Você está na página 1de 50

SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Unidade II
5 FATORES RELACIONADOS À ÁGUA, À ENERGIA E AO AR QUE INTERFEREM
NO MEIO AMBIENTE E NA SAÚDE HUMANA

Abordaremos de forma geral os fatores que estão estreitamente relacionados com o prejuízo do
meio ambiente e, consequentemente, da vida humana.

Convidamos você a ter a seguinte reflexão: por melhor que seja a condição de vida das pessoas,
faz parte do cotidiano delas conviver com a saúde, a doença e a morte, pois, mesmo com todo o
avanço e desenvolvimento tecnológicos para aumentar a qualidade de vida, ainda existem fatores
responsáveis por causar doenças e que são independentes das ações da comunidade ou dos serviços de
saúde, como os fatores genéticos. Como nós profissionais e (também) cidadãos podemos lidar com isso?
Aos profissionais da saúde, cabem a prevenção, a promoção e o tratamento adequado dos indivíduos
acometidos por essa causa, enquanto que aos cidadãos cabe o comprometimento e cumprimento das
ações, além do compartilhamento das informações recebidas acerca da temática.

Quando passamos a compreender que o território vai além das propriedades geofísicas e que
diversos motivos, como mudanças climáticas, uso abusivo de recursos naturais, forma de organização
das grandes cidades, produção e consumo de energia, descarte de resíduos de forma inadequada, má
utilização do solo, uso de agrotóxicos, falta de planejamento dos grandes centros das cidades, poluição
visual, sonora e do ar, falta de processos de reciclagem dos resíduos e tantos outros, contribuem para
o desencadeamento da doença, podemos começar a construir alternativas para todos esses fatores a
fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Para isso, é extremamente importante que aconteça
uma inter-relação de diferentes setores do MS para uma efetiva prevenção e controle dos riscos que
todos esses fatores impõem à vida dos cidadãos. São esses setores: a Vigilância Sanitária, a Vigilância
Epidemiológica e a Saúde do Trabalhador.

Lembrete

Diversos fatores, como mudanças climáticas, uso abusivo de recursos


naturais, forma de organização das grandes cidades, produção e consumo
de energia, descarte de resíduos de forma inadequada, má utilização do
solo, uso de agrotóxicos, falta de planejamento dos grandes centros das
cidades, poluição visual, sonora e do ar, falta de processos de reciclagem dos
resíduos, dentre outros, contribuem para o desencadeamento da doença.

O Canadá, em 1980, criou um termo chamado “cidade saudável”, que norteia, ainda nos dias
atuais, todas as ações de saúde realizadas pela OMS. Assim, para que uma cidade seja considerada
33
Unidade II

saudável, necessita ser uma comunidade forte, solidária e constituída de bases de justiça social, tendo
grande participação da população nas ações e decisões no âmbito da saúde; deve haver um ambiente
favorável à qualidade de vida e saúde, limpo e seguro, satisfazendo as necessidades básicas dos cidadãos
(alimentação, moradia, trabalho, acesso a serviços de qualidade em saúde, educação e assistência social),
com uma vida cultural ativa e uma economia forte, diversificada e inovadora. Considerando todos esses
aspectos, quando pensamos em saúde e comunidade saudável, precisamos pensar na qualidade da água
e do ar, no consumo, nas fontes de energia e no estilo de vida.

Uma vez que a água, a energia e o ar são fatores determinantes para a sobrevivência, a manutenção
adequada desses elementos é essencial para a qualidade de vida do indivíduo e da comunidade. Na
era primitiva, tais recursos não custavam absolutamente nada (em termos de moeda financeira),
mas isso foi se modificando ao longo do tempo e do crescimento populacional. Para compreender
a importância desses fatores sobre o meio ambiente e a vida das pessoas, os abordaremos de forma
abrangente e descreveremos com detalhes as melhorias que podemos realizar em prol do meio ambiente
e, consequentemente, da qualidade de vida das pessoas.

A princípio falaremos da água, pois a ocorrência de diversas doenças está estreitamente ligada à
sua qualidade e à sua quantidade ofertada para a população, o que indica a sua importância na saúde
das pessoas.

Podemos começar destacando a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico no Brasil, realizada


pelo IBGE (2008), a qual apontou que cerca de 99,4% dos 5.531 municípios brasileiros apresentam
abastecimento de água por rede geral, sendo que o Sudeste, desde o ano 2000, é a única região do País
que possui, em todos os seus municípios, rede de abastecimento de água.

Saiba mais

Para obter mais detalhes dessa pesquisa, visite o site disponível em:

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa


nacional de saneamento básico 2008. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível
em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/
pnsb2008/>. Acesso em: 14 nov. 2016.

Vamos refletir um pouco: qual a importância de estudarmos os nossos recursos hídricos? A água para
consumo sempre esteve disponível, mas sempre estará? Qual o grau de conscientização que possuímos a
respeito dessa substância essencial à vida? Responderemos tais perguntas na sequência.

Primeiramente, conforme já foi dito, a água para o abastecimento público é uma crescente preocupação
para a humanidade, tanto em qualidade como em quantidade. O estilo de vida e o desenvolvimento
das atividades humanas vêm, durante séculos, causando alterações significativas no meio ambiente,
influenciando a disponibilidade de uma diversidade de recursos naturais, inclusive a da água.
34
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Podemos dizer que a disponibilidade do nosso mais valioso recurso hídrico se encaixa em um
estado de alerta máximo. Processos crescentes de desmatamento, assoreamento, produção agrícola e
lançamento de detritos industriais e domésticos não têm levado em conta a capacidade de suporte da
natureza e, dessa forma, tem gerado sérias consequências à saúde pública.

Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o planeta é


composto por ¾ de água e ¼ de continente. Como demonstra a figura a seguir, a maior proporção desse
contingente de água se encontra nos mares e oceanos (97,5%), ou seja, são águas salobras. O restante
da porcentagem (2,5%) é de água doce, considerada apropriada ao consumo humano. A água doce está
distribuída diferencialmente no planeta em geleiras e icebergs (68,9%), em leitos subterrâneos (29,9%),
e em rios e lagos ou outros locais, como reservatórios ou açudes (1,2%) (2011).
A B
Água doce
(2,5%)
Leitos
subterrâneos
(29,9%)

Rios, lagos e
outros locais
(1,2%)
Oceanos
(97,5%)

Geleiras e
icebergs
(68,9%)

Figura 9 – Distribuição de água no planeta

O abastecimento de água para a crescente taxa populacional e o desenvolvimento de atividades


econômicas somente são possíveis pela coleta de recursos hídricos de mananciais, que são reservas
hídricas, fontes de água doce para o abastecimento público, doméstico, industrial e comercial que podem
ser encontrados na superfície (córregos, rios, lagoas, ribeirões, reservatórios e represas) ou em camadas
subterrâneas (lençóis freáticos, poços rasos ou profundos, galerias e aproveitamento de nascentes).
Nesse ponto pode ser destacada a necessidade de proteger a nascente dos rios contra o desmatamento
e o assoreamento de seus leitos, a ocupação humana desordenada sem sistema de tratamento de esgoto
e a falta de planejamento da construção de barreiras e hidroelétricas em toda a bacia hidrográfica, pois
dependemos dessas fontes para a obtenção de água potável.

O perfil histórico da utilização da água como origem de vida é bem interessante. Se observarmos a
história, veremos que, desde a Antiguidade, as grandes cidades se desenvolveram em torno de mananciais.
São exemplos a Mesopotâmia, que está entre os rios Tigre e Eufrates, o Antigo Egito, que se encontra
próximo ao Rio Nilo e, com atenção especial, os romanos, que desenvolveram até sistemas de captação – os
35
Unidade II

aquedutos – para essa água. O abastecimento de água era feito “águas acima ou a montante” e a liberação
dos dejetos era realizada “águas abaixo ou a jusante” do mesmo rio. Infelizmente, podemos perceber que,
independentemente da época, existe uma falta de cuidado com esse bem tão valioso, uma vez que, ainda
nos dias atuais, observamos que a fonte de coleta de água ainda é a mesma fonte de despejos.

