destinadas a evocar lembranças há muito esquecidas
(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2010, p. 32).
Psicologia do Desenvolvimento 15

Conforme as autoras, a psicanálise tenta trazer à tona, ou melhor, ao


consciente, os traumas e conflitos que foram relegados ao inconsciente,
a uma parte da psique que não é acessada de forma direta, mas por meio
dos sonhos, lapsos e trabalhos em consultório, de acordo com Freud.

•• Há um termo muito importante na Psicanálise, e que é utilizado de


diferentes formas pelas pessoas: recalque. Para a Psicanálise, o
recalque é um mecanismo de defesa, que auxilia o indivíduo a colocar
para fora uma das situações difíceis, em um local de difícil acesso, ou
inconsciente. Para entender melhor, recomendamos assistir ao vídeo
“Recalque na Psicanálise”, da psicanalista Evelyn Disitzer, disponível
em https://cutt.ly/xfLy5Bg. Acesso em: 21 set. 2020.

Desta forma, nossa psique humana é constituída por três partes:


consciente, pré-consciente e inconsciente. Veja a imagem a seguir:

Figura 3: Id, Ego e Superego

Fonte: Elaborada pela autora (2020).

O professor Hélio Miranda Jr. nos proporciona um melhor


entendimento do ID no vídeo “O ID – Conceitos em Freud”, disponível em
https://cutt.ly/4fLiymI. Acesso em: 21 set. 2020.

Vamos exemplificar para entender melhor. Quando um bebê nasce,


ele tem apenas o princípio do prazer. Se sente fome, chora para ter sua
16 Psicologia do Desenvolvimento

necessidade de fome atendida. Se quer a mãe, chora para ter a satisfação


da necessidade de conforto. E assim, o Id garante também a sobrevivência
do indivíduo. Porém, o Id não conhece o mundo externo, as pessoas, as
regras, as coisas do mundo, apenas as vontades e necessidades do sujeito.
Assim, aos poucos, o Ego passa a se desenvolver para que o sujeito possa
ter contato com o mundo exterior, não apenas pelo choro.

•• Ego: Embora o Id possa saber o que é um chocolate e querer um


chocolate, ele não consegue negociar com a realidade para obtê-lo.
Desta forma, é preciso um sistema que consiga fazer as transações
com o mundo objetivo, e o Ego assume esse papel. Porém, nem
sempre o Ego pode satisfazer as necessidades e vontades do Id no
momento ou da forma como ele quer. Se você estiver em uma fila
do banco e estiver com vontade de ir ao banheiro, o Ego não deixará
que você esvazie sua bexiga ali naquele lugar. Ele fará um balanço,
tentará calcular quanto tempo a bexiga aguenta, qual o tamanho da
fila, onde está o banheiro, e assim por diante, até poder satisfazer essa
necessidade.

•• Recomendamos assistir ao vídeo do professor Hélio Miranda Jr.,


que nos proporciona um melhor entendimento do EGO, “O EGO –
Conceitos em Freud”, disponível em https://cutt.ly/afLo47u. Acesso
em: 21 set. 2020.

Em outras palavras:

[...] o ego é o executivo da personalidade, porque ele controla


o acesso à ação, seleciona as características do ambiente às
quais irá responder e decide que instintos serão satisfeitos
e de que maneira. Ao realizar essas funções executivas
imensamente importantes, o ego precisa tentar integrar as
demandas muitas vezes conflitantes do id, do superego e do
mundo externo. Essa não é uma tarefa fácil e, em geral, coloca
atenção sobre o ego (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2010, p. 54).

Assim, o Ego tem uma tarefa árdua de dar conta tanto das
demandas dos sujeitos, quanto das demandas do ambiente. Como
Psicologia do Desenvolvimento 17

vimos, as demandas do sujeito podem vir do ID, dos desejos e impulsos,


porém, pode vir também de outra instância, que se desenvolve a partir da
internalização das regras do sujeito, o Superego.

•• Superego: esta instância se desenvolve ao longo da primeira infância


com as regras sociais impostas no desenvolvimento infantil, e será
mais ou menos exigente dependendo da internalização de tais regras
pelas crianças. Assim, os valores, as normas, o certo e o errado (ou o
que se considera certo ou errado) e os padrões de vida internalizados
formarão o Superego, o qual é uma instância altamente exigente por
seu teor moral, sendo o oposto do Id.

Ele é o representante interno dos valores tradicionais e dos


ideais da sociedade conforme interpretada pela criança pelos
pais e impostos por um sistema de recompensas e munições.
O superego é a força moral da personalidade. Ele representa o
ideal mais do que real e busca a perfeição mais do que prazer.
Sua principal preocupação é decidir se alguma atitude é certa
ou errada, para poder agir de acordo com os padrões morais
autorizados pelos agentes da sociedade (HALL; LINDZEY;
CAMPBELL, 2010, p. 54).

O Superego atua como nossa bússola moral interna, mas que se


construiu a partir do que eles disseram ser certo ou errado. Porém, às
vezes, esta bússola pode ser extremamente rígida, causando sofrimento
para o sujeito. Uma vez o que o superego tem como uma de suas funções
coibir os desejos do Id, se ele conseguir inibir os desejos, como fica o
sujeito diante de suas necessidades?

Assim, o Superego possui, além da função de coibir o desejo do Id,


outras duas funções: (1) fazer com que o Ego ceda a objetivos moralistas
e não realistas e (2) ser um agente da busca da perfeição, tentando fazer
com que o mundo seja o ideal de certo e moral.

•• As instâncias foram descritas por Freud em um período em que


ainda não possuíamos todo o conhecimento acerca dos processos
mentais ao qual temos acesso hoje. Desta forma, não devemos
pensar as instâncias psíquicas como estruturas distantes do corpo e
18 Psicologia do Desenvolvimento

do ambiente em que o sujeito está inserido. Logo, o Id representaria


o fator biológico constituinte da personalidade, o Superego, o
componente social e o Ego, o componente psicológico.

Por fim, para Freud, os conflitos gerados entre o desejo Id e as


imposições da sociedade (Superego) originam a personalidade do sujeito,
a qual vai se moldando ao longo da vida e passando por diferentes fases,
como veremos a seguir.

•• Recomendamos assistir ao vídeo do professor Hélio Miranda Jr., que


nos proporciona um melhor entendimento do EGO, no vídeo: O EGO
– Conceitos em Freud. Fonte: Disponível em: https://cutt.ly/GfLR0jK.
Acesso em: 21 set.2020.

