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PSICOBIOLOGIA

Anatomia
macroscópica
do sistema
nervoso central
Leonardo Mateus Teixeira de Rezende

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Caracterizar o sistema nervoso central.


>> Descrever o sistema nervoso periférico.
>> Reconhecer o desenvolvimento estrutural do encéfalo.

Introdução
A anatomia humana é estudada desde a Renascença, quando pensadores como
Leonardo da Vinci dissecavam cadáveres buscando compreender o corpo humano.
Então, com os avanços tecnológicos, fomos conhecendo cada vez mais as estruturas
do corpo humano e suas respectivas funções. No último século, a compreensão
das estruturas e das funções do sistema nervoso aumentou exponencialmente,
possibilitando o entendimento de questões básicas inerentes à vida humana, como,
por exemplo, a aprendizagem, o pensamento, o comportamento, os movimentos
do corpo, entre muitas outras. Hoje entendemos exatamente como acontece o
processo de embriologia e neurulação do sistema nervoso, além de sabermos
quais são as estruturas presentes no cérebro humano maduro.
2 Anatomia macroscópica do sistema nervoso central

Neste capítulo, você vai conhecer a anatomia do sistema nervoso central (SNC)
e do sistema nervoso periférico (SNP). Além disso, você poderá compreender o
processo de formação do tecido nervoso, que acontece durante a gestação.

Sistema nervoso central


O sistema nervoso é o principal responsável pelo controle das funções corpo-
rais, o que se dá pela ação altamente ordenada de bilhões de neurônios, que
são responsáveis por coordenar funções necessárias para a manutenção da
vida e controlar o movimento (AIRES, 2013). Para o devido entendimento das
funções do sistema nervoso, é imprescindível a compreensão de sua divisão
anatômica, bem como das estruturas que o compõem.
O sistema nervoso é dividido em duas partes fundamentais: o SNC e o SNP
(TORTORA; DERRICKSON, 2016). Nesta seção, você vai conhecer as estruturas
anatômicas que compõem o SNC. Vale ressaltar que essa divisão separa as es-
truturas a nível estrutural e funcional; porém, as partes são interdependentes.
O SNC é responsável por receber os estímulos, realizar a leitura da infor-
mação e determinar um comando desencadeador das respostas (DANGELO;
FATTINI, 2005). O SNC consiste nas estruturas que estão protegidas pelo
esqueleto, como o encéfalo (envolto pelo crânio) e a medula espinhal (pro-
tegida pela coluna vertebral).
O encéfalo é considerado por muitos o mais surpreendente dos órgãos e
frequentemente comparado a um supercomputador, devido às milhares de
funções que realiza de forma simultânea. Esse órgão é composto por três
partes fundamentais: o cérebro, o cerebelo e o tronco encefálico (Figura 1).
Para o nosso estudo, é fundamental o domínio dos referenciais anatômicos,
que são os indicativos da posição de cada elemento, bem como de sua loca-
lização em relação aos outros. Para tanto, faz-se necessária uma explanação
sobre planos e eixos anatômicos.
Anatomia macroscópica do sistema nervoso central 3

Hemisfério cerebral esquerdo


Giros

Cérebro Sulcos

Fissuras

Diencéfalo

Cerebelo
Tronco
encefálico Medula
espinhal
Mesencéfalo

Ponte
Bulbo

Figura 1. Estruturas do encéfalo.


Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).

Toda análise de estruturas anatômicas parte do princípio de que o corpo


está na posição anatômica, que representa uma posição padronizada para
possibilitar o estudo e a explicação sobre partes do corpo. A posição ana-
tômica consiste na manutenção da posição ereta (ortostática), com a face
voltada para a frente e o olhar direcionado para o horizonte. Os membros
superiores devem estar estendidos lateralmente ao corpo, com as palmas
das mãos voltadas para a frente, ao passo que os membros inferiores devem
permanecer unidos, com as pontas dos pés apontando para a frente (DANGELO;
FATTINI, 2005). A análise de qualquer estrutura anatômica utiliza essa posição
como ponto de partida. Além disso, dentro dos referenciais anatômicos, é
fundamental a compreensão dos planos e dos eixos.
Os planos anatômicos são divisões hipotéticas que servem para facilitar
a descrição e a localização de estruturas do corpo. São utilizados três pla-
nos: sagital, transversal e coronal (Figura 2). O plano sagital é paralelo ao
mediano e divide o corpo em porção da direita e porção da esquerda. O plano
transversal, ou horizontal, é paralelo aos planos de secção cranial e podálico,
dividindo o corpo em metade superior e metade inferior. Por fim, o plano
4 Anatomia macroscópica do sistema nervoso central

