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S623 Sistema nervoso / Kevin Santana Gomes, Niccollas Nunes Rabelo, coordenação geral. –
Salvador : SANAR, 2019.
272 p. : il. ; 16x23 cm. – (Coleção Medicina Resumida).
ISBN 978-85-5462-097-4
Kevin Gomes
APRENDER PODE SER MAIS FÁCIL
• Eletroneuromiografia
• Manobra de Mingazzini
• Síndrome de Guillain-Barré
1.2. Termos-chave
2. OS NEURÔNIOS
Pronto, agora sim podemos começar nossa jornada! Mas... de nada adianta falar sobre sistema
nervoso sem antes conhecer a unidade funcional dele: o neurônio. O neurônio é a célula que rege o
sistema nervoso. Acredita-se que existam cerca de cem bilhões de neurônios num encéfalo humano
adulto, para se ter uma ideia de sua importância. Ele possui quatro regiões especializadas
morfologicamente: dendritos, corpo celular, axônio e terminações axônicas.
Os dendritos são projeções do corpo celular responsáveis por receber informações de outros
neurônios. O corpo celular, por sua vez, contém o núcleo e organelas que são vitais ao neurônio, além
de funcionar como porção integrativa do sinal captado com o sinal emitido. Tal sinal emitido perpassa
o axônio, que é outra projeção do corpo celular, que conduz informações codificadas em potenciais de
ação, e que serão levados até as terminações axônicas. Estas são as porções que se comunicam com
as células-alvo daquele sinal neuronal, seja uma célula muscular, uma glândula, ou até mesmo um
outro neurônio.
Imagem 2: Na parte de cima da imagem, nota-se os diversos tipos de neurônios, com base nas suas
conexões feitas pelo seu arcabouço: neurônio bipolar, unipolar, e multipolar. Na parte de baixo, tem-se
o exemplo do neurônio piramidal, com seu corpo celular com formato típico, e suas conexões. (2)
• O neurônio unipolar tem a forma mais simples, onde só há uma projeção do corpo celular,
formando o axônio, que tem várias terminações. Ele recebe e integra informações aferentes.
São os neurônios que atuam em células musculares lisas e na secreção glandular.
• O neurônio bipolar, por sua vez, possui dois processos que se originam de lados opostos do
corpo celular. Um corresponde ao dendrito e o outro ao axônio. “O fluxo, basicamente, é:
dendrito -> corpo -> axônio.
• Há ainda o pseudounipolar, onde, no desenvolvimento, ambos os processos que emergem
do corpo celular se fundem, formando um único que bifurca depois de sair do corpo celular.
Muitos neurônios sensoriais correspondem a tal tipo de neurônio.
3. TRANSMISSÃO SINÁPTICA
A comunicação entre os neurônios se dá através das sinapses, que são locais especializados nesta
comunicação. Nela, há 3 componentes: o neurônio pré-ganglionar, que envia as informações
decodificadas; e o pós-ganglionar é aquele que recebe as informações; além, claro, da fenda
sináptica, que é o espaço intercelular onde ocorre a troca de informações através de
neurotransmissores. Estes são liberados na fenda sináptica após serem formados em vesículas nas
terminações axonais. Dentre os principais, destacamos aminoácidos, como Glutamato, Glicina e
GABA; compostos monoaminérgicos, como Noradrenalina e Serotonina, ou até mesmo peptídeos,
como Encefalina e Substância P. Eles alteram a permeabilidade da membrana para íons específicos,
provocando a despolarização da célula (quando ocorre aumento do influxo na célula pós-ganglionar de
sódio, despolarizando-a, e desencadeando um potencial de ação), ou elevando influxo de cloro,
hiperpolarizando-a, e inibindo o desencadear de um potencial de ação). Alguns neurotransmissores
possuem atividades variadas, excitando uns, e inibindo outros neurônios, dependendo de alguns
fatores, como o subtipo do receptor específico no qual ele age, e se sua ligação interfere diretamente
ou não no fluxo de íons.
Há também sinapses elétricas, onde há continuidade citoplasmática, e o fluxo de íons é direto entre
elas. A sinapse será melhor compreendida no capítulo 3.
As células da neuroglia também compõem o tecido nervoso, sendo, inclusive, maiores em número
que os próprios neurônios (proporção de cerca de 10:1). Proporcionam um importante suporte
metabólico e estrutural a eles. Se subdividem em micróglia e macróglia.
As micróglias possuem a função básica de “arrumar a casa”, ou seja, aparecem quando há algum
problema. Basicamente, ela responde a uma lesão ou processo infeccioso que afete a célula nervosa.
Com isso, ela rapidamente se desloca ao local em questão, e promove regeneração do tecido lesado,
remove detritos e destrói microorganismos por fagocitose.
As macróglias, por sua vez, se subdividem em: oligodendrócitos e células de Schwann, Astrócitos,
e células ependimárias.
Tanto os oligodendrócitos quanto as células de Schwann formam a bainha de mielina, que é
responsável por aumentar a velocidade de condução do potencial de ação. Elas são ricas em
compostos lipídicos e proteicos – daí a mielina (principal) – que lhe confere um aspecto
esbranquiçado. A diferença vem, basicamente, da célula que lhe origina: os oligodendrócitos a origina
no sistema nervoso central, e as células de Schwann no sistema nervoso periférico.
Imagem 4: A imagem mostra como um oligodendrócito se distribui no axônio para compor a bainha
de mielina. O zoom realça o nódulo de Ranvier formado pelos espaços entre as bainhas de mielina,
importantes para a propagação do Potencial de Ação. (4)
O calibre do tubo não é uniforme. A parte cranial é responsável por formar o encéfalo do adulto, e
ao se dilatar, forma o arquiencéfalo. A parte caudal forma a medula, permanecendo com calibre
uniforme (após formação do tubo, o espessamento nessa região se segue até cerca de 9 a 10 semanas,
formando o canal central da medula). No arquiencéfalo formam-se três dilatações, as vesículas
encefálicas primordiais: prosencéfalo, mesencéfalo, e rombencéfalo. Com o tempo, o prosencéfalo
origina duas vesículas: telencéfalo e diencéfalo. O mesencéfalo, então, permanece igual; já o
rombencéfalo origina: metencéfalo e mielencéfalo.
Imagem 6: Nesta imagem destaca-se a flexura cervical (a maior, que dá um aspecto de “C”, e a flexura
cefálica (a menor, que “projeta” o prosencéfalo para frente). (6)
O telencéfalo se situa na porção mediana, de onde emergem duas porções laterais: vesículas
telencefálicas laterais, com a parte mediana sendo fechada por uma lâmina (lâmina terminal). As
vesículas laterais formam os hemisférios, escondendo a porção mediana e o diencéfalo. Este, por sua
vez, forma quatro divertículos: dois laterais (vesículas ópticas), que originam a retina; um dorsal,
originando a pineal; e um ventral (infundíbulo), que corresponde a neurohipófise.
A cavidade do tubo neural permanece no sistema nervoso, e sofre algumas modificações: a luz
forma o canal central da medula; a cavidade dilatada no rombencéfalo forma o IV ventrículo; e a
cavidade do diencéfalo, em conjunto com a porção mediana do telencéfalo, formam o III ventrículo.
A luz do mesencéfalo segue estreita, formando o aqueduto cerebral. As vesículas telencefálicas
formam os ventrículos laterais, se unindo ao III ventrículo pelos forames interventriculares. Todas
as cavidades são revestidas de epitélio cuboide (epêndima), contendo o líquido cerebroespinal.
No desenvolvimento do arquencéfalo, surgem flexuras (ou curvaturas) no teto e no assoalho, por
ritmos de crescimento diferentes, em torno das 4 primeiras semanas. A primeira é a flexura
mesencefálica, que irá dividIr o encéfalio anterior do médio, e a flexura cervical, que irá dividir o
encéfalo posterior da medula (flexão ventral da cabeça do embrião no “futuro pescoço”). Por
crescimento desigual, surge então uma terceira flexura, no sentido contrário das duas primeiras, na
junção entre o meta e o mielencéfalo: a flexura pontina. Com o tempo, as duas últimas se desfazem e
desaparecem. A cefálica segue, formando no adulto um ângulo entre o cérebro e o restante do
neuroeixo.
Imagem 7: Ilustração do processo de formação das flexuras na embriogênese do sistema nervoso
central, e em seguida a formação dos giros e sulcos corticais.
Imagem 8: Nesta imagem, temos o processo de maturação do sistema nervoso central, com as
diferenciações dos diversos segmentos. (7)
Atenção!
Uma característica importante dessa divisão é a de que os corpos celulares se agrupam no Sistema Nervoso
Periférico através de gânglios periféricos, e os axônios se agrupam em nervos periféricos. Já no Sistema
Nervoso Central, os corpos celulares e dendritos se agrupam em áreas corticais e em núcleos, e os axônios
se agrupam em estruturas que possuem nomes variados, sendo mais conhecido como trato.
Lembrando o que foi falado sobre a mielina, as porções do sistema nervoso central ricas em fibras axonais,
tem um aspecto em peças anatômicas frescas de tom esbranquiçado, por conta da bainha de mielina ser rica
em lipídeos. Já as porções dos corpos celulares têm aspecto cinzento. Assim, há a famosa divisão em
substância branca e substância cinzenta.
7. ENTENDENDO O CASO...
Então, agora que entendemos a divisão do sistema nervoso, podemos entender melhor as suspeitas
do Dr. Gomes em questão. Ele havia suspeitado que Joãozinho tivesse desenvolvido a Síndrome de
Guillain-Barré (SGB).
A SGB consiste, na realidade, num conjunto de síndromes com uma neuropatia periférica que afeta
as divisões motora, sensitiva e autonômica, tanto nos nervos quanto nas raízes espinais. O espectro é
amplo, e varia de uma fraqueza muscular em membros inferiores a tetraplegia. Decorre de um
processo inflamatório que promove destruição da bainha de mielina e até mesmo do axônio, a
depender do grau da inflamação. Isso leva a um processo de desmielinização, fazendo a chamada
neuropatia desmielinizante inflamatória.
É muito comum a doença surgir após um quadro de infecção viral inespecífica prévia, com
destaque as infecções de vias aéreas e gastrintestinais. Com o controle da poliomielite em diversos
países, esta se tornou a principal causa de paralisia flácida aguda no ocidente. Há, ainda, associação
com outros vírus, como o Vírus Epstein-Barr, Citomegalovírus, Herpes-Zóster, Hepatite, e o vírus da
imunodeficiência humana (HIV). Recentemente, tem sido evidenciado uma forte associação da SGB
com a infecção com os vírus da dengue, Chikungunya e zika. No Brasil, os estudos apontam para o
surgimento do vírus da dengue no meado dos anos 1980, ao passo que a zika e o chikungunya tenham
surgido entre 2014 e 2015. Estudos com o zika vírus evidenciaram surtos na Micronésia, em 2007,
com aumento da incidência de casos de SGB após tal período, e o mesmo ocorrendo na Polinésia
Francesa, em 2013, e no Brasil, em 2015. Neste último, com destaque ao estado da Bahia, que teve o
maior número de internações (em 7 meses, foi registrado um aumento de 66% de novos casos de SGB
se comparado a mesma época entre 2008 e 2014). É importante lembrar que a documentação da
circulação no zika vírus no Brasil foi documentada pela primeira vez também na Bahia.
A doença costuma surgir de modo progressivo nos 30 primeiros dias, seguida por uma fase estável,
com sequente melhora clínica lenta (que pode levar meses). O quadro clínico da doença costuma
iniciar com paralisia flácida, hipo ou arreflexia, que começa nos membros inferiores e ascende aos
superiores e tronco. É um quadro motor mais intenso distalmente nos membros, e simétrico. Pode
também acometer nervos sensitivos, provocando parestesias e disestesias. É possível ainda haver
comprometimento de nervos cranianos, sendo mais comum o acometimento do VII nervo (nervo
facial), promovendo paralisia da musculatura da face. Acometimento do sistema nervoso autônomo é
menos frequente, mas pode ocorrer, se manifestando com: hipertensão, arritmias, sudorese,
incontinência urinária e íleo adinâmico.
O estudo do líquor irá depender da fase em que se encontra a doença. Nos primeiros dias, é comum
o exame não apresentar alterações. Contudo, nos dias que se seguem, surgem elevações nos níveis de
proteína (proteinorraquia), que dura quase 1 mês, aproximadamente, com contagem celular normal
(dissociação proteinocitológica). Esse elemento é fundamental na diferenciação da SGB de outras
polineuropatias periféricas motoras.
A eletroneuromiografia é um exame de alta sensibilidade e espeficificade para a SGB. Seus
achados comuns na doença são: bloqueio de condução multifocal, e redução da velocidade de
condução nervosa, além de ondas F ausentes e latência distal prolongada. Com isso, o exame
neurológico completo, o estudo do líquor e a eletroneuromiografia são elementos importantes para o
diagnóstico da doença. Lembrando que a ressonância magnética, embora possa apresentar alterações
como espessamento difuso de raízes nervosas, não possui achados específicos ou importantes que
possam auxiliar no diagnóstico. Quando presentes, achados à ressonância devem ser considerados para
o diagnóstico de outras doenças.
• Ataxia, arreflexia e
oftalmoplegia
• Características de
4.Síndrome de MillerFisher desmielinização de • Deficit de força muscular
nervos periféricos progressiva
• Comum disautonomia
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed. São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 4. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência. 2. ed. São Paulo: Atheneu,
2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo: Manole, 2003.
6. DUUS, Peter. Topical Diagnosis in Neurology. 4. ed. New York: Thieme, 2005.
7. Tratado de Neurologia. Sociedade Brasileira de Neurologia.
8. ROCHA, M. S. G., BRUCKI, S. M. D., CARVALHO, A. A. de S., LIMA, U. W. P. Epidemiological features of Guillain-
Barre Syndrome in São Paulo, Brazil. Arquivos de Neuropsiquiatria. Pag. 33 – 37. 2004.
9. MALTA, J. M. A. S. et al. Síndrome de Guillain-Barré e outras manifestações neurológicas possivelmente relacionadas à
infecção pelo vírus Zika em municípios da Bahia, em 2015. Epidemiol. Serv. Saúde. Pag 9-18. Brasília: jan-mar, 2017.
10. MOORE, K. L. PERSAUD, T. V. N. TORCHIA, M. V. Embriologia Clínica. 8. Ed. São Paulo: Elsevier, 2008.
Imagens
1. COSTA, Valéria C. I. Anatomia Geral Humana: Apostila para fins didáticos. Ribeirão Preto: 2008.
2. GARTNER, Leslie P; HIATT, James L. Tratado de histologia. 3 ed.Trad. Thaís Porto Amadeu. Rio de Janeiro: Elsevier,
2007. Pag. 87-111.
3. GARTNER, Leslie P; HIATT, James L. Tratado de histologia. 3 ed.Trad. Thaís Porto Amadeu. Rio de Janeiro: Elsevier,
2007. Pag. 87-111.
4. GARTNER, Leslie P; HIATT, James L. Tratado de histologia. 3 ed.Trad. Thaís Porto Amadeu. Rio de Janeiro: Elsevier,
2007. Pag. 87-111.
5. MOORE, K. L. PERSAUD, T. V. N. TORCHIA, M. V. Embriologia Clínica. 8. Ed. São Paulo: Elsevier, 2008.
6. Blog Embriologia do Sistema Nervoso. Disponível em <https://embriologiasistemanervoso.wordpress.com/encefalo/>,
Acesso em 17 de outubro de 2018.
7. RIBAS, G. C. Applied Cranial-Cerebral Anatomy. 1a Ed. Cambridge University Press. 2018.
8. Portal FAMEMA: Disciplina de Embriologia Humana. Disponível em
<http://www.famema.br/ensino/embriologia/sistemaneurologico2.php>, Acesso em 17 de outubro de 2018.
9. MOORE, K. L. PERSAUD, T. V. N. TORCHIA, M. V. Embriologia Clínica. 8. Ed. São Paulo: Elsevier, 2008.
CONFERÊNCIAS
Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida sobre os assuntos abordados nesse capítulo!
Capítulo 2
POTENCIAL DE REPOUSO, GRADUADO E DE
AÇÃO
1. Caso Clínico
Mais um dia tranquilo do Dr. Gomes no Hospital do Santo Livro. Em atendimento no seu
ambulatório de epilepsia, chega dona Juliana, uma paciente de 24 anos, vendedora, solteira,
acompanhada pela mãe, para primeira consulta, encaminhada pelo clínico geral da unidade de saúde
de sua cidade. Refere que o mesmo a encaminhou por conta de “convulsões” que teve na infância e
que permanecem até hoje.
Juliana conta que, aos 11 anos, quando estava em casa assistindo televisão, se dirigia à cozinha
quando iniciou aumento da tonicidade dos músculos do tórax, abdome e extremidades, com
enrijecimento dos 4 membros. Refere que não se recorda de mais detalhes do ocorrido, e que só se
lembra de acordar horas após deitada no chão. A mãe, que estava presente, conta que a paciente
iniciou quadro de hipertonia dos membros, com queda súbita da altura, durando cerca de 10 minutos.
Em seguida, cursou com tremores nos 4 membros, que duraram cerca de 5 minutos. No momento, a
mãe havia pedido ajuda ao vizinho, que era médico, que lhe orientou que apenas afastasse objetos
próximos a mesma, e esperasse o evento cessar espontaneamente. Ao cessar, foi levada para consulta
com clínico da cidade, que solicitou uma ressonância magnética para afastar possíveis causadores da
crise. Refere que a mesma não apresentou alterações.
Com retorno agendado para o mês seguinte, Juliana referiu que apresentou mais 8 episódios no
intervalo entre as consultas. Seguiu em acompanhamento com o clínico, que iniciou tratamento com
Carbamazepina 300mg a cada 8 horas. Refere que a frequência após início do tratamento diminuiu
para 3 por ano, geralmente após períodos de insônia. O clínico havia recomendado que fizesse
acompanhamento com o neurologista, mas por falta de tempo acabou negligenciando a busca. Há 2
meses, no entanto, apresentou 4 episódios de crise convulsiva tônico-clônica generalizada, e o clínico
então lhe encaminhou ao neurologista para prosseguir com o tratamento adequado.
Ao exame físico, Juliana estava vigil, orientada, contactante, com pupilas isocóricas e
fotorreagentes, sem alterações de mímica facial, movimento ocular extrínseco preservado. Negou
alterações auditivas e visuais no momento, mas refere que “sente” que a crise irá ocorrer quando nota
escotomas ou com parestesias em membros superiores. Nega tontura ou vertigem. Força muscular
preservada nos 4 membros, grau 5, com tônus preservado, porém refere que, após a crise, acorda com
leve fraqueza nos membros inferiores e superiores. Reflexos tendinosos presentes e simétricos.
Sensibilidade tátil e dolorosa preservada. Sem alterações de marcha ou sinais de rigidez de nuca.
Dr. Gomes, então, solicitou um eletroencefalograma (visando identificar o padrão do
comportamento elétrico das células nervosas do encéfalo), glicemia de jejum, e eletrólitos (sódio,
potássio e cálcio), para buscar uma possível causa para o quadro, que acredita ser de um paciente
com crises epilépticas ainda a esclarecer. O estudante de medicina João, que estava acompanhando a
consulta, indagou o motivo dos exames, visto que a epilepsia é uma doença de causa desconhecida.
Dr Gomes então respondeu: “Justamente, o objetivo é afastar aqui as possíveis causas para a doença
(como uma hipoglicemia, distúrbio hidroeletrolítico, como hiponatremia, hipocalemia, hipocalcemia,
entre outros), pois havendo uma, podemos tratar e curar a paciente. Sem causa, teremos que manejar
os anticonvulsivantes para tentar diminuir ou até mesmo cessar esses episódios de crises
epilépticas!”. Aproveitando o momento, Dr. Gomes indagou: “João, como que age a carbamazepina
no neurônio, e como que ela é útil para tratar epilepsias?”. João, por não compreender bem, ficou
com a pendência de estudar um pouco sobre a carbamazepina, e relembrar alguns aspectos
importantes da geração e condução do potencial de ação, já que este é importante para explicar não
somente a ação do fármaco, mas entender parte do processo fisiopatológico da epilepsia, a principal
suspeita do Dr. Gomes.
• “Eletroneuromiografia”
• “Carbamazepina”
• “Epilepsia”
• “Crise convulsiva”
• “Distúrbios hidroeletrolíticos”
1.2. Termos Chave
• “hipertonia”
• “potenciais de ação”
• “velocidade de condução”
• “geração do impulso nervoso”
• “tremores nos membros superiores”
• “escotomas”
1.3. Objetivos
2. O POTENCIAL DE REPOUSO
Os sinais elétricos são os responsáveis por propagar as informações de forma rápida a longas
distâncias pelas células nervosas. Para tal, é necessário haver diferença de potencial responsável por
estimular o fluxo de íons de uma face da membrana à outra. Mas, quando não há o impulso nervoso,
é correto afirmar que não há potencial na membrana? A resposta é não! Existe um potencial na
membrana em repouso, que tem extrema importância na fisiologia do impulso nervoso.
Existem canais iônicos específicos envolvidos na manutenção do potencial de repouso da
membrana nervosa. Alguns estão a todo momento abertos (canais de vazamento), e outros se abrem
apenas com alteração da voltagem na membrana (canais voltagem-dependente, ou com portão). Estes
regulam a todo instante o potencial da membrana quando ocorre algum desequilíbrio iônico. O
objetivo: manter a membrana apta a propagar um potencial de ação (que veremos adiante) a qualquer
momento.
No repouso, a membrana nervosa está rodeada de íons negativos e positivos, com excesso de
cargas positivas na face externa da membrana, e de cargas negativas na face interna. Basicamente,
ocorre maior concentração de sódio e cloro na face da membrana externa, e potássio e outros ânions
orgânicos na face da membrana interna. A todo instante ocorre fluxo passivo desses íons pela
membrana, de modo a manter tal concentração. Essa diferença é a grande responsável pelo potencial
de membrana que, no repouso, é denominado potencial de repouso.
Para que o potencial de repouso se mantenha, às custas de fluxo relativamente livre dos íons, é
importante lembrar que: além do gradiente de concentração, as cargas elétricas também influenciam
no fluxo iônico. Desse modo, um excesso de carga positiva em um lado da célula e negativa no outro
pode estimular a atração entre os íons. Ou seja, além da força vinda de um gradiente químico, há
ainda uma força vinda da diferença de potencial elétrico. Quando isso ocorre, o fluxo dependerá,
agora, da permeabilidade da membrana a determinado íon. Se, por acaso, houver excesso de canal de
um determinado íon, este tenderá a fluir a favor do gradiente, e em seguida a favor da atração elétrica
a que está submetido. Porém, pense o seguinte: caso isso ocorresse, haveria uma redução do potencial
de repouso, se aproximando do potencial do sódio (+55 mV), o que poderia interferir na condução do
impulso nervoso (que veremos adiante). Além disso, de modo geral, as células nervosas têm
permeabilidade não somente ao potássio, mas também ao cloro e ao sódio. E como então conseguem
manter a membrana polarizada? Simples: existe ainda um fluxo ativo contrário a todo esse
movimento passivo, através da bomba de sódio e potássio (Bomba Na-K-ATPase). Ela promove a
saída do sódio e entrada do potássio, contra seus respectivos gradientes químicos, preservando a
polarização da membrana. Conclusão: sem a bomba e seu transporte ativo, a célula estaria em um
estado não excitável, o que prejudicaria o desenvolvimento e propagação do potencial de ação!
Para mensurar o potencial de membrana, diversos estudos se utilizam de microelétrodos
colocados nas faces interna e externa da membrana nervosa. Ao ser realizado em uma membrana em
repouso, considerando na face externa o potencial como zero, a diferença de potencial entre a
membrana interna e externa é registrada entre -65 a -70 milivolts (mV). Isso ocorre por conta da
distribuição iônica inalterada. Quando ocorre fluxo de íons pelos canais, ocorre redistribuição deles
nas faces interna e externa da membrana, ocasionando a mudança desse potencial. E isso ocorre a
todo momento. Contudo, na ausência de estímulo, esse fluxo passivo gera alterações de potencial
muito pequenas, com ínfimo impacto no potencial de repouso. Porém, caso este fluxo leve a uma
importante redução da separação entre as cargas, ou aumento do potencial (tornando menos
negativo), tem-se o fenômeno da despolarização. O fenômeno contrário, com aumento da separação,
e redução do potencial (tornando mais negativo), se chama hiperpolarização.
3. O POTENCIAL GRADUADO
Ao haver alteração desse potencial ocorre o processo de despolarização, quando ocorre alteração
para valor mais positivo que o de repouso, ou de hiperpolarização, quando se altera para valor mais
negativo. Contudo, nem sempre um estímulo provocará um potencial de ação. Em geral, um estímulo
altera o potencial de membrana, mas em pouco valor. Assim, os pulsos gerados são de pequena
amplitude, e se dissipam conforme se propagam, não persistindo até concluir o trajeto. É a chamada
condução passiva.
À medida que a corrente de estímulo aumenta em intensidade, a resposta da membrana também
se altera, já que dessa vez houve estímulo suficiente para a abertura de canais iônicos (que será
detalhado mais a frente). E essa abertura altera a voltagem da membrana de maneira mais aguda, pois
potencializa a resposta inicial da membrana. Assim, temos a resposta local, ou potencial graduado.
Porém, ainda assim, esta resposta não consegue alterar o potencial da membrana para um valor mais
próximo do limiar, e com isso também não consegue sustentar a alteração ao ponto de propagar de
modo seguro pela célula, garantindo que haja condução do potencial.
Porém, quando o estímulo é capaz de alterar o potencial de membrana para próximo do limiar,
temos uma resposta mais intensa e segura da membrana. Esta resposta é conhecida como
supraliminar. E, assim, ocorre o desencadear do potencial de ação.
4. O POTENCIAL DE AÇÃO
O Potencial de Ação é o sinal que leva a informação ao Sistema Nervoso. Ele também é
chamado de pico de potencial, ou potencial em ponta, ou espiga, ou impulso nervoso ou
descarga.
Ele é definido como uma rápida inversão da polaridade da célula, em que no repouso está com o
citoplasma com carga negativa em relação ao meio extracelular. Assim, no potencial de ação, o lado
citoplasmático da membrana está mais positivo que o lado externo. Ele é um evento momentâneo e
rápido, e para isso, possui uma característica fundamental: ele não diminui ou perde intensidade ao
longo da transmissão – é constante.
O tamanho e a duração são similares entre os potenciais de ação. Com isso, o que especifica a sua
mensagem é a frequência e o padrão.
VAMOS PENSAR?
O Código Morse é um tipo de comunicação utilizada por tripulantes navais para trocar informações
quando não possuem redes de telefones a sua disposição, se utilizando de pulsos emitidos por batidas, ou
seja, a quantidade de pulsos por um determinado tempo depende da quantidade de batidas que é feita no
equipamento. Com isso, uma batida no instrumento significa uma mensagem, mas três batidas em 10
segundos significam outra, e cinco batidas em 2 segundos significam outra. Outro exemplo é o detector de
metal visto em desenho. Ele, quando percorre o chão sem metal, quase que não há bip. Já quando percorre
uma área com muito metal, o número de bips aumenta por segundo, ou seja, a frequência aumenta,
identificando que há uma área com muito mais metal que a área anterior. O que ele quis dizer? Que a
informação sobre quantidade de metal no chão mudou.
O Potencial de Ação possui propriedades que são universais, ou seja, os seres vivos com sistema
nervoso desenvolvido possuem o potencial de ação com as mesmas características. Em estudos com
osciloscópios, foram identificadas etapas importantes. E seu objetivo era tentar medir um potencial
de ação.
4.1. ETAPAS
A fase ascendente consiste na fase de despolarização da membrana, onde atinge o pico de
+40mV.
A fase descendente consiste na repolarização de membrana, onde sua face intracelular volta a
ficar mais negativa que a face extracelular, e que o potencial de repouso (-65mV), ou seja, mais
negativo que isso.
A fase de pós-hiperpolarização consiste na fase de restauração desse potencial de repouso.
Imagem 2: Gráfico ilustrando as fases do potencial de ação. Em verde, o potencial de repouso. Em
laranja, destaca-se a despolarização, e sua fase ascendente, após o estímulo promover uma
despolarização para além do seu limiar (em tracejado). Em roxo, tem-se a repolarização, ou a fase
descendente do potencial de ação, tendo, em seguida, a hiperpolarização, em vermelho, onde o
potencial alcança níveis abaixo do nível de repouso. Por fim, em verde, o potencial retoma os seus
valores de repouso.
VAMOS PENSAR?
Uma pessoa se cortou ao preparar a carne para um churrasco. Primeiro, a lâmina penetra a pele, depois
distende membrana das fibras nervosas da mão, e promove abertura de canais de sódio por essa distensão.
Essa abertura provoca entrada de sódio por conta da carga negativa do citoplasma, e isso despolariza a
face interna da membrana. Se por acaso essa abertura for capaz de permitir entrada de sódio suficiente
para despolarizar a membrana até um nível crítico (ou limiar, como é conhecido), então, ocorre a geração
de um potencial de ação. Por isso que um potencial de ação também é conhecido como “tudo ou nada”.
É bom lembrar que a despolarização pode ser alcançada tanto pelo influxo de íons sódio em
canais ativados por neurotransmissores, bem como por aplicação de corrente elétrica por
microelétrodos.
A taxa de geração de potencial de ação depende da magnitude da corrente despolarizante, e a
frequência de disparo vai refletir a magnitude da corrente.
Contudo, há um limite para a geração de um potencial de ação. Ao atingir a frequência máxima
de 1000Hz, ele não consegue gerar um novo potencial por cerca de 1 milissegundo. Esse tempo é o
que nós chamamos de Período Refratário Absoluto.