Fases do Desenvolvimento Psicossexual


De acordo com Freud, os anos iniciais (de 0 a 5 anos
aproximadamente) são os de desenvolvimento da personalidade infantil.
Há sempre muitas críticas (positivas e negativas) em relação ao modelo
proposto por Freud, pois ele leva em consideração o desenvolvimento
sexual. Porém, tal desenvolvimento não condiz em sua totalidade com a
ideia de sexo, e sim com fontes de prazer, sendo o sexo uma delas.

Por isso, caso você se aprofunde mais sobre a psicanálise de Freud,


você verá que, muitas vezes, o que se leva em consideração são as fontes
de gratificação, ou de satisfação de um desejo, que não está sempre
relacionado com um prazer ligado aos órgãos genitais, mas, sim, a todos
os olhos que podem proporcionar prazer, não obrigatoriamente com a
conotação sexual.

•• Embora pensemos nas crianças como seres sem despertar da


sexualidade, os psicólogos nos mostram o quanto este pensamento
está errado. A partir do momento em que a criança descobre seus
jogos genitais, ela experimentará sensações relacionadas a eles. A
masturbação infantil, como é chamada, é natural ao desenvolvimento,
Psicologia do Desenvolvimento 19

entretanto, deve ter a devida orientação e atenção, pois pode se tornar


um problema. Leia o artigo “Masturbação infantil: como lidar com a
descoberta dos órgãos sexuais pelas crianças?”, do site Uai Saúde,
para compreender melhor esse fenômeno e ver algumas dicas de
como trabalhar com as crianças nessa fase, que está disponível em
https://cutt.ly/kfLYKYn. Acesso em: 21 set. 2020.

Vamos ver as frases de desenvolvimento descritas por Freud e


compreendermos melhor tal conceito. Veja o quadro a seguir, com o
resumo de cada uma das fases:

•• Freud descreveu um sentimento de desejo e ciúmes entre a criança


e seus genitores, chamado de Complexo de Édipo. Recomendamos
assistir ao vídeo “Complexo de Édipo segundo Freud”, para saber o
que é esse complexo, disponível em https://cutt.ly/hfLA2q2. Acesso
em: 21 set. 2020.

Quadro 1: Fases do desenvolvimento psicossexual segundo Freud


20 Psicologia do Desenvolvimento

Fonte: Elaborada pela autora (2020).

Como como podemos ver pelo quadro acima, há fases em que a


necessidade de gratificação é maior e voltada para o próprio indivíduo,
fases de maior calma em relação aos impulsos e fases em que o prazer
é deslocado para a interação com o outro. E assim, na negociação entre
o desejo e as regras morais e sociais vão sendo internalizadas é que nós
constituímos.

SAIBA MAIS:

Recapitule as fases do desenvolvimento psicossexual de


Freud com a matéria do Portal Educação, disponível em
https://cutt.ly/TfLFRPn. Acesso em: 21 set. 2020.
Psicologia do Desenvolvimento 21

O behaviorismo radical de Skinner e aprendizagem

Antes de entrarmos na teoria desenvolvida por Skinner, vamos


relembrar, de forma breve, como o Behaviorismo se constitui.

Vimos, na primeira unidade, que Pavlov estudou o condicionamento


clássico, a partir da apresentação de um estímulo com a elucidação de
uma resposta. Reveja o conteúdo da primeira unidade para lembrar esses
conceitos!

Outra figura muito importante para o estabelecimento do


Behaviorismo, como uma das escolas de maior peso na Psicologia, foi John
Watson, um pesquisador americano, que ficou famoso primeiramente por
seu experimento com um bebê chamado Albert.

Neste experimento, o pesquisador estabeleceu que o medo e a


ansiedade podem ser condicionados e generalizados, isto é, se por acaso
o bebê desenvolver o medo de cachorros, poderá generalizar esse medo
para bichos de pelúcia, coelhos e outros animais peludos.

SAIBA MAIS:

Watson realizou o experimento com o pequeno Albert, os


quais ficaram mundialmente famosos. Recomendamos assistir
ao vídeo “Condicionamento e Medo: Experimento de Albert”,
para entender como era realizada a pesquisa experimental
nessa época, disponível em https://cutt.ly/HfZqftu. Acesso
em: 21 set. 2020.

Outro efeito de Watson foi a publicação de um artigo que trazia um


manifesto behaviorista, que lançava as bases de um novo movimento
dentro da Psicologia. Desta forma, o Behaviorismo deveria ater-se ao
estudo dos elementos do comportamento, aquilo que é observável no
22 Psicologia do Desenvolvimento

corpo, e não deveria utilizar os termos e nomenclaturas subjetivas e


mentalistas, como método introspectivo dos psicólogos anteriores.

Embora Watson tenha lançado as bases para a nova escola de


pensamento, foi Skinner que de fato a desenvolveu e a tornou tão
conhecida, como veremos a seguir.

Burrhus Frederic Skinner (1904-1990)

Figura 4: Burrhus Frederic Skinner (1904-1990)

Fonte: Wikimedia

Skinner foi um psicólogo americano que iniciou sua carreira como


escritor e que, após ver suas tentativas de escrita e renome frustradas,
decidiu estudar Psicologia, em Harvard, dedicando-se à psicologia
experimental. Foi um psicólogo muito premiado e reconhecido por seus
trabalhos e suas publicações.

Seu trabalho girou em torno do comportamento (behavior),


salientando que o mesmo poderia ser estudado por ele mesmo, e não
com base em processos mentais internos.
Psicologia do Desenvolvimento 23

De forma bastante ampla, seu trabalho pretendia estabelecer leis


gerais a partir da observação do indivíduo, focando sempre em transpor
tais leis para problemas práticos, como tecnologia educacional, tratamento
de crianças autistas, desenvolvimento infantil, entre outros campos.

•• Recomendamos assistir ao documentário sobre a vida de Skinner para


compreender melhor essa figura tão importante para a psicologia e
educação, disponível em https://bit.ly/33NPsuH. Acesso em: 21 set.
2020.

Diferentemente de Pavlov, Skinner não estudou apenas o


comportamento respondente, aquele produzido por estímulo, mas sim o
comportamento operante, que é o comportamento que produz também
uma sequência (ou mudança) no ambiente, não apenas uma resposta.
Vamos ver os exemplos para compreender:

Quadro 2: Exemplos de comportamento e suas possíveis consequências

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Acima, podemos ver alguns comportamentos e suas possíveis


consequências. As consequências podem ser simples, como obter um
chocolate, ou complexas, como obter respostas emocionais de outra
pessoa.

•• O que precisamos compreender é que agimos da forma como agimos,


para obtermos algo do ambiente. Para compreendermos bem isso,
vamos analisar o comportamento da manha no mercado.

