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Psicologia da

Personalidade
Unidade 2
Teorias psicanalista e cognitiva
da personalidade
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
DENIZE MASCARENHAS
AUTORIA
Zilma Denize Bezerra Mascarenhas
Olá. Eu sou Denize Mascarenhas, formada em Psicologia e em
Enfermagem, com Mestrado na área de Saúde do Adulto e alguns
cursos de especialização (Psicologia Positiva, Dependência Química e
Neuropsicologia). Tenho experiência técnico-profissional de mais de 30
anos na área de saúde mental e psiquiatria. Trabalhei como profissional de
saúde pelo Ministério da Saúde na assistência a portadores de transtorno
mental em hospital psiquiátrico e CAPS (Centro de Atenção Psicossocial)
na cidade do Rio de Janeiro. Tenho experiência profissional na docência
do ensino superior, atuando como professora substituta em universidades
públicas, como UFRJ e UERJ, e como professora contratada em
universidades privadas, como UNISUAM e Universidade Estácio de Sá
(UNESA), nos cursos de graduação de Psicologia, Enfermagem e Direito.
Também pela UNESA, tive a oportunidade de ser autora de capítulo
de livro didático e de ser revisora de livro didático. Atualmente atuo
como psicóloga clínica em Avaliação Psicológica e Aplicação de Testes
Psicológicos. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha
experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões.
Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase
de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Psicologia Analítica (Jung)....................................................................... 10
Os estudos da Psicologia Analítica de Jung................................................................10
A estrutura da personalidade................................................................................................... 11
Os arquétipos descritos por Jung........................................................................................ 13
Tipos psicológicos........................................................................................................................... 18
O desenvolvimento da personalidade............................................................................. 21
Estágios do desenvolvimento da personalidade..................................................... 22
Erick Erickson e a formação da personalidade .............................. 24
Os estudos de Erick Erickson..................................................................................................24
O desenvolvimento da personalidade na infância...............................25
O desenvolvimento da personalidade no adolescente...................26
Os estágios do desenvolvimento de Erick Erickson..............................................27
Os oito estágios..............................................................................................................29
Análise do comportamento (B.F. Skinner)......................................... 34
Os estudos de Skinner.................................................................................................................34
O desenvolvimento da personalidade.............................................................................37
A nova visão cognitiva comportamental de Aaron Beck............. 43
Aaron Beck e a Terapia Cognitiva........................................................................................43
Psicologia Cognitiva....................................................................................................44
Terapias Cognitivas..................................................................................................... 46
Os pressupostos da Terapia Cognitivo Comportamental............... 49
Pensamentos Automáticos................................................................ 49
Crenças intermediárias......................................................................... 50
Crenças Centrais....................................................................................... 50
Esquemas........................................................................................................52
A Terapia Cognitivo Comportamental e o estudo da
personalidade..................................................................................................................52
Psicologia da Personalidade 7

02
UNIDADE
8 Psicologia da Personalidade

INTRODUÇÃO
O estudo da Psicologia da Personalidade é uma área que levanta
ainda muitos questionamentos. O que é personalidade? Herdamos
nossa personalidade ou ela é formada a partir das vivências no meio
ambiente em que estamos? Como começou o interesse pelo estudo
da personalidade humana? Como entendemos personalidade hoje?
Podemos mudar nossa personalidade? Essas respostas são o alvo
do nosso trabalho. Estudarmos as principais teorias de personalidade
vai ajudar a compreender melhor o funcionamento do ser humano,
objeto de cuidado do psicólogo. Entender o processo de formação da
personalidade sob o olhar de autores de várias abordagens e correntes
da psicologia vai permitir aumentar o universo de conhecimento para
facilitar o seu desempenho didático como aluno e seu desempenho
profissional como psicólogo. Então, lançamos o desafio de convidar
você a se dedicar ao conteúdo desta disciplina, a partir de uma série
de oportunidades para o exercício do pensamento crítico embasado
em conhecimento científico. Mergulhe no universo da Psicologia da
Personalidade!!!! Bons estudos!
Psicologia da Personalidade 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:

1. Refletir sobre os conceitos de Jung na formação da personalidade.

2. Encontrar, na teoria de Erik Erikson, os elementos que formam a


personalidade.

3. Compreender a análise do comportamento defendida por Skinner.

4. Analisar a visão cognitiva comportamental de Beck.


10 Psicologia da Personalidade

Psicologia Analítica (Jung)


OBJETIVO:
Ao término deste capítulo, você será capaz de entender
como Carl Gustav Jung estudou e desenvolveu sua teoria
da personalidade. Vai entender os caminhos traçados
por esse psiquiatra suíço, nascido em Zurique em 1875,
para descrever personalidade introvertida e extrovertida,
arquétipo, inconsciente coletivo, entre outros conceitos.
Os estudos de Jung foram importantes para a psiquiatria,
psicologia, religião e literatura, além de outras áreas
de estudo. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!

Os estudos da Psicologia Analítica de Jung


Carl Gustav Jung era psiquiatra e psicoterapeuta que começou
estudando a personalidade a partir dos postulados de Freud, e, assim
como ele, baseou sua teoria da personalidade no entendimento de que a
psique (ou mente), tem nível consciente e inconsciente. No entanto, algum
tempo depois de trabalharem juntos, Jung rompeu com a psicanálise
freudiana, também chamada de ortodoxa, e estabeleceu uma teoria da
personalidade diferente, a qual chamou de psicologia analítica.

Jung entendia que a personalidade total ou psique era formada


por vários sistemas isolados, mas que atuavam uns sobre os outros de
forma dinâmica. Os principais sistemas na psicologia analítica de Jung
são: o ego, o inconsciente individual, o inconsciente coletivo, a persona,
a anima ou animus e a sombra. Estes elementos, em um todo, formam a
personalidade total ou Si-Mesmo (Self, em inglês).

SAIBA MAIS:
O aspecto mais importante e distintivo da visão de Jung
sobre o comportamento humano é a combinação de
teleologia e causalidade. Ele chamou de causalidade a
história individual e racial das pessoas e de teleologia as
metas e aspirações que elas têm.
Psicologia da Personalidade 11

A psicologia analítica de Jung era baseada no pressuposto de que


os seres humanos eram moldados pelas experiências acumuladas de
seus ancestrais e por fenômenos ocultos que poderiam influenciar suas
vidas. Assim, tanto o passado, como a realidade, quanto o futuro teriam
potencialidades para condicionar o comportamento humano.

A estrutura da personalidade
A personalidade total, que, como já dissemos anteriormente, era
chamada de psique por Jung, é composta de vários sistemas diferenciados.
Vamos descrevê-los para o entendimento melhor dos estudos de Jung.

Para Jung, ego é a mente consciente, constituída por percepções,


memórias, pensamentos e sentimentos conscientes. O ego é o
responsável pelos sentimentos de identidade e de continuidade. É o
centro da consciência, mas não era considerado por Jung o centro da
personalidade. Contrapondo-se à consciência, havia o inconsciente,
que é dividido em duas regiões: o inconsciente individual ou pessoal e o
inconsciente coletivo.

O inconsciente pessoal era entendido como fonte de todas as


experiências reprimidas, esquecidas ou subliminarmente percebidas de
uma pessoa. Estavam incluídas no inconsciente pessoal: as memórias
e impulsos infantis reprimidos, as situações esquecidas e as vivências
percebidas abaixo do limiar da consciência. Como é formado por
experiências individuais, o inconsciente pessoal é único para cada pessoa.
Figura 1 - Memórias infantis

Fonte: Freepik.
12 Psicologia da Personalidade

Na visão de Jung, no inconsciente pessoal, algumas imagens


podem ser lembradas com facilidade, outras com dificuldade e ainda
algumas estão fora do alcance da consciência. Aos conteúdos presentes
no inconsciente pessoal, o psiquiatra deu o nome de complexos.

DEFINIÇÃO:

Complexo é um conjunto de sentimentos, pensamentos,


percepções, memórias e ideias carregadas de emoção,
que podem ser parcialmente conscientes e se originarem
do inconsciente pessoal e coletivo.

O inconsciente coletivo se originava no passado ancestral da


espécie humana. Para Jung, os conteúdos físicos do inconsciente coletivo
eram herdados e passados entre as gerações com potencial psíquico.

A ideia que baseava o conceito de inconsciente coletivo vinha da


crença de que as experiências dos ancestrais com conceitos universais
como Deus, mãe, água, terra e outros, eram transmitidos pelas gerações,
influenciando as pessoas de gerações futuras. Por isso, Jung acreditava
que os conteúdos do inconsciente coletivo seriam mais ou menos
os mesmos para as pessoas em todas as culturas e não estariam
adormecidos, mas ativos e influenciariam os pensamentos, as emoções e
as ações das pessoas.
Figura 2- Exemplo de mito

Fonte: Freepik
Psicologia da Personalidade 13

Fazem parte dos conteúdos do inconsciente coletivo: os mitos, as


lendas, as crenças religiosas. Os elementos que compõem o inconsciente
coletivo e tornam-se altamente desenvolvidos são chamados de
arquétipos. Entre eles, o mais inclusivo é a noção de autorrealização, que
é alcançada pelo equilíbrio entre várias forças opostas da personalidade.

