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Toxicologia

Analítica: Clínica
e Forense
Unidade 4
Livro Didático Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
FLÁVIA DEFFERT
AUTORIA
Flávia Deffert
Olá! Sou formada em Farmácia pela Universidade Federal do Paraná,
onde também cursei o Mestrado em Ciências Farmacêuticas. Já dei aulas
para o Ensino Técnico e Graduação de Elementos de Farmacologia e
Farmacotécnica. Hoje, curso pós-graduação lato sensu em Gestão por
Processos e da Qualidade e em Gestão de Serviços de Saúde na FAE
Business School. Sou apaixonada por aprender e por ensinar. Amo o que
faço e pretendo fazer a diferença na sua profissão. Por isso, fui convidada
pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes.
Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e
trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Sistemas da qualidade.............................................................................. 12
O que é qualidade?......................................................................................................................... 12

Controle x garantia x gestão ................................................................................................... 13

RDC nº 302, de 13 de outubro de 2005........................................................................... 14

Princípios de boas práticas de laboratório.................................................................... 16

Validação analítica...................................................................................... 19
ABNT NBR ISO/IEC 17025......................................................................................................... 19

Seletividade...................................................................................................................... 22

Linearidade/faixa de trabalho/faixa linear de trabalho/


sensibilidade ..................................................................................................................24

Materiais de referência certificados............................................................... 30

Ensaios de recuperação......................................................................................... 30

Comparação com método de referência.................................................... 31

Precisão ..............................................................................................................................32

Validação para Toxicologia Forense....................................................36


ILAC-G19: 08/2014 – Módulos de um processo forense....................................37

Definições e conceitos..............................................................................................37

Orientações gerais....................................................................................................... 41

Módulos de atividades no processo forense...........................................45

Norma NIT-DICLA-069................................................................................................................47

Norma NIT-DICLA-077.................................................................................................................53
Ferramentas e métodos de análise...................................................... 54
Preparo de amostra........................................................................................................................54

Análise de amostras.......................................................................................................................55

Análise de benzeno........................................................................................................................55

Cannabis sativa...............................................................................................................57

Cocaína................................................................................................................................ 59
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 9

04
UNIDADE
10 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

INTRODUÇÃO
A Toxicologia é uma ciência milenar que estuda todas as
substâncias que possam causar algum tipo de efeito no organismo seja
em nós, humanos, como também, nos animais e nas plantas. Como dizia
o pai da Medicina, Paracelso: “Dosis sola facit venenum” – “Somente a
dose faz o veneno”. Ou seja, Paracelso, no século XV, já afirmava o que
hoje conhecemos como “excessos”, “fatores de risco”, “substâncias
potencialmente carcinogênicas”, causadores de morte por intoxicação. A
Toxicologia Analítica é uma ferramenta que dá suporte a diversas áreas
da Toxicologia, tais como a clínica, a ambiental, a forense, a ocupacional
e a de alimentos. Nesse sentido, Paracelso, também, brilhantemente,
afirmou “Todos são interligados. O céu e a terra, ar e água. Todos são, uma
só coisa; não quatro, e não duas, e não três, mas um. Se não estiverem
juntos, há apenas uma peça incompleta”. Isso nos faz refletir, sobre o
equilíbrio causado pela quantidade, pelo que é bom e o que é ruim, sofre
a falta e excesso na vida de um organismo. Doenças, intoxicações, drogas
lícitas, drogas de abuso, plantas, gases, radiação, suicídio e homicídio
são algumas das palavras-chave para o nosso trabalho! Chamaram a sua
atenção? Pois agora é hora de explorá-las! Vamos lá?
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta unidade letiva:

1. Reconhecer os sistemas de qualidade.

2. Explicar a validação analítica.

3. Interpretar a validação para Toxicologia Forense.

4. Identificar e compreender as ferramentas e os métodos de análise.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
12 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

Sistemas da qualidade
OBJETIVO:

Ao final deste capítulo, você será capaz de reconhecer os


sistemas de qualidade veiculados à Toxicologia Analítica.
Com isso, teremos a base para compreender assuntos mais
complexos, que empregam vocabulário próprio e conceitos
que, para quem não é da área, podem ser difíceis. Então,
vamos que vamos!

IMPORTANTE:

Nesta unidade, estudaremos diversas normas para que a


qualidade seja uma constante em um serviço de análises
toxicológicas. Como são textos oficiais, foi opção do autor
a cópia ipsis litteris de trechos das normas e documentos
orientativos, para que, dessa forma, erros de interpretação
sejam evitados.

O que é qualidade?

DEFINIÇÃO:

Qualidade é um termo subjetivo que pode ter a sua


definição modificada de pessoa para pessoa ou ao longo
do tempo. A qualidade pode ser verificada/medida em um
produto ou serviço levando-se em conta vários elementos:
desempenho, características, confiabilidade, durabilidade,
utilidade, resposta, estética e reputação (OLIVEIRA, 2014).

Qualidade é o conjunto das características de um produto ou


serviço que lhe conferem aptidão para satisfazer necessidades explicitas
ou implícitas. Numa situação contratual ou regulamentada, tal como
no campo da segurança nuclear, as necessidades são especificadas,
enquanto noutros domínios é preciso identificar e definir as necessidades
implícitas (LOBO, 2010).
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 13

De uma forma geral, para o nosso entendimento, qualidade é um


conjunto de características inerentes e a sua conformidade a determinados
requisitos e que atende ao propósito para o qual foi feito/realizado.

Controle x garantia x gestão


Esses três termos são empregados juntos a palavra qualidade, mas
qual a diferença?

A inspeção de qualidade é o conjunto de atividades tais como


medir, examinar, ensaiar ou verificar uma ou mais características de uma
entidade, e comparar os resultados com os requisitos especificados de
modo a determinar se a conformidade é obtida para cada uma dessas
características (LOBO, 2010).

Controle da qualidade: é a verificação das características de um


produto ou serviço às suas especificações pré-definidas ou normatizadas.
O controle da qualidade é o “conjunto das técnicas e atividades de caráter
operacional utilizada para satisfazer os requisitos da qualidade. O controle
da qualidade envolve técnicas e atividades de caráter operacional com
os objetivos de acompanhar (monitorar) processos e eliminar as causas
de deficiências em todas as fases do ciclo da qualidade de modo a atingir
eficácia econômica” (LOBO, 2010).

Garantia da qualidade: é um termo mais amplo do controle da


qualidade, e abrange não somente um ponto de verificação, mas vai
desde a qualidade da concepção do serviço ou produto passando pela
produção até o pós-venda. É o conjunto de todas as atividades planejadas
e, sistematicamente, implementadas no âmbito do sistema da qualidade,
necessárias para garantir que uma entidade está́ em condições de
satisfazer os requisitos da qualidade. A garantia da qualidade visa tanto
objetivos internos (para a organização) como externos (cumprir situações
contratuais ou necessidades do cliente) (LOBO, 2010).

Gestão da qualidade: é definido como o planejamento e


gerenciamento de todas as atividades de um processo visando
estabelecer, manter e melhorar a qualidade de um produto ou serviço,
mantendo a viabilidade econômica do empreendimento e a satisfação do
14 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

cliente. Todas as atividades da função geral da gestão que determinam


a política da qualidade, os objetivos e as responsabilidades, e os
implementam por meios como o planejamento da qualidade, o controle
da qualidade, a garantia e a melhoria da qualidade, no âmbito do sistema
da qualidade. A gestão da qualidade é responsabilidade de todos os níveis
da gestão, mas deve ser conduzida e implementada pela gestão de topo.
Ela dá́ atenção aos aspectos econômicos (LOBO, 2010).

1.1 Sistemas da qualidade

DEFINIÇÃO:

Sistema da qualidade é um conjunto de elementos


dinamicamente inter-relacionados que opera sobre a
entrada e, após processamento, a transforma em saída
que atenda às necessidades e expectativas dos clientes
internos e externos (OLIVEIRA, 2014).

Conjunto da estrutura organizacional, dos procedimentos, dos


processos e dos recursos necessários para implementar a gestão da
qualidade. O sistema da qualidade deve ser tão abrangente quanto
necessário para se atingirem os objetivos da qualidade. O sistema da
qualidade de uma organização é concebido essencialmente para satisfazer
as necessidades internas de gestão da organização (LOBO, 2010).

RDC nº 302, de 13 de outubro de 2005

VOCÊ SABIA?

O Ministério da Saúde, por meio da Anvisa, publicou em


2005 a RDC 302 que dispõe sobre o regulamento técnico
para o funcionamento de laboratórios clínicos. Essa RDC
surgiu com a intensão de garantir a qualidade dos exames
laboratoriais e o seu uso para o diagnóstico eficaz. Vamos
lembrar que parte da Toxicologia em estudo é a clínica e
que a detecção dos xenobióticos é parte determinante para
o tratamento.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 15

Brevemente, ela dispõe sobre as condições gerais para o


funcionamento, a organização, recursos-humanos, infraestrutura (RDC/
ANVISA nº 50, de 21 fevereiro de 2002), equipamentos e instrumentos
laboratoriais, produtos para diagnóstico de uso in vitro, descarte de
resíduos e rejeitos, biossegurança e limpeza, desinfecção e esterilização.

Ainda temos os processos operacionais que são divididos em fase


pré-analítica que consiste na fase de coleta laboratorial; a fase analítica,
que é a fase de análise propriamente dita; e, por fim, a fase pós-analítica
que consiste na emissão do laudo.

Além disso, a RDC determina que o laboratório mantenha a


rastreabilidade de todas as etapas do processo analítico. Também,
estipula que os laboratórios clínicos tenham um programa de garantia da
qualidade. O controle da qualidade laboratorial deve manter documentado
o controle interno da qualidade e o controle de qualidade externo. A
própria resolução define:

•• Controle externo da qualidade (CEQ): atividade de avaliação do


desempenho de sistemas analíticos por meio de ensaios de
proficiência, análise de padrões certificados e comparações
interlaboratoriais. Também chamada avaliação externa da
qualidade;

•• Controle interno da qualidade (CIQ): procedimentos conduzidos


em associação com o exame de amostras de pacientes, para
avaliar se o sistema analítico está operando dentro dos limites de
tolerância pré-definidos.

NOTA:

As amostras-controle devem ser analisadas da mesma


forma que amostras dos pacientes.

A documentação referente ao controle da qualidade deve


contemplar a lista de analitos; a forma de controle e frequência de
16 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

utilização; limites e critérios de aceitabilidade para os resultados dos


controles; avaliação e registro dos resultados dos controles.

Além da RDC 302, outras resoluções e normas fornecem subsídios


para a qualidade no serviço laboratorial como a ABNT ISO 15189:2015 e os
princípios de boas práticas de laboratório estabelecidos pela organização
para cooperação e desenvolvimento econômico e traduzido pela
coordenação geral de acreditação do Inmetro.