Por outro lado, existe outro período, em que ainda é possível gerar potencial de ação, porém
requer maior intensidade da corrente geradora que o normal. Esse é o chamado Período Refratário
Relativo.
4.2 CONCEITOS BÁSICOS
O potencial de ação consiste em uma redistribuição de carga na membrana, onde a despolarização
consiste no influxo de sódio, e a repolarização no efluxo de potássio. Basta lembrar dos conceitos de
potencial de repouso, descritos anteriormente. Para se entender a teoria, porém, é preciso considerar
um neurônio ideal para ser estudado. Este neurônio possuiria uma membrana com canais de sódio, de
potássio e uma bomba sódio-potássio, apenas. E essas bombas funcionariam a todo momento.
Suponha que o potássio está cerca de 20 vezes mais concentrado dentro da célula do que fora, e o
sódio 10 vezes mais concentrado fora do que dentro. Assim, já é possível se constituir um gradiente
de concentração, correto? E como são cargas iônicas, tal gradiente também gera uma diferença de
potencial (ddp). Consideremos o potencial de repouso do sódio (ENa) estima-se em +62mV, e o do
potássio (EK), -80mV.
Em repouso, os canais de sódio e potássio estão fechados. E o potencial da membrana (Vm),
nesse momento, está em 0mV. Então, primeiro, abriremos os canais de potássio. Com isso, a ddp
entre a membrana e o potássio seria: – 80 - 0. Ou seja, a ddp está, agora, em - 80mv. Com essa
diferença, os íons potássio fluem para fora da célula, até que o interior atinja um potencial que esteja
em equilíbrio com o da membrana, ou seja, o potencial de membrana se aproxime dos - 80mV, onde
pode-se observar: Vm = EK. Obviamente, esse “potencial de equilíbrio” está negativo.
VAMOS PENSAR?
Se aplicada a lei de Ohm, pode-se dizer então que a corrente iônica é igual ao produto da ddp pela
condutância. Lembrando que: o número de canais abertos é proporcional à condutância, e o movimento
dos íons correspondem a uma corrente. Para que haja uma corrente, é preciso que haja condutância, ou
seja, canais abertos, e uma ddp, ou seja, o potencial de membrana diferente do potencial dos íons. Se não
há canais abertos, a condutância é zero. Se o potencial de membrana se equilibra com o do íon, então a
ddp é zero. Com isso, não há corrente iônica.
Os íons sódio, por sua vez, estão concentrados do lado de fora da célula, e tal concentração fará
com que, quando os canais de sódio se abram, uma força impulsora grande aja sobre os íons, fazendo
com que entrem na célula. Lembrando que essa força vem da ddp estabelecida, já que agora o
potencial de membrana está em -80, e o potencial de sódio é +62mv. Ou seja, a ddp estabelecida é:
-80 –(+62), que dá -142mV. Se por acaso a permeabilidade ao sódio se alterar, ou seja, os canais se
abrirem, aí então teremos um fluxo iônico, ou seja, uma corrente de sódio.
Acontece que a permeabilidade ao sódio é bem maior que a do potássio nessa membrana, e com
isso a despolarização tende a trazer o potencial para mais próximo do potencial do sódio (que é +62)
do que o do potássio (que é -80), fazendo com que a membrana, então, fique positiva, e com isso
ocorra a inversão da polaridade que antes estava estabelecida. Assim, ocorre a despolarização da
membrana.
DETALHE!
4.4 PROPAGAÇÃO
Se o axônio for suficientemente despolarizado, a ponto de alcançar o limiar, ocorre o início do
potencial de ação. O influxo de carga positiva despolariza um segmento à frente, até gerar potencial
de ação. Assim, segue seu trajeto, até as terminações axônicas, onde irá desencadear a transmissão
sináptica (Capítulo 3). É bom lembrar que o fluxo do potencial é unidirecional, ou seja, não volta
pelo caminho percorrido por conta daquele retardo dos canais de sódio que foi abordado neste
capítulo.
Imagem 4: Processo de propagação do potencial de ação: a entrada de íons sódio com consequente
saída de potássio, deflagrando a despolarização, e movimento oposto logo após, com a reentrada de
potássio e saída de sódio (via transporte ativo), proporcionando a repolarização da membrana. (4)
O potencial de ação necessariamente flui de maneira uniforme? A resposta é não! Ele pode ser
propagado de maneira mais lenta ou mais rápida, a depender de quão longe a despolarização vai
abranger o axônio. Ou seja, quão maior for a área que a despolarização alcança, mais rápido o
potencial é propagado.
VAMOS PENSAR?
Pensa assim: as cargas podem fluir por dois caminhos: tanto pelo interior do axônio, como pela membrana
axonal. Se o axônio é muito estreito, e muitos poros estiverem abertos na membrana, o fluxo será maior
na membrana. Agora, se o axônio for muito largo, e tiver poucos poros abertos na membrana, o fluxo será
pelo próprio axônio. Com isso, se um canal mais distante é aberto, o íon flui pelo axônio até chegar nesse
canal. Ou seja, quão mais longe a corrente propagar no axônio, mais distante o potencial de ação
conseguirá despolarizar à sua frente, e assim, mais rápido será o potencial de ação. Se uma mangueira tem
furos no cabo, concorda que quanto mais furos tiver, menos água cai da mangueira? Pois a maior parte vai
estar saindo por esses furos.
VAMOS PENSAR?
Pense que na mangueira com furos, eu coloquei uma fita isolante em alguns pontos da mangueira, e isso
tapou muitos furos. Com essa técnica, a água passa a correr mais forte e veloz na mangueira. Essa fita
isolante é a tal bainha de mielina, envoltos de membrana das células de Schwann e oligodendrócitos
(Capítulo 1). Ela coíbe o fluxo de íons pela membrana, induzindo fluxo dentro do axônio. Mas entre elas
há quebras, se assim podemos dizer, onde os íons fluem pelas membranas, para despolarizar e abranger
mais canais, provocando passagem do potencial de ação. Esses são os famosos nodos de Ranvier. Como a
despolarização, nesses casos, é induzida nesses nodos apenas, a condução é chamada de saltatória,
justamente por conta desses “saltos”, se assim podemos dizer, do potencial de ação pelo axônio. Isso
acelera o potencial, já que se não fossem por esses nodos, eles teriam que ir despolarizando canal por
canal, em vez precisar somente despolarizar um canal mais distante.
E quanto aos dendritos, e o corpo celular? Via de regra, eles não geram potencial de ação
causados pelo sódio, já que possuem poucos canais na membrana de sódio voltagem-dependente.
Tais canais aparecem em alto número a partir do chamado cone axonal, que por ter essa riqueza
desses canais é tido como a zona de gatilho, ou de disparo, de onde irá desencadear um potencial de
ação no axônio se o estímulo conseguir ativar o número suficiente de canais.
De modo resumido: o estímulo sináptico despolariza dendritos ou o corpo celular, de modo que se
essa despolarização atingir limiar nas membranas do cone, aí sim haverá o desencadear de um
potencial de ação.
5. ENTENDENDO O CASO...
A epilepsia é uma doença vinda da predisposição do cérebro do indivíduo a gerar crises
epilépticas recorrentes, e das suas consequências neurobiológicas e cognitivas. Não tem causa
definida, e ocorre basicamente por conta do desvio no equilíbrio entre o processo de excitação e
inibição dos neurônios no sistema nervoso central. Os fatores que promovem tal desequilíbrio são
vários, mas um fator que desencadeia a crise em um indivíduo pode não promover o mesmo em
outro, visto que há também a susceptibilidade diferente para ambos. Esse elemento tem sido foco de
estudo atualmente, visto que tem base genética pouco compreendida. Contudo, existem afecções
diversas que podem também transformar um tecido nervoso normal em um anormalmente
hiperexcitável, desencadeando, assim, crises epilépticas. Neste caso, não se classifica o paciente
como portador de epilepsia, mas sim de crises epilépticas. Esta, por sua vez, é definida como um
evento paroxístico, por atividade neuronal anormal e excessiva no cérebro, vinda de um fator casual,
que pode ser: infecções, tumor cerebral, hemorragias, hipoglicemia, distúrbios hidroeletrolíticos,
entre outros. Esse evento ocorre por conta do fenômeno da epileptogênese, que consiste na
transformação de um grupo de neurônios normais em células hiperexcitáveis.
Pode ser classificada de acordo com a etiologia e suas características: crises parciais (focais),
onde as manifestações indicam a ativação de uma região em um hemisfério cerebral apenas, podendo
ser restrita ou ampla; e crises generalizadas, onde as manifestações indicam que houve ativação de
regiões em ambos os hemisférios. As crises parciais ainda podem ser classificadas como: simples,
quando a consciência é mantida, e complexas, quando há perda da mesma. É comum o estímulo
surgir em uma região específica, e o mesmo se propagar pelo cérebro, deslocando o foco de geração
do estímulo, proporcionando também uma mudança na manifestação clínica, de acordo com o local
acometido.
Segundo a ILAE (2017), as crises epilépticas podem ser classificadas como: de início focal; inicio
generalizado; início desconhecido e não classificadas. As de início focal podem se subdividir em
crises de início motor (automatismos, atonias, clonias, espasmos, mioclonias, espasmos e
hipercinese) e de início não motor (autonômica, parada comportamental, cognitiva, emocional e
sensorial). As de início focal podem ainda evoluir para fase tônico-clônica generalizada. Já as crises
de início generalizado se dividem em motoras (tônico-clônica, clônica, tônica, mioclônica,
mioclônica-tônico-clônica, mioclono-atônica, espasmos e atônicas) e não motoras (típicas, atípicas,
mioclônicas e mioclonias palpebrais). E as de início desconhecido ainda são classificadas como
motoras (tônico-clônica e espasmos) e não-motoras (parada comportamental). Com isso, percebe-se
que a classificação não deve apenas levar em conta a base anatômica, mas também a base
comportamental.
O processo fisiopatológico consiste em um desequilíbrio, com redução da inibição, e aumento da
excitação, podendo ser explicado pela redução do numero de receptores para o neurotransmissor
GABA nas membranas sinápticas. A atividade epiléptica pode surgir em uma região específica do
córtex, e em seguida se propagar para regiões vizinhas. Com isso, o episódio possui duas etapas: a
fase de iniciação e a de propagação. A fase de iniciação ocorre com potenciais de ação de alta
frequência em salvas, associado a uma sincronização entre os neurônios envolvidos. As salvas,
quando ocorrem em um grupo razoável de neurônios, proporciona a descarga em ponta na onda do
EEG. Nessa fase ocorre uma despolarização longa por conta da entrada de cálcio, que induz a
abertura dos canais de sódio voltagem-dependente, propiciando entrada de sódio e geração de
potenciais de ação repetitivos. Em situações normais, nesse momento ocorre um estado
hiperpolarizante mediado por receptores do ácido-gama-aminobutírico (GABA) e canais de potássio.
A fase de propagação normalmente é inibida pela hiperpolarização da membrana e por neurônios
inibitórios próximos. O aumento do potássio extracelular, contudo, reduz estado de hiperpolarização
em células nervosas vizinhas, facilitando a sua despolarização e a das células acometidas. Ocorre
também acúmulo de cálcio nas terminações sinápticas, induzindo maior liberação de
neurotransmissores, propiciando maior estímulo a novas células nervosas. Tais eventos levam ao
recrutamento de novas células nervosas, que em quantidade suficiente, propaga atividade epiléptica
para regiões vizinhas, podendo levar a áreas mais distantes, ainda por contiguidade.
Os fatores que regulam a excitabilidade neuronal podem ser classificados como: intrínsecos,
quando incluem alterações de condução nos canais iônicos, ou padrões de resposta dos receptores de
membrana, e expressão de proteínas; e extrínsecos, quando envolvem modificações na quantidade ou
tipo de neurotransmissores na sinapse, modulação dos receptores, tendo aqui participação dos
astrócitos. A epileptogênese não possui uma explicação bem definida, mas acredita-se que ocorra
durante o processo de desenvolvimento do sistema nervoso.
Os pacientes com suspeita de um distúrbio epiléptico têm indicação da realização de um estudo
eletrofisiológico. Atividade rítmica repetitiva e anormal, com início e fim distintos, estabelecem
diagnóstico no paciente com suspeita de epilepsia. A sua ausência não exclui o diangóstico, visto que
pode ocorrer de os eletrodos não captarem determinada região que deflagre uma crise focal. Nas
crises tônico-clônica-generalizadas o EEG sempre apresenta alterações. O ideal é que o estudo seja
feito durante a crise, porém nem sempre isso é possível. Assim, se indica a realização da
monitorização contínua por períodos longos. Embora em muitos casos o EEG não apresente
alterações específicas da doença, ele é muito útil para classificar os distúrbios ou selecionar fármacos
anticonvulsivantes. Pode ainda apresentar alterações em pacientes assintomáticos que contribuem
para o diagnóstico.
O registro de atividade epileptiforme no período interictal ocorre pela soma dos potenciais pós-
sinápticos, inibitórios e excitatórios de um grupo razoável de neurônios. A despolarização na
membrana do corpo celular leva ao registro da atividade espicular no EEG. A hiperpolarização que
vem em seguida limita a duração, mostrando uma onda lenta. A atividade epileptiforme tem algumas
características: possuem ascenção aguda e descida mais lenta, conferindo aspecto assimétrico entre
os dois lados, no geral sendo bifásica ou trifásica, e com duração diferente das ondas de base, seja
mais alta ou mais baixa. Em adultos, deve-se sempre ser solicitada TC ou RNM de crânio para
afastar causas secundárias. Em crianças, deve ser feito estudo de imagem quando a atividade
epiléptica não for elucidada.
O uso de fármacos antiepilépticos tem como objetivo prevenir as crises com o mínimo de efeitos
adversos possíveis. Para a seleção adequada, é preciso classificar as crises. Está indicado o uso em
indivíduos com crises recorrentes sem causa conhecida ou com causas irreversíveis. Pode ser usado
também em indivíduos com tumores ou infecções que apresentem crises, na vigência do tratamento
da doença de base, como prevenção de novos episódios. Os mecanismos de ação são diversos, e
incluem: inibição do potencial de ação vindo do canal de sódio voltagem-dependente e seu estímulo
repetitivo (carbamazepina); inibição dos canais de cálcio voltagem-dependente (fenitoína,
gabapentina, pregabalina); aumento da ação do glutamato (lamotrigina, topiramato); e
potencialização dos receptores de GABA (benzodiazepínicos e barbitúricos) ou aumento da
disponibilidade do GABA (ácido valproico). Para as crises tônico-clônicas, o ácido valproico e o
topiramato são drogas de primeira linha, e nas crises parciais, são fármacos de primeira linha:
carbamazepina, fenitoína e o mesmo ácido valproico. Em falha do tratamento farmacológico, é
indicada cirurgia, podendo ser: ressecção do lobo temporal, lobectomia frontal, hemisferectomia
(indicada na síndrome de Rasmussen e Struge-Weber), entre outros.
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed. São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 4. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência. 2. ed. São Paulo: Atheneu,
2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo: Manole, 2003.
6. Tratado de Neurologia. Sociedade Brasileira de Neurologia.
7. LONGO, et al. Medicina Interna de Harrison. Décima-oitava edição. Volume 2. São Paulo: Artmed, 2013.
Imagens
1. Portal Toda Matéria. Transmissão do Impulso Nervoso. Disponível em <https://www.todamateria.com.br/transmissao-do-
impulso-nervoso/>, Acesso em: 17 de outubro de 2018.
2. Portal Brainy. Potencial de Ação. Disponível em: <http://neuroibb.wixsite.com/brainy/potencial-de-ao>. Acesso em: 14 de
fevereiro de 2019.
3. Como Neuronios Conversam Uns com os outros. Disponível em <https://netnature.wordpress.com/2017/06/10/como-
neuronios-conversam-uns-com-os-outros-comentado/>, Acesso em: 17 de outubro de 2018.
4. Só Biologia. O Caminho do Impulso Nervoso. Disponível em
<https://www.sobiologia.com.br/conteudos/FisiologiaAnimal/nervoso3.php>, Acesso em: 17 de outubro de 2018.
CONFERÊNCIAS
1.1. Termos-chave
• “Neurotransmissores”
• “Receptores”
• “Fraqueza nas pernas”
• “Flacidez de musculatura”
• “Bloqueia a transmissão do impulso nervoso”
• “Comunicação entre os neurônios”
1.2. Termos desconhecidos
• “Oftalmoplegia”
• “Ptose Palpebral”
• “Disfagia”
• “Dispneia”
• “Disartria”
1.3. Objetivos
• Compreender o processo de transmissão do impulso nervoso (as
sinapses)
2. SINAPSES ELÉTRICAS
Imagem 2: Na imagem acima, as conexinas (6 ao todo - letra d) unidas para
formar o conéxon (as letras a, b e c), que, quando se unem (um de cada
membrana) formam as junções comunicantes (letra h). (2)
3. SINAPSES QUÍMICAS
4. CLASSIFICAÇÕES
Existem vários tipos de sinapse que podem diferir pela parte do neurônio
que serve de contato pós-sináptico ao terminal axonal, ou seja, pela parte do
neurônio que recebe o estímulo sináptico. Caso a membrana pós-sináptica
seja a de um dendrito, chamamos de sinapse axodendrítica; se estiver no
corpo celular, é axossomática; e se estiver em outro axônio, é axoaxônica.
Há ainda a possibilidade, em neurônios especializados, de que ocorra sinapse
entre dendritos. Essa é a sinapse dendrodendrítica.
As sinapses podem diferir também pelo tamanho e pela forma. Com base
no tipo de diferenciações de membrana pré e pós-sináptica, podem ser
classificadas em duas categorias:
5. PRINCÍPIOS
Quais os requisitos básicos para ocorrer uma sinapse?
É necessário que haja um mecanismo para produzir neurotransmissores
e empacotar eles em vesículas.
Precisa haver um mecanismo para derramar os neurotransmissores na
fenda em resposta a um estímulo pré-sináptico.
Precisa haver resposta elétrica ou bioquímica do neurotransmissor no
neurônio pós-sináptico.
Precisa haver remoção do neurotransmissor da fenda e, por fim, tudo tem
que ocorrer rapidamente.
5.1. Os Neurotransmissores
Hoje, sabe-se que os neurotransmissores se dividem três categorias: a dos
aminoácidos, das aminas, e dos peptídeos. As aminas e aminoácidos são
moléculas pequenas, que podem ser armazenadas em vesículas e liberadas
na fenda. Já os peptídeos são maiores, e são armazenados e liberados em
grânulos secretores.
Diferentes neurônios do SNC liberam diferentes neurotransmissores. Por
exemplo: Glutamato, GABA ou Glicina costumam mediar resposta rápida
em sinapses em geral. Já a Acetilcolina medeia transmissão sináptica rápida
em junções neuromusculares. E as formas mais lentas de transmissão são
mediadas por neurotransmissores das três categorias.
Agora, a transmissão química requer neurotransmissores sintetizados,
prontos para serem liberados. Para isso, existem diferentes formas de
produção. Os aminoácidos, por exemplo, são abundantes em todo o corpo;
não precisando ser produzidos, apenas captados e preparados para serem
liberados. Já o GABA e as aminas, por sua vez, são produzidos apenas pelos
neurônios que os liberem. Esses neurônios possuem enzimas especificas que
os sintetizam a partir de precursores. Essas enzimas envolvidas são
transportadas até o terminal axonal, onde ocorre a síntese.
As proteínas transportadoras levam os produtos para vesículas sinápticas.
E no caso dos peptídeos, são produzidos no corpo celular no retículo liso,
preparados no Complexo de Golgi, e transportados por transporte
axoplasmático até a terminação axônica.
E, para ocorrer a liberação de um neurotransmissor, é preciso haver a
chegada de um potencial de ação no terminal axonal, e a despolarização
nesse terminal provocar a abertura de canais de cálcio voltagem dependente
nas zonas ativas. O potencial de ação favorece a entrada dos íons cálcio, que
está em excesso normalmente fora da célula, e a entrada maciça de cálcio
induz liberação de neurotransmissores das vesículas sinápticas. A liberação
dessas vesículas é feita através da exocitose, que consiste na fusão de
membrana da vesícula com a membrana pré-sinaptica, provocando a saída
do neurotransmissor para a fenda. O mecanismo dessa relação, na verdade,
ainda é pouco compreendido, mas a velocidade de liberação sugere que as
vesículas já estejam atracadas com as zonas ativas.
Os grânulos secretores também passam por esse processo, mas
normalmente isso ocorre fora da zona ativa; por conta dessa distância dos
canais de cálcio, a liberação dos peptídeos dos grânulos não é induzida por
um potencial de ação. Ela requer rajadas de potencial de ação de alta
frequência. Ou seja, a liberação de peptídeos demora um pouco mais de
ocorrer do que os demais.
5.2. Os Receptores
Estando na fenda sináptica, o neurotransmissor necessita de algo que o
reconheça e provoque a sensibilização do outro componente da sinapse,
aquele que receberá o sinal. Ora, esta entidade que reconhecerá os
neurotransmissores são os receptores, que estão nas membranas pós-
sinápticas. E eles basicamente se dividem em: canais iônicos ativados por
neurotransmissores (ou ionotrópicos), e receptores acoplados à proteína G
(ou metabotrópicos).
Os canais iônicos ativados por neurotransmissores são proteínas
transmembrana, compostas por subunidades que juntas formam um poro,
que muda sua conformação quando um neurotransmissor se liga ao canal.
Essa mudança provoca abertura do poro. Não costumam ser tão seletivos
quanto os canais iônicos dependentes de voltagem. Mas, via de regra, se os
canais abertos forem permeáveis ao sódio, o efeito resultante será a
despolarização da membrana pós-sináptica, que altera o potencial, que estava
em repouso. Quando o neurotransmissor tende a levar o potencial de
membrana para mais próximo do limiar do potencial de ação, diz-se que tem
um efeito excitatório – ou seja, provoca a despolarização. Esse potencial de
membrana provocado pela despolarização que o neurotransmissor induziu é
chamado de Potencial Excitatório Pós-Sináptico (ou PEPS). Os principais
neurotransmissores envolvidos com PEPS são a Acetilcolina e o
Glutamato.
Mas, se os canais abertos forem permeáveis ao cloro, o efeito será a
hiperpolarização da membrana a partir do potencial de repouso, ou seja,
eles se tornam mais negativos ainda. Com isso, o neurotransmissor tende a
afastar o potencial de membrana do limiar do potencial de ação, sendo assim
dito que seu efeito é inibitório. Esse potencial de membrana provocado pela
hiperpolarização que o neurotransmissor induziu é chamado de Potencial
Inibitório Pós-Sináptico (ou PIPS). Os principais neurotransmissores
envolvidos com PIPS são GABA e Glicina.
Os receptores pós-sinápticos em sinapses excitatórias, na maioria, são
similares, com canais iônicos ativados por neurotransmissores para o íon
sódio. Porém, para haver inibição, os neurotransmissores, que são
normalmente a GABA e a Glicina, ativam canais iônicos permeáveis ao íon
cloro. Isso provoca direcionamento do potencial de membrana para próximo
do potencial de cloro. Com isso, ocorre a formação dos PIPS, enquanto o
potencial de membrana for diferente do de cloro, garantindo a manutenção
do fluxo de íon cloro.
Há ainda os receptores acoplados à proteína G, que tem uma ação de
início mais lento, porém mais duradouro e diversificado. Envolve,
basicamente a ligação ao receptor na membrana pós-sináptica, onde ele vai
ativar a proteína G, que se move pela face intracelular, e ativam proteínas
efetoras. Essas proteínas podem ser outros canais iônicos (chamados de
canais iônicos ativados pela proteína G), ou enzimas que produzem segundos
mensageiros. Os segundos mensageiros podem ativar enzimas que regulam
canais iônicos ou enzimas que alteram o metabolismo celular. Ou seja, os
receptores acoplados a proteína G podem, diretamente ou indiretamente, agir
sobre canais iônicos também.
E há um outro tipo de receptores, em que estão na membrana pré-
sináptica, e são sensíveis aos neurotransmissores liberados na fenda. Eles
costumam ser receptores acoplados à proteína G, e estimulam a formação de
segundos mensageiros, onde tem efeitos variados, mas o mais comum é a
inibição da liberação dos neurotransmissores, ou de sua síntese. São
chamados de autorreceptores. Já dá para ter uma ideia do que sejam pelo
nome: eles permitem uma autorregulação da ação dos neurotransmissores.
5.3. Remoção
Por falar em reciclagem, para a remoção dos neurotransmissores,
bastaria uma simples difusão para longe da sinapse, correto? Sim, mas em
geral o que ocorre é diferente. Há a receptação dos neurotransmissores para
dentro do terminal pré-sináptico. E isso ocorre mediado por transportadores
específicos. Ao serem captados, podem ser degradados ou recarregados para
vesículas sinápticas, no citoplasma, ou no terminal axonal. As células da
glia (Capítulo 1) também ajudam nisso. Eles possuem transportadores que
auxiliam na captação dos neurotransmissores.
Outra forma de finalizar a ação dos neurotransmissores no terminal é
através de degradação enzimática na própria fenda (é assim, por exemplo,
que a enzima acetilcolinesterase degrada a acetilcolina na junção
neuromuscular).
6. INTERAÇÃO
A integração sináptica é o processo em que múltiplos potenciais se
combinam em um neurônio pós-sináptico.
A mais elementar de todas as respostas ao neurotransmissor seria aquela
que viria da abertura de um único canal iônico ativado por receptor, e a
corrente de entrada provocaria o PEPS. A quantidade de canais abertos
dependeria da quantidade de neurotransmissores liberados. Assim, quanto
mais canais, mais PEPS, e os PEPS, somados, iriam compor a mensagem
transmitida.
Uma única vesícula sináptica compõe a chamada Unidade Elementar de
Liberação. As vesículas contêm vários neurotransmissores. Com isso, os
PEPS podem ser quantificados, ou seja, serem múltiplos de uma unidade. A
somação de PEPS representa a mais simples forma de integração sináptica
do SNC. Existem dois tipos:
7. ENTENDENDO O CASO...
O botulismo é uma doença vinda da intoxicação pela toxina botulínica,
produzida pela bactéria Clostridium botullini, anaeróbios gram-positivos,
que conseguem sobreviver ao cozimento habitual dos alimentos. A doença
ocorre através de quatro formas: transmissão por alimentos (ingestão da
toxina); infecção de feridas, por colonização da ferida por clostrídios que
secretam a toxina no local; colonização intestinal em lactentes pelos
clostrídios secretores da toxina; e toxemia intestinal no adulto.
O botulismo ocorre pela inibição da liberação de acetilcolina na junção
neuromuscular. Ao adentrar a corrente sanguínea, é transportada até as
terminações nervosas colinérgicas periféricas, incluindo: junções
neuromusculares. Ela se liga às terminações nervosas, adentra-as via
vesículas, se desloca ao citoplasma, e cliva umas das proteínas envolvidas na
liberação da acetilcolina. Assim, ocorre a paralisia flácida típica do quadro,
por conta do não-estímulo à contração muscular que ocorreria com a
liberação da acetilcolina na sinapse e sua ligação ao receptor. Existem
diversos sorotipos de toxina, sendo a do tipo A a responsável por quadro de
pior gravidade.
A clínica característica é a paralisia simétrica de nervos cranianos,
seguida de paralisia flácida descendente, podendo chegar a parada
respiratória. O acometimento de nervos cranianos geralmente afeta diplopia,
disartria, disfonia ou disfagia. O acometimento dos nervos cranianos
costuma ser a apresentação inicial do quadro. A progressão segue o padrão
craniocaudal, indo para o pescoço, membros superiores, tórax, abdome e
membros inferiores. A paralisia seguinte é tipicamente flácida, simétrica e
descendente. Os quadros de hipoestesia costumam vir da compressão de
nervos por conta da imobilidade, não sendo, necessariamente, relacionadas à
ação da toxina. O grande problema relacionado é a paralisia do diafragma e
de musculatura acessória, levando a parada respiratória e morte. Na doença
vinda da contaminação de alimentos, é comum apresentar-se antes do quadro
neurológico com náuseas, vômitos ou diarreia, ou mesmo constipação e
retenção urinária. Os reflexos tendinosos podem estar normais, ou reduzir
progressivamente. Normalmente, é afebril. Não costuma ter
comprometimento cognitivo.
A ligação da toxina botulínica à proteína de liberação da acetilcolina é
irreversível. Contudo, a recuperação ocorre com a regeneração das
terminações nervosas, e requer assistência continuada por meses com
fisioterapia, fonoaudiologia, entre outros.
A Síndrome de Guillain-Barré, que vimos no primeiro capítulo, é um
diagnóstico diferencial importante desse quadro. Clinicamente, pode ser
diferenciada pela ausência do fator precipitante (como uma infecção viral
prévia), e do início do quadro, que costuma ser a partir dos membros
(principalmente os inferiores), ao contrário do botulismo, que costuma se
iniciar com o acometimento dos nervos cranianos. Além disso, o exame do
líquor não apresenta alterações no botulismo, podendo ser utilizado como
diferencial para essa doença, assim como a eletroneuromiografia. Outra
doença que se apresenta com quadro similar no início (comprometimento de
nervos cranianos) pode ser a Miastenia Gravis, onde também pode inicar
quadro com ptose palpebral ou disfagia. Contudo, se apresenta com padrão
flutuante, tendo fatores de melhora e piora, ao passo que o botulismo não
apresenta melhora após início do quadro, tendo caráter progressivo.
O Acidente Vascular Cerebral em topografia das vias motoras costuma se
manifestar com paralisia assimétrica, e sintomas da síndrome do neurônio
motor superior, como hiperreflexia, ao contrário do botulismo, que se
apresenta com quadro de doença da junção neuromuscular. Como a
disseminação da toxina é hematogênica, o comprometimento das junções
neuromusculares é difuso, normalmente acometendo de maneira simétrica.
