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Sustentabilidade

na Construção Civil
Unidade 1
Gestão e Sustentabilidade
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ALINE EVELYN LIMA BEZERRA
DAYANNA COSTA
AUTORIA
Aline Evelyn Lima Bezerra
Sou formada em Ciências Contábeis pela Universidade
Estadual da Paraíba (UEPB) e pós-graduada em Gestão Ambiental e
Desenvolvimento Sustentável, com experiência em escrita de material
didático nas áreas: contabilidade geral e tributária, gestão de estoques,
marketing e propaganda e publicidade. Tenho experiência profissional
na área fiscal e tributária há mais de quatro anos, bem como no setor
contábil, em escritório contábil, com especialidade em construção civil,
além de outros clientes dos mais diversos ramos e portes. Trabalhei em
empresas do ramo turístico e comercial, no setor administrativo. Na área
acadêmica, atuei como pesquisadora no Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação Científica pela Universidade Estadual da Paraíba durante 2
anos, na área de gestão empresarial, principalmente nos seguintes temas:
a sustentabilidade empresarial, a partir dos enfoques econômicos, sociais
e ambientais; e responsabilidade social universitária. Sou apaixonada pelo
que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão
iniciando em suas profissões.

Dayanna Costa
Sou mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação
em Administração da UFPB (2019), área de concentração administração
e sociedade e mestre em Recursos Naturais, pelo Programa de Pós-
Graduação em Recursos Naturais da UFCG (2014), com ênfase na linha
de pesquisa sustentabilidade e competitividade. Possuo graduação em
Administração pela Universidade Federal de Campina Grande (2010).
Atuo como pesquisadora no Grupo de Estudos em Gestão da Inovação
Tecnológica da UFCG, cadastrado no diretório de grupos de pesquisa
do CNPQ, na linha de pesquisa Inovação e Desenvolvimento Regional l,
voltado aos seguintes temas: administração geral, gestão da inovação,
desenvolvimento regional. Atuou como pesquisadora do Grupo de
Estratégia Empresarial e Meio Ambiente, cadastrado no diretório de
grupos de pesquisa do CNPQ, na linha de pesquisa estratégia ambiental
e competitividade com ênfase em modelos e ferramentas de gestão
ambiental com foco nos seguintes temas: administração geral e gestão
ambiental. Atualmente, atuo como professora no curso de Administração
da Unidade Acadêmica de Administração de Contabilidade (UAAC), na
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no regime de professor
substituto.

Por isso, fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu


elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Definição de sustentabilidade................................................................12

Origens do conceito de sustentabilidade...................................................................... 12

História dos produtos (de onde vêm e para onde vão)..................... 12

História da sustentabilidade.................................................................................. 15

Definição de sustentabilidade................................................................................................ 18

Desenvolvimento sustentável............................................................... 22

Introdução ao desenvolvimento sustentável.............................................................. 22

Práticas de desenvolvimento sustentável.....................................................................23

Relatório de Brundtland..............................................................................................................27

The Global Goals (as metas globais)....................................................................................29

Indicadores de sustentabilidade...........................................................33

História dos indicadores de sustentabilidade.............................................................33

O que são indicadores de sustentabilidade.................................................................37

Sistema de indicadores nacional.......................................................................37

Indicadores de sustentabilidade econômica.......................................... 38

Indicadores de sustentabilidade social....................................................... 39

Indicadores de sustentabilidade ambiental............................................. 39

Global Reporting Initiative (GRI) .............................................................................41


Conferência Rio+20......................................................................................44

Eco-92......................................................................................................................................................44

Agenda 21...........................................................................................................................45

Carta da Terra...................................................................................................................47

Rio+10....................................................................................................................................................... 49

Declaração de Joanesburgo................................................................................ 49

Rio+20....................................................................................................................................................... 50
Sustentabilidade na Construção Civil 9

01
UNIDADE
10 Sustentabilidade na Construção Civil

INTRODUÇÃO
Você sabia que o desenvolvimento sustentável é um dos temas mais
debatidos da atualidade e que líderes do mundo inteiro se juntam para
estabelecer metas sustentáveis para o planeta? Sim, a sustentabilidade,
hoje, é um tema amplamente debatido. No entanto, nem sempre foi
assim. No primeiro capítulo, você aprenderá onde tudo começou e o
que é sustentabilidade, que é utilizar meios de suprir as necessidades
do presente sem afetar as gerações futuras, em aspectos ambientais,
econômicos e sociais.

No segundo capítulo, será falado sobre as práticas de desenvolvimento


sustentável; o relatório de Brundtland, documento intitulado como O nosso
futuro comum; e o The Global Goals, as metas globais, criadas em 2015, que
apresentam dezessete objetivos para serem cumpridos até 2030.

No capítulo 3, você verá alguns indicadores de sustentabilidade, a


partir do enfoque econômico, social e ambiental, e aprenderá também
sobre Global Reporting Initiative (GRI). Por fim, será mostrado a Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Eco-92, que deu
embasamento para a Rio+10 e Rio+20. Entendeu? Ao longo desta unidade
letiva, você vai mergulhar neste universo!
Sustentabilidade na Construção Civil 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no
desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término
desta etapa de estudos:

1. Definir o conceito de sustentabilidade, discernindo sobre sua


importância e aplicabilidade;

2. Discernir acerca do desenvolvimento sustentável em cidades e na


sociedade como um todo;

3. Avaliar os diversos indicadores de sustentabilidade;

4. Compreender os resultados práticos da Conferência das Nações


Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio+20.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
12 Sustentabilidade na Construção Civil

Definição de sustentabilidade

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


como e onde surgiu a sustentabilidade, seu significado e
objetivo. Isso será fundamental para compreensão de toda
a unidade, tendo em vista que, nessa competência, você
aprenderá os aspectos básicos. E então? Motivado para
desenvolver essa competência? Então, vamos lá. Avante!

Origens do conceito de sustentabilidade


História dos produtos (de onde vêm e para onde vão)
A economia capitalista é marcada por características em que a
valorização do dinheiro prevalece sobre as questões sociais e ambientais,
acarretando desastres naturais e desigualdades sociais.

REFLITA:

Você já parou para pensar de onde vêm as coisas que


compramos e para onde vão?

Existe um sistema de produção que pode ser visualizado no


organograma abaixo:
Figura 1 – Organograma evidenciando de onde vêm a para onde vão os produtos

Extração Produção Distribuição

Tratamento
Consumo
de lixo

Fonte: Elaborada pelo autor (2020).


Sustentabilidade na Construção Civil 13

Como pode ser observado, existe um sistema linear de produção,


ou seja, onde tudo começa na extração, na exploração dos recursos
naturais disponíveis no planeta.

No entanto, vivemos em planeta finito. Como o sistema de produção


é linear, encontramos a primeira limitação: os recursos naturais também
são finitos. Somente nas últimas três décadas, foram consumidos em
torno de 33% dos recursos naturais do planeta, como pode ser observado
no gráfico.
Figura 2 – Gráfico: utilização dos recursos naturais do planeta Terra

Fonte: Elaborada pelo autor (2020).

Um dos países que mais consomem esses recursos naturais é


o Estados Unidos, utilizando cerca de 30% dos recursos totais de todo
o planeta. Se todos os países utilizassem os recursos com a mesma
intensidade que os Estados Unidos, seriam necessários três vezes mais
recursos para suprir essa demanda. Somente na Amazônia, em 2014,
2.000 árvore foram derrubadas por minuto.

Os fatos citados acima influenciam diretamente a degradação


ambiental, bem como as comunidades em que os locais de extração
estão situados. Após a extração, as matérias-primas vão para produção
e chegamos a uma nova fase, muito importante para esse contexto de
conscientização ambiental.