coronal, ou frontal, é um plano vertical que passa perpendicularmente ao


plano mediano e separa o corpo em porção dorsal e porção frontal, sendo a
estrutura da porção dorsal conhecida como “posterior”, e a da porção frontal,
como “anterior” (DANGELO; FATTINI, 2005).

Plano sagital

Plano coronal

Posterior
Superior
Inferior

Anterior Plano transversal


Lateral

Medial

Proximal

Distal

Figura 2. Posição anatômica e planos anatômicos.


Fonte: Adaptada de Cazetta, Oliveira e Tavares (2019).

A Figura 3 apresenta os referenciais a partir da posição e dos planos


anatômicos. A partir do plano sagital (Figura 3a), é possível indicar que uma
estrutura está mais à esquerda ou à direita. Quando a estrutura está próxima
à linha média, emprega-se o termo “medial”, e, quando está posicionada peri-
fericamente, usa-se o termo “lateral”. A partir do corte transversal (Figura 3b),
é possível determinar se uma estrutura está localizada na parte superior ou
inferior do corpo, isto é, na porção de cima ou de baixo, respectivamente.
Anatomia macroscópica do sistema nervoso central 5

Ainda, os termos “proximal” e “distal” indicam o posicionamento quanto à


raiz ou à extremidade dos membros.

Superior

Anterior Posterior
Coronal
(ou rostral) (ou caudal)

Sagital Inferior

A B

Figura 3. Planos anatômicos aplicados ao SNC.


Fonte: Adaptada de (a) Sinisamaric1/Pixabay.com e (b) OpenClipart-Vectors/Pixabay.com.

Com essas orientações, é possível localizar qualquer estrutura do corpo


humano, o que inclui as pertencentes ao sistema nervoso. Para o estudo das
estruturas do SNC, é muito comum utilizar um corte no plano sagital, como o
apresentado na Figura 1. Esse padrão é adotado porque o SNC é uma estrutura
simétrica, ou seja, tudo que está presente no lado esquerdo também o está
na porção direita, com raras exceções. Essa propriedade é conhecida como
“simetria bilateral” (GUYTON; HALL, 2017).

Cérebro
Correspondendo à maior parte do encéfalo, o cérebro dos homens adultos
pesa em média 1.600 g, e o das mulheres, 1.400 g. Essa diferença não está
relacionada com nenhuma distinção de capacidade cognitiva ou desenvolvi-
mento de inteligências, devendo-se apenas à diferença de dimensão corporal
existente entre homens e mulheres — ou seja, quanto maior for o tamanho
do corpo, maior será o do cérebro (TORTORA; DERRICKSON, 2016).
O cérebro é separado em dois hemisférios cerebrais pela fissura longi-
tudinal (ou sagital). Na superfície desses hemisférios, estão evidenciadas
dobras, chamadas de “giros”, e fendas, conhecidas como “sulcos”, que dividem
o cérebro em lobos, descritos a seguir.
6 Anatomia macroscópica do sistema nervoso central

„„ Lobo frontal: localizado anteriormente ao sulco central, engloba o


córtex motor e é importante para o planejamento e a execução de
comportamentos aprendidos e intencionais, representando a principal
área a controlar os movimentos do músculo esquelético.
„„ Lobo occipital: localizado na região posterior e inferior do cérebro, é
responsável principalmente por processar estímulos visuais.
„„ Lobo temporal: localizado na porção lateral do cérebro, é importante
para o processamento de estímulos auditivos.
„„ Lobo parietal: localizado na parte superior do cérebro, é dividido em
porção anterior e posterior. A porção anterior é responsável por per-
ceber sensações como o tato, a dor e a temperatura corporal, ao passo
que a área posterior analisa e interpreta as informações recebidas
pela porção anterior.