Para o diagnóstico, é importante obter história alimentar prévia dos
últimos dias, com atenção a alimentos em conserva ou de origem e cuidados
desconhecidos. Com a suspeita de botulismo, se atentar para a possibilidade
de outras pessoas terem consumido o mesmo alimento, para alertar do risco
da mesma doença. Em caso de intoxicação por toxina em feridas, é
fundamental a debridação da ferida, com coleta do material para cultura e
realização de testes. O diagnóstico ocorre com demonstração de toxina em
amostras de soro, fezes, ou de coleta de ferida. O tratamento abrange a
transferência para uma unidade de terapia intensiva, e administração de
antitoxina botulínica o mais breve possível. Na suspeita de botulismo, deve
ser internado, com monitorização e ventilação mecânica se indicado. A
paralisia pode durar semanas.
A antitoxina neutraliza as toxinas circulantes, sem agir nas que já estão
ligadas as proteínas envolvidas na liberação da acetilcolina. O micro-
organismo é sensível a penicilina, podendo ser feita para erradicar o agente
causador. Importante enfatizar que enquanto não se erradica o agente, a
toxina segue sendo liberada, mantendo o quadro.
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo:
Manole, 2003.
6. Tratado de Neurologia. Sociedade Brasileira de Neurologia.
7. LONGO, et al. Medicina Interna de Harrison. Décima-oitava edição. Volume 2. São Paulo:
Artmed, 2013.
Imagens
1. KANDEL. Princípios da Neurociência.
2. Página Knoow.net - Enciclopédia Temática. Disponível em
<http://knoow.net/ciencterravida/biologia/juncao-comunicante/>, Acesso em: 18 de outubro
de 2018.
3. Blog Sinapse Aprender. Sobre sinapses e aprendizagem. Disponível em
<https://sinapsaprender.wordpress.com/2014/02/24/sobre-sinapses-e-aprendizagem/>,
Acesso em: 18 de outubro de 2018.
4. GARTNER, Leslie P; HIATT, James L. Tratado de histologia. 3 ed.Trad. Thaís Porto
Amadeu. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. Pag. 87-111.
CONFERÊNCIAS
Confira aqui a aula dinâmica do Medicina
Resumida sobre os assuntos abordados nesse
capítulo!
4. O Córtex Cerebral
Capítulo 4
O CÓRTEX CEREBRAL
1. Caso Clínico
Dr. Gomes, em mais um dia de trabalho no ambulatório de neurologia
do Hospital do Santo Livro, recebe uma paciente, Mariana, de 39 anos,
acompanhada de seu esposo, seu Elias. Ele chega preocupado com a
situação de sua mulher.
Há 1 mês Mariana começou a se queixar de dor de cabeça entre as
regiões frontal e parietal, à direita (cefaleia frontoparietal direita), de forte
intensidade, que amenizava com o uso de dipirona. Há 3 semanas, porém,
começou a apresentar, além da dor inicial, outro foco de dor, dessa vez em
região temporal esquerda. Porém, nessa mesma época, a dor em região
frontoparietal se tornou mais intensa, e progrediu com fraqueza no membro
inferior esquerdo, o que dificultou Mariana de andar por conta própria,
precisando da ajuda do seu marido.
Há 1 semana, porém, Mariana cursou com dificuldade na fala, onde ela
parecia “esquecer-se das palavras que queria falar”. Perguntado se ela
conseguia entender o que se dizia a ela, seu Elias disse que sim. Ele
aproveitou para relatar também que há 4 meses Mariana tem se queixado de
uma dor torácica que piora à inspiração ocasionalmente.
Ao exame físico, Mariana estava vigil, orientada. Pupilas isocóricas e
fotorreagentes, com movimento ocular extrínseco preservado. Mímica
facial preservada, sem alterações de acuidade visual e auditiva. Apresenta
fraqueza muscular em membro inferior esquerdo (grau 2 em 5), preservada
em membro superior esquerdo e em hemicorpo direito. Sensibilidade
preservada. Compreende comandos, e responde através de gestos e ações,
mas apresenta dificuldade para comunicação verbal, por não conseguir
evocar palavras que quer dizer. Ao exame do tórax, apresentava macicez à
percussão em tórax superior direito, e redução do murmúrio vesicular em
base esquerda.
Então, o Dr. Gomes entendeu que se tratava de um caso de afasia de
Broca, e suspeitou que o que estava causando essa afasia e a fraqueza nos
membros inferiores era algo que estava acometendo as áreas motoras e de
linguagem no córtex cerebral. De início, por conta do quadro lento e
progressivo, pensou em neoplasia do sistema nervoso central. Mas, por
conta de acometimentos em locais distintos do cérebro, suspeitou que
fossem duas lesões distintas. Com o achado ao exame do tórax, levantou
uma forte suspeita de metástase cerebral vinda de uma lesão pulmonar. Com
isso, solicitou radiografia de tórax e uma ressonância magnética de
encéfalo.
À radiografia, foi observada uma opacificação bem delimitada em ápice
pulmonar direito, e à ressonância, foram observadas duas lesões expansivas,
uma em região frontoparietal direita, e outra em região temporal esquerda,
com efeito de massa importante, edema perilesional e realce anelar ao
contraste por gadolíneo. Dr. Gomes então solicitou tomografia
computadorizada de tórax, abdome e pelve, e avaliação da cirurgia torácica
após o resultado dos exames, por suspeitar de se tratar de uma metástase
cerebral vinda de um tumor pulmonar, e planejamento do tratamento
adequado.
2. DIVISÕES DO CÓRTEX
Atualmente, há três tipos de córtex reconhecidos pela morfologia, que
são o Isocórtex (ou Neocórtex), Mesocórtex e Alocórtex.
O Neocórtex possui seis lâminas, e, como o seu nome já diz, tem
desenvolvimento recente na evolução humana. Compreende 90% do córtex
humano. Onde há a evidência das seis camadas corticais, recebe o nome de
córtex homotípico; quando alguma das seis lâminas é indefinida, recebe o
nome de córtex heterotípico.
O Alocórtex possui três lâminas, e é mais antigo quanto ao
desenvolvimento (na evolução). Se subdivide em paleocórtex e
arquicórtex.
O Mesocórtex seria uma transição entre o Neo e o Alocórtex. Tem
histologia intermediária entre eles.
O cérebro é dividido em lobos cerebrais. E eles, em geral, são
denominados de acordo com os ossos que os recobrem: lobo frontal, lobo
parietal, lobo occiptal e lobo temporal. A exceção se dá para o lobo
insular, ou lobo da ínsula, que se encontra “escondido” no sulco lateral.
3. HISTOLOGIA
O córtex cerebral possui seis camadas que variam de espessura, e é
justamente essa variação que caracteriza uma determinada área cortical,
bastante estudada por Korbinian Brodmann, e que, em sua homenagem, são
batizadas como áreas de Brodmann com base nos estudos citoarquitetônicos
(que diz respeito a estrutura celular) de Brodmann.
As seis camadas corticais são também chamadas de lâminas. Da porção
externa para a interna, elas são:
• Lâmina Molecular
• Lâmina Granular Externa
• Lâmina Piramidal Externa
• Lâmina Granular Interna
• Lâmina Piramidal Interna
• Lâmina Multiforme
Os neurônios do córtex pertencem a duas categorias funcionais:
4. AS ÁREAS DE BRODMANN
Quanto às áreas de Brodmann, existem atualmente cerca de 52 áreas
distintas já identificadas por diferenças na arquitetura celular de suas
lâminas corticais. Dentre as áreas sensitivas, destacamos a área somestésica
primária, no giro pós-central (Área 1, 2 e 3 de Brodmann no lobo parietal);
a área visual primária, nos “lábios” do sulco calcarino (Área 17 de
Brodmann no lobo occiptal); área acústica primária, nos giros temporais
transversos (Áreas no lobo temporal). Como áreas de linguagem, há a Área
de Wernicke, uma região extensa que tem como principal região a Área 22
de Brodmann, a parte posterior do giro temporal superior, que também se
relaciona com o córtex auditivo (mas é bom lembrar que não se relaciona
somente com este sentido); e a Área de Broca, a região posterior da parte
triangular (área 45) e parte opercular adjacente (área 44). E, por fim, há a
área motora primária, ou giro pré-central (Área 4 de Brodmann).
5. Entendendo o caso...
As metástases cerebrais constituem o principal tipo de tumor cerebral
visto. Abrangem pouco mais de 50% dos casos. Com o aumento da
sobrevida dos pacientes, vindo dos avanços nas modalidades terapêuticas, e
também maior acurácia dos exames de imagem, o número de novos casos
de metástase cerebral vem crescendo.
A grande maioria das metástases ocorrem para o parênquima cerebral.
Mas, pode haver ainda disseminação para as meninges. Os principais sítios
primários de metástases cerebrais em adultos, são: pulmão, mama, rins,
trato gastrointestinal (destaque ao colorretal), e melanoma. Alguns casos
(cerca de 10%) não se sabe o sítio primário ao diagnóstico por imagem. Em
crianças, os principais tumores primários que originam metástases cerebrais
são: neuroblastoma, rabdomiossarcoma, e tumor de Wilms. Algumas
considerações:
Referências Bibliograficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São
Paulo: Manole, 2003.
6. GREENBERG, Mark S. Handbook of Neurosurgery. Sexta edição. Thieme: 2006.
Imagens
1. Research Gate. Embryological Development of the cerebral cortex. Disponível em
<https://www.researchgate.net/figure/EMBRYOLOGICAL-DEVELOPMENT-OF-THE-
CEREBRAL-CORTEX-References-left-embryo-right_fig5_269987178>, Acesso em: 21 de
outubro de 2018.
2. Blog Chega Mais. Como funciona o cérebro. Disponível em:
<http://nunesjanilton.blogspot.com/2012/05/como-funciona-o-cerebro.html>, Acesso em:
08 de janeiro de 2019.
3. GARTNER, Leslie P; HIATT, James L. Tratado de histologia. 3 ed.Trad. Thaís Porto
Amadeu. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. Pag. 87-111.
4. Blog Neuroenfermagem. Córtex Cerebral: Neuroanatomia. Disponível em
<http://neuroenfermagem.blogspot.com/2011/06/estrutura-e-funcoes-do-cortex-
cerebral_29.html>, Acesso em: 21 de outubro de 2018.
CONFERÊNCIAS
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Resumida sobre os assuntos abordados nesse
capítulo!
5. Circulação do Líquido
Cerebroespinal
Capítulo 5
CIRCULAÇÃO DO LÍQUIDO
CEREBROESPINAL
1. Caso Clínico
Joana, 34 anos, vem a consulta ao ambulatório de Dr. Gomes. Ela se
queixa de, há 5 meses, apresentar uma forte dor de cabeça, em região
parietal bilateral, comum pela madrugada. Inicialmente, era esporádica, mas
evoluiu a ocorrência, 1 mês depois, para todos os dias. Refere que durante o
período, cursou com náuseas, visão turva, e vômitos, e que após vomitar
melhorava todos os sintomas. Não havia nenhum fator que precipitasse o
quadro, que surgia espontaneamente, mais comumente pela madrugada.
O Dr. Gomes então examinou Joana, que estava vigil, pouco confusa,
com estrabismo convergente em olho direito, ptose palpebral à direita.
Mimica facial sem alterações, sem hipoacusia. Força muscular preservada.
Sem alterações somatossensoriais. Reflexos tendinosos presentes.
Dr. Gomes solicitou uma ressonância magnética do encéfalo de urgência,
pois suspeitava de uma possível lesão tumoral próxima ao forame
interventricular, que poderia estar dificultando a drenagem do líquor pelos
ventrículos. Essa lesão poderia também, pelo seu crescimento, estar próximo
do trajeto do nervo óptico e de ramos do nervo oculomotor, que poderia
explicar as alterações visuais da paciente. A ressonância mostrou uma
ventriculomegalia nos ventrículos laterais e terceiro ventrículo, e uma
imagem cística no terceiro ventrículo, de borda regular, sem captação de
contraste gadolínico, sem edema local. Suspeitando de um quadro de
neurocisticercose, o Dr. Gomes solicitou a internação imediata de Joana para
a realização de uma cirurgia de urgência, para a colocação de uma derivação
ventrículoperitoneal, para drenar o líquido que está acumulado nos
ventrículos, conforme mostrava a ressonância.
Dr. Gomes informou a Joana que ela precisaria ficar internada para a
realização da cirurgia, e avaliar uso de medicação antiparasitária. Justificou
que acreditava se tratar de uma doença frequente que acomete o sistema
nervoso central, e que é grave quando acomete principalmente o sistema
ventricular. Este impede a drenagem e fluxo adequado do liquido
cerebroespinal, podendo provocar uma hidrocefalia grave.
1.1 Termos-Chave
• forame interventricular”
• “líquor”
• “Drenagem de líquido acumulado nos ventrículos”
• “ventrículo lateral”
• “terceiro ventrículo”
• “imagem cística”
• “hidrocefalia”
1.2. Termos Desconhecidos
• “Derivação ventriculoperitoneal - DVP”
• “neurocisticercose”
1.3. Objetivos
• Compreender a composição do líquido cerebroespinal e sua
produção
3. SISTEMA VENTRICULAR
Como dito no primeiro capítulo, o Sistema Nervoso Central se
desenvolve em um arranjo tubular, onde as cavidades em seu interior
formam o sistema ventricular, que é um sistema de cavidades dentro do
tecido do sistema nervoso central que contém o chamado líquido
cerebroespinal, ou liquido cefalorraquidiano, ou simplesmente líquor,
que é um líquido aquoso que tem a função de amortecer o sistema nervoso
central contra choques físicos, e servir de agente para comunicação química.
O sistema ventricular consiste nos ventrículos, que são cavidades onde
o líquor se acumula, e canais de comunicação. Quanto aos ventrículos,
destacamos os ventrículos laterais, o terceiro e quarto ventrículo. Entre
os ventrículos laterais e o terceiro ventrículo, há os chamados forames
interventriculares, ou forame de Monro. E entre o terceiro ventrículo e o
quarto ventrículo há o aqueduto do mesencéfalo, ou aqueduto cerebral,
ou aqueduto de Sylvius. O sistema se estende para a medula espinal pelo
Canal Central da Medula.
Imagem 2: Ilustração do sistema ventricular. Na imagem, em azul, tem-se os
ventrículos laterais, o terceiro ventrículo e o aqueduto cerebral. Em
vermelho, tem-se o quarto ventrículo e o canal central da medula. (2)
4. LÍQUIDO CEREBROESPINAL
4.1. PRODUÇÃO
O plexo coróideo, ou coroide, é o principal local de produção do líquor.
São vilosidades que se estendem da parede ventricular para a cavidade,
emergindo no líquor. Basicamente as vilosidades são capilares fenestrados
envoltos em estroma de tecido conjuntivo, envoltos por células
ependimárias. Esse tecido conjuntivo é uma prega formada basicamente
pela pia-máter, que adentra a cavidade. As células ependimárias estão
interligadas por junções íntimas que promovem uma barreira eficaz à
passagem de substâncias dos vasos sanguíneos para o líquor – que é
conhecida como barreira hematoliquórica. O chamado epitélio coroide é
inervado por fibras autonômicas, é bom saber.
A produção diária chega a casa dos 500 ml. Então, para manter o
equilíbrio e não permitir o acúmulo do líquor – o que poderia provocar
sérios danos ao funcionamento do sistema nervoso -, o próprio plexo coroide
também tem função reabsortiva, podendo remover elementos introduzidos
nos ventrículos, além de drenar o próprio líquor excedente, servindo como
meio de “reciclar” o sistema. A taxa de renovação (ou turnover) do líquor é
de cerca de 4 a 5 vezes ao dia. A circulação liquórica possui volume de
aproximadamente 140 ml, e a pressão intraventricular gira em torno de 10 e
15 mmHg em condições normais.
4.2. COMPOSIÇÃO
O líquor é um ultrafiltrado do plasma. E é formado por diferentes
mecanismos. Em resumo, ele tem componentes vindos de um processo de
difusão, que é um tipo de transporte passivo, e do transporte ativo, com
destaque para a concentração de sódio, que está em maior quantidade que no
plasma sanguíneo, e é utilizado para a estabilização do pH. A concentração
de potássio é constante, e não é afetada com mudanças de pH sanguíneo ou
do líquor. Isso se deve a sua importância na condução nervosa. Glicose e
alguns aminoácidos conseguem chegar ao líquor por meio de canais
específicos. A entrada de glicose, por exemplo, é mediada pelo transportador
GLUT-1. Já macromoléculas, como proteínas plasmáticas, são impedidas de
entrar pelo plexo coroide, precisando de transporte mediado por receptor
específico, que promove entrada por vesículas.
O líquor, então, normalmente tem: água, o principal componente; tem
proteínas (cerca de 15 a 45 mg/dl), que aumentam em processos patológicos
inflamatórios ou hemorrágicos; possui glicose (cerca de 2/3 da quantidade
sanguínea – entre 60 e 75 mg/dl), que diminui em processos inflamatórios;
tem células, com destaque para linfócitos, onde há cerca de 3 por mm³ em
análise microscópica, e aumentam em processos infecciosos. Mas é bom
destacar que o líquor não costuma apresentar hemácias. Sua presença
sugere lesão traumática. Em casos de hemorragia subaracnoide, as células
são degradadas e liberam bilirrubina, dando ao líquor aspecto amarelo, ou
xantocrômico. Além da água, os eletrólitos também são componentes
importantes, e destacam-se o sódio, potássio, cloreto, magnésio e cálcio.
Eles possuem concentração no líquor maior que no plasma, em geral (exceto
potássio e cálcio). Alguns peptídeos podem ser encontrados também, como a
colecistocinina, angiotensina II, somatostatina, entre outros.
4.3. CIRCULAÇÃO
O líquor então flui dos ventrículos laterais, via forames
interventriculares, até o terceiro ventrículo, e de lá para o quarto ventrículo
via aqueduto do mesencéfalo. De lá, se difunde pelo espaço subaracnoide
via forames de Luschka e Magendie, indo para a medula espinal. E, então,
retornam para serem drenados no seio sagital superior, através das
granulações aracnoides que são porções da aracnoide que adentram os seios
venosos.
CURIOSIDADE
5. Entendendo o caso...
A neurocisticercose é uma doença infecciosa do sistema nervoso central
comum, causada pela infecção pela larva da Taenia solium. O parasita tem o
ser humano como seu hospedeiro definitivo, se reproduzindo no intestino,
eliminando os ovos nas fezes humanas. Os porcos, pelo fácil acesso as fezes
humanas, nos locais em condições precárias de saneamento, se tornaram
hospedeiro intermediário habitual. Neles, as larvas se depositam nos
músculos, sendo uma forma de reinfectar os humanos através da ingesta de
carne de porco, onde eles se desenvolvem para a sua fase adulta. Água
contaminada também pode ser fonte de infecção, seja com a ingestão direta
ou através da irrigação de hortas e frutas. Quando ingeridos, os ovos se
rompem e liberam sua forma larvar, que alcança a circulação e se deposita
em órgãos, como músculo, olhos e sistema nervoso central.
A larva basicamente é uma vesícula semitransparente. Com o tempo,
sofre mudanças que levam ao estado de calcificação. Ela consegue se
esquivar do sistema imune do indivíduo, permanecendo intacta por anos. O
Brasil é considerado um país endêmico para a neurocisticercose.
A clínica varia muito, dependendo de fatores, como: idade,
características do parasita (localização, numero e estagio evolutivo), e a
interação hospedeiro-parasita. Apesar de muitos casos serem assintomáticos,
é comum haver manifestação através de crises epilépticas, desde as parciais
simples a complexas. A hipertensão intracraniana também pode ocorrer, mas
não é tão frequente. Pode ser intermitente, quando há deslocamento do cisto
no sistema ventricular, e este obstrui o fluxo liquórico. Pode, no entanto, ser
constante quando há reação inflamatória com adesão do cisto ao epêndima.
Clinicamente, a HIC ocorre com cefaleia intensa, vômitos, e alteração do
nível de consciência.
O diagnóstico é feito através de critérios clínicos, radiológicos,
laboratoriais. Basicamente, se divide em:
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo:
Manole, 2003.
6. Edisciplinas. USP. Capítulo X: Encefalite Viral. Disponível em:
<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4178748/mod_resource/content/1/Encefalite%20
Viral.pdf>, Acesso em: 29 de dezembro de 2018.
7. NETO, J. P. B. TAKAYANAGUI, O. M. Tratado de Neurologia da Academia Brasileira de
Neurologia. 1. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
Imagens
1. GARTNER, Leslie P; HIATT, James L. Tratado de histologia. 3 ed.Trad. Thaís Porto
Amadeu. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. Pag. 87-111.
2. Lifeder. Ventrículos cerebrales: anatomía, funciones e enfermedades. Disponível em
<https://www.lifeder.com/ventriculos-cerebrales/>, Acesso em: 21 de outubro de 2018.
3. SPETZLER, R. F. et al. Color Atlas of Brainstem Surgery. 1ª Ed. New York: Thieme, 2017.
4. InfoEscola. Líquido Cefalorraquidiano. Disponível em:
<https://www.infoescola.com/sistema-nervoso/liquido-cefalorraquidiano/>, Acesso em: 08
de janeiro de 2019.
5. GARCIA, L.H.C., FERREIRA, B.C. ABC... para a tomada de decisões. Radiol Bras. Vol.48.
No.2. São Paulo: Mar/abr 2015.
6. SPETZLER, R. F. et al. Color Atlas of Brainstem Surgery. 1ª Ed. New York: Thieme, 2017.
7. Dicionário da Saúde. Plexo coróideu. Disponível em <http://dicionariosaude.com/plexo-
coroideu/>, Acesso em: 21 de outubro de 2018.
CONFERÊNCIAS
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Resumida sobre os assuntos abordados nesse
capítulo!
6. Tronco Cerebral e os Nervos
Cranianos
Capítulo 6
TRONCO CEREBRAL E OS NERVOS
CRANIANOS
1. Caso Clínico
Mais um caso clínico curioso chega ao ambulatório de Neurologia do
Hospital do Santo Livro.
Felipe, de 19 anos, vem a consulta com queixa de zumbido e hipoacusia
à D, associado à vertigem, há 1 ano. Refere que os sintomas evoluíram de
modo progressivo, onde a vertigem surgiu, e cerca de 2 meses cursou com
hipoacusia e zumbido em ouvido direito, e que os sintomas pioraram desde
então. Felipe ainda referiu que tem percebido a boca “torta” quando se vê
nas fotos das festas, que percebeu há cerce de 6 meses, coisa que antes não
ocorria.
Ao exame, paciente se encontra vigil, orientado. Pupilas isocóricas e
fotorreagentes, movimento ocular extrínseco preservado. Apresenta
hipoacusia à direita, com provas de Rinne apresentando condução aérea
mais veloz que a condução óssea em ambos os ouvidos, e Weber
lateralizado para a esquerda, nistagmo horizontal, desvio de comissura
labial para a esquerda. Apresenta força muscular e sensibilidade
preservadas. Apresenta marcha “vestibular”.
Dr. Gomes então solicitou que Felipe realizasse RM de crânio pois
suspeitava de que uma tumoração estivesse crescendo do meato acústico
interno, em direção a região ângulo pontocerebelar, e que isso estivesse
comprimindo nervos cranianos que se localizam nesta região, como o nervo
vestíbulococlear e o facial, provocando tais manifestações clínicas.
Solicitou retorno assim que os resultados do exame saírem.
1.1. Termos-Chave
• “zumbido”
• “hipoacusia”
• “vertigem”
• “desvio de comissura labial”
• “meato acústico interno”
• “ângulo pontocerebelar”
• “nervos cranianos”
• “tronco cerebral”
1.2. Termos Desconhecidos
• “nistagmo horizontal”
• “prova de Rinne”
• “prova de Weber
• “marcha vestibular”
1.3. Objetivos
• Conhecer os nervos cranianos, seu local de origem, trajeto e
função
• Compreender as estruturas que compõem o tronco cerebral, e
suas referências anatômicas
2. O TRONCO CEREBRAL
O Tronco Cerebral é uma estrutura que pertence ao Sistema Nervoso
Central, um ‘elo de ligação’ entre o encéfalo e a medula. Se interpõe mais
precisamente entre a medula e o diencéfalo, estando anterior ao cerebelo. É
composto basicamente por grupos de corpos celulares de neurônios
(núcleos) e fibras, que se agrupam em tratos, fascículos e leminiscos. Esse
arranjo se relaciona com os relevos e depressões da superfície do tronco.
3. O MESENCÉFALO
Na embriologia, o mesencéfalo seria a porção medial, que estaria entre o
encéfalo anterior, ou prosencefalo, e o posterior, ou rombencéfalo
(Capítulo 1). Se divide da ponte pela comissura anterior, e é atravessado
pelo aqueduto cerebral (Capítulo 5).
Ele possui particularidades anatômicas que lhe conferem singularidade
no tronco cerebral. Na porção anterior, é possível visualizar dois feixes de
fibras, os pedúnculos cerebrais (que seriam fibras corticofugais do
encéfalo). Inferior a eles, há a parte basilar da ponte, e superior a eles, a
comunicação com a cápsula interna.
Entre os pedúnculos há a fossa interpeduncular. Esse elemento
anatômico é importante pois o terceiro nervo craniano emerge dessa fossa, e
o trato óptico (do segundo nervo craniano) passa sobre os pedúnculos antes
de desaparecerem nos hemisférios cerebrais (será compreendido melhor
adiante, ainda nesse capítulo).
Na porção posterior, é possível notar quatro saliências: os corpos
quadrigêmeos, ou quadrigeminais, em que se dividem em dois superiores
e dois inferiores. Logo abaixo dos inferiores temos a saída do quarto nervo
craniano (que será visto adiante).
Imagem 2: Imagem ilustrando elementos importantes da morfologia da
região posterior do tronco cerebral. (2)
4. A PONTE
A ponte se localiza no tronco cerebral entre o mesencéfalo e o bulbo.
Tem esse nome por se dispor de modo a conectar os hemisférios cerebelares
através de fibras horizontais, que formam os pedúnculos cerebelares. É na
sua porção medial por onde emerge o nervo trigêmeo (V) em ambos os
lados.
É limitada, na porção superior, pelos pedúnculos cerebrais e o sulco
pontino superior; lateralmente pelos pedúnculos cerebelares, ou “braço
da ponte”; abaixo pelo sulco bulbopontino, e posterior pelo cerebelo.
5. O BULBO
O bulbo é a estrutura que está entre a ponte e a medula espinal.
Podemos considerá-la uma precursora da medula. Pelo fato de ela ter
muitos núcleos importantes dentro de si, acaba sendo um segmento a parte,
mas compondo o tronco cerebral. Porém, ela já apresenta algumas
características anatômicas da medula espinal.
Macroscopicamente, ela apresenta, anteriormente, a fissura mediana
anterior, que se continua na medula. Ela divide as chamadas pirâmides,
que contem fibras corticoespinais descendentes do córtex para tratos
corticoespinal lateral e anterior da medula (Capítulo 13). As pirâmides
são limitadas lateralmente pelo sulco anterolateral, ou ventrolateral, que
se continua na medula também. Lateral a elas, estão as olivas, e lateral a
elas há o sulco póstero-lateral, ou dorsolateral. Esses componentes
anatômicos são importantes por representarem locais de emergência dos
nervos cranianos.
Posteriormente, apresenta sulcos dorsais e posterolaterais que
continuam na medula, e entre eles, há protuberâncias que são conhecidas
como tubérculos grácil e cuneiforme, que também serão melhor estudados
adiante. Lateral ao cuneiforme, há o tubérculo trigeminal, ou cinereum,
que tem o núcleo espinal do trigêmeo.
Posterior ao bulbo temos o quarto ventrículo, em que a face posterior
do bulbo, junto com a face superior da ponte, compõe o seu assoalho, ou
fossa romboide. Juntos, essas faces formam uma estrutura em forma de
diamante. E essa estrutura tem a importância de situar três elementos
importantes: o sulco mediano posterior, o trigono do nervo hipoglosso e
o do nervo vago.
Entre a ponte e o bulbo há uma zona intermediária com trato
arqueadocerebelar, que comunica núcleo arqueado com cerebelo. O teto
do quarto ventriculo é composto pelo véu medular superior, cerebelo e a
tela coroide. Já seus limites laterais são compostos basicamente por
pedúnculo cerebelar superior, inferior, e os tubérculos grácil e
cuneiforme.
Imagem 6: Imagem ilustrando importantes elementos da região anterior do
bulbo, como as olivas, o sulco bulbo-pontino, e a decussação das pirâmides.
Ainda é possível notar o local de emergência dos nervos cranianos da
região. (6)
Imagem 7: Imagem da visão posterior do bulbo, destacando o trígono do
hipoglosso, do vago, e os tubérculos (e fascículos) grácil e cuneiforme. (7)
6. OS NERVOS CRANIANOS
São nervos que fazem conexão com o encéfalo (os nervos espinhais
seriam conexões com a medula), e a maioria se liga ao tronco cerebral. Tem
uma complexidade maior que os nervos espinhais por possuírem
características “especiais”.
Nervo craniano
Origem Sensitivo/Motor Função geral
(número)
Movimento ocular
Oculomotor (III) Mesencéfalo Motor
(intrínseco e extrínseco)
Movimento ocular
Troclear (IV) Mesencéfalo Motor
(extrínseco)
Movimento ocular
Abducente (VI) Ponte Motor
(extrínseco)
Musculatura facialMúsculo
Motor estapédioGlândulas
Facial/Intermédio (VII) Ponte salivares
AudiçãoEquilíbrio e
Vestíbulococlear (VIII) Ponte Sensitivo postura (Sistema
Vestibular)
Músculo
Motor estilofaríngeoGlândula
parótida
Glossofaríngeo (IX) Bulbo
Gustação (1/3
Sensitivo
posterior)Seio Carotídeo
Sensibilidade visceral e de
faringe, laringe e
Sensitivo
traqueiaGustação (região
próxima à epiglote)
Musculatura
Acessório (XI) Bulbo Motor acessóriaMúsculos
intrínsecos da laringe
Motricidade da língua
Motor
(extrínsecos e intrínsecos)
Hipoglosso (XII) Bulbo
MOVIMENTO OCULAR
Como dito, o olho apresenta os músculos: reto medial, lateral,
superior, inferior, e obliquo superior e inferior. O nervo oculomotor
inerva os músculos reto medial, superior e inferior, e obliquo inferior, além
do suspensor da pálpebra. O nervo troclear inerva, basicamente, o obliquo
superior, e exerce influência no reto medial. E o nervo abducente inerva o
reto lateral.
