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Saúde Mental

e Assistência
Farmacêutica
Mariana Martins Garcia

Livro
didático
digital

Unidade 04
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autora
MARIANA MARTINS GARCIA
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
A AUTORA
MARIANA MARTINS GARCIA

Olá. Meu nome é Mariana Martins Garcia. Sou formada em


Farmácia pela Universidade Federal do Paraná, mestre em Ciências
Farmacêuticas pela mesma instituição. Já atuei em farmácia de
dispensação, farmácia hospitalar, prática clínica e manipulação de
nutrição parenteral e quimioterapia, além de ser palestrante e professora.
Passei por empresas com a Droga Raia, Hospital da Policia Militar,
Stiefel, CEQNEP, Equilibra. Atualmente sou professora conteudista para
instituições como a São Braz e a própria Telesapiens. Sou apaixonada
pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que
estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou
muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho.
Conte comigo!
ICONOGRAFIA
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo
projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha
de aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do desen- houver necessidade
volvimento de uma de se apresentar
nova competência; um novo conceito;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações es-
necessários obser- critas tiveram que ser
vações ou comple- priorizadas para você;
mentações para o
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e inda-
algo precisa ser gações lúdicas sobre
melhor explicado o tema em estudo, se
ou detalhado; forem necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamento atenção sobre algo
do seu conhecimento; a ser refletido ou
discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoaprendi- volvimento de uma
zagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
CAPS - Centro de Atenção Psicossocial: Diretrizes e
classificações....................................................................11
História do Centro de Atenção Psicossocial ......................11
O que é e como funciona o CAPS ....................................12
Entrada e permanência do paciente no CAPS ...................15
Diretrizes Centro de Atenção Psicossocial........................15
Classificações Centro de Atenção Psicossocial ...................16
Características dos CAPS de modo geral...............16
CAPS I....................................................................17
CAPS II...................................................................18
CAPS III.................................................................18
CAPSi...................................................................19
CAPSad.................................................................20
Resumo das diferenças entre os CAPS.................21
O gerenciamento da CAPS.......................................23
Gestão da saúde.................................................................23
Situação de saúde para gestão............................................24
Planejamento na gestão do SUS.......................................25
Plano de Saúde ou Plano de Trabalho....................26
Gestão em saúde mental..................................................27
Financiamento do SUS e repasse para o CAPS...........28
RAPS - Rede de Atenção Psicossocial.....................31
Redes de Atenção à Saúde (RAS) ..........................................31
Instituição da Rede de Atenção Psicossocial .........................33
Componentes da Rede deAtenção Psicossocial - RAPS...........33
Atenção básica em saúde......................................33
Atenção psicossocial especializada..........................34
Atenção de urgência e emergência......................34
Atenção residencial de caráter transitório...............35
Atenção hospitalar...................................................35
Estratégias de desinstitucionalização......................36
Reabilitação psicossocial.......................................36
Ética e bioética na atenção psicossocial........................37
Conceitos: ética e bioética .............................................37
Princípio da não-maleficência...........................................39
Princípio da justiça ou equidade.....................................39
Princípio da autonomia ....................................................39
Autonomia na saúde mental....................................39
Autonomia e o Projeto Terapêutico Singular...........40
8 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

04
UNIDADE
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 9

INTRODUÇÃO
Estamos na última unidade de estudos da disciplina de saúde
mental e assistência farmacêutica. O que essa disciplina te acrescentou
até aqui? Conseguiu aprofundar seus conhecimentos em saúde mental?
Nessa unidade vamos começar aprofundando o conhecimento
sobre os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ligando os conhecimentos
que tivemos nas aulas anteriores com novos conteúdos, entendendo
como a luta antimanicomial auxiliou na estruturação do CAPS para atuar
com os serviços substitutivos e conhecendo cada modalidade de CAPS E
sua estrutura física e equipe de profissionais
Após entender mais sobre o CAPS, vamos conhecer sobre o seu
gerenciamento, mas para isso, você vai conhecer como funciona a gestão
de saúde e seu desenvolvimento pois a gestão do CAPS é baseada na
forma de gestão estratégica do SUS, e complementar o conhecimento
de gestão vamos entender como funciona o repasse financeiro no SUS
e no CAPS.
Sabemos que o CAPS faz parte da Rede de Atenção Psicossocial,
mas como funciona essa rede? Isso é o que vai descobrir nessa aula,
entender que essa rede faz parte de uma rede maior chamada de Rede
de Atenção à Saúde e vai conhecer os principais componentes do RAPS
e de que forma são utilizados.
E, por fim, vamos mergulhar num assunto importante em todos os
aspectos da saúde, mas principalmente no tratamento de transtorno metal:
Ética e Bioética. Você já ouviu falar de ética e bioética? Provavelmente sim,
mas você vai entender porque ela é importante na atenção psicossocial
principalmente quando você conhecer os quatro princípios da bioética
que são beneficência, não-maleficência, justiça e equidade e autonomia
e entender que eles estão relacionados aos direitos humanos. Entendeu?
Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
10 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Conhecer sobre o Centro de Atenção Psicossocial, suas diretrizes


e classificações
2. Compreender como funciona o gerenciamento do Centro de
Atenção Psicossocial
3. Conhecer sobre a Rede de Atenção Psicossocial
Compreender os conceitos de ética e bioética na atenção
4.
psicossocial.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 11

CAPS - Centro de Atenção Psicossocial:


Diretrizes e classificações
INTRODUÇÃO
Nas aulas anteriores falamos em vários momentos sobre
os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Nessa aula
vamos entender o que é, quais as classificações existentes
e as suas diretrizes. E então? Motivado para desenvolver
esta competência? Então vamos lá. Avante!

História do Centro de Atenção Psicossocial


Como já vimos em aulas passadas, a Reforma Psiquiátrica
tem uma história singular. Com a luta pela desinstitucionalização do
tratamento de transtornos mentais fez com que profissionais da saúde
buscassem novas formas de atuar na saúde mental. A partir disso, surgiu
o Projeto de Lei nº 3.657/89, que dispunha sobre a progressiva extinção
das instituições manicomiais e sua substituição por outros dispositivos
assistenciais, bem como sobre a regulamentação da internação
psiquiátrica compulsória.
Durante a tramitação desse projeto de lei, alguns estados
instituíram leis estaduais, baseadas nos princípios da luta antimanicomial
e iniciaram o processo de substituição progressiva da assistência no
hospital psiquiátrico por outros dispositivos ou serviços. Nesse período
já surgem alguns CAPS, sendo o primeiro na cidade de São Paulo.