Os arquétipos tinham certa similaridade com os complexos, isto


é, seriam coleções de imagens associadas e carregadas de emoções.
A diferença é que os complexos eram componentes individualizados
derivados do inconsciente pessoal, ao passo que os arquétipos eram
generalizados e derivados do inconsciente coletivo.

SAIBA MAIS:
Os arquétipos teriam base biológica, mas se originariam por
meio das experiências repetidas dos ancestrais humanos.
As pessoas teriam potencial para vários arquétipos, de
modo que um ou vários deles seriam ativados quando se
vive uma experiência pessoal correspondente ao que está
latente naquela pessoa.

A representação de um arquétipo não era direta, mas sua expressão


era por meio de sonhos, fantasias e ilusões. Os sonhos seriam a principal
manifestação dos arquétipos, porque produziriam temas muitas vezes
desconhecidos pela pessoa por intermédio de uma experiência pessoal,
o que provaria a manifestação de temas conhecidos pelos povos antigos.

Mesmo que pudessem ser considerados como imagens vagas,


alguns arquétipos se desenvolveriam e poderiam ser conceitualizados.
Jung destacou os mais notáveis: persona, sombra, anima, animus, grande
mãe, sábio, herói e self.

Os arquétipos descritos por Jung


Persona é a parte da personalidade que as pessoas apresentam ao
mundo. Persona significa máscara, isto é, a face da personalidade que as
pessoas projetam no papel particular que a sociedade determina como
mais adequada dentro de um contexto social.
14 Psicologia da Personalidade

Figura 3- Papel social

Fonte: Freepik

EXEMPLO: Espera-se que um profissional da área da saúde tenha


determinado comportamento diante dos clientes que atende, um político
deve ter um comportamento adequado para conquistar votos e assim por
diante.

Para Jung, persona seria a face pública da pessoa. Entretanto,


todos têm o self completo, isto é, a individualidade característica de cada
pessoa. Para serem saudáveis, as pessoas não podem identificar-se em
demasia com a persona, com o risco de perder a individualidade e ficarem
bloqueados para alcançar autorrealização. A perda do self interior torna a
pessoa dependente das expectativas que a sociedade tem dela, por isso,
precisa buscar o equilíbrio entre as demandas da sociedade (expressas na
persona) e o que realmente a pessoa é (self interior).

Para Jung, esquecer a persona é diminuir a importância da


sociedade, mas se esquecer de quem realmente é e não estar consciente
da individualidade. Isso faz com que a pessoa seja uma marionete da
sociedade.
Psicologia da Personalidade 15

A sombra é o arquétipo da escuridão e da repressão, é a


representatividade das qualidades que não se deseja reconhecer e que se
tenta esconder de si mesmo e dos outros. A sombra seria a manifestação de
tendências censuráveis moralmente e as muitas qualidades construtivas
e criativas que as pessoas relutam em enfrentar.

Para Jung, as pessoas precisam se esforçar para reconhecer suas


sombras e devem lidar com a escuridão que têm dentro de si. A esse
comportamento chamou de conscientização da sombra, isto é, o exercício
de não olhar somente o lado positivo da personalidade, o que possibilita
a pessoa a não correr o risco de colher para si frutos da derrota e do
desencorajamento.
Figura 4- Conscientização da sombra

Fonte: Freepik

Jung acreditava, também como Freud, que todos os humanos


possuem psicologicamente um lado masculino e um lado feminino. O
lado feminino dos homens estaria no inconsciente coletivo, como um
arquétipo, e seria a anima da qual eles teriam pouco conhecimento, já
que, para eles, é difícil reconhecer sua sombra. Para terem contato com a
anima, os homens teriam que superar barreira intelectuais, avaliar o que
está no seu inconsciente e perceber o lado feminino de sua personalidade.
16 Psicologia da Personalidade

IMPORTANTE:

Jung defendia a ideia de que a anima se originava das


experiências precoces dos homens com as mulheres,
sejam suas mães, irmãs ou amantes e eles, desde tempos
pré-históricos, vinham ao mundo com conceito pré-
determinado de mulher, de modo que modelam todas as
suas relações com elas.

Além disso, afirmava que o homem é inclinado a projetar sua anima


na sua mulher ou amante e não a vê-la como realmente é, o que poderia
ser a causa de muitos desentendimentos nas relações homem-mulher.
A anima pode ainda representar um sentimento de humor e sentimentos
irracionais no homem.

Animus seria o arquétipo masculino de anima na mulher. Enquanto


a anima representa os humores e os sentimentos irracionais, o animus é
o símbolo do pensamento e do raciocínio. O animus está no inconsciente
coletivo, originado dos encontros das mulheres com os homens desde a
pré-história e consegue influenciar o pensamento de uma mulher.

Jung acreditava que o animus é responsável pelo pensamento e


pela opinião nas mulheres e a anima responsável pelos sentimentos e
humores nos homens.
Figura 5- Anima/homem

Fonte: Freepik
Psicologia da Personalidade 17

Figura 6-Animus/mulher

Fonte: Freepik

O animus também explica o pensamento irracional e as opiniões


ilógicas atribuídas às mulheres, que apesar de válidas não eram opiniões
pensadas pelas mulheres, mas já existiam prontas. Se uma mulher é
dominada por seu animus, nenhum apelo lógico poderá abalar suas
crenças. A grande mãe é um arquétipo derivado da anima e do animus
que todos os humanos possuem. O conceito preexistente de mãe é
sempre associado a sentimentos positivos e negativos e representa duas
forças opostas: fertilidade e nutrição (produção e manutenção da vida) e
força e destruição (poder de devorar e negligenciar seus filhos). Para Jung,
a forte fascinação que a mãe exerce tanto para os homens como para as
mulheres, mesmo na ausência de uma relação pessoal mais íntima, era a
evidência do arquétipo da grande mãe.
Figura 7- Grande mãe

Fonte: Freepik
18 Psicologia da Personalidade

O velho sábio é o arquétipo da sabedoria e do significado. Seria o


conhecimento dos mistérios da vida, que são inconscientes e preexistentes
nos humanos.

Para Jung, um homem ou uma mulher que estejam dominados


pelo arquétipo do velho sábio podem reunir muitas pessoas usando
discursos que pareçam profundos, mas que, na realidade, fazem pouco
sentido, porque o inconsciente coletivo não pode transmitir diretamente
sua sabedoria para uma pessoa.

O perigo surge quando as pessoas confundem um disparate com


uma verdadeira sabedoria de alguém que profira um pseudoconhecimento.

O arquétipo que representa a mitologia e as lendas como uma


pessoa poderosa é o herói. A luta dos heróis contra grandes adversários
liberta a humanidade dos seus sentimentos de impotência e de miséria e
estabelece o modelo da personalidade ideal.

O último arquétipo descrito por Jung é o self. Seria uma tendência


herdada por cada pessoa para alcançar desenvolvimento, crescimento,
perfeição, plenitude e completude. É considerado o mais abrangente dos
arquétipos porque reúne todos os outros arquétipos.

SAIBA MAIS:

O self é o arquétipo dos arquétipos e os une no processo


de autorrealização. Possui componentes conscientes
e inconscientes pessoais, mas é formado, mais
frequentemente, por imagens do inconsciente coletivo.

Tipos psicológicos
A orientação e os processos característicos do ego eram explicados
por Jung a partir de tipos psicológicos desenvolvidos pela junção de duas
atitudes básicas: introversão e extroversão e quatro funções separadas:
pensamento, sentimento, sensação e intuição.
Psicologia da Personalidade 19

Jung definia atitudes de introversão ou extroversão como


predisposição a agir ou reagir a uma situação. A introversão e a extroversão
existem em uma relação compensatória e podem ser ilustradas pelo tema
do yang e do yin.
Figura 8 - Símbolo do Yang-Yin

Fonte: Freepik

A atitude de extroversão orienta a pessoa para o mundo externo,


objetivo. Os extrovertidos são pragmáticos e bem direcionados para a
realidade da vida diária, desconfiando da atitude subjetiva das pessoas
e de si mesmos. Enquanto a atitude de introversão orienta a pessoa
para o mundo interno, subjetivo. Os introvertidos são afinados com suas
inclinações, fantasias, sonhos e percepções individualizadas, têm uma
maneira seletiva de ver o mundo.

Na visão de Jung, as pessoas não são integralmente extrovertidas


ou introvertidas, mas compõem suas personalidades com mais atitudes
de um tipo que de outro, ora voltadas para o mundo externo e ora para o
mundo interno. Pessoas psicologicamente saudáveis têm equilíbrio entre
as duas atitudes, sentindo-se confortáveis no seu mundo interno e no
externo. A atitude introversão e a atitude extroversão podem combinar
com uma ou mais das quatro funções descritas por Jung (sensação,
pensamento, sentimento e intuição), que têm relação entre si e formam
oito possíveis orientações ou tipos de personalidade, como descrito na
tabela a seguir.
20 Psicologia da Personalidade

Quadro 1- Tipos psicológicos de personalidade

Pensamento: Atividade intelectual lógica produtora de uma sequência de ideias.

Pensamento Introvertido: Pessoas que reagem à estímulos externos interpretando


significado interno mais que os fatos objetivos. Inventores e filósofos, são, em sua
maioria pensadores introvertidos.