Saiba mais

Recentemente, a ciência descobriu a conscientização romana quanto


à higienização. Para conhecer mais a respeito, sugerimos que leia a
reportagem a seguir:

KENNEDY, D. Esgoto de cidade soterrada revela segredos sobre Roma


Antiga. Agência BBC Brasil. Cultura. 16 jun. 2011. Disponível em: <http://
www.bbc.co.uk/portuguese/cultura/2011/06/110616_esgoto_roma_
mv.shtml>. Acesso em: 14 nov. 2016.

Exemplo de aplicação

Além de aquedutos, Roma também possuía rede de coleta de esgoto. Reflita: por que essa preocupação
com os excrementos se perdeu ao longo da história?

Para que possamos entender melhor a importância da água na vida dos seres humanos, deixaremos
a história um pouco de lado e nos concentraremos nas suas principais propriedades e características.

A porcentagem de água no organismo humano é de aproximadamente 70% em um indivíduo adulto


pesando 70 kg. Em alguns seres marinhos, como as medusas, essa porcentagem é de aproximadamente
95%, o que indica a importância dessa substância para todos os seres vivos.

A água também pode ser representada por sua fórmula molecular (H2O), composta de dois átomos de
hidrogênio e um átomo de oxigênio, formando um ângulo de 104,5º. Por conter essa forma estrutural,
as moléculas de água se atraem umas pelas outras e se interligam por conexões fortes, denominadas
pontes de hidrogênio. Muitas das propriedades que conheceremos derivam dessa disposição estrutural
da molécula de água, sendo que algumas características podem ser utilizadas em conjunto, servindo
como indicadores de qualidade.

A água é abundante na maior parte da superfície terrestre e pode ser encontrada nos três estados
da matéria (sólido, líquido e gasoso) em temperaturas e pressões normais da superfície do globo
terrestre. Somente a água, o mercúrio e o petróleo são encontrados em estado líquido na natureza,
mas o mercúrio é um metal extremamente raro, e o petróleo necessita de condições especiais para sua
ocorrência (aprisionado entre rochas impermeáveis devido ao seu caráter volátil), diferentemente do
que acontece com a água.

36
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

A água possui diversas propriedades e características. Inicialmente, falaremos de suas propriedades,


que são:

• térmica (calor específico): a temperatura da água muda lentamente, o que significa que grandes
quantidades de calor terão de ser empregadas para que uma massa de água sofra pequenas
elevações de temperatura. Muitas vezes não percebemos o quanto isso é benéfico para a vida, mas
as grandes massas de água, como rios e oceanos, amenizam a temperatura global por absorver
grande quantidade do calor advinda dos raios solares;

• densidade: a água diminui sua densidade à medida que congela; por isso, o gelo flutua sobre
o líquido. A densidade da água é maior que a do ar mesmo em temperaturas muito baixas, e é
por isso que a superfície de um lago pode congelar enquanto seu interior permanece em estado
líquido, garantindo a vida no ambiente aquático;

• viscosidade e tensão superficial: a água possui alta viscosidade, sendo por isso que diminui a
velocidade dos movimentos, como acontece conosco quando estamos em uma piscina. Além
disso, a ligação entre suas moléculas apresenta uma característica denominada tensão superficial,
a qual é capaz de formar uma película na superfície de um lago, por exemplo. É essa tensão que
permite a pequenos insetos flutuarem em um lago. Os detergentes são substâncias que possuem
a propriedade de romper a rigidez da película de tensão superficial;

• dissolução: a água é um solvente e diluente universal. Possui capacidade de dissolver substâncias


inorgânicas (por exemplo, minerais) e orgânicas (de origem animal ou vegetal), além dos sólidos
e gases, tornando-os acessíveis aos sistemas vivos e proporcionando um meio no qual possam
reagir e formar novos compostos.

Como dito, para abordarmos todos os assuntos a respeito da água, precisamos destacar que ela
possui propriedades (já citadas), mas também características que devem ser discutidas. Conforme os
parâmetros do MS, a avaliação da qualidade de um copo de água destinado à captação (utilização dessa
água pelo ser humano) deve ser realizada de forma integrada, considerando o conjunto de informações
de caráter físico, químico e biológico, reforçando as informações anteriores. Iniciaremos esse assunto
com algumas perguntas:

Quem nunca ouviu dizer que a água deve ser incolor, insípida e inodora? Você sabia que essas são
características físicas da água? Elas refletem principalmente a aparência da amostra. Dentre as quais,
podem ser analisadas:

• temperatura: no Brasil, os ambientes aquáticos estão na faixa de 20º a 30ºC. No Sul, durante o
inverno, essa temperatura chega a 5ºC, podendo congelar a água. No entanto, para o consumo
humano, as temperaturas elevadas são rejeitadas. Devido a esse fator, as águas subterrâneas,
captadas em grandes profundidades, necessitam de unidades de resfriamento para adequar as
condições de abastecimento;

• cor, sabor e odor: a determinação da cor reflete a existência de materiais dissolvidos; portanto,
se torna um parâmetro de análise. Essa é feita por meio de comparação com uma amostra de
37
Unidade II

platina-cobalto e o resultado é fornecido em “uH” (unidade Hazen). As águas naturais possuem


um padrão de cor na escala entre 0 e 200 uH – e para ser considerada potável, ela deve apresentar
cor inferior a 5 uH. Já o sabor e o odor estão correlacionados com a presença de substâncias
químicas, gases dissolvidos e microrganismos, como algas;

• turbidez: mede o grau de interferência à passagem da luz através do líquido. A turbidez é


medida em unidades Jackson e a presença de materiais em suspensão pode alterar essa medida.
Grande parte dos rios brasileiros possui águas turvas devido às características geológicas do
terreno, e a turbidez da água encontrada nesses locais está entre 3 e 500 unidades Jackson.
Já em represas e lagos, onde a velocidade de escoamento é menor, as partículas que estavam
suspensas acabam sedimentando e a turbidez da água fica menor. Para ser considerada potável,
a água deve apresentar uma turbidez com taxa inferior a 1 unidade de Jackson. Além disso, a
presença de sólidos pode ocorrer de forma natural, por meio de processos erosivos, por detritos
orgânicos ou, ainda, por forma antropogênica, ou seja, forma influenciada pelo ser humano,
que lança lixo e esgotos a essa fonte de água, diminuindo a sua potabilidade – uma vez que o
padrão de potabilidade é referido ao limite de 1000 mg/L (miligramas de sólidos em suspensão
por litro de água);

• condutividade elétrica: é a capacidade de transmitir corrente elétrica, e será maior quanto maior
for a concentração iônica no corpo de água. A condutividade será medida por unidades de
resistência “S” (Siemens) e os teores de condutividade das águas naturais estão entre 10 e 100 µS/
cm. Vale ressaltar que ambientes receptores de esgotos domésticos ou industriais podem chegar
a até 1000 µS/cm (FUNASA, 2007).