O movimento dos olhos geralmente é conjugado, ou seja, eles se
movimentam para o mesmo lado. Para tal, é preciso haver uma ação
coordenada e sincronizada dos músculos envolvidos no movimento.
DETALHE!
Como mostra a imagem acima, a sua porção sensitiva abrange a face até
o chamado vértice da cabeça. Além da face, abrange também a mucosa da
boca, nariz e seios paranasais, bem como dentes a dura máter nas regiões da
fossa anterior e média no crânio. No pavilhão auricular, apenas a sua porção
anterior e a do meato acústico externo, e parte da membrana timpânica são
inervadas pelo trigêmeo.
Há ainda o núcleo mesencefálico, que recebe impulsos de fusos
musculares dos músculos da mastigação, como o músculo masseter e o
temporal, e de receptores para a pressão, principalmente vindos de dentes e
do palato (importante para dosar a força da mordida). A sua inervação vem
pelo nervo mandibular.
O núcleo da porção motora do nervo trigêmeo se localiza na porção
lateral do tegmento da ponte, mais medial ao núcleo sensitivo do trigêmeo.
Sai do crânio junto com o nervo mandibular, no forame oval, para inervar
os músculos masseter, temporal e pterigoideo, além do milo-hioideo, do
tensor do tímpano, e tensor do veu palatino. Este núcleo está sob influencia
do córtex cerebral, via trato corticonuclear tanto ipsilateral como
contralateral. Por isso, lesões do trigêmeo refletem em fraqueza da
musculatura da mastigação. Isso se reflete ao exame neurológico através da
palpação do masseter e do temporal quando o paciente exerce o ato de
mastigar, onde não se palpa contração muscular do lado afetado, ou também
pela protração da mandíbula, com seu desvio para o lado da lesão, por ação
da musculatura preservada contralateral à lesão (músculo pterigoideo).
O nervo trigêmeo atua em importantes reflexos existentes, os chamados
reflexos trigeminais: o reflexo mandibular vem de sensibilidade
proprioceptiva dos músculos mastigatórios, em que a resposta motora
simula a mastigação, daí essa resposta também ser chamada de reflexo da
mastigação; o reflexo corneano, vindo da estimulação do bulbo ocular
percebida pelo componente sensitivo do trigêmeo, que provoca arco reflexo
em conjunto com o nervo oculomotor, que promove o fechamento da
pálpebra; o reflexo do vômito, em que partículas que tocam a faringe são
percebidas pelo componente sensitivo do trigêmeo, e em associação com o
nervo vago promovem o reflexo, série de contrações musculares que
retornam conteúdo esofágico para a cavidade oral; reflexo do espirro, em
que o componente sensitivo do trigêmeo percebe partículas irritantes na
cavidade nasal, e promove arco reflexo com nervo frênico, provocando o
espirro; e os reflexos da salivação e do lacrimejamento, em conjunto com
nervos faciais que inervam as glândulas lacrimais e salivares.
• O reflexo de piscar, que ocorre com forte estímulo luminoso, que leva
os colículos superiores a enviarem impulsos visuais ao núcleo do facial,
estimulando o fechamento dos olhos.
Olho: fechamento
II Disfunção leve Simetria e tônus normais completo com esforço
mínimo
Fronte: movimento
discreto a moderado
Olho: fechamento
III Disfunção moderada Simetria e tônus normais completo com esforço
Fronte: nenhum
Olho: fechamento
Disfunção moderadamente
IV Simetria e tônus normais incompleto
grave
Boca: assimetria com
esforço máximo
Fronte: nenhum
Olho: fechamento
V Disfunção grave Assimetria incompleto
DETALHE!
DETALHE!
7. ENTENDENDO O CASO...
O Schwannoma Vestibular é um tumor originário da bainha de mielina
do nervo vestibular, mais precisamente na junção da mielina central e
periférica (Zona de Obersteiner-Redlich), cerca de 8cm distal ao tronco
cerebral. Vem da perda de um gene supressor de tumor. É histologicamente
benigno, e um dos tumores intracranianos mais comuns. A grande maioria
(95%) é unilateral. Tem uma incidência grande também nos pacientes com
neurofibromatose tipo 2, sendo importante avaliar também em indivíduos
com menos de 40 anos que desenvolvam a doença.
Os sintomas se relacionam com o tamanho do tumor. Geralmente se
inicia com manifestação de zumbido, perda sensorineural auditiva
ipsilateral, e perda de equilíbrio. Eles vem da compressão do nervo
vestibulococlear a nível de ângulo pontocerebelar. Maiores, podem
comprometer o nervo facial, promovendo fraqueza facial. Raramente
provoca hidrocefalia.
A perda auditiva costuma ser progressiva, mas pode também haver
queixa de perda auditiva súbita. Em geral, a perda é da detecção de sons de
alta frequência, comum ser notada dificuldade para compreender palavras.
Já o zumbido costuma ser relatado como piado, um som agudo.
Maiores, podem comprometer outros nervos, como o nervo facial e
ramos do trigêmeo. Assim, pode ocorrer otalgia, dormência ou fraqueza da
musculatura facial. Em geral, acometimento do nervo facial é mais tardio,
sendo precoce a manifestação clinica de dormência em face, vinda da
compressão do nervo trigêmeo, apesar de o facial estar mais próximo que o
trigêmeo do local do tumor, e sofrer compressão antes dele. Pode, conforme
cresce, comprimir o tronco encefálico, e desenvolver sintomas mais
intensos, como diplopia, ataxia, convulsões e até coma. Grandes tumores
podem comprometer circulação liquórica, fazendo hipertensão
intracraniana.
A maioria dos pacientes, porem, ira se apresentar basicamente com
perda auditiva sensorineural. Ao exame físico, a perda pode ser constatada
através das provas de Rinne e Weber. A prova de Weber, como já explicada
neste capitulo, se apresenta lateralizado para o lado sadio, que apresenta
Rinne positivo (ou normal).
Os diagnósticos diferenciais incluem lesões no ângulo pontocerebelar,
como meningiomas e neurinomas do trigêmeo.
Para diagnostico, não é necessário testes audiométricos, exceto se baixa
suspeita. Contudo, possui grande importância para avaliar progressão do
quadro (se há deterioração da audição), visto que é parte importante da
decisão da conduta apropriada. O audiograma é um exame inicial útil.
Avalia lesão coclear x retrococlear. A lesão retrococlear é a correspondente
ao Schwannoma, em oposição a lesão coclear, que diz respeito a lesões do
aparelho auditivo em si. É comum detectar lesão unilateral e progressiva. A
perda de alta frequência é comum com o avanço da idade, ou exposições ao
ruído, mas costuma ser bilateral. Diferença de mais de 10 db de um ouvido
para o outro devem levantar suspeitas.
Ao exame de imagem: a Ressonância magnética de encéfalo é o exame
de escolha, que demonstra tumor redondo ou ovalado no ângulo
pontocerebelar. Maiores, podem até apresentar imagens de aspecto cístico
no centro (embora seja solido). A tomografia computadorizada com
contraste tem sua importância: embora menos sensível, demonstra melhor a
anatomia óssea, útil para planejamento da abordagem cirúrgica. Com base
nos achados de imagem, pode ser classificado pelo sistema de Hannover,
que descreve a extensão do tumor: T1 (puramente meatal), T2 (intra e extra-
meato), T3 (a – preenchendo a cisterna cerebelo-pontina; b – afetando o
tronco cerebral), e T4 (a – comprimindo o tronco cerebral; b – deslocando
tronco severamente e comprimindo quarto ventrículo). Pode também ser
classificado pelo sistema de Koos: grau I (preenche o canal auditivo
interno); grau II (protrusão pela abertura do canal auditivo interno); grau III
(tamanho grande, afetando o tronco cerebral) e grau IV (comprimindo o
tronco cerebral).
A conduta pode ser
Condição clinica
Tamanho Boa condição clínica (ASA I-II)
ruim (ASA > III)
Pequeno (intracanal)
Translabiríntica
Audição prejudicada
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São
Paulo: Manole, 2003.
6. DUUS, Peter. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. Stuttgard: Thieme, 2006.
7. GREENBERG, M. S. Handbook of Neurosurgery 8. Ed. Stuttgard: Thieme, 2016.
Imagens
1. Portal ABC da Medicina. Tronco encefalico - neuroanatomia, núcleos e cortes histológicos.
Disponível em <https://abcdamedicina.com.br/tronco-encefalico-anatomia-nucleos-e-
cortes-estrutura-e-funcao.html>, Acesso em: 25 de outubro de 2018.
2. NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
3. Blog Medicina in situ. Neuroanatomia - Mesencéfalo. Disponível em
<http://medinsitu.blogspot.com/2013/01/neuroanatomia-mesencefalo.html>, Acesso em: 25
de outubro de 2018.
4. SOBOTTA: Sobotta J. Atlas de Anatomia Humana. 21ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2000.
5. Anatomia Papel e Caneta. SNC - Tronco Encefálico. Disponível em <https://anatomia-
papel-e-caneta.com/snc-tronco-encefalico-mesencefalo/>, Acesso em: 25 de outubro de
2018.
6. Blog Medicina in situ. Neuroanatomia - Bulbo. Disponível em
<http://medinsitu.blogspot.com/2013/01/neuroanatomia-bulbo.html>, Acesso em: 25 de
outubro de 2018.
7. Blog Medicina in situ. Neuroanatomia - Bulbo. Disponível em
<http://medinsitu.blogspot.com/2013/01/neuroanatomia-bulbo.html>, Acesso em: 25 de
outubro de 2018.
8. DUUS, Peter. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. Stuttgard: Thieme, 2006.
9. Site Pro Visu. Olho e Visão. Disponível em: <https://www.provisu.ch/pt/assuntos/olho-e-
visao.html>, Acesso em: 08 de janeiro de 2019.
10. DUUS, Peter. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. Stuttgard: Thieme, 2006.
11. Blog Osteopatia - Francelo D. R. da Silva. Neuralgia do Trigemeo - Sindrome Dolorosa.
Disponível em <http://osteopatiafrancelo.blogspot.com/2015/07/neuralgia-do-trigemio-
sindrome-dolorosa.html>, Acesso em: 25 de outubro de 2018.
12. Blog Pediatria Online. Caxumba. Cuidado que ela pode te pegar. Disponível em <
http://pediatraonlinedicasdepediatraemae.blogspot.com/2018/03/caxumba-cuidado-que-ela-
pode-te-pegar.html>, Acesso em: 08 de janeiro de 2019.
CONFERÊNCIAS
Confira aqui a aula dinâmica do Medicina
Resumida sobre os assuntos abordados nesse
capítulo!
7. Circulação Arterial do Sistema
Nervoso Central
Capítulo 7
CIRCULAÇÃO ARTERIAL DO
SISTEMA NERVOSO CENTRAL
1. Caso Clínico
Dr. Gomes, em um dia tranquilo de trabalho na emergência do Hospital
do Santo Livro, recebe uma paciente vinda da Unidade de Pronto
Atendimento da cidade.
Marieta, de 41 anos, vem a emergência com queixa de cefaleia de forte
intensidade, súbita, em pontada, que começou há 24 horas, após brigar
seriamente com seu marido, Marcos. Disse que se tratava da “pior dor de
cabeça da sua vida”. Refere que apresentou náuseas e vômitos associados ao
quadro, e que então procurou a UPA, onde tomou Dipirona, que melhorou
parcialmente o quadro, e realizou uma tomografia de crânio, que evidenciou
sangramento em espaço subaracnóideo, difusa. Foi então encaminhada para
o hospital, e Marieta então questionou ao Dr. o motivo de tal
encaminhamento, se a dor estava melhorando aos poucos.
Ao exame neurológico, a paciente chega vigil, orientada, com fácies de
dor, com pupila arreagente em olho direito, ptose palpebral a direita, e
limitação do movimento ocular, com estrabismo divergente em olho direito.
Mímica facial preservada, e sensibilidade presente. Apresenta rigidez de
nuca. Força muscular preservada nos 4 membros. Sensibilidade tátil sem
alterações.
Dr. Gomes então disse que o motivo da internação era o de se investigar
a causa do sangramento, através da realização de uma arteriografia. Ele disse
que, pela topografia, era possível que a causa seja um aneurisma sacular em
Artéria Comunicante Posterior, que poderia estar comprimindo o terceiro
nervo craniano (oculomotor). Caso confirmado, seria indicado uma cirurgia
para a “clipagem” deste aneurisma, ou então a “embolização” do mesmo,
para prevenir novos sangramentos. Marieta então ficou tranquilizada e, ao
mesmo tempo, indagou: a culpa é toda de Marcos!!
1.1. Termos-chave
• “cefaleia súbita, em pontada, de forte intensidade”
• “sangramento em bifurcação de Artéria Carótida Interna”
• “aneurisma sacular”
• “Artéria Cerebral Anterior e Cerebral Média”
1.2. Termos desconhecidos
• “clipagem de aneurisma”
• “embolização”
1.3. Objetivos
• Compreender a anatomia vascular cerebral e seu trajeto no sistema
nervoso central
Detalhe!
• Segmento P1, que vai da sua origem até a junção com a Artéria
Comunicante Posterior (ACoP).
CURIOSIDADE!
4. BARREIRA HEMATOENCEFÁLICA
A barreira hematoencefálica é um componente importante de defesa do
SNC de lesões que elementos do sangue possam provocar nas células
nervosas. Assim, o compartimento intravascular fica isolado do
compartimento extravascular no Sistema Nervoso Central. Resulta de
características únicas de células endoteliais dos capilares do cérebro e da
medula espinal. Por exemplo: nos capilares periféricos, há fenestrações nas
células do endotélio, permitindo fluxo de substâncias para espaço
extracelular, além de terem mal vedamento entre as células endoteliais. Já no
Sistema Nervoso Central, não há fenestrações nas células, e o espaço entre
elas é fechado, com uma adesão forte entre elas. Além disso, as células
endoteliais destes vasos possuem poucos mecanismos de transporte.
Embora essa proteção exista, nem todas as estruturas do Sistema Nervoso
Central possuem a barreira. Há 8 estruturas cerebrais que carecem dela.
Estão próximas a linha média, e próximas ao sistema ventricular, sendo,
portanto, chamadas de órgãos circunventriculares. São locais de secreção de
elementos produzidos no SNC no sangue, como mecanismo de regulação do
ambiente corporal interno.
5. ENTENDENDO O CASO...
Doenças Cerebrovasculares
A. Acidente Vascular Cerebral Isquêmico
As lesões isquêmicas do sistema nervoso central ocorrem por disfunção
do suprimento arterial sanguíneo a determinadas regiões do encéfalo,
normalmente por bloqueio do fluxo arterial, mas podendo também vir de
estase sanguínea, vinda por obstrução ao fluxo venoso.
Quando a interrupção de fluxo gera isquemia em menos de 24h de
duração, tem-se o Ataque Isquemico Transitorio (ou AIT). Cerca de 80% dos
casos duram cerca de 30 minutos apenas. A clinica dependera do território
vascular acometido.
Os mais comuns são acometimentos de artéria cerebral media, com
queixa de paresia contralateral transitória e déficit sensorial. Já quando a
isquemia ocorre em território vertebrobasilar, as queixas vem de
acometimento do tronco cerebral, como vertigem, por exemplo.
Quando o insulto dura o tempo suficiente pra promover morte celular,
estabelece-se um dano irreversível. Assim, o AVC isquêmico promove
lesões irreversíveis, que deixam sequelas neurológicas no individuo a
depender do local e da extensão da isquemia. Ocorre disfunção da barreira
hematoencefálica, com passagem de liquido para o tecido cerebral. Assim,
nas horas seguintes, a área infartada começa a edemaciar, alcançando o pico
dias seguintes, regredindo depois. Esse edema pode promover hipertensão
intracraniana, cursando com cefaleia, vômitos e rebaixamento do nível de
consciência. Esta deve sofrer intervenção imediata, pelo risco iminente a
vida. Podem ser feitas medidas de redução da pressão intracraniana, ou até
mesmo a retirada de parte da calota craniana (craniectomia descompressiva),
para descompressão.
Com o tempo, o tecido morto se desfaz, liquefazendo-se. O liquido
cerebroespinal passa a ocupar o local, que ainda pode ter alguns vasos, com
alteracoes das células da glia (áreas de gliose). Alem da idade e da massa
encefálica, outro fator que interfere no grau de acometimento do tecido é a
presença de circulação colateral. Normalmente, os vasos são terminais, com
quase nenhuma circulação colateral importante. Contudo, situações de
hipóxia crônica estimulam a geração de novos vasos colaterais. Na presença
dela, ocorre uma perda de neurônios muito menor da que é vista num tecido
com pouca circulação colateral. Nesses casos, o suprimento arterial é melhor
na periferia que no centro, e por isso, a região periférica, que esta sofrendo
isquemia, mas em intensidade muito menor, e ainda com possibilidade de
reversão, é chamada de zona de penumbra, sendo o objetivo de recuperar no
tratamento do AVC.
Os fatores de risco, modificáveis, são: hipertensão (mais conhecido e
tratável); tabagismo; hiperlipidemia (redução de LDL e VLDL e
triglicerídeos mostraram redução de risco); consumo de álcool intenso (o
consumo moderado mostrou não apresentar risco e, até mesmo, reduzí-lo).
A maioria dos casos ocorre por embolia, vinda de coágulos ou
fragmentos de placa de ateroma. Tais trombos normalmente se orignam da
bifurcação carotídea ou do coração. Se o trombo for dissolvido pela ação
fibrinolítica sanguínea, os efeitos são revertidos. Mas, normalmente não é o
que acontece. Pode ocorrer, ainda, por redução critica da pressão de
perfusão, normalmente ocorrendo por estenose no vaso. E, por fim, pode
ocorrer ainda infartos lacunares, por lesões microangiopaticas, promovendo
estreitamento progressivo.
Deve ser feita tomografia de crânio sem contraste o mais breve possível,
para descartar hemorragia, hematomas, sinais precoces de isquemia, ou
outras lesões, como tumores. Nas primeiras 12 horas (12 a 24 horas), é
comum o exame não apresentar alterações. Porém, podem aparecer alguns
achados, como: sinal da artéria hiperdensa, apagamento da transição da
substancia cinzenta e da branca, efeitos de massa (apagamento de sulcos
corticais, desvio da linha media), hipodensidade na região insular, entre
outros. Após 48 horas, as regiões acometidas se apresentam hipodensas.
Após 2 semanas, as regiões se tornam bem delimitadas, e em 4 semanas o
liquor preenche o espaço acometido.
A terapia trombolítica consiste em catalisar a reação de conversão do
plasminogênio em plasmina. Os agentes utilizados atualmente são a
estreptoquinase e a alteplase (ou rT-Pa). Essa ultima tem melhores resultados
após 3 meses do evento. Os critérios de exclusão incluem: hemorragia
intracerebral à TC ou história previa, TCE grave nos últimos 3 meses; PAS >
185, e /ou PAD > 110; história de sangramento digestivo nas ultimas 3
semanas; uso de anticoagulantes nas ultimas 48 horas; tempo de protrombina
> 15 segundos, ou contagem de plaquetas < 100.000; cirurgia há 15 dias;
AVC nos últimos 3 meses.
Alteplase 0,09 mg/kg, em 1 a 2 minutos, em bolus, intravenoso, seguido
por 0,81 mg/kg em infusão continua em 1 hora. A pressão arterial deve ser
manejada a base de nitroprussiato, e não deve ser usado anticoagulante no
período de 24 horas após o inicio do tratamento.
Se não for indicada a terapia trombolítica, os cuidados iniciais devem ser:
restrição ao leito, oxigenoterapia por cateter nasal, monitorização cardíaca,
0 (Não-roto) -- --
1 15 --
2 13-14 --
3 13-14 +
4 7-12 + ou -
5 3-6 + ou -
O manejo inicial foca em prevenir o ressangramento, déficit neurológico
isquêmico tardio (vindo de uma complicação do vasoespasmo), e
convulsões. A melhor forma de prevenir o ressangramento é a intervenção
cirúrgica precoce. Bloqueadores de canais de cálcio (como o nimodipino)
estão indicados para prevenção do vasoespasmo. Além disso, fluidoterapia
intensiva, para prevenir a síndrome cerebral perdedora de sal, e analgesia e
antihemeticos.
– 15 0
> ou = 80 anos 1
Idade
< 80 anos 0
Infratentorial 1
Localização
Supratentorial 0
> ou = a 30 mm 1
Volume
< 30 mm 0
Sim 1
Sangramento intraventricular?
Não 0
1 13%
2 26%
3 72%
4 97%
5 100%
ICH score Risco de mortalidade
6 ~100%
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
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2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
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7. OSBORN, A. G. Encéfalo de Osborn: Imagem, patologia e anatomia. 1. Ed. Porto Alegre:
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Imagens
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10. Prof. Gerardo Cristino. Vascularização do SNC. Disponível em
<http://gerardocristino.com.br/novosite/aulas/neurologia-neurogirurgia/SNC-
vasculariza%C3%A7%C3%A3o.pdf>, Acesso em: 25 de outubro de 2018.
11. Radiopaedia. Bouthillier classification of internal carotid artery segments. Disponível em
<https://radiopaedia.org/articles/bouthillier-classification-of-internal-carotid-artery-
segments>, Acesso em: 25 de outubro de 2018.
12. OSBORN, A. G. Encéfalo de Osborn: Imagem, patologia e anatomia. 1. Ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
13. RANGEL-CASTILLA, L. et al. Decision Making in Neurovascular Disease. 1a Ed. New
York: Thieme, 2018.
14. OSBORN, A. G. Encéfalo de Osborn: Imagem, patologia e anatomia. 1. Ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
15. Aula de anatomia. Vascularização do Sistema Nervoso. Disponível em
<https://www.auladeanatomia.com/novosite/sistemas/sistema-nervoso/vascularizacao/>,
Acesso em: 25 de outubro de 2018.
16. Aula de Anatomia. Vascularização do Sistema Nervoso. Disponível em
<https://www.auladeanatomia.com/novosite/sistemas/sistema-nervoso/vascularizacao/>,
Acesso em: 25 de outubro de 2018
17. RANGEL-CASTILLA, L. et al. Decision Making in Neurovascular Disease. 1a Ed. New
York: Thieme, 2018.
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8. Drenagem Venosa do Sistema
Nervoso Central
Capítulo 8
DRENAGEM VENOSA DO SISTEMA
NERVOSO CENTRAL
1. Caso Clínico
Dr. Gomes, em um dia tranquilo de trabalho na emergência do Hospital
do Santo Livro, recebe uma paciente vinda da Unidade de Pronto
Atendimento da cidade.
Dona Joana, 26 anos, veio ao PA com relato de, há 7 dias, ter iniciado
um quadro de cefaleia, difusa. Refere ter sido espontâneo, e que, nesse
período, vem aumentando de intensidade. Negou náuseas, vômitos, ou febre
no período. Refere morar com a mãe, estar no último ano de faculdade. Faz
uso de anticoncepcionais orais, e no período apenas fez uso de dipirona,
com melhora parcial da dor. Negou cirurgias prévias ou doenças de base.
Ao exame neurológico: vigil, contactante, orientada, com pupilas
isocóricas e fotorreagentes. Movimento ocular extrínseco preservado.
Mímica facial preservada. Nega queixas auditivas. Força muscular
preservada nos quatro membros. Sensibildiade tátil preservada. Marcha
preservada. Reflexos tendinosos presentes, normais e simétricos.
Dr. Gomes então solicitou uma tomografia computadorizada, que
evidenciou uma hiperdensidade dentro do seio sagital superior, e, no corte
coronal, um apagamento do “delta”. Suspeitando de um trombo em seio
sagital superior, solicitou então uma arteriografia, que mostrou falha no
enchimento no dito seio. Dr. Gomes então disse para a paciente que ela
desenvolveu um trombo em um dos seios da dura máter, e que precisava
removê-lo, para evitar que houvesse uma congestão venosa, e assim
provocasse um colapso na drenagem sanguínea, podendo levar a morte.
1.1. Termos-chave
• “falha de enchimento”
• “seio sagital superior”
• “seios da dura máter”
• “veias do encéfalo”
1.2. Termos desconhecidos
• “sinal do Delta vazio”
• “apagamento do delta”
1.3. Objetivos
• Compreender a anatomia dos seios da dura máter e das veias que
compõem o sistema venoso do encéfalo
2. As Veias Cerebrais
A drenagem venosa no sistema nervoso central possui certas
particularidades. Suas veias não possuem válvulas, e com isso o fluxo pode
ser bidirecional. Além disso, as veias não acompanham as artérias em seus
territórios de irrigação e drenagem, como ocorre com as veias nos demais
locais do corpo.
Existem, basicamente, dois grandes grupos: o grupo dos seios venosos
durais, e o grupo das veias cerebrais. Dentre as veias, podemos dividir em:
veias superficiais e profundas. Seu objetivo consiste em drenar o sangue,
principalmente, para as veias jugulares internas. Na maioria dos casos, é a
VJI direita a dominante, com maior volume de drenagem. Alem delas, há
ainda o plexo venoso vertebral, e veias da órbita.
Basicamente, se dividem em três grupos: veias superficiais, veias
profundas e do tronco cerebral.
Imagem 3: Alguns dos seios da dura máter: o seio sagital superior, seio
reto, transverso, occiptal, sigmoideo, e cavernoso. (3)
5. ENTENDENDO O CASO...
A trombose venosa cerebral consiste no processo de obstrução de seio
venoso dural, veias superficiais ou profundas do sistema nervoso central.
Costuma ser negligenciado nos exames de imagem. Seu espectro de
apresentação é variável, onde um infarto venoso pode ser inocente ou até
mesmo fatal.
A trombose de seio dural é o mais frequente, e ocorre por oclusao
trombótica de um ou mais seios da dura mater. As causas mais comuns são:
uso de anticoncepcionais orais, e gestação. Pode ainda ocorrer secundário a
traumas, infecção, colagenoses, estados de hipercoagulabilidade, vasculites,
entre outros. É mais comum em jovens, embora ocorra em qualquer idade,
tendo predileção pelas mulheres.
Ao ser formado, o trombo obstrui o fluxo venoso. Com isso, ocorre
congestão venosa, com consequente aumento da pressão venosa
hidrostática, com extravasamento de fluidos nos capilares. Isso leva a
quebra da barreira hematoencefálica, com consequente edema cerebral
vasogênico. O seio transverso é quem mais sofre, seguido pelo seio sagital
superior. A doença aguda, o seio afetado se encontra distendido por um
coagulo. Já a crônica, o seio é preenchido por um tecido fibroso, que
espessa a aracnoide. O tecido cerebral pode, apenas ficar edemaciado, ou
até mesmo sofrer isquemia, hemorragias e infartos.
A tomografia computadorizada sem contraste pode ser normal em
muitos casos. Pode haver o sinal do triangulo denso, ou sinal da corda
(densidade no espaço do seio venoso), além de edema no parênquima. Com
contraste, mostra, em muitos casos, o sinal do delta vazio. A arteriografia,
na sua fase venosa, se mostra o exame ideal, evidenciando falhas de
enchimento nos locais acometidos. À ressonância magnética, os achados
variam com o tempo. Na doença aguda, o seio se mostra aumentado, com
margens curvas, com desaparecimento do “flow void”, e evidenciando um
coagulo solido no local, sendo isointensa ao córtex em T1, e hipointenso em
T2. O edema mostra-se com hiperintensidade em T2, e supressão de água
livre (ao FLAIR). Com o tempo, o coagulo vai se tornando hiperintenso em
T1, até que se torna de fato isointenso na doença crônica, tanto em T1
quanto em T2.
Clinicamente, pode ocorrer alterações inespecíficas, muitas delas sutis.
Cefaleia difusa, lentamente progressiva, é o sintoma mais comum. Cerca de
¼ dos casos não apresentam déficits neurológicos focais. Algumas
tromboses recanalizam espontaneamente, outras formam fistulas
arteriovenosas na parede dos seios. O diagnóstico imediato impacta no
desfecho.
O tratamento deve ser agressivo, visto que possui melhor potencial de
reversibilidade de déficit se comparado a um AVC isquêmico. O tratamento
é complexo, visto que a anticoagulação tende a aumentar o risco de lesão
hemorrágica. Importante iniciar heparina, controlar a pressão sanguínea, e
evitar corticoesteroides. Indicado anticonvulsivantes para prevenção de
crises convulsivas, e monitorar a PIC, indicando ventriculostomia em caso
de aumento e piora clínica. A terapia trombolítica é indicada via sistêmica
ou até mesmo infundida diretamente no seio. Em falha da terapia clínica, é
indicada a craniectomia descompressiva, para melhora da hipertensão
intracraniana, ou abordagem direta ao seio, com retirada do trombo
(trombectomia mecânica) – sendo esta última mais rara a indicação. Após
tratamento inicial, paciente deve seguir com heparina ou warfarina por 3 a 6
meses.
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São
Paulo: Manole, 2003.
6. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
7. OSBORN, A. G. Encéfalo de Osborn: Imagem, patologia e anatomia. 1. Ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
8. GREENBERG, Mark S. Handbook of Neurosurgery. 6. Ed. New York: Thieme, 2006.
Imagens
1. OSBORN, A. G. Encéfalo de Osborn: Imagem, patologia e anatomia. 1. Ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
2. Aula de Anatomia. Vascularização do Sistema Nervoso. Disponível em
<https://www.auladeanatomia.com/novosite/sistemas/sistema-nervoso/vascularizacao/>,
Acesso em: 09 de janeiro de 2018.
