Você está na página 1de 49

Direito Ambiental

Degradação Ambiental: Responsabilidade


Civil e Criminal
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
NATHALIA ELLEN SILVA BEZERRA
AUTORIA
Nathalia Ellen Silva Bezerra
Sou formada em Direito, com uma experiência técnico-profissional
na área de Direito do Trabalho e Previdenciário. Além disso, atuo como
conciliadora e advogada, tendo em vista a colocação em prática e a
valorização dos meios alternativos de solução de conflitos. Ao longo da
minha vida acadêmica, sempre demonstrei um grande interesse pela
escrita, dessa forma espero que, por meio desse material e da experiência
vivenciada, você consiga adquirir e ampliar os seus conhecimentos para
que possa exercer uma vida profissional plena. Por isso fui convidada pela
Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou
muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho.
Conte conosco!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Tipos de Poluição......................................................................................... 12

Aspectos Gerais sobre a Poluição....................................................................................... 12

Os Principais Tipos de Poluição............................................................................................ 16

Poluição da Água.......................................................................................................... 17

Poluição do Ar................................................................................................................. 17

Poluição Sonora............................................................................................................. 18

Poluição Visual................................................................................................................ 19

Poluição do Solo............................................................................................................ 19

Poluição Atômica.......................................................................................................... 19

Impactos Ambientais e Crises no Meio Ambiente.......................... 21

Aspectos Gerais Acerca dos Impactos Ambientais................................................ 21

Conceito e Tipos de Impactos Ambientais................................................23

Crise do Meio Ambiente..............................................................................................................26

Crimes e Infrações Ambientais...............................................................29

Crimes Ambientais: Definição, Características e Legislação............................29

Tipos de Crimes Ambientais....................................................................................................34

Crimes Contra a Fauna..............................................................................................34

Crimes Contra a Flora................................................................................................34

Poluição e Outros Crimes Ambientais...........................................................35

Crimes Contra o Ordenamento Urbano e Patrimônio Cultural.. 36

Crimes Contra a Administração Ambiental............................................... 36


Infrações Ambientais.................................................................................................................... 36

Responsabilidade Civil Ambiental........................................................38

Aspectos Gerais da Responsabilidade civil................................................................. 38

Responsabilidade Civil Objetiva e Subjetiva............................................................... 40

Responsabilidade Civil no Âmbito do Direito Ambiental..................................... 41


Direito Ambiental 9

03
UNIDADE
10 Direito Ambiental

INTRODUÇÃO
Você sabia que a área relativa ao Direito Ambiental está em constante
avanço, sendo uma das pautas que gera maiores preocupações no
âmbito mundial na atualidade? Diante disso, diversas leis são criadas no
âmbito nacional e internacional com o intuito de assegurar e promover o
bem-estar e a segurança dos recursos naturais, para que eles continuem
possibilitando uma vida com índice de qualidade satisfatório, não só
para as gerações atuais, como também para as futuras. Com base nisso,
durante a presente unidade estudaremos quais são os principais impactos
e crimes que podem ser gerados e que existem no mundo, tendo como
foco principal o Brasil. Além disso, também passaremos a entender que
os danos ambientais são passíveis de punição de acordo com as normas
relativas à responsabilidade ambiental, que tem o intuito de tornar mais
severa e obrigatória a proteção, a preservação e a restauração ambiental.
Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste
universo!
Direito Ambiental 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3 – Degradação ambiental:
responsabilidade civil e criminal. Nosso objetivo é auxiliar você no
desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término
desta etapa de estudos:

1. Analisar quais são os tipos de poluição.

2. Averiguar os principais impactos ambientais e crises no meio


ambiente.

3. Investigar os crimes e infrações ambientais.

4. Identificar os impactos relativos à responsabilidade ambiental no


ordenamento jurídico brasileiro.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
12 Direito Ambiental

Tipos de Poluição

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de analisar


cada um dos tipos de poluição, conseguindo ainda
visualizar cada uma dessas tipologias na prática e entender
de forma crítica os impactos que eles podem causar ao
meio ambiente, e consequentemente, à saúde humana.
Isso será fundamental para o exercício de sua profissão.
E então? Motivado para desenvolver essa competência?
Então vamos lá. Avante!.

Aspectos Gerais sobre a Poluição


Querido aluno, até aqui e com base no seu conhecimento de
mundo, podemos entender a importância que o meio ambiente exerce
para a vida humana, assim como para os demais tipos e espécies de vida.
Assim, além de precisarmos dele para sobreviver, nós o integramos.

Apesar das diversas leis que já estudamos até o momento serem


responsáveis pela proteção do meio ambiente, estabelecendo formas
de garantir a sua preservação e a sua proteção, ainda são vistos e
promovidos, diariamente, inúmeros danos ao meio ambiente, alguns,
inclusive, irreversíveis.

Nesse sentido, durante este capítulo vamos direcionar os nossos


esforços não para o entendimento daquilo que deve proteger o meio
ambiente, como viemos fazendo até o presente momento, mas para
alguns dos principais danos promovidos ao meio ambiente, para que
possamos entender os prejuízos gerados, bem como formas de dirimir
tais danos e prejuízos, já que alguns deles podem ser evitados de maneira
simples. Quanto aos mais complexos, compreenderemos a importância
do desenvolvimento de políticas e ações responsáveis por impor limites
a essas ações nocivas.
Direito Ambiental 13

Mais uma vez, é importante esclarecer que proteger, preservar e


defender o meio ambiente não significa frear a economia e/ou impedir
o desenvolvimento dos países, mas sim uma nova forma de pensar e
buscar essas finalidades sob um olhar ambientalista. Afinal, se destruirmos
o meio ambiente, não sobrará mundo para que estejamos preocupados
com desenvolvimento econômico!

Atualmente, a sociedade procura aliar métodos técnicos, científicos


e tecnológicos na busca de promover a preservação ao meio ambiente,
diminuindo os impactos e a produção da poluição em suas variadas
tipologias, o esgotamento de recursos naturais e os desastres ecológicos.

Assim, antes de adentrarmos em uma análise mais detalhada


acerca da poluição, primeiro vamos refletir um pouco. Imagine como seria
o mundo sem os homens, ou melhor, sem os Homo sapiens. Responda
às perguntas acerca desse mundo utópico: você consegue visualizar
algum prédio? Escutar o barulho do motor de algum carro? Você sentiria
dificuldades para respirar? Passaria muito tempo em engarrafamentos?
Veria notícias na televisão acerca do desmatamento?

Não precisamos pensar muito antes de responder a essas


perguntas, afinal o mundo sem o homem seria totalmente diferente. Claro
que o Homo sapiens não foi responsável apenas por promover danos,
já que os avanços propostos por nós também facilitam a nossa vida em
proporções incalculáveis. Contudo somos uma raça egoísta e imediatista,
por isso demoramos anos para demonstrar preocupação com o meio
ambiente e, consequentemente, com gerações futuras e outras espécies,
sejam essas animais ou vegetais. Ainda assim, mesmo que atualmente
nós tenhamos várias preocupações ambientais, os danos não foram
extintos, ainda existem, uns em proporção maior, outros em proporção
menor, mas fazem-se presentes.

O ser humano é responsável por agravar diariamente os prejuízos


ao meio ambiente, com rios, mares e lagos poluídos, florestas, em sua
maioria, desmatadas, sendo esses impactos apenas alguns dos muitos
promovidos pelos seres humanos. Torna-se necessário, ainda, destacar a
agilidade com que impactos em escala mundial aconteceram.
14 Direito Ambiental

Um dos danos ambientais promovidos pelo mundo todo em grande


escala é a poluição, responsável por atingir o meio ambiente. Assim,
para que possamos entender o que é esse dano, primeiro precisamos
relembrar que, em conformidade com a Política Nacional de Meio
Ambiente, expressa pela Lei nº 6.938/1981, o meio ambiente é “o conjunto
de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”
(BRASIL, 1981).