SAIBA MAIS
O primeiro CAPS instituído no Brasil, em 12 de março de
1987, foi o Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da
Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS Itapeva, em São
Paulo. Já atendeu mais de 15 mil pacientes e é considerado
até hoje como referência em saúde mental. Em 2017
completou 30 anos e fez uma semana de atividades em
comemoração.
Para conhecer mais sobre esse CAPS acesse o link para
leitura da reportagem na integra: http://bit.ly/2wgei9E
12 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

Após 12 anos, e algumas modificações, o projeto foi aprovado


como Lei n 10.216, de 6 de abril de 2001 que dispõe sobre a proteção e
os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona
o modelo assistencial em saúde mental.
Um ano depois, a Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002 a qual
estabelece os Centros de Atenção Psicossocial e descreve que poderão
constituir-se nas modalidades de serviços: CAPS I, CAPS II e CAPS III, definidos
por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional.
Nesse momento, os CAPS começam a se estruturar e atuar na
saúde mental com serviços substitutivos para o cuidado dos pacientes
com transtornos mentais e, principalmente, atuando nos pacientes que
passaram anos nas instituições e precisam de apoio para voltar a conviver
na sociedade, ainda preconceituosa. (MS M. d., 2004; MS, 2015; BRASIL,
Portaria n 336, de 19 de fevereiro de 2002, 2002; LEAL & ANTONI, 2013)

O que é e como funciona o CAPS


O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um serviço de saúde
aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS). É um lugar de
tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses,
neuroses graves e demais quadros. A permanência e a modalidade do
serviço em que esse paciente vai ser atendido depende da severidade
dos sintomas. Já vimos em outra aula, mas vale reforçar a definição
sobre os CAPS:

DEFINIÇÃO
são pontos de atenção estratégicos da Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS): serviços de saúde de caráter aberto e
comunitário constituído por equipe multiprofissional e que
atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza prioritariamente
atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno
mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes
do uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial,
seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação
psicossocial e são substitutivos ao modelo asilar.
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 13

O objetivo dos CAPS é oferecer atendimento à população,


realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos
pacientes a partir do exercício dos direitos civis e fortalecimento dos
laços familiares e comunitários.
É um serviço de atendimento diário, no qual se gerencia os projetos
terapêuticos singulares para promover melhora clínica e inserção social
dos pacientes com ações intersetoriais que envolvem as várias áreas da
vida do paciente como educação, trabalho, cultura e lazer.
Além disso, os CAPS são responsáveis pela organização da rede
de serviços de saúde mental de seu território dando suporte à atenção
básica sendo, na maioria das vezes, a porta de entrada da rede de
assistência em saúde mental, bem como coordenando as atividades de
supervisão de unidades hospitalares psiquiátricas.
Na estrutura de redes de atenção à saúde mental, que veremos
mais adiante, o CAPS é considerado o centro de acesso, responsável
pelo fluxo e contrafluxo do paciente. Com esse modelo, o paciente não
sai do sistema de saúde e volta nos momentos de crise, na verdade ele
permanece sendo acompanhado, direta ou indiretamente. Pois o ponto
principal desse modelo é o acompanhamento do paciente, seja nos
momentos de crise, seja nas suas atividades cotidianas.
14 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

Figura 1:CAPS como centro da Rede de Atenção Psicossocial

Fonte: Pedro Henrique Antunes da CostaTelmo Mota RonzaniFernando Antonio Basile


Colugnati

Os CAPS devem ter um espaço próprio e preparado para atender


à sua demanda fornecendo consultórios para as atividades individuais,
salas para atividades em grupo, oficinas e espaço de convivência e
ambiente externo para as mesmas atividades. Além disso, devem ter
sanitários e refeitórios de acordo com o tempo de permanência dos
pacientes previamente estabelecida no seu projeto terapêutico. (MS M.
d., 2004; MS, 2015; BRASIL, Portaria n 336, de 19 de fevereiro de 2002,
2002; LEAL & ANTONI, 2013)
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 15

Entrada e permanência do paciente no


CAPS
Os pacientes atendidos no CAPS são aqueles que apresentam
transtornos mentais severos e/ou persistentes relacionados a alterações
biológicas ou por substâncias psicoativas independente a faixa etária.
Cada paciente sendo atendido no CAPS cuja modalidade se enquadre
no perfil de seu transtorno.
Esse paciente pode procurar diretamente os serviços do CAPS ou
ser encaminhado pelo Programa de Saúde da Família ou por qualquer
outro serviço de saúde. A partir da sua entrada é elaborado o Plano
Terapêutico Singular que é individual e de acordo com a necessidade
do paciente articulando cuidado clínico e programas de reabilitação
psicossocial. (MS M. d., 2004; MS, 2015; BRASIL, Portaria n 336, de 19 de
fevereiro de 2002, 2002; LEAL & ANTONI, 2013)

Diretrizes Centro de Atenção Psicossocial


Todas as atividades e serviços da saúde devem estar em
consonância com as diretrizes e os princípios do SUS e na saúde mental
não é diferente. Dessa forma, a organização de serviços é baseada nos
princípios de universalidade, equidade e integralidade e as diretrizes
de regionalização e hierarquização, regionalização e integralidade das
ações, descentralização com garantia da continuidade da atenção nos
vários níveis com equipes multiprofissionais para a prestação de serviços
reforçando a participação social desde a formulação das políticas de
saúde mental até o controle de sua execução. (MS M. d., 2004; MS,
2015; BRASIL, Portaria n 336, de 19 de fevereiro de 2002, 2002; LEAL &
ANTONI, 2013)
A Portaria/GM nº 336 - De 19 de fevereiro de 2002 define e
estabelece diretrizes para o funcionamento dos Centros de Atenção
Psicossocial estabelecendo que os Centros de Atenção Psicossocial
poderão constituírem modalidades de acordo com porte, complexidade
e abrangência populacional, como veremos a seguir.
16 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

Classificações Centro de Atenção


Psicossocial
Considerando a complexidade da estrutura necessária conforme
as atividades, os CAPS são classificados em CAPS I, CAPS II e CAPS
III, de acordo com o porte, complexidade e abrangência populacional,
mas com as mesmas funções de a atendimento à população. Existem
mais duas modalidades, CAPSi e CAPSad, sendo o primeiro voltado para
crianças e adolescentes e o segundo atua com pacientes com transtornos
decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas, nesse
caso independente da faixa etária. (RIBEIRO, 2018; BRASIL, Portaria n
336, de 19 de fevereiro de 2002, 2002; MS M. d., 2004)
As características de cada modalidade estão descritas na Portaria/
GM nº 336, de 19 de fevereiro de 2002. Utilizando essa legislação como
base, vamos entender as semelhanças e diferenças de cada um deles:

Características dos CAPS de modo geral


É um serviço de atenção psicossocial com capacidade de
atendimento depende de sua estrutura do município como o número
de habitantes, os quais devem se responsabilizar pela organização
da rede de atenção em saúde mental no seu território em acordo da
coordenação do gestor local.
Deve possuir profissionais capacitados para atuar como porta
de entrada do paciente na rede assistencial do seu território e/ou do
módulo assistencial, definido na Norma Operacional de Assistência à
Saúde (NOAS), por determinação do gestor local.
Além disso deve coordenar as atividades de supervisão das
unidades hospitalares psiquiátricas, além de supervisionar e capacitar
as equipes da atenção básica, dos serviços e programas de saúde
mental, bem como fazer e manter atualizado o cadastro dos pacientes
que utilizam medicamentos essenciais para a área de saúde mental é
responsabilidade do CAPS.
As atividades prestadas ao paciente podem ser:
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 17

• Atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de


orientação, entre outros);

Atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo,
atividades de suporte social, entre outras);
• Atendimento em oficinas terapêuticas executadas por
profissional de nível superior ou nível médio;
• Visitas domiciliares;
• Atendimento à família;
• Atividades comunitárias enfocando a integração do paciente na
comunidade e sua inserção familiar e social;
• Disponibilizar refeições de acordo com o horário que o paciente
é assistido, sendo uma para pacientes que participam por 4 horas e duas
para os que ficam 8 horas.

CAPS I
Esse CAPS é instituído em municípios com população entre
20.000 e 70.000 habitantes e o horário de funcionamento no período de
08 às 18 horas, em 02 dois turnos, durante os cinco dias úteis da semana.
A equipe técnica para o atendimento de 20 pacientes por turno,
com limite máximo 30 pacientes/dia deve ser composta por:
• 01 (um) médico com formação em saúde mental;
• 01 (um) enfermeiro;
• 03 (três) profissionais de nível superior entre as seguintes
categorias profissionais: psicólogo, assistente social, terapeuta
ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto
terapêutico;
• 04 (quatro) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de
enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.
18 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

CAPS II
Esse CAPS é instituído em municípios com população entre
70.000 e 200.000 habitantes e o horário de funcionamento no período
de 08 às 18 horas, em 02 dois turnos, durante os cinco dias úteis da
semana podendo ter um terceiro turno funcionando até às 21:00 horas.
A equipe técnica para o atendimento de 30 pacientes por turno,
com limite máximo 45 pacientes/dia deve ser composta por:
• 01 (um) médico psiquiatra;
• 01 (um) enfermeiro com formação em saúde mental;
• 04 (quatro) profissionais de nível superior entre as seguintes
categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro,
terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao
projeto terapêutico.
• 06 (seis) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de
enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.

CAPS III
Municípios com população acima de 200.000 deve ter essa
modalidade de CAPS tendo um serviço ambulatorial de atenção contínua,
durante 24 horas diariamente, incluindo feriados e finais de semana
além de estar referenciado a um serviço de atendimento de urgência/
emergência geral de sua região, que fará o suporte de atenção médica.
Devido a existência do terceiro turno, os pacientes que
permanecerem no serviço durante 24 horas contínuas receberão
quatro refeições diárias. Reforçando o modelo antimanicomial, a própria
legislação descreve que a permanência de um mesmo paciente no
acolhimento noturno fica limitada a sete dias corridos ou 10 dez dias
intercalados em um período de 30 trinta dias.
A equipe técnica para o atendimento de 40 pacientes por turno,
com limite máximo 60 pacientes/dia, em regime intensivo, deve ser
composta por:
• 02 (dois) médicos psiquiatras;
• 01 (um) enfermeiro com formação em saúde mental.
• 05 (cinco) profissionais de nível superior entre as seguintes
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 19

categorias: psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta


ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto
terapêutico;
• 08 (oito) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de
enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.
A equipe de acolhimento noturno, em plantões corridos de 12
horas, deve ser composta por:
• 03 (três) técnicos/auxiliares de enfermagem, sob supervisão do
enfermeiro do serviço;
• 01 (um) profissional de nível médio da área de apoio;
Já para as 12 horas diurnas, nos sábados, domingos e feriados, a
equipe deve ser composta por:
• 01 (um) profissional de nível superior dentre as seguintes
categorias: médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social, terapeuta
ocupacional, ou outro profissional de nível superior justificado pelo
projeto terapêutico;
• 03 (três) técnicos/auxiliares técnicos de enfermagem, sob
supervisão do enfermeiro do serviço
• 01 (um) profissional de nível médio da área de apoio.

CAPSi
O serviço de atenção psicossocial para atendimentos a crianças e
adolescentes pode ser instituído em municípios com população de cerca
de 200.000 habitantes, ou outros parâmetros populacionais e de acordo
com critérios epidemiológicos, definido pelo gestor local. Devendo ter
ambulatório de atenção diária destinado a crianças e adolescentes com
transtornos mentais. O horário de funcionamento deve ser de 8:00 às
18:00 horas, em dois turnos, durante os cinco dias úteis da semana,
podendo comportar um terceiro turno que funcione até às 21:00 horas.
Vale ressaltar que por se tratar de pacientes menores de idade
deve existir ações inter-setoriais, principalmente com as áreas de
assistência social, educação e justiça.
A equipe técnica para o atendimento de 15 crianças e/ou
adolescentes por turno, com limite máximo 25 pacientes/dia, em regime
20 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

intensivo, deve ser composta por:


• 01 (um) médico psiquiatra, ou neurologista ou pediatra com
formação em saúde mental;
• 01 (um) enfermeiro;
• 04 (quatro) profissionais de nível superior entre as seguintes
categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro,
terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo ou outro profissional
necessário ao projeto terapêutico;
• 05 (cinco) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de
enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.

CAPSad
Pacientes com transtornos decorrentes do uso e dependência
de substâncias psicoativas são atendidos nesse CAPS, cuja capacidade
operacional para atendimento em municípios com população superior a
70.000, e o horário de funcionamento no período de 08 às 18 horas, em
02 dois turnos, durante os cinco dias úteis da semana podendo ter um
terceiro turno funcionando até às 21:00 horas. Devendo manter de dois
a quatro leitos para desintoxicação e repouso.
A equipe técnica para o atendimento de 20 pacientes por turno,
com limite máximo 30 pacientes/dia deve ser composta por:
• 01 (um) médico psiquiatra;
• 01 (um) enfermeiro com formação em saúde mental;
• 01 (um) médico clínico, responsável pela triagem, avaliação e
acompanhamento das intercorrências clínicas;
• 04 (quatro) profissionais de nível superior entre as seguintes
categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro,
terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao
projeto terapêutico;
• 06 (seis) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de
enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 21

Resumo das diferenças entre os CAPS


Para ficar mais fácil de entender as diferenças entre os CAPS veja
aa figura 2 e a tabela 1, ambas resumem essas diferenças:

Figura 2: Diferenças entre os CAPS de acordo com as modalidades


22 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

Tabela 1: Diferenças de recursos humanos de acordo com a modalidade do CAPS

Nível
Modalidade Médico Enfermeiro Nível médio
superior
1 com
formação 3 4
CAPS I 1 enfermeiro
em saúde profissionais profissionais
mental
1 com
formação 4 6
CAPS II 1 psiquiatra
em saúde profissionais profissionais
mental
1 com
formação 5 8
CAPS III* 2 psiquiatras
em saúde profissionais profissionais
mental
1 psiquiatra,
ou
neurologista
ou pediatra 4 5
CAPSi 1 enfermeiro
com profissionais profissionais
formação
em saúde
mental
1 com
formação 4 6
CAPSad** 1 psiquiatra
em saúde profissionais profissionais
mental

* Há diferenças nos turnos noturnos, finais de semana e feriados.