A criança pode apresentar o comportamento de chorar e ficar


parada pedindo chocolate, quando a mãe lhe diz que não vai comprar.
24 Psicologia do Desenvolvimento

Com isso, a criança poderá variar seu comportamento, atirar-se no chão,


gritar, chutar, entre outros, tudo com a finalidade de fazer com que o
ambiente se modifique, isto é, que a mãe lhe dê o que deseja.

•• Até aqui conseguimos perceber como o sujeito age para que consiga
ou não algo, emitindo comportamentos para alterar o ambiente.
Porém, a partir deste primeiro comportamento, o que acontece?

•• Vamos voltar à birra pelo chocolate. Digamos que tenha sido a


primeira vez que a criança faz isso no mercado. O que vai determinar
que ela pare com esse comportamento inadequado ou o reproduza
no futuro em outras situações? É algo que Skinner chamou de reforço
e punição, como veremos a seguir.

Consequências – reforço e punição


Reforço e punição são consequências do comportamento do
indivíduo e atuam de forma direta no aprendizado do ser humano. Assim,
a primeira birra da criança no mercado poderá ser reforçada ou punida.
Mas, para sabermos como, vamos ver cada uma dessas consequências.

Reforço
Um reforço é uma consequência que aumenta a probabilidade de
que aquele comportamento volte a ocorrer. Assim, se o comportamento
de birra foi reforçado, é muito provável que a criança aja da mesma forma
novamente.

Existem dois tipos de reforço: o positivo e o negativo.

Na análise do comportamento (behaviorismo), positivo equivale à


adição, e o negativo à subtração. Cuidado! Nunca confunda o positivo
com bom, nem o negativo com mau neste caso.

•• Reforço Positivo: quando acrescentamos um estímulo ao ambiente,


temos um reforço positivo ao comportamento. Assim, caso a mãe dê o
Psicologia do Desenvolvimento 25

chocolate à criança, após ela fazer a birra, ela reforçará positivamente o


comportamento de birra, pois ela adicionou ao ambiente o chocolate.
Assim, no futuro, a criança saberá que basta chorar e espernear para
a mãe comprar o que ela quer!

Porém, o reforço positivo pode ocorrer, por exemplo, ao emitirmos


o comportamento de estudar para a prova, e o estímulo boa nota for
adicionado ao ambiente. Desta maneira, é bem provável que eu volte a
estudar para as provas para que ganhe melhores notas.

•• Reforço Negativo: Quando retiramos um estímulo aversivo do


ambiente, temos um reforço negativo no comportamento.

•• Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o termo


aversivo, muito utilizado na análise do comportamento, significa algo
que provoca repulsa. Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3ciKoCo.
Acesso em: 21 set. 2020.

Digamos que essa mesma criança vá à praia com seus pais. Em um


primeiro momento, ela se nega a passar protetor solar e, no fim do dia, ela
está com a pele ardendo. Logo, a ardência na pele é um estímulo aversivo
para a criança.

No dia seguinte, a criança aceita o protetor solar, pois o mesmo retira


o estímulo de ardência, e, assim, o comportamento de passar protetor
solar é reforçado negativamente, pois subtraímos algo que incomodava.
Logo, é bem provável que a criança passará a ser comportar de forma a
utilizar o protetor solar sem reclamar.

Da mesma forma, podemos analisar os diversos comportamentos,


que são reforçados positiva ou negativamente. Vamos ver mais um
exemplo para compreender.

Fazemos o nosso trabalho e cumprimos os prazos muitas vezes,


tanto por reforço positivo quanto por reforço negativo. O reforço positivo,
na maioria das vezes, é o salário, uma adição de estímulo ao ambiente. O
26 Psicologia do Desenvolvimento

reforço negativo é a retirada da advertência do chefe, ou a retirada das


dívidas!

•• Se pensarmos que podemos agir por reforço positivo, ou seja,


adicionando algo que gostamos, ou por esforço negativo, subtraindo
algo aversivo do nosso ambiente, você diria que as suas ações
durante as semanas são motivadas mais por reforço positivo ou por
reforço negativo? Em todo o caso, esperamos que seja por reforço
positivo! Afinal, passar os dias apenas retirando os estímulos aversivos
do ambiente, nem sempre nos deixa felizes!

Punição
Da mesma forma que o reforço, a punição também pode ser positiva
ou negativa. Porém, a punição visa diminuir e extinguir um comportamento
tido como inadequado.

•• Punição Positiva: No caso da criança do mercado, talvez a mãe


não consiga sair de perto e deixar a criança chorando para extinguir
este comportamento. Muitos pais aplicam uma punição positiva
adicionando agressão física ou verbal. Sabemos o quanto isso pode
prejudicar a criança. Assim, nessa situação, caso a mãe dê um tapa
na criança, ela está adicionando um estímulo (tapa/dor/humilhação)
para diminuir o comportamento de birra da criança.

•• Punição Negativa: O famoso castigo! Quando retiramos algo bom do


ambiente. Então, com o exemplo da birra, pode ser que a mãe, ao
chegar em casa, retire as horas de televisão da semana e, com isso,
espera-se que diminua o comportamento inadequado de fazer birra.

Como podemos ver, reforço e punição são mecanismos


extremamente poderosos e que agem a cada instante sem nem mesmo
percebermos. Estes mecanismos fazem com que aprendemos o nosso
repertório de comportamentos, os quais levaremos ao longo da vida.

•• Sabemos bem o quanto a punição positiva, em especial a


violência (física, emocional ou verbal), pode ser prejudicada para o
Psicologia do Desenvolvimento 27

desenvolvimento da criança. Por isso, é muito importante saber como


aplicar os conceitos de reforço, em especial positivo, no ambiente
educacional. Recomendamos a leitura da matéria do G1 a respeito
desse assunto, disponível em https://glo.bo/2FVAD19. Acesso em: 22
set. 2020.

Desta forma, Skinner decodificou como ocorre o processo de


aprendizagem. Logicamente, há mais descrições de processos complexos
envolvidos nestes mecanismos, porém, este panorama básico possibilita
que compreendamos como é importante pensarmos nas consequências
que aplicamos aos alunos, para que eles expressem comportamentos
aceitos ou diminuam os comportamentos inadequados.

O humanismo de Rogers e a mudança ao


longo da vida
.Vimos duas grandes escolas de pensamento até aqui, a Psicanálise
e o Behaviorismo. Essas duas correntes dominaram boa parte do século
XX, dividindo psicólogos e pesquisadores. Porém, com o aparecimento de
uma filosofia que pensava a respeito da existência do homem, surge uma
outra escola que procura relacionar tais pensamentos à Psicologia. Nasce,
então, uma terceira grande escola, a do Existencial Humanismo, embora
possamos chamá-la apenas de humanista.