É no setor produtivo, industrial, que as matérias-primas são


transformadas em produtos. Nessa fase de transição, são alocadas
grandes quantidades de recursos naturais para máquinas, corroborando
14 Sustentabilidade na Construção Civil

com o que acontece na fase anterior (de extração). Assim, são utilizados
em grandes quantidades recursos naturais finitos. Ainda nessa etapa,
para que as matérias-primas sejam transformadas em produtos finais, é
necessária a adição de químicos nesses materiais, em que apenas uma
pequena parcela deles são testadas. Assim, é desconhecido o nível do
impacto desses químicos tanto à saúde de quem consome quanto ao
meio ambiente, tendo em vista que, durante a produção, são liberadas
grandes quantidades de gases e poluentes ao meio ambiente.

Além dos malefícios supracitados, os operários da indústria e


moradores próximos à indústria também são afetados, por acabarem
inalando esses gases e poluentes. Obviamente, os operários só trabalham
em locais assim por falta de opção, o que gera também mão de obra
barata, devido ao fluxo de operários sem alternativa.

Após, os produtos são distribuídos ao varejo para que sejam


consumidos. Nessa fase, é importante destacar que os consumidores
precisam constantemente trocar seus pertences, alguns porque se
tornam obsoletos e ultrapassados e outros porque realmente perdem a
utilidade, condições que são atribuídas aos produtos de forma proposital,
por meio de duas estratégias:

1. Obsolescência programada – produtos são feitos com prazos


de validade relativamente curtos, para que, em determinado
tempo, a mercadoria comece a apresentar limitações quanto ao
seu uso. Esses prazos são calculados de forma que o consumidor
não perceba que está adquirindo um produto com um tempo de
duração menor do que deveria.

EXEMPLO: uma grande parcela dos eletrodomésticos. É comum


observarmos alguém dizer que, antigamente, os eletrodomésticos
duravam mais. Eles realmente duravam, até que as empresas começaram
a perceber que a quantidade de venda estava limitada e a solução foi
diminuir o prazo de validade desses produtos.

2. Obsolescência perceptiva – nesse caso, os objetos ainda são


úteis, mas são trocados antes dos prazos de validade, porque
é disseminada a ideia de que aquele item deve ser trocado.
Sustentabilidade na Construção Civil 15

Normalmente, essas ideias são espalhadas por meio de mídias


digitais.

EXEMPLO: é facilmente notável esse tipo de estratégia no mundo


das modas, em que estilos de roupas, sapatos, maquiagem e cabelos
variam de acordo com época do ano, localização e outros fatores.

Esses dois tipos de estratégias fazem com que os produtos que


não estão de fato obsoletos sejam jogados fora e virem lixo em menos
de um ano. Os lixos normalmente são queimados ou aterrados. Quando
queimados, geram uma das toxinas mais prejudiciais que existem. Mas o
impacto causado em decorrência desse lixo acaba se tornando irrisório
quando comparado aos impactos que são causados pela produção dos
novos produtos.

Alguns desses materiais são, sim, reciclados. No entanto, é uma


parcela muito pequena de reciclagem que não chega nem perto de suprir
os malefícios causados.

Dessa forma, podemos observar que essa linha de produção não


dispõe de soluções para as limitações que existem. Entretanto, em cada
fase da produção, existem equipes de intervenção. Lá na fase inicial, existe
um grupo propagando a ideia do não desmate, consuma menos energia
e assim por diante nas fases seguintes, assim como existe um grupo
de intervenção na fase final, que incentiva a compra de produtos mais
duráveis e produtos sustentáveis, além de grupos de apoio que podem
ser observados em todas as fases, agindo em defesa das pessoas, dos
operários, do trabalho infantil e das comunidades em geral. É por meio
dessas práticas que é possível consolidar as estratégias do conceito de
sustentabilidade que veremos nos próximos tópicos.

História da sustentabilidade
Em decorrência de um mundo moderno e capitalista, nunca se
falou tanto sobre sustentabilidade e normalmente é passada a imagem
de que esse conceito é um pensamento relativamente novo.

Essa ideia de que o conceito de sustentabilidade é algo novo surge


do achismo de que os malefícios causados ao meio ambiente pelo uso
16 Sustentabilidade na Construção Civil

irracional dos recursos naturais são apenas indícios de consequências


que poderão vir a acontecer.

REFLITA:

Você já ouviu falar de alguns destes temas: efeito estufa,


aquecimento global e/ou distúrbio ecológico? E há quanto
tempo você ouve falar desses temas?

Os temas supracitados são assuntos discutidos há anos, justamente


porque as consequências do uso irracional dos recursos naturais que o
planeta oferece já são perceptíveis e vêm sendo percebido ao longo
dos anos.

Assim, a ideia de sustentabilidade ou conceitos de conscientização


ambiental foram criados há muitos anos. Segundo Boff (2016), em
1560, na Alemanha, incorreu pela primeira vez a preocupação pelo uso
racional de florestas, na perspectiva de que elas pudessem se manter
permanentemente, premissa que deu início à palavra sustentabilidade a
partir da palavra alemã Nachhaltigkeit.

Embora a palavra tenha surgido em 1560, os conceitos de


sustentabilidade começaram a aparecer em 1713. De forma estratégica, o
capitão Hans Carl von Carlowitz desenvolveu métricas de uso sustentável
da madeira, tendo em vista o desgaste que fornos de mineração criados
na Saxônia, Alemanha, causavam ao meio ambiente.

Embora existissem práticas de sustentabilidade desde 1560, bem


como ideias sustentáveis disseminadas pelas comunidades ligadas à
silvicultura, os discursos sobres práticas e estratégias ambientais só
começaram a ser incitados por autores em torno da década de 1950,
quando a ocorrência de chuvas radiativas, começaram preocupar a
comunidade científica (MACHADO, 2005).
Sustentabilidade na Construção Civil 17

VOCÊ SABIA?

A silvicultura tem como objetivo encontrar meios de


restaurar florestas e melhorar o povoamento, tendo papel
fundamental no controle de desmatamento e contribuindo
de forma positiva para o reflorestamento e prevenção para
uso racional dos recursos naturais.

Em 1970, foi criado o clube de Roma, que publicou um relatório


sobre Os limites do crescimento (BOFF, 2016). Em 1972, considerando os
acontecimentos das últimas décadas, a ONU realizou, em Estocolmo, a
primeira conferência mundial sobre o meio ambiente, conhecida como
Conferência de Estocolmo, reunindo diversos países desenvolvidos e não
desenvolvidos.

No Brasil, as discussões sobre sustentabilidade começaram a


surgir na década de 1960, mas ganharam força apenas a partir dos anos
1990, quando diversos autores de renome começaram a discutir o tema
(BROWN; MARSHALL; DILLARD, 2006).

As conferências e discussões sobre sustentabilidade começaram a


ser desencadeadas em diversos países. Inclusive, em 1992. a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD)
foi realizada no Rio de Janeiro. Ela ficou conhecida como Rio-92 e tinha como
objetivo buscar meios de conciliar o desenvolvimento socioeconômico
com a utilização dos recursos naturais disponíveis no planeta.

Dessa forma, é possível perceber que:


O princípio de sustentabilidade surge como uma
resposta à fratura da razão modernizadora e como
uma condição para construir uma nova racionalidade
produtiva, fundada no potencial ecológico e em novos
sentidos de civilização a partir da diversidade cultural
do gênero humano. Trata-se da reapropriação da
natureza e da invenção do mundo; não só de um mundo
no qual caibam muitos mundos, mas de um mundo
conformado por uma diversidade de mundos, abrindo
o cerco da ordem econômica-ecológica globalizada.
(LEFF, 2001, p. 31)
18 Sustentabilidade na Construção Civil

Ainda que existam princípios de sustentabilidade desde 1560,


práticas de sustentabilidade que surgem em resposta à fratura da razão
modernizadora deverão ser adaptadas e adequadas às novas situações
ocasionadas por essa modernidade. Assim, as práticas de sustentabilidade
estão em constante adaptação e sempre devem ser pensadas a longo prazo.

