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Segurança do

Trabalho e Saúde
Ocupacional
Ana Carla F. Gasques

Unidade 4

Livro Didático
Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autora
ANA CARLA F. GASQUES
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
A AUTORA
Ana Carla F. Gasques
Olá!!! Sou a Professora Ana Carla F. Gasques. Sou Engenheira
Ambiental e de Segurança do Trabalho e mestre em Engenharia Urbana.
Possuo experiência como docente do Ensino Superior para cursos de
Engenharia, onde orientei trabalhos de conclusão de curso com enfoque
em Segurança do Trabalho e Gestão de Projetos. Também sou orientadora
e banca avaliadora de monografias de Especialização em Engenharia de
Segurança do Trabalho. Sou apaixonada por esta área e gosto de transmitir
o que sei. Fui convidada pela Editora TELESAPIENS a integrar seu elenco
de autores independentes e estou feliz em poder te ajudar nesta fase de
muito estudo e trabalho. Sendo assim, pode contar comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo
projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha
de aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova com- novo conceito;
petência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou
mento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Contexto, conceitos e definições de SGSST.....................................11
Conceitos e definições................................................................................................................14

Normas relacionadas...................................................................................................................15

SGSST e PDCA................................................................................................................................18

Diretrizes de SGSST....................................................................................21
Requisitos de implantação do SGSST...........................................................................22

Auditorias de Segurança e Saúde do Trabalho..............................30


Auditoria como avaliação de gestão...............................................................................32

Processos em auditoria..........................................................................................................35

Sistemas de Gestão ambiental............................................................39


Requisitos de implantação do SGA................................................................................42

Planejamento (Análise inicial)............................................................................45

Implementação e Operação (Implantação).............................................46

Ve r i f i c a ç ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Análise pela administração................................................................................47


8 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

04
UNIDADE

LIVRO DIDÁTICO DIGITAL


Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 9

INTRODUÇÃO
Chegamos ao final do nosso livro didático. Na Unidade 04 vamos
abordar os Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional e,
para isto, é fundamental que vocês lembrem dos demais conteúdos
apresentados. É importante conhecer tais sistemas pois, apesar de serem
de caráter voluntário, juntamente com os Sistemas de Gestão Ambiental,
visam promover a melhoria da qualidade dos produtos, do ambiente
organizacional e do meio ambiente.

Para que as ações de segurança e saúde ocupacional sejam


efetivas, é fundamental que procedimentos sejam guiados por diretrizes,
bem como definidos e, para acompanhar se estes estão cumprindo
com os objetivos aos quais foram propostos, ferramentas de controle
e monitoramento são demandadas. A fim de garantir que as ações
propostas e implantadas são eficazes para o sistema ao longo do tempo
são desenvolvidas auditorias nas organizações, as quais buscam medir a
eficácia do sistema e da sua melhoria ao longo do tempo.
10 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 04. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:
1. Contextualizar, conceituar e definir Sistemas de Gestão de
Saúde e Segurança do Trabalho (SGSST);
2. Identificar as diretrizes para os SGSST;Examinar as
características dos verbos.
3. Aplicar os conhecimentos para entender de auditorias de SST;
4. Conhecer a relação entre segurança do trabalho e gestão
ambiental.

E então? Está animado para saber mais sobre saúde ocupacional e


a segurança ocupacional? Vamos juntos nesta última unidade!
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 11

Contexto, conceitos e definições de SGSST


OBJETIVO
Ao término desta competência você estará apto a com-
preender o contexto e os conceitos envolvendo Sistemas
de Gestão de Segurança e Saúde do Trabalho, os quais são
de fundamental importância para que as ações estabeleci-
das sejam cumpridas, monitoradas e efetivas. E então? Mo-
tivado para desenvolver esta competência? Então vamos
lá. Avante!

Pra começar o assunto desta unidade, vamos retomar os temas


vistos nas unidades anteriores? Eles serão essenciais para compreensão
dos Sistemas de Gestão. Então, sendo assim, vimos até aqui que no
período da revolução industrial as máquinas promoveram melhorias
nos ambientes industriais e, ao mesmo tempo, provocaram aumento
na quantidade de acidentes em decorrência dos riscos aos quais os
trabalhadores estão expostos. Os riscos existentes nos ambientes de
trabalho podem ser classificados como físicos, químicos, biológicos,
ergonômicos e de acidentes de acordo com suas consequências e, além
de provocar acidentes, as condições inadequadas dos ambientes de
trabalho podem resultar em doenças ocupacionais.

Em consequência disto, foram instituídas normas para definir


diretrizes objetivando a proteção da saúde e da integridade física do
colaborador, reduzindo a exposição dos riscos aos quais os trabalhadores
estão expostos. No Brasil, as Normas Regulamentadoras são o principal
marco da segurança e saúde do trabalho (SST).

Entretanto, apesar de hoje os ambientes de trabalho estarem mais


adequados às condições de segurança do trabalho, ainda assim, o ritmo de
competição do mercado acaba por prejudicar o enfoque nesta temática e
não são levadas em considerações ações eficazes para os colaboradores.
Em função disso, as consequências da falta de segurança não são
perceptíveis tanto por colaboradores, gestores e até a comunidade.

Em contrapartida, o foco central em se tornar líder de mercado,


ter controle econômico e desenvolver-se necessariamente deve se
12 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

relacionar com o bem-estar físico do homem, a partir de investimentos


a fim de melhorar a relação “homem x máquina x produção”. Tal fato
justifica-se pelo seguinte pensamento: o homem é o maior responsável
pela qualidade dos produtos e serviços em função de sua mão-de-obra.

A variedade de acidentes, incidentes e situações de riscos nos


ambientes organizacionais evidencia a necessidade de não olhar mais pra
organização apenas como algo lucrativo. É necessário que estas sejam
evidenciadas em função de seu comportamento ético e responsável no
que tange a seus colaboradores.

Nesse contexto, aspectos de segurança e higiene no trabalho,


ultrapassam os limites de caráter humano: envolvem, também, o âmbito
organizacional e econômico, relacionando-se também aos aspectos de
garantia da qualidade de produtos finais e prestação de serviços.

Para tal, as organizações vêm implantando sistemas de gestão para


melhorar a qualidade de seus processos e, consequentemente, produtos,
promovem sustentabilidade, melhorem os ambientes de trabalho e a
rotina de seus colaboradores. O objetivo, então, é promover a capacidade
de se destacar perante a concorrência, melhorar seus ganhos sem
prejudicar a saúde e a integridade física dos colaboradores.

Diante disso, nesta competência veremos os conceitos envolvendo


os Sistemas de Gestão da Saúde e Segurança do Trabalho (SGSST), os
quais são uma ferramenta bastante importante para que as organizações
atinjam este objetivo. A partir do momento que a organização seja capaz
de conseguir estabelecer um desempenho satisfatório em SST, ela
estabelece melhores condições de trabalho e, consequentemente, torna
seus colaboradores mais motivados e permite que estes estejam mais
sensibilizados com os aspectos organizacionais.

Embora de incorporada nos ambientes organizacionais, ainda


não existe uma concordância sobre um exemplo ideal de Sistema de
SST, principalmente em função da alta variabilidade de empresas. Uma
publicação da Organização Internacional apresenta diretrizes para motivar
gestores a implantar tais sistemas, porém sem a devida padronização.
E, em decorrência disto, diferentes tipos são aplicados de acordo com
especificidades de cada segmento e de cada agrupamento de processos.
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 13

Entretanto, em alguns casos, tais sistemas, por não possuírem um


padrão a ser seguido, ainda não são desenvolvidos de forma completa e
consistente. Algumas organizações preconizam a prevenção de acidentes
em relação as doenças relacionadas ao trabalho, enquanto outras, apesar
de não ter meios de comunicação visando promover a integração entre
boas práticas, possuem objetivos e estratégias bem definidas.

Dessa forma, partindo do pressuposto do objetivo da garantia


de promover ambientes de trabalhos mais saudáveis ao colaborador, a
gestão de segurança e saúde possui relação com situações de caráter
funcional, devendo ser interligada à gestão estratégica da organização de
forma global. Ademais, conforme vimos, o caráter de prevenção envolve
controlar, a partir de mecanismos e indicadores, os acidentes e incidentes,
tendo em vista a variabilidade de causas possíveis.