Princípios de boas práticas de laboratório


O DOQ-CGCRE-023 foi publicado no CGRE/Inmetro e tem como
objetivo fornecer orientações para a atividade de reconhecimento da
conformidade aos princípios das boas práticas de laboratório. O texto
explica:

Boas práticas de laboratório (BPL): é um sistema da qualidade que


abrange o processo organizacional e as condições nas quais estudos
não clínicos relacionados à saúde e à segurança ao meio ambiente,
são planejados, desenvolvidos, monitorados, registrados, arquivados e
relatados.

Os princípios das boas práticas de laboratório são aplicados às


instalações de teste que realizam estudos não clínicos exigidos por órgãos
regulamentadores para avaliação do risco quanto à saúde e ao meio
ambiente de produtos agrotóxicos, seus componentes e afins, produtos
farmacêuticos, cosméticos, preservativo de madeira, aditivos de alimentos
e de rações, medicamentos veterinários, saneantes, produtos químicos
industriais, organismos geneticamente modificados, remediadores, entre
outros.

Apesar de esse ser o conceito prestado no documento, os princípios


de boas práticas de laboratório podem ser extrapolados para laboratórios
não clínicos.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 17

DEFINIÇÃO:

O conceito de laboratório, segundo os princípios das BPL,


abrange instalações de teste (laboratórios, instalações
de campo, estufas) e unidades de teste (laboratórios,
instalações de campo, estufas), segundo definições
explicitadas na NIT-Dicla-035 - Princípios das boas práticas
de laboratório.

A norma NIT-Dicla-035, por sua vez, é a norma que estabelece os


requisitos a serem utilizados pelas instalações de teste e adotados pela
Cgcre para o reconhecimento da conformidade destas instalações aos
princípios das boas práticas de laboratório – BPL.

O documento é dividido em diversas seções e cada uma em


diversos itens e subitens dos quais destacam-se: a organização e o
pessoal da instalação testes; o programa de garantia da qualidade,
instalações, equipamentos, materiais e reagentes; sistema teste; item de
teste e de referência; procedimentos operacionais padrão; execução do
estudo; relatando os resultados do estudo; e, armazenamento e retenção
de registros e materiais,

Desses vamos explorar alguns:

•• O programa da garantia da qualidade deve ser conduzido por


uma ou mais pessoa(s) nomeada(s) pela gerência da instalação
de teste, devendo estar diretamente ligadas à mesma e ser
familiarizadas com os procedimentos de teste. A(s) pessoa(s) da
garantia da qualidade não deve(m) estar envolvida(s) na condução
dos estudos. Porém, é permitido que pessoas envolvidas em
determinado estudo BPL atuem como garantia de qualidade em
estudos conduzidos em outras áreas.

•• A instalação de teste deve ter escritos procedimentos operacionais


padrão aprovados pela gerência da instalação de teste, para
garantir a qualidade e integridade dos dados gerados por aquela
instalação de teste. As revisões padrão dos procedimentos
18 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

operacionais devem ser aprovadas pela gerência da instalação de


teste.

Cada setor ou área da instalação de teste deve ter imediatamente


disponíveis procedimentos operacionais padrão, vigentes e relevantes às
atividades que estão sendo conduzidas. Livros texto, métodos analíticos,
artigos e manuais podem ser usados como suplementos para estes
procedimentos operacionais padrão.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o Caderno


de Apresentação de Projetos em BIM clicando aqui.

RESUMINDO:

Neste capítulo, entendemos o conceito de qualidade e


quais sistemas integram a Toxicologia Analítica. Ainda,
aprendemos a diferença entre o controle, a garantia e a
gestão. Entendemos, também a RDC nº 302, publicada
pelo Ministério da Saúde em 2005, que dispõe sobre o
regulamento técnico para funcionamento de laboratórios
clínicos. Por fim, vimos os princípios de boas práticas em
laboratórios.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 19

Validação analítica
OBJETIVO:

Ao final deste capítulo, você saberá como se dá a validação


analítica em Toxicologia. Com isso, teremos a base para
compreender assuntos mais complexos, que empregam
vocabulário próprio e conceitos que, para quem não é da
área, podem ser difíceis. Então, vamos que vamos!

ABNT NBR ISO/IEC 17025


Para conversarmos sobre validação analítica é bom esclarecer que
a norma vigente que tece sobre o assunto é a ABNT NBR ISO/IEC 17025,
que trata dos requisitos gerais para a competência de laboratórios de
ensaio e proficiência. Também, utilizaremos as orientações dispostas no
documento DOQ-CGCRE-008 – Orientação sobre validação de métodos
analíticos.

Essa norma foi originalmente publicada internacionalmente pela


International Organization of Standardization (ISO) junto a International
Electrotechnical Commission (IEC) e apresenta revisões periódicas. A
tradução e publicação, no Brasil, é feita pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), passando a apresentar o nome ABNT NBR ISO/
IEC 17025.

Como vimos anteriormente, o Inmetro, até o momento, é o único


órgão para a acreditação de laboratórios analíticos, por meio de sua
Coordenação Geral de Acreditação – CGCRE.
20 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

DEFINIÇÃO:

Validação: é a confirmação por exame e fornecimento de


evidência objetiva de que os requisitos específicos, para
um determinado uso pretendido, são atendidos.
Validação: é a verificação na qual os requisitos especificados
são adequados para um uso pretendido.
Verificação: é o fornecimento de evidência objetiva de que
um dado item satisfaz requisitos especificados, como, por
exemplo, a confirmação de que as propriedades relativas
ao desempenho ou aos requisitos legais são satisfeitas por
um sistema de medição.
Fonte: DOQ-CGCRE-008 – Orientação sobre validação de métodos
analíticos.

Devem ser validados:

•• Métodos não normalizados.

•• Métodos criados/desenvolvidos pelo próprio laboratório.

•• Métodos normalizados usados fora dos escopos para os quais


foram concebidos.

•• Ampliações e modificações de métodos normalizados.

Após a validação, os resultados devem ser armazenados


corretamente, de modo que, fique claro se o método é ou não adequado
para o uso designado.

Para a validação dos métodos analíticos recomenda-se que o


método seja um ou a combinação dos itens a seguir:

1. Calibração com uso de padrões de referência ou material de


referência.

2. Comparações com resultados obtidos por outros métodos.

3. Comparações interlaboratoriais.

4. Avaliação sistemática dos fatores que influenciam o resultado.


Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 21

5. Avaliação da incerteza do resultado com base no conhecimento


científico dos princípios teóricos do método e na experiência
prática.

Para o planejamento das atividades de validação, o órgão sugere no


documento DOQ-CGCRE-008 a seguinte sequência de etapas:

•• Definir objetivo e escopo do método.

•• Definir os parâmetros de desempenho.

•• Definir os critérios de aceitação para cada parâmetro de


desempenho.

•• Verificar se as características de desempenho dos equipamentos


estão compatíveis com o exigido pelo método em estudo.

•• Qualificar os materiais, por exemplo, padrões e reagentes.

•• Planejar os experimentos de validação, incluindo o tratamento


estatístico a ser utilizado.

•• Realizar os experimentos de validação.

•• Realizar a análise crítica dos resultados obtidos, considerando os


critérios de aceitação.

•• Concluir se o método é adequado ao uso pretendido.

Para verificar se um método é ou não válido, o Inmetro solicita a


investigação de alguns parâmetros analíticos que variam conforme o tipo
de ensaio – sejam quantitativos, sejam qualitativos. São eles:

•• Seletividade.

•• Linearidade / faixa de trabalho / faixa linear de trabalho /


sensibilidade.

•• Limite de detecção (LD).

•• Limite de quantificação (LQ).

•• Tendência/recuperação.

•• Precisão (repetibilidade, precisão intermediária e reprodutibilidade).


22 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

•• Robustez (opcional).

O número de parâmetros difere para os ensaios qualitativos e


quantitativos. Para os qualitativos, somente a seletividade e o limite de
detecção são obrigatórios, enquanto para os quantitativos, todos.

Agora, vamos explorar cada parâmetro analítico.

Seletividade

DEFINIÇÃO:

O conceito de seletividade é o grau em que o método


pode quantificar o analito na presença de outros analitos,
matrizes ou de outro material potencialmente interferente.

Para isso, pode-se optar por fazer a análise com a amostra e materiais
de referência pelo método em estudo e outros métodos validados. Por
meio desse método, verifica-se a habilidade de o método ser capaz de
identificar e/ou dosar o analito na presença de interferentes.

Outro método utilizado é a análise de amostras que contêm


possíveis interferentes na presença do analito de interesse. Desse modo,
é possível avaliar o efeito dos interferentes – se inibem ou acentuam a
detecção do analito de interesse.

A matriz biológica pode interferir no desempenho da metodologia,


por isso, é necessário avaliar o efeito da matriz. O efeito da matriz está
resolvido no Quadro 1.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 23

Quadro 1 – Efeito da matriz biológica

Teste es-
Caso Procedimento Hipóteses Conclusões
tatístico
Matriz sem Preparar dois 1) A matriz não Teste F-S- Se o teste F-Sne-
o analito grupos de amos- afeta a preci- nedecor decor não for sig-
disponível tras de teste, um são do analito de homo- nificativo, a matriz
ou um com a matriz e, nos níveis de geneidade não causa um efeito
grupo o outro, sem; concentrações de variân- sobre a precisão, por
satisfatório ambos os grupos estudados. cias, por nível de concentra-
de amos- com a concen- 2) a matriz não nível de ção.
tras de tração do analito afeta o sinal concentra- e
referência idêntica em cada do analito nos ção
Se o teste t (Student)
disponível. nível de concen- níveis de con- e não for significativo,
tração de inte- centrações Teste t a matriz não causa
resse. Deve-se estudados. (Student) um efeito sobre o
testar toda a faixa
de com- resultado, por nível
de estudo (baixa,
paração de concentração.
média e alta),
de médias,
com no mínimo
por nível
3 replicatas por
de con-
nível de concen-
centração.
tração.
Matriz sem Preparar duas A matriz não Teste t Comparam-se as
o analito curvas analíticas, interfere na para incli- inclinações (coefi-
não dispo- que contenham inclinação da nações das cientes angulares)
nível. a mesma adição curva de adi- curvas. das curvas analíticas.
de analito para ção padrão. Este mes- Se as inclinações
cada nível de mo proce- dessas duas curvas
concentração. dimento de regressão linear
Uma curva é também não diferirem signifi-
preparada com pode ser cativamente, não há
adição de ana- aplicado efeito de matriz, o
lito na matriz da no caso que pode ser obser-
amostra (que já acima. vado graficamente
contém um nível pelo paralelismo
do analito) e a aproximado das
outra curva ana- duas curvas. Caso
lítica não inclui a contrário, a curva
matriz de amos- analítica deve ser
tra. Devem ser preparada na matriz.
preparados, no Os dados obtidos
mínimo, 5 níveis nesse procedimento
de concentração podem ser usados
com 3 replicatas para estudo da li-
por nível. nearidade.