Definição de sustentabilidade
Agora que aprendemos de onde a sustentabilidade surgiu, é
possível entender qual o real significado de sustentabilidade e para que
ela serve.

Em sua definição literal, a palavra sustentabilidade, que vem do


latim sustentare, significa:
Conceito que, relacionando aspectos econômicos, sociais,
culturais e ambientais, busca suprir as necessidades do
presente sem afetar as gerações futuras. Qualidade ou
propriedade do que é sustentável, do que é necessário à
conservação da vida. (SUTENTABILIDADE, 2021, on-line)

Assim, considerando sua definição literal, podemos resumir que


a sustentabilidade tem como objetivo conservar, sustentar e cuidar, de
forma que as ações realizadas agora não afetem de forma prejudicial as
gerações futuras. Então, aqui já podemos concluir que a sustentabilidade
tem relação direta com a conservação por um longo período.

Costumamos pensar que a sustentabilidade diz respeito somente


ao aspecto ambiental. No entanto, sustentabilidade é muito mais que isso
e diz respeito aos aspectos econômicos, sociais e ambientais de qualquer
organização, sendo necessário observar quais os impactos reais, positivos
ou negativos, são causadas por essas três dimensões.

A convergência dessas três dimensões: ambiental, social e


econômica, é conhecida como Triple Bottom Line (TBL) ou tripé da
sustentabilidade.

1. Ambiental: as práticas de sustentabilidade elaboradas a partir do


enfoque ambiental são as práticas mais conhecidas e têm como
Sustentabilidade na Construção Civil 19

objetivo minimizar os impactos causados ao meio ambiente pelas


ações do homem, na busca por permanência a longo prazo.

2. Social: os indícios de estratégias sociais buscam promover o


bem-estar e qualidade de vida a determinadas comunidades.
Quando relacionado a indústrias e empresas privadas, as ações se
concentram em torno das pessoas que fazem parte da organização,
como stakeholders e operários. Além disso, existe uma parte da
sustentabilidade mais voltada para pessoas que não estão ligadas
diretamente às organizações, mas que são prejudicadas por causa
de suas práticas.

EXEMPLO: pessoas que moram próximas a usinas que têm


características poluidoras e são afetadas prejudicialmente com isso.

3. Econômico: esse é resultado das organizações e medido em


valores econômicos, ou seja, lucratividade das organizações.
Lembrando que, na sustentabilidade, os valores econômicos
só são considerados positivos quando atrelados aos resultados
ambientais e sociais.
Figura 3 – Sobreposição das três principais dimensões da sustentabilidade: ambiental,
social e econômica

Dimensão
Ambiental

Dimensão Dimensão
Social Econômica

Fonte: Wikimedia Commons

Conforme pode ser observado na figura acima, a junção das três


dimensões formam a sustentabilidade, mas ainda há nichos diferentes
formados por esses três enfoques, que são:
20 Sustentabilidade na Construção Civil

1. Socioambiental: é a relação entre os problemas sociais ligados ao


meio ambiente. Com relação à sustentabilidade socioambiental,
existe uma integração para resolução de problemas sociais e
ambientais.

2. Ecoeficiência: a ecoeficiência busca meios de manter maior


rentabilidade, utilizando o mínimo de recursos naturais, a
fim de minimizar impactos ambientais, corroborando com a
sustentabilidade em termos de conservação e prevenção.

3. Socioeconômica: a sustentabilidade socioeconômica se preocupa em


como a rentabilidade, a parte econômica, pode impactar a sociedade,
na expectativa de promover qualidade de vida e bem-estar.

Por fim, podemos concluir que a sustentabilidade busca impor


métodos de promover bem-estar por meio da satisfação humana, sem
causar impactos ambientais e, ainda, utilizando a prevenção de impactos
como aliada para obtenção de resultados econômicos. Em resumo, a
sustentabilidade dentro de uma organização pode ser considerada a partir
dos resultados obtidos, pelos enfoques econômicos, sociais e ambientais.
Sustentabilidade na Construção Civil 21

RESUMINDO:

Chegamos ao fim do primeiro capítulo, e então? Gostou


do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora,
só para termos certeza de que você realmente entendeu
o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o
que vimos. Você deve ter aprendido que, ao contrário do
que normalmente é evidenciado, os indícios acerca da
sustentabilidade surgiram em 1560, na Alemanha, com
a palavra Nachhaltigkeit, que significa sustentabilidade
e que tinha como premissa a permanência de florestas
inclusive em condições de desmatamento. A partir de
então, as práticas sustentáveis começaram a ser adotadas
e debatidas com mais frequência, até chegarmos ao
conceito de sustentabilidade que temos hoje, o qual você
deve ter notado que ainda está sendo aprimorado a cada
novidade surge. Mas você lembra qual é o conceito de
sustentabilidade atualmente? Sustentabilidade significa
conservar, sustentar, cuidar, ou seja, dar apoio, não deixar
acabar. E só pra ter certeza de que você aprendeu tudo,
vale ressaltar que a sustentabilidade só existe hoje porque
vivemos em um planeta finito, mas que o sistema de
produção funciona de forma linear, utilizando de forma
irracional os recursos naturais limitados. Agora que
aprendemos como tudo começou, vamos continuar a
aprender sobre as práticas e o desenvolvimento sustentável.
Até o próximo capítulo!
22 Sustentabilidade na Construção Civil

Desenvolvimento sustentável

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você aprenderá sobre os


conceitos e práticas de desenvolvimento sustentável e
como algumas dessas práticas surgiram, a partir das ações
dispostas no relatório de Brundtland. Aprenderá também
sobre o The global goals (as metas globais), um dos temas
mais importantes para a atualidade. Esses assuntos serão
imprescindíveis para sua vida profissional e pessoal, tendo
em vista que são métricas que deverão se tornar hábitos
em qualquer meio. E então? Motivado para desenvolver
essa competência? Então, vamos lá. Avante!

Introdução ao desenvolvimento sustentável


Para entendermos o que é desenvolvimento sustentável, é
imprescindível conhecer o conceito da palavra desenvolvimento
sustentável. Vamos começar com desenvolvimento, que remete a
progresso ou evolução de aspectos quantitativos e qualitativos. Já
sustentabilidade diz respeito a sustentar, conservar. Considerando essas
duas definições, desenvolvimento sustentável diz respeito à evolução
da geração atual de uma forma produtiva, sem que possa comprometer
recursos e habitat das próximas gerações.

Segundo Camargo (2020), as definições de desenvolvimento


sustentável mais conhecidas estão dispostas no relatório Nosso futuro
comum, em 1991:
Desenvolvimento sustentável é um novo tipo de
desenvolvimento capaz de manter o progresso humano
não apenas em alguns lugares e por alguns anos, mas em
todo o planeta e até um futuro longínquo.

O desenvolvimento sustentável é aquele que atende


as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade de as gerações futuras atenderem as suas
próprias necessidades.
Sustentabilidade na Construção Civil 23

Em essência, o desenvolvimento sustentável é um


processo de transformação no qual a exploração dos
recursos, a direção dos investimentos, a orientação do
desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional
se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro,
a fim de atender as necessidades e aspirações humanas.
(RELATÓRIO, 1991, p. 4)

A partir desses conceitos de desenvolvimento sustentável, foi


possível a elaboração de princípios regulamentadores, que são objetivos
específicos a partir de perspectivas ambientais, sociais e econômicas, a
fim de garantir sustentabilidade.