Lembre-se que o cérebro tem como característica a simetria bilateral, ou


seja, os lobos estão presentes nos dois hemisférios cerebrais.
O encéfalo é formado por telencéfalo, diencéfalo, cerebelo e tronco encefá-
lico. Os hemisférios cerebrais são conectados ao tronco encefálico por meio do
diencéfalo, que consiste no tálamo, no epitálamo e no hipotálamo (TORTORA;
DERRICKSON, 2016). Essas estruturas são fundamentais e exercem inúmeras
funções de controle no organismo. No epitálamo, está localizada a glândula
pineal, responsável pela produção e liberação da melatonina, hormônio de-
terminante para a regulação do ritmo circadiano, que corresponde à flutuação
de variáveis fisiológicas em função das variações geofísicas ambientais, prin-
cipalmente o ciclo dia-e-noite (REFINETTI; LISSEN; HALBERG, 2007). Os tálamos
direito e esquerdo representam a maior porção do diencéfalo, funcionando
como centro de recepção e retransmissão de vias sensitivas e motoras. Já
o hipotálamo é um centro de controle e integração, estando envolvido na
regulação de uma série de funções autonômicas, como controle da frequ-
ência cardíaca e da pressão sanguínea, regulação da temperatura corporal,
coordenação de atividades do sistema endócrino, centro de controle da sede,
entre outras. No hipotálamo, podem-se destacar algumas estruturas, como a
área pré-óptica, que coordena as respostas fisiológicas termorregulatórias,
e o núcleo supraquiasmático, que regula os ritmos circadianos (AIRES, 2013).

Cerebelo
O cerebelo é a segunda maior estrutura do centro nervoso superior, sendo
menor em tamanho apenas em comparação ao cérebro. Localiza-se na região
Anatomia macroscópica do sistema nervoso central 7

dorsal em relação à ponte e ao bulbo (Figura 1). Sua estrutura, que lembra a


de uma folha, é composta principalmente por córtex nervoso, representando,
portanto, um importante centro de controle do movimento. O cerebelo recebe
grande parte de seus impulsos neuronais aferentes pelas células de Purkinje,
que são os maiores neurônios do sistema nervoso (TORTORA; DERRICKSON,
2016).
O cerebelo controla o equilíbrio e a postura por meio de impulsos para
os músculos esqueléticos, além de ser responsável pelo refinamento de
movimentos que compõem as habilidades motoras finas, como os atos de
digitar ou de tocar um instrumento.

Tronco encefálico
Situado entre o encéfalo e a medula espinhal, o tronco encefálico é composto
por mesencéfalo, ponte e bulbo (DANGELO; FATTINI, 2005). O mesencéfalo está
localizado entre o diencéfalo e a ponte, e é fundamental para conectar os
centros nervosos superiores e inferiores, contribuindo para o desempenho
de funções como analgesia, controle de reflexos oculares, coordenação de
movimentos da cabeça, controle motor dos membros, entre outras. Já a ponte,
como o nome sugere, é determinante no processo de retransmissão de infor-
mações; localizada entre o mesencéfalo e o bulbo, ela consiste em uma região
saliente do tronco encefálico. Por fim, o bulbo corresponde à porção inferior
do tronco encefálico, ligando as estruturas superiores à medula espinhal.
Além de sua importância no processo de condução de informação neural, o
bulbo é determinante no controle de reflexos autonômicos importantes para
a homeostasia corporal, como o controle de variáveis cardiovasculares, o que
inclui a frequência cardíaca e a dilatação dos vasos sanguíneos. Ademais,
ele também está envolvido na regulação de centros respiratórios, como, por
exemplo, o controle da deglutição (TORTORA; DERRICKSON, 2016).
O tronco encefálico é uma região complexa, em que os neurônios atuam
principalmente como retransmissores, ao receber as informações aferentes
e transmiti-las para o cerebelo ou receber a mensagem eferente e conduzi-la
para a medula espinhal. Contudo, não podemos esquecer que essa região tam-
bém exerce outras funções muito importantes, como a realização de ajustes
autonômicos, o que é determinante para a manutenção da vida (AIRES, 2013).
8 Anatomia macroscópica do sistema nervoso central