3. Anatomia Papel e Caneta. Veias Superficiais do couro cabeludo e externas da face.
Disponível em <https://anatomia-papel-e-caneta.com/vasos-da-cabeca-veias/>, Acesso em:
25 de outubro de 2018.
4. OSBORN, A. G. Encéfalo de Osborn: Imagem, patologia e anatomia. 1. Ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
5. OSBORN, A. G. Encéfalo de Osborn: Imagem, patologia e anatomia. 1. Ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
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9. Sistema Sensorial Somático
Capítulo 9
SISTEMA SENSORIAL SOMÁTICO
1. Caso Clínico
Mais um dia de plantão do Dr. Gomes no Hospital Santo Livro,
justamente em dia de carnaval, e na emergência logo chegam 4 pessoas
vítimas de um trágico acidente de carro e moto, sendo que o que conduzia a
moto sofreu um trauma raquimedular importante, o que motivou o
acionamento do Dr. Gomes.
O paciente chegou vigil, contactante, com face de dor. Ao exame
neurológico: lúcido e orientado, com pupilas isocóricas e fotorreagentes.
Movimento ocular extrínseco preservado. Mímica facial preservada. Força
muscular reduzida em membro inferior direito (grau 1 em 5), com reflexos
tendinosos reduzidos no local. Força e reflexos preservados no membro
inferior esquerdo. Sensibilidade térmica e dolorosa preservada à direita, mas
ausente em membro inferior esquerdo. Nível sensitivo em L1.
Isso então motivou o pedido de uma Tomografia Computadorizada de
Coluna Lombar, que evidenciou fratura de faceta articular, levando a
instabilidade da vértebra, que se deslocou e promoveu hemissecção da
medula em nível de segmento L1.
Dr. Gomes ficou curioso, e foi investigar mais a fundo que síndrome
poderia ser classificada com esses achados, e descobriu a Síndrome de
Brown-Sèquard. Entendendo a gravidade do quadro, Dr. Gomes indicou
internamento para condutas iniciais e estabilização do quadro.
1.1. Termos-Chave
• Sensibilidade Térmica e Dolorosa
• Nível Sensitivo
• Hemissecção da Medula
1.2. Termos Desconhecidos
• Trauma Raquimedular
• Sindrome de Brown-Sèquard
1.3. Objetivos
• Compreender a Sensibilidade Somática, que envolve a
sensibilidade térmica, tátil e dolorosa
2. Conceitos
2.1 Modalidades sensoriais
2.1.1. Tato
O tato consiste na sensação tátil que começa na pele (tanto pilosa quanto
glabra), importante elemento protetor do organismo e essencial para evitar
perda hídrica para o meio externo, além de ser o órgão de contato direto do
organismo com o meio.
2.1.2. Nocicepção
A dor é algo que incomoda, irrita, tira o sono e o sossego, e ainda pode
cronificar, alterar a rotina, os hábitos do indivíduo, entre outros, tudo isso
porque a pessoa sente dor. E muitos acham (e com razão) que a dor é algo
ruim. Muitos até desejariam não sentir dor, mas alguém já se perguntou o
porquê de sentir dor? Até existem casos de alterações congênitas em que o
indivíduo nasce sem sentir dor.
Ela nada mais é do que um mecanismo de alerta, para a ocorrência de
lesões ou de estímulos potencialmente lesivas ao organismo. Além, claro, de
a dor significar os limites de nossos movimentos (por exemplo, ao se
alongar, em que o indivíduo estira o membro para trás, e ao sentir dor para
de estender), ou de sinalizar possível lesão (como úlcera de pressão) em caso
de muito tempo sentado/deitado, ou contribui com o aprendizado de desviar
de pisos irregulares ou pisos com elementos pontiagudos por aprender o
quão doloroso é pisar num prego, ou parafuso solto, ou pedra com ponta
fina. Ou seja, é importantíssimo que a pessoa sinta dor, para aprender a fugir
e evitar situações que possam lesar o organismo, além de que, quando
lesado, a pessoa perceba que está sofrendo uma lesão que pode infeccionar
ou ulcerar uma parte do corpo.
Assim, a sensação somática depende bastante da nocicepção. No latim,
nocere = ferir.
Porém, um grande erro que se comete por aí é confundir a nocicepção
com dor. Que não são a mesma coisa. Dor é a sensação / percepção de
sensações diversas, como ardência, fisgada, latejo, inflamação, irritação, ou
sensações insuportáveis que vem de alguma parte do corpo. Já a nocicepção
é o processo sensorial que geram os sinais que levam a experiência de dor.
A dor pode existir sem ação de nociceptores, bem como eles podem
disparar e a pessoa não sentir / perceber a dor. E as qualidades cognitivas da
dor podem ser controladas pelo encéfalo.
2.1.3. Temperatura
O funcionamento das células é dependente da temperatura, pois, como
vimos em química, a velocidade de uma reação depende da temperatura, e
com isso as células precisam de meios de regular a temperatura corpórea de
modo a manter em faixas adequadas para seu funcionamento.
As sensações térmicas não-dolorosas também começam nos receptores
da pele (principalmente), e dependem de ser processadas no córtex para se
tornar consciente.
2.2 Divisões
A somestesia consiste no conjunto sequencial de neurônios, fibras
nervosas e sinapses, capazes de representar estímulos ambientais que
atingem o corpo, e conduzi-los a regiões cerebrais superiores, para
transformar em percepção e emoção, sendo usados na modulação do
comportamento. Ela engloba todas as modalidades sensoriais além dos
sentidos especiais (gustação, visão, audição, olfação). Muitas literaturas mais
antigas subdividiam a somestesia em:
Algesia Dor
3. Os Receptores
São os grandes responsáveis pela detecção de variações de elementos
físicos e químicos no meio externo e interno, e fazem a conversão nos
impulsos nervosos. Os tipos variam de acordo com a localização da fonte do
estímulo, bem como o tipo de informação a ser processada. Podem ser
exteroceptores, caso sejam responsáveis por detectar estímulos do meio
externo, ao passo que os interoceptores detectam estímulos no próprio
organismo (por isso também são conhecidos como visceroceptores).
Com relação ao tipo de estimulo, tem-se:
DETALHE!
3.3.2. Nociceptores
São ativados por estímulos que tem o potencial de causar lesão nos
tecidos. Danos podem ser de estímulo mecânico forte, temperaturas
extremas, hipóxia, e exposição a agentes químicos, etc. Tais estímulos
ativam os nociceptores, que em suas membranas tem canais iônicos ativados
por tais mecanismos, como:
3.3.3.Termorreceptores
Como o nome diz, são sensíveis a temperatura, por mecanismos
específicos de membrana. Grupos de neurônios específicos no hipotálamo e
na medula espinal são importantes para respostas que regulam a temperatura
corporal, de modo a deixa-la estável.
A sensibilidade de temperatura não está distribuída de modo uniforme na
pele. Há regiões específicas que não distinguem calor de frio. E isso sugere
que hajam receptores específicos para o calor, e outros para o frio. Sabe-se
também que existe canal iônico, por exemplo, sensível a mudança de
temperatura para acima de 43°C, sugerindo que hajam outros com faixas
distintas. Assim, usando-se componente ativo das pimentas quentes e o do
frescor da hortelã, descobriu-se receptores Trpv1 e Trpm8 (temp. < 25°C)
O mais interessante nisso tudo é: existem receptores de frio que tem a
proteína do calor, e se você aplica algo quente >43°C em áreas vastas da
pele, você desenvolve estímulo de quente e de dor. Mas se aplica em
pequenas áreas, e especificamente na do receptor do frio, ele vai,
paradoxalmente, desencadear a sensação de frio. Assim, a gente conclui que
o SNC não sabe distinguir qual tipo de estímulo desencadeou a sensação,
mas interpreta o estímulo como sendo realmente desse receptor (receptor de
frio e receptor de calor).
DETALHE!
C6 Polegar
C7 Indicador e médio
C8 Anelar e mindinho
T4 Linha mamilar
T10 Umbigo
S2, S3 e S4 Genitália
S5 Ânus
DETALHE!
Nenhuma informação sensorial chega ao córtex sem antes passar pelo tálamo.
Axônios espinotalâmicos terminam em regiões do núcleo ventral posterior, o
mesmo do tato, mesmo que ainda separados. Outros terminam em outras regiões, os
pequenos núcleos intralaminares do tálamo. Do tálamo, as informações se projetam
para várias áreas do córtex cerebral.
DETALHE!
Por conta da alta rede de comunicação das fibras nos segmentos medulares, lesões
em região lombar ou torácica causam pouca repercussão na sensibilidade. Porém,
na região cervical, pode promover hipoestesia leve no membro inferior
contralateral.
5.4. Trato Espinotalâmico Lateral
É a via que conduz informação de dor e temperatura da medula ao
encéfalo. Elas adentram a medula pela raiz dorsal, entrando pelo corno
dorsal da medula. Elas logo se ramificam, percorrendo o trato de Lissauer,
tanto rostral quanto caudal, fazendo sinapse na região conhecida como
substancia gelatinosa, no corno anterior. Seus neurotransmissores
conhecidos são o glutamato (acredita-se) e a substancia P.
Os nociceptores e termorreceptores se comunicam com as fibras C e A,
que conduzem informação aos gânglios da raiz dorsal. Lá, se comunicam
com segundos neurônios que irão ascender, pelo funículo lateral, até o
tálamo. Antes de ascender, cruzam a linha media. Possui organização
somatotópica, com fibras correspondentes aos membros inferiores se
posicionando lateralmente, ao passo que as dos membros superiores se
posicionam mais medialmente. Assim, lesões externas a medula podem
provocar déficit sensorial em membros inferiores primeiramente, ao passo
que lesões no centro podem provocar déficits em membros superiores,
preservando os inferiores. Por estarem muito próximas, as fibras
nociceptivas e termoceptivas não podem ser separadas anatomicamente, e
uma lesão do trato espinotalâmico promove déficit de sensibilidade dolorosa
e térmica.
Imagem 8: Ilustração do trato espinotalâmico lateral, e seu percurso até
alcançar o córtex somatossensorial. (8)
6. Córtex Somatossensorial
A maior parte do córtex destinada ao processamento somatossensorial
está no lobo parietal. A área 3b de Brodmann (córtex somatossensorial
primário) está no giro pós-central.
A área 3b recebe um grande número de aferências do NVP do tálamo, e
tem alta resposta aos estímulos somatossensoriais (mas não a outros
estímulos). As áreas 1 e 2 recebem muitas aferências de neurônios da área
3b, onde a área 1 recebe informações sobre textura, e a 2 sobre tamanho e
forma. O córtex somatossensorial é organizado, como todos os outros, em
camadas. E as aferências talâmicas terminam na camada IV, que se projetam
para outras camadas.
O interessante descoberto é que a estimulação elétrica da superfície
cortical de S1 pode levar a sensações somáticas em locais específicos do
corpo. E a movimentação do estimulador pelo córtex leva a mudança do
local da sensação. Quem se utilizou de tal método para mapear o córtex
durante cirurgias foi o Wilder Penfield, o neurocirurgião canadense famoso.
Esse mapeamento das sensações no SNC é conhecido como somatotopia. O
mapa somatotópico (que se assemelha a um trapezista de cabeça pra aixo ao
longo do hemisfério) é conhecido também como o Homúnculo de Penfield.
Imagem 10: Ilustração do Homúnculo de Penfield, através da
correspondência da área que abrange cada segmento do corpo no córtex
cerebral. (10)
7. Regulação da dor
A dor, como já sabemos, é uma percepção variável. E a atividade de
aferências não dolorosas e o contexto do indivíduo (comportamental), a
mesma atividade do nociceptor pode desencadear mais ou menos dor.
Para tal, vamos dividir a regulação em:
8. Entendendo o caso...
O trauma raquimedular (TRM) consiste na lesão da medula espinal após
um evento traumático. Durante o atendimento inicial a um trauma, é
fundamental a atenção constante à coluna, tendo cuidado com a manipulação
e garantindo uma imobilização adequada. Com tais cuidados, pode-se
postergar a atenção à avaliação da medula no atendimento inicial,
objetivando a avaliação dos outros elementos de maior gravidade, como
instabilidade hemodinâmica, choque e insuficiência respiratória.
Em um indivíduo sem alterações neurológicas, excluir um acometimento
da medula é relativamente mais simples. Na ausência de dor e
hipersensibilidade na região da coluna, pode-se diminuir a preocupação com
o mesmo. Ao contrário de um individuo com alteração do nível de
consciência, tal avaliação passa a ser difícil, visto que não há como garantir
um exame neurológico completo, requerendo avaliação complementar.
As lesões na medula podem ser classificadas de acordo com o nível da
lesão, gravidade do déficit neurológico, morfologia e síndrome medular.
O nível neurológico basicamente é o nível mais caudal que possui função
sensorial e motora normal em ambos os lados. Com isso, tem-se duas
subdivisões: o nível sensorial (ou sensitivo), que diz respeito ao último nível
com função sensorial normal (ou, pelo menos, com a dor e a temperatura
presentes); e nível motor, que é o último nível com função motora normal
(ou, pelo menos, com força muscular grau 3 em 5 – visto com mais detalhes
no capítulo 13). Por outro lado, o nível ósseo consiste no nível cuja vertebra
está lesionada
Considera-se lesão incompleta quando há algum grau de força ou
sensibilidade residual pelo menos três níveis abaixo do local da lesão, tendo,
por exemplo: manutenção da sensação e do movimento voluntario dos
membros, ou contração do esfíncter anal voluntaria.
• Paraplegia ou
Tetraplegia (se acima
• Ou síndrome da artéria de C7)
espinal anterior • Perda dissociada
• Oclusao da AEA ou sensorial abaixo do
nível
compressão da
Síndrome Anterior da Medula medula anterior • 1. perda de dor e
• Comum em: fragmento temperatura
ósseo deslocado, ou
hérnia de disco
• 2. manutenção da
discrimicacao entre
traumática
dois pontos,
propriocepção, e tato
fino
• Dor e parestesias em
Sindrome Posterior da Medula • Mais rara pescoço, região
dorsal dos membros
superiores e tronco
• É a mais comum
• Comum por
hiperextensão aguda
em canal medular –
frequente lesões em • Fraqueza motora em
face, sugerindo a membros superiores,
mecânica da lesão sem apresentar nos
membros inferiores
Síndrome Central da Medula • Estenose prévia por:
hipertrofia óssea • Deficit sensitivo
anterior + variado
dobramento de
ligamento amarelo • Disfunção esfincteriana
posterior pode ocorrer
• Centro
hipervascularizado –
maior risco de
edema
• Perda sensorial
dissociada
• Hemissecção da medula • 1. Perda de dor e
espinal
sensibilidade térmica
• Comum em trauma abaixo da lesão e
contralateral
penetrante
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios - Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo:
Manole, 2003.
6. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
7. CAMPBELL, W. W. De Jong: O Exame Neurológico. 6ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2007.
8. American College of Surgeons. Suporte Avançado de Vida no Trauma – ATLS. 9. Ed.
Chicago, 2012.
9. GREENBERG, Mark S. Handbook of Neurosurgery. 6. Ed. New York: Thieme, 2006.
Imagens
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<http://histologiadecesarfcruzycarloacadme.blogspot.com/2013/02/receptores-sensoriales-
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2. KANDEL, E. R. SCHWARTZ, J. H. JESSELL, T. M. SIEGELBAUM, S. A. HUDSPETH,
A. J. Princípios de Neurociência. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
3. Portal EducaBras. Receptores Cutâneos. Disponível em
<https://www.educabras.com/ensino_medio/materia/biologia/anatomia_e_fisiologia_2/aulas/
receptores_cutaneos>, Acesso em: 25 de outubro de 2018.
4. Portal Geocities. Velocidade de Condução. Disponível em
<http://www.geocities.ws/neurokidsbr/VelocCond.html>, Acesso em: 25 de outubro de 2018.
5. Aula de Anatomia. Medula Espinal. Disponível em
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Acesso em: 25 de outubro de 2018.
6. Portal Moodle. Repositório Imagens: Dermátomos. Disponível em
<http://www.moodle.mouro.com/EVA/picture.php?/3518>, Acesso em: 25 de outubro de
2018.
7. Portal da UC. Sistema sensorial somático. Disponível em
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8. CAMPBELL, W. W. De Jong: O Exame Neurológico. 6ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2007.
9. CAMPBELL, W. W. De Jong: O Exame Neurológico. 6ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2007.
10. Blog Ciência - conhecimento e Saber! Definição do córtex somatossensorial. Disponível em
<http://cienciaconhecimentoesaberva.blogspot.com/2018/05/definicao-de-cortex-
somatossensorial.html>, Acesso em: 27 de outubro de 2018.
CONFERÊNCIAS
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Resumida sobre os assuntos abordados nesse
capítulo!
Capítulo 10
OLFATO E PALADAR
1. Caso Clínico
Dr. Gomes estava no seu consultório, quando lhe chega um paciente assustado.
Seu Agostinho é um senhor de 39 anos, e chega com um quadro de redução progressiva da
acuidade visual há cerca de 1 ano, associado a perda da capacidade de perceber odores. Negou febre,
mal estar ou outros episódios similares previamente. Negou rinorreia, otorreia ou tosse. Refere que,
por conta da perda da sensação de odor, apresenta também redução na percepção do sabor dos
alimentos.
Ao exame físico, se apresentava em bom estado geral, normocorado, eupneico, acianótico. Ao
exame neurológico, estava vigil, contactante, lúcido e orientado. Pupilas arreagentes a luz, com
movimento ocular extrínseco preservado. À fundoscopia, apresentava papiledema em olho direito, e
atrofia de disco óptico em olho esquerdo. Mimica facial e sensibilidade facial preservadas. Apresenta
anosmia e ageusia. Audição preservada. Sensibilidade preservada. Força muscular e tônus
preservados, com reflexos tendinosos presentes e simétricos.
O Dr. Gomes, preocupado, solicitou uma ressonância magnética de encéfalo, e pediu que voltasse
assim que tivesse o resultado. Na semana seguinte, Agostinho retorna com o exame, que evidenciou
uma massa de cerca 8 x 10 cm, com captação importante do contraste, na região da fossa anterior, na
linha média, comprimindo estruturas adjacentes. Com isso, o Dr. Gomes logo indicou internamento
para estudo do quadro e avaliar a melhor conduta pro quadro, pois se tratava de um provável
meningioma em região de goteira olfatória. Este afeta as vias da olfação, causando a anosmia, que por
sua vez afeta também a gustação, provocando a ageusia. Pensando nos achados clínicos (papiledema,
atrofia de disco óptico, e anosmia), notou que o paciente apresentava a síndrome de Foster Kennedy, e
logo planejou uma aula para discorrer sobre o tema a seus alunos.
1.1. Termos-Desconhecidos
• Meningioma
• Anosmia
• Ageusia
• Sindrome de Foster-Kennedy
1.2. Termos-Chave
2. Gustação
Esse sentido químico tem importância aos humanos por propiciar que ele distinga fontes de
alimentos e possíveis toxinas. Naturalmente, o doce nos agrada, e o amargo nos causa repulsa. Isso a
gente pode associar ao leite materno doce, e ao amargo de certos venenos. Mas nós podemos
modificar essa opinião através da experiência, e assim podemos aprender a tolerar ou gostar de
elementos amargos, como café. Além disso, identificando deficiências, o organismo desenvolve
apetite por eles, como quando ansiamos por alimentos salgados (em déficit de sal), ou a sede quando
ansiamos por água.
Imagem 1: Regiões especializadas na detecção dos principais sabores conhecidos até o momento. (1)
Pela língua, estão espalhadas as papilas, que são classificadas quanto à forma (filiformes,
circunvaladas ou fungiformes). Cada uma dessas papilas tem vários botões gustativos, em que cada
botão tem centenas de receptores gustativos, e cada um desses tem seu conjunto de axônios aferentes
gustativos.
Imagem 2: Ilustração das papilas gustativas: fungiforme, foliadas e circunvaladas. Detalhe para a
localização dos receptores gustativos na papila, e sua conformação. (2)
É bom saber que não é qualquer concentração de dada substância que ativa esses receptores. É
necessário atingir um limiar de concentração para conseguir desencadear o potencial de ação com as
informações gustativas, evocando a percepção do sabor. Logo acima do limiar, a papila se mostra
sensível a um específico sabor básico, mas conforme a concentração aumenta, ela se torna menos
seletiva.
Também visto no capítulo VI, o núcleo do nervo glossofaríngeo tem participação importante na
gustação. Ao se comunicar com o núcleo olfatório, induz a salivação em resposta a um cheiro de
comida. Além disso, seus ramos aferentes viscerais especiais que fazem conexão com o núcleo do
trato solitário respondem pela gustação do terço posterior da língua. E, por fim, o nervo vago
também contribui, por emitir ramos que se comunicam com o mesmo núcleo, respondendo pela
sensibilidade gustatória da epiglote.
É importante ressaltar que a gustação é importante no controle da alimentação e da digestão,
podendo provocar vômitos, salivação, afetando a deglutição. A perda da percepção gustativa se chama
ageusia ou ageustia.
Imagem 4: Ilustração do córtex gustatório, e o trajeto das vias da gustação pelo tronco cerebral e
tálamo. (4)
O fato curioso é que boa parte da percepção do sabor vem, na verdade, do estimulo olfatório! Isso
mesmo, ao mastigar, mover a língua e deglutir, partículas são bombeadas para a cavidade nasal, na
região posterior, onde irão estimular os receptores olfatórios. Porém, a localização do sabor, apesar do
estimulo olfatório, ainda é na língua, e isso se associa ao estimulo somatossensorial do alimento na
superfície da língua.
No geral, pela facilidade na obtenção da resposta, são mais testados os sabores salgado e doce, em contraste
ao amargo e azedo. Com a retração da língua, a substancia é dispersa por toda a superfície, ficando difícil a
avaliação do território dos nervos envolvidos. Com isso, deve ser mantida protrusa, e a boca lavada sempre
após um teste. Importante a comunicação por sinais e palavra escrita, para que o examinador observe se o
paciente identificou ou não determinado estímulo. Como a ponta da língua tem pouca sensibilidade
gustativa, usa-se a superfície dorsal, entre o terço anterior e médio.
Os casos de acometimento do nervo facial são os que mais costumam requerer sua avaliação, onde é
possível, através da detecção de uma alteração gustativa, identificar o local da lesão. Em caso de paralisia
do nervo, quando há acometimento gustativo, tem se que a lesão está próxima ao tímpano, ao passo que,
com gustação preservada, a lesão está ao nível do forame estilomastoideo, ou distal a ele.
A ageusia é a perda completa da percepção da gustação. A hipogeusia, por sua vez, diz respeito a
redução da percepção.
3. Olfação
O olfato é importantíssimo para a identificação do alimento, interfere inclusive na percepção do
sabor, e pode levar a satisfação ou repulsa deles. Pode também alertar do perigo de determinada
substancia, seja na comida, seja em um determinado lugar. Tem caráter afetivo ao identificarmos o
cheiro de alguém que gostamos ou repudiamos. Em outros animais, tem até função reprodutiva.
São as extremidades dessas células que contem cílios, que, neles, estarão os receptores olfativos.
Eles conseguem converter o estimulo provocado pela substancia em impulso nervoso. Seus axônios
atravessam a placa cribriforme do osso etmoide, e fazem conexão com o bulbo olfatório, logo acima.
Imagem 6: Ilustração do bulbo olfatório, e os nervos se projetando pela lâmina crivosa (ou
cribriforme) do osso etmoide, para emergir suas terminações com receptores olfativos, no teto da
cavidade nasal. (6)
3.2 Os receptores
As células olfativas têm único dendrito que termina em pequena dilatação. Dela, saem cílios finos
que se estendem na camada do muco. Do outro lado, há um fino axônio não-mielinizado. E é nesses
cílios que se encontram os receptores.
Os mecanismos de transdução estão nos cílios. E, assim, a via olfativa envolve a estímulo a
proteína G por ligação da molécula ao receptor, com cascata de AMP cíclico, abertura de canais de
sódio e cálcio, desencadeando o potencial de ação. Porém, não é um estímulo contínuo. Ele com o
tempo sofre o fenômeno de adaptação, e então a pessoa passa a ter redução da percepção daquele
odor.
Nos humanos, existem mais de 300 diferentes tipos de receptores, e a sua quantidade varia de
acordo com a espécie animal. Em geral, são receptores acoplados a proteína G (do tipo
metabotrópicos, que desencadeiam uma sinalização na célula mediada por uma via metabólica). A
ligação de uma substancia ao receptor induz a uma sequência de eventos metabólicos que induzem o
desencadear de um potencial de ação. Ele se propaga pela célula olfativa e por seu axônio, alcançando
a sinapse entre ela e o bulbo olfatório, onde irá promover sua propagação.
Os vários axônios compõem o nervo olfatório (nervo craniano I), mas antes disso, atravessam a
placa cribriforme, rumando para o bulbo olfatório, ou, como também é conhecido essa região, a
“goteira olfatória”. Eles são frágeis, e lesões dessa placa (como em TCE, fraturas de base de crânio),
podem levar a incapacidade da percepção de odores, a anosmia.
Mas, e como diferenciar o odor de cada substância? Basicamente, existem 2 mecanismos:
especificidade do receptor à substância, significando que não é todo receptor que será ativado por
determinada substancia; e que cada substância possui um grupo de receptores que lhe reconhece.
Sendo assim, cada substância ativa determinados grupos de receptores diferentes, que estão dispersos
pela membrana olfatória.
Importante ressaltar que o olfato possui o diferencial dos demais sistemas sensoriais de não passar
pelo tálamo antes de chegar ao córtex cerebral. Porém, é bom saber, que não significa que não exista
comunicação com o tálamo, pois é incorreto! Ele tem vias que passam pelo tálamo. O que ocorre é que
o trato olfatório não atravessa o tálamo para chegar ao córtex, ele já vai diretamente.
Mas, e o córtex? Bem, pouco se sabe sobre seu arranjo, e muito ainda se estuda sobre um possível
“mapa cortical”, mas ainda não se sabe exatamente se essa teoria é válida ao córtex. O que se sabe é
que as informações já chegam diferenciadas ao córtex, através de mapas nos bulbos olfatórios. O
córtex olfatório, na realidade, compreende diversas áreas. São conhecidas pelo menos cinco: núcleo
olfatório anterior, próximo a comissura anterior; núcleos corticais anterior e posterior da amígdala;
tubérculo olfatório; córtex entorrinal; e o córtex piriforme, esta última sendo considerada a principal
área envolvida.
DETALHE!
A hiposmia e anosmia são distúrbios da intensidade da percepção do odor. Assim, a hiposmia seria a
redução da percepção do odor, e a anosmia a ausência da percepção do odor. Eles ocorrem por lesões ao
longo da via olfatória, desde os receptores até os neurônios que se conectam no sistema nervoso central.
A parosmia é a alteração da qualidade da percepção do odor, quando, um determinado aroma, desperta
no indivíduo a percepção de outro odor. Este se denomina uma cacosmia quando, de um odor neutro ou
agradável, o indivíduo tem a sensação de um odor desagradável.
4. Entendendo o caso...
Os meningiomas são tumores de crescimento lento, extra-axiais, vindos das células da aracnoide.
A grande maioria é classificada como benigna. A ressecção total do tumor costuma levar a cura,
apesar de nem sempre ser possível. Pode, a depender do local e do crescimento, fazer lesão óssea. Em
geral são lesões únicas (quando múltiplas, se atentar para a neurofibromatose), e benignos. Raros são
os casos de tumores malignos (menos de 2%).
Pode surgir em qualquer lugar que contenha células da aracnoide, como: convexidade, região
parassagital, asa do osso esfenoide, órbita, sela turca, forame medular, e placa cribriforme do osso
etmoide (goteira olfatória). Na goteira, as manifestações clinicas costumam ocorrer em grandes
tumores: alterações do estado mental, convulsões, ou a Síndrome de Foster Kennedy (anosmia, atrofia
de nervo óptico ipsilateral, e papiledema contralateral).
A síndrome de Foster Kennedy consiste em uma doença menos frequente na atualidade, por conta
do avanço nos métodos diagnósticos, com identificação do quadro mais precocemente. Ela descreve
uma síndrome clinica vinda de um meningioma na região da goteira olfatória, que afeta o bulbo e o
trato olfatório, causando a anosmia e, com o crescimento posterior, comprime nervo óptico, fazendo
atrofia do mesmo. Por conta do aumento da pressão intracraniana, promove papiledema contralateral.
Para diagnóstico, a ressonância evidencia a maioria dos casos, apresentando patencia de seios
venosos, e, ao contraste, realça a lesão. Pode apresentar também plano de clivagem, e espaço com
líquor entre o tumor e o parênquima, e também a chamada “cauda dural”, uma continuação da lesão
com a dura mater.
A cirurgia é o tratamento de escolha nas lesões sintomáticas. Quando assintomático, ou apenas
com quadros de convulsão controláveis com medicação, pode-se considerar a conduta expectante, com
exames de imagem seriados para acompanhamento. Durante o procedimento, pode haver muito
sangramento. Com isso, embolização ou radioterapia pré-operatórias podem ser úteis.