Fonte: Adaptado de DOQ-CGCRE-008 Inmetro (2018).


24 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

Linearidade/faixa de trabalho/faixa linear de


trabalho/ sensibilidade
Linearidade de um procedimento analítico é a sua habilidade
(dentro de uma dada faixa) em obter resultados os quais são diretamente
proporcionais à concentração do analito na amostra.

Faixa de trabalho de um procedimento analítico é o intervalo entre a


menor concentração e a maior concentração de analito na amostra para o
qual se demonstrou que o procedimento analítico tem um nível aceitável
de precisão, exatidão e linearidade.

Faixa linear de trabalho é por inferência a faixa de concentração do


analito em que os resultados do método são proporcionais à concentração
do analito.

Sensibilidade analítica é a mudança na resposta do instrumento


que corresponde a uma mudança na quantidade medida.
Figura 1 - Curva analítica com a identificação dos parâmetros citados

Fonte: Adaptado de DOQ-CGCRE-008 Inmetro (2018).


Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 25

RESUMINDO:

A quantificação requer que se conheça a relação entre


a resposta medida e a concentração do analito. A
linearidade é obtida por padronização interna ou externa
e formulada como expressão matemática para o cálculo
da concentração do analito a ser determinado na amostra
real (INMETRO, 2018). O método é mais sensível quando
pequenas variações de concentração resultam em maior
variação na resposta, ou seja, maior inclinação.

Ainda, para garantir a qualidade da curva analítica são necessários


vários níveis de concentração uniformemente distribuídos na faixa de
trabalho pretendida (no mínimo cinco), para construir a curva analítica.

Lembrando que antes de qualquer análise estatística, é necessário


que haja a verificação de valores aberrantes que pode ser realizada pelo
teste de Grubbs, Jacknife, Cochran, Levene, entre outros.

Após a construção, deve-se avaliar a linearidade por meio do teste


F (também conhecido como F-Snedecor) na análise da variância (ANOVA)
da regressão.
Quadro 2 – Métodos para determinação da Faixa de Trabalho e Faixa Linear

Nº Re- Matriz Procedimento


plicatas
Etapa (1): - Branco (água rea- Objetivo: seleção da faixa de trabalho.
1 (uma) gente) com adição de Identificar inicialmente, por observação
por nível concentrações varia- visual, a faixa linear aproximada e os limites
das do analito ou superior e inferior da faixa de trabalho.
- Branco da amostra - Colocar no eixo x as concentrações do
(matriz da amostra analito e no eixo do y as respostas das
sem o analito de inte- medições.
resse) com adição de - Ir para a etapa (2).
concentrações varia-
das do analito.
26 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

Etapa (2) - Materiais de referên- Objetivo: confirmar a linearidade na faixa de


3 (três) cia (diferentes con- trabalho selecionada.
por nível centrações), na faixa - Colocar no eixo x as concentrações do
selecionada analito e no eixo do y as respostas das
ou medições.
- Branco da amostra - Verificar a existência de valores aberran-
com adição de con- tes que possam interferir na regressão.
centrações variadas do Verificar a homocedasticidade da distribui-
analito, na faixa sele- ção dos dados.
cionada.
Aplicar a regressão linear adequada e cal-
Obs.: preparar diferen- cular o coeficiente de correlação (r).
tes concentrações de
modo independente e Com base na estimativa dos resíduos,
não alíquotas da mes- construir um gráfico e avaliar a tendência. A
ma solução mãe. distribuição aleatória em torno da linha reta
confirma a linearidade. Tendências siste-
Usar no mínimo máticas indicam a não linearidade.
cinco níveis de
concentração.

Fonte: Adaptado de DOQ-CGCRE-008 Inmetro (2018).

Limite de detecção

VOCÊ SABIA?

Você sabia que o limite de detecção para um procedimento


analítico pode variar em função do tipo da amostra, por isso,
é essencial que em todas as etapas do processo analítico
sejam incluídas a determinação do limite de detecção? Isso
é importante não só para os ensaios quantitativos, como
também, os qualitativos para que não haja falsos negativos.

Para a sua quantificação algumas abordagens são realizadas. A


primeira baseia-se na avaliação ou percepção visual em que são realizadas
diluições sucessivas até se encontrar a menor concentração/menor valor
de propriedade que pode ser diferenciado do branco.

Para aqueles métodos em que o procedimento apresenta ruído, a


relação sinal/ruído é determinada pela comparação dos sinais medidos
de amostras com baixas concentrações conhecidas do analito e dos
ruídos dos brancos de amostras. São geralmente aceitas as relações 1:3
e 1:2.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 27

Outra forma de se estimar o limite de detecção é por meio da


equação da reta da curva analítica (lembrando que se recomenda pelo
menos cinco pontos e coeficiente de determinação maior que 0,9 para
o ajuste da regressão linear). O limite de detecção é calculado por 3,3
multiplicado pelo desvio da resposta do branco e, esse resultado, é
dividido por b – coeficiente angular da curva analítica. A equação está
descrita na equação:

Em que: s é o desvio padrão do branco; e, b é o coeficiente angular


da equação de reta.

EXPLICANDO MELHOR:

Atenção: nos casos em que o branco não gere sinal, deve-


se empregar o desvio padrão do menor valor da curva.

O método da estimativa pela curva analítica fornece melhores


resultados comparado ao por meio da determinação sinal/ruído. No
entanto, em altas concentrações pode apresentar resultados acima dos
reais.

Além desse método de detecção pela equação de reta da curva


analítica, denominado de simples, há também o método completo. Para
tanto, é necessário calcular:

Em que:

: Desvio padrão residual.

: Valor individual de sinal instrumental (resposta).

: Valor da resposta predita pela equação da curva analítica.


28 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

n: Número de medições.
E,

Em que:
LD: Limite de detecção.
: Sinal do branco.
: Desvio padrão branco.

O valor do coeficiente linear da curva analítica pode ser usado como


sinal do branco yB, que é uma estimativa mais exata do valor de yB do que
uma simples medição do branco.

Por fim, no item 8.2.3.4 está a estimativa do limite de detecção pelo


desvio padrão do branco que emprega como a distribuição de t student
para o cálculo estatístico do valor de LD.

Após o cálculo de LD por algum dos métodos citados ou por alguma


outra abordagem reconhecidos por órgãos nacionais ou internacionais
reconhecidos, é necessário que haja a confirmação prática dos resultados.

Limite de quantificação

EXPLICANDO MELHOR:

O limite de quantificação é o menor valor que pode ser


detectado na amostra e pode ter a quantificação com
precisão e exatidão aceitáveis.

Da mesma forma que o limite de detecção, o limite de quantificação


apresenta diferentes formas de ser determinado.

Pode ser realizado meramente por avaliação / percepção visual,


em que são realizadas diluições sucessivas até chegar ao menor valor
que pode ser quantificado com segurança; e, recuperação/tendência e
precisão aceitáveis.

A relação sinal/ruído é determinada pela comparação dos sinais


medidos de amostras com baixas concentrações conhecidas do analito
e dos ruídos dos brancos de amostras, definindo-se a concentração
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 29

mínima em que o analito pode ser detectado com confiança. A relação


sinal/ruído típica para a estimativa do limite de quantificação é de 10:1.
Também podem ser adotadas relações sinal/ruído de 6:1 e 5:1, em função
do método. É importante ressaltar que a região do ruído do branco deve
ser a mesma do sinal medido (INMETRO, 2018).

Outra forma de obtenção é por meio da curva analítica em que


o limite de quantificação é obtido pela divisão do desvio padrão dos
resultados a amostra branco, pela inclinação (coeficiente angular) da
curva analítica.

Ainda, pode ser calculado soma da média dos valores dos brancos
da amostra multiplicado por dez vezes o desvio padrão das amostras
branco.

Outros métodos de determinação e cálculo são apresentados no


documento orientativo DOQ-CGCRE-008.

Tendência/Recuperação

A tendência, quando aplicada a uma série de resultados de


ensaio, implica numa combinação de componentes de erros aleatórios
e sistemáticos. A determinação da tendência com relação aos valores de
referência apropriados é importante no estabelecimento da rastreabilidade
aos padrões reconhecidos (INMETRO, 2018).

A tendência como recuperação analítica pode ser definida pela


porcentagem do valor observado sobre o esperado.

Essas tendências devem ser corrigidas ou deve-se demonstrar


que são desprezíveis ao processo. As tendências estão relacionadas à
incerteza global do método.

Visualmente, esses valores podem ser vistos, quando os resultados


obtidos são expressos em cartas controle, em que se pode observar
os resultados em forma de gráfico de controle de qualidade, diferentes
daqueles das curvas analíticas. Essas cartas, a princípio, foram criadas
para ter o controle estatísticos de processos industriais, mas são aliadas
para o controle de qualidade dos equipamentos e dos métodos em
qualquer ambiente de trabalho.
30 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o Caderno


de Apresentação de Projetos em BIM clicando aqui.

Materiais de referência certificados


Os materiais de referência certificados, devem ser provenientes
de órgãos competentes, uma vez que, por meio da sua análise, avalia o
desempenho do método analítico, por isso, necessita ter seus parâmetros
de qualidade conhecidos.

Na avaliação da tendência utilizando um material de referência


certificado, os valores obtidos pelo laboratório – média e o desvio padrão
amostral de uma série de ensaios em replicata – devem ser comparados
com os valores certificados do material de referência. Para essa
comparação podem ser utilizados diversos critérios de decisão, entre os
quais erro relativo e erro normalizado (INMETRO, 2018). Se o valor obtido
não estiver dentro do intervalo aceitável, deve-se buscar as causas do
desvio e eliminá-las.

Ensaios de recuperação
Os ensaios de recuperação são feitos para avaliar a capacidade
de o método detectar o analito em uma amostra. Geralmente, esse teste
é realizado por meio da fortificação da amostra em três concentrações:
baixa, média e alta.

O grande problema é que nem sempre o analito presente na


amostra está na mesma forma que o analito de fortificação; esse fator
pode levar a uma análise muito otimista ou muito pessimista.

O cálculo da recuperação é simples:


Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 31

Em que:

C1 - Concentração do analito na amostra fortificada.

C2 - Concentração do analito na amostra não fortificada.

C3 - Concentração do analito adicionado à amostra fortificada.

Para a comparação, os laboratórios devem estabelecer critérios


de aceitação para recuperação, de preferência seguindo as orientações
normativas da legislação aplicável às áreas de atividades.