Medula espinhal
A medula espinhal é envolta pela coluna vertebral, estendendo-se em sentido
crânio-caudal, partindo do forame magno — logo abaixo do bulbo — até a
primeira vértebra da coluna lombar (DANGELO; FATTINI, 2005). É responsável
por conduzir as informações aferentes para os centros nervosos superiores
e as informações eferentes para os órgãos e/ou tecidos destinatários. Dessa
forma, a medula espinhal promove a conexão entre o SNC e o SNP.
Tanto a medula quanto o encéfalo são envoltos por meninges, membranas
especializadas que oferecem proteção e estabilidade. Essas meninges são
compostas por três camadas: dura-máter, aracnoide e pia-máter. A dura-máter
consiste em tecido conectivo denso e é o revestimento mais externo, sendo
muito resistente e fibrosa. A aracnoide é a camada intermediária, consistindo
em epitélio pavimentoso simples; separa-se da pia-máter por meio do espaço
subaracnóideo, que contém o líquido cerebrospinal, muito importante na
proteção contra impactos. A pia-máter representa a camada mais interna,
sendo a mais delicada; nela, estão localizados os vasos responsáveis pela
irrigação do local (TORTORA; DERRICKSON, 2016).
A medula espinhal é dividida em função das regiões da coluna vertebral:
cervical, torácica, lombar e sacral. A substância cinzenta forma um eixo cen-
tral contínuo, em forma de “H”, que contém os corpos dos neurônios e a
neuroglia. Esses corpos celulares apresentam tipologias relacionadas à sua
função. Existem os neurônios motores (eferentes) e os sensitivos (aferentes),
localizados anterior e posteriormente na medula, respectivamente. A subs-
tância branca está localizada nas regiões periféricas da medula e é dividida
em funículos (posteriores, anteriores e laterais), e cada funículo tem tratos
em que os axônios compartilham informações. Essas vias são importantís-
simas para a condução dos impulsos nervosos — e convém ressaltar que os
axônios de um trato conduzem informações na mesma direção. Dessa forma,
os tratos ascendentes levam informações em direção aos centros nervosos
superiores, e os tratos descendentes conduzem a resposta eferente (GUYTON;
HALL, 2017). A medula se comunica com o SNP por meio dos nervos espinhais
e cranianos, que se associam à medula pelos gânglios de raiz dorsal ou de
raiz ventral (Figura 4).
Anatomia macroscópica do sistema nervoso central 9

Nervos
Encéfalo cranianos

SNC

Medula
espinhal
SNP

Nervos
espinhais

Nervo espinhal da raiz dorsal


Gânglio da raiz dorsal
Neurônio sensorial

Medula espinhal

A Nervo espinhal

Receptor sensorial

Neurônio motor

Medula espinhal Músculo


esquelético
Nervo espinhal
da raiz ventral

Nervo espinhal

Figura 4. (a) SNC e SNP; (b) divisão sensorial do SNP.


Fonte: Adaptada de Vanputte, Regan e Russo (2016).
10 Anatomia macroscópica do sistema nervoso central

Nesta seção, você conheceu as estruturas anatômicas macroscópicas que


fazem parte do SNC, que é responsável principalmente pela integração e pela
leitura dos sinais oriundos da periferia, e pelo posterior disparo de resposta
efetora. Como você pôde perceber, o SNC é bastante complexo e fundamental
para a manutenção da homeostasia corporal. Contudo, seu funcionamento
é dependente da ação do SNP, que detalharemos a seguir.