Ressecção completa
macroscópica com remoção de
I 9%
seio dural, osso ou inserção na
dura mater envolvida
Ressecção completa
II macroscópica com embolização 19%
endotérmica da fixação dural
Ressecção completa
macroscópica, sem remoção da
III 29%
inserção na dura ou osso
envolvido
A ageustia é a perda total da capacidade de perceber o gosto dos alimentos e objetos, e a digeustia
(mais comum) é a redução ou alteração da percepção da gustação. A grande maioria dos casos de
disgeustia ocorrem por alguma alteração no olfato. Lembremos que o processo de sentir desejo por
um alimento tem influência de nossos sentidos que, com a visão e olfação principalmente, ocorre um
desejo maior ou repulsa a determinados alimentos. Quando o olfato está prejudicado, ocorre redução
da percepção do alimento, e o sabor, que em conjunto com o odor compõem as características que
formam o alimento em nossa memória, acaba reduzindo ou sofrendo alteração da qualidade, muitas
vezes estando diferente do habitual.
Referências Bibliográficas
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Imagens
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3. Correio Popular. A geografia da língua e a percepção dos sabores. Disponível em
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4. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo: Manole, 2003.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo: Manole, 2003.
6. Dr. Fayez Bahmad Jr. Para que serve o olfato? Disponível em <http://www.fayezbahmad.com.br/secao_detalhes.asp?
s=26&id=240>, Acesso em: 27 de outubro de 2018.
7. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New York: Thieme, 2006.
8. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo: Manole, 2003.
9. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo: Manole, 2003.
CONFERÊNCIAS
2. Anatomia do Olho
Ele é especializado na detecção, e análise da luz. O olho, em vista
externa, basicamente é composto por: pupila, íris, esclera, córnea,
conjuntiva, e os músculos extraoculares. Emergindo do polo posterior,
está o nervo óptico, o I par craniano.
3. Formação da Imagem
Para haver a convergência dos raios luminosos na retina, é necessária
uma série de refrações. Assim, a córnea, os humores vítreo e aquoso, e o
cristalino devem ter uma adequada transparência e capazes de convergir os
feixes de modo adequado. Alterações na sua transparência provocam
alterações na formação da imagem, como na catarata.
E o ponto de emissão dos raios luminosos e a região onde eles
convergem é conhecida como distancia focal, ou foco. E, para uma
adequada focalização na retina, é preciso que a córnea tenha uma curvatura
adequada. Caso contrário, a imagem pode ser focalizada em um plano
diferente da retina (como é o caso do ceratocone).
Lembrando também que o meio externo que o olho visualiza (no caso, o
ar), também interfere. Se mudar o ar pela água, por exemplo, a imagem já
não se forma mais do modo adequado, ficando borrado.
Em seguida, tem o cristalino. Como eu falei, ele é uma lente biconvexa,
que consegue focalizar a imagem de modo adequado, sofrendo o fenômeno
da acomodação. Os músculos ciliares são responsáveis por tal fenômeno,
fazendo com que ele se achate ou se estique, alterando o foco da imagem a
se formar, sempre visando focalizar na retina.
Com o tempo, as pessoas vão perdendo essa capacidade, e comisso um
idoso tem dificuldade para focalizar certas imagens, requerendo o uso de
lentes corretivas.
É bom notar também o papel fundamental da pupila, pois ajusta
constantemente a intensidade da luz que adentra o olho. Assim, ao incidir
uma luz no olho, de modo súbito, vê-se a pupila se contrair. Eis o reflexo
pupilar direto, um reflexo que envolve toda uma trajetória específica.
4. A Retina
A retina é o sítio de recepção da informação visual. É, em conjunto com
o nervo óptico, componente do encéfalo. Assim, a luz, ao entrar no olho,
incide sobre os fotorreceptores presentes na retina. Eles, basicamente,
direcionam o sinal para células bipolares, e de lá para células ganglionares,
que disparam potencial de ação para se propagar pelo nervo óptico para o
encéfalo.
As células horizontais recebem aferências de fotorreceptores,
influenciando nos demais fotorreceptores, e células amácrinas recebem
aferências de células bipolares, influenciando as células ganglionares.
Imagem 5: Estruturação das camadas da retina, com os fotorreceptores. (5)
4.1. Organização
As células se organizam em camadas. Sendo que estão em sentido
oposto, ou seja, a luz tem que atravessar as células ganglionares e bipolares
antes de alcançarem os fotorreceptores.
Camada de Células Ganglionares
4.2. Fotorreceptores
Cada fotorreceptor, basicamente, tem um segmento externo, outro
interno, corpo celular e terminações sinápticas. O segmento externo tem
discos membranosos, ricos em fotopigmentos, sensíveis a luz, cuja absorção
de luz provoca alteração no potencial de membrana.
Existem dois tipos básicos de: cones e bastonetes. E sua diferença vem
justamente do aspecto do seu segmento externo: os bastonetes tem
segmento externo longo, com vários discos; e os cones tem segmento mais
curto, com menor número de discos.
Imagem 7: Ilustração dos fotorreceptores: bastonetes (ou bastões) e cones.
(7)
Assim, quanto mais discos, maior a sensibilidade pela luz. Ou seja, num
ambiente escuro, o que os olhos veem basicamente é responsabilidade dos
bastonetes, por terem maior sensibilidade. Mas em condições com alta
luminosidade, são os cones quem mais trabalham. Outra diferença é que os
bastonetes basicamente têm o mesmo pigmento, mas os cones variam em
três tipos de pigmentos diferentes. Ou seja, são os cones que respondem
pela visão das cores.
A retina, em si, não é homogênea. Ela tem áreas com diferentes
estruturações. Na periferia, há muito mais bastonetes que cones, e muitos
fotorreceptores para células ganglionares. Assim, a periferia é mais sensível
a luz. Porém, a retina periférica não consegue detalhar as imagens, pois para
uma boa resolução, é preciso grande número de cones, e de baixa relação
entre fotorreceptores e células ganglionares.
A fóvea é o lugar de mais alta resolução da retina. Assim, nela, que é a
mais delgada parte da retina, não há células da retina acima dos
fotorreceptores. Ou seja, a imagem incide diretamente nos fotorreceptores.
Além disso, é a única região que não contém bastonetes, só possuindo
cones.
4.2.1. Bastonetes
Os princípios que regem a transdução do sinal, basicamente, envolvem
receptores acoplados a proteína G, e toda uma cascata de reações que levam
a alteração no potencial da membrana no fotorreceptor. Assim, quem é que
estimula esse receptor? Um fotopigmento, que corre na luz até alcançar a
retina.
Em repouso, a membrana tem potencial de -65 mv. Mas em uma
escuridão completa, há um fluxo constante de íons sódio, por canais
especiais, levando o potencial para -30 (corrente do escuro). Eles são
abertos por estímulo do GMPc, sendo que a luz reduz esse número de
canais abertos ao reduzir a quantidade de GMPc, provocando fechamento
dos canais, tornando potencial mais negativo. Ou seja, há uma
hiperpolarização em resposta a luz.
Esse evento começa com a absorção da radiação eletromagnética nos
fotopigmentos dos discos empilhados neles.
Nos bastonetes, tais pigmentos são conhecidos como rodopsinas, que
seriam proteínas receptoras de membrana, em que a absorção de luz altera
sua conformação, mudando a sua coloração, mudando o comprimento de
luz que consegue absorver. E isso leva a estimular a transducina, que está
no disco, que, após uma cascata de eventos, há a hidrólise do GMPc (que
está no citoplasma dos bastonetes no escuro). Isso promove a amplificação
do sinal, onde proteína G é ativada por pigmentos específicos,
determinando a precisão na resolução da imagem.
4.2.2. Cones
Enquanto que nos bastonetes, um aumento de luz já provoca queda de
GMPc até levar a saturação da luz (ou seja, luz adicional não estimula mais
eles), nos cones, esse limiar é diferente, requerendo mais energia para
desbotar eles e provocar a saturação.
O mecanismo é o mesmo dos bastonetes. O que difere basicamente é o
tipo de proteínas envolvidas nos discos, onde existem basicamente três, um
presente em cada cone, em que cada cone tem seu espectro de luz específico
para captar.
Assim sendo, lembremos que há três cores primárias: azul, vermelho e
verde. É a combinação delas que provoca a formação das demais cores.
Então temos três tipos de cones, cada um respondendo a cada uma dessas
cores, e é a ação conjunta deles que formará a imagem com a cor
correspondente. E com isso, Young propôs que cada ponto na retina, há três
tipos de cones, cada um respondendo a uma das cores primarias. E com
cada um sendo estimulado de modo distinto, o encéfalo compõe essa
mistura de cores, formando a imagem com as tonalidades de cores
especificas. – Teoria Tricomatica de Young-Helmholtz.
Percebe agora porque de noite é mais difícil discriminar as cores nos
objetos? Pois há pouca luz capaz de estimular os cones. Com isso, só os
bastonetes são estimulados, e eles tem uma sensibilidade no espectro azul-
esverdeado.
Por sinal, é preciso um tempo para se adaptar quando mudamos de
ambiente claro para outro escuro, e vice-versa. Assim, temos o fenômeno de
adaptação ao escuro e ao claro. Nesse momento, a pupila se dilata,
aumentando a entrada de luz no olho, e mais bastonetes ficam disponíveis
para captar luz. Assim, quando voltamos a ambiente luminoso, demoramos
novamente para se adaptar, pois com alta sensibilidade para a luz, ficamos
sem enxergar direito, pois muito mais luz está sendo captada pela retina.
4.3. Processamento
Ainda há muito o que entender quanto ao processamento na retina. Mas,
o que se sabe, é que sinais de saída codificam a imagem a ser conduzida ao
SNC. Lembrando que quem dispara PA são as células ganglionares. As
demais respondem a estímulos com alterações graduais de potencial de
membrana.
E o que ocorre? Um fotorreceptor conduz informação para célula
bipolar, que conduz para a célula ganglionar. Em cada sinapse, a informação
é modulada, por conexões de células horizontais e amácrinas.
Os fotorreceptores liberam glutamato quando sensibilizados. No caso
deles, a luz hipersensibiliza-os. Ou seja, a luz induz a menor liberação de
neurotransmissores. Ou seja, também, a sombra é quem provoca
despolarização e liberação de neurotransmissores pelos fotorreceptores.
Nesta camada, cada fotorreceptor faz contatos com as bipolares e as
horizontais, sendo as horizontais quem interfere nas vias ao redor, nesta
camada, e as bipolares quem levam informação pela via direta.
• Células tipo Off – canais ativados por glutamato, mediando PEPS, que
despolariza por influxo de Na (desligam com muito glutamato)
• Células tipo On – receptores acoplados a proteína G, respondendo a
glutamato com hiperpolarização. (acendem com pouco glutamato)
5. O Nervo Óptico
O nervo óptico, o II par craniano, emerge da retina, saindo pelo polo
posterior do globo ocular. É também chamada de via retinofugal
justamente por se dirigir para fora da retina. Para sair da retina, a via
começa a partir das células ganglionares, que irão emitir fibras que, juntas,
compõem o nervo óptico, que emergem da retina a partir da papila óptica.
Atravessam forames da base do crânio para saírem das órbitas.
A retina tem dois componentes: o componente lateral, ou temporal, que
responde por um grupo de fibras do nervo óptico, e o componente nasal, ou
medial, que responde por outro grupo. Esses dois compõem o nervo óptico,
mas percorrem todo o trajeto separados. Lembrando que, na refração, a
imagem se forma de modo invertido na retina.
Logo após emergir das órbitas, se unem para formar o quiasma óptico, à
frente da região da sela túrcica. Nessa região, os axônios que vem de células
presentes nos campos nasais das retinas vão cruzar a linha média, fenômeno
conhecido como decussação. Logo após o quiasma, as vias que saem são
chamadas de tratos ópticos, que vão correr logo abaixo da pia máter, nas
superfícies laterais do encéfalo.
Os campos visuais são toda a região do espaço que pode ser vista com
ambos os olhos, olhando para frente. Se você divide esse campo com uma
linha imaginária vertical, que corre bem no meio do campo de cada olho,
você tem a divisão em hemicampos visuais direito e esquerdo. Assim, o
hemicampo visual esquerdo é “visualizado”, no córtex, pelo córtex direito,
e o hemicampo visual direito pelo córtex esquerdo.
Se olhar para um ponto fixo, e fechar um olho, depois trocar de olho,
perceberá que o campo medial dos campos de cada olho é visto por ambos.
Esse é o campo visual binocular.
6. O Trato Óptico
Boa parte das fibras se desprendem do trato óptico para se conectar com
células do hipotálamo, e cerca de 10% vão seguir pro encéfalo, passando
pelo tálamo e mesencéfalo. Algumas fibras se ramificam e se dirigem a
núcleos da área pré-tectal, sendo importantes para mediar reflexos pupilares
e outros reflexos visuais importantes.
As demais fibras chegam no tálamo, através do núcleo geniculado
lateral, de onde partem fibras para o córtex visual primário, que tem um
arranjo característico, sendo denominado radiação óptica. Qualquer lesão
nessa via, desde a saída do olho, até o córtex cerebral, poderá levar a
cegueira.
Com isso, é possível predizer a localização de uma possível lesão em
todo o trajeto. Se o nervo óptico é lesado, toda a visão do olho dele é
comprometida, a chamada amaurose. Se o quiasma é lesado, as vias que
cruzam são comprometidas, ou seja, as que vem das porções nasal das
retinas, e que formam o campo temporal visual, a chamada hemianopsia
bitemporal. Se a parte externa do quiasma em ambos os lados é lesada,
temos lesões de vias oriundas dos componentes temporais, responsáveis
pelos campos nasais, levando a hemianopsia binasal. E se o trato óptico é
lesado, todo o campo direito dos dois olhos, ou o campo esquerdo dos dois,
vai ser lesado hemianopsia homônima. Se há a perda visual em um
quadrante do campo, seja em um ou nos dois olhos, há a quadrantopsia,
comum em lesão parcial das radiações ópticas, que podem promover outros
tipos de comprometimento visual. E se houver lesão em áreas específicas do
córtex também podem haver diversos tipos de hemianopsia, e uma delas é a
hemianopsia altitudinal, em que há perda da visão acima da linha
horizontal medial do campo visual.
Imagem 8: Ilustração dos campos visuais, e em escuro as regiões perdidas
de acordo com as lesões correspondentes nos locais destacados nas vias. (8)
Algumas células enviam fibras para outras regiões que não o NGL do
tálamo. Algumas emitem para o hipotálamo, sendo importante no ciclo
sono-vigília, e no ciclo circadiano. Outras emitem para a área pré-tectal do
mesencéfalo, sendo importante pra mediar o tamanho da pupila, e alguns
movimentos oculares. Cerca de 10% das células ganglionares da retina vão
emitir fibras para os colículos superiores, do mesencéfalo. Essa região
tectal do mesencéfalo é a principal alvo da projeção retinofugal. Os
colículos superiores são chamados de tecto óptico, sendo a razão de essa
via ser chamada também de projeção retinotectal.
Quando um ponto luminoso atinge a retina, essa via retinotectal é
responsável por ativar um conjunto de neurônios motores do tronco cerebral
para direcionar o olho e a cabeça de modo a colocar esse ponto luminoso na
fóvea, a região de melhor captação de imagem.
Contudo, os núcleos geniculados laterais consistem no principal alvo do
trato óptico. Eles parecem ser arranjados em seis camadas distintas, sendo
numeradas de 1 a 6, começando pela mais ventral. São curvadas, com a
forma de joelho (daí o geniculado), empilhadas umas nas outras. É a porta
de entrada para o córtex visual.
Cada camada desse NGL emite axônios para o córtex visual pela
radiação óptica. Lembrando que o NGL direito recebe informações do
campo visual esquerdo, e vice-versa. E no NGL, os sinais que vem dos dois
olhos é separado. Os sinais que vem do olho ipsilateral estabelece sinapses
nas camadas 2, 3 e 5. E o do olho contralateral nas camadas 1, 4 e 6.
E o que foi observado em estudos com microelétrodos, é que os campos
visuais e os sinais de entrada no NGL são idênticos aos das células
ganglionares da retina. E, pouco se sabe ainda, mas o próprio córtex visual
retoralimenta o NGL, e ele se comunica também com o tronco cerebral, se
relacionando com atenção e o estado de alerta, que veremos em outro vídeo.
7. Córtex Visual
O córtex visual primário, a área 17 de Brodmann, está no lobo
occiptal, estando ao redor do sulco calcarino. É também chamado de
córtex V1, ou estriado. Os axônios que se comunicam com ele vêm direto
do NGL. E no córtex há uma característica de organização geral das
imagens vindas da retina, que é conhecido como retinotopia, onde há
correspondência a área da retina que se comunica com a área do NGL e do
córtex visual.
Mas, lembremos de uma coisa importante: a retina tem locais de maior
precisão de captação de imagem, e outras com menor resolução. Tanto no
NGL quanto no córtex estriado há a magnificação dessas áreas de maior
precisão, em detrimento das outras de menor, ou seja, o mapeamento
retinotopico é desproporcional, pois a imagem tem focos de preferência
em detrimento de outras.
Imagem 9: Divisões das vias da visão: Retina, nervo óptico, quiasma óptico,
trato óptico, radiações ópticas, e córtex visual. (9)
Imagem 10: Imagem ilustrando a perda de campo visual correspondente a
lesão em cada segmento do sistema visual. (10)
7.1. Fisiologia
Os seus campos receptivos são similares aos dos neurônios do NGL do
tálamo, ou seja, pequenos, monoculares, organizados como centro-periferia.
Porém, é bom lembrar que há camadas do córtex com células tendo campos
binoculares, ou seja, respondendo a luz a qualquer um dos olhos. E qual a
importância disso? Basicamente, nós, seres binoculares, não
conseguiríamos usar os sinais que vem dos dois olhos, precisando enxergar
com um olho apenas para compreender o mundo ao redor, já que com as
imagens separadas, formaríamos duas imagens em vez de uma só.
8. Entendendo o caso...
Os adenomas de hipófise são tumores vindos do crescimento anormal
das células endócrinas da adenohipófise. Raramente vem da neurohipófise.
Os tumores de hipófise representam 10% dos tumores intracranianos, e tem
incidência maior entre os 30 e 40 anos. São divididos em adenomas
produtores/secretores ou não produtores/não-secretores, com base na
presença ou não da produção endócrina.
Eles variam em tamanho, desde microscópicos (menos de 1 mm) a
macroscópicos (até maiores de 5 cm), podendo ser invasivos. Em sua
grande maioria são lesões únicas. São classificados tumores grau I pela
OMS. São invasivos porem não são considerados malignos. Seu
crescimento é lento na maioria dos casos. Os tumores de rápido crescimento
são mais vistos nos casos de recidivância.
Quase 2/3 dos adenomas são secretores de hormônios, sendo, em sua
maioria, prolactina, seguido pelo GH, CRH e TSH. Os demais são não
secretores. Nas mulheres, os prolactinomas (adenomas produtores de
prolactina) se apresentam com quadro de amenorreia e galactorreia, ao
passo que os homens se apresentam com hipogonadismo e impotência. Os
secretores de GH manifestam-se com acromegalia nos adultos, e gigantismo
nas crianças. Os produtores de CRH fazem a síndrome de Cushing, e os
produtores de TSH fazem hipertireoidismo. Comumente fazem efeito de
massa, se manifestando com cefaleia, náuseas e distúrbios visuais. Os
sintomas compressivos costumam ser: hemianopsia bitemporal e redução da
acuidade visual (compressão do quiasma óptico); hipotireoidismo,
hipogonadismo, diabetes insipidus e hiperprolactinemia (por compressão de
estruturas funcionantes da hipófise); e compressão do III, IV e VI nervos
cranianos, fazendo oftalmoplegia, dos ramos maxilar (V2) e oftálmico (V1)
do trigêmeo, fazendo comprometimento da sensibilidade facial, proptose
por congestão venosa, e estreitamento de artéria carótida (por compressão
do seio cavernoso).
Pode ainda ocorrer a chamada apoplexia pituitária, onde ocorre uma
cefaleia súbita seguida de déficit neurológico ou endocrinológico, vindo de
uma expansão súbita de massa na sela turca, vindo da hemorragia ou
necrose. Pelo comprometimento súbito da função hipofisária, é necessária
administração de corticoides de imediato, seguida por uma avaliação
endócrina. É indicada abordagem cirúrgica em caso de: redução súbita dos
campos visuais, deterioração rápida e progressiva da acuidade visual ou do
nível de consciência (por hidrocefalia). Os melhores resultados vêm de
abordagens em até 7 dias do inicio do quadro. A via transesfenoidal tem
melhores resultados que a via transcraniana em alguns casos.
O diagnóstico é feito através de exames de imagem, podendo ser vista, à
TC ou à RNM. Na TC, pode ser vista, à janela óssea, um alargamento da
sela turca. Sem contraste, são isodensos à substancia cinzenta, podendo,
porém, serem observados cistos ou sangramentos no tumor. Ao contraste,
pode haver realce heterogêneo. Na RNM, os adenomas são isointensos ao
córtex cerebral. Quando comprimem o trato optico, observa-se
hiperintensidade no trajeto optico.
Os principais diagnósticos diferenciais são: hiperplasia hipofisária
(comuns em mulheres jovens), meningiomas selares (diferenciados pela
presença da hipófise deslocada na imagem), craniofaringioma (tumor
suprasselar mais comum na infância), cisto da bolsa de Rattke (diferencial
com microadenomas) e metástase (vindo de câncer de pulmão e mama).
O tratamento pode ser medicamentoso, principalmente em
prolactinomas com dosagem hormonal de prolactina > 500, visto que,
nesses casos, a chance de normalizar a prolactina é bem pouca. São
indicadas drogas agonistas da dopamina, como a bromocriptina e a
cabergolina. A cirurgia é indicada em caso de dosagem de prolactina < 500,
ou com dosagem > 500, mas refratário ao tratamento medicamentoso, após
cerca de 6 semanas de uso. É indicado também em casos de efeito de massa.
As abordagens possíveis cirúrgicas são: acesso transesfenoidal
(procedimento de escolha); transetmoidal; e transcraniana (indicado em
caso de extensão importante suprasselar).
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São
Paulo: Manole, 2003.
6. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
7. OSBORN, A. G. Encéfalo de Osborn: Imagem, patologia e anatomia. 1. Ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
8. GREENBERG, Mark S. Handbook of Neurosurgery. 6. Ed. New York: Thieme, 2006.
Imagens
1. Oculto revelado: a verdade. O nosso campo de visão: espectro eletromagnético e a luz
visível. Disponível em <http://ocultoreveladoaverdade.blogspot.com/2015/07/o-nosso-
campo-de-visao-espectro.html>, Acesso em: 27 de outubro de 2018.
2. InfoEscola. Globo ocular. Disponível em <https://www.infoescola.com/visao/globo-
ocular/>, Acesso em: 27 de outubro de 2018.
3. InfoEscola. Retina. Disponível em <https://www.infoescola.com/visao/retina/>, Acesso em:
27 de outubro de 2018.
4. Clínica Rahhal. Cristalino: Anatomía, funciones y afecciones. Disponível em
<https://www.rahhal.com/blog/cristalino-anatomia-funciones-afecciones/>, Acesso em: 27
de outubro de 2018.
5. Central da Optometria. Fotorreceptores. Disponível em
<http://centraldaoptometria.blogspot.com/2015/05/fotorreceptores.html>, Acesso em: 27 de
outubro de 2018.
6. Knoow.net. Retina. Disponível em <http://knoow.net/ciencmedicas/medicina/retina/>,
Acesso em: 27 de outubro de 2018.
7. Paulo Guzmán. Tecnología Médica en Oftalmología. Disponível em
<http://tecnologiamedicaoftalmo.blogspot.com/2018/05/fotorreceptores.html>. Acesso em:
06 de março de 2019.
8. Blog ABC Esclerose Múltipla. Neurite óptica. Disponível em
<http://www.abcesclerosemultipla.com.br/2016/05/neurite-optica.html>, Acesso em: 27 de
outubro de 2018.
9. CMsatisloh. Entendendo a visão: via óptica e córtex visual. Disponível em
<http://www.cmsatisloh.com.br/entendendo-a-visao-via-optica-e-cortex-visual/>, Acesso
em: 27 de outubro de 2018.
10. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
CONFERÊNCIAS
Confira aqui a aula dinâmica do Medicina
Resumida sobre os assuntos abordados nesse
capítulo!
12. A Audição
Capítulo 12
A AUDIÇÃO
1. Caso Clínico
Mais um dia tranquilo na emergência do Hospital do Santo Livro, e Dr.
Gomes mais uma vez se depara com um caso curioso. Chega ao P.S. uma
paciente de 15 anos acompanhada da mãe com relato de cefaleia, náuseas
há 7 dias, e fraqueza em hemicorpo direito há 3 dias. A mãe refere que,
hoje, a paciente cursou com rebaixamento do nível de consciência.
Indagada se houve algum outro sintoma prévio, refere que a mesma cursou,
há 12 dias, com quadro de otalgia e secreção em ouvido esquerdo. Refere
febre associada, e redução da acuidade auditiva no mesmo lado.
Ao exame neurológico, a paciente se apresentava sonolenta, hipoativa,
pouco contactante. Pupilas isocóricas e fotorreagentes, com movimento
ocular extrínseco preservado. Mimica e sensibilidade faciais preservadas.
Sensibilidade tátil e dolorosa preservadas. Força muscular reduzida em
hemicorpo direito. À otoscopia: presença de secreção purulenta e cera em
ouvido esquerdo, com membrana timpânica abaulada e pouco hiperemiada,
edema de parede do meato acústico.
Suspeitando de uma otite media complicada, solicitou uma ressonância
magnética de encéfalo, que evidenciou, em T1, uma lesão arredondada, com
realce perilesional por contraste, hipossinal no centro, e hipersinal
perilesional, sugerindo edema. O dr. Gomes logo suspeitou de um abscesso
cerebral, e tratou de internar a paciente para iniciar antibioticoterapia e
estudar uma possível abordagem cirúrgica da lesão, com o objetivo de
drenar o abscesso e reduzir o efeito de massa.
1.1. Termos-Chave
• Otalgia
• Otoscopia
• Membrana timpânica abaulada e hiperemiada
• Otite média aguda
• Distúrbio de condução
• Distúrbio de percepção
1.2. Termos Desconhecidos
• Otalgia
• Otoscopia
1.3. Objetivos
• Como ocorre a captação e processamento do som?
• Quais as regiões do sistema nervoso envolvidas na percepção do
som?
1. O Som
O som nada mais é do que uma onda eletromagnética, que se propaga
através da vibração das moléculas no ar. Ou seja, ele é dependente de um
meio com moléculas para se propagar. E qualquer coisa que faça as
moléculas do ar sofrerem vibrações, são capazes de gerar sons.
Essas vibrações são produzidas em uma sequência específica, e de
maneira periódica. Assim, temos a frequência, que é o número de trecos de
ar que são submetidos a vibrações que passam por nossos ouvidos a cada
segundo. A frequência é medida em Hertz (Hz).
Nosso sistema auditivo consegue responder a ondas na faixa entre 20 e
20000 Hz. Acima ou abaixo disso nosso sistema auditivo não consegue
captar e converter em sinais nervosos. Conforme avança a idade, ou ao ser
exposto a ruídos de alta frequência, a nossa audição reduz essa faixa
auditiva. E a frequência tem influência na detecção do tom do som, seja
agudo ou grave. Os sons graves possuem baixa frequência, enquanto que os
agudos têm alta.
Outra característica importante é que os sons possuem intensidade, que
seriam as diferenças entre as vibrações produzidas. E ela determina o
volume do som.
2. Composição
O ouvido externo é composto por cartilagem coberta por pele,
formando o pavilhão auricular, que capta o som vindo em sua direção. Sua
conformação possibilita uma melhor captação de sons que vem da frente do
que os que vem de trás. E seu formato auxilia na interpretação da direção de
onde vem o som. Nos humanos, o pavilhão é praticamente fixo, mas em
outros animais ele se move, para redirecionar a direção para o qual quer
captar o som.
Imagem 1: Ilustração da anatomia do pavilhão auricular, com destaque à
hélice, anti-hélice, cavum, trago, antitrago, e lóbulo. (1)
DETALHE!
3. Fisiologia
O movimento para dentro da janela oval empurra a perilinfa na escala
vestibular. Se a membrana interna fosse rígida, ocorreria a transmissão da
pressão pela perilinfa na escala vestibular, passaria pelo helicotrema, e
desceria pela escala timpânica, até a janela redonda. Mas isso não ocorre
desse modo, devido a estruturas de dentro da cóclea não serem rígidas,
como é o caso da membrana basilar, que é flexível.
A membrana basilar, ao longo do canal, é mais larga no ápice do que na
base, e a rigidez diminui da base ao ápice. Se a frequência do som é alta, a
base vai vibrar muito, dissipando parte da energia, com a onda não
propagando muito adiante. Se a frequência for baixa, as ondas irão se
propagar até o ápice flexível, antes da boa parte da energia se dissipar.
Assim, o ponto de deformidade máxima de determinada frequência pode ser
determinado, tal qual um código de localização, gerando um código neural.
4. Vias auditivas
As vias auditivas fazem sinapses em várias regiões intermediárias, antes
de chegar, de fato, ao córtex.
O nervo auditivo segue formando o nervo coclear que irá compor o
Nervo Vestibulococlear, o VIII par craniano. No bulbo, ele inerva o núcleo
coclear dorsal e ventral, ipsilateral a cóclea inervada.
A partir dos receptores da cóclea, neurônios bipolares se comunicam e
emitem axônios que irão terminar na ponte, formando o nervo coclear
(parte do nervo craniano VIII: nervo vestibulococlear). Alguns autores
consideram ele o primeiro neurônio da via auditiva. Ele atravessa o canal
auditivo interno, junto com o nervo vestibular, e atravessa o espaço
subaracnoide no ângulo pontocerebelar. Em seguida, entra no tronco
cerebral atrás do pedúnculo cerebelar inferior.
Na ponte, se comunica com os núcleos cocleares dorsal e ventral
ipsilateral a cóclea inervada. A partir daí, são emitidos os segundos
neurônios da via, que irão cruzar para o lado oposto dentro do corpo
trapezoide, contornar o núcleo olivar superior e ascender, formando o
lemnisco lateral contralateral. Algumas pequenas vias adentram o lemnisco
lateral ipsilateral também, e, durante o trajeto, emitem algumas fibras para
tais regiões do trajeto.