Nesse sentido, tudo aquilo que for produzido por microrganismos


ou for produzido pelo homem e que afete a natureza, por ultrapassar a
sua capacidade de absorção, gerando modificações nas condições físicas
e afetando as diversas espécies existentes nesses espaços naturais, será
considerado como poluição. Desta feita, a Política Nacional do Meio
Ambiente, em seu artigo 3º, III, define poluição como sendo
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental
resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da


população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e


econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio


ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os


padrões ambientais estabelecidos. (BRASIL, 1981)

A partir desse entendimento, a poluição é produzida pelo homem


e está em frequente avanço desde o período em que movimentos como
a industrialização, a urbanização e a globalização ganharam cada vez
mais força, levando em consideração que, no início desses processos,
não havia uma preocupação ambiental e, muito menos, planejamentos
e políticas voltadas para o crescimento sustentável. Assim, o artigo 3º
da Política Nacional do Meio Ambiente, agora em seu inciso IV, define
poluidor como sendo “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental” (BRASIL, 1981).
Direito Ambiental 15

Um dos grandes problemas relacionados à poluição é que, além de


ela em si ser considerada um dano ambiental, ainda é responsável pela
promoção e/ou pela intensificação de outros problemas. Dessa maneira,
a poluição pode ser geradora de alterações climáticas, pode promover a
escassez da água, a desertificação, a perda da biodiversidade, o aumento
do lixo, danos à qualidade do ar, pode aumentar os impactos do efeito
estufa, promover a exaustão dos recursos naturais, entre tantos outros.
Além disso, a maior parte dos problemas promovidos pela poluição é
responsável por afetar a saúde humana seja de forma direta ou indireta.

Dessa maneira, a poluição está diretamente ligada ao estilo de


vida que os seres humanos levam. Nas épocas em que a indústria está
com um maior índice de produção, crescem os impactos ambientais; nos
momentos em que as cidades estão mais cheias em razão de eventos
turísticos ou de qualquer natureza, também conseguimos visualizar
impactos como o aumento de lixo nas ruas e uma quantidade maior de
emissão de gases em virtude do aumento de veículos.

Por outro lado, quando as pessoas ficam em casa e as indústrias


reduzem a sua produção, percebem-se efeitos positivos e a diminuição,
quase que imediata, de efeitos gerados pela poluição torna-se visível. Um
exemplo recente e atual é o acontecido por conta do isolamento social
consequente do COVID-19.

SAIBA MAIS:
Assim, para entender melhor acerca da relação entre a
redução da poluição e o isolamento social resultante da
pandemia provocada pelo COVID-19, faça a leitura das
seguintes notícias: “Poluição do ar em São Paulo diminuiu
50% na primeira semana de quarentena”, neste link, e
“Estudo de Harvard aponta relação entre a poluição do ar e
taxa de mortalidade da COVID-19”, neste link.

Aluno, como vimos, a poluição não é responsável por atingir apenas


um ponto específico do meio ambiente, sem causar danos aos demais,
pois pode promover impactos à natureza de diversas maneiras. Diante
disso, no tópico a seguir passaremos a compreender em detalhes os
principais tipos de poluição.
16 Direito Ambiental

Os Principais Tipos de Poluição


Antes que possamos ampliar os nossos conhecimentos sobre
os tipos de poluição, pense no seu cotidiano e tente visualizar se no
ambiente em que você está inserido existe poluição. Se a resposta para
essa pergunta for “sim”, tente classificar as poluições do seu convívio e,
ao longo dos tópicos seguintes, faça um comparativo entre o que você
respondeu inicialmente e aquilo que responderá ao término do presente
capítulo.

A classificação da poluição em tipos é feita com o intuito de


promover uma maior didática sobre o assunto, assim como para facilitar
o entendimento dos danos que podem ser causados e dos principais
agentes causadores, tornando mais simples a tarefa de elaborar políticas,
ações e métodos que visem reduzir os malefícios promovidos pela
poluição nos diversos setores presentes na vida social. Observe a Figura 1.
Figura 1 – Principais tipos de poluição

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


Direito Ambiental 17

Poluição da Água
O desempenho de várias tarefas cotidianas pode gerar danos e
prejuízos para a água, que podem ser visualizados no meio rural, porém
são vistos com uma frequência maior nas regiões urbanas. A poluição
da água pode ser promovida pelos esgotos domésticos, lixo, rejeitos
industriais, irrigação inadequada, acidentes ecológicos, entre outros.

O planeta Terra é, em grande parte, composto por água, sendo que


esse recurso faz-se presente no mar, nos rios, nos lagos e nos oceanos.
Dessa maneira, a poluição causará impactos diversos a depender do
aquífero que tenha sido atingido, pois, em razão de suas naturezas e
peculiaridades, cada um pode se manifestar de forma distinta.

Entre os maiores desastres acontecidos no Brasil, responsáveis por


danificar e poluir grandes porções de água, está o desastre de Mariana,
onde a barragem conhecida como “barragem do Fundão”, pertencente
à empresa Samarco, liberou mais de 40 milhões de metros cúbicos
de resíduos contaminados, tendo promovido o desaparecimento de
localidades como Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, segundo notícia
veiculada pela página online do Estado de Minas. A lama contida na
barragem foi responsável pela morte de 19 pessoas e por gerar impactos
a 39 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo, tendo percorrido
mais de 600 km pelo rio Doce e os seus afluentes até chegar ao Oceano
Atlântico. Durante todo o caminho, uma quantidade inestimável de fauna
e flora foi prejudicada, danificada e devastada.

Poluição do Ar
A poluição promovida ao ar também é conhecida como poluição
atmosférica, e ocorre por meio de gases tóxicos e partículas sólidas
presentes no ar, em razão das produções industriais, do uso de veículos,
de usinas térmicas, entre outros que também afetam a qualidade do ar.

Esse tipo de poluição é responsável por promover diversos tipos


de danos à saúde humana, já que podem gerar problemas respiratórios,
asma, alergias, lesões degenerativas e até mesmo câncer nos principais
órgãos do corpo humano, como, por exemplo, câncer pulmonar. Desta
18 Direito Ambiental

feita, quanto maior for a cidade em que as pessoas estiverem inseridas,


maiores tendem a ser os danos promovidos à saúde dos habitantes.
Além disso, as metrópoles são envoltas em redomas atmosféricas que
aprisionam o ar quente e dificultam a dispersão dos gases poluentes,
aumentando ainda mais os prejuízos ao ar e à saúde humana.

SAIBA MAIS:

O índice de poluição do ar é tão intenso em algumas


localidades do mundo, que esse fator acaba por gerar
oportunidades econômicas. Exemplo disso foi a criação de
um bar que vende doses de oxigênio na Índia. Para entender
melhor essa ideia, realize a leitura da notícia intitulada “O
bar que vende doses de oxigênio em Nova Déli, cidade
tomada pela poluição”, neste link.

Poluição Sonora
A poluição sonora pode ser compreendida como as alterações
promovidas nas propriedades físicas do meio ambiente e que são
resultantes das emissões de som, sejam essas em níveis regulados ou
não pela legislação vigente, pois o que deve ser levado em conta é a
existência e o grau dos danos que podem ser promovidos, de forma direta
ou indireta, à saúde do ser humano.

A poluição sonora também é responsável por danificar a saúde


humana, podendo resultar em surdez temporária, permanente, total ou
parcial, dores de cabeça, tontura, estresse, ansiedade, fadiga, redução
de produtividade, instabilidade emocional, irritação, aumento da pressão
sanguínea, elevação do ritmo cardíaco, aumento na produção de
adrenalina, e até mesmo distúrbios do sono, entre tantos outros danos.
Direito Ambiental 19

Poluição Visual
Por sua vez, a poluição visual é a responsável por promover danos
e incômodos por meio de impactos visuais, que podem ser causados por
pichações, excesso de luminosidade e telões, lixo, letreiros, entre outros.
Assim, como os demais tipos de poluição apresentados até o momento, a
poluição visual também é capaz de produzir malefícios à saúde humana,
promovendo, por exemplo, o estresse, a fadiga e a ansiedade. Além disso,
também afeta a estética e as condições sanitárias dos locais em que se
fazem presentes.

Poluição do Solo
Assim como o ar e água podem ser atingidos pela poluição, o solo
também pode ser poluído, promovendo uma intensificação ou o surgimento
de processos como a erosão e a desertificação. Na maioria dos casos,
a poluição do solo ocorre por meio do uso de componentes químicos,
práticas inadequadas de conservação, devastação e desmatamento de
florestas, queimadas, descarte inadequado de lixo, entre outros fatores.