Sistema nervoso periférico


O SNP atua em complemento ao SNC e consiste nas estruturas nervosas que
estão fora do encéfalo e da medula espinhal. É composto basicamente por
nervos, gânglios e terminações nervosas, que conectam o SNC aos órgãos
periféricos. O SNP pode ser divido em dois: somático e visceral (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).
O SNP somático é composto pelos nervos que inervam órgãos e estruturas
de controle voluntário, como o músculo esquelético. Os neurônios motores que
inervam esses órgãos originam-se do SNC; porém, têm os axônios inseridos no
SNP, inervando diretamente os músculos esqueléticos. É importante lembrar
que existem os nervos sensoriais, que recebem as informações dos tecidos
periféricos e iniciam a condução para os centros nervosos superiores por
intermédio dos gânglios; e os neurônios motores, que são responsáveis por
conduzir a informação eferente ao órgão efetor. Por sua vez, o SNP visceral
comanda as ações involuntárias/autônomas, o que se dá pela ação dos sis-
temas nervosos autônomos simpático e parassimpático. Os neurônios dessa
divisão nervosa vão inervar órgãos internos, vasos sanguíneos, músculo liso,
glândulas, etc. (DANGELO; FATTINI, 2005).
Os sistemas nervosos simpático e parassimpático costumeiramente têm
ações opostas, sendo comum que o sistema parassimpático predomine em
situações de repouso e/ou relaxamento e que o simpático predomine em situ-
ações de esforço e emergência. No parassimpático, as fibras pré-ganglionares
têm sua origem ou no tronco encefálico ou na região sacral da medula espinhal,
e, por esse motivo, esse sistema é conhecido como “craniossacral”. Outra
característica fundamental é que os gânglios do sistema parassimpático estão
localizados perto ou dentro das vísceras (órgão efetor). O sistema simpático,
por sua vez, é conhecido como sistema de luta ou fuga, pois, em geral, sua
função induz aumento do metabolismo, do estado de alerta e das funções
teciduais, a fim de enfrentar situações que exigem esforço ou impõem perigo
(AIRES, 2013). Do ponto de vista da origem dos neurônios pré-ganglionares,
esse sistema é conhecido como “toracolombar”, visto que as fibras nervosas
Anatomia macroscópica do sistema nervoso central 11

têm origem na região torácica e se estendem até a lombar da medula espinhal.


Outro ponto de diferenciação é que a sinapse acontece longe das vísceras, pois
os gânglios localizam-se próximos à medula espinhal. Isso também significa
que a fibra pré-ganglionar do sistema simpático é curta, ou paravertebral,
porque ela está situada paralelamente à coluna vertebral.
A ação do sistema nervoso autônomo se dá por meio da liberação de neu-
rotransmissores direcionados aos receptores dos tecidos-alvo. Sabe-se que
o início do processo é idêntico para os sistemas simpático e parassimpático,
que vão liberar o neurotransmissor acetilcolina (ACh) nas fendas sinápticas
dos neurônios pré-ganglionares. Contudo, na conexão pós-ganglionar, o
parassimpático vai liberar ACh, ao passo que o simpático, na grande maioria
das vezes, vai liberar a noradrenalina. Eles, portanto, vão exercer ações
antagonistas.

Ação simpática e ação parassimpática sobre o tecido cardíaco

O sistema parassimpático é predominante sobre o funcionamento


cardiovascular durante o repouso, o que se dá principalmente via nervo vago.
A acetilcolina é o neurotransmissor liberado na fenda sináptica pós-ganglionar,
levando à ação de controle da frequência cardíaca, força de ejeção e débito
cardíaco em níveis regulares. Em situação de estresse e perigo ou durante o
exercício físico, o sistema simpático se torna predominante, agindo por meio
da liberação de noradrenalina. Então, o simpático vai induzir o aumento da
frequência cardíaca, da pressão arterial sistólica, da força e do volume de
ejeção, bem como do débito cardíaco.