Em seguida, se dirigem ao colículo inferior, para fazer sinapse com os
terceiros neurônios da via. Estes irão emitir axônios para se comunicar com
o corpo (ou núcleo) geniculado medial, no tálamo. Por fim, no NGM, são
formados os quartos neurônios da via, que irão formar a radiação auditiva,
levando a informação para o córtex auditivo. Importante ressaltar que a
radiação atravessa a cápsula interna antes de chegar no córtex.
Imagem 7: Passagem na porção petrosa do osso temporal do nervo coclear e
vestibular, além da correlação anatômica com o nervo facial. (7)
Imagem 8: Ilustração da via auditiva rumo ao córtex auditivo. Destaque ao
fato de que, embora a via decusse a nível de bulbo, ainda há comunicação
no mesencéfalo que propicia a interpretação do som em ambos os lados do
córtex cerebral. (8)
5. Córtex Auditivo
Então, seguindo o trajeto, do tálamo, os axônios vão se projetar para o
córtex auditivo através da cápsula interna, via radiação acústica. O
Córtex Auditivo Primário (A1) corresponde a área 41 de Brodmann, no
lobo temporal, sendo também chamado de giro transversal de Heschl. Tem
arranjo similar ao córtex visual. Uma coisa interessante é que existe um
mapa auditivo no córtex (ou tonotopia), em que há regiões especificas para
faixas de frequência especificas.
Imagem 9: Imagem mostrando o córtex auditivo primário (em marrom,
roxo e vermelho) e sua comunicação com a área de Broca (em verde). Visão
lateral (A) e frontal (B). (9)
Imagem 10: Ilustração do mapa auditivo no giro temporal transversal, e a
tonotopia preservada ao longo do trajeto da via auditiva. (10)
DETALHE!
Durante o trajeto, algumas fibras são emitidas, se comunicando com outras áreas.
Por exemplo, algumas fibras fazem a ligação da via auditiva com núcleos do
movimento ocular e com o cerebelo, coordenando o desvio do olhar para o foco de
determinado som; outros vão para a área pré-tectal, e se comunicam com alguns
núcleos do tronco cerebral, como o do nervo facial (inervando o músculo
estapédio), ou para núcleos da raiz ventral da medula cervical, coordenando
movimento da cabeça em direção a um som.
6. Entendendo o caso...
A otite média aguda é um processo inflamatório do meato acústico
médio, em geral vindo de processo infeccioso (bacteriano ou viral). Em
crianças, é a principal infecção bacteriana. Quando ocorre uma infecção
bacteriana, pode ocorrer também secreção purulenta no meato acústico que,
em conjunto com o edema vindo da inflamação no local, podem dificultar a
passagem e captação da vibração pela membrana timpânica. Isso afeta a
transmissão da vibração sonora, afetando a percepção do som pela
diminuição da qualidade do som que chega aos órgãos internos. Isso é tido
como uma alteração na condução da onda sonora.
Por outro lado, quando ocorre uma lesão às células nervosas que estão
no ouvido interno, responsáveis por captar a transmissão sonora e
desencadear o potencial de ação que conduz informação para o SNC, tem-se
uma alteração na percepção sonora.
Um dos métodos de se diferenciar um distúrbio de condução para um
distúrbio de percepção consiste no Teste de Rinne, com a utilização do
diapasão, que ao ser posto a vibrar, é colocado primeiro a haste atrás do
ouvido, na região do mastoide, quando o indivíduo sadio irá ouvir um ruído
da vibração no osso. Ao parar de perceber a vibração, o diapasão é posto
próximo ao ouvido, que em pessoas sadias, nesse momento, se ouvirá o som
da vibração do diapasão. Quando há um déficit de condução, o indivíduo
ouve bem o som do contato do diapasão na mastoide, mas não ouve a
vibração próxima ao canal auditivo. Por sua vez, quando há déficit de
percepção do som por lesão neurológica, a pessoa ouve reduzido, ou até
mesmo não ouve, tanto o ruído da vibração na mastoide, como o som da
vibração do diapasão próximo ao meato acústico externo.
Suas complicações se devem a extensão da infecção para regiões
próximas no osso temporal, e no crânio. Assim, as principais complicações
são: mastoidites, paralisia do nervo facial, labirintite, trombose de seio
venoso, meningites e abscesso cerebrais.
O abscesso cerebral é uma afecção grave do sistema nervoso central,
com alta taxa de mortalidade. Tem como fatores de risco: otites,
endocardites, meningites, infecções dentarias, entre outras. As principais
vias para disseminação do agente são: hematogênica, via direta (acidente ou
cirurgia), contiguidade (por proximidade), e idiopática. Vindo de uma otite
média, os principais agentes causadores são: pseudomonas, anaeróbios,
enterobactérias e estreptococos.
O abscesso faz um processo de liquefação focal (necrose liquefativa) no
parênquima, sendo frequente a formação na transição entre a substancia
branca e a cinzenta. Com o processo inflamatório, além da necrose, há
formação de edema cerebral. Nos indivíduos imunocompetentes, esta é a
principal causa de formações expansivas intracranianas, fazendo aumento
da PIC e efeito de massa. Assim, os sintomas clínicos basicamente vêm de
sinais de hipertensão intracraniana ou de efeito de massa, como compressão
de leitos vasculares importantes, ou por herniação no tronco cerebral. Os
indivíduos costumam apresentar cefaleia, letargia, náuseas, vômitos,
hemiparesia e convulsões.
Para diagnóstico, alguns exames inespecíficos são uteis para
acompanhamento do quadro, como leucograma e proteína C reativa (PCR).
Não se indica a realização da punção lombar para coleta de líquor por conta
do efeito de massa da lesão, podendo precipitar uma herniação cerebral.
Além disso, o exame do líquor apresenta pouco benefício, podendo
inclusive vir sem alterações sugestivas.
A doença apresenta alguns estágios: cerebrite precoce (nos primeiros 3
dias, mal delimitado, infiltrados perivasculares); cerebrite tardia (até o nono
dia, com desenvolvimento de centro necrótico); encapsulamento precoce
(até o 13º dia, com neovascularização, centro necrótico); encapsulamento
tardio (após os 14 dias iniciais, já com capsula de colágeno, centro
necrótico e áreas de gliose perilesional). À tomografia, podemos distinguir
o estagio de cerebrite de encapsulamento por:
- cerebrite: ocorre realce perilesional ao contraste nas fases mais tardias,
visto que na cerebrite as lesões são mais difusas.
- encapsulamento: realce perilesional sem contraste, com destaque ao
edema perilesional, e maior realce ao contraste.
À ressonância magnética, a cerebrite é uma fase de lesões mal
delimitadas, difusas, sendo melhor observada lesão na fase do
encapsulamento, onde observa-se halo intenso por realce ao contraste,
centro necrótico, e realce perilesional pelo edema em T1.
O tratamento consiste basicamente na drenagem do abscesso, tratamento
da fonte primaria da infecção, e uso de antibióticos por tempo prolongado
(6 a 8 semanas). A cirurgia tem o objetivo de reduzir o efeito de massa.
Contudo, pequenas lesões, estágios iniciais ou melhora clinica na primeira
semana são indicativos de que o tratamento apenas a base de antibiótico
pode ser eficaz, principalmente naqueles com múltiplos abscessos
pequenos, localizações criticas, ou performance status baixa.
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São
Paulo: Manole, 2003.
6. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
7. GREENBERG, Mark S. Handbook of Neurosurgery. 6. Ed. New York: Thieme, 2006.
8. RETT, L. M. A. TIZIOTTO, G. NASCIMENTO, J. F. C. G. do. Abscesso cerebral: relato de
caso clinico. Revela: Revista Eletrônica Acadêmica. Ed. 21. P. 37 – 48. Dez, 2017.
9. PIRANA, S. et al. Relato de 3 casos de complicações de otite média aguda. Revista médica
de Minas Gerais. 2018. 28: e-1944.
Imagens
1. ResearchGate. Anatomy of external ear. Disponível em
<https://www.researchgate.net/figure/Anatomy-of-external-ear-DAlessandro-
2012_fig1_319200513>, Acesso em: 28 de outubro de 2018.
2. Otorrino Chapecó - André Fernando Scherer. Disponível em
<https://otorrinochapeco.site.med.br/index.asp?PageName=ouvidos>, Acesso em: 28 de
outubro de 2018.
3. Saúde Acústica - Centro de Reabilitação Auditiva. O ouvido médio. Disponível em
<http://saudeacustica.pt/o-ouvido-medio/>, Acesso em: 28 de outubro de 2018.
4. Blog Audicare. Você sabe como nossa cóclea processa o som? Disponível em
<http://audicare.blogspot.com/2012/09/voce-sabe-como-nossa-coclea-processa-o.html?
view=magazine>, Acesso em: 28 de outubro de 2018.
5. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
6. Portal Só Biologia. Como ouvimos os sons. Disponível em
<https://www.sobiologia.com.br/conteudos/FisiologiaAnimal/sentido6.php>, Acesso em:
28 de outubro de 2018.
7. Blog Metabolismo e Morfofisiologia. Nervo vestíbulococlear. Disponível em
<http://metabolismoemorfofisiologia.blogspot.com/2014/09/nervo-vestibulococlear.html>,
Acesso em: 28 de outubro de 2018.
8. Portal Cochlea. Cérebro auditivo. Disponível em <http://www.cochlea.eu/po/cerebro-
auditivo>, Acesso em: 28 de outubro de 2018.
9. Portal Cochlea. Córtex auditivo: organização. Disponível em
<http://www.cochlea.eu/po/cerebro-auditivo/talamocortex/cortex-auditivo-organizacao>,
Acesso em: 28 de outubro de 2018.
10. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
CONFERÊNCIAS
Confira aqui a aula dinâmica do Medicina
Resumida sobre os assuntos abordados nesse
capítulo!
13. Sistema Motor Somático
Capítulo 13
SISTEMA MOTOR SOMÁTICO
1. Caso Clínico
O Dr. Gomes certo dia ficou reflexivo com um caso que apareceu em seu
consultório, e decidiu levar o caso para apresentar a seus alunos da
Universidade do Santo Livro. Era o caso de um paciente de 49 anos,
masculino, que chegou à emergência do Hospital do Santo Livro com
dificuldade para deambular. Refere que o quadro iniciou há cerca de 7 anos,
com dor em panturrilha seguida de fraqueza em MMII, progressiva,
evoluindo, há quase 3 anos, com paresia de membro superior direito, e
hipoestesia em MMII.
Ao exame neurológico, o paciente se apresentava vigil, contactante,
orientado, sem déficits cognitivos (memória, linguagem, raciocínio, etc),
mas apresentando fraqueza muscular 2/5 em MMII, e 3/5 em MSD, com
hipoestesia nos pés, e hiperreflexia nos membros inferiores.
Com base nos dados do exame, indagou se seria uma síndrome do
neurônio motor, e, para afastar lesões centrais, pediu então uma ressonância
magnética de coluna cervical, que evidenciou sinais de lesão medular
inespecíficos em coluna cervical e torácica. Ainda indagando qual seria a
causa, pediu em seguida uma eletroneuromiografia, que evidenciou
neuropatia periférica axonal, sensitivomotora, simétrica, com predomínio em
membros inferiores. Como tinha pego dois casos na semana anterior
similares, e observou uma sorologia em especifico ter dado reagente,
solicitou para ele uma sorologia para o HTLV, que veio reagente.
Assim, iniciou tratamento para a infecção por HTLV, e segue
acompanhando o caso por suspeitar fortemente de que o caso se trata de uma
Paraparesia Espástica Tropical. Fascinados, indagaram ao professor como se
diferenciaria então uma síndrome do neurônio motor superior de uma do
neurônio motor inferior. Como o Dr. Gomes gosta de provocar, pediu que
lessem e na próxima aula iria cobrar deles as definições, os achados no
exame neurológico e alguns exemplos de causas para cada uma delas.
•
1.2. Vias Centrais
1.2.1. Córtex Cerebral
As áreas centrais relacionadas ao movimento voluntario basicamente são:
o córtex motor primário (área 4 de Brodmann), e suas áreas adjacentes
(córtex pré-motor – 6, e os tratos corticobulbar e corticoespinais).
1.3.2. As Vias
A comunicação do encéfalo com os NM da medula se dá por axônios
descendentes, que correm por duas vias específicas. Uma delas é a coluna
lateral, e a outra ventromedial. As vias laterais se envolvem no
movimento voluntário da musculatura distal, sob controle direto do
córtex (tratos corticoespinal lateral e rubroespinal). Já as vias ventromediais
se envolvem no controle de postura e locomoção, sob controle do tronco
encefálico (tratos reticuloespinal, vestíbuloespinal e tectoespinal).
CURIOSIDADE
CURIOSIDADE
CURIOSIDADE
2. Propriocepção
2.1. Fusos Musculares
Dentro dos músculos há estruturas conhecidas como Fusos Musculares,
ou Receptores de Estiramento. São formados por vários tipos de fibras
musculares esqueléticas especializadas, dentro de uma cápsula fibrosa. O
meio dessa cápsula é alargado, e é onde axônios sensoriais se enrolam nos
fusos. Essa estrutura é responsável por detectar alterações do comprimento
muscular, ou seu estiramento, sendo, portanto, proprioceptores, por se
especializarem na sensação corporal, ou em como nosso corpo se posiciona
e move no espaço. Essa, bom lembrar, é uma divisão do sistema sensorial
somático.
2.3. Em articulações
Existem ainda axônios proprioceptivos que estão em tecidos conjuntivos
de articulações, mecanossensíveis, que respondem a mudanças de ângulo,
direção e velocidade de movimento em uma articulação. Essa informação,
na verdade, vem de receptores na pele, e em outras estruturas, além da
articulação.
3. Núcleos da Base
Os núcleos da base consistem em estruturas envolvidas na iniciação e na
modulação do movimento, se situando na substância branca profunda do
telencéfalo. Eles são objeto de muitos estudos pelos neurocientistas
atualmente, por conta da descoberta de diversas disfunções associadas a
doenças deles. E sua gama de disfunções é vasta, perpassando por Doença de
Parkinson até a Coreia de Huntington. E essa variedade de distúrbios afetam
justamente a motricidade do indivíduo, indicando que eles possuem um
papel relevante na regulação das ações.
Embora boa parte das disfunções sejam motoras, há ainda disfunções
intelectuais e afetivas, indicando que também atuem na cognição. Além
disso, podem também estar relacionados a dependências a drogas.
Filogeneticamente, o centro motor mais antigo do organismo humano
consiste na medula espinal e o aparato primitivo da formação reticular no
mesencéfalo. Então, vieram o paleoestriado (globo pálido interno e externo)
e, em seguida, o neoestriado (núcleo caudado e putamen), que se
desenvolveu em paralelo ao córtex cerebral. O neoestriado é uma porção
bem desenvolvida nos humanos.
3.1. Componentes
Os maiores núcleos da base são o: núcleo caudado, putamen, e parte do
globo pálido. O claustro e a amigdala são considerados parte dos núcleos da
base por conta da origem embriológica, mas pouco se sabe da sua relação
funcional com eles.
O núcleo caudado compõe a parede do ventrículo lateral em cada lado
(mais precisamente sua cabeça), e tem um formato arqueado vindo da
rotação do telencéfalo durante o desenvolvimento. Sua cauda compõe parte
do assoalho do corno temporal do ventrículo lateral. Se estende para a frente
com a amigdala. Sua cabeça se continua com o putamen.
Como consequência do desenvolvimento do cérebro, que cresceu inferior
e posteriormente, para formar os lobos temporal e occiptal, o núcleo caudado
e o ventrículo lateral seguiram tal rumo, e também se desenvolveu para essa
direção. Assim, em virtude do formato do córtex, o núcleo caudado também
se desenvolveu em forma de C. E esse formato, em especial, confere a ele
três componentes: cabeça, corpo e cauda (daí o nome caudado).
Imagem 10: O núcleo caudado, com a sua divisão estrutural, e
correspondência com o tálamo (em vermelho - pulvinar) e com outros
núcleos (como o globo palido medial e putâmen - núcleo lentiforme). (10)
CURIOSIDADE
3.5. Circuitos
Os núcleos da base fazem conexões com várias regiões. Seus circuitos se
originam de diversas áreas diferentes corticais, e atravessam diversos
núcleos, tendo como alvo o lobo frontal. Destacam-se 4 circuitos
importantes que envolvem os núcleos da base:
• Circuito musculoesquelético
• Circuito oculomotor
• Circuito associativo / cognitivo
• Circuito límbico
O circuito locomotor tem papel importante no controle dos músculos
faciais, e dos membros e tronco. As aferências sensoriais projetam-se
também para áreas frontais motoras. Basicamente, esse circuito se subdivide
em circuito musculoesquelético e oculomotor. O musculoesquelético vem
de áreas motoras e somatossensoriais, e atravessam globo pálido, retornando
a áreas motoras. Já o oculomotor controla os movimentos sacádicos dos
olhos, com informações vindas de aferências do campo visual, e de tronco
cerebral e córtex de associação parietal. Assim, eles recebem informações
que processam as informações visuais para então participar do movimento
dos olhos, dosando a velocidade e a direção precisa para o qual devem se
movimentar.
O circuito associativo tem importância na cognição e nas estratégias
comportamentais, com informações vindas de áreas de associação, e se
projeta para o córtex pré-frontal e áreas pré-motoras. Basicamente se
envolve no raciocínio e pensamento, e no planejamento dos movimentos.
E o circuito límbico, por sua vez, atua na regulação dos
comportamentos e emoções. O sistema límbico é fundamental na emoção.
Então as informações vêm do córtex límbico e da formação hipocampal.
Aqui tem a participação basicamente do estriado anterior, e o GP anterior, e
projeta sinais para o giro cingulado anterior (córtex límbico).
Como funciona? Exemplo: você quer pegar seu celular para atender a
ligação. O circuito límbico está envolvido na sua preocupação em saber
quem é que está ligando, e na decisão de querer atender o celular ou não. O
circuito associativo vai se envolver no planejamento de como pegar e
atender o celular: como pegar, onde pegar e quando pegar o celular e apertar
o botão de atender. O circuito oculomotor lhe fara direcionar-se para o
celular, dando-lhe informações de onde está ele. E o circuito
musculoesquelético lhe direcionará e fará buscar ele. Ou seja, todos os
circuitos se comunicam entre si, interagindo para a execução de um
movimento fino, apurado.
4. Entendendo o caso...
Trata-se de um caso típico de Paraparesia Espástica Tropical, uma
doença neurológica oriunda da infecção por HTLV. O HTLV é um vírus
endêmico no Brasil, que é transmitido por transfusão sanguínea ou via
sexual, que, além da PET, provoca também outras doenças, como vasculites
ou doenças alveolares, e se associa também ao Linfoma de células T.
A PET ocorre por degeneração simétrica dos neurônios nos segmentos
laterais da medula espinal, por onde passam os Neurônios Motores
Superiores (NMS). Mais precisamente, ocorre uma desmielinização destes.
Com isso, o individuo apresenta alterações na marcha, espasticidade e
fraqueza nos membros inferiores. Comum vir também incontinência urinária
e, nos homens, impotência. Os sintomas têm início insidioso, normalmente
começando por uma alteração na marcha, que evoluem para espasticidade e
fraqueza muscular.
Um diagnostico diferencial importante é com a esclerose múltipla: esta se
apresenta com quadro normalmente mais agudo, e possui oscilação do
mesmo, ao contrario da PET, que tem inicio mais insidioso e progressivo. O
diagnostico é feito com a pesquisa no soro de anticorpos anti-HTLV-1.
O tratamento é feito a base de corticoterapia, que apresenta bons
resultados em quadros agudos ou de rápida progressão. Como alternativa, há
a ciclofosfamida.
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo:
Manole, 2003.
6. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
7. GOLDMAN, L. AUSIELLO, D. Cecil: Medicina Interna. 23. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2011.
Imagens
1. ResearchGate. Lateral Aand Medial B view of the Primary Motor Cortex and PReotor cortex.
Disponível em <https://www.researchgate.net/figure/Lateral-A-and-Medial-B-view-of-the-
Primary-motor-cortex-and-Premotor-cortex-7_fig5_281198195>, Acesso em: 28 de outubro
de 2018.
2. Grupo de Ensino em Neurologia. Disponível em
<http://monitoriagen.wixsite.com/monitoria/em-branco?lightbox=dataItem-ijkrnm9c1>,
Acesso em: 28 de outubro de 2018.
3. Blog Dr. Carlos. Doença do Neurônio Motor. Disponível em
<https://drcarlosrey.blogspot.com/2017/08/doenca-do-neuronio-motor.html>, Acesso em: 28
de outubro de 2018.
4. Portal Passei Direto. Níveis da medula. Disponível em
<https://www.passeidireto.com/arquivo/1648558/niveismedula>. Acesso em: 06 de março de
2019.
5. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
6. ResearchGate. Esquema ilustrativo da origem embriológica de uma fibra muscular
esquelética. Disponível em <https://www.researchgate.net/figure/FIGURA-6-Esquema-
ilustrativo-da-origem-embriologica-de-uma-fibra-muscular-esqueletica_fig1_35711562>,
Acesso em: 28 de outubro de 2018.
7. Portal Cola da Web. Sistema muscular. Disponível em
<https://www.coladaweb.com/biologia/corpo-humano/sistema-muscular>, Acesso em: 28 de
outubro de 2018.
8. PicLuck. Disponível em
<http://www.picluck.net/user/adrianofisio1/2947521533/1288306253538013537_294752153
3>, Acesso em: 28 de outubro de 2018.
9. Museu Escola da UNESP. Como funciona o corpo humano? Disponível em
<http://www2.ibb.unesp.br/Museu_Escola/2_qualidade_vida_humana/Museu2_qualidade_c
orpo_sensorial_somestesia3.htm>, Acesso em: 28 de outubro de 2018.
10. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
11. Blog Morfobiomed. Nucleo putamen. Disponível em
<https://morfofisiobiomed.wordpress.com/2014/11/18/nucleo-putamen/>, Acesso em: 28 de
outubro de 2018.
12. Anatomia Papel e Caneta. SNC - Cerebro, telencefalo e nucleos da base. Disponível em
<https://anatomia-papel-e-caneta.com/snc-cerebro-telencefalo-nucleos-da-base/>, Acesso
em: 28 de outubro de 2018.
CONFERÊNCIAS
Confira aqui a aula dinâmica do Medicina
Resumida sobre os assuntos abordados nesse
capítulo!
14. Cerebelo
Capítulo 14
CEREBELO
1. Caso Clínico
Mais um dia no Hospital do Santo Livro, e o Dr. Gomes segue no seu
plantão de emergência, quando lhe chega um caso curioso.
Fernanda, de 16 anos, da entrada na emergência vinda acompanhada da
sua mãe, dona Rosália, que estava desesperada. Foi admitida com quadro de
dispneia, cianose e hipoxemia, que iniciou há algumas horas. A mãe relata
retardo no desenvolvimento prévio. Nega uso de medicações.
Ao exame neurológico, estava confusa, sonolenta, respondendo pouco
aos comandos verbais, pouco contactante. Pupilas isocóricas e
fotorreagentes, com movimento ocular extrínseco preservado. Mímica e
sensibilidade facial presentes. Apresentava nistagmo vertical. Fraqueza
muscular em membros inferiores, 3 em 5, e apresentando ataxia de marcha.
Não foi testada a estereognosia, grafestesia, teste índex-índex, e a
diadococinesia. Sensibilidade tátil preservada, com déficit na sensibilidade
dolorosa.
O dr Gomes logo solicitou uma ressonância magnética, que evidenciou
ectopia cerebelar, e siringomielia na medula cervical. Assim, discutiu o caso
com o seu residente, Felipe, que sugeriu, com precisão, o diagnóstico de uma
malformação de Chiari. O dr. Gomes perguntou, então, a classificação e qual
seria o tipo de Chiari desse caso, mas o residente não soube responder. Ele
indicou uma descompressão em transição crânio-cervical, cirurgia realizada
por ele próprio, sem intercorrências. A paciente evoluiu com melhora nas
horas seguintes após o procedimento.
Com isso, o residente Felipe percebeu a importância de se entender o
cerebelo e sua relação espacial com outras estruturas do sistema nervoso,
além de lembrar do seu exame físico correto.
2. Anatomia
2.1. Externa e divisão funcional
O cerebelo fica na fossa posterior, atrás do bulbo e da ponte, sendo
separado do córtex cerebral por uma lâmina de dura-máter chamada tenda
do cerebelo, ou tentório do cerebelo (Vide Capítulo 5). Basicamente,
engloba um córtex externo que tem corpos neuronais que recobrem uma
região com axônios. Esse córtex é rico em variedades de tipos de neurônios.
A porção central que conecta os dois hemisférios cerebelares é chamada de
verme (vermis) cerebelar, por sua semelhança a um verme.
Na visão inferior, o cerebelo compõe o teto do quarto ventrículo, com os
pedúnculos cerebelares. O quarto ventrículo que possui comunicações com o
espaço subaracnoide (como visto no capitulo 5).
O lobo floculonodular tem esse nome por ser composto por: um nódulo
(equivale ao verme), e dois flóculos. Ele tem importância na manutenção do
equilíbrio, e controle do movimento ocular. Já o lobo anterior se envolve no
controle dos membros e tronco. O lobo posterior, por outro lado, está mais
envolvido no planejamento do movimento, e funções não-motoras.
2.2. Interna
O cerebelo possui 50% dos neurônios do encéfalo, apensar de ter apenas
10% do seu peso. Os neurônios se situam na substancia cinzenta cortical, e
nos seus quatro núcleos.
3. Histologia
É composto por três camadas, com base no tipo celular: camada
molecular (com células granulares); camada das células de Purkinje; e
camada das células ganglionares.
A camada molecular (ou estrato molecular) é composta por processos
celulares, sendo a maioria axônios de células granulares e dendritos de
células de Purkinje. Alguns interneurônios permeiam os processos (células
estreladas e células de Golgi, por exemplo).
A camada celular (de Purkinje, ou estrato ganglionar) possui, como o
nome sugere, basicamente os corpos celulares das células de Purkinje,
enfileirados. Seus dendritos se dirigem para a camada molecular, em sentido
perpendicular a ela. Seus axônios que funcionam como a via eferente do
cerebelo, se dirigindo para os seus núcleos profundos, liberando o
neurotransmissor GABA. As fibras do vestibulocerebelo que contornam os
núcleos, para se dirigir a núcleos extra-cerebelares.
Imagem 4: Ilustração das camadas do córtex cerebelar. Em destaque, as
células de Purkinje (em vermelho) e as células granulares (em azul escuro), e
as fibras trepadeiras (em azul claro) e as musgosas (em roxo). (4)
4. Vias cerebelares
O cerebelo possui um circuito próprio e importante.
Suas aferências vem, principalmente, dos núcleos vestibulares
ipsilaterais, algumas vindo diretamente do órgão vestibular, da medula
espinal ipsilateral, e dos núcleos pontinos contralaterais (vindos do córtex
cerebral), além dos núcleos olivares no bulbo.
As fibras que vem dos núcleos olivares são chamadas de trepadeiras,
que se dirigem as células de Purkinje, no córtex cerebelar. Recebem esse
nome por sua disposição ao longo dos dendritos das células de Purkinje. As
fibras que vem das demais áreas se denominam musgosas, se dirigindo para
as células ganglionares, que então retransmitem impulsos para dendritos das
células de Purkinje. Ambas, porém, também vão emitir ramos colaterais para
núcleos profundos do cerebelo.
Já os sinais de saída envolvem as células de Purkinje e seus axônios.
Assim, as vias aferentes, basicamente, vão se dirigir para o córtex
cerebelar e para núcleos profundos. No córtex, basicamente, a informação é
processada em uma rede complexa de sinapses se direcionando para as
células de Purkinje. Estas, ao receberem as informações e processarem elas,
retransmite as informações aos núcleos do cerebelo, por estímulos
inibitórios. Assim, o casamento das informações vindas das fibras aferentes
e eferentes vai, enfim, ser redirecionado para os alvos extracerebelares.
Imagem 5: Representação da relação funcional entre as fibras e as células de
Purkinje. (5)
5. Funções cerebelares
Embora receba muitas aferências sensoriais, o cerebelo pouco participa
da percepção ou da discriminação, e lesões nas suas vias motoras não
produzem paralisia. Na cognição, tem participação importante para a
aprendizagem motora e memória. De maneira geral, o cerebelo é importante
para manter o equilíbrio, e controle do tônus muscular, além de assegurar
execução precisa do movimento.
As funções do cerebelo são melhor compreendidas quando
correlacionadas com sua divisão funcional (espinocerebelo, cerebrocerebelo
e vestibulocerebelo).
O espinocerebelo é importante para o controle dos músculos do corpo.
Tem organização específica: o verme controla os músculos axiais e
proximais; o hemisfério intermediário controla os músculos dos membros.
E seu controle também tem vias que sofrem decussação no caso do controle
dos membros distais, pois controle mais proximais tem organização bilateral.
Ele recebe informações dos mecanorreceptores dos músculos. Essa via que
se comunica com o cerebelo é o trato espinocerebelar posterior,
transmitindo informações da parte inferior do tronco e membros. Já o trato
cuneocerebelar transmite informações da parte superior do tronco e
membros. Esses tratos perpassam pelo pedúnculo cerebelar inferior, sendo
exemplo de fibras musgosas. Se comunicam com o núcleo interpósito.
DETALHE!
Lesões ao vermis cerebelar promovem ataxia de postura e marcha. Se a lesão for na
porção superior, os indivíduos apresentam marcha instável, de base ampla, com
desvio para o lado da lesão. O teste de Romberg revela tal questão: de olhos
fechados, um empurrão leve faz o indivíduo balançar. Já se a lesão foi na porção
inferior do vermis, podem ocorrer ataxia de postura, com o individuo apresentando
dificuldade para se sentar ou ficar de pé.