Neste cenário, um Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no


Trabalho (SGSST) consiste em um conjunto de ações da empresa, cujo
enfoque está na segurança e integridade de seus trabalhadores e de
suas ações nos diferentes processos produtivos. É importante que se
tenha como princípio que um SGSST deve ser estruturado e implantado
a partir de políticas, obrigatoriedades e legislações aplicáveis aos
aspectos envolvendo segurança, de acordo com a configuração de cada
organização.

No auge da (in)segurança do trabalho, no período entre as décadas


de 70 e 80 foram criados normas para direcionar a gestão em SST para
alguns setores econômicos específicos. No Brasil, a primeira norma nesta
temática foi em 1996 voltada para orientações sobre o que deveria ser
feito em sistemas denominada BS 8800.

Esta norma ficou vigente e em implantação até 1999 quando foi


desenvolvida a norma OHSAS 18001, a qual baseia-se nas diretrizes
instituídas pela ISSO 14001 de 1996 cujo foco está na gestão ambiental.
A gestão ambiental apresenta bastante familiaridade com a gestão da
segurança do trabalho, por isto ela será abordada na última competência
desta unidade.
14 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

EXPLICANDO MELHOR
OHSAS é sigla que indica a Occupational Health and Safety
Assessment Series, em português, Séries de Avaliação de
Segurança e Saúde Ocupacional.

Antes da implantação de SGSST, pode-se dizer que as organizações


possuem uma abordagem reativa, ou seja, primeiro esperava-se o acidente
ocorrer para que então fosse investigar e analisar, a fim de estabelecer
medidas de controle. Após a implantação de um SGSST a postura passa
a ser proativa, ou seja, primeiro os perigos são identificados, avaliam-se
os riscos e a partir da avaliação é que são definidas medidas de controle.
Neste cenário, quando ocorre um acidente, este é averiguado, originando,
outra vez, a identificação e avaliação dos perigos e riscos, produzindo,
assim, novas formas de controle para impedir futuros acidentes análogos.

O desenvolvimento de ações para gestão da segurança e saúde


no trabalho, sua implantação e a garantia de que estas ações estão em
conformidade com as demandas impostas pelas leis e outros regimentos
nacionais são de responsabilidade do empregador. Entretanto, implantar
uma abordagem sistemática desta gestão na organização garante que
prevenção e proteção sejam avaliadas de forma contínuas e sustentadas
a partir de melhorias apropriadas.

Conceitos e definições
Antes de iniciarmos a apresentação de conceitos e definições sobre
os SGSST, é importante relembrarmos alguns termos já vistos e conhecer
outros novos. Vimos de uma forma mais ampla que a segurança do
trabalho é a capacidade de estar seguro, porém isso ainda é um pouco
vago não é? Podemos caracterizar a segurança do trabalho como a não
ocorrência de acidentes. Também vimos os conceitos de acidente, quase-
acidente e incidente. Você lembra?

Um incidente consiste em uma situação não prevista (ou não


desejada) que altera o ritmo normal de uma ação e, este pode ser acidente
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 15

ou quase-acidente. Um incidente é tido como um acidente quando ocorre


lesão corporal, perda ou redução da capacidade, permanente ou temporária
ou, até morte. Agora é classificado como quase-acidente quando suas
consequências podem resultar em dano à pessoa, mas que, não chegou a
causar.

Além disso, vimos diferente entre perigo e risco. Perigo é uma


situação que tenha potencial para provocar perdas ou, ainda, um conjunto
de situações. Enquanto risco é a combinação da probabilidade de uma
situação de perigo e de sua gravidade ou a combinação da exposição
com a gravidade dos efeitos à saúde.

No que diz respeito aos sistemas de gestão, temos aqui outros dois
termos: sistema e gestão. Um sistema, de modo geral, pode ser definido
como a soma de várias partes ou, ainda, uma rede complexa destinada
a um determinado fim. Já gestão é a ação de empregar empenhos de
pessoas para se alcançar objetivos da organização.

Diante disso, entende-se que um sistema de gestão é um grupo de


mecanismos e ferramentas relacionadas entre si as quais são empregadas
por uma organização para que suas ações sejam planejadas, operadas e
controladas para alcançar objetivos previamente definidos.

A gestão da segurança é uma ação coletiva e, em função disso, é


preciso que seja exercida e realizada em toda a organização. Conscientizar
e capacitar colaboradores para que sejam capaz de identificar situações
de riscos são as ações mínimas necessárias para iniciar o processo de
gestão da segurança.

Normas relacionadas
Como vimos, duas normas são importantes para esta área: BS 8800
e OHSAS 18001. A BS 8800 de 1996 da Inglaterra foi a impulsora dos
SGSST, e consiste em um conjunto de diretrizes baseadas em normas de
gestão da qualidade, as quais são instituídas pela série ISO 9000 (bem
como pela ISO referente a gestão ambiental (série 14000).

A BS 8800:1996, denominada “Guia para Sistemas de Gestão da


Segurança e Saúde Ocupacional” foi publicada na Inglaterra e visa otimizar
16 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

a performance de segurança do trabalho no ambiente organizacional,


servindo como guia para a gestão desta área. Esta norma preconiza que é
importante que esta gestão seja feita de forma integrada às demais áreas
da organização. Esta norma é formada pelos seguintes itens:
Figura 1: Fluxograma das etapas da gestão de segurança do trabalho
segundo a BS 8800:1996

Objetivo

Referências Introdução
Informativas

Definições Política

Elementos Planejamento,
do SGSST implementação e
operação
Anexos
Verificação e ação
corretiva

Análise Crítica

Fonte: a autora (2020).

As diretrizes dessa norma podem ser sobrepostas em organizações


independente do porte, tipo de atividade ou grau de risco, também podem
ser compatibilizadas às Normas Regulamentadoras, assim como com as
demais normas que norteiam os sistemas de gestão. As finalidades básicas
desta norma é tornar mínimo os riscos para os colaboradores e demais
envolvidos, aperfeiçoar o comportamento da organização e auxilia-las para
instituir uma imagem responsável no mercado em que operam.

Já a norma OHSAS 18001 é denominada Sistemas de Gestão de


Segurança e Saúde Ocupacional – Especificação e foi publicada em 1999
a partir de uma união de diversos Organismos Certificadores. É a primeira
norma certificadora desta área e foi desenvolvida com base na estrutura
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 17

da ISO 14001 de 1996, a qual aborda Sistemas de Gestão ambiental,


conforme vimos anteriormente.

A OHSAS começou a vigorar em 1997 e em 2007 passou por sua


primeira revisão, a qual não a modificou sua estrutura de forma significativa,
mas incluiu melhorias em suas diretrizes principalmente no que se refere
a ações preventivas a partir do gerenciamento de incidentes. Esta norma
é aplicável a qualquer organização desde que esta esteja disposta a
implantar um sistema de gestão e, após implantado, garantir que este
seja mantido e passado por melhorias contínuas ao longo dos anos bem
como revisado com relação à conformidade com a política. A estruturação
desta norma é apresentada na Figura 2 a seguir:
Figura 2: Fluxograma das seções estabelecidas na OHSAS 18001:2007

Objetivo e
Publicações de Termos e Requisitos do
campo de
referência definições SGSST
aplicação

Fonte: a autora (2020)]

A seções definidas por esta norma possibilitam às organizações


um monitoramento mais efetivo dos riscos, definindo os responsáveis
acerca da política de segurança estabelecida, bem como reforçando
exaustivamente a necessidade de treinamentos e do controle das ações
desenvolvidas. Entretanto, não são estabelecidos indicadores para
monitorar o desempenho referente a SST.

Os requisitos de SGSST serão abordados de forma individual na


próxima competência, os quais são apresentados na norma OHSAS 18002.
Além disso, é importante ressaltar que esta norma é a mais adotada para
abordar os itens necessários para estrutura e implantação de sistemas de
gestão, tal qual veremos na próxima competência.

SGSST e PDCA
Quando falamos de sistemas de gestão envolvendo segurança
do trabalho, por mais que o foco esteja nos ambientes organizacionais,
nós também relacionamos questões indiretas às condições ambientais,
ou seja os efeitos indiretos e muitas vezes de difíceis compreensão,
18 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

quantificação e avaliação. Em decorrência disso, para que um profissional


da segurança do trabalho seja respeitado, é preciso que ele olhe para sua
área de atuação sob 3 perspectivas: legal, gestão e técnica, as quais são
integradas e relacionam-se entre si.