Comparação com método de referência


O DOQ-CGCRE-008 (INMETRO, 2011) explica:

(A comparação com método de referência) Consiste na comparação


dos resultados obtidos utilizando um método a ser validado com os
resultados conseguidos por meio de um método de referência validado.
O objetivo é estudar o grau de proximidade dos resultados obtidos pelos
dois métodos, ou seja, avaliar a exatidão do método em processo de
validação com o de referência.

As análises são efetuadas em replicata, utilizando os dois métodos,


em separado, sobre as mesmas amostras, em toda faixa de concentração
em que se pretende validar o método.

IMPORTANTE:

Existem várias técnicas para comparar os resultados


obtidos por dois métodos de ensaio, entre as quais: testes
de hipótese e planejamento de experimentos.

No teste de hipótese, primeiramente aplica-se o teste F para avaliar


se as variâncias são, estatisticamente, iguais ou diferentes. O teste t
(Student) é utilizado em seguida para verificar se as médias dos resultados
de dois métodos podem ser consideradas estatisticamente iguais.

Para essas análises o mais simples seria o uso de softwares de


estatística para a realização dos cálculos. Existem diversas ferramentas
gratuitas (freeware e/ou opensource) no mercado como a linguagem de
32 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

programação R, BioStat, Datamelt, Knime Analytics Platform, Open Refine,


Orange etc.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o Caderno


de Apresentação de Projetos em BIM clicando aqui.

Precisão
A precisão é geralmente determinada em condições específicas
de medição e é usualmente expressa pela repetibilidade, precisão
intermediária e reprodutibilidade; sendo essas expressas pelo desvio
padrão ou coeficiente de variação.

Fórmula:

O coeficiente de variação (CV, usualmente expresso em %), também


conhecido como desvio padrão relativo (DPR), é calculado da seguinte
forma:

CV = DPR = (DP / CMD) x 100

Em que: DP é o desvio padrão; CMD é a concentração média


determinada.

Repetibilidade é a condição de medição num conjunto de condições,


as quais incluem o mesmo procedimento de medição, os mesmos
operadores, o mesmo sistema de medição, as mesmas condições de
operação e o mesmo local, assim como, medições repetidas no mesmo
objeto ou em objetos similares durante um curto período.

As repetições devem ser independentes, ou seja, incluir todas as


etapas de preparo do processo de medição. Para avaliar a repetibilidade do
método, o número mínimo de repetições para cada nível de concentração
varia de acordo com diferentes documentos de validação, mas
tipicamente são entre 6 e 15 por material usado no estudo. É importante
testar as concentrações baixa, média e alta, da faixa de trabalho. Também
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 33

é importante frisar que quanto maior o número de replicatas, melhor é a


avaliação da dispersão do método.

Os laboratórios devem estabelecer critérios de aceitação para o


desvio padrão relativo (DPR), também chamado de coeficiente de variação
(CV), obtido sob condições de repetibilidade, de preferência seguindo as
orientações normativas da legislação aplicável às áreas de atividades.

A precisão intermediária, por sua vez, refere-se à precisão avaliada


sob condições que compreendem o mesmo procedimento de medição,
o mesmo local e medições repetidas no mesmo objeto ou em objetos
similares, ao longo dum período extenso, mas pode incluir outras
condições submetidas às mudanças. Nesse estudo, deve-se definir
exatamente quais condições serão variadas (uma ou mais), tais como:
•• Diferentes analistas.
•• Diferentes equipamentos.
•• Diferentes tempos (INMETRO, 2011).

Fórmula:

Este parâmetro pode ser controlado por gráficos de desvio padrão


(cartas controle, conforme falamos anteriormente) ou por meio da
equação:

Sendo que:

Spi (j, k) = Desvio padrão de precisão intermediária.

t = Total de amostras ensaiadas (não confundir com o t de Student).

n = Total de ensaios efetuados por amostra.

j = nº da amostra, j = 1, t.

k = nº do ensaio da amostra j, k = 1, n.

yjk = Valor do resultado k para a amostra j.

ÿj = Representa a média aritmética dos resultados da amostra j.


34 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

Essa é a fórmula geral para o cálculo, mas dependendo do número


de ensaios se faz necessário alguma alteração na fórmula que pode ser
vista no documento de aceitação.

Por fim, a reprodutibilidade diz respeito à comparação


interlaboratorial. Assim, verifica-se como o método de seu laboratório
está em relação aos demais. Da mesma forma que os demais parâmetros
que vimos até agora, para a reprodutibilidade é de bom tom que os
laboratórios estabeleçam seus critérios de aceitação. Segundo as
orientações prestadas pelo Inmetro É interessante tomar como padrão a
avaliação do desvio padrão experimental da reprodutibilidade e se esse
está compatível com o desvio padrão predito pela equação de Horwitz,
modificada por Thompson, baseada na concentração c do analito:

Quadro 3 – Repetitividade, precisão intermediária e reprodutibilidade

Analisar: padrões, ma-


teriais de referência ou Repetições O que calcular
amostras fortificadas a (independen- a partir dos da- Comentários
várias concentrações ao tes) dos?
longo da faixa de trabalho.
Determinar o Determinar o
a) Mesmo analista, equipa- desvio padrão desvio padrão
mento, laboratório, perío- ≥6 amostral (s) de amostral da repe-
do curto (repetibilidade). cada concentra- tibilidade de cada
ção. concentração.
Determinar o
b) Analistas e equipamen- Determinar o desvio padrão da
tos diferentes, mesmo desvio padrão reprodutibilidade
laboratório, período es- ≥6 amostral (s) de intralaboratorial
tendido (precisão interme- cada concentra- de cada concen-
diária). ção. tração.
Determinar o
desvio padrão da
Determinar o reprodutibilidade
c) Analistas, equipamentos interlaboratorial
desvio padrão
e laboratórios diferentes, de cada concen-
≥6 amostral (s) de
período estendido (repro- tração.
cada concentra-
dutibilidade). ção.
Requer estudo
colaborativo.
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 35

Quanto maior o número de repetições, melhor, pois diminui o erro


analítico inerente ao processo.

Por meio dos resultados dos três últimos parâmetros, ainda pode-
se calcular os limites de precisão e a aceitabilidade das características de
análise.

Para a avaliação dos resultados das comparações interlaboratoriais,


são utilizadas ferramentas estatísticas, como o escore z. Nos processos
de comparação interlaboratorial, caso não se alcancem as condições
satisfatórias, deve ser efetuado um plano de ações corretivas para verificar
as causas e reavaliar o ensaio.

Todos os procedimentos devem ser documentados e após


aprovação, a nova metodologia deve constar nos procedimentos
operacionais padrão.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o Caderno


de Apresentação de Projetos em BIM clicando aqui.

Vale destacar o seguinte trecho do referido documento:


Este documento tem como objetivo auxiliar os laboratórios
de ensaio na tarefa de demonstrar que um método
analítico, nas condições em que é praticado, tem as
características necessárias para a obtenção de resultados
com a qualidade exigida.

Este documento não pretende abordar todas as técnicas


aplicáveis à validação de métodos analíticos, cabendo ao
laboratório buscar aquela que mais se aplica ao estudo em
questão.

Este documento foi desenvolvido de acordo com as


diretrizes internacionais e contém aplicações sobre
os requisitos da acreditação. Caso o laboratório siga
estas orientações, atenderá aos respectivos requisitos;
caso contrário, o laboratório deve demonstrar como é
assegurado o seu atendimento (INMETRO, 2011).

Dado a isso foi a escolha para usá-lo como base a esse item.
36 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

Validação para Toxicologia Forense


OBJETIVO:

Ao final deste capítulo, você será capaz interpretar a


validação para Toxicologia Forense. Com isso, teremos a
base para compreender assuntos mais complexos, que
empregam vocabulário próprio e conceitos que, para quem
não é da área, podem ser difíceis. Então, vamos que vamos!

Os laboratórios de criminalística têm sua formulação com base na


norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, no documento DOQ-Cgcre-084 que é
a tradução brasileira do documento ILAC-G19: 08/2014 - Módulos de um
Processo Forense e na norma NIT-DICLA-075 - aplicações da ABNT NBR
ISO/IEC 17025 para laboratórios de criminalística (projeto piloto).

O documento ILAC-G19: 08/2014 (módulos de um processo


forense) foi inicialmente escrito pela International Laboratory Accreditation
Cooperation (ILAC), que é a autoridade internacional de acreditação de
laboratórios e organismos de inspeção, com adesão de organismos de
acreditação e partes interessadas no mundo.

O documento ILAC G-19, orientações para laboratórios forenses


(Guidelines for Forensic Science Laboratories), foi publicado em 2002 com
o objetivo de fornecer orientação a laboratórios envolvidos na análise e
exame forense provendo aplicação à ISO/IEC 17025. O documento foi
produzido pelo Grupo de Trabalho 10 (WG10) do Comitê de acreditação
da ILAC (ILAC AIC) e aprovado para publicação pela assembleia geral da
ILAC em 2014.

Vale ressaltar que a investigação no local do crime é calçada pela


ABNT NBR ISO/IEC 17020.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 37

ILAC-G19: 08/2014 – Módulos de um


processo forense
Segundo o documento DOQ-Cgcre-084, o processo forense inclui,
mas não se limita à:

•• Discussão inicial relacionada ao atendimento no local de crime.

•• Iniciar ações no local de crime.

•• Desenvolver uma estratégia de investigação do local de crime.

•• Investigar o local de crime.

•• Avaliar os achados do local de crime e considerações para exames


posteriores.

•• Interpretar e relatar os achados do local de crime.

•• Exame, ensaio e ensaio presuntivo (incluindo avaliação de caso).

•• Interpretar o resultado dos exames e ensaios.

•• Relatar os exames e ensaios, incluindo interpretação de resultados.

Definições e conceitos
Conceito

O documento orientativo apresenta termos comuns às ciências


forenses, mas que pode causar alguma confusão em diferentes lugares.
Assim, com intuito de possibilitar o entendimento comum, alguns termos
e suas definições foram expostos:

•• Competência é a capacidade demonstrada para aplicar


conhecimentos e habilidades e, onde relevante, demonstrar
atributos pessoais.

•• Contaminação é a introdução indesejada de substâncias ou


quantidades, traço de materiais em um vestígio ou amostra
durante as etapas do processo forense.
38 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

•• Contrato pode ser qualquer acordo escrito ou verbal para realizar


serviços forenses.

•• Laudo pericial é um relatório escrito dos exames forenses


realizados para instruir o processo judicial e inclui resultados
e interpretação de resultados. O laudo pode tratar-se de um
documento físico ou estar em formato eletrônico. A autoridade
solicitante pode elaborar quesitos sobre os materiais submetidos a
exames forenses, devendo referidos quesitos serem respondidos
no laudo pericial.