Pensamento Extrovertido: caracterizado por pensamentos concretos e objetivos,


embora possa apresentar ideias abstratas. Matemáticos, engenheiros e contadores
apresentam pensamento extrovertido.

Sentimento: É a avaliação de cada processo consciente, mesmo para aquilo que é


avaliado sem uso de emoção.

Sentimento Introvertido: baseiam seus julgamentos em valores e percepções subjetivas,


possuem consciência individualizada, ignoram opiniões e crenças tradicionais e têm
indiferença pelo lado objetivo das coisas. Críticos de obras de arte, em geral, têm
sentimento introvertido.

Sentimento Extrovertido: pessoas que avaliam a partir de dados objetivos e não por
opinião subjetiva. Sentem-se à vontade em situações sociais, sabem o que dizer e como
dizer as coisas, são apreciadas pela sua sociabilidade, mas podem ser interpretadas
como artificiais e não confiáveis porque buscam adequação aos padrões sociais.
Geralmente são homens de negócio ou políticos porque têm julgamento de valor com
base em informações objetivas.

Sensação: percepção dos impulsos sensoriais. A sensação recebe estímulos físicos


e transmite à consciência perceptiva, não depende de pensamento lógico ou de
sentimento.

Sensação Introvertida: são influenciadas pela maneira como interpretam as sensações


subjetivas de visão, audição, olfato e tato. São pessoas que têm a capacidade de
interpretar subjetivamente fenômenos objetivos e de comunicar seu significado para
outras pessoas. Artistas que pintam retratos usam a sensação introvertida.

Sensação Extrovertida: percebem estímulos externos de uma forma objetiva, do modo


como se apresentam na realidade, sem serem influenciadas por atitudes subjetivas.
Pintor de casas, revisores, degustadores de vinho são profissões que usam a sensação
extrovertida.

Intuição: percepção para além da consciência. É mais criativa que a sensação. Baseia-
se na percepção de fatos absolutos que fornecem informações para o pensamento e
sentimento. A intuição acrescenta ou subtrai elementos da sensação consciente.

Intuição Introvertida: percepção inconsciente das situações de maneira subjetiva com


pouca, ou sem semelhança, com a realidade. São percepções fortes e capazes de
motivar decisões monumentais. Pessoas intuitivas introvertidas podem nem mesmo
entender as suas motivações, mas são movidas por elas. Místicos, profetas, artistas
surrealistas ou fanáticos religiosos são exemplos que se enquadram nessa categoria.

Intuição Extrovertida: orientadas para os fatos do mundo externo, percebendo-os de


forma subliminar e não integralmente. Suprimem suas sensações e são orientadas por
pressentimentos e suposições que são contrárias aos fatos sensoriais. Os inventores são
pessoas intuitivas extrovertidas, já que precisam inibir os dados sensoriais distratores e
se concentrem nas soluções inconscientes para seus problemas objetivos.

Fonte: Elaborado pela autora (2021).


Psicologia da Personalidade 21

O desenvolvimento da personalidade
Além do conceito de inconsciente coletivo com seus arquétipos,
a ênfase no aspecto progressista do desenvolvimento da personalidade
é um outro ponto importante da teoria de personalidade desenvolvida
por Jung. Jung descrevia conceitos na dinâmica da personalidade:
causalidade e teleologia, progressão e regressão.

Causalidade significa que o comportamento presente tem


origem em experiências anteriores. O comportamento de uma pessoa
tem explicação no seu passado, mas também no seu futuro, isto é, na
teleologia. Jung dizia que os objetivos e aspirações para o futuro, que
impulsionam o comportamento das pessoas, é a teleologia.

IMPORTANTE:

Jung defendia que um psicólogo não pode olhar só para o


passado da pessoa, deve considerar aquilo que ela aspira
para o futuro.

A humanidade está sempre em desenvolvimento de formas


mais diferenciadas, buscando metas, cuja mais importante é a meta da
autorrealização.

Para alcançar a autorrealização, as pessoas precisariam se adaptar


tanto ao ambiente externo, quanto ao ambiente interno. A adaptação ao
mundo externo demanda o avanço do fluxo da energia psíquica, o que
Jung chamou de progressão. É a progressão que leva a pessoa a reagir
de forma coerente a um conjunto de condições ambientais determinadas.

A adaptação ao mundo interno demanda um fluxo retroativo de


energia psíquica, o que Jung chamou de regressão. A regressão ativa a
psique inconsciente, é necessária para a solução de muitos problemas e
permite a obtenção de sucesso em alcançar objetivos.

A autorrealização está condicionada tanto à progressão quanto


à regressão, uma vez que, de forma isolada, nem a regressão e nem a
progressão levam ao desenvolvimento. Elas precisam trabalhar em
conjunto para o desenvolvimento sadio da personalidade.
22 Psicologia da Personalidade

Estágios do desenvolvimento da
personalidade
Diferente de Freud, Jung não detalhou os estágios de
desenvolvimento da criança. Ele descreveu quatro estágios gerais de
desenvolvimento: infância, idade adulta jovem, meia-idade e velhice.

Acreditava, entretanto, que a velhice era um estágio pouco


importante porque as pessoas idosas gradualmente mergulham no
inconsciente. Logo, a descrição é mais detalhada nos outros três estágios:

Infância: o estágio da infância é determinado por atividades


instintuais necessárias para sua sobrevivência, com comportamentos
consequentes às exigências parentais. Os problemas emocionais das
crianças refletiam, geralmente, as influências perturbadoras da casa. No
entanto, Jung não faz qualquer referência a qualquer poder determinante
da infância para o comportamento futuro.

Idade adulta jovem: nesta fase, a puberdade tem a função de


permitir o nascimento psíquico da personalidade. Emerge a sexualidade,
as questões de poder ou de insegurança e o início da diferenciação entre
o adolescente e os pais. O adolescente precisa preparar-se para a vida e
enfrentar o mundo. Para essa tarefa, a extroversão é a atitude primária e
a consciência domina a vida mental na busca de um companheiro (a) e
uma vocação.

Meia-idade: ocorre, na visão de Jung na faixa etária dos 30 anos.


Nessa idade, o jovem adulto já formou família e tem uma profissão.
Surge, então, a necessidade de significado, de encontrar um propósito
para a vida, uma razão de existir. Nessa fase, a atitude extrovertida passa
a ser introvertida e menos impulsiva e a busca pela autorrealização se
intensifica: é a chamada crise da meia-idade. Os interesses são mais
culturais e menos biológicos, há mais sabedoria do que vigor físico e
mental, a pessoa se torna mais espiritual.
Psicologia da Personalidade 23

VOCÊ SABIA?

A terapia, na abordagem da psicologia analítica ou


junguiana, tem como objetivo o processo de individuação,
em que o cliente se confronta com o seu inconsciente, tanto
o coletivo, quanto o pessoal para chegar à sua totalidade, à
sua plenitude, isto é, à sua personalidade total.

RESUMINDO:

Vimos neste capítulo que Jung entendia que a


personalidade é composta de vários sistemas isolados,
atuado uns sobre os outros de forma dinâmica. Na
psicologia analítica descrita por Jung, os principais sistemas
são: ego, inconsciente individual, inconsciente coletivo,
que, como um todo, formam a personalidade total ou self.
Os arquétipos são conteúdos do inconsciente coletivo,
um modo herdado de funcionamento psíquico e são os
mesmos em todas as pessoas. Os mais frequentes são:
persona, sombra, anima e animus, grande mãe, herói,
velho sábio. Também aprendemos que Jung descreveu
dois tipos de caráter: introvertido e extrovertido e quatro
funções básicas que têm relação entre si. Na combinação
dos tipos de caráter e das funções básicas, Jung descreve
oito possíveis orientações ou tipos de personalidade. No
próximo capítulo, aprenderemos como Erick Erickson
descreve a personalidade. Preparados?
24 Psicologia da Personalidade

Erick Erickson e a formação da


personalidade
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender


como Erick Erickson estudou o desenvolvimento da
personalidade. Veremos que Erikson partilhou os
pressupostos freudianos, mas não enfatizou a pulsão
sexual. No lugar disso, voltou-se para o surgimento
gradativo de senso de identidade e considerava que os
anos iniciais da vida da criança eram importantes. Entendia
ainda, que a identidade não estava totalmente formada ao
fim da adolescência. Durante este capítulo estudaremos os
oito estágios de desenvolvimento descritos por Erikson e
sua ênfase nas demandas culturais no desenvolvimento do
ciclo vital. E então? Vamos começar este estudo?

Os estudos de Erick Erickson


Erick Erickson nasceu em 1902, em Frankfurt, Alemanha. Em 1927,
com 25 anos, começou seus trabalhos como pintor especializado em
retratos de crianças em Viena. Inicia também o trabalho nos métodos
pedagógicos de Maria Montessori. Maria Montessori foi uma pedagoga
italiana que criou o Método Montessori dirigido às crianças do período
pré-escolar e baseado no estímulo da iniciativa e capacidade de resposta
da criança. O material didático era desenhado e a criança aprendia por si
mesma, no seu próprio ritmo.

Erickson, Anna Freud (filha de Sigmund Freud) e um grupo


de psicanalistas fundaram uma escola para crianças em tratamento
psicanalítico. Com o sucesso dessa experiência pedagógica, resolveu
começar sua formação psicanalítica com Anna Freud e lançou-se à
psicanálise de crianças.