Os autores Hall, Lindzey e Campbell (2000) definem tal escola no


sentido:

A psicologia humanista se opõe ao que considera como triste


pessimismo e desespero inerentes à visão psicanalítica do ser humano,
por um lado, e a concepção de robô do ser humano retratado no
comportamentalismo, por outro lado. A psicologia humanista é mais
esperançosa e otimista em relação ao ser humano. Ela acredita que
a pessoa, qualquer pessoa, contém dentro de si o potencial para um
desenvolvimento sadio e criativo. O fracasso em realizar esse potencial se
28 Psicologia do Desenvolvimento

deve às influências coercitivas e distorcedoras do treinamento parental,


da educação e de outras pressões sociais (p. 363).

Desta forma, para a Psicologia Humanista, o ser humano é capaz


de superar suas dificuldades, pois possui capacidades internas para
isso. Porém, esta superação só é possível quando o sujeito reconhece
que tem total responsabilidade sobre a sua própria vida, mesmo que seu
desenvolvimento tenha sido permeado por influências externas, como a
educação e a sociedade.

Carl Rogers (1902-1987)

Figura 5: Carl Rogers (1902-1987)

Fonte: Wikimedia

Desde muito cedo, Rogers demonstrou interesse por compreender


os seres humanos, primeiramente por vir de uma família muito rígida e
sentir-se muito isolado. Por volta dos 20 anos, o psicólogo revolta-se com
Psicologia do Desenvolvimento 29

seu modo de vida e a visão imposta por sua família, acreditando que as
pessoas são quem deveriam pensar sobre quais os melhores caminhos
para as suas vidas, baseadas em suas interpretações, e não indicadas por
um código moral ou social restritivo (SCHULTZ; SCHULTZ, 2012, p. 419).

•• Recomendamos assistir ao vídeo “Rogers – Teoria da Personalidade


centrada na pessoa”, para entender melhor o psicólogo que fundou
a terceira via na psicologia, saindo do dualismo Psicanálise x
Behaviorismo, disponível em https://bit.ly/3mGUYIn. Acesso em: 22
set. 2020.

Rogers nasceu e viveu nos EUA, recebendo o título de Pós-Doutor


pela Universidade de Colúmbia, onde passou boa parte de sua vida. Sua
pesquisa foi realizada majoritariamente com estudantes da universidade,
fato que recebeu muitas críticas, pois os estudantes tinham certo nível,
tanto social quanto educacional, e não apresentavam graves problemas
de saúde mental. Outros pesquisadores não acreditavam que seria
possível aplicar a teoria desenvolvida por Rogers em contextos mais
graves ou profundos.

A partir de seus estudos, Rogers desenvolveu a Abordagem


Centrada na Pessoa (ACP), a qual é tida como não diretiva, isto é, o
psicólogo não define as metas ou caminhos da terapia, não “dirige” o
paciente, e sim proporciona um ambiente seguro e acolhedor para o
paciente ser quem ele é.

Para ele, estamos sempre em busca de um sentido, e isso faz com


que continuemos sempre em desenvolvimento, até o final de nossas vidas.
O que definirá nosso sucesso é um conjunto de fatores que passa, como
dito anteriormente, por compreendermos que tem responsabilidade
sobre nossas vidas e recursos internos para isso.

Entre os recursos que mais influenciam no desenvolvimento


ao longo da vida, estão uma atenção positiva desde o nascimento e a
autorrealização.
30 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS:

Carl Rogers acreditava que a educação tinha a possibilidade de


despertar a autorrealização do sujeito. Para saber mais sobre
a visão dele acerca do desenvolvimento da personalidade
e a educação, recomendamos assistir ao vídeo “Carl Rogers
e a Educação – Teoria Humanista”, disponível em https://bit.
ly/32RTmDF. Acesso em: 22 set. 2020

•• Atenção Positiva: ter o amor incondicional do cuidador desde o


nascimento é um grande facilitador na vida do sujeito, pois construirá
nele um sentimento de valor, de que ele tem possibilidade de
demonstrar e aceitar amor, desenvolvendo uma personalidade que
podemos chamar de saudável.

Caso a criança não venha a ter esta atenção positiva da mãe, sua
personalidade se desenvolverá com baixa autoestima e sentimento de
fracasso, impedindo a plena realização do sujeito.

•• Autorrealização: para Rogers é a mais alta expressão de uma boa


saúde mental. É quando o sujeito tem a possibilidade de aceitar
novas experiências e valores, vivendo o movimento presente, sem
ansiedades ou depressões. Um sujeito autorrealizado também não
depende das opiniões dos outros para viver sua vida, se guia por seus
instintos, pois sabe que é livre para pensar e criar.

Os conceitos ilustrados acima e a abordagem desenvolvida por


Rogers encontraram campo muito fértil nos EUA, especialmente após a
Guerra Fria, pois as pessoas buscavam novos sentidos para as suas vidas
e muitas certezas estavam mudando. Assim, seus estudos influenciaram
diversas outras escolas e pesquisadores.

Porém, embora Roger tenha ficado conhecido como fundador desta


escola, um outro psicólogo, contemporâneo dele, deve ser lembrado
Psicologia do Desenvolvimento 31

aqui, pois tem grande importância quando pensamos na realização do


sujeito adulto: Abraham Maslow.

Abraham Maslow (1908- 1970)


Maslow foi outro psicólogo americano que quebrou com o
pensamento dualista vigente da época (psicanálise x comportamentalismo).
Para ele, assim como para o humanismo, o indivíduo tem total capacidade
de se autorrealizar plenamente, mas se obtiver a satisfação das
necessidades básicas antes disso.

•• Recomendamos assistir ao vídeo “Maslow (1) – Pirâmide de


Necessidades – Teoria Holístico-Dinâmica”, para entender melhor a
hierarquia das necessidades básicas do ser humano, disponível em
https://cutt.ly/bfZXq3h. Acesso em: 22 set. 2020.

É provável que você já tenha visto a pirâmide a seguir, com a lista


das necessidades básicas do sujeito.

Figura 6: Hierarquia das necessidades básicas de Maslow

Fonte: Elaborado pela autora. (2020).


32 Psicologia do Desenvolvimento

Como podemos ver na imagem acima, antes da autorrealização,


o sujeito precisa ainda garantir que suas necessidades fisiológicas, de
segurança, de amor e estima sejam satisfeitas.