Até o momento, discutimos aspectos ligados ao estado físico da água, mas precisamos recordar que
também existem os químicos. As características químicas refletem na composição da água e, dentre elas,
se destacam:

• potencial hidrogeniônico (pH): a presença de íons de hidrogênio (H+) poderá tornar o corpo
de água mais ácido, quando houver maior quantidade de H+, ou mais alcalino, quando existir
menor quantidade de íons H+. O pH é medido em uma faixa que varia de 0 a 14; quanto mais
próximo de 0, mais ácido ele estará, e quanto mais próximo de 14, mais alcalino estará esse pH.
É importante ressaltar que a acidificação das águas pode ser uma consequência da poluição
atmosférica e formação de complexos entre os vapores de água e gases poluentes (chuvas ácidas).
Além disso, baixos valores de pH podem provocar corrosão nas redes de distribuição da água e
valores aumentados devem favorecer incrustações nessas redes. Para a vida aquática, o pH se
encontra em uma estreita faixa entre 6 e 9. O MS, por meio da Portaria nº 1.469 (BRASIL, 2000),
estabelece-se que, para águas de abastecimento humano, o pH deve se encontrar na faixa entre
6,5 e 9,5;

• alcalinidade: o indicador da capacidade de neutralização de íons H+ ou capacidade de


tamponamento deles, resistindo às mudanças de pH, principalmente pela presença de substâncias
como o bicarbonato. O aumento da alcalinidade geralmente está relacionado às altas taxas de
decomposição de matéria orgânica.
38
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

• dureza: medida pela presença de cátions, principalmente cálcio (Ca++) e magnésio (Mg++). É
comum encontrarmos águas duras naturais em decorrência da dissolução de rochas calcárias. No
Brasil, as águas subterrâneas mostram índice de dureza maior que as superficiais. Entretanto, a
dureza também pode resultar do despejo de efluentes industriais (nesse caso, consideramos esse
tipo de dureza como de origem antropogênica);

• oxigênio dissolvido: extremamente importante para refletir a qualidade de um meio aquático


aeróbio. Os valores mínimos considerados são de 2 a 5 mg/L, sendo que a maioria dos peixes
necessita de um ambiente com 4 mg/L. A concentração de oxigênio dissolvido pode ser reduzido
pela presença de matéria orgânica; portanto, a presença de material orgânico pode ser medida
pelo consumo de oxigênio presente na água. Considerando esse aspecto, foram criados parâmetros
como a DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e a DQO (demanda química de oxigênio), que
mostram o consumo de oxigênio necessário para estabilizar a matéria orgânica de uma amostra.
A DBO é responsável por demonstrar a estabilização por atividade biológica de microrganismos
e a DQO por demonstrar a estabilização do material quando dependente da adição de agentes
químicos. O valor da DQO sempre será maior que a DBO, mas essas medidas devem ser realizadas
em um período de cinco dias com a amostra a uma temperatura de 20º C;

• micronutrientes: elementos ou compostos químicos que podem ter efeito tóxico à saúde por se
acumularem no organismo ao longo da cadeia alimentar. São eles: arsênio, cromo, chumbo, cobre
e mercúrio, dentre outros, sendo todos geralmente encontrados em despejos industriais.

Recapitulando: até o momento realizamos uma discussão abrangente sobre os aspectos físicos e
químicos da água, mas ainda faltam os biológicos. As características biológicas dela são condizentes
com os seres que habitam o meio aquático, os quais são classificados como:

• microrganismos de importância sanitária: como as bactérias que promovem a decomposição da


matéria orgânica. Os coliformes fecais são considerados microrganismos patogênicos, presentes
em grande quantidade em fontes de água que são receptoras de esgoto doméstico;

• comunidades hidrobiológicas: organismos com movimentação própria, classificados como


fitoplânctons (algas e bactérias) e zooplânctons (protozoários e crustáceos), habitantes do fundo
de rios e lagos, os bentos (larvas de insetos e anelídeos) e os organismos maiores, classificados
como néctons, no qual se enquadram os peixes.

Até esse ponto, fechamos o raciocínio e revisamos os principais aspectos da água. No


entanto, existem outras questões, de ordem simples, que podem facilitar a compreensão dos
aspectos relacionados com água, meio ambiente e saúde humana. Por exemplo: como acontece a
distribuição da água na Terra? E por que ocorre a chuva? Para respondermos a essas questões, é
extremamente importante sabermos que a água não está inerte na natureza, ou seja, ela está em
movimento contínuo. Essa movimentação está elucidada na figura a seguir, a qual esquematiza o
ciclo da água na natureza. Nela, podemos observar o ciclo por ordem numérica, de acordo com os
acontecimentos descritos a seguir:

39
Unidade II

4
2

Figura 10 – Ciclo hidrobiológico

• os raios solares aquecem os oceanos e os continentes;

• com isso, a vegetação transpira e ocorre a evaporação da água dos oceanos, rios e lagos;

• o vapor de água se condensa, formando as nuvens;

• nas nuvens carregadas de vapor de água, ocorre precipitação, constitutivo que cai em forma de
chuva, granizo ou neve e atinge o solo, os rios, os mares e o oceano;

• parte da água da chuva se infiltra no solo, formando os aquíferos subterrâneos, mas outra parte
escoa pela superfície e chega aos rios, lagos e oceanos, finalizando o ciclo.

Considerando todos esses aspectos, é natural que exista uma preocupação por parte das autoridades
com a qualidade dessa fonte de vida das pessoas. Diversas conferências internacionais realizadas em
prol do meio ambiente e da saúde humana abordaram a questão da água e de sua qualidade como um
parâmetro para a qualidade de vida dos seres humanos.

No dia 22 de março de 1992, durante a Conferência da Eco-92, a ONU instituiu o Dia Mundial da Água,
além da assinatura do documento denominado Agenda 21, que trouxe à tona debates sobre a qualidade
de vida no planeta e a divulgação da Declaração Universal dos Direitos da Água. No Brasil, tivemos o
reconhecimento dessa iniciativa pela Política Nacional de Recursos Hídricos, por meio da Lei das Águas nº
9.433 (BRASIL, 1997), que a implementa como um bem de domínio público, um recurso natural limitado e
dotado de valor econômico, além de determinar que devemos ter como diretrizes de ação a articulação dos
recursos hídricos concomitante com a gestão ambiental, o uso do solo e a proteção das bacias hidrográficas.

Em 2015, os países membros da ONU, se reuniram para traçar novas decisões a respeito do
desenvolvimento sustentável. Esse evento foi realizado para dar continuidade aos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), estipulados para entrar em vigor a partir do ano 2000 e para serem
alcançados até 2015. Os ODM primavam pelo desenvolvimento sustentável para diminuir os efeitos
das mudanças climáticas. As alterações realizadas nesse período foram inúmeras e influenciaram a
40
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

vida de milhares de pessoas, mas necessitamos continuar com as metas e melhorar o que ainda não foi
suficiente para o cuidado do meio ambiente e da saúde das pessoas.

Em setembro de 2015, a Assembleia Geral das Nações Unidas definiu novos objetivos e novas
metas para serem seguidas até 2030. Uma nova agenda foi estipulada para tratar do desenvolvimento
sustentável. Nela foram definidas como ODS e estipulados 17 novos objetivos que entraram em vigor
a partir de janeiro de 2016. Entre eles, temos a erradicação da pobreza, da fome e da desigualdade
social, o acesso à energia e garantia da educação a todos, o alcance da igualdade de gênero e a
utilização sustentável dos recursos naturais. A implementação do objetivo 6, que fala sobre assegurar
a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos procura assegurar o acesso
igualitário, condições dignas de abastecimento de água potável e a oportunidade de ter esgotamento
sanitário, melhorando o patamar de saúde pública da população. (ONUBR, 2016).

No conjunto de metas do objetivo 6, podemos destacar:

• o acesso universal e equitativo à água potável e segura para todos, bem como acesso a saneamento
e higiene;

• a redução pela metade da proporção de águas residuais não tratadas, eliminando despejo e
minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos;

• a cooperação internacional e o apoio à capacitação para os países em desenvolvimento em atividades


e programas relacionados à água e ao saneamento, incluindo a coleta de água, a dessalinização, a
eficiência no uso da água, o tratamento de efluentes, a reciclagem e as tecnologias de reúso;

• a proteção e restauração de ecossistemas relacionados com a água doce, incluindo montanhas,


florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos.

Saiba mais

Para conhecer mais a respeito da Lei das Águas e da Balneabilidade das


Águas, recomendamos as seguintes leituras:

___. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de


Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera
o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº
7.990, de 28 de dezembro de 1989. Brasília, 1997. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm>. Acesso em: 11 nov. 2016.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução


nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de
41
Unidade II

água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como


estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras
providências. Alterada pela Resolução nº 410/2009 e pela Resolução nº
430/2011. Brasília, 2005. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/
conama/res/res05/res35705.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2016.