A dedicação aos estudos da adolescência começou quando


se mudou para os Estados Unidos e baseou suas pesquisas na Ego
Psychology (Psicologia do Eu). Ao desenvolver suas próprias ideias,
Psicologia da Personalidade 25

Erickson muda a visão do desenvolvimento puramente psíquico da


organização da personalidade e enfatiza a evolução biológica e social.

VOCÊ SABIA?

Erickson ficou famoso quando, na década de 1960, atendeu


ao filho do ex-presidente Kennedy, John Fitzgerald Jr. O
menino foi levado pela mãe para tratamento porque tinha
dificuldade para aprender. Erickson interpretou o desenho
de John-John, em que o menino se desenhou embaixo
da mesa do pai, já falecido. Na sua interpretação, Erickson
explicou que a figura do pai era algo grandioso para John Jr
e o seria até sua morte.

Seus estudos começam a se diferenciar da teoria freudiana


sobre desenvolvimento psicossexual porque, baseado em teorias da
sociopsicologia e da antropologia, entendeu que uma pessoa adquire a
identidade positiva quando avança de uma etapa de desenvolvimento
para a etapa seguinte. E é a comunidade que influencia e reconhece as
sucessivas identificações dos indivíduos em seu desenvolvimento.

O desenvolvimento da personalidade na infância


Erickson entendia que a criança recém-nascida era um ego e um
participante do meio social, da sociedade. Como um participante da
sociedade em que estava inserida, a criança estava sujeita a influências
ambientais, mas possuía impulsos atuantes, portanto, motivadoras de
condutas. Como ego, era possuidora de uma herança genética que lhe
permitia ter peculiaridades para o desenvolvimento de comportamentos
só dela, próprio.

Na concepção de Erick Erickson, o desenvolvimento da


personalidade na etapa infantil estaria diretamente ligado ao
temperamento e a realidade que cercava as crianças. Em outras palavras:
a forma como o temperamento da criança interage com o meio em
que ela cresce vai influenciar na formação de sua personalidade. Assim,
os padrões de comportamento que a criança aprende e adota são
diretamente associados às situações em que ela se encontra.
26 Psicologia da Personalidade

Dessa forma, Erickson entendia que a criança começa a construção


das suas expectativas de futuro a partir de como se sente como criança. A
formação da sua identidade seria baseada nas sequentes elaborações e
reelaborações do ego na infância.

Tudo é aprendizado no período da infância. As mudanças são


muitas, de maneira que o interesse em si mesma e pelas novidades
desperta a atenção da criança e desenvolve seu lado emocional, a sua
personalidade.

Os valores, as ideologias, as normas e as crenças que permeiam o


desenvolvimento da criança são ensinados pelas figuras de autoridade
que a cercam: seus pais ou cuidadores, professores e irmãos mais velhos,
por exemplo. O desenvolvimento das capacidades e habilidades físicas e
cognitivas da criança vai permitir sua interação com a realidade e com o
ambiente em que está inserida.

A relação da criança com as pessoas mais próximas é recíproca e


é estabelecida na forma de apego. É ainda nesta etapa que os vínculos
afetivos são desenvolvidos.

O desenvolvimento da personalidade no adolescente


Na adolescência, as mudanças físicas influenciam no
desenvolvimento da personalidade. É o período em que ocorrem crises
de identidade de forma mais profunda, mas que são consideradas como
crises normativas, uma fase normal de conflito que caracteriza a flutuação
da força do ego.

IMPORTANTE:

É a capacidade de superar essas crises que dá a


possibilidade de êxito diante das crises de identidade em
outras situações da vida adulta, como se casar, ter filhos,
mudar de emprego, por exemplo. O desenvolvimento
saudável da autoestima, da segurança, da confiança, da
socialização e da sexualidade estão também associados à
superação das crises nesse período.
Psicologia da Personalidade 27

O adolescente, ao vivenciar as crises de identidade, desenvolve


sua consciência de identidade, que será a base da autoconsciência na
juventude.

DEFINIÇÃO:

Estado de identidade: a busca por estabelecer sua


identidade exigia esforço dos adolescentes porque requeria
que eles avaliassem seus recursos e responsabilidades
pessoais. Aprender a usar os recursos pessoais para
conseguir ter um conceito mais claro de quem se é, do que
se quer ser e poder se explicar em função da formação
da personalidade, foi chamado por Erickson de estado de
identidade.

Entretanto, Erickson chamou atenção para o fato de que os


adolescentes que se envolvessem de forma extremamente ativa na
busca pela exploração de sua identidade poderiam desenvolver uma
personalidade de padrão caracterizado por insegurança, confusão,
impulsividade, pensamento perturbado, mais conflitos com os pais,
conflitos com figuras de autoridade e força do ego diminuída.

Os estágios do desenvolvimento de Erick


Erickson
Ao explicar os estágios do desenvolvimento humano, Erickson não
queria que a sua teoria psicossocial substituísse a teoria psicossexual de
Freud, nem mesmo que substituísse a teoria do desenvolvimento cognitivo
de Piaget. Ele apenas achava que esses dois estudiosos estavam voltados
para uma visão diferente dos aspectos do desenvolvimento da que ele
propunha. Na sua teoria do desenvolvimento cognitivo, Piaget criou um
campo de investigação que chamou de epistemologia genética, em que
defendia uma teoria voltada para o desenvolvimento do conhecimento
natural na criança. Levantou a tese de que a criança não pensava como
um adulto e que o pensamento infantil passava por quatro estágios
de desenvolvimento desde o nascimento até o início da adolescência,
quando atingia a capacidade plena de raciocínio.
28 Psicologia da Personalidade

Erikson descreve o desenvolvimento humano desde a infância


até a idade adulta, diferente de Freud e Piaget. Entre suas contribuições
para o entendimento do desenvolvimento humano, dois aspectos são
importantes:
(1) uma teoria psicossocial do desenvolvimento, da qual
emerge uma concepção ampliada do ego e (2) estudos
psico-históricos que exemplifica sua teoria psicossocial
nas vidas de indivíduos famosos. (HALL, LINDZEY &
CAMPBELL, 2006, p. 166)

Ele descreve, então, sua teoria do desenvolvimento psicossocial


em oito estágios. Os quatro primeiros ocorrem desde o nascimento até a
infância, os três seguintes durante os anos adultos e o último na velhice.
Seu maior destaque é na adolescência porque considera que é o estágio
mais importante para a formação da personalidade, com destaque para os
conceitos de identidade, crises de identidade e confusão de identidade,
conforme já explicamos anteriormente (HALL, LINDZEY & CAMPBELL,
2006).

IMPORTANTE:

É importante destacar que em cada etapa do


desenvolvimento (ou estágios psicossociais) existem
pressões do ambiente social que geram conflitos ou crises.
A crise oferece à pessoa uma oportunidade de aprender a
lidar de forma mais ou menos adaptativa.

Cada estágio contribui para a formação da personalidade total,


o que chamou de princípio epigenético, sendo, assim, importante a
experiência vivida em cada um dos estágios. Erickson, destaca cinco
fatores determinantes para o desenvolvimento psicossocial:

• A interação e a influência mútua entre os processos biológicos,


social e individual.

• A sucessão das fases, ou estágios, e as experiências adquiridas


pela vivência em cada uma delas.

• A socialização.
Psicologia da Personalidade 29

• As emoções que constituem o núcleo do funcionamento humano.

• A flexibilidade: ainda que motivado pelo instinto e imerso em uma


cultura, a criança poder se adaptar a diferentes estilos de vida.

Os oito estágios
1. Confiança básica versus Desconfiança básica.

Ocorre, em geral do nascimento até os 18 meses. É o primeiro


conflito a que as crianças estão submetidas. Nessa etapa da vida, os
bebês precisam dos cuidados dos adultos para comer, estar protegido,
ter atenção, ser cuidado.

O bebê se familiariza com as experiências sensuais, com a sensação


de segurança, de ser cuidado e começa a formar vínculo com os pais de
acordo com a satisfação de suas necessidades. Ele aprende a depender
dos pais, a confiar neles, mas acima de tudo, aprende a confiar em si
mesmo.

Esta segurança acaba por contrabalançar a parte negativa da


confiança básica, que seria a desconfiança básica – uma sensação
de vulnerabilidade, de frustração. É essa equação entre confiança e
desconfiança que determina a maneira de estabelecer relações futuras da
criança com outras pessoas e consigo mesma, o que resulta na aquisição
da esperança, a principal conquista nessa etapa.

Segundo Erickson, “a esperança é a virtude inerente ao estado de


estar vivo mais primitiva e mais indispensável” (1964, apud Hall, Lindzey &
Campbell, 2006, p. 170).

Em outras palavras: quando essa fase é vivida de modo saudável,


a criança desenvolve esperança, que lhe garante compreender que
nem sempre todas as suas necessidades serão satisfeitas. Ela aprende
a abandonar as esperanças frustradas, aprende que esperanças estão
dentro da esfera do possível e volta suas expectativas de acordo com a
realidade (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2006).
30 Psicologia da Personalidade

2. Autonomia versus Vergonha e dúvida.

Geralmente ocorre entre os 18 meses e 3 anos de idade. É a


etapa da vida em que a criança aprende a desenvolver a capacidade de
autocontrole, incluindo o controle de movimento e excreção, e isso requer
aprendizado e controle por parte dos pais.