** 01 (um) médico clínico, responsável pela triagem, avaliação e
acompanhamento das intercorrências clínicas
Fonte: o Autor

E então? Conseguiu entender o motivo da criação dos CAPS? É


possível perceber que a luta antimanicomial auxiliou na estruturação
do CAPS para atuar com os serviços substitutivos. Além disso, cada
modalidade tem sua estrutura e profissionais de acordo com o perfil do
paciente que será atendido e o perfil do território em que se encontra.
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 23

O gerenciamento da CAPS

INTRODUÇÃO
Nesse tópico vamos conhecer o gerenciamento do CAPS,
mas para isso, devemos entender primeiro como funciona
a gestão de saúde e seu desenvolvimento, isso porquê, o
gestor do CAPS, na maioria das vezes é o mesmo gestor do
território no qual ele está instalado. Além disso, a forma de
gestão do CAPS deve estar baseada na forma de gestão
da saúde segundo a legislação vigente. Pronto para essa
jornada de aprendizado? Então, vamos começar!

Gestão da saúde
Discutir sobre gestão sempre é um processo complexo
principalmente quando o foco é avaliação de um serviço de saúde
mental, pois os novos serviços, como o CAPS por exemplo, vieram
para romper com o modelo anterior centrado na internação hospitalar
focado no isolamento, exclusão e perda da autonomia. Nesse sentido
a gestão deve atuar como uma politica de interlocução e avaliação
com uma metodologia especifica que comtemple a pluralidade e a
interdisciplinaridade entendendo a subjetividade o trabalho técnico e
clínico do processo.
Uma tarefa fundamental do gestor e da equipe gestora é
conhecer a situação de saúde e os dados epidemiológicos do território
sob sua responsabilidade para uma boa tomada de decisão em todos
os aspectos de gestão, principalmente na organização dos serviços e
definição dos protocolos e linhas de cuidado.
Conhecendo o perfil populacional do território, os principais
problemas de saúde da população, os serviços existentes, a rede de
apoio, a força de trabalho em saúde é possível elaborar a análise da
situação de saúde.
Com esses dados é possível elaborar o Mapa da Saúde,
preconizado pelo Decreto n. 7.508/2011, que é a “descrição geográfica
da distribuição recursos humanos (entenda-se força de trabalho em
24 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

saúde) e das ações e serviços da saúde ofertados pelo SUS e pela


iniciativa privada, considerando-se a capacidade instalara existente,
os investimentos e o desempenho aferido a partir dos indicadores de
saúde do sistema”. (BRASIL, Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011,
2011; GIL, LUIZ, & GIL, 2016).

Situação de saúde para gestão


Na saúde território vai além do enfoque geográfico e administrativo,
caracteriza-se por uma população relativamente específica que divide
um mesmo espaço geográfico, social, cultural, econômico e político com
problemas e necessidades de saúde determinados utilizando os mesmo
equipamentos social como escolas, serviços de saúde, transporte, entre
outros.
Com essa perspectiva o território tem como característica a
extensão geográfica junto com perfil demográfico, epidemiológico,
administrativo, tecnológico, político, social e cultural. Todas essas
informações são importantes para o planejamento de ações de saúde.
Com dados e informações de saúde do território em mãos, o gestor
consegue elaborar os indicadores importantes para identificar, planejar
e avaliar as ações e serviços desenvolvidos como os indicadores de
efetividade após as ações já desenvolvidas, mas também os indicadores
de mortalidade, de morbidade, demográficos, socioeconômicos e
ambientais. Cada um deles alimentando e utilizando os sistemas de
informação mais adequados.
Para o planejamento em saúde é necessário conhecer a
capacidade instalada, ou seja, conhecer a estrutura disponível no serviço
para desenvolver as ações que se quer executar. Algumas informações
precisam estar organizadas e disponíveis, entre elas estão:
• Número de Unidades Básicas de Saúde, por região do município.
• Número de equipes de Saúde da Família, por UBS e região.
• Série histórica de cobertura da Estratégia Saúde da Família.
• Número de equipes de Saúde Bucal, por UBS e região.
• Série histórica de cobertura da Saúde Bucal.
• Número de equipes de NASF, por UBS e região.
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 25

• Distribuição da Força de Trabalho em Saúde, por região, vínculo,


categoria, jornada de trabalho.
• Número de Centros de Apoio Psicossocial, por região.
• Número de Centros de Especialidades Odontológicas, por
região.

Número e distribuição de serviços de referência, por
especialidades.
• Número de leitos de internação por mil habitantes.
• Número de leitos de internação existentes por tipo de prestador,
segundo especialidade.
• Número de equipamentos existentes, em uso e disponíveis ao
SUS, segundo grupo de equipamentos.

Número de equipamentos de categorias selecionadas:
existentes, em uso e disponíveis para o SUS.
• Estabelecimentos e tipo de prestador, segundo dados do CNES.
• Outros que sejam de interesse e necessários para a gestão do
SUS.

IMPORTANTE
Perceba que até aqui estamos falando da gestão em saúde
e entre as atividades do gestor está a gestão de ações e
serviços da saúde mental e gerenciamento do CAPS.
(BRASIL, Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011, 2011;
GIL, LUIZ, & GIL, 2016)

Planejamento na gestão do SUS


Quando pensamos em planejamento nosso primeiro pensamento
é elaboração de um plano, elaboração de normas e até quais recursos
financeiros serão necessários. É claro que tudo que foi dito é necessário,
porém, o processo de planejamento vai além. Focar nessa estrutura
básica é utilizar o planejamento normativo no qual o gestor planeja,
define as ações e a equipe operacional pões em prática. Nesse contexto,
o gestor está em uma situação de comandar, mas nem sempre tem total
conhecimento do dia-a-dia e da possibilidade de por em prática o que
foi planejado.
26 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