Poluição Atômica
A poluição atômica é aquela promovida pela utilização de elementos
radioativos e resultantes da exploração de energia nuclear. Os danos
promovidos por esse tipo de poluição são catastróficos, tanto ao meio
ambiente, como à saúde humana, sendo vistos durante várias gerações,
já que podem promover deformações e alterações genéticas.

Um dos grandes problemas existentes quanto a esse tipo de


poluição, em âmbito mundial, faz referência às formas adequadas de
descarte dos lixos atômicos produzidos pelas usinas nucleares, já que
diversas dificuldades apresentam-se quanto ao armazenamento e
tratamento desses materiais.
20 Direito Ambiental

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que diversos danos ambientais podem ser gerados com
base nas ações cotidianas dos indivíduos. Entre os principais
danos e prejuízos resultantes da atividade humana, pode ser
citada a poluição, que, além de gerar prejuízos ao ambiente
por si só, ainda é capaz de intensificar outros, promovendo
modificações climáticas e alterações na biodiversidade.
Além disso, também passamos a compreender que a
poluição, em razão de sua amplitude, divide-se em tipos,
sendo os mais importantes a poluição do ar, a poluição
da água, a poluição do solo, a poluição sonora, a poluição
visual e a poluição atômica.
Direito Ambiental 21

Impactos Ambientais e Crises no Meio


Ambiente

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


quais são os principais impactos causados ao meio
ambiente, dando ênfase ainda ao entendimento relativo às
crises do meio ambiente e as suas principais consequências
para a qualidade da vida humana. Isso será fundamental
para o exercício de sua profissão e para a sua formação
como cidadão, tendo em vista que o meio ambiente
também faz parte dos seus direitos. E então? Motivado para
desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante!

Aspectos Gerais Acerca dos Impactos


Ambientais
É da natureza humana ser imprevisível e mutável. Práticas hoje
consideradas como corriqueiras e normais, há trinta, vinte, dez anos
não eram visualizadas dessa maneira. Nesse mesmo sentido, podemos
analisar as alterações presentes no modo de vida dos seres humanos.
Em um passado não tão distante, a vida, predominantemente, ocorria nos
espaços rurais, contudo, atualmente, ainda que o campo exerça um papel
fundamental para o bem-estar humano no que se refere à agricultura e a
outras atividades, o desenvolvimento e a maior parte populacional não se
encontram nesses ambientes.

O meio urbano é o local em que as principais mudanças e evoluções


são vistas, pois é o centro do desenvolvimento econômico, político e
social. Desta feita, muitos passos foram dados em caminho ao progresso
desde que o processo de urbanização ocorreu, porém, assim como tudo
apresenta um lado bom e outro ruim, no cenário urbano não poderia ser
diferente. A criação e a constante ampliação das cidades são responsáveis
por intensificar os impactos ambientais.
22 Direito Ambiental

Nas cidades, principalmente nas metrópoles, aspectos culturais,


costumeiros e habituais acabam trazendo impactos e interferências ao
meio ambiente, já que, infelizmente, muitas das práticas e ensinamentos
presentes no Brasil vão de encontro a ações que protejam o meio
ambiente e. Sendo assim, por mais que já existam leis e projetos que
visem promover a reeducação ambiental da população, os problemas
relativos a esse assunto são complexos e até de difícil resolução, já que
hábitos e costumes não são aspectos fáceis de serem modificados e
práticas enraizadas na nossa cultura levam anos para que sejam alteradas.
Para que tais mudanças e avanços sejam feitos, é necessário que os
primeiros passam sejam dados, afinal não há como começar pelo fim,
ou simplesmente mudar tais fatores de forma repentina. Com pequenos
avanços, somos capazes de promover grandes mudanças para o cenário
ambiental.

Uma conscientização voltada para aspectos como, por exemplo,


a realização da coleta de lixo pela população e a sua efetivação pelos
governantes, o consumo moderado da água e até mesmo a simples
prática de não jogar papel no chão, já são capazes de trazer mudanças
significativas desde que a população em geral esteja disposta a adotar
novos hábitos. Por outro lado, outros fenômenos responsáveis por
promover impactos ambientais de alto índice são mais difíceis de serem
reparados, tendo em vista que o uso da água e a produção de resíduos
gerado pela indústria de consumo de bens matérias promovem impactos
significativos ao meio ambiente.

Além do processo relativo à urbanização ter sido uma das causas


para o aumento dos problemas ambientais, o crescimento populacional
verificado, não só no Brasil, mas no mundo como um todo, tem
demonstrado ser também um dos fatores relacionados ao aumento
da promoção dos impactos negativo, principalmente nos cenários que
envolvem os países em desenvolvimento e as regiões marcadas por altos
índices de pobreza, pois esses fatores favorecem as aglomerações em
periferias, tornando o número de favelas ainda maiores. Além disso, como
nesses espaços há pouca assistência, os danos promovidos ao meio
ambiente acabam sendo ainda maiores, pois construções são feitas em
Direito Ambiental 23

locais irregulares e sem a devida autorização, sendo esse apenas um dos


fenômenos gerados pela marginalização presente nos centros urbanos.

Outro fato facilmente identificável é que, independentemente da


classe social a que o indivíduo pertença, há um desejo de melhorar,
de ascender. Nesse sentido, o que todos parecem ter em comum é a
vontade de ter seus direitos garantidos, englobando aqueles relativo à
vida saudável e a um ambiente saudável, responsáveis por fornecer uma
melhor qualidade de vida. Assim, aspectos como ar puro, água pura e
outros fatores considerados essenciais para uma vida digna, estável e de
qualidade elevada. Porém, esse não é o cenário observado na maior parte
das cidades, já que, como mencionado no capítulo anterior, existem bares
que, por conta da qualidade do ar, já comercializam oxigênio, como uma
forma de aliviar e fornecer uma respiração de maior qualidade para os
seus clientes nem que seja por poucos segundos.

Conceito e Tipos de Impactos Ambientais


Nesse sentido, para que possamos entender um pouco melhor
o que são os impactos ambientais, é preciso que entendamos a sua
definição. Diante disso, em conformidade com a resolução do Conama nº
001 de janeiro de 1986, o artigo 1º determina que
Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se
impacto ambiental qualquer alteração das propriedades
físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada
por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II - as atividades sociais e econômicas;

III - a biota;

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V - a qualidade dos recursos ambientais. (BRASIL, 1986)

Desta feita, todas as ações promovidas pelos homens são


responsáveis por gerar impactos ao meio ambiente. Contudo cabe a nós
analisarmos se todo o impacto ambiental é negativo. Assim, com base
nos conhecimentos que você já possui sobre a temática, reflita um pouco
antes de prosseguir.
24 Direito Ambiental

Se durante a sua reflexão você tiver chegado à conclusão de que


os impactos ambientais podem ser positivos e negativos a depender
dos resultados gerados por eles, então você está alinhado com os
ensinamentos apresentados até o momento. Mas, se você ficou confuso
e acabou chegando à conclusão de que os impactos só podem ser
negativos, não se preocupe, vamos entender melhor o assunto.

Mesmo que impactos positivos também possam ser gerados,


infelizmente a maior parte dos impactos ambientais são negativos, tendo
em vista que apresentam como resultados danos ao meio ambiente,
promovendo a sua degradação e poluição. Nesse sentido, como já
aprendemos, os impactos negativos estão relacionados ao aumento do
número de cidades, à ampliação das zonas urbanas, ao uso cada vez mais
maior de automóveis, à utilização indevida e inconsequente dos recursos
naturais, sem haver uma preocupação com a sua reposição, ao consumo
exagerado e inconsciente de bens e serviços e à produção de lixo sem
que haja uma preocupação com a sustentabilidade ou com a utilização de
materiais degradáveis.