No que diz respeito à estrutura básica de implantação deste sistema,


existe um consenso na literatura sobre as atividades necessárias para que
seja efetivo, tendo por base o ciclo de Deming, ou também conhecido
como ciclo PDCA, conforme apresentado na figura a seguir:
Figura 3: Ciclo Deming (PDCA) no contexto da segurança do trabalho

Fonte: adaptado de OIT (2011).

De modo geral os sistemas de gestão de ST fazem parte de um


sistema integrado de qualquer empresa e visa promover mecanismos
com potencial para melhorar a eficiência da gestão de riscos, no que diz
respeito a todas as atividades desenvolvidas nesta. Como consequência
disto, tem-se uma redução dos acidentes de trabalho e das doenças
ocupacionais bem como ambientes de trabalho mais saudáveis.

É importante que cada empresa analise suas características e


adapte os requisitos de seu SGSST a fim de fazer com que este seja
efetivo quanto a suas finalidades. A gestão deve incluir todos os aspectos
que interferem em sua produção e funcionalidade e, além disso, deve
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 19

envolver, também, os impactos negativos de suas ações tanto nos


envolvidos diretamente (gestores, colaboradores) quanto indiretamente
(população de entorno, meio ambiente e sociedade de modo geral).

Neste contexto, entende-se que consiste em uma metodologia


lógica e gradativa para definir o que precisa ser feito, qual a melhor maneira
de fazer, monitorar a evolução daquilo foi definido buscando atingir os
objetivos bem como desenvolver avaliações para promover melhorias.
É fundamental que esta metodologia seja adaptativa conforme ocorram
mudanças nos processos operacionais das empresas ou mudanças nas
legislações.

Aplicar o ciclo PDCA em sistemas de gestão possibilita um maior


controle sobre as ações a serem executadas e, principalmente, garantir a
melhoria contínua dos processos. Além disto, este enfoque para sistemas
de gestão garante que medidas de prevenção sejam implantadas
efetivamente e com coerência ao perfil da organização; sejam estabelecidas
políticas relacionadas; sejam definidos compromissos a serem seguidos;
todos os setores da organização façam parte da avaliação de riscos; e, por
fim, que gestores e colaboradores atuem juntos neste processo.

SAIBA MAIS
Quer saber mais sobre aspectos mais gerais de SGSST? In-
dico que faça a leitura do artigo intitulado Diretrizes para
implementação de um sistema de gestão da saúde e se-
gurança do trabalho segundo a OHSAS 18001: Estudo de
caso em uma indústria química, de Maksemiv e Michaloski
(2016), acessível pelo link https://bit.ly/3dQeJaB (Acesso
em 17/02/2020).
20 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

RESUMINDO
Além de cumprir com suas obrigatoriedades legislativas, as
organizações precisam estabelecer ambientes de trabalho
mais seguros e que propiciem melhor qualidade de vida
a seus colaboradores. Cada vez mais percebe-se a impor-
tância destas instituírem boas práticas a fim de garantir se-
gurança e higiene ocupacional que, além de fundamentais
para reduzir acidentes, também serve de aspecto motiva-
cional para que os colaboradores se sintam comprometi-
dos com sua própria segurança e com a segurança do am-
biente de forma geral.

Ambientes organizacionais seguros, além de melhor os índices de


produção, também interferem positivamente nos gastos do produto final
pois reduzem as paradas de processos para manutenção e/ou em função
de acidentes. Neste cenário, os SGSST foram definidos a partir de duas
normas (BS 8800 e OHSAS 18001) e são instituídos como mecanismos
organizacionais visando promover melhores condições de trabalho e,
consequentemente, interferindo no desempenho financeiro, operacional e
social.

SGSST consiste, então, em um conjunto de ações, associadas a partir


do estabelecimento de políticas, programas, métodos e procedimentos
a fim de promover a execução das condições judiciárias dirigidas pela
CLT e pelas NR, no que tange à Segurança e Saúde Ocupacional. Estes
sistemas, quando implantados no ambiente organizacional promove tanto
melhorias nos processos e na capacidade produtiva, quanto de caráter
pessoal aos colaboradores por auxiliar para que a organização apresenta
melhores condições de trabalho.
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 21

Diretrizes de SGSST
OBJETIVO
Ao final desta competência você estará apto a identificar as
diretrizes para implantar os Sistemas de Gestão de Saúde
e Segurança do Trabalho. A identificação das diretrizes é o
passo inicial para que você consiga estabelecer e implantar
SGSST eficazes quanto aos objetivos propostos.

Na competência anterior entendemos que a prioridade do SGSST


é gerenciar os riscos objetivando excluir os perigos, fazer avaliação
dos riscos, lidar com os riscos na fonte, adaptar o trabalho ao homem,
considerar ao estado de desenvolvimento da técnica, trocar o ameaçador
pelo menos perigoso, projetar a prevenção, priorizar proteção coletiva
ante individual e, por fim, sensibilizar todos os envolvidos.

Neste cenário, a norma OHSAS 18001 apresentada na competência


anterior estabelece condições a serem adotadas a fim de instituir uma
padronização em SGSST. A concordância e o aproveitamento destas condições
são direcionadores para que uma organização adote padrões internacionais
relacionados à Segurança e Saúde do Trabalhador. Para desenvolver
sistematicamente este tipo de sistema é preciso que algumas etapas sejam
seguidas, as quais são precedidas por etapas de análise e validação.

Compreender as diretrizes relacionadas a estes sistemas de gestão é


um processo sistematizado e envolve definição de princípios, organização
de estrutura e delimitação de processos a serem considerados. Estes fatores
são determinados pela cultura organizacional e definida de acordo com os
recursos existentes (ou disponibilizados) bem como pelo contexto externo.

É importante que sejam estabelecidos os responsáveis pela


elaboração e implantação de SGSST, os quais podem ser externos (a partir
de empresas de consultoria) ou internos (por meio de representantes
de colaboradores e gestores). Em seguida, é importante que a alta
administração defina a Política de SST, segundo os requisitos mínimos
estabelecidos pela norma selecionada (BS 8800 ou OHSAS 18001 ou ISO
45001) bem como seguir o estabelecido no planejamento estratégico da
organização e as legislações vigentes.
22 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

De modo geral, SGSST possuem por objetivos: colocar a


organização em conformidade com as legislações vigentes, prevenir
acidentes e doenças do trabalho, obter vantagem competitiva perante o
mercado e estabelecer conformidade segundo os princípios e valores da
organização. Além disso, estes objetivos são variáveis de acordo com os
critérios estabelecidos na missão da organização.

A gestão da segurança do trabalho em uma organização pode


ser, ainda, de caráter obrigatório (a partir de uma exigência legal) ou de
caráter voluntário. Entretanto, os sistemas são unicamente de caráter
voluntário, ou seja, a organização (ou sua alta administração) define que
vai ser implantado e inicia o processo com a contextualização de suas
características e em seguida a identificação das legislações relacionadas.

Requisitos de implantação do SGSST


Conforme já vimos, a Norma OHSAS aponta os requisitos para um
sistema de gestão da segurança e saúde do trabalho que possibilite à
organização o desenvolvimento e implementação de uma política e de
objetivos específicos, considerando tais requisitos. A norma foi estruturada
a fim de ser possível sua aplicação diferente organizações e sua adaptação
a diferentes contextos geográficas, culturais e sociais.

A política de segurança do trabalho da organização deve ser


documentada, implantada e publicada a todos os envolvidos (stakeholders),
para que todos sejam sensibilizados e capazes de fomenta-la e cumpri-la.
A política é o passo inicial para estabelecimento dos objetivos e metas a
serem atingidas a partir deste sistema.

É importante ressaltar, antes de prosseguir com as etapas/


requisitos, que para que este sistema seja eficaz, é necessário que todos
estejam comprometidos, principalmente a alta administração. Além disso,
os elementos estruturantes demandam um processo constante de revisão
e atualização bem como aperfeiçoamento, treinamento e sensibilização.

O objetivo geral da norma é promover suporte às boas práticas em


consonância a aspectos socioeconômicos. Ademais, alguns requisitos
precisam ser levados em consideração de forma simultânea e passados
por avaliação constantemente a qualquer momento.
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 23

Figura 4: Etapas do SGSST relacionadas ao ciclo PDCA

Fonte: a autora (2020).