Práticas de desenvolvimento sustentável


Já percebemos que o conceito de desenvolvimento sustentável é
um conceito regulamentador e instituidor de práticas sustentáveis para
que as ações atuais não comprometam o bem-estar do futuro. Essas
práticas devem estar associadas à sustentabilidade ambiental e social.

Acerca das práticas ambientais, é possível perceber inúmeras


estratégias, pois o mundo percebeu primeiro a necessidade de
preservação ambiental para a sobrevivência.

No Quadro 1, é possível verificar algumas práticas de políticas


públicas que podem ser adotadas pelos órgãos governamentais.
24 Sustentabilidade na Construção Civil

Quadro 1 – Resumo das políticas públicas ambientais


Sustentabilidade na Construção Civil 25

Fonte: Stadler e Maioli (2012).

As ações ambientais não devem partir somente de órgãos públicos


ou privados, é fundamental que a população esteja em benefício do meio
ambiente. Ações bem simples, como economizar água e energia, diminuir
uso dos descartáveis, procurar comprar de empresas sustentáveis,
reutilizar produtos etc., podem fazer grande diferença para o meio
ambiente.

Quanto às práticas sociais, ainda é necessário muito amadurecimento


para o estabelecimento de objetivos e métricas. Infelizmente, os estudos
sobre questões sociais ainda são relativamente novos. Entretanto, a
sustentabilidade social é fundamental para o desenvolvimento, tendo em
vista que trata das condições básicas, como saúde, educação, segurança
e bem-estar.

Nesse âmbito, existe a ISO 26.000, norma regulamentadora


publicada em 1º de novembro de 2010, que trata do sistema de gestão da
responsabilidade social, que impõe a organizações diretrizes acerca do
26 Sustentabilidade na Construção Civil

trabalho infantil, saúde e segurança no trabalho, discriminação, igualdade


de gêneros, jornadas de trabalho etc.

A ISO 26.000 ainda dispõe sobre:

• Conceitos, termos e definições referentes à responsabilidade


social.

• Histórico, tendências e características da responsabilidade social.

• Princípios e práticas relativas à responsabilidade social.

• Os temas centrais e as questões referentes à responsabilidade


social.

• Integração, implementação e promoção de comportamento


socialmente responsável em toda a organização e por meio de
suas políticas e práticas dentro de sua esfera de influência.

• Identificação e engajamento de partes interessadas.

• Comunicação de compromissos, desempenho e outras


informações referentes à responsabilidade social.

Para que o desenvolvimento sustentável a partir do enfoque social


funcione de forma positiva, a sociedade tem uma grande contribuição,
tendo em vista que somente agir de forma ética faz grande diferença no
mundo, pois as práticas individuais acabam influenciando a comunidade
ao seu redor, seja de forma positiva ou negativa.

REFLITA:

É possível perceber que, para que as práticas supracitadas


funcionem em prol do desenvolvimento sustentável, é
necessário que órgãos governamentais, outros órgãos
públicos – por exemplo, igrejas – empresas privadas e
sociedade ajam em conjunto.
Sustentabilidade na Construção Civil 27

Relatório de Brundtland
O relatório de Brundtland é um documento que foi elaborado
na década de 1980, intitulado Nosso futuro comum. Foi elaborado pela
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que tinha
como chefe, na época, a primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem
Brundtland.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, assista ao vídeo


Gro Brundtland - uma das principais lideranças mundiais
nas áreas de meio ambiente e de saúde, que trata do
desenvolvimento sustentável e de como Gro Brundtland
– considerada uma grande influenciadora ambiental da
atualidade europeia – foi importante nesse processo,
clicando aqui.

A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento


começou os debates e estudos acerca do desenvolvimento sustentável
em 1983, que tinha como objetivo elaborar soluções e/ou propostas
ambientais.

Em 1987, saiu o resultado dessa comissão e foi publicado o


documento intitulado Nosso futuro comum, também conhecido como
relatório de Brundtland. Nesses três anos, foram ouvidos líderes de
governos de todo o mundo acerca de questões ambientais. Foram
realizadas reuniões em regiões desenvolvidas e não desenvolvidas,
possibilitando, assim, que vários pontos de vistas, de diferentes países e
situações, pudessem ser considerados para a elaboração das propostas
que estariam dispostas no relatório.

O relatório enfatiza que existe um problema no sistema de produção


linear, com relação aos recursos ambientais, buscando soluções para que
o sistema de produção se adeque ao desenvolvimento sustentável.

O relatório Brundtland apresentou algumas ações a serem tomadas


pelos governos, que você pode conferir a seguir.
28 Sustentabilidade na Construção Civil

1. Em âmbito nacional:

a. Limitar do crescimento populacional.

b. Garantia de alimentação em longo prazo.

c. Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas.

d. Diminuir o consumo de energia e promover o desenvolvimento de


tecnologias que admitam o uso de fontes energéticas renováveis.

e. Aumentar a produção industrial nos países não industrializados à


base de tecnologias ecologicamente adaptadas.

f. Controlar a urbanização selvagem e integração entre campo e


cidades menores.

1. Em âmbito internacional:

a. As organizações de desenvolvimento devem adaptar uma


estratégia de desenvolvimento sustentável.

b. A comunidade internacional deve proteger os ecossistemas


supranacionais como a Antártica, os oceanos e o espaço.

c. Que as guerras devem ser banidas e que a ONU deve implantar


um programa de desenvolvimento sustentável.

Foram evidenciadas também outras medidas para a implantação


de um programa que seja pelo menos minimamente compatível com o
desenvolvimento sustentável, quais sejam:

a. Uso de novos materiais na construção.

b. Reestruturação da distribuição de zonas residenciais e industriais.

c. Aproveitamento e consumo de fontes alternativas de energia,


como a solar, a eólica e a geotérmica.

d. Reciclagem de materiais reaproveitáveis.

e. Consumo racional de água e de alimentos.

f. Redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na


produção de alimentos.
Sustentabilidade na Construção Civil 29

Outro fator importante do qual o relatório de Brundtland trata é a


pobreza, admitindo que só existe desenvolvimento sustentável em locais
onde as necessidades básicas existenciais são supridas de forma positiva.
Assim, o relatório também estabelece metas nesse sentido, por exemplo:
em determinadas regiões que as necessidades básicas não são atendidas,
os governos devem encontrar formas de aumentar o desenvolvimento
econômico naquelas regiões.

The Global Goals (as metas globais)


Aconteceu em 15 de setembro de 2015, em Nova Iorque, uma
reunião elaborada pela Organizações das Nações Unidas (ONU) para a
definição de metas globais de desenvolvimento sustentável. Essas metas
foram elaboradas partindo das três premissas:

I – Combater a pobreza.

II – Diminuir a desigualdade social.

III – Combater as mudanças climáticas.

A partir dessas três premissas, foram criadas 17 metas globais,


conhecidas como Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com
o poder de criar um mundo melhor até 2030.

Atualmente, em 2020, o site oficial do The global goals considera que:


Já se passaram cinco anos e temos mais trabalho do
que nunca. Essas metas têm o poder de criar um mundo
melhor até 2030, acabando com a pobreza, lutando contra
a desigualdade e abordando a urgência das mudanças
climáticas. Guiados pelos objetivos, agora cabe a todos
nós, governos, empresas, sociedade civil e público em
geral trabalharmos juntos para construir um futuro melhor
para todos. (THE GLOBAL, 2021, on-line, tradução nossa)

Para o desenvolvimento dessas 17 metas, foi necessária a realização


de uma pesquisa com 7 milhões de pessoas, moradores de todo o mundo,
intitulada Meu mundo. Desse modo, as metas consideraram a realidade
de diversos povos e culturas.
30 Sustentabilidade na Construção Civil

Figura 4 – Objetivos de desenvolvimento sustentável

Fonte: Jesus (2018).