Quando o sujeito atinge o topo da pirâmide e se autorrealiza, ele é


alguém que tem aceitação de quem é, de seus limites, que tem uma visão
clara da realidade, independência, autonomia e age com naturalidade e
criatividade.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que, para que o indivíduo seja


pleno, ele precisa passar por diferentes fases na infância,
desenvolvendo, assim, sua personalidade, bem como passa
uma vida aprendendo novos comportamentos por reforço e
punição, e tem uma busca que dura até o final da vida por
autorrealização, por ser um ser humano pleno. Você aprendeu
que o desenvolvimento depende de inúmeros fatores, dentre
eles biológicos, sociais, culturais e psicológicos. Durante a
infância, há certos aspectos que garantem que o indivíduo se
desenvolva de forma plena, ou se autorrealize, como vimos
em Roger e Maslow.
Psicologia do Desenvolvimento 33

Psiquismo da Criança Frente ao Processo


de Aprendizagem

INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender o


desenvolvimento psíquico da criança. E então? Será que
conhecer os processos do psiquismo auxiliam a compreender
como é o desenvolvimento da aprendizagem? Então, vamos
lá!

A aprendizagem, como vimos até aqui, também depende de


inúmeros fatores, dentre eles biológicos, sociais, culturais e psicológicos.
Durante a infância, há certos aspectos que garantem que o indivíduo se
desenvolva de forma plena, ou se autorrealize.

Entre esses aspectos, vamos nos deter um pouco sobre o


desenvolvimento da confiança, do apego, da autonomia, da iniciativa e
da produtividade. Para isso, iremos referenciar teorias e dois psicólogos e
psicanalistas: Erik Erikson (1902-1994) e John Bowlby (1907-1990).

Desenvolvimento da Confiança
Quando nascemos, somos seres completamente dependente
de outros para sobrevivermos. Porém, precisamos desenvolver certa
confiança de que seremos capazes de ser independentes.

Para o psicanalisa Erik Erikson, o primeiro estágio do desenvolvimento


vai até os 18 meses de vida e faz com que haja um esforço entre o que ele
chama de confiança básica e desconfiança básica. Vamos explicar melhor.

•• Recomendamos assistir ao vídeo “Teoria Psicossocial –


Desenvolvimento Psicossocial”, de Erikson, para compreender melhor
as fases do desenvolvimento propostas por ele e descritas ao longo
do material, disponível em https://bit.ly/2FWd3Bp. Acesso em: 22 set.
2020.
34 Psicologia do Desenvolvimento

Para Erikson, o desenvolvimento acontece por meio de crises entre


o que você tinha antes e o que terá a seguir, e os estágios se prolongam por
toda a vida. Assim, cada etapa é acompanhada de um conflito entre algo
que é negativo e algo que é positivo. Para que o indivíduo se desenvolva
plenamente, é preciso que em cada crise o indivíduo consiga sair da fase
anterior com uma virtude, com o aspecto positivo, para que possa assumir
o próximo estágio e a próxima crise.

Desta forma, o primeiro estágio prevê que a criança forme um


equilíbrio entre confiar nas pessoas e no mundo, e desconfiar das mesmas
para poder se proteger. Porém, ao final do período de 18 meses, deve
prevalecer a confiança, para que o bebê possa ir em busca da satisfação
de suas necessidades.

Caso ele não desenvolva a confiança, poderá ter complicações e


estabelecer relacionamentos e confiar nas pessoas no futuro.

Desenvolvimento do Apego
O apego é um mecanismo que auxilia o bebê a se adaptar ao
mundo, garantindo que ela tenha proteção e possa se desenvolver. Como
falamos no tópico anterior, ao nascer, o bebê precisa de um cuidador, e é
este cuidador (ou cuidadores) que fará com que a criança desenvolva ou
não um apego saudável.

Assim, segundo Bowlby, o bebê aos poucos vai internalizando o


modo de funcionamento do cuidador para saber o que esperar dele. Se o
cuidador sempre agir da mesma maneira, ficará mais fácil do bebê prever
o que acontecerá e se sentirá mais seguro, com maior confiança.

•• Para Bowlby, o apego é algo instintivo que garante a sobrevivência


do bebê, por meio de cuidados de outra pessoa. Saiba mais no artigo
“Teoria do apego: bases conceituais e desenvolvimento dos modelos
internos de funcionamento”, das pesquisadoras Juliana Dal Bem e
Débora Dell’Aglio, ambas da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, disponível em https://bit.ly/35YcIcn. Acesso em: 22 set. 2020.
Psicologia do Desenvolvimento 35

Ele desenvolveu, então, a descrição de 4 tipos de apego, conforme


o quadro que veremos a seguir:

Quadro 3: Tipos de Apego em pesquisa de Bowlby

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Portanto, ao olharmos para o quadro acima, podemos compreender


como o padrão de apego da criança com o seu cuidador em idade tenra
afeta os padrões de confiança e relacionamento com outras pessoas em
outras fases da vida. Quando a criança tem um apego seguro, ela tende
a ter as melhores habilidades interacionais, de linguagem e emocionais.

Desenvolvimento da autonomia, da
iniciativa e produtividade
Erikson descreveu 8 estágios de desenvolvimento. Vimos, até
agora, o primeiro estágio. Logo, veremos os próximos dois que dividem
autonomia e iniciativa.
36 Psicologia do Desenvolvimento

•• Recomendamos assistir ao vídeo que detalha os 8 estágios de


desenvolvimento psicossocial propostos por Erikson, para que possa
se aprofundar na teoria do psicanalista, disponível em https://bit.
ly/2EovbDn. Acesso em: 22 de set. 2020.

O estágio de autonomia x vergonha vai dos 18 meses aos 3 anos


de idade. É uma fase em que a criança entrará em contato com o que se
espera dela e, ao mesmo tempo, tenta exercer controle sobre a sua vida.
Assim, é um conflito constante entre controlar e ser controlado (HALL;
LINDZEY; CAMPBELL, 2000, p. 171).

Nesse estágio, o cuidador muitas vezes usará da vergonha da


criança, para que ela aprenda os comportamentos corretos e desenvolva
a sua autonomia de forma gradativa, por meio de exploração do ambiente.
Se a criança aprender a ter senso de autocontrole e autonomia, levará os
dois de forma sadia para a vida, desenvolvendo a vontade própria. Caso
contrário, ela poderá viver uma vida com sentimentos de vergonha e
dúvidas sobre a sua capacidade de agir no mundo.

Saindo de forma saudável do estádio anterior, o sujeito possui agora


um senso de autonomia e vontade própria. Entra, então, no estágio da
iniciativa x culpa, que vai dos 3 anos aos 6 anos de idade. Aqui, com a
autonomia já desenvolvida, surge a iniciativa para que a criança consiga
se orientar por metas e objetivos próprios, como explorar o ambiente,
pesquisar sobre os dinossauros, entre outros. Em caso de fracasso ao
atingir suas metas, pode surgir um sentimento de culpa (HALL; LINDZEY;
CAMPBELL, 2000, p. 171-172).