No Brasil, o estudo da hidrometria está relacionado com a geração de energia pela construção de
usinas hidrelétricas, utilizando bacias hidrográficas e volumosos rios. Contudo, o principal problema
dessa ação é a presença de sedimentos nessas águas que diminuem a vida útil das barragens. Além
disso, os mananciais que subsidiam o abastecimento de água ainda sofrem as consequências da falta de
estudos científicos que melhorem a utilização dessas fontes, pois as pequenas bacias drenam as águas
das cidades e recebem todos os tipos de dejetos provenientes de vários tipos de locais.

Em 2005, houve um marco histórico em relação ao controle de qualidade da água. O Conselho Nacional
do Meio Ambiente (Conama), sob a Resolução nº 357 (CONAMA, 2005), estabeleceu a necessidade de
avaliações toxicológicas e controle de despejos em corpos de água (o que significa qualquer acumulação
significativa de água), visando o manejo sustentável dos recursos hídricos e garantido os padrões de
qualidade dentro da sua bacia hidrográfica.

Contudo, o desenvolvimento urbano nem sempre respeitou a preservação do ciclo hidrológico natural
e a ocupação desordenada nos leitos dos rios, e o excesso de pavimentação altera a permeabilidade do
solo, o que favorece as inundações durante as épocas de maior pluviosidade. Lembrando que as enchentes
dos rios são fenômenos naturais e de frequência variável, podemos inferir com clareza que a ocupação
humana em torno dessas áreas é a principal culpada tanto pela transformação da enchente em inundação,
com perdas humanas e materiais, como pela disseminação de doenças graves de veiculação hídrica. A
qualidade das águas urbanas depende demasiadamente da prevenção das inundações, sendo necessário o
desenvolvimento de sistemas de drenagem, com paralela recuperação e revitalização das áreas ribeirinhas.

Adicionalmente à ocupação humana, está o assoreamento, que contribui para os episódios de


inundação. Esse termo se refere à diminuição da profundidade dos rios, o que interfere drasticamente no
leito hidrográfico. Além disso, a manipulação do solo, como aquela que acontece em áreas que receberão
construções e na prática agrícola e/ou nos desmatamentos, favorece o aumento das áreas sujeitas à
erosão e aumenta a quantidade de argila, areia e folhas em áreas próximas às bacias de drenagem. Com a
ocorrência das chuvas, todo esse material é drenado para os rios e lagos e se sedimenta no fundo do leito.

Mas até agora falamos de locais onde existe água. No entanto, apesar de toda abundância desse
recurso no planeta, existem muitos locais com escassez hídrica que exerce um grande impacto social e
econômico e afeta diretamente a saúde e sobrevivência humana.

O que a seca poderia causar, se estamos falando sobre contaminação da água?

A seca causada por efeito climático ou ação humana de impacto ambiental, como a desertificação
de áreas degradadas e a estiagem, que é um período de baixa pluviosidade, são fatores envolvidos direta

42
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

e indiretamente com a precariedade das condições de saúde, deixando a população vulnerável e carente,
contribuindo para a desnutrição, pobreza e ocorrência de surtos de doenças infectocontagiosas.

A seca e a estiagem são consideradas desastres extensivos, que não ocorrem de forma súbita causando
danos imediatamente visíveis. Sendo assim, o seu efeito sobre o meio ambiente, a saúde e o tempo que
influenciarão esses setores são muito difíceis de serem mensurados e prevenidos. O Brasil, apesar de contar
com uma favorável hidrologia, possui uma vasta extensão de território e uma grande parte da população
residente, principalmente no Nordeste, sofre com a estiagem e a seca (GRIGOLETTO et al., 2015).

Para a saúde, os efeitos podem exercer um resultado direto através das doenças gastrintestinais ou um
efeito indireto, em longo prazo, por meio da desnutrição. A baixa ocorrência ou ausência de pluviosidade afeta
a quantidade e qualidade dos mananciais, aumentando a ocorrência de contaminação. O ar seco favorece a
ocorrência de queimadas naturais e de doenças respiratórias devido à quantidade de poeira no ar.

Quanto à ação do poder público durante todos os anos de história brasileira, o que existe de mais
concreto ao amparo da seca no semiárido e no Nordeste foi a implantação do plano Brasil sem Miséria,
lançado em 2011, que através de um cadastro único e cruzamento com dados do bolsa família e outros
programas sociais promoveu a busca ativa de famílias em estado de maior vulnerabilidade social,
contemplando-as com o programa de água para todos. O plano Brasil Sem Miséria, dentro do seu eixo
de inclusão produtiva rural, levou à construção de cisternas nessas áreas para melhoria das condições
de saúde (IBASE, 2012).

Podemos, então, pensar que preservar e corrigir a qualidade das águas tornam-se atitudes
indispensáveis para a manutenção da saúde pública, só que para isso é necessário estabelecer e planejar
a forma de utilização de nossos recursos hídricos. Por esse motivo, temos que compreender qual a
prioridade de utilização da água. Ela será utilizada para o abastecimento urbano ou irrigação? Para a
geração de energia? Assim, como podemos definir uma prioridade?

Para responder a essas questões, é preciso compreender que cada tipo de comunidade destinará o uso da
água visando as suas necessidades específicas. Por exemplo, a utilização da água para irrigação e manutenção
das criações é altamente prioritária em áreas agrícolas, fato que não ocorre se a região for industrial ou
urbana. Além disso, conforme a Resolução nº 357 do Conama (2005), as águas doces, salinas e salobras dentro
do território nacional devem ser classificadas segundo o padrão de qualidade da água.

As águas doces são divididas em 5 classes (especial, 1, 2, 3 e 4), determinadas pelo grau de
tratamento necessário para seu uso de forma prioritária ao abastecimento humano, mas que possuem
vários outros parâmetros de destinação, como a proteção das comunidades aquáticas, a recreação de
contato primário (como natação e mergulho), a irrigação de hortaliças, culturas arbóreas, frutíferas e
cerealista, a atividade pesqueira, a atividade pecuária e a navegação. Considerando as águas destinadas
ao abastecimento e ao consumo humano, teremos as seguintes divisões:

• classe especial: águas que necessitam apenas de tratamento de desinfecção;

• classe 1: águas que necessitam de um tratamento simplificado;


43
Unidade II

• classe 2: águas que necessitam de um tratamento convencional;

• classe 3: águas que necessitam de tratamento convencional ou avançado para consumo humano,
mas que sem ele também podem ser destinadas à recreação de contato secundário;

• classe 4: águas que não serviriam para consumo, mas que podem ser destinadas à navegação.

Como o crescimento populacional demanda quantidades cada vez maiores de água potável, está
atrelado a ele o comprometimento/degradação dos mananciais. Embora exista a tecnologia para
o tratamento da água destinada ao consumo humano, ela se torna mais dispendiosa à medida que
a população cresce sem planejamento e infraestrutura urbana, pois, na maioria dos casos, a taxa de
implantação de rede de coleta e tratamento de esgotos não acompanha a taxa de crescimento urbano.

Para compreender como acontece o sistema de captação de águas para o abastecimento, podemos
observar a figura a seguir, que esquematiza todos os processos de distribuição de água, a qual deve,
antes de chegar aos domicílios, passar por uma estação de tratamento. Assim, quando ela chegar nas
casas será utilizada para consumo e outras atividades, como banhos, limpeza, lavagem de carros e
calçadas, piscinas e caixas d’água, entre outras.

Fonte de Estações de tratamento


abastecimento de água (ETA)
(manancial)
Abastecimento de água

Estação de Cidades Indústrias Chuvas


tratamento de
esgoto (ETE)
Esgoto Esgoto Esgoto
doméstico industrial pluvial

Coleta de esgoto

Figura 11 – Dinâmica de captação e distribuição de água potável e coleta de esgoto

Em áreas servidas por redes de coletas de esgoto doméstico, são coletadas pelas redes as águas
que foram destinadas às atividades diversas, como a água da chuva e o esgoto industrial, de acordo
com a região. As águas coletadas contendo esgotos, lixo, substâncias poluentes ou contaminantes são
destinadas a uma nova e diferenciada estação de tratamento, denominada estação de tratamento de
esgoto (ETE). Esse material volta para a natureza somente após o seu tratamento, mas o seu retorno
nem sempre acontece no mesmo manancial onde foi captado, pois tal ação dependerá da capacidade
de assimilação do corpo de água.