Assim, o comportamento e as influências promovidas pelo âmbito


empresarial também são responsáveis por gerar os impactos negativos,
mas não podem, de maneira nenhuma, ser compreendidos como os
únicos responsáveis, tendo em vista que a sociedade, a população, ou
seja, você, meu querido aluno, com pequenas atitudes, também promove
impactos ambientais negativos em suas práticas diárias.
Tabela 1 – Consequências dos impactos ambientais

IMPACTOS AMBIENTAIS NEGATIVOS IMPACTOS AMBIENTAIS POSITIVOS

Extinção de espécies Campanhas de plantio de árvores


Poluição Coleta seletiva
Inundações Uso de sacolas biodegradáveis
Intensificação do efeito estufa Limpar praias
Mudanças climáticas Uso de energia solar
Diminuição da qualidade de vida Obras de revitalização
Erosões Criação de espaços verdes em centros
urbanos
Fonte: Elaborado pela autora (2020).
Direito Ambiental 25

A Tabela 1 apresenta alguns dos principais impactos que podem


ser gerados ao meio ambiente, dividindo-os em positivos e negativos.
Ainda que existam variados empecilhos para a execução de propostas
que promovam os impactos ambientais positivos, esses ainda acontecem
e cada vez mais atenção tem sido destinada a essas propostas. Desta
feita, os impactos ambientais positivos relacionam-se a técnicas, métodos
e programas destinados à preservação do meio ambiente, englobando
ainda ações que se refiram a sua manutenção, recuperação, defesa e/
ou proteção.

Além disso, os impactos ambientais também podem ser promovidos


como resultado da mineração, fontes de energia, da agricultura, pelo
consumo, pela geração de lixo e pela agropecuária.

Levando em consideração que o número de impactos negativos


gerados é muito maior do que a quantidade de impactos positivos, as
legislações presentes no território nacional estabelecem medidas que
visam equilibrar esse cenário, como apresentado na figura 2.
Figura 2 – Medidas resultantes de impactos ambientais negativos

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

As medidas denominadas como mitigadoras são empregadas em


conjunto com a execução da ação. Em outras palavras, tenta-se diminuir
os impactos ambientais negativos desde o momento de seu surgimento.
Podemos citar como exemplo uma obra da construção civil que, ainda
no momento de construção de determinado edifício, opta pela utilização
de materiais recicláveis, adotando um projeto consciente e com a menor
quantidade de danos ao meio ambiente possível.
26 Direito Ambiental

Já as medidas compensatórias são adotadas nos momentos em


que há a possibilidade de dirimir os impactos ambientais negativos ainda
quando se encontram em sua fonte causadora. O termo “compensatória”
está ligado ao verbo “compensar”. Dessa maneira, é preciso que seja
implementada uma outra medida com o intuito de remediar os danos
causados, por meio de ações benéficas ao meio ambiente, ou seja, essas
medidas serão utilizadas quando os danos já tiverem se concretizado
e houver a intenção de amenizá-los. Como exemplo, pode-se citar o
reflorestamento, que tem como intenção balancear os danos causados
pelo desmatamento.

Crise do Meio Ambiente


Na sua opinião, atualmente enfrentamos uma situação de crise?
Como você diria que ela acontece? Quais foram as causas que provocaram
o surgimento dessa crise? As condições ambientais estão piores ou do
mesmo jeito?

Para que possamos entender esse contexto, é primeiro primordial


que entendamos o conceito de crise. Dessa forma, conforme Wagner
da Luz, a palavra crise é utilizada em situações referentes a doenças, a
distúrbios funcionais e a momentos que envolvam mudanças bruscas e
repentinas na realidade em que estamos inseridos. O termo “crise” pode
ser utilizado para alertar estados críticos de saúde, bem como para
destacar momentos de dificuldade mundial, como, por exemplo, a crise
econômica de 1929.

Nesse sentido, a crise ambiental, em conformidade com Wagner da


Luz, pode ser compreendida da seguinte forma:
A crise ambiental, em sua dupla articulação com a
dimensão social, é resultado direto de um modelo de
desenvolvimento, de base capitalista, que se baseia
na ideia de crescimento infinito, que acaba gerando
concentração das riquezas e exclusão social. Além disso,
gera-se também riscos socioambientais de todos os tipos,
a fragilização das instituições democráticas e um padrão
ético individualista, competitivo e utilitarista. Este modelo
se estende por todo o globo e pouco importa a localidade
em questão, existe uma tendência a uma uniformização do
pensamento. (LUZ, 2018)
Direito Ambiental 27

As crises ambientais presentes em todo o mundo são reflexos


das atitudes humanas e da ausência de preocupação suficiente com
a diminuição das imprudências e das agressões provocadas ao meio
ambiente, sejam elas derivadas de atitudes diretas ou indiretas, assim
como causadas por pessoas físicas ou por pessoas jurídicas. Dessa
maneira, a crise ambiental é uma reação natural do meio ambiente às
ações e aos danos que vêm atingindo a natureza há tantos anos.

Nesse sentido, a crise ambiental não se faz presente apenas em


uma localidade, não é uma realidade restrita do Brasil, mas, sim, do mundo
como um conjunto. Dessa forma, todos sentem os efeitos promovidos
pelas ações humanas no meio ambiente.

SAIBA MAIS:

Para entender melhor o assunto, faça a leitura da notícia


“ONU Meio Ambiente: incêndios na Amazônia são alerta
para crises ambientais no mundo” por meio deste link.

É fato que a crise ambiental já está instaurada e também é fato


que muitos dos prejuízos gerados não podem ser restaurados ou
solucionados, afinal as espécies que entraram em extinção não podem
mais ser retomadas. Porém, mesmo que os danos sejam incalculáveis,
nem tudo está perdido, ainda há tempo para nos reerguermos em busca
de um ambiente equilibrado ecologicamente, ainda está em tempo de
estabelecermos lutas protetivas ao meio ambiente. Contudo as discussões
e as medidas a serem tomadas precisam ser feitas agora, não há mais
tempo para esperar, por isso precisamos sair de nossas zonas de conforto
e tomar as atitudes corretas a favor das causas ambientais.
28 Direito Ambiental

SAIBA MAIS:

Levando em consideração a crise ambiental instaurada no


mundo, as organizações e as entidades governamentais
pronunciam-se acerca dessa temática. Um desses
pronunciamentos pode ser conferido na notícia a seguir:
“ONU afirma que crise ambiental no planeta é grave, mas
tem solução”. Link:

Dessa forma, as questões ambientais fazem parte do cotidiano


humano, principalmente quando são levados em conta os contextos
urbanos e os problemas ambientais vistos todos os dias nas cidades, e
que afetam de forma mais severa aqueles que se encontram em situação
crítica e marginalizada.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que todos os atos promovidos pelo ser humano devem
ser enquadrados como impactos ambientais, contudo
esses podem manifestar-se de forma positiva ou de
maneira negativa, dependendo dos resultados que serão
obtidos e refletidos no cenário ambiental. Dessa maneira,
os impactos negativos materializam-se por meio da
urbanização e do aumento populacional, assim como pelas
ações decorrentes desse fenômeno. Ainda que seja mais
raro de se verem, os impactos positivos também podem
ser constatados. Por fim, analisamos os efeitos promovidos
pela crise ambiental que se instaura, não só no Brasil, mas
no mundo como um todo, sendo necessário que decisões
sejam tomadas com o intuito de evitar que ainda mais
danos ocorram.
Direito Ambiental 29

Crimes e Infrações Ambientais

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de analisar


quais são os principais crimes e infrações ambientais
presentes no ordenamento jurídico brasileiro, bem como
as consequências de tais crimes e infrações. Isso será
fundamental para o exercício de sua profissão. E então?
Motivado para desenvolver essa competência? Então
vamos lá. Avante!.

Crimes Ambientais: Definição,


Características e Legislação
Já aprendemos até aqui inúmeros motivos que justificam a
importância e a imprescindibilidade do meio ambiente para a vida
humana, assim como para a saúde e a manutenção do mundo como
um todo, afinal nós fazemos parte do planeta e dependemos dele para
sobreviver. Já o contrário, isto é, a dependência do planeta em relação
a nós, não pode ser dito, por isso, além de ser um direito de todos, a
proteção e a defesa ambiental são também dever de toda a população,
em conformidade com o expresso pelo texto constitucional brasileiro.