Por isso, para um bom planejamento em saúde usa-se o


planejamento estratégico, no qual todos os atores envolvidos (gestor,
equipe, usuários e sociedade) elaboram em conjunto os planos a serem
traçados, com isso os objetivos e as ações estão mais embasados na
realidade e, consequentemente, com maior chances de sucesso.
Com os dados e informações em mãos, é possível identificar a
situação atual, principalmente os problemas e as necessidades do
território, e, a partir disso, busca-se verificar qual a situação ideal, ou
seja, onde se quer chegar.
Sabendo onde estamos e onde queremos chegar, os atores
envolvidos traçam metas e objetivos, quais as atividades devem ser
desenvolvidas e quais indicadores de resultados podem ser utilizados,
ou seja, elaboram o Plano de Saúde. (GIL, LUIZ, & GIL, 2016; BRASIL,
Manual de planejamento no SUS, 2016)

Plano de Saúde ou Plano de Trabalho


Para ser efetivo o Plano de Saúde, ou Plano de Trabalho, deve ser
construído com a participação e envolvimento do gestor, das equipes
de saúde, dos conselhos de saúde e da população dos territórios.
Retratando a situação real de saúde e qualificando o processo de tomada
de decisão sempre baseados nos princípios e diretrizes do SUS. A forma
de gestão de qualquer instituição está diretamente relacionada ao perfil
do gestor e das influências das subjetividades na dinâmica gerencial.
A forma de estabelecer vínculos e de se relacionar com os
diversos atores envolvidos pode facilitar ou dificultar o processo de
gestão. Esses gestores devem possibilitar condições técnicas, clínicas
e políticas que garantam o direito ao tratamento, a organização de uma
rede de atenção integral a saúde. No caso da saúde mental, esse gestor
deve utilizar o CAPS como dispositivo estratégico capaz de funcionar
com centros articuladores das instâncias dos cuidados básicos de saúde.
(GIL, LUIZ, & GIL, 2016; BRASIL, Manual de planejamento no SUS, 2016)
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 27

Gestão em saúde mental


Como em outras áreas do SUS, a gestão da política de saúde
mental é tarefa complexa, descentralizada, com diversos níveis de
decisão e de controle social.
A primeira legislação sobre a gestão dos CAPS foi a Portaria nº 224,
de 29 de janeiro de 1992, que estabeleceu as normas para implantação
destas instituições. Em 2002 ela foi revogada pela Portaria nº 336/GM,
de 19 de fevereiro de 2002, a qual veio para regulamentar as diferentes
modalidades. Sendo válida em todo o território nacional estabelece um
padrão para a instituição dos CAPS, e garante a liberdade de atuação
sob a coordenação de um gestor baseado nas políticas de saúde mental
para a implantação do Plano de Trabalho ou Plano de ação.
Para implantar as ações na área da saúde mental é preciso
atentar-se para as realidades distintas, operacionalizando ações que
visem a reinserção social e o convívio familiar.
A saúde mental avançou de forma significativa sua concepção
sobre os transtornos mentais necessitando de uma nova forma de
gestão, o que gera grandes desafios na forma de planejar e gerir ações
que levem a uma mudança nas práticas.
A desarmonia entre os âmbitos técnico, político e administrativo
influencia de forma negativa o campo da saúde mental. O âmbito técnico
é sinalizado pela correlação do desenvolvimento tecno-cientifico das
profissões e das tecnologias em saúde. O âmbito político envolve as
mudanças jurídicas, ou seja, das legislações e da participação social,
pois os movimentos sociais, influenciam as legislações propostas.
Por fim, o âmbito administrativo está basicamente relacionado ao
financiamento, o qual, cresceu com a implementação da Portaria n.
399/GM de 2006 que regula e organiza o financiamento estratégico
para realização dos custeios dos blocos de financiamento em saúde. Na
saúde mental a Portaria n. 3.089 de 2011 descreve de forma especifica
sobre o financiamento na saúde mental, mas a Portaria 3.588/2017
gerou significativas mudanças na Política Nacional de Saúde Mental
como veremos adiante.
Com o apoio do gestor municipal, existe um nível de autonomia
administrativa e financeira nos CAPS, tanto para aquisição de bens e
28 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

serviços quanto para contratação de recursos humanos garantindo o


melhor uso possível dos recursos sempre estruturados nas legislações
vigentes como em relação a licitações e concursos públicos.
(HEIDEMANN, 2019; HECK & al, 2008; BRASIL, Decreto nº 7.508, de 28
de junho de 2011, 2011; GIL, LUIZ, & GIL, 2016)

Financiamento do SUS e repasse para o


CAPS
O financiamento em saúde é baseado, inicialmente na Lei 8.142,
a qual está relacionada a participação da comunidade na gestão
do SUS e descreve sobre as transferências intergovernamentais de
recursos financeiros na área da saúde. Tendo seu aspecto fundamental
na alocação dos recursos do Fundo Nacional de Saúde, atividades
relacionadas às ações em saúde, de forma regular e automática. Fica
evidente na legislação a participação em financiamento e em ações
de serviços de saúde das três esferas de governo, levando a essa
característica tripartite de financiamento, sendo feita transferência
fundo a fundo do Governo Federal para o Município, mas para que esse
repasse aconteça o município deve se enquadrar nos critérios descritos
no artigo 35 da Lei 8.080/90, o qual é alterado a Emenda Constitucional
n. 29, de 13/9/2000.
Essa Emenda definiu os percentuais mínimos a serem aplicados
nas ações e serviços de saúde de 2000 até 2004, havendo um aumento
real nos investimentos em saúde, porém, ela não define quais o que são
consideradas ações e serviços de saúde, gerando alguns problemas de
interpretação e investimento. Por causa dessa dificuldade, foi criada a
Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012 que dispões sobre os
investimentos de cada esfera de governo.
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 29

SAIBA MAIS
Quando os Municípios entenderem ser vantajoso, podem
estabelecer consórcios para a execução das suas ações
em saúde, remanejando entre si os recursos. Dessa forma,
Municípios pequenos podem complementar suas ações
em saúde com o auxílio das cidades vizinhas e ajuda-las
em suas ações.

A Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012 dispões


sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pelas esferas
de governo em ações e serviços públicos de saúde, estabelecendo os
critérios de rateio e transferência, normas de fiscalização, avaliação e
controle das despesas com saúde. Além disso, ela define o que deve
ser considerado gastos em saúde, fixando os percentuais mínimos pelas
três esferas da seguinte forma:
• União aplicará o valor do ano anterior, acrescido da variação
nominal do PIB (produto Interno Bruto) dos dois anos anteriores à Lei;
• Estados devem aplicar 12%;
• Municípios devem aplicar 15%.
Descreve também como esses recursos devem ser aplicados em
as ações e serviços públicos de acesso universal, igualitário e gratuito e
descreve o que não faz parte das ações e serviços de saúde.
Falamos que existe o repasse do governo, o qual era feito por meio
de seis blocos de financiamento divididos em: atenção básica, atenção
especializada, vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, produtos
profiláticos e terapêuticos e alimentação e nutrição sem possibilidade
de remanejá-los, regulamentado pela Portaria n. 399/GM de 2006. Por
isso, em alguns casos, eles ficavam parados, sobrando recurso em um
bloco e faltando em outro. Em 2017, a Portaria 3.992, de 28 de dezembro
de 2017 foi regulamentada e o repasse é feito em duas categorias:
custeio de ação e serviços públicos de saúde e o bloco de investimento.
Essa nova forma de repasse permite mais eficiência além de controle
e monitoramentos mais precisos, assim o gestor tem fácil acesso aos
recursos e ao final deve prestar contas à União e mostrar que respeitou
os compromissos assumidos no Plano de Saúde e orçamento federal.
30 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