Conforme é possível observar, na fase de planejamento (primeira


etapa do PDCA) é estabelecida a Política de SST, definida pela alta
administração onde mantem-se, de forma clara, suas intenções em relação
a este tema. A política pode ser definida como uma carta de objetivos,
aprovada pela alta direção da empresa, que situa os alvos globais de
segurança e saúde e o empenho para aperfeiçoar o comportamento da
SST, porém não constitui alvos passíveis de serem quantificados.

Na fase de planejamento, são estabelecidos 3 fatores: identificação


de perigos, avaliação de riscos e determinação de controles; selecionar
requisitos legais e outros; e, objetivos e programas. Nesta fase é essencial
que seja elaborado um plano de ação, o qual deve contemplar pelo menos
os seguintes aspectos: definição de responsabilidades, identificação das
demais etapas a serem desenvolvidas e dos recursos necessários para
execução de cada uma, delimitação do prazo para conclusão.

Dentro da fase de planejamento também devem ser definidos


aspectos relacionados a documentações e registros, ou seja, como
24 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

será feita a transmissão de informações e o processo de comunicação.


Gerenciar documentações é uma etapa fundamental para qualquer
sistema de gestão e, em função disso, é estabelecida nas normas que
regem estes sistemas e a incluem como uma de suas etapas.

Aqui na fase de planejamento é preciso que sejam identificados os


riscos associados as mudanças previstas para a organização a partir da
implantação de SGSST. É preciso que sejam assegurados os resultados
desejados, dentro de condições adequadas a partir de medidas de controle,
as quais, devem priorizar a redução de riscos a partir da seguinte hierarquia:
Figura 5: Hierarquia da redução de riscos

Fonte: a autora (2020).

Dando continuidade as diretrizes, na implementação e operação é


a mais extensa e é composta por desenvolver e organizar 7 sub requisitos,
sendo eles:

•• Recursos, funções, responsabilidades, prestação de


contas e autoridade;

•• Competência, treinamento e conscientização;

•• Comunicação, participação e consulta;

•• Documentação;
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 25

•• Controle de documentos;

•• Controle operacional;

•• Preparação e resposta às emergências.

Com base nisso, a organização ao implantar seu SGSST deve


considerar estes 7 itens bem como realizar análises críticas dos
documentos relacionados e controlar emissão e seu processo de
arquivamento e registro. Comumente, este item da norma é estruturado a
partir de um documento único chamado de Manual do SGSST, no qual são
definidos aspectos como procedimentos gerenciais (tal como eleição e
estruturação da CIPA) e procedimentos operacionais (referente a operação
de máquinas e equipamentos) além, é claro, das documentações.

Além disso, é necessário organizar no Manual um diagrama


indicando a integração entre os diferentes documentos e as fases
correspondentes de cada um. Mesmo que esteja organizada de forma
clara e objetivo, a documentação precisa estar em fácil acesso e deve
refletir as metas estabelecidas. A documentação não é comprovação de
eficiência ou de que o SGSST está sendo executado corretamente, mas é
uma forma de manter o acompanhamento do processo e identificar falhas.

Tendo por base os Sistemas da Qualidade, que são os percurssores


dos sistemas de gestão, é possível organizar a documentação a partir
de uma hierarquização estrutural, sendo esta: NÍVEL 1 – Documento
que contem a política de SST e descreve a organização do SGSST
- é tipicamente constituído pelo Manual de Segurança; NÇÍVEL 2 –
Procedimentos do Sistema ou Operacionais de Gestão da SST; NÍVEL 3
– Procedimentos Operativos e/ou Instruções de Trabalho documentadas,
NÍVEL 4 – Registos da SST.
26 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

Figura 6: Hierarquização da documentação em um SGSST

Fonte: a autora (2020).]]

Na verificação, é preciso analisar monitoramento e medição de


desempenho, avaliar o atendimento à requisitos legais e outros, investigar
incidentes, não-conformidades, ações corretivas e preventivas, controlar
os registros e realizar auditorias internas. Veremos sobre auditoria
na próxima competência. Segundo a norma, a gestão de topo é a
responsabilidade final da gestão e ela deve comprovar o seu empenho em
critérios como garantir que os recursos necessários estarão disponíveis
em quantidade e no momento demandado bem como que as atribuições
e responsabilidades serão definidas e delegadas de forma adequada.

Além disso, neste momento, é preciso que seja designada uma


pessoa para se responsabilizar pela gestão de topo, a qual terá autoridade
para garantir os itens anteriores bem como controlar os relatórios de
desempenho a fim de realizar o monitoramento e controle, bem como
acompanhar as evoluções a partir do SGSST. É importante que todos
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 27

saibam quem é a pessoa designada e que todos tenham a possibilidade


de conversar com este membro caso aconteça algum imprevisto ou
situação indesejada.

Por fim, a última etapa, consiste em definir o requisito sobre análise


crítica pela direção. Neste momento, a alta direção confere os indicadores
do processo de forma geral a fim de conferir o nível de atingimento das
metas estabelecidas. Dessa forma, é possível verificar até que nível as
mudanças desenvolvidas forma positivas (ou não) frente ao resultado
esperado.

A OHSAS 18001 apresenta, ainda, 5 fatos para que um SGSST seja


implementado em uma organização:

•• Conscientização da alta administração;

•• Estruturação de procedimentos;

•• Capacitação de todos os envolvidos;

•• Avaliação de oportunidades de melhoria;

•• Aplicação de tecnologias.

Os sistemas são bastante funcionais, ajudando a definir metas mais


claras à organização a fim de que esta alcance um nível mais elevado
de segurança do trabalho. Estes 5 passos ajudam, porém, é necessária
a sensibilização de cada um, a qual é a principal peça para eficiência do
processo de forma geral.

Apesar de não estar claramente definido como uma etapa do


processo, o envolvimento dos colaboradores é uma demanda de grande
parte das normativas relacionadas, porém, muitos autores ressaltam que
isto não é enfatizado de forma suficiente. A participação dos colaboradores
pode ocorrer de diferentes maneiras em função de quem está sendo
convidado para participar, quando e por que esta participação ocorrerá.

Além disso, a participação pode ocorrer em diferentes graus, os


quais variam desde a simples disponibilização de informações após
tomada de decisão, ou consultar os colaboradores antes de deferir a
tomada de decisão para permitir que estes influenciem na tomada de
28 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

decisão, delegar algum cargo de autoridade aos colaboradores ou a


seus representantes ou, por fim, o nível mais avançado que consiste na
autogerencia, ou seja transmite a responsabilidade para os colaboradores
e estes fazem o planejamento e estipulam formas de monitoramento e
controle de suas atividades.

Estudos evidenciam que permitir que os colaboradores participem


do processo de uma forma geral auxiliar na comunicação efetiva entre
gestores, alta administração e estes no que se refere a assuntos de SST.
Contudo, para que a participação destes seja efetiva, é necessário eu seja
realizado treinamentos e disponibilizadas informações adequadas aos
mesmos, para que estes compreendam o que está sendo debatido e para
que sejam definidas as formas de participação adequadas ao contexto.

Acerca disso, sabe-se que a realização de treinamentos nas


organizações deve ser feita regularmente e é assunto comum nas áreas
de segurança do trabalho para garantir uma boa performance neste
quesito. Sabe-se, inclusive, que a falta de treinamentos ou treinamentos
inadequados são responsáveis por acidentes de trabalho.

Dessa forma, além das diretrizes estabelecidas, comunicação


adequada e bom relacionamento interpessoal entre gestores e
colaboradores torna possível um diálogo mais aberto, favorecendo tanto
aspectos organizacionais, processuais como os de caráter motivacional e
de segurança dos colaboradores.

SAIBA MAIS
Quer saber mais sobre aspectos gerais relativos dos siste-
mas de gestão de segurança e saúde do trabalho? Convi-
do-lhe a ler o artigo intitulado “Sistema de Gestão de Segu-
rança e Saúde no trabalho: Uma proposta de avaliação da
conformidade para a administração pública federal brasilei-
ra”, de Fonseca e Ferman (2015), acessível pelo link https://
bit.ly/2BxCRln (Acesso em 28/02/2020).
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 29

RESUMINDO

Aspectos relacionados a gestão da segurança do trabalho


estão sendo demandados por legislações cada vez mais
e, em função disso, algumas normas definem requisitos e
diretrizes para que as organizações implantem Sistemas de
Gestão desta área a fim de melhorar seu desempenho, di-
minuir acidentes de trabalho.

Porém, para que isso seja possível, é essencial que todos os


membros da organização (gestores, alta administração, colaboradores)
estejam comprometidos com o processo. Além disso, é importante
que sejam realizados treinamentos, definidos critérios e condições de
certificações bem como controle do período de adaptação.