As 17 metas estão ligadas a seis subtemas: pobreza; saúde e


bem-estar; educação, habilidades e trabalho; um mundo seguro e justo;
sustentabilidade; e meio ambiente. Assim:

1. Erradicação pobreza – pobreza.

2. Fome zero – saúde e bem-estar.

3. Boa saúde e bem-estar – saúde e bem-estar.

4. Qualidade da educação – educação, habilidades e trabalho.

5. Igualdade de gêneros – um mundo seguro e justo.

6. Água limpa e saneamento básico – saúde e bem-estar.

7. Energias renováveis – sustentabilidade.

8. Bons salário e crescimento – educação, habilidades e trabalho.

9. Inovação e infraestrutura – sustentabilidade.

10. Diminuição das desigualdades – pobreza.

11. Cidades e comunidades sustentáveis – sustentabilidade.

12. Consumo responsável – sustentabilidade.


Sustentabilidade na Construção Civil 31

13. Proteger o planeta – meio ambiente.

14. Viver sob a água – meio ambiente.

15. Viver na terra – meio ambiente.

16. Justiça de paz – um mundo seguro e justo.

17. Parcerias para o objetivo – sustentabilidade.

Atingir os 17 DOS faz parte de um grupo muito maior de metas,


169, que buscam atingir 231 indicadores globais, todos voltados ao
desenvolvimento sustentável.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, assista ao vídeo


“We The People” for The Global Goals | Global Goals (“Nós,
o povo” para os objetivos globais | Metas Globais), em
que pessoas conhecidas de todo mundo se juntam para
divulgar e promover os objetivos em busca de um futuro
melhor para todos, clicando aqui.
32 Sustentabilidade na Construção Civil

RESUMINDO:

Chegamos ao fim de mais um capítulo! Você gostou do que


lhe mostramos? Aprendeu tudo que ensinamos? Agora, só
para termos certeza de que você realmente entendeu o
tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que
vimos. Primeiramente, você viu uma pequena introdução
sobre desenvolvimento sustentável, com definição e
objetivos. Continuando, viu as práticas sustentáveis
ambientais e sociais e aprendeu sobre o relatório de
Brundtland, conhecido como Nosso mundo comum, que
instituiu ações sustentáveis a serem realizadas. Por fim, foi
mostrado um dos assuntos mais importante da atualidade,
The Global Goals (as metas globais), que são 17 objetivos
globais, publicados em 2015, com o objetivo de transformar
o mundo em um planeta melhor até 2030. Depois de 5 anos
sendo colocados em prática, os objetivos já surtiram efeitos
significativos. Os assuntos abordados neste capítulo são de
suma importância para a sua vida profissional e pessoal, pois
as ações aqui estudadas podem ser colocadas em prática
nesse momento por você! E agora que você relembrou
tudo, vamos lá! Vamos continuar aprendendo como fazer
um planeta melhor!
Sustentabilidade na Construção Civil 33

Indicadores de sustentabilidade

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


como os indicadores ambientais são capazes de evidenciar
os resultados de uma instituição em termos ambientais,
sociais e econômicos. Aprenderá também sobre o Global
Reporting Initiative (GRI), organização internacional que
atua em empresas de todos os setores e tamanhos. Então,
vamos aprender como aplicar esse conteúdo em sua vida
profissional? Vamos seguir em frente!

História dos indicadores de sustentabilidade


Em 1972, foi publicado pela National Bureau of Economic Research
(NBER – Escritório Nacional de Pesquisa Econômica), um trabalho de 81
páginas escrito por William D. Nordhaus e James Tobin, intitulado Is growth
obsolete? (O crescimento está obsoleto?), no livro  Economic Research:
retrospect and prospect (Pesquisa econômica: retrospecto e perspectiva),
do National Bureau of Economic Research (NBER), dos Estados Unidos.

Levando em consideração somente o título da publicação, pode


surgir a dúvida: existe relação entre esse trabalho e a história dos
indicadores de sustentabilidade? De fato, o foco do registro concentrava-
se em torno de um desenvolvimento econômico de forma obsoleta nos
Estados Unidos.

No entanto, já na primeira página do documento, Nordhaus e Tobin


(1972) esclarecem:
Críticos desiludidos acusam tanto a ciência econômica
quanto a política econômica pela obediência cega ao
“progresso” material agregado e pela negligência de
seus custosos efeitos colaterais. O crescimento, afirmam,
distorce as prioridades nacionais, piora a distribuição de
renda e prejudica irreparavelmente o meio ambiente.
(NORDHAUS; TOBIN, 1972, p. 80, tradução nossa)
34 Sustentabilidade na Construção Civil

No documento, os autores explanaram o crescimento econômico de


uma forma tão ampla que adentraram nos impactos sociais e ambientais
que o crescimento causava e perceberam, então, que a forma como os
resultados desse crescimento eram calculados não incluía realmente
tudo que deveria, como o bem-estar, por exemplo.

Nesse contexto, foram sugeridos alguns métodos de cálculos para


o Produto Interno Bruto (PIB) e Produto Nacional Bruto (PNB), para que
esses considerassem bem-estar e desconsiderassem outras medidas,
chegando ao Measure of Economic Welfare (MEW – Medida de bem-estar
econômico), que depois se transformou em Measure of Economic Welfare-
Sustainable (MEW-S – Medida de bem-estar econômico sustentável),
embora não tenha nenhum indício de aspecto ambiental.

Dessa forma, esse estudo é considerado, por alguns autores, como


o precursor no estudo de indicadores de sustentabilidade.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, leia o trabalho


de William D. Nordhaus e James Tobin por completo
clicando aqui.

Entretanto, a primeira medida que considerou em seu cálculo


aspectos ambientais foi o Index of Sustainable Economic Welfare (ISEW
– Índice de bem-estar econômico sustentável), criado em 1989, por Daly
& Cobb Junior. O índice econômico tinha como objetivo substituir o PIB,
pois, além dos fatores econômicos, considerava custos de distribuição de
rendas, poluição e outros custos sustentáveis.

O ISEW tem como base a fórmula abaixo.

FÓRMULA: ISEW  =  consumo pessoal +  despesas públicas não


defensivas - despesas privadas defensivas + formação de capital + serviços
do trabalho doméstico - custos da degradação ambiental - depreciação
do capital natural.
Sustentabilidade na Construção Civil 35

Ele é considerado um dos índices mais importantes de contexto


histórico, utilizado para cálculo nestes dez países: Canadá, Alemanha,
Reino Unido, Escócia, Áustria, Holanda, Suécia, Chile, Itália, Austrália e
Tailândia.

No entanto, esses dois trabalhos eram indicadores econômicos


e não existia nenhuma medida de desempenho sustentável. Até que
Van Bellen, em sua tese de doutorado, publicada em 2002, abordou
os temas sustentabilidade e métodos de avaliação, por meio da
análise das principais ferramentas que pretendiam mensurar o grau de
sustentabilidade e desenvolvimento, a partir de três abordagens, as quais
você pode conferir abaixo.

I – O ecological footprint method, que aborda cinco categorias:

1. Alimentação.

2. Habitação.

3. Transporte.

4. Bens de consumo.

5. Serviços.

II – Dashboard of sustainability, que abrange os fatores:

1. Meio ambiente – por exemplo, qualidade da água, ar e solo, níveis


de lixo tóxico.

2. Economia – por exemplo, emprego, investimentos, produtividade,


distribuição de receitas, competitividade, inflação e utilização
eficiente de materiais e energia.

3. Sociedade – por exemplo, crime, saúde, pobreza, educação,


governança, gastos militares e cooperação internacional.

O dashboard of sustainability é resultado da agregação de diversos


itens, conforme podemos observar no Quadro 2.
36 Sustentabilidade na Construção Civil

Quadro 2 – Indicadores de fluxo e estoque do dashboard of sustainability

Fonte: Bellen (2002).