Assim como as outras áreas do direito, as legislações específicas


do Direito Ambiental são de suma importância para a regulação desse
campo, contudo nem sempre são obedecidas, assim como nem sempre
conseguem frear os impactos ambientais negativos que acarretam
danos para o meio ambiente. Diante disso, há a necessidade de que
se estabeleçam normas de teor punitivo, mas, além disso, legislações
incumbidas de estabelecer o que deve ser tipificado como crime e
infração perante o Direito Ambiental, sendo essa mais uma tentativa de
impedir que prejuízos sejam gerados ao meio ambiente por meio do
sistema punitivo, das multas e restrições de liberdade em casos mais
severos.
30 Direito Ambiental

Querido aluno, assim como outros conceitos, aquilo que pode ser
entendido como crime também passou por diversas modificações ao
longo do tempo, tendo em vista que a definição destinada a esse termo não
pode ser considerada imutável, estática ou única, independentemente do
contexto social. Sendo assim, o crime pode ser conceituado de diversas
maneiras, a depender da escola que se deseje seguir, bem como do ramo
jurídico do qual se esteja falando. Porém, de forma singela, crime pode
ser considerado como violações diferidas contra o direito.

Nesse sentido, levando em consideração a realidade ambiental,


o crime presente nesse âmbito jurídico pode ser compreendido como
qualquer dano ou prejuízo causado ao meio ambiente em geral, seja aquele
destinado a uma grande extensão espaço ambiental, seja destinado a
um elemento ou recurso específico, podendo englobar a flora, a fauna, a
biodiversidade e qualquer outro recurso advindo da natureza.

No direito brasileiro, todo crime deve ser punido e corresponde


a uma sanção determinada por instrumento legal. Desta feita, a Lei nº
9.605 de 12 de fevereiro de 1998 também é conhecida como Lei de
Crimes Ambientais, pois é a responsável por dispor acerca das sanções
penais e administrativas decorrentes de condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente, dando ainda outras providências acerca da temática em
questão.

A Lei de Crimes Ambientais foi a responsável por assegurar uma


maior efetividade à proteção ambiental, já que, antes da sua existência, já
se via a presença de alguns instrumentos legais, inclusive a Constituição
da República Federativa de 1988, que destinavam atenção às temáticas
ambientais, contudo faltava modos de punir aqueles que não a cumprissem,
pois as leis presentes até o momento eram amplas e de difícil aplicação,
não conseguindo abranger situações práticas responsáveis por violar o
meio ambiente. Observava-se que não adiantava apenas fornecer acesso
aos recursos naturais e mencionar na lei que todos merecem usufruir
de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, se não existissem
punições para aqueles que afrontavam e danificavam o meio ambiente.
Direito Ambiental 31

Além disso, antes dessa lei, não havia um consenso sobre os atos
que merecessem ou não ser punidos. Dessa forma, conforme Frederico
Pereira (2014), matar um animal silvestre era considerado crime inafiançável,
mesmo que fosse para consumo alimentício, na medida em que maltratar
animais e promover o desmatamento não eram tipificados da mesma
maneira, sendo considerados simples contravenções punidas com
multa. Assim, a legislação apresentava falta de equilíbrio, apresentando
punições severas demais para algumas situações e praticamente punição
nenhuma para outras consideradas tão ou até mesmo mais graves.

Porém, com a implementação da atual Lei de Crimes ambientais,


uma maior segurança jurídica passou a ser ofertada, assim como uma
proteção ambiental mais centrada e focada em promover efeitos reais.
Por isso houve uma uniformização penal, fazendo utilização de gradações
adequadas e infrações claras e bem definidas, tornando mais difícil o
acontecimento de dúvidas e, por conseguinte, a impunidade.

REFLITA:
Antes de avançar, é importante fazer uma breve crítica,
tendo em vista que esse assunto será melhor discutido
em unidade posterior. Apesar das legislações existentes
e dos avanços referentes aos crimes e às infrações
ambientais, verifica-se que, no território brasileiro, muitos
crimes e infrações ambientais ainda são cometidos, sendo
visualizadas situações em que a punição adequada não é
efetuada, mesmo em casos graves e de ampla extensão,
como os acontecidos nas cidades de Mariana e Brumadinho,
ambas localizadas no estado de Minas Gerais e vítimas do
rompimento de barragens de minério. Diante disso, muito
ainda precisa ser feito no nível jurídico para que as leis e
as punições sejam devidamente cumpridas, bem como no
setor relativo à educação ambiental destinada à população
como um todo para que essas temáticas passem a ter uma
maior aplicabilidade na prática, afinal de nada adianta que o
nosso país apresente leis bonitas e efetivas apenas no papel.
32 Direito Ambiental

Nesse sentido, algumas das leis ambientais foram flexibilizadas, na


medida em que outras foram enrijecidas. Assim, ainda em conformidade
com o apresentado por Frederico Pereira (2014), matar animais continuou
sendo crime, porém, nas hipóteses em que os animais foram mortos com
a finalidade de saciar a fome do agente ou de sua família, a tipificação não
será aplicada. Por sua vez, maus-tratos e desmatamento não autorizado
são crimes que podem ter como resultado a restrição da liberdade
daquele que os praticaram. Salienta-se, ainda, que, a partir da legislação
em estudo, as pessoas jurídicas também passaram a ser responsabilizadas
criminalmente pelos prejuízos e danos que gerarem ao meio ambiente.

É importante destacar ainda que não serão apenas consideradas


como crime aquelas condutas que tiverem como resultado a promoção
de danos ao meio ambiente, sendo enquadrados dessa maneira também
os atos que ignoram ou que vão de encontro ao estabelecido nas normas
ambientais, mesmo que não sejam gerados prejuízos ao meio ambiente.
Nesse sentido, o artigo 2º da Lei de Crimes Ambientais estabelece que
Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática
dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes
cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o
diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão
técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de
pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de
outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir
para evitá-la. (BRASIL, 1998)

Assim, como exemplo, pode-se apontar que as obras que forem


realizadas sem a concessão da licença ambiental, ainda que não gerem
prejuízo à natureza, serão configuradas como crime, pois a legislação
ambiental determina que, para que tais obras sejam realizadas, há
necessidade de permissão por meio de licença. Nesse caso, será aplicada
a punição por meio de multa, com detenção nos casos mais severos.

A Lei de Crimes Ambientais não pune as pessoas que praticaram


crimes menos graves e mais graves da mesma maneira, tendo em vista
que as punições são fixadas em conformidade com o grau da infração
cometida. Assim, a sanção poderá ir desde a privação de liberdade do
agente até uma multa, estando presentes entre os dois extremos ainda as
Direito Ambiental 33

possibilidades referentes a restrição de direitos, a serviços comunitários, a


interdição temporária de direitos, a suspensão de atividades, a prestação
de pecúnia e a recolhimento domiciliar.

É claro que nem todas as punições que podem ser aplicadas às


pessoas físicas poderão ser destinadas da mesma maneira às pessoas
jurídicas, contudo as empresas e empreendimentos responsáveis por
agredir o meio ambiente também serão punidos, podendo a punição
ocorrer por meio da aplicação de multas e restrições de direitos, como,
por exemplo, a suspensão total ou parcial das atividades, interdição das
atividades e proibição quanto ao estabelecimento de contratos e quanto
ao recebimento de subsídios fornecidos pelo Poder Público, entre outras.

Nesse sentido, o artigo 6º da Lei de Crimes Ambientais estabelece


aquilo que a autoridade competente deverá observar no momento de fixar
a pena, sendo esses critérios utilizados tanto para as pessoas jurídicas
quanto para as pessoas físicas.
Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a
autoridade competente observará:

I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da


infração e suas consequências para a saúde pública e para
o meio ambiente;

II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da


legislação de interesse ambiental;

III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.


(BRASIL, 1998)

O texto da Constituição da República Federativa de 1988, em


seu artigo 5º, LXXII, prevê que qualquer cidadão será parte legitima
para ingressar com ação popular que tenha como intenção anular
atos lesivos ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, responsável, entre outras coisas, por violar o meio ambiente.
Por sua vez, a ação civil pública é o instrumento jurídico adequado para
a proteção ambiental, sendo utilizado para solicitar a reparação dos
danos ocorridos ao meio ambiente, podendo ser proposta pelo Ministério
Público, Defensoria Pública, União, Estado, Município, empresas públicas,
fundações, sociedades de economia mista e associações com finalidade
de proteção ao meio ambiente, conforme expresso na Lei nº 7.347 de 1985.
34 Direito Ambiental

Tipos de Crimes Ambientais


Querido aluno, até o presente momento, já podemos compreender
a amplitude do meio ambiente, tendo em vista que, ainda na unidade I,
aprendemos quais são os seus tipos. Dessa maneira, é natural que os
crimes praticados contra o meio ambiente também apresentem suas
divisões, já que as áreas que compõem a natureza, mesmo que se
relacionem entre si, funcionam de maneira distinta, em razão de suas
características próprias e dos interesses que são capazes de gerar nos
seres humanos. Desta feita, a Lei nº 9605/1998, ou seja, a Lei de Crimes
Ambientais, apresenta em seu texto cinco tipos de crimes ambientais
distintos, sendo cada um desses abordado de forma breve nos subtópicos
a seguir.