Além das etapas previamente definidas na OHSAS, estudos


comprovam que consentir que os colaboradores atuem de forma
participativa do processo de diretrizes de SGSST é eficaz para seu sucesso.
Contudo, para que a participação destes seja efetiva, é necessário eu seja
realizado treinamentos.

Por fim, entendemos, então, que os requisitos estabelecidos para


implantação de sistemas são bastante funcionais, ajudando a definir
metas mais claras à organização a fim de que esta alcance um nível mais
elevado de segurança do trabalho.
30 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

Auditorias de Segurança e Saúde do


Trabalho
OBJETIVO
Ao final desta competência você conhecerá os principais
objetivos das auditorias em saúde e segurança do trabalho.
Isto será fundamental para entender como avaliar as con-
dições de trabalho e de segurança e saúde do trabalhador
através de uma auditoria. E então? Animado para este co-
nhecimento? Vamos lá!

Conceito e importância da auditoria em SST


Um elemento fundamental nos sistemas de gestão de saúde e
segurança no trabalho (SGSST) é a auditoria. A auditoria é responsável por
fornecer não somente uma avaliação dos fatos, mas principalmente orientar
a tomada de decisões e auxiliar na otimização dos processos do sistema.

Muitas pessoas confundem a ação de fiscalizar com o fato de


a organização estar realizando atividades em não conformidade com
as normas. Entretanto, as auditorias devem ser realizadas em todas as
empresas com a principal finalidade de avaliar as condições de trabalho
e de segurança e saúde do trabalhador. E caso haja divergências nos
ambientes de trabalho devem ser realizadas atuações e multas pelo não
cumprimento da legislação e normas vigentes.

As organizações utilizam-se da auditoria como uma ferramenta


de medida para o seu sistema de gestão de saúde e segurança no
trabalho. A auditoria torna-se fundamental, pois ela irá indicar o atual
estágio de implantação do sistema bem como auxilia na definição do
plano estratégico das ações a médio e a longo prazo. Com isso, é possível
auxiliar a empresa a atingir um nível de desempenho satisfatório.

De maneira geral, a auditoria pode ser definida como um exame para


verificar se as atividades e os resultados gerados estão em conformidade
com as ações planejadas e se essas ações estão adequadas com as
políticas e com os objetivos da organização. Ainda pode ser definida como
uma avaliação independente, realizada por um profissional especialista
no assunto, que utilize do julgamento profissional para validação dos
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 31

resultados e ao final reporte aos interessados o resultado da avaliação.

A inspeção de segurança, da investigação de acidentes e da auditoria


de saúde e segurança do trabalho são atividades complementares,
porém apresentam finalidades diferentes quando são realizadas. A
inspeção de segurança engloba atividades rotineiras que visam verificar
se existe divergência entre os trabalhos prescritos e os que estão sendo
realizados. Essa inspeção tem como objetivo verificar o cumprimento dos
procedimentos e validar os treinamentos.

A investigação de acidentes é realizada quando uma não


conformidade foi registrada pelo sistema de segurança e saúde do
trabalho. Neste caso, ela ocorre em caráter preventivo e corretivo. As
ações são voltadas a compreender o que levou a registrar as ocorrências
de não conformidade. Essas ocorrências são todas aquelas que podem
resultar em danos ao sistema de produção, ameaça à integridade física
dos trabalhadores e do meio ambiente ocupacional.

Já a auditoria de segurança e saúde do trabalho tem como objetivo


principal verificar o cumprimento do sistema de saúde e segurança
ocupacional de acordo com os procedimentos estabelecidos pelas
normas e procedimentos estabelecidos. A partir da verificação e da
avaliação realiza-se as ações corretivas necessárias para a organização.

Dessa forma, a auditoria de segurança e saúde do trabalho está


relacionada aos sistemas de gestão e consiste em uma avaliação da
organização no exercício da função segurança, sendo que deverá ser
documentada e realizada de maneira periódica. O processo é estruturado
e a coleta de informações determinará a eficiência do sistema de gestão
de segurança e saúde para então propor planos de ações corretivas.
De acordo com Barbosa Filho (2011, p. 323), dentre os objetivos e as
justificativas para realização de auditorias relativas a aspectos de saúde e
segurança do trabalho tem-se:

1. Determinar a conformidade ou não com a especificação;

2. Determinar a eficácia do SSST implementado no atendi-


mento dos objetivos especificados;
32 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

3. Prover ao auditado oportunidade de melhoria;

4. Atender aos requisitos regulamentares;

5. Avaliar uma organização visando estabelecer uma relação


contratual, inclusive no caso de fusões ou aquisições;

6. Verificar a continuidade do SSST aos requisitos especifica-


dos e a sua evolução na organização ou nas contratadas;

7. Avaliar o SSST em face de uma norma de sistema de SST.

Para isso, a auditoria deverá ser planejada a partir de critérios


predefinidos. O planejamento deve ser realizado com tempo para que todas
as partes se organizem, pois, as atividades iniciam antes da verificação in loco.

As auditorias são atividades que devem ser planejadas e seu


período de aplicação devem ser baseadas de acordo com seu escopo, a
importância do assunto, exigências contratuais e dos recursos humanos e
financeiros disponíveis na organização.

Auditoria como avaliação de gestão


As auditorias como parte do sistema de avaliação da gestão
buscam pela coerência entre as atividades realizadas e as atividades
planejadas. Com a avaliação é possível verificar a efetividade da gestão.
Ao final da auditoria, a organização conhecerá qual o nível de aderência
do seu sistema em relação aos critérios necessários. E então, planejar as
medidas para obter melhoria nos seus processos.

O desempenho do sistema de gestão consiste de maneira


simplificada em avaliar se os planos de SST foram implementados e estão
sendo cumpridos. Além disso, verifica se as medidas de controle dos riscos
são efetivas, se as falhas estão sendo reportadas de maneira correta, se
as avaliações estão sendo repassadas para as partes interessadas e como
melhorar os processos do SGSST.

As auditorias do SGSST podem ser realizadas a partir de três


abordagens. A primeira consiste na auditoria baseada no cumprimento
de requisitos, denominada como abordagem estrutural. A segunda é
baseada nos processos, designada como abordagem operacional. A
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 33

terceira auditoria consiste naquela baseada nos resultados, instituída


como abordagem por desempenho.

O primeiro tipo de abordagem, a estrutural, é a mais utilizada


pelas organizações. Esta pode ser realizada conforme os procedimentos
estabelecidos em normas como a OSHAS 18001 e ILO-OSH. Nesta
auditoria, são realizados verificação do grau de cumprimento dos itens de
segurança e saúde do trabalho especificado pelas normas em vigência
que se aplicam a organização.

A abordagem operacional está baseada nos processos que a


organização apresenta. Nesta etapa a auditoria mensura o desempenho
na prática de cada processo que constitui o SGSST. Para isso, são
realizadas entrevistas com os colaboradores tanto da área operacional
quanto gerencial da organização.

A terceira abordagem, por desempenho, é realizada com base


em indicadores, usualmente reativos. As auditorias avaliam o sistema de
desempenho com base na frequência e gravidade dos acidentes. Neste
caso, a auditoria pode não retratar com clareza as situações reais do SGSST.

Independentemente do tipo de abordagem realizada para


uma auditoria, esta deverá ser realizada por profissionais habilitados.
Recomenda-se que seja realizada por membros externos à organização
e independentes. O auditor deve ser um participante neutro no processo,
pois ele não pode influenciar e nem ser influenciado pelas partes
interessadas.

Entretanto, isto não é uma obrigação, as auditorias podem ser


realizadas por profissionais da própria empresa desde que não ligados
diretamente a área ou ao setor do ambiente que será avaliado. Geralmente,
os profissionais internos realizam as atividades iniciais da auditoria,
principalmente quando a empresa passará por alguma avaliação de
certificação.

Os auditores apresentam papel fundamental na eficácia de


uma auditoria. Os auditores devem conhecer os objetivos da auditoria,
os indicadores que serão utilizados, a população-alvo e as pessoas
34 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

envolvidas, a verdade dos fatos, as possíveis causas, as consequências


da intervenção e a forma de comunicação.

A postura do auditor é uma chave no processo da avaliação.