Vale a pena ressaltar que o crescimento populacional não demanda apenas a água, mas também o
fornecimento dos alimentos envolvendo as áreas de agricultura e pecuária predatórias. Lembrando que
o Brasil tem um amplo território destinado a essas culturas de subsistência, é natural que exista uma

44
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

preocupação em relação à qualidade da água dos mananciais, pois eles recebem águas de drenagem de
agricultura e pecuária, ricas em adubos, pesticidas, herbicidas e aditivos químicos.

Considerando todos esses aspectos, as doenças de veiculação hídrica são extremamente preocupantes
e consideradas problemas de saúde pública. Elas têm a água como a principal fonte de agentes infecciosos,
sendo que alguns patógenos têm seu ciclo de vida total na água. Existem ainda aqueles que desenvolvem
seu ciclo em um hospedeiro (um inseto) e esse necessita de água em seu ciclo biológico. Em humanos,
tais doenças comprometem principalmente o aparelho digestório, e os agentes causadores mais comuns
são bactérias, fungos, vírus, helmintos e protozoários. É importante ainda ressaltar que algumas doenças
podem ter origem hídrica, mas sendo derivadas da alta concentração de algum componente químico. Um
exemplo é o saturnismo, provocado pelo excesso de chumbo na água (KOBIYAMA; MOTA; CORSEUIL, 2008).

Existe também um problema associado aos efluentes industriais, que liberam uma grande
quantidade de produtos químicos no meio ambiente. A legislação vigente e o monitoramento da
poluição ambiental já possuem diretrizes a respeito do tratamento desses efluentes e sua liberação
para o meio. No entanto, ainda apresenta lacunas que os estudos mais recentes pretendem dar
subsídios para que tais normas melhorem.

A respeito desse assunto, você consegue responder o que seria uma substância classificada como
desregulador endócrino? Ela pode afetar o funcionamento do sistema nervoso? Que pode afetar seu
sistema imunológico? E o que os efluentes industriais têm a ver com essas questões?

As estações de tratamento de esgoto reúnem uma grande concentração de contaminantes, mas


nem todas elas são conhecidas ou monitoradas pela legislação vigente. Entre essas substâncias, estão
alguns compostos químicos capazes de alterar o sistema hormonal de animais e de seres humanos. Eles
são designados como desreguladores endócrinos e não são totalmente removidos pelos tratamentos
convencionais de água ou esgoto. Estudos atuais apontam que o aumento de doenças crônicas na
população, como obesidade, diabetes, distúrbios respiratórios e alterações na tireoide, podem estar
associadas a essas substâncias.

Como as estações de tratamento de água e de esgoto são projetadas para diminuir a carga
orgânica e os organismos patogênicos, a presença e permanência dos desreguladores endócrinos
no meio aquático é continuada. Devido a esse fato, outros tipos de tratamento de efluentes,
principalmente os industriais, vêm ganhando espaço, como os processos oxidativos, a ozonização
associada ao peróxido de hidrogênio, nanofiltração em membranas, osmose reversa, reatores com
lâmpadas UV. No entanto, essas novidades ainda são onerosas e discute-se a obrigatoriedade do
tratamento dos efluentes industriais antes da sua disposição ao ambiente e até onde a legislação
consegue cobrar esse controle das empresas.

Entre os desreguladores endócrinos já identificados, podemos citar o BPA, uma substância da classe
dos bisfenóis, que imita a ação de estrógenos. Esse composto é largamente utilizado na fabricação de
plásticos e produtos dentários e se acumula no tecido adiposo, o que pode levar o organismo à obesidade.
Uma outra substância já identificada são os ftalatos utilizados na produção de plásticos, brinquedos e
cosméticos que podem afetar o sistema reprodutivo (PONTELLI; NUNES; OLIVEIRA, 2016).
45
Unidade II

Observação

As doenças de veiculação hídrica são extremamente preocupantes e


consideradas problemas de saúde pública, pois têm a água como a principal
fonte de agentes infecciosos.

Contudo, muitas doenças não estão associadas somente à ingestão de água contaminada
propriamente dita, pois são determinadas por um tempo de incubação da doença que acontece por
dias ou semanas. Essas doenças também podem se propagar por contato indireto, como aquelas que
ocorrem em casos de alimentos que foram lavados com água contaminada.

As doenças de veiculação hídrica podem ser agrupadas pela forma de transmissão: pela
água, pela falta de limpeza e higienização com a água, por vetores que se relacionam com a
água e associadas a ela; logo, constituem quatro grupos principais. Com base em dados da
Fundação Nacional de Saúde (Funasa), segue um breve resumo das principais doenças com
seus agentes etiológicos (2002).

O primeiro grupo tem as doenças transmitidas pela ingestão de água contaminada. Seguem as
principais doenças:

• cólera (agente etiológico: bactéria Vibrio cholerae): incubação de aproximadamente três dias, com
sintomas de diarreia com fezes semelhantes à água de arroz, sede, dores abdominais;

• febre tifoide (agente etiológico: bactéria Salmonella typhi): incubação de até 2 semanas, com
sintomas de infecção geral, febre contínua, manchas rosadas e diarreia;

• hepatite A (agente etiológico: vírus da hepatite): incubação de 20 a 40 dias, com sintomas de


febre, perda de apetite, fadiga e icterícia com possível dano ao fígado;

• amebíase (agente etiológico: protozoário Entamoeba histolytica): incubação de 2 a 4 semanas


(podendo ultrapassar), com sintomas de diarreia aguda de caráter sanguinolento, febre e calafrios.
Pode levar ao óbito.

Nesse primeiro grupo, estão ainda a giardíase (agente etiológico: Giardia lamblia) e as diarreias,
que podem ter diferentes agentes etiológicos (Escherichia coli, Rotavírus A e B, Balantidium coli e
Cryptosporidium, entre outros). A principal forma de prevenção para essas doenças do primeiro grupo é
o tratamento da água para abastecimento.

O segundo grupo de doenças apresenta aquelas transmitidas pela falta de limpeza e higienização,
associadas ao abastecimento insuficiente de água. Dentre elas, estão as doenças infecciosas na pele e
nos olhos (tracoma) e as verminoses, causadas por parasitas intestinais.

46
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Seguem alguns tipos de doenças parasitárias:

• ascaridíase (agente etiológico: Ascaris lumbricoides): popularmente conhecida como lombriga;


• ancilostomíase (agente etiológico: Ancylostoma duodenale): popularmente conhecido como amarelão;
• enterobíase (agente etiológico: Enterobius vermicularis);
• tricuríase (agente etiológico: Trichuris trichiura);
• salmonelose (agente etiológico: Salmonella typhimurium);
• conjuntivite bacteriana (agente etiológico: Haemophilus aegyptius);
• tracoma (agente etiológico: Chlamydia trachomatis);
• pediculose (agente etiológico: Pediculus humanus): conhecido popularmente como piolho;
• escabiose (agente etiológico: Sarcoptes scabiei): conhecida popularmente como sarna.

As formas de prevenção para essas doenças do segundo grupo são: realização de medidas de higiene
pessoal (lavar as mãos antes de se alimentar, beber água tratada), instalação de coleta de esgoto,
instalação de melhorias sanitárias domiciliares e limpeza de reservatórios domésticos de água.