Sustentabilidade na Construção Civil 37

III – Barometer of sustainability, em que são calculados índices de


bem-estar social e da ecosfera. O índice de bem-estar do ecossistema
considera aspectos da água, terra, ar, biodiversidade e utilização dos
recursos. Já o índice de bem-estar humano considera o bem-estar
individual, saúde, educação, desemprego, pobreza, rendimentos, crime,
negócios e atividades humanas (BELLEN, 2002).

A partir dessas abordagens expostas por Van Bellen, diversos


outros autores começaram a estudar o tema. Ainda dentro desse
mundo de indicadores de sustentabilidade, um dos fatos históricos mais
significativos é a criação do Global Reporting Initiative (GRI), em 1997, um
relatório de sustentabilidade voltado à gestão de indicadores ambientais,
sociais e econômicos dentro de instituições.

O que são indicadores de sustentabilidade


Indicador é uma informação quantitativa ou qualitativa que serve
para medir o resultado ou desempenho de determinada situação,
acontecimento ou processo em termos de eficiência. Assim, indicador
significa calcular, apresentar ou estimar algo.

Já o indicador de sustentabilidade diz respeito aos meios de


mensurar e/ou apresentar a eficiência, ou seja, os resultados causados
ao meio ambiente e bem-estar social, em decorrência das práticas
ambientais e sociais desenvolvidas por instituições públicas ou privadas.

Sistema de indicadores nacional


Existe um sistema nacional de medição de indicadores de
sustentabilidade, o Sistema de Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável (SIDS), publicado em 2000, que considera quatro categorias:

I. Indicadores ambientais.

II. Indicadores econômicos (micro e macro).

III. Indicadores sociais.

IV. Indicadores institucionais (que trata do funcionamento de


instituições do terceiro setor).
38 Sustentabilidade na Construção Civil

Esse sistema criou um modelo de mensuração, o PER  =  Pressão-


Estado-Resposta.

Os indicadores de pressão são calculados a partir de indicadores


de emissão de poluentes, eficiência energética, impacto ambiental e
intervenção territorial, medindo a pressão causada ao meio ambiente.

Os indicadores que representam o Estado são auferidos por meio da


sensibilidade, risco e qualidade ambiental de determinadas localidades. A
partir desses indicadores, é possível mensurar a qualidade do ambiente.

Já os indicadores de resposta dizem respeito à percepção da


sociedade com relação à degradação ambiental. Nesse indicador, podem
ser verificados itens de ações ambientais realizadas pela sociedade ou o
grau de aceitação da sociedade a ações impostas por grupos.

Indicadores de sustentabilidade econômica


Quando se fala em empresa economicamente sustentável, implica
dizer que a empresa consegue oferecer seus produtos ou serviços a
preços justos quando comparados aos concorrentes, sendo capaz de
manter uma vantagem competitiva.

Os indicadores de desempenho econômico devem ser capazes


de medir o valor de mercado da organização e lucratividade. Medir o
valor de mercado da organização é possível por meio de indicadores,
tais como: totais de ativos da empresa ou capitalização de mercado, que
corresponde ao valor total de ações de acordo com o preço delas no
mercado naquele momento.

A lucratividade pode ser auferida por meio de indicadores de


retorno, como: o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), que permite
averiguar quanto a empresa pode gerar de retorno utilizando os recursos
próprios; Retorno Operacional sobre o Ativo (ROA), que permite calcular
a eficiência da empresa de gerar lucro a partir de seus ativos; e Retorno
sobre o Investimento (ROI), que calcula a taxa de retorno ou lucratividade
em relação ao montante de valor investido.
Sustentabilidade na Construção Civil 39

IMPORTANTE:

Vale salientar que, para que uma instituição seja


economicamente sustentável, ela deve obrigatoriamente
atrelar a sustentabilidade econômica à eficiência ambiental
e social.

Indicadores de sustentabilidade social


Indicadores sociais permitem avaliar o desenvolvimento social por
meio de índices como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). No
entanto, os indicadores de sustentabilidade social dizem respeito aos
impactos que as instituições estão causando à sociedade e quais práticas
estão sendo adotadas para amenizar os danos.

EXEMPLO: grandes empresas dispõem de ações para


empreendedorismo negro ou empoderamento feminino com
fornecimento de bolsas de estudos na busca por inclusão. Os indicadores,
nesse caso, servem para apresentar os resultados desse projeto, para a
medição da eficiência e eficácia do projeto.

Indicadores de sustentabilidade ambiental


Os indicadores de sustentabilidade ambiental servem para medir
e evidenciar os impactos causados ao meio ambiente pela prática da
operacionalidade normal de uma instituição. Existem indicadores que
também servem para evidenciar quais ações ou boas práticas as empresas
estão tomando para amenizar esses impactos ambientais.

Segundo o Ministério do Meio do Ambiente (MMA), “indicadores


ambientais são estatísticos selecionadas que representam ou resumem
alguns aspectos do estado do meio ambiente, dos recursos naturais e de
atividades humanas relacionadas” (INDICADORES, 2021, on-line).

Com o objetivo de apoiar os Objetivos de Desenvolvimento


Sustentável (ODS), o MMA desenvolveu alguns indicadores, quais sejam:
40 Sustentabilidade na Construção Civil

• Área de floresta pública com uso comunitário.

• Área de florestas públicas.

• Área de florestas públicas federais sob concessão florestal.

• Cobertura do território brasileiro com diretrizes de uso e ocupação


em bases sustentáveis, definidas por meio de iniciativas de
Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE).

• Concentração de Dióxido de Nitrogênio (NO2), na Região


Metropolitana de São Paulo.

• Concentração de Material Particulado com Diâmetro Menor que 10


micrômetros (MP10), na Região Metropolitana (RM) de São Paulo.

• Destinação adequada de pneus inservíveis no Brasil.

• Espécies da fauna ameaçadas de extinção com planos de ação


nacional para conservação das espécies ameaçadas de extinção.

• Espécies da flora ameaçadas de extinção.

• Espécies da flora ameaçadas de extinção com planos de ação


para recuperação e conservação.

• Índice de efetividade de gestão das unidades de conservação


federais.

• Número de ações de fiscalização executadas nas unidades de


conservação federais.

• Número de conselhos gestores de unidades de conservação


criados na esfera federal.

• Percentual de alcance da meta estabelecida de coleta de óleos


lubrificantes usados ou contaminados no Brasil.

• Percentual de espécies da fauna/flora ameaçadas de extinção


com planos de ação ou outros instrumentos para recuperação e
conservação.

• Percentual do território brasileiro abrangido por unidades de


conservação.
Sustentabilidade na Construção Civil 41

• Proporção da área marinha brasileira coberta por unidades de


conservação da natureza.

• Quantidade de agrotóxico comercializado por classe de


periculosidade ambiental.

• Reservação de água doce.

• Número de participantes alcançados por ações e iniciativas


de informação e formação com conteúdo de desenvolvimento
sustentável.

• Consumo de substâncias que destroem a camada de ozônio.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o site do


Ministério do Meio Ambiente e verifique individualmente
cada indicador, observando a descrição, relevância,
objetivo alinhado aos ODS e resultados clicando aqui.

Global Reporting Initiative (GRI)


Quando se fala na definição de sustentabilidade empresarial,
pensamos logo que é o resultado de uma organização avaliada a partir de
aspectos ambientais, sociais e econômico, mas como esses resultados
podem ser avaliados? E como as sociedades e stakeholders ficam sabendo
desses resultados? Além desses fatos, imagine que alguém queira fazer
uma comparação entre duas empresas para aferir qual é mais sustentável.
Como é possível saber se A ou B é mais sustentável se elas não tiverem o
mesmo parâmetro de medida?