Crimes Contra a Fauna


Os crimes contra a fauna estão previstos nos artigos 29 a 37,
sendo compreendidos como agressões destinadas aos animais, sejam
eles silvestres, nativos ou em rota migratória. Alguns exemplos de
crimes enquadrados nessa categoria são: venda ilegal, impedimento
da procriação, maus-tratos, transporte ilegal, manutenção em cativeiro,
entres outros.

Crimes Contra a Flora


Por sua vez, os crimes praticados contra a flora estão localizados
nos artigos 38 a 53, que enquadram nessa categoria qualquer tipo de
destruição ou dano causado à vegetação, dando uma ênfase maior aos
prejuízos gerados às áreas de preservação permanente ou às unidades
de conservação. Dessa maneira, alguns casos relativos a esses tipos de
crime estão associados, por exemplo, à provocação de incêndios em
mata ou floresta, venda, transporte e soltura de balões, a atos de dificultar
a regeneração vegetal, de destruir e desmatar sem a devida permissão e
sem finalidade, entre outras situações presentes nos mencionados artigos
da Lei de Crimes Ambientais.
Direito Ambiental 35

Poluição e Outros Crimes Ambientais


Querido aluno, durante o primeiro capítulo desta unidade, nós
pudemos compreender a poluição em detalhes, já que estudamos a sua
definição, características e tipologias principais. Nesse sentido, fica claro
compreender os motivos pelos quais a poluição é considerada como um
crime pela Lei de Crimes Ambientais, já que é um fenômeno resultante de
alterações promovidas pelas atividades humanas e que causa impactos
graves não só ao meio ambiente, mas também para a saúde humana e
para a biodiversidade em geral.

Quanto aos outros crimes ambientais, os artigos 55 e 56, caputs,


da Lei nº 9.605/1988, determinam que poderão ser enquadrados dessa
maneira os seguintes atos:
Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos
minerais sem a competente autorização, permissão,
concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar,


comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar,
ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica,
perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente,
em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
nos seus regulamentos:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (BRASIL,


1988)

Nesse sentido, a poluição e os outros crimes ambientais serão


abordados pelos artigos 54 a 61 da Lei de Crimes Ambientais.
36 Direito Ambiental

Crimes Contra o Ordenamento Urbano e Patrimônio


Cultural
Como já foi discutido anteriormente, o conceito dado ao meio
ambiente é amplo. Assim, verifica-se uma interação entre os elementos
presentes no meio ambiente natural, artificial e cultural. Isso faz com que
a violação visualizada nesse campo não se relacione apenas aos danos
promovidos aos aspectos naturais, levando em consideração, também,
os danos praticados em desfavor da ordem urbana e/ou cultural.

Crimes Contra a Administração Ambiental


Os crimes relacionados à administração ambiental estão presentes
nos artigos de 66 a 69 da Lei de Crimes Ambientais, sendo enquadrados
nessa categoria condutas que obstaculizam o exercício das funções
pertencentes ao Poder Público, seja nos casos em que essas são efetuadas
por particulares ou até mesmo por profissionais do Poder Público em si.

Infrações Ambientais
As infrações ambientais administrativas podem ser compreendidas
como as ações ou as omissões responsáveis por violar as regras jurídicas
que estão sendo utilizadas, promovidas, protegidas e recuperadas em
relação ao meio ambiente. Nesse sentido, a Lei de Crimes Ambientais
também apresenta em seu texto disposições acerca dessas infrações,
estando essas alocadas nos artigos 70 a 76 da mencionada legislação.

SAIBA MAIS:

Levando em consideração a amplitude e a importância


exercida pela Lei de Crimes Ambientais e para entender a
punição destinada a cada crime e infração, bem como as
regras mais específicas e detalhadas acerca dos incisos e
alíneas abrigadas por essa legislação, faça a leitura da Lei
nº 9.605/98, disponível neste link.
Direito Ambiental 37

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter
aprendido que, assim como em outras áreas do direito, o
descumprimento das normas presentes nas legislações
ambientais apresenta como resultado punições e sanções,
sendo essas aplicadas tanto às pessoas físicas quanto às
pessoas jurídicas, levando em consideração a natureza e as
características de cada um desses agentes. Dessa forma,
a Lei nº 9.605/1998 tem como responsabilidade dispor
acerca dos crimes e infrações ambientais, sendo por isso
denominadas como Lei de Crimes Ambientais. Em seguida,
abordamos os tipos de crimes presentes na mencionada
legislação, sendo essas relativas aos crimes da fauna,
flora, contra a administração, poluição e outros crimes
ambientais contra o ordenamento urbano e cultural. Por
fim, abordamos a temática relativa às infrações ambientais
administrativas ao apresentar seu conceito.
38 Direito Ambiental

Responsabilidade Civil Ambiental

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de


identificar quais são os impactos proporcionados pela
responsabilidade ambiental presente no ordenamento
jurídico brasileiro. Isso será fundamental para o exercício
de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver essa
competência? Então vamos lá. Avante!.

Aspectos Gerais da Responsabilidade civil


A responsabilidade civil apresenta como um dos seus focos
principais o comportamento humano, dando ênfase para a prática
de ações que resultem em danos e prejuízos para outro indivíduo ou
para a sociedade em conjunto. Nesse sentido, querido aluno, para que
possamos entender quais são os contornos relativos à responsabilidade
civil ambiental, é primeiro necessário que tenhamos entendimento
sobre a responsabilidade civil e os seus aspectos gerais, levando em
consideração fatores como a ação ou a omissão, os danos, o nexo de
causalidade e a presença ou a ausência de culpa.

Assim, a ideia referente à responsabilização civil está ligada aos


momentos em que determinadas pessoas devem responder pelos atos
praticados, sejam pessoas físicas ou jurídicas, sofrendo as consequências
dos danos e prejuízos que proporcionaram. Diante disso, o conhecido
civilista Flávio Tartuce (2013, p. 423) afirma que” a responsabilidade civil
surge em face do descumprimento obrigacional, pela desobediência
de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar determinada
pessoa de observar um preceito normativo que regula a vida”. Ainda nesse
sentido, Maria Helena Diniz (2006) conceitua a responsabilidade civil
como sendo a
Aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar
dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão
de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem
ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de
simples imposição legal. (DINIZ, 2006, p. 32)
Direito Ambiental 39

Por sua vez, a responsabilidade civil pode ser classificada como


contratual ou negocial, assim como extracontratual ou aquiliana. Desta feita,
a responsabilidade civil contratual, também conhecida como negocial,
decorre da ausência de cumprimento das obrigações que derivam de
contratos ou negócios jurídicos. Os critérios de responsabilização são
fixados no próprio texto contratual, tendo como base o estabelecimento
de cláusulas penais relativas, ainda, à indenização e/ou perdas e danos.
Por sua vez, a responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana possui
uma ligação mais direta com os aspectos legais, já que possui como
base os fundamentos expostos pelo CC/2020. Assim, esse documento
apresenta como base os atos ilícitos e o abuso de direito, levando em
consideração as definições apresentadas pelos artigos 186 e 187 do
Código Civil de 2002, respectivamente, como pode ser visto a seguir
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito


que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou pelos bons costumes. (BRASIL, 2002)

Salienta-se, ainda, que a responsabilidade civil apresenta três


requisitos principais, sendo esses a antijuridicidade, a imputabilidade
e o nexo causal. Nesse sentido, a antijuridicidade relaciona-se ao ato
cometido, já que, para que seja objeto de responsabilização, o ato
precisa ser contrário ao determinado por uma norma jurídica. Já quanto
à imputabilidade, o agente responsável deve ser capaz, para que assim
possa responder pelo dano que cometeu, levando em consideração que
os incapazes e os prejuízos derivados de caso fortuito ou força maior
não são passíveis de indenização. Por fim, o nexo causal estabelece um
vínculo entre a conduta praticada pelo agente e o dano que foi gerado, só
devendo haver a responsabilização quanto à indenização nos casos em
que o agente de fato tiver sido responsável pelo prejuízo proporcionado.
40 Direito Ambiental

Dessa forma, a responsabilidade e o dever de indenizar, para que


possam ser aplicados, devem levar em conta a conduta, o dano, o nexo
de causalidade e a culpa do agente, não podendo tais fatores serem
ignorados para a determinação da responsabilização civil.