•• Achados críticos são observações e resultados que têm impacto


significante na interpretação e na conclusão dos exames forenses.
Ainda, referidas observações e resultados não podem ser repetidos
ou checados na ausência do vestígio ou amostra, e/ou poderiam
ser interpretados de forma diferente.

•• Cliente é a organização e/ou pessoa que solicita a realização


de exames forenses. Quando a autoridade solicitante pertence
ao órgão em que a unidade forense está inserida, o cliente é
considerado interno. Se o exame é requisitado por meio de
ordenação legal ou se os resultados devem ser fornecidos ao
sistema judiciário, o cliente é considerado externo.

•• Equipamento engloba toda ferramenta, instrumento, software e


reagente químico usado para a realização dos exames forenses,
que necessitam ser monitorados ou controlados.

•• Termos exames/ensaios são usados neste documento para referir-


se à amostragem, inspeções visuais, análises, comparações,
interpretações e opiniões.

•• Vestígio é um item ou amostra obtido no decorrer de uma


investigação. Inclui tudo aquilo recuperado durante o processo
forense, tais como, coletas depositadas em swabs, objetos e
fragmentos de materiais, e itens derivados, como moldes de
pegadas ou de impressões digitais. Vestígios também podem ser,
às vezes, chamados de evidências.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 39

•• Instalação é qualquer ambiente físico utilizado para proteger a


integridade de vestígios, realizar exames periciais e processos
administrativos referentes aos exames periciais. Exemplos:
instalações permanentes, escritórios, áreas de estocagem,
escritórios móveis, laboratórios móveis e veículos da unidade
forense.

•• Unidade forense é uma instituição ou parte de uma instituição


legalmente estabelecida, que realiza qualquer atividade forense.
Segundo a NIT-DICLA-75, é um órgão ou parte de uma instituição
legalmente estabelecida, responsável pelas perícias e pesquisas
na área da criminalística.

•• Imparcialidade é a presença real e percebida de objetividade.


Objetividade significa que conflitos de interesse não existem
ou são resolvidos de modo que não influenciem adversamente
as atividades da unidade forense. Outros termos que são úteis
em transmitir o conceito de imparcialidade são: objetividade,
independência, ausência de conflito de interesse, neutralidade,
ausência de favoritismo, preconceito ou tendência, equilíbrio.

•• Investigador é a pessoa, nomeada, treinada para realizar a


investigação do local do crime. No Brasil, investigador é um cargo
da Secretaria de Segurança Pública, responsável por autos de
busca e apreensão de objetos, peças e pessoas relacionadas com
os locais de crime a serem investigados e a serem incluídas nos
exames periciais.

•• Perito oficial é o responsável pelo levantamento de um local de


crime, coleta e exame de vestígios a ele relacionados. A NIT-
DICLA-075 ressalta que é o servidor público pertencente aos
quadros dos órgãos oficiais de perícia, que agindo por requisição da
autoridade policial e judiciária, estuda o corpo ou objeto envolvido
no delito, refaz o mecanismo do crime, examina o local onde
ocorreu o delito e efetua exames laboratoriais. Tem autonomia
garantida pela Lei 12.030/2009, não havendo subordinação
funcional ou técnica para com a autoridade requisitante.
40 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

•• Não conformidade se refere a qualquer aspecto do trabalho da


unidade forense incluindo processamento do local de crime,
exames de laboratório, amostragem, análise, resultados ou
testemunho em juízo, que não estão em conformidade com as
políticas e procedimentos estabelecidos ou com os requisitos
acordados com o cliente.

•• Exame/ensaio objetivo é aquele que foi documentado e validado,


e que está sob controle, de modo que pode ser demonstrado que
todo o pessoal, devidamente treinado, obtém o mesmo resultado
dentro de limites definidos. Estes limites definidos referem-se a
probabilidades ou a valores numéricos. Exames/ensaios objetivos
devem ser controlados por:

•• Documentação do exame/ensaio validação do exame/ensaio.

•• Treinamento e autorização dos responsáveis pela manutenção


dos equipamentos.

•• Calibração de equipamentos.

•• Uso de materiais de referência.

•• Orientação para interpretação de resultados.

•• Verificação de resultados.

•• Avaliação da proficiência do pessoal.

•• Registros de verificação de desempenho de equipamentos.

•• Amostra de referência (coleção de referência) é um conjunto


padrão de materiais estáveis, substâncias, objetos ou artefatos
com propriedades ou origens conhecidas que podem ser
usados na determinação de propriedades ou origens de itens
desconhecidos;

•• Material de referência é o material, suficientemente homogêneo


e estável em relação a propriedades específicas, preparado para
se adequar a uma utilização pretendida numa medição ou num
exame de propriedades qualitativas;
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 41

•• Amostragem é um processo com critérios definidos por meio do


qual uma parte de uma substância, material ou produto é retirada
para análise, de maneira que a amostra retirada é representativa
do todo. Convém que o processo seja baseado em técnicas
estatisticamente válidas, quando possível. Para identificar as
amostras que devem ser retiradas e a sequência de realização da
amostragem, é necessária uma estratégia de amostragem, um
plano de amostragem e um procedimento de amostragem.

Estratégia de amostragem é a abordagem global da amostragem.

Plano de amostragem é o método para implementar a estratégia


de amostragem.

Procedimento da amostragem é o método usado para retirar a


amostra.

•• A expressão “local do crime” é usada para identificar o local do


evento antes de estabelecer se uma ação criminal ou ilegal ocorreu
ou não. O local do crime não está restrito somente ao local do fato
delituoso (local do crime primário), mas também inclui áreas em
que ações relevantes ocorreram antes ou depois do evento (local
do crime secundário). Além das áreas físicas de locais do crime,
esta definição também pode incluir investigações de acidentes,
incêndios suspeitos, acidentes de trânsito, ataques terroristas, e
identificação de vítimas de acidentes.

•• Ensaio refere-se a uma atividade que inclui medição e técnicas


analíticas.

•• Validação é a confirmação por exame e fornecimento de evidência


objetiva de que os requisitos específicos para um determinado
uso pretendido são atendidos.

Orientações gerais
Após a apresentação dos conceitos anteriormente listados, o
documento traduzido apresenta orientações gerais comuns a todas as
áreas do processo forense.
42 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

1. Somente pessoal autorizado deve adentrar o local do crime,


laboratórios ou qualquer outra área que possa apresentar
documentos referentes ao caso.

2. No caso do recebimento de reclamações, essas devem


ser encaradas como oportunidade de melhoria ao método
apresentado.

3. O pessoal disponível deve ser competente para realizar o


trabalho requerido. Ao avaliar a competência dos indivíduos, a
unidade forense deve garantir que onde apropriado, o pessoal
tenha conhecimento relevante da tecnologia utilizada no crime
investigado. O treinamento deve seguir um programa atualizado
e definido e a avaliação de competência deve se realizar a cada
nível de desenvolvimento profissional da pessoa envolvida.
O sistema de gestão deve definir cada função na unidade
forense e suas limitações e requisitos específicos para
qualificação, treinamento, experiência e conhecimento
das tarefas designadas para cada função. Ter qualificação,
treinamento e experiência não garante competência
prática e nem de julgamento. Desta forma, pessoal de
gerência ou pessoas responsáveis devem ser capazes
de demonstrar, por meio de evidência objetiva, que
todo pessoal é competente, por meio da realização de
avaliações de seus conhecimentos e habilidades em
relação a critérios definidos (INMETRO, 2016).

4. A unidade deve apresentar registro de todas as etapas do


processo forense que servirá como um mapa contendo todas
as informações sobre aquele objeto, exame e ensaio solicitados
e acordos com o cliente, vestígios recebidos, descrições de
vestígios incluindo embalagens e lacres, intimações, registros
de observações e resultados de exames/ensaios, referência ao
procedimento usado, diagramas, impressos, fotografias, vídeos
etc.

5. O trabalho deve ser realizado em um ambiente seguro e que haja o


fornecimento de programas de saúde do trabalhador. Equipamento
de proteção individual (EPI) apropriado deve ser usado para
garantir que os vestígios e o pessoal estejam protegidos.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 43

6. O programa de auditora interna deve, quando pertinente, incluir


atividades de investigação do local do crime, os exames, análise
do processo de interpretação de resultados e laudos. A avaliação
da implementação dos procedimentos da unidade forense deve
incluir observação direta dos exames e ensaios realizados no local
do crime ou no laboratório.

7. A unidade forense deve ter políticas e procedimentos para identificar


trabalho não conforme e, além disso, políticas e procedimentos
que são implementados quando o trabalho não conforme é
identificado. Inicialmente, a relevância de uma não-conformidade
em relação à validade dos resultados do exame ou ensaio deve
ser avaliada e a causa raiz identificada. A ação corretiva, uma vez
identificada e aprovada, deve ser implementada prontamente.
A autoridade designada deve, então, decidir quando o trabalho
pode ser retomado. É importante garantir que o trabalho não-
conforme seja efetivamente identificado e que ações corretivas
sejam implementadas em todas as áreas relevantes da unidade
forense. O trabalho não-conforme e todas as ações tomadas
devem ser registradas.

8. Métodos e validação de métodos: todos os métodos devem ter um


propósito definido e ser completamente documentados incluindo
procedimentos de controle de qualidade, e, onde apropriado, o uso
de materiais de referência. Estudos de validação são necessários
para todos os métodos inclusive os comparativos. Métodos podem
ser validados por comparação com outros métodos estabelecidos
usando materiais de referência certificados (onde disponíveis) ou
materiais de características conhecidas.  todos os parâmetros da
ABNT NBR ISO/IEC 17025 devem ser avaliados.

9. As condições ambientais das instalações do laboratório ou em


qualquer local onde os exames e ensaios são realizados devem
ser definidas caso sejam críticas para o êxito dos resultados. As
condições específicas devem ser monitoradas e registradas. O
acesso às instalações do laboratório com requisitos especiais
relacionados a problemas de contaminação deve ser restrito e
44 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

controlado. O monitoramento ambiental pode ser necessário para


os equipamentos, áreas de trabalho, vestuário e consumíveis.
O acesso ao local do crime deve ser controlado. Os efeitos
das condições ambientais devem ser considerados de modo
a evitar perdas ou deterioração das evidências. As condições
de armazenamento devem prevenir a perda, deterioração e
contaminação, além de manter a integridade e identidade do
vestígio. Quando itens perecíveis são armazenados, qualquer
degradação das amostras deve ser minimizada.