Esse sentimento de liberdade reflete também na necessidade de


aceitar o controle dos adultos sobre si e inicia o período de teimosia da
criança. Os adultos devem encorajar atitudes que desenvolvam senso de
autonomia, independência e de capacidades, sem perder o controle e
sem colocarem a criança em situação de vergonha.

A vergonha excessiva induz a criança ao descaramento ou a escapar


de um possível castigo sendo fechada, dissimulada e furtiva. Um senso de
autocontrole produz sentimento de boa vontade e orgulho, mas a perda
do autocontrole promove sentimento de vergonha e dúvida.

Ao final dessa etapa, a criança deve desenvolver confiança em si


mesma para fazer ou não fazer as coisas que quer ou que pode e ainda
deve conhecer os efeitos e as consequências de cada uma de suas ações.
O desenvolvimento de sua autonomia é marcado pelos limites do que
pode e do que não pode fazer. Dessa forma, conseguirá equilíbrio entre a
autonomia e a vergonha, o que levará a um autocontrole e autogestão de
seus próprios comportamentos.

3. Iniciativa versus Culpa.

Geralmente ocorre entre os três e cinco anos de idade. A partir


do conhecimento de suas capacidades, as crianças passam a testar
o desenvolvimento de maiores capacidades e de habilidades para
determinar suas tarefas e metas.

A principal atividade da criança nessa fase é o brincar, realizar


explorações, tentativas e fracassos com seus brinquedos. Ela, dentro do
mundo de faz-de-contas, realiza jogos mentais, imitando o papel dos pais
e de outros adultos e percebe ser como um deles, mesmo que de forma
limitada.
Psicologia da Personalidade 31

A criança brinca na forma de dramatização, usa figurinos, imita


personalidades, finge ser outras pessoas. Caso os pais reajam de forma
negativa, repreendendo excessivamente suas iniciativas, podem gerar
sentimento de culpa na criança.

4. Diligência (ou Construtividade) versus Inferioridade.

Entre cinco e treze anos, geralmente. Idade em que a criança


começa a alfabetização, de forma geral. Os estudos são mais formais e o
interesse pelo brincar vai sendo substituído pelo interesse em situações
produtivas.

Nessa etapa, o objetivo é que a criança elabore um sentimento de


competência, de construtividade e possa também ter o desenvolvimento
de habilidades. Ela observa e aprende métodos de desempenho a partir
da ritualização formal da escola e cria um senso de qualidade que envolve
habilidade e perfeição.

O perigo nessa etapa é desenvolver um sentimento de inferioridade,


se a criança for (ou se a levarem a que se sinta) incompetente para
desenvolver as tarefas dadas pela escola ou pelos pais. É importante
entender que “tudo o que a criança fizer – seja um trabalho na escola
ou sejam tarefas em casa – ela faz do jeito certo” (HALL, LINDZEY &
CAMPBELL, 2006, p. 172).

5. Identidade versus Confusão de identidade.

Fase que contempla pessoas entre treze e vinte e um anos. Período


que se inicia na adolescência e é caracterizado pela consciência das
próprias características individuais, das situações que vivencia, das
pessoas à sua volta, do que gosta e não gosta, das ideias de futuro, do
controle da própria vida.

Segundo Erickson, nesse estágio, o ego é o agente interno


motivador da identidade, da capacidade de selecionar talentos, aptidões
e habilidades. É o ego que mantém as defesas contra ameaças e
ansiedades, leva a decisão de que atitudes, papéis sociais e necessidades
são mais apropriados. Portanto, essa integração leva à formação da
identidade psicossocial.
32 Psicologia da Personalidade

O conflito dessa etapa do desenvolvimento é a dificuldade de


se descobrir quem realmente é. E, as experiências jamais vividas e
experimentadas nessa fase podem gerar insegurança, dúvidas sobre
seu papel social, sua preferência sexual, sua adesão a grupos de iguais,
dúvidas de ideologias, de valores etc. e levar a uma confusão de identidade
que pode gerar problemas de personalidade no futuro.

6. Intimidade versus Isolamento.

De vinte e um a vinte e quatro anos. É a etapa em que a pessoa


procura relacionamento pessoais e estabelecer vínculos emocionais.
Essa busca é mais profunda que na adolescência porque as pessoas
se relacionam de forma diferente, querendo compartilhar experiências,
afetos, emoções e intimidade.

Esperam relacionamentos confiáveis, com compromisso


e reciprocidade, que lhe proporcionem segurança e confiança.
Relacionamentos que busquem a intimidade, o compartilhamento de
vida, o receber e dar amor.

O perigo dessa fase é a evitação de relacionamentos quando a


pessoa não está disposta a comprometer-se com a intimidade. Uma vez
que evita a intimidade, a pessoa se coloca em situação de isolamento.

Nessa fase, a pessoa deve atingir o equilíbrio entre a intimidade e o


isolamento, respeitando os limites que se estabelece em relacionamentos
saudáveis.

7. Produtividade (ou Generatividade) versus Estagnação.

Dos quarenta aos sessenta anos. É o estágio em que as pessoas


se sentem em conflito pelo fato de estarem produzindo ou se sentindo
estagnadas, inúteis. A preocupação é em se sentir produtivo, em
generatividade (o que está sendo gerado, produzido) e que seus esforços
tenham sido no cuidado ou na responsabilidade de alguma coisa ou de
alguém.

As pessoas que não se sentem produtivas, seja porque não tenham


um emprego ou um relacionamento estável, podem se considerar
estagnadas na vida.
Psicologia da Personalidade 33

O objetivo nesse estágio é buscar o equilíbrio entre a produtividade


e a estagnação para poder preparar-se para a vida e envolver-se no
cuidado pessoal.

8. Integridade versus Desespero.

Último estágio do processo epigenético do desenvolvimento


humano, descrito por Erickson. Vai dos sessenta anos até a morte. É um
estágio em que a pessoa já cuidou de algo ou das pessoas, já produziu, já
se adaptou ao sucesso ou ao fracasso. Pode-se dizer que a produtividade
começa a diminuir ou deixa mesmo de existir.

As pessoas nessa fase tentam passar seus conhecimentos às


próximas gerações, produto da sabedoria adquirida na vida. Buscam
avaliar o sentido da sua existência, procurando o equilíbrio entre a
integridade e o desespero.

RESUMINDO:

Vimos neste capítulo que Erick Erickson começou seus


estudos do desenvolvimento da personalidade a partir
dos pressupostos freudianos, mas sem a ênfase na pulsão
sexual. Focaliza, em seu lugar, o surgimento gradativo
de um senso de identidade. Enfatiza as demandas
culturais comuns aos indivíduos para o desenvolvimento
da personalidade ao longo do ciclo vital e descreve oito
etapas de estágios psicossociais. Entende que as pressões
do ambiente social são geradoras de conflito ou crise, mas
a crise pode oferecer uma possibilidade de saída, uma
forma de lidar mais ou menos adaptativa. Cada estágio
contribui para a formação da personalidade total (princípio
epigenético), sendo importante atravessar cada um deles
de forma saudável. A formação da identidade inicia-se nos
primeiros quatro estágios, e o senso desta, negociado na
adolescência, evolui e influencia os últimos três estágios.
Como foi estudar este capítulo? Nosso próximo capítulo
abordará a visão de Skinner no desenvolvimento da
personalidade.
34 Psicologia da Personalidade

Análise do comportamento (B.F. Skinner)


OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


como Skinner descreveu o desenvolvimento da
personalidade por meio do estudo do comportamento
humano. Ele defendia a tese de que o aprendizado
modificava o comportamento e, dessa forma, sua teoria
foi, e ainda é, muito importante para o desenvolvimento
da personalidade. Realizou vários estudos experimentais e
pode-se dizer que um conceito chave na teoria de Skinner
é o princípio do reforço. E então? Motivado para entender
uma nova abordagem nos estudos da personalidade e
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Bons
estudos!

Os estudos de Skinner
Burrhus Frederic Skinner nasceu em 1904 em Susquehanna,
Pensilvânia nos Estados Unidos. Era um psicólogo seguidor do
Behaviorismo de Watson, mas na década de 40, cria uma abordagem
nova para o Behaviorismo, a qual chamou de Behaviorismo Radical.

O Behaviorismo, ou comportamentalismo, traz como objeto de


estudo o comportamento. É uma abordagem que difere das principais
correntes da psicologia na época: a Gestalt e a Psicanálise.

Skinner usou o termo Behaviorismo Radical para diferenciar


sua abordagem teórica das outras teorias behavioristas da época,
como o Behaviorismo de Watson, por exemplo, que entendia que o
comportamento era uma forma funcional e reacional de organismos vivos.

A proposta do Behaviorismo Radical era baseada na filosofia


da ciência do comportamento humano, em que o meio ambiente é o
responsável pelo comportamento.

Suas principais características foram negar radicalmente a existência


da mente e aceitar radicalmente todos os fenômenos comportamentais.
Psicologia da Personalidade 35

Dessas características derivam o termo radical, atribuído à teoria


behaviorista desenvolvida por ele. O Behaviorismo radical não nega
veemente a possibilidade da auto-observação, mas sim questiona a
natureza do que está sendo observado.