Até aqui, entendemos como funciona os repasses de


financiamento no SUS, dessa forma ficará mais claro para entender os
aspectos específicos no financiamento do CAPS. Importante entender
que os recursos serão incorporados ao limite financeiro de média e alta
complexidade dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
O repasse para os CAPS de acordo com sua modalidade é
regulamentado pela PORTARIA Nº 3.089, DE 23 DE DEZEMBRO DE
2011. Na qual é descrito que o recurso financeiro fixo para os Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS) devidamente credenciados pelo Ministério
da Saúde e cada modalidade com valores de acordo com a estrutura e
atividades desenvolvidas, como já vimos nessa aula.
Porém, em 2017, a PORTARIA Nº 3.588 não apenas interrompe o
fechamento de leitos em hospitais psiquiátricos como estava previsto
na Lei 10.216/2001, como também amplia os valores pagos para a
internação nessas instituições estimulando a criação de novas vagas
psiquiátricas em hospitais gerais. Além disso, prevê um aumento de
financiamento público para as comunidades terapêuticas privada, sendo
na maioria de cunho religioso.

REFLITA
Você deve estar se perguntando qual o problema de
aumentar o financiamento para essas comunidades
terapêuticas? O problema é que muitas dessas comunidades
atendem apenas os pacientes que se convertem à religião
proposta. Os que não aceitam a religião simplesmente não
são atendidos o que vai de encontro ao princípio do SUS de
integralidade, ou seja, todos tem direito a ser atendido. Além
disso, as comunidades terapêuticas podem se assemelhar
a internações manicomiais o que vai de encontro à Reforma
Psiquiátrica.

Nesse tópico vimos sobre o gerenciamento no SUS, a importância


dos dados coletados e como utiliza-los para desenvolver um
planejamento estratégico elaborando as metas e objetivos bem como
propor atividades para cumpri-los e indicadores para avaliação contínua
dos resultados. Entendemos sobre o repasse financeiro no SUS e como
acontece na saúde mental.
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 31

RAPS - Rede de Atenção Psicossocial

INTRODUÇÃO
Nesse tópico vamos conhecer sobre a Rede de Atenção
Psicossocial. Para isso, vamos primeiro falar sobre Rede
de Atenção à Saúde, que é a estrutura do SUS desde 2011
sendo responsável pela estruturação da RAPS. Por fim,
vamos conhecer os componentes da RAPS como funcional
e ser interligam para o fluxo e contrafluxo eficaz do paciente.
E ai, preparado para aprofundar seus conhecimentos?
Então vamos lá. Avante!

Redes de Atenção à Saúde (RAS)


Para entender o RAPS é necessário conhecer a estrutura do SUS.
Quando o nosso Sistema de Saúde foi criado sua estrutura de acesso aos
diversos níveis do serviço de saúde era piramidal. Ou seja, há níveis de
atenção, divididos em primário, secundário e terciário trabalhando com
níveis de atenção focado na complexidade, principalmente tecnológica,
acaba sendo fragmentado e seu foco está nas condições agudas ou
agudização das condições crônicas.

DEFINIÇÃO
Segundo MENDES, 2001, condições de saúde são as
circunstâncias na saúde das pessoas que se apresentam de
forma mais ou menos persistente e que exigem respostas
sociais reativas ou proativas, eventuais ou contínuas e
fragmentadas ou integradas dos sistemas de atenção à
saúde”. A condição de saúde pode ser: condições agudas e
condições crônicas, sendo baseada no tempo de duração
dessa situação do paciente . (MENDES, 2011)

Com a visão de se implantar um sistema de saúde mais integrado,


as redes de atenção têm a finalidade de aproximar os níveis de diversas
complexidades e substituir a organização piramidal fragmentada.
32 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

O modelo de rede de atenção à saúde tem uma característica


horizontal, tendo a unidade básica como centro, em geral é a porta de
entrada do usuário, mas não exclusiva. Coordenando a rede e o cuidado
central da comunidade, garantindo o acesso aos serviços de saúde
e é responsável pelo cuidado do usuário do sistema durante todo o
processo de tratamento e acompanhamento.

Figura 3: Rede de Atenção à saúde.

Fonte: Autor

Cada ponto, com sua densidade tecnológica, mas não tem,


necessariamente, uma ordem e nem grau de importância, sendo todos
igualmente importantes para atender as necessidades do paciente. Essa
estruturação horizontal fortalece e, em alguns casos, modifica as funções
de cada área bem como seu perfil assistencial, e é isso que acontece
na saúde mental com a estruturação da Rede de Atenção Psicossocial.
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 33

Instituição da Rede de Atenção


Psicossocial
A RAPS foi instituída pela Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de
2011 cuja ementa descreve:
“Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com
sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do
uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de
Saúde (SUS)”.
O artigo 2 º fala sobre as diretrizes que norteiam o funcionamento
da RAPS sendo possível perceber que o respeito aos direitos humanos, a
autonomia e a liberdade das pessoas, a garantia da equidade e combate
a estigmas e preconceitos são os fundamentos base.
Essa estrutura tem como objetivos gerais ampliar o acesso
à atenção psicossocial da população em geral, dos pacientes com
transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de crack,
álcool e outras drogas, bem como de suas famílias, além de garantir a
articulação e a integração dos pontos de atenção. (BRASIL, PORTARIA
Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2011, 2011; MEDEIROS, 2017)

Componentes da Rede de Atenção


Psicossocial - RAPS
A RAPS é constituída por sete componentes, também chamados de
pontos de atenção, cada um deles compreende um conjunto de ações e
serviços que têm o propósito de atender às diferentes necessidades dos
usuários e seus familiares, nos mais diversos territórios. Vamos conhecer
cada um deles. (BRASIL, PORTARIA Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE
2011, 2011; MEDEIROS, 2017)

Atenção básica em saúde


A Atenção Básica tem as Unidade Básicas de Saúde, Estratégia
de Saúde da Família (ESF), equipe de consultório na rua e Núcleo de
Apoio a Saúde da Família (NASF) como estruturas para suas atividades.
34 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