Desta maneira, a criança precisará aprender a equilibrar a sua


iniciativa e a culpa advinda de alguns fracassos. É com esse equilíbrio que
ela conseguirá dar um propósito tanto para si quanto para o restante do
mundo, objetos, seres e natureza. E tal propósito é alcançado por meio
das brincadeiras e seu reconhecimento do mundo ao redor.

Passamos, então, a uma fase que dará início a uma série de


mudanças corporais, que só serão vistas na puberdade, embora inicie
em seu processo interno por volta dos 7 anos de idade com a produção
de hormônios, os quais, quando prontos, entrarão em ação para dar as
Psicologia do Desenvolvimento 37

formas adultas ao corpo. Nesse estágio, que vai dos 6 anos até o início
da puberdade, há um conflito entre a produtividade x inferioridade (HALL;
LINDZEY; CAMPBELL, 2000, p. 172).

É o período escolar, a alfabetização e o domínio de diversas


habilidades que culminam na produção de conhecimento. Se a criança não
conseguir produzir o que se espera, pode ter sentimento de inferioridade
em relação à sua competência.

E, assim, a criança passa a puberdade e adolescência. Vamos,


então, nos aprofundar nas características do psiquismo adolescente no
próximo tópico.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que, na fase da infância, há vários aspectos


que garantem que a criança possa se desenvolver de forma
plena. Você aprendeu sobre as teorias de Erikson e Bolwby,
que auxiliam a compreender as fases do desenvolvimento
pelas quais os seres humanos passam para sobreviverem.
38 Psicologia do Desenvolvimento

Psiquismo na adolescência e a
Aprendizagem

INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender os


processos de desenvolvimento psíquico que constituem
e podem estar relacionados com a aprendizagem na
adolescência. E então? Será que conhecer a puberdade e
adolescência auxiliam no processo de aprendizagem? Então,
vamos lá!

Não podemos negar que a puberdade e a adolescência são


períodos complexos para o ser humano. Se você lembrar de como foi
sua adolescência, talvez encontre o que os adultos chamam de rebeldia,
mas, com certeza, encontrará uma grande confusão de sentimento e uma
necessidade de buscar sua identidade e o grupo ao qual pertence.

•• O psicólogo Maurício Knobel escreveu sobre a “Síndrome da


Adolescência Normal”, que discorre sobre as mudanças ocorridas
nessa fase. Você pode encontrar este texto no livro: Adolescência
Normal: um enfoque psicanalítico de Arminda Aberastury e Maurício
Knobel.

Erick Erikson descreve em seus estágios que a adolescência é um


período de conflito entre identidade x confusão de identidade. Este conflito
ocorre por inúmeras escolhas, que agora se colocam ao adolescente,
afinal, ao sair desta fase, ele deverá ter um papel na sociedade, saber
quem é de fato.

Aos poucos, nesse estágio, o adolescente passa a perceber como


ele é, quais são suas características, o que o diferencia do outro e o que
o aproxima, além de perceber que não é mais uma criança e que logo
será um adulto. É um momento muito propício para uma confusão de
Psicologia do Desenvolvimento 39

identidade, pois, ao mesmo tempo em que se descobre quem é, não se


tem certeza do que virá a ser.

É um período delicado, visto que, caso não tenha uma base


fortalecida nos estágios anteriores, o adolescente poderá desenvolver
uma identidade negativa, com comportamentos nocivos para ele próprio.

Porém, saindo desta fase, o adolescente estará apto a desenvolver


a fidelidade consigo mesmo e com o outro e a entrar no início da fase
adulta (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000, p. 173).

Com certeza, reconheceremos muitos dos adolescentes na


descrição acima, porém, hoje, os dados apontam que a vida adulta tem
iniciado bem mais tarde do que imaginamos, e não próximos aos 20 anos.
Logo, vamos ver a próxima fase de Erikson, a qual se dá início da vida
adulta, em conjunto com as características adolescentes.

•• Quais os motivos de considerarmos, atualmente, adolescência


como uma fase maior do que tempos atrás? Bem, provavelmente
encontraremos muitos fatores sociais e culturais envolvidos na
resposta a essa pergunta. A BBC escreveu uma reportagem a respeito
deste tema. Recomendamos a leitura da matéria “Adolescência vai
até os 24 anos de idade, e não só até os 19”, defendem cientistas,
disponível em https://bbc.in/32TeGc3. Acesso em: 22 set. 2020.

O próximo estágio se caracteriza pelo conflito entre intimidade x


isolamento. É uma fase em que o jovem anseia e busca relacionamentos
que tenha intimidade, tanto emocional quanto sexual, passando de
relações transitórias para uma fase de comprometimento e sacrifícios.

A depender dos estágios anteriores, o jovem pode isolar-se de


maneira drástica. Embora o isolamento seja algo muito bom às vezes,
em demasia afasta o sujeito do convívio social. Porém, saindo-se bem, o
jovem tem agora a capacidade do amor, nas mais diversas formas (HALL;
LINDZEY; CAMPBELL, 2000, p. 174).

Vamos nos aprofundar um pouco mais em duas áreas muito


importante na adolescência: identidade e sexualidade.
40 Psicologia do Desenvolvimento

Identidade
Família, sociedade, questões de gênero, sexualidade,
relacionamentos, sucessos ou fracassos, hormônios, tudo isso influenciará
na construção final da identidade do sujeito. A identidade não é algo que
vai ser agora construído por completo, mas será lapidado e consolidado.
Ela pode sofrer alterações ao longo da vida, mas a base sempre estará lá.

•• O artigo das pesquisadoras Teresa Schoen-Ferreira, Maria Aznar Farias


e Edwiges Silvares, da USP, faz um levantamento da construção de
identidade de adolescentes de escolas públicas de São Paulo,
estabelecendo ligação com a teoria de James Márcia, disponível em
https://bit.ly/3iUVlg6. Acesso em: 22 set. 2020.

Assim, um pesquisador chamado James Marcia conduziu uma


pesquisa com adolescentes, para descobrir os estados de identidade de
acordo com a crise instaurada nesse período da vida. Ele chegou a quatro
grandes estados de identidade, conforme o quadro a seguir:

Quadro 4: Estados de Identidade descritas por James Marcia

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


Psicologia do Desenvolvimento 41

Ao observarmos o quadro acima, poderemos perceber o quanto


um relacionamento saudável entre adolescente e família auxilia no
desenvolvimento da identidade do sujeito. Assim, famílias que dão maior
autonomia e encorajam propiciam indivíduos mais autônomos no agir
e pensar; já famílias que fazem tudo pelo jovem, mostram a ele que
não é preciso questionar, apenas seguir e impor as regras; há padrões
que deixam o sujeito mais ansioso e há famílias disfuncionais que não
proporcionam um nível adequado de desenvolvimento do sujeito.