No terceiro grupo, destacamos as doenças associadas à água quando uma parte do ciclo de vida do
agente etiológico depende de um vetor aquático. Dessa forma, o transmissor da doença penetra na pele
ou é ingerido pelo indivíduo. São as principais doenças do terceiro grupo:

• malária (agentes etiológicos: Plasmodium vivax, Plasmodium malariae e Plasmodium falciparum);


• dengue, zika e chikungunya (agentes etiológicos: Aedes aegypti e Aedes albopictus);
• febre amarela (agentes etiológicos: Aedes aegypti e Haemagogus janthinomys);
• filariose (agente etiológico: Wuchereria bancrofti): conhecida popularmente como elefantíase.

As formas de prevenção para esse terceiro grupo incluem inspeção sanitária, eliminando focos de
criadouro dos mosquitos, proteção de mananciais e destino adequado de resíduos sólidos.

O quarto grupo é formado por doenças associadas à água, as quais são transmitidas por insetos
(vetores) que se relacionam com ela. São exemplos:

• esquistossomose (agente etiológico: Schistosoma mansoni);


• leptospirose (agente etiológico: Leptospira interrogans).

A forma de prevenção das doenças desse quarto grupo engloba o controle de vetores e hospedeiros
intermediários, eliminando condições que possam favorecer seus criadouros.
47
Unidade II

Em paralelo ao tratamento de água, a oferta de saneamento básico para a população também


pode ser considerada como um índice de desenvolvimento, bem como um marcador da qualidade de
vida. Isso se deve ao fato de que sua ausência é capaz de gerar inúmeras desordens à saúde, como a
mortalidade infantil, além de que, em relação à sustentabilidade, compromete os recursos hídricos às
gerações futuras.

Considerando que existem relações estreitas entre alguns fenômenos observados nas grandes
metrópoles (enchentes, poluição de mananciais, falta de tratamento de água, alta produção e
armazenamento inadequado de resíduos sólidos) com a doença, o levantamento de questões sobre
saneamento básico e descarte adequado de resíduos são tão importantes quanto aquelas relacionadas
à distribuição de água adequada à população, pois podem ser consideradas responsáveis por impactos
profundos na saúde dos indivíduos, bem como nos serviços de saúde utilizados por eles. Assim, diversas
ações de educação em saúde voltadas para essas questões, tendo como foco principal o meio ambiente
e o processo saúde-doença, são perfeitamente justificadas.

No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2008) demonstram que cerca de
55,2% da população possui rede de coleta e tratamento de esgoto. Quando esse estudo relacionou o serviço
de esgotamento sanitário com aqueles de distribuição de água (99,4%), manejo de resíduos sólidos (100%)
e de águas pluviais (94,5%), pôde-se observar que os índices em relação ao esgoto foram bem inferiores
aos demais. Esses dados demonstram que o setor de saneamento tem o pior índice de desenvolvimento,
acarretando sérios efeitos para a saúde e, consequentemente, para a vida das pessoas. Além disso, há um
sério impacto nos serviços de saúde, pois o SUS recebe por mês uma porcentagem altíssima de pessoas
acometidas por doenças relacionadas à falta do serviço de saneamento básico.

O termo poluição é comumente definido como qualquer alteração da composição ou das características do
meio, fato que causa perturbações no ecossistema. Essa definição prejudica o sentido etimológico da palavra
poluir (que vem do latim poluere e quer dizer sujar) e não atende também a objetivos práticos, ligados ao
controle da qualidade do meio ambiente. Um ponto importante para refletir é a introdução de uma grande
quantidade de água doce, ainda que perfeitamente limpa, em um ambiente marinho. Essa ação causa
profundas perturbações no ecossistema ali existente. Seria apropriado considerarmos esse fato como poluição
e a água limpa introduzida como um poluente? Além disso, o lançamento de organismos patogênicos ou
de substâncias tóxicas que não alteram o aspecto estético, mas prejudicam a utilização da água, também
poderia ser considerado poluição? Para respondermos essas questões, discutiremos adiante que a ação direta
de substâncias ou seres nocivos ao homem/animais aquáticos tem uma denominação particular.

Frequentemente, ecossistemas terrestres e aquáticos sofrem perturbações cíclicas causadas por


fenômenos naturais – por exemplo, o transporte de matéria orgânica em decomposição natural do solo
(folhas e outros resíduos vegetais e animais) para os rios, o que nas épocas de chuvas causa profundas
alterações no equilíbrio do oxigênio. A definição de poluição pode não estar associada exclusivamente
às perturbações ecológicas, inclusive quando são ocasionadas pelo homem e escapam à conceituação
geral de poluição, a não ser que abandone o sentido original e etimológico do termo. Por outro lado,
origina-se da percepção sensorial do fenômeno de “sujar a água” – trata-se do componente estético.
A formação do conceito tem em vista a preservação da saúde humana e da vida dos peixes e outros
seres aquáticos úteis ao homem. Acreditava-se que o mau aspecto da água, como a turbidez, coloração,
48
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

exalação de odores e presença de materiais flutuantes ou em suspensão era responsável pela transmissão
de doenças e mortandade de peixes, o que na verdade pode ser apenas coincidência.

A água poluída – no sentido original do termo, baseado em um parâmetro estético –, pode não causar
um distúrbio ecológico, assim como certos matériais bastante profundos podem ocorrer em águas que não
são poluídas. Uma maneira objetiva de enfrentar essas dificuldades seria criar um vínculo entre o conceito de
poluição e a noção de utilidade da água. Poluir é sujar, alterar as características estéticas a ponto de prejudicar
sua utilização normal, seja como água potável ou fonte de alimentos para uma diversidade de seres aquáticos.

Assim, a noção instintiva de poluição é baseada na alteração das qualidades originais das águas
das nascentes dos rios. A identificação estética é possível porque as águas que recebem detritos e,
eventualmente, matérias fecais contendo seres patogênicos se tornam realmente mais turvas e coloridas,
por vezes malcheirosas. Estabeleceu-se assim uma correlação entre o aspecto da água e a transmissão
de doenças, o que não deixa de ter seu significado popular principalmente em rios que cortam zonas
mais densamente povoadas (BRANCO; ROCHA, 1984).

É importante salientar que os agentes poluidores não são apenas compostos de natureza química
específica e tóxica. A ação nociva dos agentes pode englobar a quantidade deles ou ainda o seu caráter
biodegradável. Além disso, o grau de dispersão, de diluição e de proporção entre volume de despejos e
da fonte receptora também são importantes para caracterizar a ação nociva dos agentes poluidores. Por
exemplo, o excesso de matéria orgânica vinda dos esgotos domésticos pode provocar a superpopulação
de microrganismos, como bactérias e fungos e, ao mesmo tempo, estabelecer uma concorrência pela
disponibilidade de oxigênio entre seres aeróbios presentes no corpo de água.

Quando pensamos no termo contaminação, temos que relacioná-lo com a introdução de substâncias
nocivas, as quais podem causar alterações no meio aquático. São exemplos: compostos organoclorados
e organossintéticos, a matéria orgânica em excesso, organismos patogênicos e metais pesados. Ainda
em relação à contaminação, também existem ações contaminantes específicas de compostos tóxicos
que estão presentes em certas classes de despejos industriais, além das fontes naturais, como sementes,
folhas, frutos e raízes, as quais podem conter substâncias tóxicas, incluindo cianetos (mandioca brava)
e alcaloides (atropina da planta beladona, ricina da mamona).

Os corpos de água ainda podem receber produtos originados da prática agrícola, como os defensivos
agrícolas e a celulose, que, apesar de ser um produto vegetal, é amplamente usada em escalas industriais
e resistentes à decomposição, aos detergentes sintéticos e aos metais pesados. Na maioria dos casos,
esses materiais são considerados compostos recalcitrantes, ou seja, são compostos biologicamente
resistentes e conhecidos como “não biodegradáveis”. Devido à resistência, eles acabam se aglomerando
no meio aquático e favorecendo seu acúmulo no organismo dos seres humanos, uma vez que a água
contaminada com esses produtos é utilizada para os afazeres comuns.