A Estratégia de Saúde da Família é um conjunto de ações


voltadas à esfera individual e coletiva para promoção e proteção da
saúde por meio de uma equipe multiprofissional. Na saúde mental a
ESF é considerada um importante instrumento por ter suas atividades
baseadas na Reforma Psiquiátrica e no SUS. Além disso, junto com
a Unidade Básica de Saúde, são as principais portas de entrada do
sistema de saúde sendo uma das parceiras para integração das ações e
acompanhamento do paciente.
O Núcleo de Apoio à Saúde da Família é a parte fundamental
da atuação na saúde mental por ser responsável pelo apoio matricial
das Unidades Básicas de Saúde e da equipe de Estratégia de Saúde da
Família.
A equipe de Consultório na Rua é um grupo multiprofissional que
atua de forma itinerante ofertando ações e cuidados de saúde para a
população em situação de rua. Lembrando que grande parte dessas
pessoas sofrem com abuso de drogas e, muitas vezes, estão na rua
por terem graves transtornos mentais ou adquirem devido as drogas.
(BRASIL, PORTARIA Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2011, 2011;
MEDEIROS, 2017; OLIVEIRA & al, 2017)

Atenção psicossocial especializada


Já falamos sobre os Centros de Atenção Psicossocial, nas suas
diferentes modalidades, mas vale reforçar que esse é o componente
especializado da Rede de Atenção Psicossocial. Constituído por uma
equipe multiprofissional atuando no acompanhamento do paciente
dentro e fora dos serviços de saúde utilizando o Plano Terapêutico
Singular e servindo como apoio matricial para o componente da atenção
básica. (BRASIL, PORTARIA Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2011,
2011; MEDEIROS, 2017)

Atenção de urgência e emergência


Como já vimos, os momentos de crise do paciente devem
ser tratados o mais rápido possível, por isso o SAMU 192 (Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência) e a UPA 24 horas (Unidade de Pronto
Atendimento) são os principais pontos de urgência e emergência.
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 35

O SAMU é acionado por telefone (192) articulando e favorecendo


o acesso a outros pontos de atenção como CAPS e UBS. Existem
protocolos nacionais de intervenção para o SAMU para o atendimento
de pessoas com sofrimento ou transtornos mentais e abuso de drogas
utilizando com base a legislação brasileira e experiências nacionais e
internacionais para elaboração desses protocolos.
O paciente pode chegar à UPA por conta própria, com um familiar
ou pela ação do SAMU. Esse ponto de atenção faz a classificação de risco
e a intervenção imediata quando necessário além de ser responsável
por garantir a continuidade do cuidado do paciente de acordo com a
necessidade. (BRASIL, PORTARIA Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE
2011, 2011; MEDEIROS, 2017)

Atenção residencial de caráter transitório


O componente de Atenção residencial de caráter transitório possui
dois pontos de atenção, a Unidade de Acolhimento e os Serviços de
Atenção em Regime Residencial. Ambos com pacientes encaminhados
pelo CAPS que apresentam acentuada vulnerabilidade social e/ou
familiar.
As Unidades de Acolhimento funcionam 24 horas oferecendo
ambiente residencial e cuidado contínuo às pessoas com necessidades
decorrentes de uso de álcool e outras drogas num período até de seis
meses.
No caso dos serviços de atenção em regime residencial o
tempo pode ser de até nove meses quando o indivíduo necessita de
afastamento de seus contextos.
Lembrando que esse ponto de atenção afasta do convívio social
os pacientes que realmente necessitam buscando, nesse período,
reestruturá-lo para a volta às suas atividades o mais rápido possível.
(BRASIL, PORTARIA Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2011, 2011;
MEDEIROS, 2017)

Atenção hospitalar
Localizados dentro de hospitais gerais, esses pontos podem ser
enfermaria especializada em Hospital Geral e serviço Hospitalar. Esses
36 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

hospitais dispões de leitos habilitados para oferecer suporte à saúde


mental com intervenção curta ou curtíssima para o restabelecimento de
condições clínicas e investigação de comorbidades sempre garantindo
a continuidade do cuidado. (BRASIL, PORTARIA Nº 3.088, DE 23 DE
DEZEMBRO DE 2011, 2011; MEDEIROS, 2017)

Estratégias de desinstitucionalização
Responsável pelo cuidado do paciente que ficou internado por
longo período em instituição de saúde mental, os Serviços Residenciais
Terapêuticos e o Programa de Volta pra Casa tem como objetivo a
reinserção desses indivíduo ao convívio social atuando na promoção de
autonomia e o exercício de cidadania a partir do apoio de profissionais e
os outros pontos de atenção.
O programa de Volta pra Casa provê um auxilio financeiro mensal
para esse paciente egresso de internações de longa permanência como
forma de indenização e início da inclusão social.
Outro programa importante é o programa de desinstitucionalização
que atua junto aos profissionais dos hospitais psiquiátricos para construir,
em conjunto, o processo de desinstitucionalização dos moradores.
(BRASIL, PORTARIA Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2011, 2011;
MEDEIROS, 2017)

Reabilitação psicossocial
A reabilitação Psicossocial é um conjunto de ações que busca a
inclusão e o exercício de direitos de cidadania através de iniciativas de
trabalho e geração de renda, empreendimento solidários e cooperativas
sociais. (BRASIL, PORTARIA Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2011,
2011; MEDEIROS, 2017)
Vimos nesse tópico a estrutura da Rede de Atenção Psicossocial e
seus componentes, todos atuando em conjunto como pontos de atenção
para acompanhar o paciente com transtornos mentais e necessidades
decorrentes do abuso de álcool e outras drogas. Assim como a Rede
de Atenção à Saúde é uma estrutura horizontal na qual o paciente faz
o fluxo e contrafluxo entre esses pontos de atenção para garantir a
universalidade, equidade e integralidade entro outros princípios do SUS.
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 37

Ética e bioética na atenção psicossocial

INTRODUÇÃO
Você já ouviu falar de ética e bioética? Provavelmente sim,
mas você consegue entender porque ela é importante
na atenção psicossocial? Talvez seja difícil num primeiro
momento, mas não se preocupe, nesse tópico vamos
relembrar os conceitos de ética e bioética e como ela é
aplicada na saúde mental.