10. A unidade forense deve operar um programa para a manutenção


e calibração dos equipamentos críticos utilizados; o referido
programa deve permitir a demonstração da rastreabilidade da
medição, onde apropriado. O equipamento que tiver influência
na qualidade do exame e ensaio deve ser rotulado ou de outra
maneira identificado. A responsabilidade pelo status de calibração
e adequação geral do equipamento usado é exclusivamente
de competência da unidade forense. A unidade forense deve
ter políticas escritas e procedimentos definindo as condições
sob as quais os equipamentos podem ser utilizados. Políticas
e procedimentos devem ser estabelecidos para o uso de
equipamentos descartáveis para garantir que tais equipamentos
não contribuam para contaminação por mau uso ou reuso.
Instalações e equipamentos devem ser utilizados somente por
pessoal autorizado. Devem ser mantidos registros de cada item
do equipamento e de seu software que seja significativo para os
exames/testes realizados.

11. A qualidade dos materiais de referência, reagentes e insumos deve


ser adequada ao procedimento pretendido. Os números de lotes
de materiais de referência e de reagentes/insumos críticos devem
ser registrados. Os materiais de referência e reagentes/insumos
devem ser identificados com: nome; concentração, se apropriado;
data da preparação e/ou data de validade; identificação de quem
preparou; condições de armazenamento, se relevante; advertência
de perigo, quando necessário. A unidade forense deve definir e
documentar políticas e procedimentos para seleção e uso de
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 45

serviços externos contratados, fornecedores de equipamento e


consumíveis que afetem a qualidade dos seus serviços.

Módulos de atividades no processo forense


Identificação das diferentes atividades no processo das ciências
forenses como módulos separados e que podem ou não ocorrer na
ordem descrita já que dependerá das circunstâncias do crime. Alguns
dos módulos que são citados e explicados no DOQ-CGRE-084 são os
negritados a seguir:

Discussão inicial sobre o atendimento ao local do crime: etapa em


que o perito oficial recebe atribuição.

Análise crítica de contrato: devido à natureza do exame do local


de crime, questões como a integridade do local do crime, as condições
ambientais e a necessidade de algum equipamento ou competência
especial devem ser levadas em conta.

Controle e preservação do local do crime: a manutenção da


integridade do local e dos vestígios é essencial. Deve-se utilizar
equipamentos de proteção individual e o uso de ferramentas, como
tendas contra chuva, por exemplo, pode ser necessário para prevenir a
degradação.

Desenvolvendo uma estratégia de investigação do local do


crime: determinar o tipo de crime, avaliar o local do crime e determinar
os requisitos para investigação, realizar a amostragem (seleção, a
recuperação e a priorização dos materiais do local do crime para exame/
análise), determinar quais as técnicas, os equipamentos e as instalações
requeridas para a investigação, investigar, examinar e documentar o
local do crime. Todas as atividades conduzidas, observações, achados
e conclusões feitas durante o exame do local do crime devem ser
registradas. Os registros devem ser suficientes para que outra pessoa
competente possa entender e avaliar o exame do local do crime.

Para fins legais, a unidade forense deve manter um registro da cadeia


de custódia dos vestígios, enquanto estes estiverem sob seu controle.
Esse registro deve detalhar cada pessoa ou organização que toma posse
46 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

de um vestígio ou, alternativamente, o local em que se encontra o vestígio


(por exemplo, no depósito). A unidade forense deve tomar as precauções
apropriadas para assegurar que os vestígios identificados e coletados
para exame posterior sejam recuperados, guardados e transportados sem
perda ou contaminação (do ambiente, do clima, das pessoas etc.).

A NIT-DICLA-075 complementa que as unidades forenses devem


manter os registros da cadeia de custódia que detalhem cada pessoa
ou organização que teve posse do item/vestígio devem ser mantidos e
devem englobar desde o recebimento até o processo de armazenamento
e, onde aplicável, o retorno ao cliente ou o descarte. A definição e os
procedimentos adotados para a cadeia de custódia devem estar de
acordo com as disposições legais. Qualquer transferência de material
deve ser registrada. Registros relacionados à cadeia de custódia devem
ser mantidos de acordo com os requisitos estabelecidos para outros
registros de casos.

Verificar a existência de anormalidades e irregularidades: são


achados e observações em local do crime que não se enquadram dentro
da expectativa geral do local. As anormalidades ou irregularidades em
um local do crime, que são mostradas ou identificadas pela equipe de
investigação, devem ser registradas e convém que sejam esclarecidas
antes do começo da investigação do local do crime propriamente dito.

Realização de exames ou ensaios: o desempenho analítico deve


ser monitorado por esquemas de controle da qualidade apropriados ao
tipo e frequência dos exames/ensaios realizados pela unidade forense.
Os procedimentos devem ser documentados e os registros devem ser
mantidos para mostrar que todas as medidas de controle da qualidade
apropriadas (CQ) foram adotadas, que todos os resultados de CQ são
aceitáveis ou, senão, que ações corretivas foram tomadas.

Interpretação dos resultados de exames e ensaios: tanto no


laboratório quanto na investigação do local do crime haverá conclusões
baseadas em observações e ensaios visuais sem que exames/ensaios
objetivos sejam necessariamente realizados. As interpretações devem
ser baseadas em estudos robustos. Nos casos em que isso não for
possível, a interpretação deve, pelo menos, ser embasada em evidências
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 47

documentadas (registros). Quando interpretações são feitas, as limitações


dos exames/ensaios utilizados devem ser consideradas. Convém que o
pessoal da unidade forense tenha acesso a resultados de exames/ensaios
e achados precisos, completos e abrangentes, e que consultem fontes
confiáveis de informação para apoiar a interpretação. Os relatórios (laudos)
emitidos pela unidade forense devem ser completos e devem conter a
informação sobre a qual a interpretação pode ser feita. A interpretação e as
conclusões, por sua vez, devem ser respaldadas em dados, informações,
pesquisas ou estudos com respaldo técnico-legal.

A NIT-DICLA-075 define opinião e interpretação como o processo


pelo qual a aplicabilidade de um resultado de um ensaio pode
ser estendida. Deve ser realizada por uma pessoa ou organização
tecnicamente qualificada. As inferências baseadas nos resultados
produzidos devem ser feitas utilizando-se conhecimento e julgamento
profissional de uma pessoa ou organização na área de ensaio apropriada.
Opiniões e interpretações devem ser tecnicamente consistentes e
apoiadas em evidências sólidas.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o Caderno


de Apresentação de Projetos em BIM clicando aqui

Norma NIT-DICLA-069
A norma NIT-DICLA-069 surgiu com o objetivo de aplicar a ABNT
NBR ISO/IEC 17025 para acreditação forense de exames toxicológicos
de larga janela de detecção para atendimento ao MTPS e DENATRAN.
Os exames toxicológicos devem ser avaliados em conformidade com os
parâmetros da tabela de valores de cut-off.
Quadro 4 – Níveis de corte (cut-off)
48 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

Fase de Triagem e Confirmação:


Fase de Triagem: Imunoensaio
Espectrometria de massas
Grupo de Valor de cut off Valor de cut off
Analito a ser testado
substâncias (ng/mg) (ng/mg)
Anfetamina 0,2
Metanfetamina 0,2
MDA 0,2
Anfetaminas 0,2
MDMA 0,2
Anfepramona 0,2
Femproporex 0,2
Mazindol 0,5 Mazindol 0,5
0,1 (THC) ou THC 0,05
Canabinóides 0,001 (THC-
-COOH) THC-COOH 0,0002

Cocaína 0,5
Benzoilecgonina 0,05
Cocaína 0,5 Cocaetileno 0,05

Norcocaína 0,05

Morfina 0,2

Codeína 0,2
Opiáceos 0,2
Heroína 0,2

6-Monoacetilmorfina 0,2
Fonte: Inmetro (2017).

Imunoensaio: o teste deve ser calibrado com um analito do grupo


identificado como o analito ativo. A reatividade cruzada do imunoensaio
para o(s) outro(s) analito(s) dentro do grupo deve ser 80% ou maior. Caso
contrário, devem ser utilizados imunoensaios separados para os analitos
dentro do grupo.

•• Para o resultado de cocaína: cocaína + Benzoilecgonina e/ou


cocaetileno e/ou norcocaína em um mínimo de concentração de
0,05 ng/mg para confirmação.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 49

•• Se Benzoilecgonina for o único metabólito identificado em


concentração de 0,05ng/mg ou superior a esta, a relação de
benzoilecgonina/cocaína deve ser pelo menos de 0,05.

•• Para confirmação de consumo de heroína, o componente


6-acetilmorfina deve ser identificado.

•• Para confirmação de consumo de THC, o componente carboxi-


THC deve ser identificado.

O exame toxicológico deve possuir todas suas etapas protegidas


por cadeia de custódia, garantindo a rastreabilidade de todo o processo,
além de possuir procedimento com validade forense para todas as etapas
analíticas (descontaminação, extração, triagem e confirmação).

•• Tecnologia alternativa: um analito ou todos os analitos do


grupo devem ser usados para calibração, dependendo da
tecnologia. Pelo menos um analito dentro do grupo deve ter uma
concentração igual ou maior que o cut-off ou, alternativamente, a
soma dos analitos presentes (ou seja, igual ou maior que o limite
de quantificação validado do laboratório) deve ser igual ou maior
que o cut-off. Exemplo: LC-MS/MS.

O laboratório deve assegurar ao cliente o direito à contraprova


e à confidencialidade dos resultados dos exames; e, o acesso à trilha
de auditoria do seu exame. Para tanto, duas amostras devem ser
coletadas: uma para proceder ao exame completo, com triagem e exame
confirmatório; outra como contraprova que deve ser armazenada no
laboratório por, no mínimo cinco anos, a fim de se dirimirem eventuais
litígios. Além disso, o formulário de cadeia de custódia deve ser
numerado com um número de identificação único, que é a identificação
da amostra e incluir etiqueta com esse mesmo número de identificação.
O envelope contendo a amostra deve ser lacrado com um sistema
que permita evidenciar qualquer violação, como o uso de etiqueta de
segurança inviolável e autodestrutiva. Esse lacre ou etiqueta deve estar
devidamente numerado e tem o único propósito de evidenciar que não
houve adulteração.
50 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

EXPLICANDO MELHOR:

Antes da análise confirmatória, as amostras como de cabelo


ou de pelos devem ser descontaminadas para minimizar
eventual contaminação externa. Em geral, o método de
descontaminação para remover a contaminação ambiental
deve incluir um protocolo de lavagem que deve ser
validado pelo laboratório e pode utilizar solventes aquosos
ou combinação de solventes.

Após a lavagem, o segmento de cabelo ou pelo é submetido


a um protocolo de extração validado que pode envolver a secagem,
pulverização, corte em pequenos pedaços ou desintegração química
da amostra de cabelo ou pelo. A quantidade mínima de cabelo ou pelo
usada na análise varia entre os laboratórios e cada um deve estabelecer
esta exigência durante a validação do método.