DETALHE!
DETALHE!
CURIOSIDADE
6. Entendendo o caso...
A malformação de Chiari consiste, na verdade, em um grupo de
anormalidades da porção posterior do encéfalo. A maioria das alterações
envolvem os chamados tipo 1 e tipo 2. Quanto a terminologia, a
malformação de Chiari tipo 1 é a comumente chamado de malformação de
Chiari propriamente dita, ao passo que a malformação de Chiari tipo 2 é a
mais conhecida como malformação de Arnold-Chiari.
a) Chiari tipo 1 (ou simplesmente Chiari)
O Chiari tipo 1 é um grupo heterogêneo que tem como base o
comprometimento do fluxo liquorico no forame magno, geralmente por
herniação de tonsilas cerebelares. Pode ser congênito ou adquirido. Por isso,
é comum haver a formação da siringomielia. Se associa a uma fossa
posterior estreita, seja por: osso occiptal pouco desenvolvido ou espesso,
tentório cerebelar baixo, ou lesões expansivas ocupando espaço na fossa
posterior.
Em média, ocorre aos 40 anos, tendo leve predominância pelo sexo
feminino. Por conta da herniação cerebelar a nível de forame magno, podem
ocorrer: compressão do tronco cerebral, hidrocefalia, siringomielia.
Os sintomas vêm destas condições: em geral, os pacientes se queixam de
cefaleia occiptal, sentida pela extensão do pescoço ou à manobra de
Valsalva; fraqueza muscular pode ocorrer, geralmente unilateral, com
espasticidade bilateral em membros inferiores. Pode ocorrer o sinal de
Lhermitte: sensação de choque em coluna cervical e membros superiores ao
flexionar a cabeça. Ao exame físico, os sinais clínicos se agrupam em três
grandes grupos: o grupo da compressão a nível de forame magno; síndrome
central da medula; e síndrome cerebelar. A compressão do tronco cerebral a
nível de forame magno promove: ataxia, déficits sensoriais e motores,
paralisia de nervos cranianos baixos, e cefaleia intensa. A síndrome central
da medula causa: perda dissociada sensorineural (perda da sensação dolorosa
e térmica, preservando o tato); fraqueza no segmento acometido. E a
síndrome cerebelar causa: ataxia de tronco e membros, nistagmo e disartria.
A ressonância é o exame de escolha, por mostrar as anormalidades
descritas, como a herniacao do cerebelo, a siringomielia, e a compressão de
tronco cerebral. É importante lembrar que a identificação da herniação de
tonsilas cerebelares não se vale como diangóstico isoladamente, requerendo
associação com a clínica.
A cirurgia é indicada para pacientes sintomáticos, e tem melhores
resutados quando realizada nos 2 primeiros anos de sintomas. Em pacientes
assintomáticos, a conduta expectante é indicada. É indicada a descompressão
da fossa posterior, ou craniectomia subocciptal, podendo ser feita ainda uma
laminectomia cervical.
b) Chiari tipo 2 (ou Arnold-Chiari)
Esta, por sua vez, costuma se associar a mielomeningocele ou espinha
bífida oculta. Ocorre deslocamento caudal da junção bulbo-cervical, bulbo,
ponte e quarto ventrículo. São Observadas as tonsilas cerebelares no forame
magno ou logo abaixo dele. Esta costuma se associar a varias outras
anomalias, como: ausência de septo pelúcido, hidrocefalia, hipoplasia da
foice, microgiria, degeneração de núcleos cranianos inferiores, e
anormalidades ósseas.
Os achados clínicos vem de altereações no tronco encefálico e de nervos
cranianos inferiores. Raramente começa na vida adulta, sendo comum se
apresentar em crianças e neonatos. As manifestações clinicas encontradas
são: disfagia, crise apneica, estridores, aspiração, paresia de membros
superiores, podendo cursar com tetraparesia, ou fraqueza facial.
Para diagnóstico, é indicada a ressonância magnética, que pode
evidenciar: deformidade do bulbo em “Z”, ou seu alongamento, fusão tectal,
adesão intertalâmica ou baixa implantação da tenda do cerebelo. Pode ainda
ser observada: disgenesia do corpo caloso, hidrocefalia, siringomielia na
junção bulbo-cervical, fechamento do quarto ventrículo e compressão
cerebelar e bulbar.
O tratamento consiste em fazer a derivação ventricular para tratamento
e/ou prevenção da hidrocefalia, e em casos de disfagia, estridor ou apneia, é
indicada a descompressão em fossa posterior, sempre avaliando a
possibilidade de um shunt liquorico pérvio.
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo:
Manole, 2003.
6. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
7. GREENBERG, Mark S. Handbook of Neurosurgery. 6. Ed. New York: Thieme, 2006.
8. MORO, E. R. P. TEIVE, H. A. G. SOUZA, S. M. P. LAMBRECHT, F. WERNECK, L. C.
Malformação de Chiari tipo 1 – relato de dois casos com apresentações clínicas pouco
usuais. Arq. Neuropsiquiatria. 57 (3-A): 666-671. 1999.
Imagens
1. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
2. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
3. Aula de Anatomia. Cerebelo. Disponível em
<https://www.auladeanatomia.com/novosite/sistemas/sistema-nervoso/cerebelo/>, Acesso
em: 28 de outubro de 2018.
4. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
5. Blog O Ser Humano. Cerebelo. Disponível em
<http://organismhumano.blogspot.com/2017/09/cerebelo.html>, Acesso em: 28 de outubro
de 2018.
CONFERÊNCIAS
Confira aqui a aula dinâmica do Medicina
Resumida sobre os assuntos abordados nesse
capítulo!
15. O Sistema Vestibular
Capítulo 15
O SISTEMA VESTIBULAR
1. Caso Clínico
Um dos alunos de Dr. Gomes certo dia lhe procurou no ambulatório do
Hospital do Santo Livro trazendo seu avô de 61 anos, que vinha com relato
de tontura rotatória, rápida e intensa, além de sensação de flutuar, comuns
quando se levanta da cama, ou sempre que muda de posição (muda de lado
na cama, por exemplo). A tontura piorou, ocorrendo, inclusive, ao virar a
cabeça para o lado subitamente, quando apresentou queda da própria altura.
Percebendo o que estava se apresentando, o Dr. Gomes logo tratou de
realizar a manobra de Dix-Hallpike, que rapidamente evidenciou nistagmo
rotatório no paciente. Assim, o Dr. Gomes informou ao seu aluno que se
tratava de uma Vertigem Postural Paroxistica Benigna, que uma pedra estava
se deslocando erroneamente no seu labirinto vestibular, e que por isso estava
causando esses sintomas nele.
Fascinado pelo assunto, o aluno logo abriu o celular e pesquisou no seu
aplicativo de artigos médicos sobre o tema, e viu que se tratava de uma
doença benigna do seu sistema vestibular, comum em idosos, e que consistia
na verdade de um problema mecânico. Viu ainda que o seu tratamento
consiste em realizar manobras de liberação para movimento do cálculo,
como a manobra de Epley. Pediu ao Dr. Gomes para lhe ensinar a manobra,
que prontamente mostrou em seu avô como era feita, e pediu logo após que
ele fosse observado em casa que, caso mantivesse sintomas, o procurasse
novamente. Agradecido, seu aluno foi para casa aliviado por se tratar de um
problema benigno, e afoito em ler mais sobre as doenças que causam
vertigem e tontura. Afinal, vertigem e tontura são a mesma coisa?
1.1. Termos-Desconhecidos
• Manobra de Dix-Hallpike
• Manobra de Epley
• Vertigem Postural Paroxística Benigna
• Nistagmo
1.2. Termos-Chave
• Tontura rotatória
• Nistagmo rotatório
• Labirinto vestibular
• Sistema Vestibular
• Manobra de liberação
• Vertigem
1.3. Objetivos
• Conhecer o sistema vestibular
• Entender a importância do Sistema Vestibular para a manutenção
do equilíbrio postural
Tal qual o sistema auditivo, o sistema vestibular possui um conjunto de
órgãos com células ciliadas, que detectam as mudanças de posição através
do movimento de estruturas que estão em contato com esses cílios. Essas
estruturas estão dentro de um conjunto de câmaras que se conectam,
chamados de labirinto vestibular. Basicamente, participam da composição
e manutenção do equilíbrio do indivíduo, em conjunto com a visão e a
propriocepção.
E esse labirinto é composto pelo labirinto vestibular, que engloba os
órgãos otolíticos e os canais semicirculares; pela divisão vestibular do
nervo craniano VIII (vestibulococlear); e seu núcleo vestibular, na ponte,
e suas conexões no sistema nervoso central.
Os órgãos otolíticos são dilatações das câmaras, e basicamente são:
sáculo e utrículo. Eles vão responder por inclinação da cabeça e pela ação
da gravidade. Já os canais semicirculares são 3, e tem forma de arco, e são
sensíveis a rotação da cabeça. Se dispõem em ângulos de 90° entre si.
2. O labirinto vestibular
Se situa dentro da porção petrosa do osso temporal, e é composto, como
dito, pelo sáculo, utrículo, e pelos canais semicirculares. A parte
membranosa se separa da parte óssea por um espaço contendo um fluido, a
perilinfa. Já a parte membranosa, por sua vez, é preenchida pela endolinfa.
O sáculo, o utrículo e as dilatações dos canais semicirculares (ampolas)
possuem os receptores envolvidos no equilíbrio.
3. Os Órgãos Otolíticos
Eles conseguem detectar a mudança na angulação da cabeça e
aceleração linear. A referência deles é a força gravitacional, então a
mudança da angulação da cabeça vai ser percebida pela mudança da direção
da gravidade. Com a aceleração, acontece o mesmo, e eles detectam a força
aplicada para aquele movimento.
O sáculo e o utrículo possuem a mácula, que consiste em seu órgão
receptor. A do sáculo se situa vertical a sua parede medial, e a do utrículo se
posiciona no seu assoalho, paralelo à base do crânio (praticamente
horizontal). Ela possui células ciliadas que são cobertas por uma camada
gelatinosa com cristais de carbonato de cálcio, os otólitos. Eles são mais
densos que a endolinfa que circula nesse canal, e são quem sensibilizam os
cílios.
Ao se movimentarem, os otólitos fazem a massa gelatinosa se mover, e,
por consequência, os cílios (ou estereocílios). Mas, cada célula ciliada tem o
cinocílio, um cílio maior, que norteia qual a direção do movimento para
despolarizar ou hiperpolarizar os receptores. Se o movimento dos cílios toma
a sua direção, ocorre a despolarização; se é na direção oposta, há a
hiperpolarização.
Além disso, os cílios se dispõem de tal modo que conseguem responder a
mudanças de qualquer direção. A ação dos dois labirintos é fundamental: se
em um lado, um conjunto é ativado, esse mesmo conjunto do outro labirinto
será inibido, ou seja, agem de forma complementar para compor a
informação adequada da posição e do movimento.
Imagem 2: Representação dos receptores vestibulares e da ampola, além de
seu movimento segundo a linfa (que se move de acordo com o movimento
correspondente do corpo). (2)
Imagem 3: Esquema ilustrando o movimento dos otolitos e dos estereocílios
de acordo com movimentos do corpo. (3)
4. Os Canais Semicirculares
Eles detectam a rotação da cabeça, inclinações da cabeça, balanço dela,
além de, também, detectarem aceleração, só que nesse caso é a aceleração
dos movimentos de rotação (aceleração angular).
5. O nervo vestibular
O gânglio vestibular se situa no ouvido interno. Possui células bipolares
que emite projeções para se comunicar com os receptores do labirinto. Deles,
recebem impulsos nervosos que serão guiados pelos processos que se
dirigem ao tronco cerebral. Estes, por sua vez, compõem o nervo vestibular.
Ao se unir ao nervo coclear, para atravessar o canal interno e o espaço
subaracnóideo, forma o nervo vestibulococlear (VIII nervo craniano). Como
dito, atravessa o espaço subaracnóideo no ângulo pontocerebelar. Em
seguida, se dirige ao tronco cerebral, entrando pela junção pontobulbar, ou
bulbopontina. Ao entrar na ponte, se dirige aos núcleos vestibulares, que
ficam na base do quarto ventrículo.
Elas coordenam e integram as informações sobre os movimentos do
indivíduo. São as informações captadas pelo sistema vestibular que serão
aplicadas nas unidades motoras para ajustar a posição adequada para
determinada situação. Os axônios primários se conectam com o núcleo
vestibular, ipsilateral no TE, e com o cerebelo.
CURIOSIDADE
O reflexo vestíbulo-ocular consiste em um movimento do olho para focalizar a
imagem na retina durante o movimento da cabeça, fruto da ação coordenada do
sistema vestibular com a visão. Seu objetivo é focalizar a imagem
independentemente da postura da cabeça. A pessoa somente mudaria a direção do
olhar quando outro ponto periférico lhe chamasse a atenção. Na ausência deste
reflexo, o movimento da cabeça para os lados não seria acompanhado do
movimento do olhar, com os olhos estando parados – chamado olhos de boneca. Já
o reflexo óculocefálico consiste em um movimento conjugado dos olhos em
resposta a um estímulo vestibular. Em geral, para testar esse reflexo é feito a prova
calórica, com uso de água morna ou fria, sendo aplicada no meato acústico externo
do indivíduo, que, quando presente, faz um movimento conjugado ipsilateral à
aplicação (se água fria), com nistagmo contralateral em seguida, ou contralateral à
aplicação (se água morna), com nistagmo ipsilateral. Este reflexo é importantíssimo
por fazer parte da sequência de testes para diagnóstico de morte encefálica.
Falando em nistagmo, este consiste em movimentos repetitivos, rítmicos e
involuntários dos olhos que ocorre por conta de alguma lesão no sistema vestibular
ou de componentes da visão. Este é um dos sintomas de doenças vestibulares mais
comuns. Além dele, tem-se a tontura. A tontura representa um sintoma,
caracterizado por sensação da perda de equilíbrio, podendo ser rotatória (vertigem –
típica de lesões vestibulares) ou não-rotatória (desequilíbrio ou instabilidade
corporal).
7. Entendendo o caso...
O caso em questão nos mostra uma disfunção do Sistema Vestibular, que
é a Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB). É a principal causa de
vertigem. É definida por crises breves e intensas de vertigem, com inicio
súbito, que se relaciona com mudanças na posição da cabeça. Suas crises se
associam a um nistagmo posicional característico.
A grande maioria dos casos são primários, ou de origem idiopática,
sendo o TCE a principal causa de VPPB secundária, podendo se associar
também a enxaqueca, dislipidemia e diabetes, entre outros.
A base fisiopatológica consiste na presença de otólitos da mácula do
utrículo nos canais semicirculares, que parecem estar livres flutuando pela
endolinfa. Esse fenômeno faz com que os canais semicirculares, que são
detectores de aceleração angular, passem a detectar também a aceleração
linear. Os otólitos podem estar livres no canal, e seu movimento desloca
também a endolinfa, fazendo com que seja captada a mudança de posição.
Porém, eles podem também estar aderidos a cúpula, que naturalmente é de
mesma densidade que a endolinfa. Com tal adesão, agora a cúpula passa a
ser mais densa, também se deslocando com o movimento.
A depender do canal onde estejam os otólitos, ocorre o reflexo vestíbulo
ocular para uma direção diferente, na mesma direção do plano do canal.
Lembremos que o canal lateral/horizontal forma ângulo de 30º com o plano
horizontal, ao passo que os verticais (posterior e anterior) formam um plano
de 45º com o plano sagital.
Seu diagnóstico é clínico, com base no nistagmo evocado. Ocorre a
tontura rotatória (vertigem), precipitada pela mudança repentina da posição
da cabeça, durando segundos e cessando espontaneamente. Não apresenta
hipoacusia, zumbido ou otalgia. Pode ocorrer ainda náuseas e desequilíbrio.
A presença dos otólitos livres na endolinfa é o tipo mais comum, durando
entre 145 a 30 segundos, com latência de alguns segundos entre o estimulo e
o inicio do nistagmo. Já na presença dos otólitos na cúpula quase não há
latência, com maior duração (cerca de 60 segundos ou mais).
Sendo de canal posterior, é mais comum ser por pedras na linfa.
Geralmente sente ao se levantar de manhã, recorrendo em todo movimento
no plano do canal (ao estender ou flexionar a cabeça quando estiver de pé, se
deitar ou girar a cabeça na direção do ouvido afetado (em supino). Tem
sintomas mais fortes, com nistagmo levando cerca de 30 segundos, mas com
náuseas e vômitos associados. O nistagmo é direcionado para cima, com o
polo girando para o lado acometido. As manobras de maior sucesso ao
demonstrar tal quadro são: Manobra de Dix-Hallpike e de Semont, que
testam o lado cuja cabeça foi girada.
Imagem 5: Manobra de Dix-Hallpike. Com o paciente sentado, faz-se uma
rotação lateral da cabeça para o lado a se testar, em seguida deitando-o na
maca, depois deixando a cabeça pendente em cerca de 30 graus.
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São Paulo:
Manole, 2003.
6. DUUS, Peter. BAEHR, M. FROTSCHER, M. Topical Diagnosis in Neurology. 4. Ed. New
York: Thieme, 2006.
7. PLITCHER, O. B. DA COSTA, S. S. MAAHS, G. S. KUHL, G. Rotinas em
Otorrinolaringologia. 1. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.
Imagens
1. Blog Rosivaldo Delfino. Sistema Vestibular. Disponível em
<http://rosivaldounir.blogspot.com/2012/06/sistema-vestibular.html>, Acesso em: 28 de
outubro de 2018.
2. SlideShare. Mecanorreceptores: Sistema Vestibular. Disponível em
<https://pt.slideshare.net/Sh4d0w-X/3amecanorreceptores-sistema-vestibular/22?
smtNoRedir=1>, Acesso em: 28 de outubro de 2018.
3. Blog Olhar fisio. Reabilitação vestibular. Tontura e vertigem. Disponível em
<https://olharfisio.blogspot.com/2015/06/reabilitacao-vestibular-tontura-e.html>, Acesso
em: 28 de outubro de 2018.
4. ResearchGate. Estrutura de funcionamento dos canais semicurculares. Disponível em
<https://www.researchgate.net/figure/Figura23-Estrutura-de-funcionamento-dos-canais-
semicirculares_fig3_319967616>, Acesso em: 28 de outubro de 2018.
5. PLITCHER, O. B. DA COSTA, S. S. MAAHS, G. S. KUHL, G. Rotinas em
Otorrinolaringologia. 1. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.
6. PLITCHER, O. B. DA COSTA, S. S. MAAHS, G. S. KUHL, G. Rotinas em
Otorrinolaringologia. 1. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.
16. Linguagem
Capítulo 16
LINGUAGEM
1. Caso Clínico
Na emergência do Hospital do Santo Livro não param de chegar novos
casos e curiosos. Certa feita lá estava o Dr. Gomes, com seus alunos do
internato, quando apareceu um senhor de 39 anos, hipertenso e diabético,
com quadro súbito de fraqueza em membro superior direito, associado a
desvio de comissura labial, fala arrastada e afasia motora (de Broca). Sua
esposa que lhe acompanhava havia dito que o quadro se instalou há cerca de
3 horas. O Dr. Gomes, já imaginando ser um AVC, solicitou uma
tomografia de crânio e acionou o serviço endovascular para se preparar para
um possível AVC com possibilidade de trombólise.
Os alunos indagaram como que ele conseguira já prever o quadro, e
então o Dr. Gomes logo os disse: pensem na anatomia cortical gente...
paciente que vem com déficit motor unilateral e uma afasia motora, sem
outros sintomas, súbito, com fatores de risco para AVC, não tem como não
pensar nele. Mas... e porque um AVC? Que vaso irrigaria uma região em
que se tem controle motor de membro superior e da parte motora da
linguagem?
Vendo que seus alunos não conseguiam responder, o Dr Gomes foi
além... indagou: “e vocês sabem o que é a linguagem de fato? Qual ou quais
áreas do córtex estão envolvidas na linguagem? E o que é afasia?”. Como
ninguém respondeu, ele pediu que preparassem uma aula para explicar cada
um desses pontos na semana seguinte.
1.1. Termos-Chave
• Afasia motora
• Fraqueza em MSD
• Déficit motor unilateral
• Parte motora da linguagem
1.2. Termos Desconhecidos
• Afasia de Broca
• Trombólise
1.3. Objetivos
• Decifrar o que é a linguagem?
• Desvendar quais os componentes da linguagem
• Compreeender quais são os tipos de afasia
O que seria da vida sem a linguagem? A linguagem é um sistema
complexo que envolve o emissor, a mensagem, o código, o meio de
transmissão, o receptor, entre outros. Nos estudos da linguística, é possível
observar esse sistema esquematizado, e ainda classificar a linguagem como
verbal ou não verbal, escrita ou falada, ou o uso de signos, que englobam
o significante (que é a mensagem a ser transmitida), e o significado (que
seria a interpretação da mensagem).
Os animais usam a linguagem para transmitir uma determinada
mensagem: seja de interesse reprodutivo, de manifestação de fome, sede,
ou de sensação de perigo / medo. Os seres humanos possuem a
peculiaridade de conseguir usar códigos mais complexos, com significados
mais amplos, fazendo com que haja uma interação além disso. É possível
que um indivíduo peça numa loja que lhe traga uma bermuda cinza tamanho
38 com zíper e de algodão que viu na vitrine outro dia. E assim o
funcionário da loja irá buscar exatamente esse item. Caso não tenha, ele dirá
ao cliente, que irá então pensar se deseja outro tipo, ou se deixa para lá, e
vai embora. Perceba que a linguagem se utilizou de vários mecanismos
neurais de percepção, análise e ação. Essa é a linguagem humana.
Quando falamos em linguagem, todos pensam na linguagem falada,
tradicional entre os humanos. Mas existe ainda a linguagem por gestos (tal
como a libras), por captação tátil de alterações de relevo (como no braile),
por códigos como o código morse, e por aí vai. Mas, mesmo a falada, a
linguagem varia de acordo com os costumes de cada região. Assim, além da
variação dos dialetos, há também a variação semântica.
Onde podemos chegar com isso? A linguagem é um sistema de
comunicação que os seres vivos desenvolveram para interagir ou expressar
algo, e os seres humanos desenvolveram além disso, tendo a capacidade de
formar complexas mensagens para se comunicar, isso graças ao seu
desenvolvido encéfalo.
1. Anatomia
O som é produzido pela passagem de ar nas cordas vocais. E, para que
ocorra a formação das palavras, é necessária uma sincronia adequada de
músculos da laringe e da faringe, da língua e dos lábios. A força do som
virá, basicamente, pela respiração, ao passo que o tom depende das
características do ar e das cordas vocais, como tamanho e tensão. Neste
processo, estão envolvidos vários nervos cranianos, como a divisão motora
do nervo trigêmeo (V nervo craniano), nervo facial (VII nervo craniano),
nervo vago e glossofaríngeo (X e IX).
O fato é que ainda se sabe pouco a respeito dessas e outras áreas, que
variam bastante entre os humanos.
De maneira geral, as áreas da linguagem se aglomeram próximos à
fissura sylviana, próximos a sua intersecao com o sulco central. As áreas a
frente do sulco central se denominam anteriores, ou pré-rolândicas, ao passo
que, as que se situam atrás dele, se denominam posteriores, ou pós-
rolândicas. As áreas anteriores são envolvidas no processo motor da
linguagem, ou expressão, e as posteriores no processo sensorial, ou de
percepção.
A área de Broca, como já dito, está envolvida no processo de expressão,
ou de execução da linguagem, e a área de Wernicke envolvida na associação
da linguagem a seu significado. O fascículo arqueado corre pela substancia
branca subcortical ao redor da fissura sylviana, conectando a área de
Wernicke com a de Broca. O giro angular é importante para a leitura, e
funções não-verbais da linguagem. O giro supramarginal fica entre o córtex
visual e áreas perissylvianas posteriores, envolvidos nas funções visuais.
2. Afasias
2.1. Afasia de Broca
É uma síndrome caracterizada como afasia motora, ou não-fluente.
Nesse caso, o indivíduo tem dificuldade para expressar a linguagem falada,
ainda que a captação da linguagem ouvida e lida permaneça.
Indivíduos com essa síndrome tem dificuldade para falar, precisando de
pausa, como se tivesse tentando se lembrar do que falar. E essa dificuldade
de lembrar as palavras é conhecida como anomia. Nesses casos, é comum a
pessoa não conjugar os verbos, e termos substantivos, ou adjetivos são mais
facilmente lembrados do que artigos, pronomes, etc. E esse não conjugar
verbos, ou não criar sentenças gramaticalmente certas é outro distúrbio
conhecido como agramatismo. Nessa síndrome, ainda há a dificuldade de
repetir o que foi dito, mas é possível, geralmente, compreender o que lhes é
transmitido.
Assim, conclui-se que a Afasia de Broca envolve mais a parte motora
da linguagem, a produção da fala. Estudos recentes evidenciam que há mais
que apenas distúrbio motor, tendo outros comprometimentos, como
algumas dificuldades específicas de compreensão, ou a anomia, mas nada
ainda concreto.
3. O processamento
Vários estudos para tratamento de epilepsia foram realizados, e um
achado a época foi o da comissurotomia, que seria a secção das comissuras
(são feixes nervosos que fazem a comunicação entre os hemisférios), como
meio de evitar a propagação da atividade de um hemisfério a outro.
Observando os animais, percebeu-se que eles não tinham déficits
significativos, o que fez com que fosse realizado em grande escala como
estudo em pessoas.
Assim, percebeu-se que, ao se seccionar as comissuras, como o corpo
caloso, os hemisférios não se comunicariam, e assim funcionassem como
dois distintos, pensando e agindo de forma diferente. E o comportamento do
indivíduo sofria também alteração.
Embora para as demais funções não haja diferenças significativas, a
linguagem tem uma distribuição assimétrica pelo córtex. Geralmente, o
hemisfério esquerdo é o dominante para a linguagem, e por isso responde
normalmente aos estímulos processados no córtex esquerdo. Agora, se o
hemisfério direito processar a imagem ou o ruído, certamente a pessoa não
irá descrever aquilo captado, nem irá percebê-lo de fato. Ou seja, o
hemisfério esquerdo é quem controla a fala. Geralmente. Isso porque, na
verdade, existem pessoas em que o hemisfério dominante é o direito, mas a
grande maioria tem o esquerdo com tal predominância.
Mas, o hemisfério direito é inútil para a linguagem, então? Não! Ele
consegue interpretar números, letras, mas não atua na resposta verbal,
podendo, por exemplo, apontar com a mão esquerda (que é controlada pelo
córtex motor direito) a palavra ou número que viu. Só não irá responder
verbalmente por conta de esta resposta ser de controle do hemisfério
esquerdo, que por não ter percebido, irá dizer que não viu anda.
O fato é que a linguagem ainda é uma função muito pouco
compreendida, e muitos estudos ainda são necessários para uma melhor
análise dela. Fato também é que ela é uma função complexa, e um atributo
que requer uma função neurológica bem articulada e elaborada, para agir e
processar adequadamente, coisa que nós, seres humanos, possuímos.
4. Entendendo o caso...
No caso em questão, trata-se de um AVC em território de artéria
cerebral média, afetando o córtex motor, principalmente o responsável por
coordenar os movimentos do membro superior, face e, no lobo frontal
esquerdo, a área de Broca, que, quando sofre alguma lesão, faz o indivíduo
apresentar a afasia de Broca. Como vimos no capítulo, a afasia de Broca é
uma afasia do tipo motora, envolvida com a elaboração e programação da
formação dos símbolos que compõem a linguagem.
Por conta de o lobo esquerdo ser o dominante para a linguagem na
maioria das pessoas, é nele onde reside a área de Broca e que, quando
acometido por um distúrbio como o AVC, faz o indivíduo apresentar um
déficit de linguagem típico.
Referências Bibliográficas
1. MACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional. 3.ed.
São Paulo: Atheneu, 2006.
2. MARTIN, John Harry. Neuroanatomia: texto e atlas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
3. BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
4. LENT, Roberto et al. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência.
2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
5. KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSELL, T.M. Princípios da Neurociência. São
Paulo: Manole, 2003.
6. CAMPBELL, W. W. De Jong: O Exame Neurológico. 6ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2007.
Imagens
1. Encyclopaedia Britannica. Broca area. Disponível em
<https://www.britannica.com/science/Broca-area>, Acesso em: 28 de outubro de 2018.
2. Elvasnews. Uma área como muitas áreas: Wernicke. Disponível em
<https://elvasnews.pt/area-muitas-areas-wernicke/>, Acesso em: 28 de outubro de 2018.
3. Blog Psicowisdom. Guía visual rapida sobre neurofisiologia del habla y escucha. Disponível
em <https://psicowisdom.wordpress.com/2015/02/13/guia-visual-rapida-sobre-
neurofisiologia-del-habla-y-escucha/>, Acesso em: 28 de outubro de 2018.
Sumário
Capa
Rosto
Créditos
Sumário
Autores
AGRADECIMENTOS
APRENDER PODE SER MAIS FÁCIL
O MEDICINA RESUMIDA
Mapa Conceitual
1. Organização, desenvolvimento e células que compõem o Sistema
Nervoso
2. Potencial de repouso, Graduado e de ação
3. A Transmissão Sináptica
4. O Córtex Cerebral
5. Circulação do Líquido Cerebroespinal
6. Tronco Cerebral e os Nervos Cranianos
7. Circulação Arterial do Sistema Nervoso Central
8. Drenagem Venosa do Sistema Nervoso Central
9. Sistema Sensorial Somático
10. Olfato e Paladar
11. A Visão
12. A Audição
13. Sistema Motor Somático
14. Cerebelo
15. O Sistema Vestibular
16. Linguagem