Com base em dados da Anvisa (BRASIL, 2011a), os primeiros relatos de uso de defensivos agrícolas
foram em meados de 1900. Esses compostos eram considerados organoclorados e o mais utilizado
era o diclorodifeniltricloroetano, também conhecido como DDT. A utilização do DDT persiste até os
dias atuais e vale ressaltar que esse composto agrícola é substancialmente resistente à biodegradação
49
Unidade II

por até 30 anos. Os organoclorados em contato com a pele, vias respiratórias e aparelho digestivo
afetam o sistema nervoso e causam tremores, convulsões, vômitos, insônia e dermatites. Atualmente,
uma das formas de proteção contra esses compostos tem sido a substituição dos organoclorados (mais
resistentes) por organofosforados de biodegradação mais rápida. No Brasil, a proibição do uso de DDT
aconteceu somente em meados de 2009, quando foi sancionada uma lei.

Como citado, o desenvolvimento humano de grandes áreas urbanas favorece diversos danos ao meio
ambiente, como lançamento de esgotos, uso de defensivos agrícolas, fertilizantes, resíduos industriais,
desmatamento e erosão do solo, os quais demonstram uma crescente tendência à aceleração do processo
de eutrofização de lagos e represas. A eutrofização é um processo que ocorre em pequenas bacias
de drenagem que possuem um aporte variável de minerais. Esse manejo, ocorrendo de forma lenta
e natural, enriquece a água, pois em lagos e represas, o período de residência da água é maior e com
movimentação menor, favorecendo o crescimento de microrganismos e vegetais. Nos rios, ao contrário,
existe correnteza, caracterizando um movimento constante da água – o que dificulta a proliferação de
microrganismos, mas não é o suficiente para impedir esse efeito. Assim, podemos dizer que é menos
usual encontrarmos um rio eutrofizado.

Águas em processo de eutrofização, como demonstra a figura a seguir, possuem excesso de minerais
e matéria orgânica, favorecendo o crescimento desordenado de várias espécies de algas, principalmente
as cianofíceas, que formam uma faixa espessa e opaca sobre a superfície do corpo de água, dificultando
a entrada de luz e impedindo que suas camadas internas realizem fotossíntese. Esse feito traz como
consequência a diminuição da concentração de oxigênio disponível, sendo responsável pela morte de
peixes e outras espécies aeróbias. As algas que cobrem a superfície realizam fotossíntese, mas o oxigênio
produzido se perde para a atmosfera.

Excesso de material
Materiais drenados Resíduos
orgânico no esgoto
(solo/adubos) industriais
(nitrogênio e fósforo)

Copo de água (lago ou represa)

Superpopulação de (algas ou vegetação aquática)

Diminuição Formação
Barreira à Aumento de
da taxa de de lodo
diminuição organismos
fotossíntese (material em
de luz anaeróbicos
interna decomposição)

Mortandade Aumento da Alteração


de peixes população de no odor e
insetos alteração
estética

Figura 12 – Processo de eutrofização em lagos e represas

50
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Algumas espécies de algas produzem substâncias tóxicas, enquanto outras podem alterar o odor e
o sabor da água. A mortalidade dos peixes favorece o aumento da proliferação de insetos e mosquitos,
além de proporcionar o crescimento de aguapés (plantas aquáticas) nas margens dos leitos, as quais, após
seu ciclo de desenvolvimento, têm suas folhas, caules e raízes mergulhados e acabam se decompondo
e formando um lodo no fundo desse leito – o que causa prejuízos ao abastecimento e às estações de
tratamento.

Usualmente, o aumento das algas está associado com a oferta de nitrogênio e de fósforo. Os
esgotos domésticos, adubos agrícolas drenados e alguns resíduos industriais são ricos em nitrogênio
– que ainda pode ser fixado diretamente do ar atmosférico pelas mesmas algas cianofíceas. Nas
mesmas condições, o fósforo é encontrado em quantidades menores, mas o seu consumo pelas algas
é muito inferior ao de nitrogênio.

Lembrete

A poluição da água está relacionada à proporção entre o volume de


despejos e o da fonte receptora.

A contaminação está ligada à introdução de substâncias nocivas e/ou


resistentes à degradação.

Durante décadas, a política pública deixou de investir significativamente na área de saneamento


básico. Em grandes centros urbanos, a rede de coleta de esgoto é mais ampla, mas ainda em muitas
regiões, o esgoto é liberado a céu aberto, demonstrando a existência de um déficit entre o avanço
urbano e o tratamento de esgoto.

Como descrito anteriormente, o esgoto despejado em um corpo de água pode ser estabilizado
(decomposto) por um processo natural. Hipoteticamente, se considerarmos que todo o esgoto gerado
pelos estados e servido pela bacia hidrográfica do Rio Amazonas fosse despejado diretamente nele,
seria fácil de entender que essa bacia teria condições de estabilizar todo esse esgoto, pois o volume de
água suportaria tal condição. Mas se considerarmos uma região populosa, como a sudeste, que despeja
todo o seu esgoto diretamente sobre um rio, como ele ficaria? Como exemplo, podemos destacar no
estado de São Paulo os rios Tietê e Pinheiros, que há algumas décadas serviram para pesca e navegação
turística, mas, atualmente, estão sem vida, por motivo de que ainda existe uma parcela do esgoto (que
é despejado nesses rios) sem tratamento.

Observação

Considerando todos os aspectos citados, o grande desafio às autoridades


para a preservação dos mananciais abrange a preservação do meio ambiente,
a restituição da fauna e até a flora de áreas aos seus arredores, sem nos
esquecermos das melhorias relacionadas à oferta de saneamento básico.
51
Unidade II

No entanto, o principal aspecto que precisa ser melhorado é a oferta de saneamento básico, pois se
torna primordial o tratamento do esgoto antes de sua devolução aos corpos de água, uma vez que existe
uma correlação entre os poluentes encontrados no esgoto e algumas consequências no meio ambiente
e na saúde.

Para compreendermos todos os aspectos relacionados à contaminação da água pelos poluentes do


esgoto, faremos um breve resumo sobre a identificação deles, mostrando os parâmetros de caracterização
com suas respectivas consequências ao meio ambiente. São eles:

Sólidos em suspensão

• caracterização: sólidos em suspensão total;


• efluente: doméstico e industrial;
• consequências: problemas estéticos, depósito de lodo, presença de patógenos.

Sólidos flutuantes

• caracterização: óleos e graxas;


• efluente: doméstico e industrial;
• consequências: problemas estéticos.

Matéria orgânica biodegradável

• caracterização: demanda bioquímica de oxigênio (DBO);


• efluente: doméstico e industrial;
• consequências: eutrofização, mortalidade de peixes, piora das condições sépticas.

Patogênicos

• caracterização: coliformes;
• efluente: doméstico;
• consequências: doenças de veiculação hídrica.

Nutrientes

• caracterização: nitrogênio e fósforo;


• efluente: doméstico e industrial;
• consequências: superpopulação de algas.

52
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Compostos não biodegradáveis

• caracterização: pesticidas, detergentes, adubos e outros;

• efluente: industrial e agrícola;

• consequências: diminuição do oxigênio, odores fétidos, permanência da substância por vários


anos sem degradação.

Metais pesados

• caracterização: elementos específicos (cádmio, cromo, mercúrio etc.);

• efluente: industrial;

• consequências: toxidade, contaminação de água subterrânea, inibição da ação biológica no


esgoto.

Sólidos inorgânicos dissolvidos

• caracterização: sólidos dissolvidos totais, condutividade elétrica;

• efluente: reutilizados;

• consequências: salinidade excessiva, toxidade à vegetação, problemas de permeabilidade do solo.

Em relação às doenças referentes ao esgoto, elas derivam do inadequado acondicionamento


dos dejetos nos corpos de água. Um exemplo disso é a presença de coliformes fecais, o que indica
contaminação fecal do corpo de água. Esses coliformes também podem ser encontrados no solo (pela
defecação de animais) e nos alimentos (pela higienização deficitária). No solo, as fezes de um homem/
animal doente podem conter ovos de parasitas, que podem eclodir no solo e liberar larvas que penetram
facilmente pela pele de outra pessoa/animal que se encontra saudável. A penetração dessas larvas pela
pele favorece a sua instalação no intestino, comprometendo diversos órgãos.