A comunicação neural se inicia nos receptores sensoriais, que são res-


ponsáveis por perceber alterações funcionais no seu ambiente, disparando
um estímulo aferente via SNP direcionado ao SNC. Existem alguns tipos de
receptores sensoriais (AIRES, 2013). Os mecanorreceptores são responsáveis
por perceber qualquer tipo de ação mecânica sobre o corpo, como o toque e
a pressão. Já os termorreceptores são sensíveis à alteração de temperatura.
Os fotorreceptores, por sua vez, são ativados por estímulos luminosos, ao
passo que os quimiorreceptores são sensíveis a estímulos químicos, como
mudanças no pH sanguíneo. Por fim, os nociceptores são responsáveis por
perceber a dor causada por estímulos diversos, como uma queimadura, um
trauma muito forte causado por impacto, etc. (GUYTON; HALL, 2017).
Esses representam, em sua grande maioria, receptores sensoriais gerais
compostos por terminações nervosas não encapsuladas (livres). Todavia,
existem também os receptores encapsulados, que são mais complexos e exer-
12 Anatomia macroscópica do sistema nervoso central

cem funções muito específicas. Por exemplo, os órgãos tendinosos de Golgi,


localizados nos tendões, informam sobre a tensão imposta sobre estes, ao
passo que os fusos musculares informam sobre o estiramento muscular. Essas
terminações nervosas localizam-se na porção distal dos nervos, promovendo
a comunicação entre nervo e órgão periférico (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2001).
Os nervos do SNP dividem-se em dois grupos: espinhais e cranianos. Os
nervos espinhais se apresentam em 31 pares (oito cervicais, 12 torácicos,
cinco lombares, cinco sacrais e um coccígeo) e são envoltos por camadas
de tecido conjuntivo. A camada mais externa, conhecida como “epineuro”,
é uma rede densa de fibras colágenas. Já a camada intermediária, chamada
“perineuro”, forma uma barreira hematoneural. Por sua vez, a camada mais
profunda, denominada “endoneuro”, circunda os axônios individuais com
delicada camada de tecido conjuntivo. Os nervos espinhais dão origem a
milhares de neurônios que inervam todo o corpo, à exceção da cabeça. Ao
contrário dos nervos cranianos, todos os nervos espinhais são mistos, ou seja,
podem realizar tanto o trajeto aferente quanto o eferente. Contudo, a área
de conexão com a medula é distinta para as porções aferentes e eferentes.
As fibras motoras se conectam à medula espinhal via raiz ventral, ao passo
que as fibras sensitivas se ligam via raiz dorsal.
Os nervos cranianos, embora façam parte do SNP, se ligam diretamente
ao encéfalo. Trata-se de doze pares de nervos, encontrados na superfície
ventrolateral do encéfalo, em aproximação aos centros sensitivos ou motores
relacionados à sua função. O Quadro 1 apresenta todos os nervos cranianos
e sua função primária. Desses, o único que se insere diretamente no cérebro
é o nervo olfatório; os outros alcançam o tronco encefálico ou diencéfalo.
Pode-se perceber que o grupo de nervos cranianos engloba nervos sensitivos
(aferentes) e motores (eferentes), bem como os nervos mistos, que podem
conduzir informações tanto aferentes quanto eferentes. Outro ponto interes-
sante é que a grande maioria dos nervos cranianos exerce função próxima à
região da face, o que abarca o controle dos sentidos (olfato, visão, escuta e
gustação) e dos movimentos dos músculos dessa região (MARTINI; TIMMONS;
TALLITSCH, 2009).
Quadro 1. Função primária, origem e inserção dos nervos cranianos

Nervos Função
cranianos primária Origem Inserção

Olfatório Sensitiva-olfato „„ Receptores do epitélio olfatório „„ Bulbos olfatórios (lobo frontal)

Óptico Sensitiva-visão „„ Retina „„ Quiasma óptico (diencéfalo)

Óculo-motor Motora-ocular „„ Mesencéfalo „„ Músculos do olho

Troclear Motora-ocular „„ Mesencéfalo „„ Músculo oblíquo superior

Trigêmeo Mista „„ Nervo oftálmico (sensitivo) „„ Núcleos sensitivos da ponte e músculos da


„„ Nervo maxilar (sensitivo) mastigação
„„ Nervo mandibular (motor)

Abducente Motora-ocular „„ Ponte „„ Músculo reto lateral

Facial Mista „„ Receptores gustativos (sensitivos) „„ Núcleos sensitivos da ponte (sensitivos)


„„ Núcleo motor do nervo facial na ponte „„ Músculos da expressão facial (motores)
(motor)