SAIBA MAIS:

Aprofunde sua leitura com o artigo “Família e adolescência:


a influência do contexto familiar no desenvolvimento
psicológico de seus membros”, de Elisangela Pratta e Manoel
Santos, disponível em https://bit.ly/345ZCav. Acesso em: 22
set. 2020.

Porém, não é apenas a família que interfere na construção de


identidade, mas também questões ligadas ao gênero são muito relevantes
nesta fase. É aqui que o adolescente, bem provavelmente, iniciará uma
busca por parceiros sexuais, do mesmo sexo ou do sexo oposto, e se
constituirá como uma identidade de acordo com gêneros diferentes.

•• Você sabe qual a diferença entre sexo e gênero? Sexo é um fator


biológico e gênero é a forma com que a pessoa se identifica e não
tem, necessariamente, a ver com o sexo biológico. Para entender
melhor todas essas definições, acesse o infográfico produzido pelo
blog.saude.mg.gov.br, disponível em: https://bit.ly/3mKS1Xi. Acesso
em: 22 set. 2020.

Assim, a sociedade estabelece o que é ser mulher ou homem.


Logo, a identidade do adolescente dependerá, também, do seu estado,
42 Psicologia do Desenvolvimento

se ele questionará as regras impostas, as seguirá, ou quebrará com elas


completamente.

Embora distintos, gênero e sexualidade guardam a devida


proximidade. Então, falaremos sobre a sexualidade no próximo tópico.

Sexualidade
A identidade sexual não diz respeito apenas ao ato em si, mas
também à identificação da orientação sexual, ou reconhecimento do
próprio corpo, agora com formas diferentes e a segurança dele, e a
formação de uniões afetivas e sexuais, assim como todo o contexto que
elas trazem afinal.

Como podemos ver, é um tema um tanto complexo, que passa


desde saber como seu corpo funciona, como protegê-lo (seja de
agressores, seja em relações sexuais), até saber quem de fato se é neste
campo.

Assim, é um momento que se pode ser delicado ou não para o


sujeito, mas que, com certeza, gera dúvidas que devem ser sanadas pela
família e pela escola, principalmente. Quando deixamos a cargo da família
apenas, estamos pensando naquelas famílias funcionais, aquelas que
permitem o estado de realização da identidade como descrito por Marcia.

Porém, a maior parte das famílias pertencem a outros grupos, ou,


o que é mais próximo do real, não conseguem conversar com seus filhos
sobre a sexualidade, por inúmeras razões. Algumas famílias consideram um
tabu, veem o sexo como algo errado, outras não possuem conhecimento
do próprio corpo e da sexualidade, e assim não conseguem ajudar os
filhos. Sem contar que a maioria dos pais também não teve uma educação
sobre a sua própria sexualidade, então, crê que não precisa ser explicada,
e sim experimentada, o que pode ser um grande risco para os jovens.

•• São muitas as definições de identidades de gênero e orientação


sexual. Para compreender melhor este universo, nada como ouvirmos
pessoas que trabalham diretamente com este tema e vivem na pele
Psicologia do Desenvolvimento 43

essa realidade. Assista ao documentário “Somos”, disponível em


https://bit.ly/2RT6bqQ. Acesso em: 22 set. 2020.

A sexualidade e o gênero são dois fatores de extrema importância na


constituição da personalidade, pois, a partir deles, é que nos colocaremos
frente à sociedade e aos relacionamentos amorosos e constituição familiar,
tópico este que já faz parte da vida adulta, como veremos a seguir.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que a adolescência é um período de


conflitos, que ocorrem por diversos fatores. Você aprendeu
sobre identidade, que é algo que vai se construindo, sendo
lapidado e consolidado no decorrer do tempo, e que podem
existir estados de identidade. E, por fim, que não é somente
a família que interfere na construção da identidade, mas
também a sociedade. Vimos, ainda, que gênero e sexualidade
têm uma certa proximidade e que, embora sejam distintos,
são dois fatores de extrema importância na constituição da
personalidade, pois é a partir deles que se vive perante a
sociedade, nos relacionamentos amorosos e na constituição
familiar.
44 Psicologia do Desenvolvimento

Andragogia e a Psicologia da
aprendizagem em fase adulta

INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender os


processos de desenvolvimento psíquico que constituem
e podem estar relacionados com a aprendizagem na vida
adulta. E então? Será que conhecer a fase adulta auxiliam no
entendimento do processo da psicologia da aprendizagem?
Então, vamos lá!

A fase adulta é marcada por inúmeras transformações: casamentos,


separações, filhos, perdas, problemas de saúde, carreira, alterações físicas
e emocionais. Mas também é uma fase de constantes aprendizados. A
cognição do adulto pode não ser a mesma de uma criança ou de um
adolescente, porém, encontra maiores motivação e foco para atingir os
objetivos.

As duas últimas fases descritas por Erik Erikson marcam a vida


adulta e a terceira idade. O sétimo estágio se estabelece no conflito
generatividade x estagnação. É uma fase de preocupação com o que
foi gerado, seus frutos e o futuro de seus ensinamentos. Assim, filhos,
trabalhos, produções e tudo o que envolve o cuidado é a expressão
desse estágio.

Caso não haja uma evolução no sentido de perpetuar o cuidado e


os saberes adquiridos ao longo da vida, a pessoa fica em uma estagnação,
torna-se empobrecida diante das possibilidades de expansão de sua
personalidade.

Por fim, o estágio da integridade x desespero marca uma fase de


adaptação, tanto ao que foi bem-sucedido quanto ao que foi fracassado
em sua vida. É um momento de dar sentido à sua existência, ao que foi
realizado ou deixado para trás, preservando a dignidade de saber que teve
uma vida íntegra ou do desespero frente aos fracassos e à iminência da
Psicologia do Desenvolvimento 45

morte. Se a pessoa conseguir ultrapassar estes conflitos, Erikson aponta


que alcançará, então, a sabedoria.

SAIBA MAIS:

A pesquisadora Marta Kohl de Oliveira escreveu um artigo


em que reflete sobre algumas teorias a respeito da psicologia
do desenvolvimento do adulto. Recomendamos a leitura do
artigo “Ciclos de vida: algumas questões sobre psicologia do
adulto”, de Marta Kohl, disponível em https://bit.ly/3mHVJRm.
Acesso em: 22 set. 2020.