Skinner era contrário à ideia de que se poderia usar elementos


não observáveis como o transcendental, a introspecção e aspectos
filosóficos para explicar uma determinada conduta. Ele propunha analisar
comportamentos observáveis.

Na sua opinião, a Psicologia deveria ter apenas dois objetivos: a


previsão e o controle do comportamento, tanto do ser humano como
do animal. E tais objetivos seriam alcançados pela análise experimental
do comportamento, numa descrição precisa dos antecedentes e das
consequências de um determinado comportamento.

Skinner propôs a existência de dois tipos de relações entre o


comportamento e o ambiente:

a. consequências seletivas: que ocorrem após o comportamento e


modificam a probabilidade futura de ocorrerem comportamentos
equivalentes.

b. contextos que estabelecem a ocasião para o comportamento ser


afetado por suas consequências.

VOCÊ SABIA?

Skinner estudou o comportamento de animais (ratos e


pombos) em laboratórios bem controlados, criando um
dispositivo denominado Caixa de Skinner, oficialmente
chamada câmara de condicionamento operante. Essa caixa
foi um dos pilares do Behaviorismo de Skinner.

A caixa de vidro era composta pelos seguintes itens: duas luzes, um


alto-falante, um botão, um dispensador de comida e água e, em alguns
casos, piso eletrificado.

Como funcionava a Caixa de Skinner:


36 Psicologia da Personalidade

1. Um rato era colocado na caixa, geralmente privado de comida por


dois dias, para que tivesse motivação para se alimentar.

2. O rato começava a conhecer o ambiente novo e descobria o botão.


Ao pressioná-lo, automaticamente saía uma ração do dispensador.

3. O rato, querendo mais comida, começava a apertar repetidamente


o botão. Esse aprendizado do rato revelava a associação
comportamento-estímulo e reforço positivo.

4. Em outras situações na Caixa de Skinner, havia o estudo do


reforço negativo: o rato entrava na caixa com o piso eletrificado e
ao pressionar o botão, a corrente elétrica era desativada do piso.
Assim, o rato apertava continuamente o botão para não levar mais
choque.

Nesse estudo, o experimentador pode controlar, modificar ou


modelar os comportamentos até aparecerem respostas que antes não
faziam parte do repertório do animal.

A partir desses experimentos em laboratório, afirmava que as


leis da aprendizagem se aplicavam a todos os seres vivos e que,
manipulando os elementos presentes no ambiente, era possível controlar
o comportamento.

A base do trabalho de Skinner era a compreensão do comportamento


humano por meio do comportamento operante. Ele não queria manipular
o comportamento, mas entendê-lo a partir da modificação dos elementos
do ambiente. Seria, então, possível ensinar uma nova resposta por meio
do condicionamento operante?

DEFINIÇÃO:

Condicionamento operante é uma forma de aprendizagem


que consiste em associar um estímulo a uma resposta,
que pode ser mais ou menos produzida, dependendo da
consequência do comportamento. O objetivo é que depois
de aprendido, o comportamento se repita constantemente.
Psicologia da Personalidade 37

Nesse aspecto, o Behaviorismo Radical de Skinner procurava


entender o comportamento numa interação entre os estímulos do
ambiente e as devidas respostas. Entendia que havia três tipos de seleção
para as respostas comportamentais: a filogenética – repertórios que uma
mesma espécie compartilha pela evolução; a ontogenética – associada à
história particular de cada pessoa e a cultural – referente ao repertório de
uma mesma cultura.

EXEMPLO: Repertório filogenético: o suor é uma resposta inata e


involuntária que ocorre para diminuir a temperatura corporal. Repertório
ontogenético: quando o dia está muito quente, a busca por um local mais
refrescante é uma resposta voluntária para diminuir a sensação de calor.
Repertório cultural: usar desodorante é um comportamento cultural,
aprendido para evitar mau cheio e causar conforto.

O desenvolvimento da personalidade
A psicologia comportamental não nasce com os estudos de Skinner,
mas com os experimentos de John Watson e Ivan Pavlov e suas teorias do
condicionamento clássico.

DEFINIÇÃO:

Condicionamento clássico é um procedimento em que um


reflexo inato é induzido a um animal ou uma pessoa para
demonstrar que a mente podia ser medida, observada ou
modificada pelo comportamento.

Vamos recordar brevemente esses estudos: Pavlov provocou a


salivação em um cachorro quando ele ouvia uma campainha, antes
associada a apresentação de uma carne suculenta. Watson provocou
medo em um bebê ao associar um cão peludo a um som muito alto. O
bebê passou a ter medo de cachorros peludos.

Influenciado pela teoria dos reflexos condicionados, Skinner


acreditou que seria possível explicar alguns comportamentos como um
conjunto de respostas fisiológicas condicionadas. Para ele, a aprendizagem
38 Psicologia da Personalidade

estaria vinculada à capacidade de estimular ou reprimir comportamentos,


tanto os desejáveis como os indesejáveis.

Um outro trabalho que despertou o interesse de Skinner para


incentivar seus estudos, foi o trabalho do psicólogo Edward L. Thorndike,
denominado lei do efeito, o qual afirmava que seria provável que um
comportamento recompensado se repetisse.

Skinner aceitava os estudos do condicionamento clássico, mas


ele queria estudar um outro tipo de aprendizagem, ao qual chamou de
condicionamento operante. Ele acrescentou conceitos do princípio do
reforço e o conceito de recompensa por meio dos estudos da Caixa
de Skinner, da qual falamos anteriormente. Foi também a partir dos
experimentos com animais que Skinner explorou as condições exatas
que proporcionam aprendizagem eficiente e duradoura. Ele usou a
modelagem, um procedimento com uso de reforços que orientavam
ações para o comportamento desejado e a extinção, isto é, a retirada da
recompensa para eliminar ou enfraquecer um comportamento.

O comportamento operante descreve a relação entre as respostas


dos organismos e o ambiente. Difere do comportamento clássico
porque neste um estímulo propicia uma resposta. Outra característica
do comportamento operante é que a resposta ao estímulo gera uma
consequência, além de ter a possibilidade de acontecer novamente em
um contexto semelhante.

No condicionamento operante, ocorre uma aprendizagem depois


de um comportamento. Na Caixa de Skinner, o rato aprende que depois
de apertar a alavanca, recebe a comida como prêmio. O comportamento
aumenta de frequência se for reforçado, e dessa forma, surge um novo
conceito: o reforço.

DEFINIÇÃO:

Reforço é todo e qualquer evento que aumenta a frequência


do comportamento. Um estímulo aumenta a probabilidade
de ocorrência de um comportamento anterior. Um reforço
pode ser positivo e negativo.
Psicologia da Personalidade 39

Reforço positivo: se oferece o estímulo depois da ação e esse


estímulo apresentado fortalece a apresentação do comportamento. A
frequência do comportamento aumenta por ser seguido de um estímulo
recompensador. Há a adição de um estímulo. Isto é, o reforço positivo é
um elemento que tem a função de prêmio, pois, em geral, satisfaz alguma
necessidade ou gera uma resposta agradável.

EXEMPLO: Um aluno faz um trabalho com capricho e o professor


elogia. O aluno vai se esforçar para sempre fazer bons trabalhos pela
recompensa do elogio. Estudamos para uma prova, pela recompensa da
boa nota ou apenas de concluir uma determinada disciplina.
Figura 9- Reforço positivo

Fonte: Freepik

Reforço negativo: reduz-se ou remove-se o estímulo após a ação e


essa retirada de estímulo fortalece a apresentação do comportamento. A
frequência do comportamento aumenta por ser seguido da eliminação,
remoção de um estímulo desagradável.

EXEMPLO: A empresa decide dar folga aos sábados para quem


cumprir as metas semanais até a sexta-feira. Todos vão trabalhar mais
intensamente para ter a recompensa da retirada do sábado de trabalho.
40 Psicologia da Personalidade

Uma criança que não gosta de escovar os dentes, passa a fazer com
mais frequência para evitar a bronca da mãe. Ela aumenta a frequência da
escovação para não ter que ouvir a mãe reclamar.
Figura 10- Reforço negativo

Fonte: Freepik

Um outro conceito presente nos estudos do condicionamento


operante e que causa confusão para o entendimento é o conceito de
punição.

DEFINIÇÃO:

A punição é todo estímulo que reduz a frequência de


uma resposta por meio da apresentação de um estímulo
desagradável ou da retirada de um estímulo agradável.

Em algum momento da vida, todas as pessoas sofreram algum tipo


de crítica por alguma atitude inadequada ou por algum erro cometido,
e, consequentemente, sofreram algum tipo de pena ou repreensão,
que pode entendida como uma punição. A punição pode ser positiva ou
negativa.
Psicologia da Personalidade 41

Punição positiva: é oferecido o estímulo depois da ação e esse


estímulo apresentado diminui a frequência do comportamento.

EXEMPLO: Se a criança faz algo errado, como brigar com o irmão,


a mãe a repreende. Logo, para não levar mais bronca, ela para de brigar
com o irmão.

Punição negativa: reduz-se ou remove-se o estímulo após a ação e


essa retirada de estímulo diminui a frequência do comportamento.

EXEMPLO: Se a criança bater no irmão, deixa de ver TV por 2 dias.


Ela deixa de bater no irmão para voltar a ver televisão.