A análise uma organização acerca de seus resultados sustentáveis


torna-se muito difícil se não existir uma métrica específica. Ainda, a
comparação com relação a outras organizações, sejam do mesmo
segmento ou não, torna-se praticamente impossível. Assim, o Global
Reporting Initiative (GRI) existe para tentar resolver esse obstáculo.
42 Sustentabilidade na Construção Civil

O Global Reporting Initiative foi criado em 1997 por ambientalistas e


tinha como objetivo criar meios para que as empresas pudessem divulgar
os impactos que causavam ao meio ambiente. A primeira versão de um
relatório padrão foi publicada somente em 2000 com as diretrizes GRI (G1).
Em 2001, virou uma instituição sem fins lucrativos. Com o passar dos anos,
as diretrizes foram aprimoradas, criando-se as diretrizes G2, em 2002; G3,
em 2006; e G4, em 2013, que são utilizadas até hoje.

Atualmente, a GRI tem como objetivo ajudar na elaboração de


relatórios padronizados com aspectos ambientais, sociais e econômicos,
evidenciando informações relevantes e fidedignas acerca dos aspectos
supracitados.

Por meio do GRI, é possível averiguar e avaliar indicadores de


sustentabilidade em empresas de qualquer área de atuação e/ou
tamanho. No relatório com base no GRI, os indicadores representam
as práticas empresariais adotadas. Segundo as diretrizes do GRI, é
fundamental a aplicação de princípios que servem para a definição do
conteúdo do relatório e da qualidade do relatório.
Quadro 3 – Princípios para definição dos relatórios

Fonte: GRI 101 (2016).

Cada princípio exposto no quadro acima deve ser analisado de


forma individual, contendo características específicas que servem para
garantir a alta qualidade do relatório.
Sustentabilidade na Construção Civil 43

RESUMINDO:

Estamos chegando ao final. No penúltimo capítulo, você


aprendeu como os indicadores de sustentabilidade
surgiram, os eventos e a criação de relatórios e autores
que falaram acerca do assunto. Depois de aprender o
contexto histórico dos indicadores, você pôde ver que
eles servem para medir o resultado ou desempenho de
determinada situação, acontecimento ou processo em
termos de eficiência. Assim indicador significa calcular,
apresentar ou estimar algo. No entanto, vimos que se não
existissem métricas padrões, a análise desses indicadores
seria praticamente impossível. Então, aprendeu que existe
o Global Reporting Initiative (GRI), instituição internacional
que desenvolveu um método padrão de análise do
desempenho sustentável por meio de indicadores de
sustentabilidade. O modelo se tornou conhecido em todo
mundo e pode ser utilizado por empresas de diversos
setores e tamanhos. Agora que você relembrou tudo o que
foi estudado neste capítulo, vamos a mais um assunto para
finalizar a unidade.
44 Sustentabilidade na Construção Civil

Conferência Rio+20
Objetivo: Chegamos ao último capítulo. Nesta competência, você
aprenderá sobre eventos que foram marcantes para o desenvolvimento
sustentável. No primeiro tópico, aprenderá o que foi a Eco-92, Declaração
da Terra e Agenda 21. No segundo tópico, verá sobre a Rio+10 e Declaração
de Joanesburgo. Por fim, aprenderá sobre a Rio+20 e como esses eventos
impactaram a atualidade. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então, vamos lá. Avante!

Eco-92
A primeira conferência das Nações Unidas sobre o desenvolvimento
sustentável, que ocorreu em junho de 1992, no Rio de Janeiro, ficou mais
conhecida como Eco-92, mas também pode ser chamada de Rio-92 ou
Cúpula da Terra.

A Eco-92 tinha como objetivo ressaltar a ideia de desenvolvimento


sustentável, explicando que, com base na utilização de recursos naturais
de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, o planeta não teria
recursos naturais suficientes para suprir a demanda caso todos os
países começassem a utilizar esses recursos como se fossem países
desenvolvidos.

Na conferência, 179 chefes de governos debateram como podiam


alinhar seus planos de governos com os objetivos sustentáveis, para
prevenção e mantimento do meio ambiente a longo prazo. No entanto, a
conferência contou com a participação de em torno 30 mil pessoas, que
discutiam sobre problemas ambientais, suas consequências e metas para
serem realizadas.

Essa conferência tomou uma proporção tão grande no mundo que,


a partir dela, foram criadas duas conferências: uma sobre biodiversidade
e outra sobre mudanças climáticas. Além disso, em paralelo, ONGs
realizaram o fórum global e aprovaram um documento chamado Carta
da Terra.
Sustentabilidade na Construção Civil 45

Entretanto, o resultado considerado o mais importante da Eco-92


foi a aprovação da Agenda 21, documento que serve como guia para os
países, evidenciando a importância da participação deles nos planos de
ações.

Agenda 21
A Agenda 21 é um documento que tem como objetivo criar um
plano para que os países entendam a importância de criar soluções
sustentáveis e, a partir de então, sejam capazes de elaborar suas próprias
soluções, considerando cada região específica, situação climática,
situação econômica e outros fatores determinantes que podem influenciar
os resultados dessas ações.

Assim, a Agenda 21 serve como manual ou guia, estabelecendo


metas-bases para o alcance do desenvolvimento sustentável, com base
em quatro pilares:

I. Dimensões sociais e econômicas – nas quais são desenvolvidas


estratégias de políticas públicas para garantia do bem-estar social
com condições básicas de sobrevivência.

II. Conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento


– gestão de recursos e resíduos que possam degradar o meio
ambiente. Nesse pilar, são tratadas formas de gerir esses recursos
de forma que não venha prejudicar o meio ambiente.

III. Fortalecimento do papel dos principais grupos sociais – deve ser


levado em consideração pessoas de diversos grupos sociais, para
fortalecimento dos grupos sociais mais relevantes, incluindo essas
pessoas no processo decisório.

IV. Meios de implementação – buscar meios de implementação dos


projetos sustentáveis, sejam meios financeiros ou jurídicos.

A Agenda 21 foi elaborada com base nos conceitos de


desenvolvimento sustentável. Alinhado a esses conceitos, a Agenda 21
incumbe seis premissas básicas:
46 Sustentabilidade na Construção Civil

I. Cooperação e parceria – a Agenda 21 expõe, de forma clara e


consistente, a importância entre parceria e cooperação, seja entre
países, entre a sociedade ou entre sociedade e governo, para que
o desenvolvimento sustentável flua de forma coerente.

II. Educação e desenvolvimento individual – educação e


desenvolvimento são colocados como fatores primordiais para
o desenvolvimento. Assim, o documento explicita a necessidade
de criação de projetos educacionais que envolvam toda a
comunidade, garantindo o aprendizado e evolução individual de
todos.

III. Equidade e fortalecimento dos grupos socialmente vulneráveis –


garantir equidade para os grupos mais vulneráveis em aspectos
sociais, como negros, crianças, mulheres, idosos, indígenas,
LGBTQ+, entre outros grupos em situação de desvantagem. Vale
salientar que garantir equidade não significa igualdade de direitos,
mas garantir condições específicas para que as diferenças entre
esses grupos sejam menos visíveis.

IV. Planejamento – planejamento é importante em qualquer situação


e para o desenvolvimento sustentável não é diferente. É necessária
a definição de metas, objetivos e meios de realização, bem como
prazos para cumprimentos das metas.

V. Desenvolvimento da capacidade institucional – a Agenda 21 cita o


capacity building, que significa capacitação, ou seja, capacitação
dos recursos humanos de instituições governamentais e não
governamentais, a fim de que essas pessoas se tornem adaptáveis
às novas situações.