A imparcialidade e a forma de comunicação são características que
um bom auditor apresenta. Existem algumas posturas que podem ser
consideradas inadequadas e podem comprometer o bom desempenho
da atividade, sendo elas:

•• Indução: o auditor deve ser imparcial durante todas as


entrevistas com os colaboradores, ou seja, ele não pode
induzir ao entrevistado respostas seja através de falas,
gestos ou feições;

•• Desatenção ou descrédito: durante uma entrevista, o


auditor não deve conversar com o funcionário de maneira
a causar dúvidas ou indicar julgamentos conforme as
respostas são expostas pelo entrevistado;

•• Envolvimento emocional: um dos motivos por recomendar


auditores externos ou quando internos que sejam de outros
setores é evitar que os auditores conheçam os colaboradores
de tal forma que possa haver algum vínculo pessoa que
cause envolvimento emocional. Caso haja o recomendado
é que seja solicitado outro auditor. Esta questão deve ser
observada antes de definir o auditor responsável;

•• Indulgência ou prepotência: o auditor não deve apresentar


uma postura de superioridade no processo. Os funcionários
que estão envolvidos no processo de auditoria não devem
ser considerados como subordinados, mas sim como
parte do processo de avaliação;

•• Questionamentos: o auditor deve ser capaz de conduzir


as entrevistas e as avaliações de tal forma que não haja
inversão dos papéis. Muitas vezes, os funcionários acabam
iniciando um questionamento com o auditor e o foco da
entrevista se perde e o objetivo final não é cumprido;
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 35

•• Indiscrição: é fundamental que o auditor seja discreto


durante e após o processo de auditoria. Além disso,
é necessário que as informações coletadas sejam
confidenciais se sejam protegidas e utilizadas apenas para
o fim proposto.

Processos em auditoria
Existem quatro principais tipos de auditorias conforme o objetivo
da parte interessada. As auditorias podem ser internas, externas ou de
seguimento. As auditorias internas, também denominadas como primeira
parte, são aquelas que são solicitadas pela própria organização e
geralmente são realizadas por funcionários da própria organização, pode-
se também recorrer a pessoas externas.

As auditorias externas que podem ser divididas em segunda parte


e terceira parte. As auditorias externas de segunda parte são aquelas
realizadas por uma organização a um contratado, neste caso também
pode haver pessoas externas no processo. As auditorias de terceira
parte são realizadas principalmente com o intuito de a organização obter
certificações de normatização ou de outras entidades. Geralmente esta
última ocorre em grandes empresas

Após a realização de qualquer outra auditoria pode-se ser solicitada


uma nova auditoria denominada como auditoria de seguimento. Esta
será realizada e definida a partir dos resultados obtidos nas anteriores,
principalmente com relação ao número e ao tipo de não conformidades
encontradas durante a avaliação.

A auditoria consiste em uma avaliação sistemática e de maneira


geral deve contemplar: plano de auditoria, com cronograma; divulgação do
planejamento entre os funcionários da empresa; escolha dos auditores e
as respectivas responsabilidades de cada um; quais áreas e quais recursos
humanos necessários para a auditoria, como normas, procedimentos e
funções que serão auditados; estudos preliminares de revisão e preparação
de documentos e materiais, como listas de verificação que serão utilizadas
nas auditorias.
36 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

A comunicação a todos os envolvidos e a programação das etapas


da auditoria da organização são itens fundamentais, pois eles evitam
que boatos pela empresa se espalhem colocando a prova o trabalho
executado por cada colaborador. E assim, tem-se transparência e clareza
quanto aos objetivos da avaliação.

Para a execução da avaliação são utilizados, geralmente, checlists ou


listas de verificações. Os checklists servem como orientação para o auditor e
não como restrição, ou seja, o auditor não precisa necessariamente verificar
somente os itens que constam na lista. Os principais objetivos dessas listas
são uniformizar a atuação das pessoas que irão aplica-las; evidenciar itens
importantes que não podem ser omitidos; reduzir o tempo de aplicação,
pois a lista serve como um guia para o processo; e registrar e documentar
as observações e verificações encontradas ao longo da avaliação.

A auditoria é considerada um processo complexo e pode ser


dividido em três etapas de pré-auditoria, auditoria e pós-auditoria. A pré-
auditoria consiste no planejamento da auditoria. A auditoria é o processo
da verificação in loco. Por fim, há a etapa pós-auditoria que consiste na
elaboração das ações futuras para a organização.
Figura 7: Etapas de um processo de auditoria

Escolha da equipe de auditores;


Responsabilidades dos auditores;
Pré- Agenda e cronograma da auditoria;
auditoria Preparação para a auditoria.

Reunião de abertura;
Visita de reconhecimento;
Auditoria Verificação do sistema em uso
(execução da auditoria in loco);

Relatório final;
Pós- Planejamento e implementação das atividades
auditoria recomendadas.

Fonte: a autora (2020).


Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 37

Na Figura em questão foram apresentados os processos de uma


auditoria. A pré-auditoria consiste em todas as atividades que devem ser
realizadas antes de executar a auditoria propriamente dita. Para ser possível
realizar o planejamento deve-se coletar todas as informações necessárias
da organização, escolher a equipe que irá atuar e a responsabilidade de
cada auditor, realizar um cronograma e todas os equipamentos e demais
itens que serão necessárias para a auditoria.

No processo de auditoria será inicialmente realizada a reunião de


abertura com todas as partes envolvidas. Na sequência deve-se realizar
uma visita para reconhecimento das instalações da empresa. A auditoria
do sistema em uso poderá compreender entrevistas com os gerentes,
engenheiros e técnicos de segurança do trabalho e médicos do trabalho e
demais colaboradores, verificação dos registros, como documentos, listas
e atas e inspeções. Por fim, deve-se realizar uma reunião de encerramento.

Após a realização da auditoria tem-se a etapa da pós-auditoria. O


processo consiste em elaborar um relatório final com todas as informações
e avaliações realizadas. No relatório além dos dados da avaliação, como
área e setores avaliados, número de entrevistados, método aplicado
deverá compreender os índices avaliados e as respostas, os pontos
críticos definidos e um plano de ação de melhorias. Por fim, deve-se
planejar e executar as atividades propostas de melhoria na organização.

SAIBA MAIS
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso
à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Tese de
Doutorado em Engenharia de Produção: “método de ava-
liação de sistemas de gestão de segurança e saúde no tra-
balho (MASST) com enfoque na engenharia de resiliência”
(COSTELLA, 2008), acessível pelo link https://bit.ly/2O3w-
8Cx (acesso em 23/02/2020).
38 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

RESUMINDO
As auditorias são elementos fundamentais nos sistemas de
gestão de segurança e saúde do trabalho. Elas podem ser
definidas como avaliações independentes com o objetivo
principal de verificar a conformidade em uma área/setor
em uma organização conforme alguns requisitos, seja nor-
mativo, objetivos e políticas da empresa e sistemas de SST
da organização.

A auditoria deve ser conduzida por um especialista, de preferência


externo a empresa ou ao setor em processo de avaliação, que apresente
as competências adequada para a atividade. Um processo de auditoria
apresenta três etapas definidas, pré-auditoria, auditoria e pós-auditoria.

A etapa de pré-auditoria consiste no planejamento. Serão realizadas


atividades tais como as de coleta e preparo das informações, documento e
listas necessárias, formação da equipe que irá atuar e definição de escopo
e objetivos. A auditoria, então, consiste no processo in loco da avaliação
com entrevistas, verificações e coleta de informações e documentos.

Por fim, deve ser realizado a etapa de pós-auditoria. Deverá ser


elaborado um relatório final com os resultados e observações bem como
as ações definidas para o futuro da organização para depois implantá-las.
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 39

Sistemas de Gestão ambiental


OBJETIVO
Esta competência tem por objetivo permitir que você co-
nheça a relação entre a gestão da segurança do trabalho
e gestão ambiental. O contexto atual das organizações
vem demandando cada vez mais profissionais holísticos e
multidisciplinares que sejam capazes de compreender o
contexto global das implicações resultantes dos processos
organizacionais.

Ao longo desta unidade um dos tópicos que vimos é como a


gestão da segurança do trabalho está interligada à gestão ambiental,
não é mesmo? Bom, partindo deste pressuposto, ao abordar condição de
trabalho e ambiente fica claro que estamos falando de saúde coletiva e
individual, ou seja, de cada colaborador e da sociedade como um todo.