A análise propriamente dita, inicia-se por ensaios de triagem que


possuem o objetivo de rapidamente eliminar as amostras negativas
e identificar as possíveis amostras positivas, por meio de técnicas
qualitativas, indicando se ela possui ou não as substâncias psicoativas a
serem examinadas. Embora não seja um método obrigatório, podem ser
empregadas técnicas imunoenzimáticas, nessa fase preliminar.

A fase de triagem também poderá ser realizada por meio dos


ensaios que empreguem a cromatografia líquida (LC-MS/MS) ou gasosa
(GC-MS/MS), acoplada a detectores de espectrometria de massa, os quais
fornecem dados qualitativos e quantitativos das substâncias psicoativas
encontradas.

IMPORTANTE:

Caso a análise de triagem seja realizada pelos métodos


GC-MS/MS ou LC-MS/MS, os resultados positivos devem
ser confirmados por meio do preparo de novo extrato,
proveniente da mesma amostra (outra porção original do
cabelo ou da unha) e nova análise pelo mesmo método (ou
diferente método GC-MS/MS ou LC-MS/MS).
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 51

Os resultados positivos obtidos na análise preliminar, devem ser


testados pelos ensaios de confirmação que são metodologias bem
definidas e cientificamente aceitas de espectrometria de massa (GC-MS-
MS, LC-MS-MS). O laboratório deve elaborar e disponibilizar os Pops,
definindo os métodos, seus limites, interferentes, nos ambientes em que
o exame ocorre.

Os parâmetros para a validação analítica são os praticados pela


ABNT NBR ISO/IEC 17025. Além disso, a norma complementa que o
controle de qualidade interno deve ser realizado utilizando como padrões:

a. Teste de triagem

O laboratório deve incluir controles apropriados com base na


metodologia/tecnologia utilizada no teste. Os controles a seguir podem
ser usados para comparar com os valores de corte definidos nesta norma:

1. Livre de drogas.

2. Aproximadamente, 25% abaixo do valor de corte.

3. Aproximadamente, 25% acima do valor de corte.

4. Cego, pelo menos 1% para cada bateria e pelo menos, 1 por bateria.

5. Os controles devem compreender pelo menos 10% das amostras


da bateria.

6. Pelo menos 1 controle fortificado presente no final da bateria.

O uso de um controle com concentração 25% abaixo do valor de


corte, pode não ser viável para algumas drogas/matrizes, dependendo dos
valores de corte utilizados. O laboratório deve estabelecer um programa
de garantia de qualidade com critérios definidos para todos os controles
utilizados nos testes de triagem. O analista pode ter conhecimento de que
um dos controles será uma amostra cega (Res. 691, art. 23, item II), se for
o caso, porém não terá conhecimento do seu conteúdo.

b. Teste confirmatório
52 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

Os controles abaixo devem ser usados em todos os ensaios


confirmatórios, associados à curva de calibração, considerando os valores
de corte definidos nesta norma:

1. Livre de drogas.

2. Positivos, em concentrações apropriadas para se confrontar com a


concentração do valor de corte utilizado.

3. Os controles devem compreender pelo menos 10% das amostras


da bateria.

Já para o controle de qualidade externo, o laboratório deve atender à


NIT-Dicla-026, que trata dos requisitos para a participação de laboratórios
em atividades de ensaio de proficiência.

EXPLICANDO MELHOR:

O relatório de ensaio (laudo do exame toxicológico de


larga janela de detecção) deve incluir os seguintes itens:
identificação do laboratório credenciado junto ao Denatran
que realizou o exame; nome e CPF do condutor; número
de identificação do exame; data da coleta da amostra; data
de recebimento da amostra no laboratório credenciado;
listagem das substâncias psicoativas analisadas; níveis
de corte (cutoff) para as fases de triagem e confirmatória;
resultados, sejam positivos ou negativos; data da emissão
do laudo; assinatura do responsável técnico pelo laudo;
número do documento fiscal do laboratório credenciado
que deu origem ao exame; comprimento do cabelo ou
pelo coletado; origem (por exemplo, pelo do braço, pelo
do tórax); comprimento do cabelo ou pelo analisado; janela
de detecção (período coberto pelo cabelo).

O cabelo ou pelo é uma matriz única porque não há metabolismo e


excreção de ativos para remover as drogas depositadas. A concentração
da droga depende da dose da droga de abuso; do metabolismo; da
distância da raiz (decréscimo significante na concentração da droga
pode ser observado após vários meses devido à lavagem e à radiação
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 53

UV); da posição ao longo do fio de cabelo e a polaridade da droga; da


porcentagem de cabelos nas fases anágena e telógena.

O cálculo do período coberto pelo cabelo utiliza a média de 1


cm/mês para dar um período aproximado de detecção abrangida pela
amostra de cabelo ou segmento analisado.

O pelo do corpo tem crescimento mais lento (0,5 a 1,1cm/mês) e um


ciclo de crescimento diferente quando comparado ao cabelo. O cálculo
do período coberto por pelos do corpo utiliza a média 1cm/mês para dar
um período aproximado de detecção coberto pelo comprimento do pelo.
Como 40-60% dos pelos permanecem na fase de repouso (telógena), o
período de vigência pode ser prorrogado por três a quatro meses. Pelo do
corpo não é adequado para análise segmental.

Norma NIT-DICLA-077
A norma NIT-DICLA-077 tem o objetivo de descrever os requisitos
específicos aplicáveis à acreditação de laboratórios voltados ao controle
de doping de atletas no âmbito da WADA World Antidoping Agency
(WADA).

Essa norma faz menção às normas e documentos que o laboratório


deve seguir para poder ser acreditado pela WADA. Hoje o Brasil conta
com um único laboratório acreditado – Laboratório Brasileiro de Controle
de Dopagem. São aplicáveis ao laboratório a norma ABNT NBR ISO/IEC
17025, todos os documentos normativos da Cgcre e todos os documentos
da WADA aplicáveis a laboratórios: ISL, TDs (documentos técnicos) e guias.

RESUMINDO:

Neste capítulo, vimos como se dá a validação em Toxicologia


Forense, bem como os módulos de um processo forense
– definições, conceitos e orientações gerais. Por fim,
conhecemos as normas NIT-DICLA-069, para acreditação
forense de exames toxicológicos, e NIT-DICLA-077, que
objetiva descrever os requisitos específicos aplicados à
acreditação de laboratórios voltados ao controle de doping
de atletas no âmbito da WADA.
54 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

Ferramentas e métodos de análise


OBJETIVO:

Ao final deste capítulo, você será capaz de identificar e


compreender os métodos e as ferramentas de análise
na Toxicologia Forense. Com isso, teremos a base para
compreender assuntos mais complexos, que empregam
vocabulário próprio e conceitos que, para quem não é da
área, podem ser difíceis. Então, vamos que vamos!

Para a obtenção de resultados confiáveis e informativos, em


qualquer análise química depende, principalmente, do planejamento e
da execução corretas de todas as etapas do procedimento analítico.

Preparo de amostra
A primeira etapa do procedimento analítico é o preparo da amostra,
etapa que pode ocupar até 80% do tempo total da análise caso se trate
de matrizes muito complexas. A preparação da amostra inclui processos
de purificação (clean-up) e de extração cuja primazia é fator vital para o
sucesso a análise.

A otimização do processo de preparo da amostra também é


relevante para a melhoria dos resultados com diminuição do tempo total
de análise, O processo de otimização deve ser embasado na compreensão
dos princípios físico-químicos que fundamentam o processo de
separação. É considerado um preparo de amostra eficiente aquele que:
apresenta uma perda mínima de amostra durante a preparação e provê
uma boa recuperação dos analitos; deve haver a remoção eficiente dos
componentes/moléculas que não são de interesse e que podem dificultar
a análise; não pode influenciar no sistemas analíticos; o processo de
preparo de ser de fácil execução para evitar erros e aumentar a agilidade;
o tempo do processo de preparo deve ser curto; e, principalmente, deve
ser de baixo custo.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 55

São processos usados para o preparo e análise de amostras:

•• Processos de partição empregando solventes orgânicos


(clorofórmio, acetato de etila, n-hexano, éter etc.) ou polímeros.

•• Processos de adsorção utilizando carvões (carvão ativo, carvão


ativo grafitizado), ou adsorventes inorgânicos como alumina
(Al2O3) e a sílica (SiO2), ou polímeros orgânicos.

•• Processo de volatilização que consiste na passagem do analito da


fase líquida para a fase gasosa – headspace ou espaço confinante.

Algumas vezes, também, se faz necessário procedimentos para


a remoção de proteínas ou precipitação de moléculas que possam
atrapalhar o preparo da amostra ou a análise propriamente dita.

Análise de amostras
Como vimos, a primeira etapa da análise é a etapa de triagem
seguida da confirmatória. Essas etapas podem ser realizadas por meio de
detectores eletroquímicos, ultravioleta, fluorescência; e, também, outros
detectores altamente seletivos, como o espectrômetro de massas que
são empregados para minimizar a influência de outros compostos no
resultado, seja para identificar ou quantificar substâncias.

Ao fim das análises, o estudo estatístico dos dados é que permite


a extração de informações relevantes e possibilitam a avaliação das
incertezas do método.

Análise de benzeno
Objetivo: análise ambiental e ocupacional do benzeno.

Motivo: utilização em indústria petroquímica e presença na gasolina.

Absorção: cutânea e inalação.

•• Acumula-se em tecidos ricos em gordura – tecido adiposo e


medula.

•• Carcinogênico – causa leucemia mieloide aguda.


56 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

Biomarcador: ácido trans, transmucônico urinário.

Amostra: urina.

Extração do biomarcador: extração por fase sólida empregando


resina de troca iônica (aniônica forte).

Análise: identificação e quantificação por cromatografia líquida


de alta eficiência; e, detecção espectrofotométrica na região ultravioleta
(CLAE/UV).

Método analítico: após pequenas alterações, o método de Ducos


et al. (1990), modificado por Paula (2003), foi utilizado para a determinação
do ATTM urinário.

Expressão dos resultados: valores de ATTM obtidos após as análises


das amostras de urina enviadas ao laboratório deverão ser expressos em
mg/g de creatinina.

Interferentes: coexposição a outros solventes orgânicos com


anel benzênico; a dieta já que o biomarcador pode ser obtido da
biotransformação do sorbitol e de edulcorantes, além do hábito de fumar,
entre outros.

Análise de canabinoides e cocaína

•• Os canabinoides e a cocaína estão listados na Portaria nº 344,


de 12 de maio de 1998, que aprova o regulamento técnico sobre
substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial.

•• Proibida a venda, a compra e o uso.