A compreensão do que é personalidade perpassa pela observação


de como e em que condições o comportamento é aprendido. Mesmo
entendendo que o comportamento é regido por normas e até por leis,
cada pessoa reage diferente e se desenvolve de forma diferente em cada
uma das situações ambientais diversas. Ao conjunto de comportamentos
se dá o nome de personalidade.

Skinner queria entender o desenvolvimento da personalidade


pelas interações das pessoas (com suas cargas e forças genéticas) com o
ambiente (cultura, classe social, família). A genética determina a amplitude
do desenvolvimento de uma pessoa e o ambiente favorece e determina o
resultado específico referente a essa amplitude.

Assim, Skinner acreditava que os comportamentos os quais uma


pessoa aprende e adquire em casa formam uma personalidade, bem
como os comportamentos que ela aprende para o trabalho formariam
uma outra personalidade, que, atuando juntas, manifestam-se conforme
o que o meio em que está exige.
42 Psicologia da Personalidade

RESUMINDO:

Vimos neste capítulo que Skinner estabeleceu estudos que


explicavam o comportamento humano como aprendido.
Ele acreditava que todas as formas de comportamento
eram resultantes de reações às situações presentes no
ambiente. Rejeitou mecanismos mentais e fez críticas aos
estudos que eram baseados nesse tipo de subjetividade.
Partiu dos conceitos do condicionamento clássico de
Pavlov para aprofundar os estudos de condicionamento
operante. Acreditava que o condicionamento operante
(comportamento decorrente da presença ou ausência de
um reforço – recompensa- ou punição) explicaria todas as
formas de comportamento humano. Para ele, a Psicologia
deveria ter apenas dois objetivos: a previsão e o controle
do comportamento, tanto humano como animal). Tais
objetivos seriam alcançados pela análise experimental
do comportamento, com uma descrição completa dos
antecedentes e dos consequentes de um determinado
comportamento.Estudou o comportamento em laboratórios
bem controlados, criando um dispositivo denominado
Caixa de Skinner, destinada a experimentos com animais
(basicamente ratos e pombos). A aprendizagem, a
aquisição da linguagem e a resolução de problemas eram
decorrentes da análise experimental do comportamento.
Psicologia da Personalidade 43

A nova visão cognitiva comportamental


de Aaron Beck
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


uma nova visão sobre a psicologia da personalidade.
Aaron Beck foi um dos psicoterapeutas mais influentes
para a Psicologia e transformou a visão sobre uma ampla
variedade de transtornos. Considerado como fundador da
Terapia Cognitivo Comportamental, seus estudos trazem
uma nova visão sobre o comportamento e a personalidade.
Motivado para desenvolver esta competência? Então
vamos lá. Avante!

Aaron Beck e a Terapia Cognitiva


Aaron Beck nasceu nos Estados Unidos em 1921 e estudou
psiquiatria, chegando a ser professor dessa disciplina na Escola de
Medicina, da Universidade da Pensilvânia.

Era seguidor de Freud e usava os princípios da Psicanálise para


seus atendimentos clínicos. Contudo, no início de 1960, entendeu, com
base em estudos que desenvolveu, que a Psicanálise não era consistente
com suas observações clínicas sobre depressão.

Assim, ao discordar sobre os aspectos da teoria psicanalítica,


dedicou-se a estudar uma nova abordagem sobre depressão, criando
então a abordagem cognitiva para depressão e ansiedade. Mais tarde,
fundou a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) (ROCHA, 2013).

Seus estudos foram pautados na descoberta de que os sintomas


da depressão poderiam ser mais bem explicados pela avaliação
dos pensamentos conscientes, do que pelos sintomas reprimidos e
inconscientes como pregava a Psicanálise.

Acreditava que a depressão teria como causa as visões negativas


irrealistas sobre o mundo que a pessoa desenvolvia. Pessoas com
44 Psicologia da Personalidade

depressão teriam visão negativa em três áreas: elas mesmas, o mundo e


o futuro. Esse tripé ficou conhecido como a tríade depressiva.

Beck entendia a tríade da seguinte forma: a pessoa deprimida


tinha sempre uma visão negativa de si mesma: se sentia inadequada,
não-merecedora, indesejável, inútil; tinha uma visão negativa do mundo:
a vida era uma sequência de fardos, obstáculos, situações traumáticas,
derrotas e privações; tinha uma visão negativa do futuro: haverá sempre
sofrimento, dificuldades, frustrações e faltas na vida futura (ROCHA, 2013).
Figura 11- Depressão: visão negativa de si mesma

Fonte: Freepik

Ele, então, desenvolve um tratamento para a depressão com


base na solução dos problemas que são atuais, trazidos pelas pessoas
no ato presente, numa tentativa de responder de forma adaptativa aos
pensamentos irreais e, assim, mudar o comportamento da pessoa. O
objeto de estudo é, dessa forma, a percepção.

Psicologia Cognitiva
A Psicologia cognitiva “é o estudo de como as pessoas percebem
as informações, aprendem-nas, lembram delas e pensam nelas”
(STERNBERG & STERNBERG, 2016, p.3). A psicologia cognitiva vai trabalhar
as formas como as pessoas percebem, esquecem ou lembram de um
fato. Vai trabalhar a cognição.
Psicologia da Personalidade 45

DEFINIÇÃO:

Cognição: é a capacidade de processar informações


e transformá-las em conhecimento. É como o cérebro
interpreta as informações que chegam até ele pelos
sentidos. É o conteúdo do pensamento, é como a pessoa
percebe um acontecimento.

Figura 12- Interpretação do pensamento

Fonte: Freepik

A cognição passou a ser um campo de investigação da Psicologia


nos anos 60, quando os estudos de psicólogos (como Beck) passaram a
identificar a relação entre a cognição e o comportamento.

O processo cognitivo é uma série de eventos necessários para


estabelecer ligação entre as diferentes informações que chegam à
mente. Para isso, são usadas as funções cognitivas, como percepção,
atenção, memória, pensamento, linguagem e aprendizagem, e também
as habilidades mentais de associação, imaginação, juízo e raciocínio.

As terapias cognitivas consideram, portanto, a cognição, que pode


ser funcional ou disfuncional, um componente importante dos transtornos
mentais. Têm em comum os seguintes princípios:
46 Psicologia da Personalidade

• A cognição influencia o comportamento e as emoções.

• O conteúdo do pensamento poder ser conhecido por meio do


automonitoramento da atenção consciente.

• É possível modificar o comportamento e lidar de modo mais efetivo


com as emoções a partir da mudança cognitiva (BASTOS, 2013).

O modelo cognitivo entende que o pensamento distorcido ou


disfuncional modifica o humor e, por consequência, o comportamento da
pessoa, e é o pensamento que precisa ser objeto de estudo da terapia
cognitiva. Há ainda a descrição de três níveis de processamento cognitivo:
os pensamentos automáticos, as crenças intermediárias e as crenças
centrais. Não existe apenas uma forma de terapia cognitiva. Na verdade,
diversas formas de olhar para o cognitivo foram desenvolvidas:

• Terapia Racional-Emotiva de Albert Ellis.

• Terapia Cognitiva-Construtivista de Michael Niemeyer.

• Terapia Multimodal de Arnold Lazarus.

• Terapia Cognitivo Comportamental de Aaron Beck.

Terapias Cognitivas
Terapia Racional-Emotiva de Albert Ellis.

Seu pressuposto parte do princípio de que as circunstâncias não


perturbam as pessoas, mas são as pessoas que se perturbam pela visão
que têm das circunstâncias. Entende que o pensamento, a emoção e o
comportamento estão interrelacionados e trabalham juntos por meio do
sistema ABCDE.

SAIBA MAIS:

Sistema ABCDE – A: activating event (acontecimento


ativador) – B: belief (crenças irracionais) – C: consequences-
emotional & behavioral (consequências emocionais e
comportamentais) – D: dispunting intervencion (debate) – E:
effect philosophy – nova filosofia.
Psicologia da Personalidade 47

Terapia Cognitiva-Construtivista de Michael Niemeyer.

Entende que o ser humano não é um produto solitário e


autossuficiente da própria existência, mas é seu cocriador.

A pessoa é um ser integral no que diz respeito aos aspectos


cognitivos, biológicos e ambientais.

Pensamento, emoção e comportamento são elementos que têm o


mesmo valor e influenciam uns aos outros. Não há ação maior de nenhum
deles sobre as pessoas.

Terapia Multimodal de Arnold Lazarus.

Entende o ser humano como um ser biológico que pensa, sente,


percebe, imagina, atua e interage.

Todos esses aspectos devem ser abordados e trabalhados no


tratamento psicoterápico.

Considera sete modalidades de funcionamento pessoal que devem


ser explorados no tratamento psicoterápico: biológico, afetivo, sensorial,
imaginação, cognição, conduta e relações sociais.

A terapia deve ser voltada para ensinar às pessoas a se prepararem


para enfrentar situações que possam trazer algum desconforto, como:
falar em público, fobias, dificuldades de relacionamento, entre outras.

Terapia Cognitivo Comportamental de Aaron Beck

Como dissemos anteriormente, Beck desenvolve os estudos da


terapia cognitiva comportamental inicialmente para o tratamento da
depressão. Entretanto, desde seus primeiros estudos, outros estudiosos
adaptam a terapia para um número maior de pessoas com outras
desordens psiquiátricas.