VI. Informação – só é possível avaliar resultados ou tomar decisões a


partir de informações. Por isso, a Agenda 21 enfatiza a necessidade
de que organizações devem disponibilizar informações acerca
dos impactos ambientais por meio de banco de dados. Além
disso, reuniões devem ser realizadas com constância para o
compartilhamento dessas informações.
Sustentabilidade na Construção Civil 47

Carta da Terra
A Carta da Terra é um documento que começou a tomar forma em
1992, em um evento paralelo à Eco-92, quando se criou o documento-
base, mas foi somente em 2000 que o documento foi publicado na
Holanda.

A Carta da Terra é um documento que evidencia princípios éticos,


na busca por um mundo mais sustentável e justo para todos. Ao total, são
16 princípios, dividido em quatro grupos.

I - Respeitar e cuidar da comunidade de vida:

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e


amor.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas,


sustentáveis e pacíficas.

4. Assegurar a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e às


futuras gerações.

II – Integridade ecológica:

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos


da Terra, com especial atenção à diversidade biológica e aos
processos naturais que sustentam a vida.

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção


ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma
postura de precaução.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam


as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o
bem-estar comunitário.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover o


intercâmbio aberto e aplicação ampla do conhecimento adquirido.
48 Sustentabilidade na Construção Civil

III – Justiça social econômica:

9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.

10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os


níveis promovam o desenvolvimento humano de forma equitativa
e sustentável.

11. Afirmar a igualdade e a equidade dos gêneros como pré-requisitos


para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso
universal à educação, à assistência de saúde e às oportunidades
econômicas.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um


ambiente natural e social capaz de assegurar a dignidade humana,
a saúde corporal e o bem-estar espiritual, com especial atenção
aos direitos dos povos indígenas e minorias.

IV – Democracia, não violência e paz:

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e


prover transparência e responsabilização no exercício do governo,
participação inclusiva na tomada de decisões e acesso à justiça.

14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida,


os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um
modo de vida sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar mais no assunto e conhecer


mais sobre a Carta da Terra, acesse o site A carta da Terra
em ação: a iniciativa da carta da Terra – Brasil clicando aqui.
Sustentabilidade na Construção Civil 49

Rio+10
A Eco-92 foi tão importante que o tema começou ser difundido
em outros eventos, como Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável, em 26 de agosto a 4 de setembro de 2002, em Joanesburgo,
na África do Sul, também conhecida como Rio+10, porque aconteceu dez
anos após à Rio-92.

A conferência tinha como objetivo avaliar e debater formas de


melhorar as metas e compromissos estabelecidos na Rio-92, mas foi além
dos temas debatidos na conferência anterior, incluindo aspectos sociais e
qualidade de vida nas discussões.

Declaração de Joanesburgo
Durante a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável
(Rio+10), foi publicado um documento, conhecido como Declaração
de Joanesburgo, em que os países participantes reafirmaram seus
compromissos assumidos na ECO-92 com o desenvolvimento sustentável,
corroborando com o cumprimento da Agenda 21, buscando metas de
implementação dela. Ainda, foram além, acrescentando os 17 objetivos
do The global goals ao acordo.
6. Nesse continente, berço da humanidade, declaramos,
por meio do Plano de Implementação da Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável e da presente
Declaração, nossa responsabilidade para com os outros, a
comunidade maior da vida e as nossas crianças.

7. Reconhecendo que a humanidade se encontra numa


encruzilhada, nos unimos em decisão comum, a fim
de realizar um esforço determinado para responder
afirmativamente à necessidade de apresentar um plano
prático e visível, que leve à erradicação da pobreza e ao
desenvolvimento humano. (DECLARAÇÃO, 2002, p. 1)

Conforme pode ser observado nos dois trechos retirados da


declaração, o plano buscava estabelecer planos de ações para a
implantação das práticas de desenvolvimento. Tal objetivo pode ser
observado no documento, que foi dividido em seis partes:
50 Sustentabilidade na Construção Civil

I. Das origens ao futuro.

II. De Estocolmo ao Rio de Janeiro a Joanesburgo.

III. Os desafios que enfrentamos.

IV. Nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável.

V. O multilateralismo é o futuro.

VI. Fazendo acontecer. 

Rio+20
A Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
Sustentável (CNUDS), também conhecida como Rio+20, foi realizada 20
anos depois da Eco-92, também no Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho
de 2012, com participações de 193 Estados-membros da ONU e outros
milhares de participantes, divididos em: sociedade civil internacional,
indivíduos e voluntariado.

Para a realização dos debates, foi criada uma pergunta básica:


“se você pudesse construir o futuro, o que você gostaria de fazer?”. A
conferência pode ser dividida em dois temas principais: a economia verde
no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza;
e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

I – A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável


e da erradicação da pobreza: a economia verde é uma ferramenta que
serve para redução de danos ambientais e prevenção ambiental, ligada
à igualdade social e bem-estar. Na conferência, foi abordado o tema
focando o desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza, com
programas elaborados para atender à realidade das diferentes regiões.

II – Estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável:


foram realizados debates em busca de melhoramento da estrutura
institucional das instituições do sistema ONU que se dedicam aos três
pilares do desenvolvimento sustentável, para que os programas que se
dedicam ao estudo desses pilares possam agir em conjunto. Assim, foram
sugeridas alterações em algumas organizações, como a Comissão sobre
Sustentabilidade na Construção Civil 51

Desenvolvimento Sustentável (CDS) e Programa das Nações Unidas para


o Meio Ambiente (PNUMA).

Além desses dois temas principais, também foi debatido o balanço


das mudanças e feitos realizados nos últimos 20 anos, entre a Eco-92
e Rio+20, em termos de desenvolvimento ambiental; economia verde,
seus objetivos e importância do tema para a sociedade; erradicação da
pobreza; e práticas públicas de desenvolvimento sustentável.

SAIBA MAIS:

O resumo da Conferência das Nações Unidades sobre o


Desenvolvimento Sustentável – Rio+20 pode ser vista no
site da própria conferência clicando aqui.
52 Sustentabilidade na Construção Civil

RESUMINDO:

Chegamos ao fim do último capítulo. E aí? Gostou do


que aprendeu? Então, que tal relembrarmos de tudo
que você aprendeu nesta competência só para termos
certeza que você vai finalizar a unidade sabendo de
tudo? Nesta competência, você aprendeu sobre as
conferências mais importantes para o desenvolvimento
sustentável. A Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como
Cúpula da Terra, Eco-92 ou Rio-92, aconteceu em junho de
1992, no Rio de Janeiro, e tinha como objetivo ressaltar a
ideia de desenvolvimento sustentável. Seu maior feito foi
a Agenda 21, documento que definiu metas e ações para
o desenvolvimento sustentável. Durante essa conferência,
em eventos paralelos, também foi criada a Carta da Terra,
documento que evidencia princípios éticos, na busca por
um mundo mais sustentável e justo para todos. Dez anos
depois, aconteceu em Joanesburgo, na África, a Rio+10,
que tinha como objetivo reafirmar os objetivos da Eco-92.
Nesse evento, foi elaborada a Declaração de Joanesburgo,
que explicou meios de implementação dos objetivos
sustentáveis. Vinte anos depois da Eco-92, aconteceu,
também no Rio de Janeiro, em 2012, a Rio+20, colocando
em evidência o questionamento “se você pudesse construir
o futuro, o que você gostaria de fazer?”, debatendo
os seguintes temas: a economia verde no contexto
do desenvolvimento sustentável e da erradicação da
pobreza; e a estrutura institucional para o desenvolvimento
sustentável. E então? Gostou do que aprendeu? Espero que
tenha gostado. Até a próxima!
Sustentabilidade na Construção Civil 53

REFERÊNCIAS
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da Terra – Brasil, [2021]. Disponível em: http://www.cartadaterrabrasil.
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