Vestibulococlear Sensitiva „„ Orelha interna „„ Núcleos vestibulares e cocleares da ponte e


do bulbo

Glossofaríngeo Mista „„ Língua e artérias carótidas no pescoço „„ Núcleo sensitivo do bulbo (sensitivo)
(sensitivo) „„ Músculos da faringe (motores)
Anatomia macroscópica do sistema nervoso central

„„ Núcleo motor do bulbo (motor)


13

(Continua)
14

(Continuação)

Nervos Função
cranianos primária Origem Inserção

Vago Mista „„ Faringe, orelha, diafragma, vísceras torácica „„ Núcleos sensitivos e centros autonômicos do
e abdominal (sensitivo) bulbo (sensitivos)
„„ Núcleos motores no bulbo (motores) „„ Músculos do palato mole e da faringe,
vísceras respiratórias, cardiovasculares e
digestórias (motores)

Acessório Motora „„ Núcleos motores da medula espinhal e do „„ Músculos voluntários do palato mole, laringe
bulbo e faringe; músculo esternocleidomastóideo
e trapézio

Hipoglosso Motora „„ Núcleos motores do bulbo „„ Músculos da língua

Fonte: Adaptado de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).


Anatomia macroscópica do sistema nervoso central
Anatomia macroscópica do sistema nervoso central 15

Nesta seção, você pôde compreender que o SNP atua em parceria com o
SNC, tendo como função primordial promover o fluxo de informação neural
aferente e eferente. Até atingir uma formação madura, capaz de manter todas
as funções aqui apresentadas, o sistema nervoso passa por um processo de
desenvolvimento morfológico e maturação funcional, que se inicia durante a
gestação, no processo de embriologia do encéfalo, como vamos apresentar
a seguir.

Embriologia estrutural do encéfalo


É possível observar um aumento da complexidade do sistema nervoso ao subir
na escala zoológica, o que vai ao encontro da complexidade dos animais das
diferentes classes (DANGELO; FATTINI, 2005). Ao analisar a estrutura nervosa
de um inseto, de um réptil, de um mamífero selvagem e de um ser humano,
são notáveis o desenvolvimento morfológico e a capacidade funcional apri-
morada. Como já apresentado, o encéfalo representa a maior porção do
sistema nervoso. O encéfalo de um adulto contém cerca de 95% da estrutura
nervosa corporal (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Para atingir essa proporção,
o encéfalo passa por um contínuo desenvolvimento, desde a embriologia na
fase fetal até a forma adulta.
O embrião corresponde ao estágio inicial do desenvolvimento do orga-
nismo, sendo resultado das primeiras transformações sofridas pelo óvulo
fecundado. O embrião é composto por um conjunto de células-tronco dis-
postas em forma de folheto, conhecido como folheto embrionário. O fo-
lheto embrionário é formado basicamente por três camadas: endoderma,
mesoderma e ectoderma. Cada uma dessas camadas será direcionada para
a formação de um determinado tipo de tecido. O endoderma é responsável
por originar os órgãos internos, ou seja, as vísceras e o esqueleto axial, ao
passo que o mesoderma é direcionado para a formação dos músculos. Por
sua vez, o ectoderma é a camada responsável pela formação da pele e do
sistema nervoso (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Nesta seção, vamos abordar
o ectoderma e seu desenvolvimento embrionário.
O processo de diferenciação do ectoderma acontece em etapas, como
ilustra a Figura 5. O primeiro estágio do desenvolvimento do sistema nervoso
se dá por volta de duas semanas de vida, quando o ectoderma se diferen-
cia em uma placa neural. Essa placa vai se aprofundar, formando um sulco
neural, que é uma invaginação na placa neural. Em seguida, é formada a
goteira neural, originada a partir desse aprofundamento. Nesse momento,
são formadas também as cristas neurais, separadas por um espaço deno-
16 Anatomia macroscópica do sistema nervoso central

minado prega neural. Essa prega é fechada e separada das cristas neurais
em um processo de fusão, dando origem a uma estrutura fechada conhecida
como tubo neural. Todos os elementos do SNC se originam a partir desse
tubo neural oco (cujo formato lembra o da medula espinhal), ao passo que
as cristas neurais — previamente separadas do tubo — serão responsáveis
por originar os componentes do SNP.