Nesse caso, a culpa estará presente nos casos em que houve a


intenção de provocar o dano, sendo esse conceito no Código Penal
pertencente ao dolo, que também se aplica aos casos em que o prejuízo
for gerado em decorrência de negligência, imprudência e imperícia.
Cabe esclarecer que a negligência estará caracterizada quando a pessoa
possuir conhecimento sobre a atitude que deve tomar e, ainda assim,
não faz aquilo entendido como necessário e até mesmo como legal; a
imprudência, por sua vez, ocorrerá nos casos em que as pessoas não
observaram as regras que seriam capazes de impedir o acontecimento do
fato, agindo assim sem a devida cautela; por fim, a imperícia caracteriza-
se pela falta de qualificação, também estando presente nos casos em que
a pessoa pratica ato para o qual deve possuir certo conhecimento prévio,
técnico e/ou profissional sem efetivamente possuí-los.

Responsabilidade Civil Objetiva e


Subjetiva
Querido aluno, considerando a jornada que você vem trilhando
pelos caminhos acadêmicos, como você definiria e distinguiria a
responsabilidade civil objetiva e responsabilidade civil subjetiva? Surgiram
dúvidas quanto a esse questionamento? Então vamos esclarecer.

É muito difícil que mencionemos o assunto da responsabilidade


civil sem tocarmos na necessidade de diferenciar os seus tipos, já que
existem campos jurídicos que se apoiam na responsabilidade civil para
determinar o sistema punitivo que será adotado, possuindo como base o
ponto de vista objetivo, o subjetivo ou ainda ambos.

Nesse sentido, a responsabilidade civil subjetiva apresenta como


critérios para a sua caracterização os elementos relativos à conduta, ao
dano, ao nexo causal e à culpa do agente. Dessa forma, a responsabilidade
subjetiva é aquela que leva em consideração a presença da culpa, só
sendo caracterizada quando ela existir.
Direito Ambiental 41

Assim, será preciso que a culpa seja comprovada, pois sem essa
comprovação, a responsabilidade não poderá ser fixada. Diante disso, a
responsabilidade em regra deverá seguir os critérios da subjetividade,
porém algumas legislações apresentam em seu texto determinações
que deixam clara a escolha pela responsabilidade civil objetiva. Em
outras palavras, a responsabilidade civil subjetiva é a regra, mas existem
exceções que podem ser aplicadas a essa determinação.

Por outro lado, a responsabilidade objetiva, para ser caracterizada,


também deverá levar em consideração a conduta, o dano promovido e o
nexo causal existente entre os dois critérios, porém a culpa não precisa
ser comprovada para que essa responsabilidade seja fixada. Assim, o
artigo 927 do Código Civil determina que
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (Artigos 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem. (BRASIL, 2002, grifo nosso)

Dessa maneira, a grande distinção entre as duas responsabilidades


diz respeito à culpa, tendo em vista que a responsabilidade civil objetiva
não precisa dessa comprovação e na medida em que a responsabilidade
civil subjetiva só será posta em prática quando houver elementos que
comprovem a presença da culpa.

Responsabilidade Civil no Âmbito do


Direito Ambiental
Agora que já entendemos quais são os critérios gerais responsáveis
por definir e caracterizar a responsabilidade civil, podemos aplicar esse
conceito ao nosso objeto de estudo, o Direito Ambiental, e ao presente
capítulo, referente à presença da responsabilidade civil no âmbito do
Direito Ambiental.
42 Direito Ambiental

A responsabilidade civil ambiental está orientada em conformidade


com um regime jurídico próprio, ou seja, que se adapta aos casos
específicos relativos ao meio ambiente, tendo como base o exposto no
texto do artigo 225 da Constituição da República Federativa de 1988,
assim como pelo disposto no artigo 14, parágrafo 1º, da Lei nº 6.938/1991,
que, como sabemos, é a legislação que institui a Política Nacional do Meio
Ambiente. Essas leis serão melhor abordadas posteriormente, mas ainda
neste capítulo. Levando em consideração as semelhanças presentes
entre o Direito Ambiental, o Direito Administrativo e o Direito Civil, ficam
claros os motivos pelos quais a responsabilidade presente nesse último
é aplicada no jurídico ambiental, já que é um campo de ampla aplicação
e efetividade.

Como aprendemos no tópico anterior, a responsabilidade civil pode


ser subjetiva e objetiva, e mesmo que a regra consista na subjetividade,
perante o ramo do Direito Ambiental bem como das legislações presentes
nessa área, a responsabilidade utilizada é a objetiva, ou seja, aquela que
independe de culpa.

Dessa maneira, a responsabilidade civil objetiva é adotada como


o melhor modelo a ser seguido no âmbito ambiental, pois garante uma
proteção mais ampla à vítima, que, nesse caso, é tanto o meio ambiente
quanto a coletividade, já que o meio ambiente, além de ser um dever
de todos, também é considerado como um direito não só das gerações
atuais, mas também das futuras gerações.

Um exemplo que pode ser utilizado para esclarecer esse fato é


imaginar os atos poluentes praticados por uma pessoa jurídica X, pois
mesmo que nessa atividade não se comprove a presença da culpa, a
entidade assumiu os riscos pelos danos que poderiam ser promovidos em
razão da poluição causada por ela. Dessa maneira, ela deverá assumir a
responsabilidade pelos prejuízos que possam decorrer das suas atitudes.

Desta feita, é importante destacar o termo “possam”, já que mesmo


nas situações em que os danos não forem de fato gerados, ainda assim
será necessário que exista uma responsabilização, já que o agente assumiu
o risco de chegar a promover algum dano ao meio ambiente, mesmo
que esse dano não tenha sido concretizado. Silvana Colombo (2006)
Direito Ambiental 43

denomina tal fenômeno de teoria do risco criado. Nesse sentido, dando


ainda mais ênfase aos pontos destacados, na teoria da responsabilização
civil objetiva ambiental
Não se aprecia subjetivamente a conduta do poluidor,
mas a ocorrência do resultado é prejudicial ao homem
e seu ambiente. A atividade poluente acaba sendo uma
apropriação pelo poluidor dos direitos de outrem, pois na
realidade a emissão poluente representa um confisco do
direito de alguém respirar ar puro, beber água saudável e
viver com tranquilidade. (MACHADO, 2000, p. 273)

É importante destacar que a ideia de ressarcimento ligado à


responsabilidade civil ambiental só poderá efetivar-se nos casos em que
o dano existir, já que não se pode reparar aquilo que não foi danificado.
Nos casos em que não houver o dano, mas apenas o risco, as decisões
que serão adotadas não serão ressarcitórias, mas, sim, preventivas.

Quanto ao texto constitucional, salienta-se ainda que, no artigo


destinado ao meio ambiente, ao falar-se em responsabilização, fica
determinado que a reparação do dano ambiental será observada sobre três
tipos de responsabilidades, quais sejam: a penal, a civil e a administrativa,
que serão independentes e autônomas. Isso quer dizer que a prática de
um único ato ilícito, seja esse uma ação ou uma omissão, poderá ter como
resultado três processos distintos, cada um em uma área distinta.

Possuindo como foco a responsabilidade civil ambiental, temos


que levar em conta a existência e aplicação da teoria do risco criado.
Dessa maneira, não existem excludentes quando se avaliam os danos
promovidos ao meio ambiente, por isso há a necessidade de indenização
e de reparo, mesmo que a culpa não fique comprovada, não sendo nem
ao menos preciso, na verdade, que essa culpa seja verificada, pois os
danos auferidos ao meio ambiente devem ser contornados, tendo em
vista que são responsáveis por causar prejuízos sérios à coletividade
como um todo, que precisa desse ambiente para sobreviver e ter uma
qualidade de vida digna.
44 Direito Ambiental

Assim, a responsabilidade existente no campo ambiental acaba


possuindo características peculiares quando comparada às demais áreas
do direito, sendo um exemplo disso a disposição presente no artigo 225,
parágrafo 3º, da Constituição de 1988, que determina que “as condutas
lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, às sanções penais e administrativas independentemente da
obrigação de reparar o dano causado” (BRASIL, 1988).