Amostra: receber e registrar o estado físico, cor, peso, dimensões,


emblemas, entre outras.

Teste preliminar e presuntivo: resultado negativo - elimina a


possibilidade de ser a substância química; o positivo define a necessidade
de testes confirmatórios.

Laudo positivo: resultados da combinação de diferentes técnicas:


técnica da categoria A + outra técnica de qualquer categoria (A, B ou C);
ou, duas técnicas da categoria B (não relacionadas) + uma técnica da
categoria C; ou, três técnicas da categoria B.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 57

Figura 2 – Técnicas A, B e C

Categoria A Categoria B Categoria C

Espectroscopia Eletroforese capilar. Testes de cor.


de infravermelho.
Cromatografia gasosa. Espectroscopia de fluo-
Espectrometria rescência.
Espectrometria de mo-
de massa.
bilidade iônica. Imunoensaio.
Espectroscopia
Cromatografia líquida. Ponto de fusão.
de ressonância
magnética nu- Teste de formação de Espectroscopia de ultra-
clear. microcristais. violeta.
Espectroscopia Identificadores farma-
Raman. cêuticos.
Difratômetro de Cromatografia em ca-
raios-X. mada delgada.
Somente para Cannabis:
exames macroscópicos
e microscópicos.
Fonte: Elaborada pelo autor (2020).

Após a identificação da substância química no material de


apreensão, a análise quantitativa pode ser conduzida pelo analista,
agregando informações sobre a pureza da droga e o potencial perigo para
o usuário, pois a identificação de outros constituintes presentes na droga
apreendida contribui com a atividade de inteligência policial. Compostos
químicos remanescentes na droga podem caracterizar a origem e uma
rota de tráfico, estabelecer conexão entre quadrilhas e fornecedores e,
consequentemente, nortear o trabalho policial.

Cannabis sativa
Amostragem

Produtos ilícitos da cannabis - Cannabis herbácea, resina de


cannabis (haxixe) e cannabis líquida (óleo de Cannabis):

•• Cannabis herbácea, é necessário cortar cerca de 20 cm da parte


superior do vegetal, incluindo a florescência – preferencialmente
flores e folhas; a amostra deve ser seca, mantida no escuro e em
58 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

baixas temperaturas para evitar a degradação dos canabinoides e


do THC.

•• A resina de cannabis (haxixe) e a cannabis líquida (óleo de


cannabis) podem ser analisadas no estado que se encontram,
com o cuidado que para a resina deve-se utilizar amostras mais
internas para evitar o uso de amostra oxidada.

Métodos analíticos: características botânicas morfológicas


macroscópicas e microscópicas (tricomas glandulares e não glandulares);
testes colorimétricos; cromatografia em camada delgada, são os testes
mínimos aceitáveis para identificação positivas.

Resultados analíticos: visualização simultânea de tricomas


cistolíticos na superfície superior da folha e de tricomas não cistolíticos
e glandulares na porção inferior possibilita a identificação positiva
para  cannabis sativa. Os componentes das plantas, após sua extração
com éter de petróleo, reagem com Fast Blue BB em meio básico,
formando um complexo colorido com os grupos fenólicos dos diferentes
canabinoides - Δ9-THC (vermelho), canabinol (roxo) e canabidiol (laranja).
O teste de Duquenois-Levine, que utiliza como reagentes a vanilina
e o acetaleído em meio ácido, demonstra a presença de canabinoides
(extrato clorofórmico) com cor azul-púrpura.

Método: cromatografia em camada delgada.

•• Fase estacionária: sílica gel.

•• Sistema solvente: cicloexano: éter di-isopropílico: dietilamina


(52:40:8 v/v).

•• Padrões de referência: Δ9-THC, canabidiol e canabinol, preparados


em uma concentração de aproximadamente 0,5mg/mℓ em
metanol.

•• Revelador: solução de Fast Blue BB.


Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 59

Os valores de hRf (Rf × 100) obtidos são 26 para CBN; 38 para Δ9-
THC e 42 para CBD.

Cocaína
Amostragem: preferencialmente utilizar métodos estatísticos para
estimar as alíquotas necessárias.

Método colorimétrico: teste de Scott modificado.


1. A adição de tiocianato de cobalto, que é rosa, forma
um precipitado de cor azul-turquesa devido à reação
de complexação com a cocaína.

2. Adição de ácido clorídrico, o precipitado azul


desaparece completamente, pois ocorre uma
dissolução do complexo, e observa-se somente a
solução de cor rosada.

3. Adicionado clorofórmio e a coloração azul reaparece.

Atenção: por não ser específico e, consequentemente, haver falsos


positivos, outras técnicas confirmatórias devem ser usadas.

Método analítica: cromatografia em camada delgada.

•• Fase estacionária: sílica-gel G 250μm com fluorescência para luz


UV 254nm.

•• Sistema solvente: metanol: hidróxido de amônio 29% (100:1,5 v/v)

•• Solução reveladora: iodoplatinado de potássio acidificado: 0,25g


de cloreto platínico e 5g de iodeto de potássio com adição de 2mℓ
de ácido clorídrico concentrado à solução resultante.

•• Visualização em câmara de UV 254nm.

Os valores de hRf (Rf × 100) obtidos são 59 para a cocaína; 65 para


metilecgonina; 84 para ecgonina; 80 para a benzocaína; 69 para a lidocaína.

Após os dois testes, se houver resultado positivo, um outro teste


deve ser empregado. Outra cromatografia em camada delgada pode ser
feita utilizando placa de sílica com a fase móvel de cicloexano: tolueno:
dietilamina, 75:15:10, revelado com reagente de Dragendorff.
60 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

Método analítico: cromatografia a gás com detector de ionização


em chama.

Amostra: urina acidificada (evita a decomposição dos metabólitos).

Biomarcadores: cocaína, benzoilecgonina e do éster


metilanidroecgonina.

Preparação: extração em fase sólida e derivação da benzoilecgonina.

Características do cromatógrafo: injetor tipo split/splitless, com


insersor do tipo on-column; coluna cromatográfica capilar db5 5% fenil,
95% metilsilicone com 30m × 0,25mm de diâmetro interno e 0,25μm de
espessura de fase. Temperaturas: do detector 250ºC, do injetor 230ºC, do
forno: 140ºC por 4min, 160°C a 30°C/min por 3min, 220°C a 30°C/min por
5min.

Ainda, pode-se utilizar métodos empregando cromatografia líquida


de alta eficiência com detector de arranjos de diodos, cromatografia
líquida acoplada a espectrometria de massas com detector por captura
de elétrons. A CL-EM é considerado o padrão ouro para detecção.

O método deve ser selecionado de forma racional, considerando


todos os fatores interagentes como recursos, rotinas e missões
laboratoriais, dentre outros, para que a finalidade analítica seja observada;
ou seja, o dado obtido seja fidedigno e condizente com a finalidade a que
se destina.

O etanol é outra substância que também pode ser analisado por


cromatografia a gás com detector por ionização em chama. Qualquer
concentração de álcool por litro de sangue ou por litro de ar alveolar
sujeita o condutor às penalidades previstas na lei (Lei nº 12.716, de 20 de
dezembro de 2012).
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 61

SAIBA MAIS:

Para saber mais sobre o assunto, leia a obra Toxicologia


Análica, de Regina Lúcia de Moraes e Maria Elisa
Pereira Bastos. O livro apresenta metodologias para a
preparação da amostra e da análise propriamente dita.
Além dos demonstrados aqui, outras substâncias, como
ácido acetilsalicíico, aflotoxinas, anatoxina, antibióticos,
anticonvulsivantes, arsênio, bussulfano, chumbo,
cloranfenicol, etanol, outros fármacos, glicosídeos
cianogênicos, inseticidas organofosforados e carbamato,
entre outros.

RESUMINDO:

Neste capítulo, vimos quais são as metodologias e os


métodos de análise forense e compreendemos como se
dá esta análise de amostras, como de cocaína, benzeno e
canabidinoides.

Chegamos, enfim, ao final da disciplina. Gostaram? Espero que sim!


Não se limite ao conteúdo exposto no nosso material e, não se esqueça,
a mente que se abre a uma nova ideia, não volta ao seu tamanho original.
Sucesso! Até mais!
62 Toxicologia Analítica: Clínica e Forense

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO/
IEC 17025:2017 - Requisitos gerais para a competência de laboratórios
de ensaio e calibração. Rio de Janeiro, 2017.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. DOQ-CGCRE-008 – Orientação sobre validação de
métodos analíticos. Brasília, 2018.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. DOQ-CGCRE-022 – Orientações gerais sobre os
requisitos da ABNT NBR ISO/IEC 17025:2017. Brasília, 2018.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. DOQ-CGRE-023- Orientações para a atividade de
reconhecimento da conformidade aos princípios das boas práticas de
laboratório. Brasília, 2019.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. DOQ-CGCRE-064 – Orientação para a elaboração dos
escopos de acreditação voltados aos laboratórios de ensaios que
atuam na área de atividade: saúde humana, focando análises clínicas
e patológicas. Brasília, 2014.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. DOQ-CGCRE-083 – Tradução brasileira do documento
ILAC-G19:08/2014 - Módulos de um processo forense. Brasília, 2016.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. DOQ-CGCRE-087 – Orientação para aplicação dos
requisitos técnicos da ABNT NBR ISO/IEC 17025 na acreditação de
laboratórios de calibração para o grupo de serviço de físico-química.
Brasília, 2019.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. NIT-DICLA-035 - Princípios das Boas Práticas de
Laboratório - BPL. Brasília, 2018.
Toxicologia Analítica: Clínica e Forense 63

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. NIT-DICLA-041- Garantia da qualidade e BPL. Brasília,
2019.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. NIT-DICLA-065 - Aplicação da ABNT NBR ISO/IEC 17025
no âmbito da metrologia legal. Brasília, 2018.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. NIT-DICLA-069 - Aplicação da ABNT NBR ISO/IEC 17025
para a acreditação forense de exames toxicológicos de larga janela de
detecção para atendimento ao MTPS e DENATRAN. Brasília, 2019.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. NIT NIT-DICLA-074 - Elaboração de escopo de
laboratórios de criminalística (projeto piloto). Brasília, 2018.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. NIT-DICLA-075 - Aplicações da ABNT NBR ISO/IEC 17025
para laboratórios de criminalística (projeto piloto). Brasília, 2018.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E


TECNOLOGIA. NIT-DICLA-077 - Requisitos específicos de acreditação
de laboratórios voltados ao controle de doping de atletas (Programa
WADA). Brasília, 2018.

DORTA, D. J. et al. Toxicologia Forense. São Paulo: Blucher, 2018.

LOBO, R. N. Gestão da qualidade. Porto Alegre: SAGAH, 2018.

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