Ademais, eventos adversos resultantes da falta de segurança de


trabalho podem transcender o contexto da organização e dar origem
a consequências negativas no campo socioambiental e econômico,
prejudicando, desta forma, a sustentabilidade da organização. Dessa
forma, torna-se cada vez mais necessário entender as normas que regem
tanto aspectos de segurança do trabalho como aquelas relacionadas ao
meio ambiente a fim de tornar a organização um sistema complexo e
integrado com uma visão mais ampla e abrangente.

Se preocupar com questões tanto ambientais quanto sociais vêm


ganhando destaque nos dias atuais e, neste cenário, o comportamento,
a ação, a auditoria e a inovação social corporativa são caminhos que
devem ser unificados nas organizações para que fins estratégicos sejam
verdadeiramente concretizados. Neste cenário, a gestão empresarial com
enfoque no aspecto socioambiental consiste em um processo integrado
e coordenado com o planejamento estratégico a fim de reduzir danos
de seus processos bem como aplicar meios que provoquem menos
impactos negativos. E, como consequência, garantir bem-estar de seus
colaboradores e da sociedade de forma geral.
40 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

Infelizmente para algumas organizações analisar aspectos sociais


e ambientais ainda é um empecilho e estes são tratados como fatores
externos negativos (ou até ameaças). Entretanto, mesmo organizações
com fins puramente lucrativos, podem pensar de forma a promover mais
igualdade entre os diferentes aspectos relacionados. Como consequência
desta visão em reduzir as desigualdades, as organizações passam a ter
clientes com maior poder aquisitivo, mais vendas e consequentemente
mais lucros.

Pode-se dividir a preocupação ambiental das organizações ao longo


dos anos em 4 estágios: reconhecimento, controle, planejamento e sistema
de conceitos (ou sustentabilidade), conforme apresentado a seguir:
Figura 8: Estágios da preocupação organizacional acerca do meio Ambiente

• Reconhecimento: pouco conhecimento relativo a impactos


ambientais e resíduos perigosos; existência limitada de requisitos e
Antes padrões ambientais.
de 70

• Controle (Remediação): controle da Poluição industrial (água, ar,


ruído); gestão reativa, fiilosofia de controle pontual (end-of-pipe).
Anos 70

• Planejamento (prevenção): Estudos de Impactos Ambientais;


gerenciamento de resíduos sólidos; controle da poluição do solo;
Anos 80 minimização de resíduos

• Sistema de conceitos (Sustentabilidade): atuação responsável;


gerenciamento integrado (meio ambiente + Segurança + Saúde);
Anos 90 Auditoria Ambiental; avaliação do Ciclo de Vida do Produto; Sistema
de Gerenciamento Ambiental

Fonte: a autora (2020).

O conceito de sustentabilidade é tido como aquela condição de


ambiente que visa atender as necessidades das atuais gerações sem
comprometer as futuras gerações. Segundo diversos estudiosos, para ser
possível sustentar o planeta até 2030 nas condições atuais de consumismo
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 41

e crescimento econômico seriam necessários 2 planetas Terras e 3 ou 4


até 2050.

A partir dessa constatação é fundamental que seja criado um novo


modelo de desenvolvimento, o qual considera a questão ambiental sob
o ponto de vista da intervenção humana e da extração desenfreada de
recursos naturais. Dessa forma é necessário que aspectos ambientais
sejam considerados de forma integrada às organizações, tendo por
finalidade a compatibilidade econômica, social e ambiental.

O SGA é organizado pela norma técnica ISO 14000, redigida pela


organização não governamental intitulada International Standardization
Organization em 1996, cujo principal objetivo é a criação de um Sistema
de Gestão Ambiental. Um sistema de gestão ambiental pode ser
conceituado como um conjunto de processos e metodologias destinadas
a desenvolver e manter uma política ambiental organizacional atualizada.
Este conjunto passa por um período de adaptação junto a todos os
gestores e demais colaboradores.

O SGA é organizado pela norma técnica ISO 14000, redigida pela


organização não governamental intitulada International Standardization
Organization (ISO) em 1996, cujo principal objetivo é a criação de um
Sistema de Gestão Ambiental que o nível de detalhamento (com relação
a documentações, extensão e abrangência) e o quão complexo será o
SGA depende dos recursos destinados a ele dependem de fatores como
intuito do sistema, o tamanho da empresa e a caráter de suas ações,
produtos e serviços. Este pode ser, em particular, o caso das pequenas e
médias empresas

A série ISO 14000 foi criada em 1996 e atualizada em 2015,


apresentando a seguinte estrutura: objetivo, referências normativas,
termos e as definições, e os principais itens dessa estrutura, ou seja, os
requisitos do SGA. A norma define as condições para que um sistema
da gestão ambiental habilite uma empresa no que diz respeito ao
desenvolvimento e implantação de política e finalidades que considerem
requisitos legais e informações sobre aspectos ambientais significativos.

Dentre os princípios fundamentais que regem um SGA pode-se


citar auto responsabilidade; responsabilidade da Direção; e melhoria
42 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

Contínua. Dessa forma entende-se que a ideia central está no fato de que
as organizações precisam controlar as consequências ambientais de suas
atividades, produtos e serviços, reduzindo seus impactos ambientais.

Ademais, a gestão ambiental possui 3 pilares fundamentais: promover


cumprimento de requisitos, prevenir poluição e melhorar continuamente
o desempenho ambiental. Segundo a ISO 14001 desempenho ambiental
consiste em resultados quantificáveis da gestão organizacional acerca de
seus fatores ambientais.

Requisitos de implantação do SGA


A implantação de um SGA tem por finalidade otimizar a relação
entre atividade produtiva, preservação ambiental e sociedade. O processo
de implantação de um SGA pode parecer bastante difícil em um primeiro
momento principalmente em função da escassez de recursos. Entretanto,
quando bem empregados, a partir de um plano de ação simples e eficaz, é
possível concluir com sucesso esta implantação. As razões para que uma
empresa adote uma vertente estratégica para otimizar seu desempenho
ambiental são variadas e incluem:
Figura 9: Motivos para implantação de um SGA

Demonstrar conformida- Aumentar o envolvi- Melhorar a reputação da


de com requisitos legais mento da liderança e o empresa e a confiança
e regulamentares atuais comprometimento dos das partes interessadas
e futuros; funcionários; mediante comunicação
estratégica;

Alcançar os objetivos estra- Oferecer vantagem Incentivar a melhoria do


tégicos de negócios através competitiva e financeira desempenho ambiental
da incorporação de ques- aumentando a eficiência por parte de fornecedo-
tões ambientais na gestão e reduzindo custos; res, integrando-os aos
das empresas. sistemas de negócios da
empresa.

Fonte: a autora (2020).


Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 43

Neste contexto, identificar atividades que podem causar impactos


negativos ao ambiente é a primeira etapa deste processo. Além disso,
é fundamental que a organização durante este processo tenha alguns
princípios, como: comprometimento, planejamento, implementação,
medição e avaliação, análise crítica e melhoria contínua.

Da mesma forma como vimos em sistemas de gestão de saúde


e segurança do trabalho, os sistemas de gestão ambiental também são
baseados no ciclo PDCA de melhoria contínua. A ISO 14001:2004 define 4
estágios para um Sistema de Gestão ambiental, sendo eles: Planejamento,
implementação, verificação e análise crítica.
Figura 10: Estágios de implantação de um SGA

Fonte: ABNT NBR ISO 14001 (2004).]]


44 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

É importante que a organização estabeleça e documente o escopo


de seu SGA. Contudo, antes de iniciar o planejamento, é preciso que seja
definida a Política ambiental da organização. Ou seja, é preciso que a
organização estabeleça sua política ambiental, na qual serão identificados
aspectos como áreas propícias a provocar impactos ambientais e outras
informações relacionadas. De acordo com a referida norma cabe à alta
administração estabelecer a política ambiental e garantir que esta:

a) Seja apropriada à natureza, escala e impactos ambientais


de suas atividades, produtos e serviços,

b) inclua um comprometimento com a melhoria contínua e


com a prevenção de poluição,

c) inclua um comprometimento em atender aos requisitos


legais aplicáveis e outros requisitos subscritos pela orga-
nização que se relacionem a seus aspectos ambientais,

d) forneça uma estrutura para o estabelecimento e análise


dos objetivos e metas ambientais,

e) seja documentada, implementada e mantida,

f) seja comunicada a todos que trabalhem na organização ou


que atuem em seu nome, e

g) esteja disponível para o público (ABNT NBR ISO 14001,


2004, p. 4)

O escopo de uma política ambiental consiste em identificar a


natureza, escala e os impactos ambientais de suas atividades e definir
seu compromisso com a melhoria contínua e definição dos objetivos a
serem seguidos. Esta etapa de definição da Política ambiental é feita a
partir de observação e esta é a palavra-chave aqui. A observação é feita
de forma direta a partir de visitas à organização para coletar o máximo
possível de informações. A partir desta coleta de dados inicial, faz-se
um reconhecimento de não conformidades e/ou problemas ambientais.
Então, de posse destes dados, estes são confrontados a partir de uma
avaliação preliminar para definir o escopo de trabalho e as áreas críticas a
serem englobadas no SGA.
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 45

Planejamento (Análise inicial)


A etapa de planejamento é de fundamental importância pois é a
partir desta que são definidos os aspectos das demais etapas. Caso
a empresa ainda não possua nenhum tipo de sistema de gestão, deve
inicialmente definir sua posição atual em relação aos aspectos ambientais
a partir de uma análise inicial.