Dessa forma, ressaltamos mais uma vez que a responsabilidade


será fixada mesmo que o dano não seja gerado, ficando essa ideia clara
quando o texto constitucional afirma que as pessoas que não cumprirem
as normas relativas à proteção e à preservação ambiental deverão ser
punidas, “independentemente da obrigação de reparar o dano causado”.
Assim, a punição e a indenização deverão ser aplicadas, mesmo que nos
casos em que não houver o dano concretizado, e, portanto, ausência da
necessidade de reparar e restaurar o meio ambiente a suas condições
originais.

Nesse mesmo sentido, podemos destacar a disposição presente no


artigo 14, parágrafo 1º, da Lei nº 6.938/1981, ou seja, a Lei da Política Nacional
do Meio Ambiente, que deixa clara a presença da responsabilidade civil
objetiva no âmbito ambiental ao determinar que, “sem obstar a aplicação
das penalidades neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente
da existência da culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade” (BRASIL, 1981).

NOTA:

Lembrando que, nas unidades anteriores do presente


e-book, aprendemos acerca dos princípios de destaque
do Direito Ambiental, estando entre esses o princípio
do poluidor-pagador. Dessa forma, se você não estiver
lembrado do que significa esse princípio, recomenda-
se que você volte algumas páginas para refrescar essa
definição, a fim de facilitar o entendimento do conteúdo
atual.
Direito Ambiental 45

Assim, o dever de reparar existe, mesmo que a culpa não seja


comprovada, sendo que o temo “dano” faz menção tanto àquele prejuízo
já existente e, portanto, atual, como àquele que é futuro. Portanto, mesmo
que ainda não se conheçam todos os percalços promovidos, ainda
deverão ser tomadas as medidas necessárias para a sua reparação, e
tais medidas devem, inclusive, ser colocadas em prática o mais rápido
possível, já que não há questionamentos acerca do prejuízo a ser gerado,
e, sim, quanto ao momento em que essas lesões serão efetivadas.

Porém, aluno, você pode estar se perguntando acerca quais são os


motivos que levaram à adoção da responsabilidade civil objetiva perante
o Direito Ambiental, certo?

Levando em consideração esse questionamento, é importante que


conheçamos o posicionamento de Ferraz (2000), que afirma que
A teoria objetiva na imputação da responsabilidade ao
causador dos danos ao meio ambiente se concretiza
porque: em termos de dano ecológico, não se pode
pensar em outra adoção que não seja a do risco integral.
Não se pode pensar em outra malha que não seja malha
realmente bem apertada que possa, na primeira jogada
da rede, colher todo e qualquer possível responsável
pelo prejuízo ambiental. É importante que, pelo simples
fato de ter havido omissão, já seja possível enredar agente
administrativo e particulares, todos aqueles que de alguma
maneira possam ser imputados ao prejuízo provocado
para a coletividade. (FERRAZ, 2000, p. 58)

Então, aprendemos que os danos causados ao meio ambiente são


graves em sua maioria, pois mesmo os que podem ser reparados levam
tempo para que sejam revertidos a sua situação original. Assim, quanto
mais grave for o dano causado, mais difícil será a reparação, podendo
até mesmo ser impossível que se retomem as características originais.
Nesse contexto, a objetividade é vista como critério adequado em razão
dos danos e dos resultados que eles causam, já que as lesões, na maioria
das vezes, são irreversíveis. Um único dano ao meio ambiente acaba
gerando outras consequências. Além disso, a atribuição de culpa nesse
âmbito seria de difícil determinação, fazendo com que muitas situações
e pessoas não fossem devidamente punidas, por isso a responsabilidade
civil ambiental independe de culpa.
46 Direito Ambiental

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que a responsabilidade é o instrumento jurídico incumbido
de analisar e punir as pessoas que desobedecem às
normas existentes. Assim, no âmbito da responsabilidade
civil, verifica-se a presença da responsabilidade civil
subjetiva, a qual depende de culpa para que se efetive,
e a responsabilidade civil objetiva, na qual o agente que
comete o ato ilícito será responsável independentemente
de culpa, devendo ser levado em consideração apenas
o dano, o ato praticado e o nexo causal existente entre
esses dois elementos. Levando em conta a gravidade e
a seriedade dos danos promovidos, no âmbito do Direito
Ambiental, adotou-se a responsabilidade civil objetiva,
tendo em vista que, na maior parte dos casos, as lesões
são irreversíveis, os prejuízos são múltiplos e há uma certa
dificuldade em aferir-se se houve ou não culpa. Por isso a
culpa não será fator determinante para a responsabilização
e determinação da necessidade de que o agente repare o
prejuízo provocado ao meio ambiente.
Direito Ambiental 47

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre
a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, e dá outras providências.Brasília, DF: Presidência
da República, [2010]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L6938compilada.htm. Acesso em: 11 abr. 2020.

BRASIL. Resolução Conama nº 001, de 23 de janeiro de 1986.


Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de
impacto ambiental. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente. Disponível
em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html.
Acesso em: 13 abr. 2020.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República,
[2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituiçao.htm. Acesso em: 27 mar. 2020. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm.
Acesso em: 14 abr. 2020.

BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre


as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência
da República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l9605.htm. Acesso em: 14 abr. 2020.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código


Civil. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm. Acesso
em: 15 abr. 2020.

COLOMBO, S. R. B. A responsabilidade civil no Direito Ambiental.


Âmbito Jurídico, [online], 2006. Disponível em: https://ambitojuridico.
com.br/cadernos/direito-ambiental/a-responsabilidade-civil-no-direito-
ambiental/. Acesso em: 15 abr. 2020.

DINIZ, M. H.. Curso de Direito Civil brasileiro: responsabilidade


Civil. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
48 Direito Ambiental

FERRAZ, S. Responsabilidade civil por dano ecológico. Revista de


Direito Administrativo e Infraestrutura, São Paulo, v. 2, n. 4, p. 409-421, 2018.
Disponível em: https://www.rdai.com.br/index.php/rdai/article/view/127.
Acesso em: 11 set. 2020.

FRIEDMAN, L. Estudo de Harvard aponta relação entre poluição


do ar e taxa de mortalidade da Covid-19. O Globo, [online], 2020.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/estudo-de-
harvard-aponta-relacao-entre-poluicao-do-ar-taxa-de-mortalidade-da-
covid-19-24359145. Acesso em: 11 abr. 2020.

GIEHL, G. A infração administrativa ambiental. Âmbito Jurídico,


[online], 2007. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/
direito-ambiental/a-infracao-administrativa-ambiental/. Acesso em: 14
abr. 2020.

LUZ, W. da. Em meio a tantas crises a esperança persiste. Blog


da Unicamp, [online], 2018. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.
br/muitoalemdoverde/2018/05/02/criseambiental/. Acesso em: 13 abr.
2020.

MACHADO, P. A. L. Direito Ambiental brasileiro. São Paulo:


Malheiros, 2000.

MUCELIN, C. A.; BELLINI, M. Lixo e impactos ambientais


perceptíveis no ecossistema urbano. Sociedade & Natureza, [online],
v. 20, n. 1, p. 111-124, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S1982-45132008000100008&script=sci_arttext. Acesso em: 13
abr. 2020.

PEREIRA, F. Entenda a Lei de Crimes Ambientais. O Eco, [online], 2014.


Disponível em: https://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28289-
entenda-a-lei-de-crimes-ambientais/. Acesso em: 14 abr. 2020.

SANTOS, F. P. dos. A Poluição e os danos ambientais. Âmbito


Jurídico, [online], 2004. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/
cadernos/direito-ambiental/a-poluicao-e-os-danos-ambientais/.
Acesso em: 11 abr. 2020.

TARTUCE, F. Manual de Direito Civil. 3. Ed. São Paulo: Editora


Método, 2013.

Você também pode gostar