Placa neural
Placa neural

Notocorda
Somito

Sulco neural

Prega neural

Tubo neural

Neurocele

Crista neural

Célula de
Schwann

Neurônios sensitivos

Crista neural Neurônios motores

Neurônios do SNC

Astrócitos e
Células ependimárias oligodentrócitos

Figura 5. Embriologia do sistema nervoso.


Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).

O tubo neural é responsável por formar todas as estruturas do SNC. Após


o fechamento, ele é composto por três dilatações: rostral (superior), média
Anatomia macroscópica do sistema nervoso central 17

e caudal (inferior). O tubo neural rostral é direcionado para a formação do


encéfalo; e o caudal, para a formação da medula espinhal. Por volta da quarta
semana do desenvolvimento fetal, o tubo neural rostral se dilata em função
da expansão de um líquido (neurocele) presente em sua cavidade interna.
Essa dilatação promove a criação de três vesículas encefálicas: o prosen-
céfalo (cérebro anterior), o mesencéfalo (cérebro médio) e o rombencéfalo
(cérebro posterior), conforme apresenta a Figura 6. O conjunto dessas três
estruturas é conhecido como “arquencéfalo”, ou “encéfalo primitivo”. Cabe
ressaltar que, dessas, a única vesícula encefálica a atingir a idade adulta é o
mesencéfalo, ao passo que o prosencéfalo e o rombencéfalo vão se diferenciar
em estruturas mais complexas.
Na sequência do processo evolutivo neural, a dilatação do prosencé-
falo dará origem ao telencéfalo e ao diencéfalo. O telencéfalo é a estrutura
que forma o cérebro, que, por sua vez, será dividido em dois hemisférios. O
diencéfalo é uma estrutura que permanece até a vida adulta e cujos compo-
nentes são o tálamo, o hipotálamo e o epitálamo. O rombencéfalo originará
o metencéfalo, que posteriormente dará origem ao cerebelo e à ponte; e o
mielencéfalo se diferenciará formando o bulbo.

Mesencéfalo Rombencéfalo Neurocele


Prosencéfalo

Porção superior
do tubo neural

Tubo neural

Figura 6. Embriologia do sistema nervoso.


Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009).

Portanto, você pôde compreender que a embriologia do sistema segue uma


cronologia de acontecimentos direcionada para a formação das estruturas do
SNC e do SNP. O tubo neural, originado a partir de células-tronco do folheto
embrionário, é a estrutura primária do sistema nervoso, cujas estruturas vão
se diferenciar e amadurecer por meio de uma sequência de eventos evolutivos.
18 Anatomia macroscópica do sistema nervoso central

O sistema nervoso é o principal centro de controle das funções do orga-


nismo, e, sendo assim, conhecer sua anatomia macroscópica é crucial para
o devido entendimento das funções exercidas. Cada uma de suas partes é
responsável por tarefas específicas, que se complementam a fim de manter
o controle orgânico e, consequentemente, a homeostasia corporal.

Referências
AIRES, M. M. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
CAZETTA, V.; OLIVEIRA, R. G.; TAVARES, J. M. Os atlas anatômicos como pedagogia cultural
e o pós-vida das imagens. Educação & Realidade, v. 44, n. 3, p. 1–26, 2019. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/edreal/a/GL38YxDnY7tD4KkCrTpndcG/?lang=pt. Acesso
em: 17 jul. 2021.
DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia humana sistêmica e segmentar. 2. ed. São Paulo:
Atheneu, 2005.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
MCARDLE, W. D.; KATCH, F. K.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e
desempenho humano. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
REFINETTI, R.; LISSEN, G. C.; HALBERG, F. Procedures for numerical analysis of circadian
rhythms. Biological Rhythm Research, v. 38, n. 4, p. 275–325, 2007. Disponível em: https://
www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3663600/. Acesso em: 17 jul. 2021.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 14. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
VANPUTTE, C. L.; REGAN, J. L.; RUSSO, A. F. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2016.

Leituras recomendadas
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema
nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

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