A princípio, considera o setor de atividade e o porte da organização


para que sejam estabelecidas estruturas e responsabilidades. Em
organizações de porte pequeno, não precisa que seja criado um setor
exclusivo para isto, o proprietário pode ser o responsável. Enquanto que
em médias e grandes, deve-se criar um setor (departamento) próprio
de gestão ambiental com colaboradores capacitados. O planejamento
compreende 3 elementos principais: aspectos ambientais, requisitos
legais e outros, objetivos, metas e programas.

Quadro 1: Elemento do planejamento e sua contextualização

Elemento Contextualização

Reconhecer os aspectos ambientais de suas atividades,


Aspectos
produtos e serviços e definir quais possuem ou possam
ambientais
ter impactos significativos sobre o meio ambiente;

Requisitos legais Reconhecer requisitos aplicáveis e definir como estes


e outros estão relacionados a seus aspectos ambientais

Objetivos, Metas Definir objetivos, metas e programas mensuráveis, definir


e programas responsabilidades e meios e prazos para alcança-los.

Fonte: a autora (2020).

É importante constatar que estas etapas são subsequentes, ou


seja, uma depende da outra para ser definida. Além disso, é necessário
que todas as documentações referentes as decisões tomadas sejam
guardadas e mantidas atualizadas.

Nesta fase é elaborado um dos principais (se não o principal)


documentos do SGA denominado como Manual. Este documento é
tido como um guia e deve conter todas as informações relacionadas ao
46 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

sistema estabelecido bem como especificar clara e objetivamente todas


as etapas envolvidas à gestão ambiental.

Outra ação executada no planejamento é estabelecimento do


cronograma orçamentário físico e financeiro do SGA, no qual consiste
em listar todas as medidas e valores necessários para atingir o que foi
previamente estabelecido.

Implementação e Operação (Implantação)


É importante constatar que estas etapas são subsequentes, ou
seja, uma depende da outra para ser definida. Além disso, é necessário
que todas as documentações referentes as decisões tomadas sejam
guardadas e mantidas atualizadas.

A etapa de implementação e operação é a que demanda mais


compromisso, colaboração e convencimento de todos os membros da
organização (dos mais variados níveis hierárquicos). Em suma, também é
de extrema importância que haja a participação do maior numero possível
de envolvidos.
Fases da etapa de implementação e operação

Disponibilizar recursos, Estabelecer, implentar e Estabelecer, implemen-


definir responsabilida- manter procedimentos tar e manter procedi-
des e autoridades para competência, treina- mentos para promover
mento e conscientização a comunicação entre
todos os envolvidos

Organizar a documentação Identificar e planejar


(política, objetivos e operações que estejam
Controlar documentos
metas, escopo e elementos associadas aos aspectos
do SGA, demais registros) ambientais significativos
identificados

Preparar e responder à
emergências

Fonte: adaptado de ABNT NBR ISO 14001 (2004).


Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 47

Além das fases supracitadas na Figura, é nesta etapa que serão


definidas as medidas para constante avaliação do SGA e sua correta
aplicação na organização.

Verificação
A etapa de verificação é composta pelas seguintes sub etapas:
monitoramento e medição; avaliação do atendimento a requisitos legais e
outros; identificação de não-conformidades, ação corretiva e preventiva;
controle de registros e auditoria interna.

O monitoramento e medição tem por foco os impactos significativos


da organização a fim de garantir que as metas estejam sendo atingidas.
A avaliação do atendimento a requisitos legais e outros busca avaliar de
forma periódica tais critérios.

Na sub etapa de identificação de não-conformidades, ação


corretiva e preventiva é necessário identificar e corrigi-las bem como
propor e executar ações para mitigar suas consequências. Além disso,
deve-se investigar as causas e avaliar a necessidade de prevenir as não-
conformidades constatadas.

O controle de registros é aplicado a todos os casos e deve-se


estabelecer mecanismos para armazenar, proteger, recuperar, reter e
descarta-los.

Por fim, a auditoria interna consiste em verificar o SGA, ou seja,


identificar se o mesmo está em conformidade com aquilo que foi
estabelecido previamente, se sua implantação foi adequada e está sendo
mantida bem como obter e organizar as informações como um todo.

Análise pela administração


É de responsabilidade da alta administração avaliar o SGA
implantado periodicamente a fim de garantir que este seja continuado,
que se mantenha adequado pertinente e eficaz. A avaliação deve ser
registrada e documentada e busca identificar possibilidades de melhorias
e demandas de atualizações e/ou modificações. É importante que as
documentações de entradas (resultados de auditorias, comunicação
48 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

entre todos os envolvidos, desempenho ambiental e cumprimento de


metas e objetivos, status de ações corretivas e preventivas, alterações
necessárias) e saídas (lista de decisões para mudanças em política
ambiental, objetivos, metas e programas) sejam registradas e mantidas
pela alta administração.

SAIBA MAIS
Quer se aprofundar e verificar um estudo de caso sobre
a integração entre os diferentes tipos de gestão em uma
organização? Indico o acesso ao artigo “Da Gestão ao Sis-
tema: Estudo de caso na Universidade Federal da Frontei-
ra Sul – Campus Chapecó” (GHIZZI; SILVA, 2019), acessível
pelo link https://bit.ly/3gs5CPn (Acesso em 28/02/2020).

RESUMINDO
Nos últimos anos, aliado à preocupação de segurança do
trabalho, vem crescendo as demandas por soluções para os
impactos ocasionados ao ambiente pelos processos produ-
tivos e pelas organizações no geral. Em decorrência disso,
de forma gradual as empresas vêm buscando se adaptar e
tentando desenvolver sua sustentabilidade a partir de boas
práticas em todas as fases (gerencial, operacional e tática).

Neste cenário, um sistema de gestão ambiental é uma ferramenta


que visa auxiliar as organizações na identificação, gerenciamento,
monitoramento e controle de aspectos ambientais de maneira holística.
Foi instituído pela ISO 14001 e adapta-se a qualquer tipo e porte
organizacional, sejam elas governamentais ou não.

Para sua implantação, é exigido das organizações que todos


os aspectos ambientais sejam considerados e estes envolvem desde
poluição do ar, consumo e poluição de água, gestão de resíduos dentre
outros impactos possíveis.

O sucesso de um SGA depende do comprometimento da


organização e de seus colaboradores bem como de quão eficiente é a
integração e engajamento dos demais setores e a condução de cada
etapa. Em geral o processo é estruturado em 4 fases: planejamento,
implementação, verificação e análise pela administração.
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 49

BIBLIOGRAFIA
ADISSI, P.J.; PINHEIRO, F.A.; CARDOSO, R.S. Gestão ambiental de unidades
produtivas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

BARBOSA FILHO, A. N. Segurança do trabalho & gestão ambiental. 4 ed.


São Paulo: Atlas, 2011.

CAMARGO, W. Gestão da segurança do trabalho. Curitiba: IFPR, 2011.

LINS, L. S. Introdução à gestão ambiental empresarial: abordando


economia, direito, contabilidade e auditoria. São Paulo: Atlas, 2015.

MATTOS, U. A. O.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2011.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Sistema de Gestão


da Segurança e Saúde no Trabalho: Um instrumento para uma melhoria
contínua. OIT, 2011.

SILVA, E. Z.; PARDO, P.; COSTA, T.R. Sustentabilidade e responsabilidade


social. Maringá: UniCesumar, 2016.
50 Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

Livro Didático Digital

Ana Carla F. Gasques

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