A ideia básica dessa linha de intervenção é que as pessoas com


estresse têm, na grande maioria das vezes, o pensamento distorcido
(disfuncional), que, por consequência, altera negativamente o humor. Isso
tem impacto no seu comportamento e, em algumas situações, também
tem impacto na fisiologia.
48 Psicologia da Personalidade

As distorções do pensamento, isto é, as distorções cognitivas agem


diretamente nas respostas emocionais, comportamentais e fisiológicas da
pessoa. Os transtornos psicológicos levam, com frequência, a pessoa a
ter pensamentos disfuncionais tendenciosos e interpretar erradamente
situações neutras ou mesmo situações que seriam boas, positivas.

Dessa forma, a ideia de que o afeto e o comportamento de uma


pessoa são determinados pela maneira de como ela estrutura o mundo é
a base inicial da terapia cognitiva.

A abordagem da Terapia Cognitivo Comportamental é estruturada,


voltada para o presente, direta, ativa, breve, preocupada em resolver
problemas atuais e modificar os pensamentos e comportamentos
disfuncionais. Para isso utiliza um grupo de técnicas objetivas e orientadas
para metas.

Uma das técnicas mais importantes no início da terapia é identificar


os pensamentos disfuncionais para ser possível testar a realidade e, assim,
corrigir as conceituações distorcidas e crenças disfuncionais.

À medida que o tratamento se estabelece, as crenças disfuncionais


são substituídas por crenças funcionais que permitem que a pessoa
experimente comportamentos e emoções menos prejudiciais.

SAIBA MAIS:

O terapeuta cognitivo utiliza técnica da aplicação da


lógica e de regras de evidência para identificar as crenças
errôneas ou negativas que prejudicam o funcionamento da
pessoa. Durante a psicoterapia cognitiva, o cliente aprende
a dominar seus problemas e situações desagradáveis. Ao
estabelecer crenças e pensamentos funcionais, o estado
afetivo e o comportamento também são alterados para
melhor.
Psicologia da Personalidade 49

Os pressupostos da Terapia Cognitivo


Comportamental
A premissa inicial da Terapia Cognitivo Comportamental é que a
cognição afeta o comportamento, pode ser monitorada, pode ser alterada
e pode mudar o comportamento quando é alterada.

Outra premissa importante é que o afeto e o comportamento das


pessoas são determinados pela forma como elas estruturam o mundo.
Suas cognições são resultados de esquemas desenvolvidos por situações
vivenciadas em algum momento anterior da vida (BECK, 2013).

A Terapia Cognitivo Comportamental entende que a interpretação


que o indivíduo faz do que considera real é mais importante do que, de
fato, é real. O trabalho terapêutico é baseado nos seguintes níveis de
cognição: pensamentos automáticos, crenças intermediárias, crenças
centrais e esquemas. É o que vamos discutir a partir de agora, com base
nos estudos de Beck, 2013.

Pensamentos Automáticos
Representações conscientes ou pré-conscientes que antecedem,
acompanham ou seguem imediatamente um estado emocional.

A maioria destes pensamentos não é percebida conscientemente,


acontece de forma rápida, involuntária e automática, não há esforço
de reflexão e surgem de forma breve e telegráfica, não decorrentes de
raciocínio.

De forma geral, são exagerados, equivocados, distorcidos ou


irrealistas e acabam por exercer importante papel na psicopatologia,
porque moldam tanto as emoções, quanto as ações da pessoa em
resposta aos eventos da vida.

A pessoa deve ser instruída a prestar atenção a seus pensamentos


automáticos, que são o foco principal da terapia cognitiva comportamental,
uma vez que seu conteúdo reflete os sentidos das crenças básicas do
indivíduo (BASTOS, 2010).
50 Psicologia da Personalidade

Crenças intermediárias
Suposições condicionais, regras, atitudes derivadas das crenças
centrais.

As crenças e os pensamentos influenciam as emoções, as respostas


fisiológicas e os comportamentos das pessoas.

Crenças Centrais
Conceitos mais enraizados que a pessoa tem sobre si mesma, sobre
outras pessoas e sobre o mundo.

Desenvolvem-se a partir de experiências significativas desde


o início da vida e se fortalecem em períodos de maior vulnerabilidade
(adolescência e outras crises), isto é, na época de algum sofrimento
emocional. Começando na infância, as pessoas desenvolvem
determinadas crenças sobre si mesmas, outras pessoas e seus mundos.

São generalizadas, não questionadas e não totalmente conscientes,


entendidas como verdades absolutas e imutáveis.

São entendimentos tão profundos que as pessoas frequentemente


não os articulam, sequer para si mesmas.

Essas ideias são consideradas pela pessoa como verdades


absolutas, exatamente o modo como elas “são”.

A pessoa tende a focalizar seletivamente informações que confirmam


a crença central, desconsiderando ou descontando informações que
são contrárias. Desse modo, ele mantém a crença mesmo que ela seja
imprecisa e disfuncional.

Se as crenças centrais forem disfuncionais, geram pensamentos


automáticos e comportamentos também disfuncionais. O objetivo da
Terapia Cognitivo Comportamental é transformar os pensamentos e as
crenças disfuncionais em funcionais (BASTOS, 2010).
Psicologia da Personalidade 51

As crenças centrais ou nucleares podem ser agrupadas, conforme


descreve Judith Beck (2013):

1. Crenças Nucleares de Desamparo: sobre ser impotente, frágil,


vulnerável, carente, desamparado, necessitado.
Figura 13- Crença de desamparo

Fonte: Freepik

2. Crenças Nucleares de Desamor: sobre ser indesejável, incapaz


de ser gostado, incapaz de ser amado, sem atrativos, imperfeito,
rejeitado, abandonado, sozinho.
Figura 14- Crença de abandono

Fonte: Freepik
52 Psicologia da Personalidade

3. Crenças Nucleares de Desvalor: sobre ser incapaz, incompetente,


inadequado, ineficiente, falho, defeituoso, enganador, fracassado,
sem valor.
Figura 15- Crença de fracasso

Fonte: Freepik

Esquemas
São regras ou padrões específicos, formados desde a infância e ao
longo da vida, a partir das crenças que justificam o comportamento da
pessoa. Os esquemas são estruturas relativamente estáveis e constituem
a personalidade da pessoa. São os fundamentos que moldam os estímulos
que a pessoa recebe ao longo da existência, tornando-os cognições
(BASTOS, 2010).

A Terapia Cognitivo Comportamental e o estudo da


personalidade
Aaron Beck define e explica a formação da personalidade
pelo pressuposto de que a história evolutiva da pessoa influencia
no desenvolvimento dos padrões de pensamento, sentimento e
comportamento. Isso significa que, como outros autores, entende que a
personalidade é o resultado da interação das disposições genéticas e das
experiências da vida.
Psicologia da Personalidade 53

A partir da base teórica da Terapia Cognitivo Comportamental, Beck


entende que os esquemas, funcionais ou disfuncionais, são elementos
básicos da personalidade. A personalidade pode, então, ser entendida
como um conjunto de esquemas individuais que são determinantes para
o funcionamento dos sistemas motivacionais, cognitivos e emocionais na
relação com os contextos ambientais, sociais e biológicos.

Os traços ou padrões da personalidade seriam organizações dos


esquemas, onde estão as crenças e a função de manter a estabilidade
dos sistemas cognitivos. Dessa forma, padrões de personalidade como
dependente, extrovertido, tímido, agressivo etc. seriam a maneira como
os processos esquemáticos estão organizados (BARROS, 2010).
Figura 16- Personalidade extrovertida

Fonte: Freepik

É importante ressaltar que Beck entendia que cada pessoa era


possuidora de um perfil de personalidade único, com possibilidades de
responder a uma situação específica de uma maneira cognitiva, afetiva e
comportamental peculiar a ela.

A teoria da personalidade, na visão da terapia cognitiva, é


caracterizada pela maneira como as informações de um ambiente
provocam respostas cognitivas, afetivas, motivacionais e comportamentais
nas pessoas.
54 Psicologia da Personalidade

A percepção, a interpretação e o entendimento do significado dado


por uma pessoa a uma situação provocam uma resposta que pode, ou
não, ser adaptativa. Isso está ligado às suas crenças e esquemas de
crenças construídas pelas experiências da vida, que proporcionaram o
desenvolvimento da personalidade.

RESUMINDO:

Neste capítulo, vimos como Aaron Beck estruturou uma


nova abordagem na Psicologia, a Terapia Cognitivo
Comportamental. No início da década de 60, depois de
perceber que as premissas psicanalíticas não conseguiam
resolver os problemas de seus pacientes com depressão,
Beck desenvolveu uma forma terapêutica para atender
aos pacientes com esse quadro. Sua nova teoria partiu
do princípio de que os pensamentos disfuncionais eram
o problema a ser tratado. Assim, descreveu sistemas
como pensamentos automáticos, crenças intermediárias
e crenças centrais, ligados a um sistema de crenças que,
elaboradas ao longo da vida, formam a personalidade e a
maneira como a pessoa vê o mundo. Esperamos que você
tenha aproveitado bem os estudos referentes aos conceitos
psicanalíticos e cognitivos desta unidade!
Psicologia da Personalidade 55

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