Inteligência na Vida Adulta


Um pesquisador de Seattle, K. Warner Schaie, realizou um estudo
com pessoas entre 22 e 67 anos para verificar as diferenças nas habilidades
cognitivas. Embora em um primeiro momento possamos achar que os
jovens têm vantagens muito significativas em relação aos mais velhos, a
pesquisa demonstrou que o desenvolvimento humano é mais complexo,
como você pode perceber pelo gráfico abaixo.

Figura 7: Inteligência na vida adulta

Fonte: Freepik
46 Psicologia do Desenvolvimento

Figura 8: Mudança longitudinal em seis habilidade mentais básicas, dos 25 a 67 anos

Fonte: Adaptado pelo autor

Ao verificarmos o gráfico acima, podemos compreender que a


única habilidade que, de fato, sofre um grande declínio no início da
vida adulta para a entrada na terceira idade é a rapidez perceptual, que
diz respeito à velocidade com que percebemos os movimentos, sons e
imagens, o que explica o declínio na faculdade de reagir de forma rápida
aos eventos. A capacidade numérica também tende a diminuir, porém não
tão drasticamente quanto a rapidez perceptual.

Porém, se olhamos para a fluência verbal e o vocabulário, vemos


que estas habilidades seguem num crescimento, declinando levemente
próximo aos 67 anos apenas, mas, mesmo assim, ficando em graus mais
altos que em pessoas com 25 anos. Isto significa que a experiência de vida
Psicologia do Desenvolvimento 47

e o contato com diferentes pessoas e culturas possibilita um aumento no


vocabulário e na comunicação fluente.

Por fim, o raciocínio indutivo e a orientação espacial tendem a


atingir seu ápice por volta dos 46 anos, tornando-se consideravelmente
melhor que aos 25 anos. Assim, as experiências e situações enfrentadas
permitem que o adulto continue se desenvolvendo ao longo da vida,
adquirindo níveis mais elevados de algumas habilidades cognitivas.

Na mesma linha do estudo anterior, Horn e Cattell estabeleceram


diferenças a respeito da inteligência no adulto. Ela pode ser de ordem
fluida ou cristalizada. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2010):

Inteligência fluida é a habilidade de resolver problemas novos


que exigem pouco ou nenhum conhecimento prévio, como encontrar o
padrão em uma sequência de figuras. Envolve perceber relações, formar
conceitos e fazer inferências. Essas habilidades, que são amplamente
determinadas pela condição neurológica, tendem a declinar com
a idade. Inteligência cristalizada é a capacidade de lembrar e utilizar a
informação adquirida ao longo da vida. Por exemplo, encontrar o sinônimo
de uma palavra. Ela é medida por testes de vocabulário, conhecimentos
gerais e respostas a situações e dilemas sociais. Essas habilidades, que
dependem amplamente da experiência educacional e cultural, mantêm-
se e até mesmo melhoram com a idade (p. 573).

A inteligência fluida, então, tende a chegar a seu ponto máximo


de desenvolvimento no início da vida adulta, ao passo que a cristalizada
pode continuar a se desenvolver ao longo da vida, caso haja um suporte
educacional e cultural para isso.

Pensando nessas características dos adultos, os programas


educacionais devem levar em conta os sujeitos do processo de ensino-
aprendizagem, que têm diferentes expectativas em relação aos cursos
regulares ou aos espaços de aprendizagem.

Costumou-se chamar o campo de estudos sobre o aprendizado na


vida adulta de Andragogia, embora muitos pesquisadores acabem por
não mais fazer uso do termo.
48 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS:

Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o


termo Andragogia significa “ciência ou conjunto de métodos
para ensinar adultos”.

Fonte: Disponível em: https://bit.ly/2RRmcxI. Acesso em: 23


set. 2020.

Educação na idade madura


A aprendizagem não é mais relegada às fases iniciais da vida. O
mercado de trabalho pede constantemente que façamos atualizações,
não é mesmo?

São pós-graduações, MBAs, cursos rápidos, de extensão,


congressos, seminários, novas faculdades e novas habilidades. E mais,
a aprendizagem agora não é mais somente a tradicional, no papel e na
carteira escolar, é também a distância, no vídeo, no podcast e no jogo.

Por todas estas diferenças, o ensino para adultos deve levar em


consideração as especificidades de tempo, de habilidades cognitivas e de
objetivos, bem como pensar as melhores metodologias para este público.

De acordo com Papalia, Olds e Feldman:

Eles necessitam de conhecimentos que possam aplicar a


problemas específicos. O estudo cooperativo construído em
torno de problemas ou projetos criados pela própria pessoa
é o mais apropriado para um estudante maduro (2010, p. 581).

Também devemos levar em consideração qual o nível de estudos


prévio do indivíduo, por exemplo, um adulto não alfabetizado necessitará
de uma metodologia diferenciada da de um adulto que fará um
Psicologia do Desenvolvimento 49

doutorado ou língua estrangeira. Assim, cada programa deve prever as


especificidades do seu público-alvo.

•• Saiba mais sobre o conceito de Andragogia, pois ele poderá ser


muito útil caso decida trabalhar com jovens e adultos, em ambiente
escolar ou corporativo. Recomendamos consultar as áreas referentes
ao ensino de adultos. Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3i0tpG9.
Acesso em: 23 set.2020.

RESUMINDO:

Chegamos ao final da disciplina! Espero que você tenha


aproveitado e descoberto novas áreas interessantes para
se aprofundar e pesquisar mais. Neste tópico, vimos que os
campos da Psicologia do Desenvolvimento e da Psicologia da
Aprendizagem são muitos vastos. Cada um deles apresenta
um arsenal de teorias que dão conta de estudar o sujeito como
um todo, assim como em sua relação com o aprendizado e
tudo que envolve este processo. Por isso, tratamos de tantos
assuntos neste material, para que você possa, agora, ir além
dele e buscar novos conhecimentos e caminhos! Sucesso!
50 Psicologia do Desenvolvimento

REFERÊNCIAS
DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA [em linha],
2008-2013. Disponível em: https://bit.ly/3ciKoCo. Acesso em: 22 set. 2020.

HALL, C.; LINDZEY, G; CAMPBELL, J. Teorias da Personalidade.


Porto Alegre: Artmed, 2000.

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. de. Princípios Básicos de Análise


do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007.

PAPALIA, D. F.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento


Humano. Porto Alegre: AMGH, 2010.

SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. trad.


Suely Sonoe Murai Cuccio. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
Psicologia do Desenvolvimento 51
Tainá Thies
Psicologia do
Psicologia do
Desenvolvimento
Desenvolvimento
Tainá Thies

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