Conceitos: ética e bioética


Para falar sobre ética é necessário falar também sobre moral pois
elas estão associadas ao comportamento humano ambas direcionando
a conduta humana no convívio social.
A ética, do grego “éthos” significa caráter, no latim ela é traduzida
como “mos”, por isso entendemos a ética como a “ciência da moral”
ou ainda “filosofia da moral” sendo o conjunto de princípios morais que
regem cada um ser humano em uma determinada época e sociedade.
Ética é um conjunto de regras comportamentais e de formas
da vida pelas quais o ser humano procura promover o bem utilizando
como base os seus conhecimentos sobre certo e errado, justo e injusto,
positivo e negativo.
Moral é o conjunto de regras baseadas na cultura, na educação,
na tradição e no cotidiano. Perceba que a moral muda conforme a
sociedade muda pois está vinculada ao modo de agir das pessoas, muito
relacionada aos valores e convenções estabelecidas de forma coletiva
para distinguir o bem do mal, atos de paz e violência.
Quando você assiste um filmes de época consegue perceber
como a sociedade era diferente? Os padrões de comportamento, os
conceitos de certo e errado, a postura das personagens. Filmes que
mostram a protagonista como uma mulher autentica e buscando a luta
por direitos, como escolher o próprio marido. Você consegue imaginar
sendo obrigado a casar com alguém que não foi você que escolheu?
Pois é, naquela época a “moral” e os “bons costumes” preconizavam
38 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

que a escolha deveria ser feita pelos pais. Pensando na saúde, os testes
eram feitos em animais, mas em seres humanos também. Por muito
tempo pessoas serviam como cobaias sem o seu consentimento sendo
considerado ético pois era para o bem da ciência. Tenho certeza que
você está pensando agora, que bom que os tempos mudaram!]]
Bioética tem como origem o conceito de ética voltado à saúde.
Esse termo surgiu a partir dos grandes avanços tecnológicos da biologia,
da medicina e da saúde como um todo principalmente relacionado as
descobertas e aplicações dessas tecnologias tanto durante estudos
tanto na utilização no ser humano e sua intervenção sobre a vida e a
natureza.

DEFINIÇÃO
O juramento de Hipócrates atualizado diz: A saúde do
meu paciente será a minha primeira preocupação. Não
permitirei que fatores de ordem religiosa, nacional, racial,
política ou de caráter social se interponham entre os meus
deveres e o meu paciente. Mostrarei o máximo respeito
pela vida humana, desde o momento da sua concepção;
nem mesmo coagido farei uso dos meus conhecimentos
médicos para fins que sejam contrários à leis humanas.
(ZUBIOLI, 2004)

Para utilizarmos este princípio é necessário o desenvolvimento


de competências profissionais para podermos identificar os risco e
benefícios aos quais o paciente está exposto e decidir por determinadas
atitudes, práticas e procedimentos.
Infelizmente, é comum o profissional da saúde tende a utilizar
esse princípio para agir de forma paternal, ou seja, decidir o que é
melhor para ele sem necessariamente informa-lo e sem o seu o
consentimento para os procedimentos a serem adotados. Reduzindo
adultos a condição de crianças interferindo na liberdade de suas ações.
Acontecendo principalmente em países que existem diferença sócio-
econômico-cultural acentuada, onde as pessoas tendem a ser mais
submissas principalmente pela falta de conhecimento.
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 39

Princípio da não-maleficência
Como o nome descreve, esse princípio tem como conceito não
fazer o mal para o paciente, não causar danos nem o colocar em risco.
O profissional deve ser comprometer a avaliar a situação e
evitar os danos previsíveis não bastando apenas ter boas intenções de
não prejudicar o paciente, mas verificar se suas atitudes e ações não
oferecem riscos ou buscar sempre as de menor risco

Princípio da justiça ou equidade


Refere-se aos direitos e deveres de todos. Segundo a Constituição
de 1988, todo cidadão tem direito à assistência de saúde. Os princípios
do SUS universalidade, integralidade e equidade reforçam esse princípio
da justiça.

Princípio da autonomia
Esse princípio preconiza que cada indivíduo tem liberdade
de escolha, em relação ao tratamento, ou até mesmo de não quer
intervenção. Não impede que o profissional atue mas dá ao ser humano a
capacidade de refletir sobre as limitações e as possibilidades existentes.
Mas para que esse princípio seja usado adequadamente pelo paciente,
é necessário que os profissionais da saúde tenham capacidade de
orientá-lo de forma imparcial par que, juntos possam atuar na condição
de saúde do paciente. (KOERICH MS, 2005; BRAZ & SCHRAMM, 2011;
COSTA, ANJOS, & ZAHER, 2007; ZUBIOLI, 2004)

Autonomia na saúde mental


Dentre os princípios que vimos nessa aula, o princípio da autonomia
tem relação direta com a saúde mental, pois a luta antimanicomial busca,
entre outras coisas, a autonomia do paciente dentro da sociedade, mas
também em relação ao seu tratamento.
40 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

A pessoa autônoma tem liberdade de pensamento, livre de


coações internas ou externas, para escolher entre as opções que lhe
são apresentadas.
Para que o profissional consiga ver o paciente como autônomo,
deve reconhecer as capacidades e as perspectivas pessoais, incluindo
o direito de ele examinar e fazer escolhas, para tomas atitudes baseadas
em suas convicções e valores pessoais. Pacientes com transtorno mental
pode ter sua autonomia reduzida de forma transitória ou permanente,
mas deve ser respeitada da mesma forma. (KOERICH MS, 2005; BRAZ &
SCHRAMM, 2011; COSTA, ANJOS, & ZAHER, 2007; ZUBIOLI, 2004)

Autonomia e o Projeto Terapêutico Singular


O projeto terapêutico singular (PTS) como “um plano de ação
compartilhado composto por um conjunto de intervenções que seguem
uma intencionalidade de cuidado integral à pessoa”
Por ser construído pela equipe e pelo paciente, desafia a
hierarquização e a supremacia médica e reafirma a capacidade de
autonomia do indivíduo perante as decisões de sua própria existência.
O envolvimento do paciente nas decisões do seu processo de
cuidado é uma das condições para a melhora e/ou cura de sua condição
de saúde. Estando atrelado à competência do paciente para refletir e
fazer escolhas e do respeito da equipe de saúde isso para materializar à
autonomia do paciente.
No desenvolvimento do PTS deve ocorrer a capacitação do
paciente para que ele tome a melhor decisão, baseado nas informações
passadas pelos profissionais de forma imparcial sem direcionar sua
decisão nem esconder informações relevantes.
A participação do paciente na tomada de decisão é importante
por dois motivos: em primeiro lugar para quebra do paradigma do
paternalismo, visto no princípio da beneficência, em segundo lugar, se
o médico toma as decisões de forma exclusiva, além da passividade, o
paciente pode se opor ao tratamento adotado.
Saúde Mental e Assistência Farmacêutica 41

Vimos nesse tópico sobre ética, moral e bioética e suas definições


e conhecemos os quatro princípios da bioética, beneficência, não-
maleficência, justiça e equidade e autonomia. Todo de forma direta
ou indireta estão relacionados aos direitos humanos um dos pilares
da Reforma Psiquiátrica. Por fim vimos que a ética e a autonomia do
paciente direcionam a elaboração do Plano Terapêutico Singular do
paciente. Chegamos ao final de nossa disciplina sobre saúde mental.
O que achou? Um mundo completamente novo para você? Ou já fazia
parte da sua vivência? Espero que independente do seu conhecimento
prévio tenha aprendido mais sobre saúde mental e, principalmente,
observado essa condição de saúde com um novo olhar.
42 Saúde Mental e Assistência Farmacêutica

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Mariana Martins Garcia

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