A higienização deficiente de alimentos também propicia a disseminação de doenças, pois eles se


tornam veículos de transmissão quando, em alguma fase do processo, entraram em contato com o
solo contaminado e foram mal-lavados ou higienizados com água contaminada. Outros exemplos no
que se refere à transmissão de doenças são a ingestão de carne malcozida de um animal infectado e a
procriação de insetos em locais infectados. Todos esses elementos são identificáveis e estão resumidos
na figura a seguir, que demonstra que as excretas em contato com a água, o solo, o homem ou os
vetores de doenças podem chegar aos alimentos, que podem ser digeridos ou absorvidos, favorecendo
o surgimento da doença no organismo.

53
Unidade II

Vetores (insetos, Mãos


mosquitos, caramujos) (má higienização)

Excrementos

Solo Água
(evacuações) (mananciais)

Boca (ingestão) Alimentos Pele (absorção)

Doença

Figura 13 – Esquema de geração de doenças de origem fecal

É interessante ressaltar que muitas doenças de veiculação hídrica se enquadram naquelas


relacionadas ao esgoto, principalmente as verminoses. Entre elas, estão cólera, febre tifoide, hepatites
A e E, ascaridíase, tricuríase, ancilostomíase, esquistossomose, teníase, cisticercose, toxoplasmose e
diarreias agudas. Como prevenção a essas doenças, podemos citar algumas medidas: uso de vasos
sanitários evitando a contaminação do solo, lavagem das mãos antes de manipular alimentos e
após o uso do banheiro e a troca de fraldas, evitar banhos em córregos, lavar frutas e legumes
utilizando água potável, filtrada ou fervida, cozinhar muito bem carnes que venham de locais de
abate desconhecidos, melhorar instalações sanitárias, tratar o esgoto antes de disponibilizá-lo ao solo
e controlar a proliferação de vetores.

Ainda em relação às doenças, os vetores podem transferir um agente infeccioso de uma população
animal portadora de doença aos seres humanos. Geralmente isso ocorre devido à picada de pessoas
contaminadas por insetos que, em seguida, picam alguém sadio.

Saiba mais

A ciência atua na fronteira do conhecimento. Para ver que tipo de avanços


tecnológicos teremos a nosso favor, sugerimos a leitura da notícia a seguir:

CRISTINO, L. G. Bahia inicia uso de inseto transgênico contra a dengue.


Folha de São Paulo, Ciência, São Paulo, 24 fev. 2011. Disponível em: <http://
www1.folha.uol.com.br/ciencia/880408-bahia-inicia-uso-de-inseto-
transgenico-contra-dengue.shtml>. Acesso em: 24 fev. 2017.

54
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

O impacto da falta de saneamento básico na saúde e sobre o meio urbano é evidente, mas a
prevalência das doenças é maior na população carente que, por falta de recursos, instala sua moradia
em locais de risco, sem abastecimento de água, sem coleta de esgoto e, na maioria dos casos, em locais
que deveriam ser destinados à preservação ambiental. No entanto, não podemos descartar o papel da
classe social de maior aquisição econômica, pois ela contribui em relação ao consumismo e produção
de resíduos sólidos (lixo), cuja destinação também constitui um grande problema ambiental, que será
discutido com mais detalhes posteriormente.

Assim, a falta de coleta e a disposição inadequada do lixo podem ser consideradas fontes de alimento,
abrigo e proliferação de macrovetores de doenças. Segundo Barros et al. (1995), ratos, baratas, suínos
e aves são considerados os macrovetores mais comuns em ambientes urbanos com pouca estrutura de
saneamento básico. Podemos destacar algumas enfermidades relacionadas ao lixo. São elas:

• leptospirose, peste bubônica e tifo murino: são transmitidas por ratos e pulgas que vivem no
corpo do rato, por meio da mordida, pela urina e pelas fezes desses roedores;

• febre tifoide, cólera, amebíase, disenteria, giardíase, ascaridíase, amebíase e salmonelose: são
transmitidas por moscas, por via mecânica, por meio de asas, patas e corpo desses insetos e
também por suas fezes e saliva;

• malária, febre amarela, leishmaniose, dengue, zika, chikungunya e filariose: são transmitidas por
mosquitos, por meio da picada das fêmeas;

• febre tifoide, giardíase e cólera: também podem ser transmitidas por baratas, por via mecânica,
por meio das asas, patas, corpo e pelas fezes desses insetos;

• cisticercose, toxoplasmose, triquinelose e teníase: são transmitidas por suínos e gado, por meio da
ingestão de carne contaminada;

• toxoplasmose: transmitida por cães, gatos e aves, por meio de sua urina e fezes.

Ainda sobre os macrovetores, é interessante salientar que, para serem contaminados, eles entraram
em contato com o agente infeccioso e, portanto, o transportarão em seu corpo, nas asas, patas e
penas. Além disso, esses macrovetores podem ter ingerido material contaminado, transmitindo o agente
infeccioso por meio de sua saliva, picada, urina e fezes. Dentre os mosquitos (pernilongos), apenas as
fêmeas são hematófagas (se alimentam de sangue); elas transmitem a doença por meio da picada,
enquanto os machos se alimentam de néctar de flores e sucos de vegetais.

Dengue, chikungunya e zika têm sido doenças virais de grande preocupação sanitária, principalmente
no Brasil. Recentemente, foi descoberto que o mesmo mosquito pode transmitir as três doenças.
Contudo, a zika tem sido de grande preocupação, pois está associada à microcefalia em bebês de mães
que foram contaminadas, durante a gestação.

55
Unidade II

O MS tem observado de perto os números dos indivíduos infectados pelas três doenças. No primeiro
semestre de 2016, cerca de 1.294.583 pessoas foram contaminadas com dengue no País inteiro, sendo
que o Nordeste lidera o ranking, com mais de 20% do total de casos. Em se tratando de Chikungunya,
em 2015 foram confirmados 13.236 casos da doença, enquanto que somente no primeiro semestre de
2016, foram 122.762 casos. Novamente, o Nordeste foi o líder do ranking para Chikungunya. Em relação
ao Zika, foram confirmados 64.311 casos somente no primeiro semestre de 2016. No que se refere às
gestantes, foram confirmados 5.647 casos. Contudo, para o Zika, o Centro-oeste lidera o ranking dos
casos (BRASIL, 2016).

Outro fator que contribui para a degradação do meio ambiente é a forma e o tipo de energia que
utilizamos. Na Antiguidade, a energia elétrica era obtida da queima de lenha para as necessidades
domésticas e o aquecimento do local. Contudo, o crescimento populacional obrigou a criação de outras
fontes de energia mais viáveis, pois o consumo energético aumentou significativamente. As energias
derivadas da água e dos ventos passaram a ser utilizadas, mas não eram suficientes para suprir toda a
população, principalmente nas grandes metrópoles. Entretanto, isso foi modificado após a Revolução
Industrial, período em que a energia começou a ser obtida a partir de carvão, petróleo e gás – que são
caros e ainda têm efeitos deletérios ao meio ambiente.

Ainda nos dias atuais, os padrões de consumo de energia da população são baseados na utilização de
fontes de energia não renováveis, como as fósseis (petróleo, carvão e gás) e as nucleares (radiação), que
possuem efeitos sobre a camada de ozônio e causam impacto direto na vida das pessoas. Para modificar
essa situação, são necessárias a conscientização e a criação de outras fontes de energia, as renováveis
(provenientes da hidráulica, da eólica e da produção de etanol), que serão abordadas posteriormente.

Os objetivos são demonstrar os malefícios de algumas ações humanas sobre o meio ambiente e sobre
a vida da população, apontaremos o impacto das fontes de energia não renováveis sobre o ambiente e
o ser humano.

A qualidade do ar se enquadra como outro fator importante para a saúde humana, além da qualidade
da água e do tratamento de esgoto. Diversas doenças de ordem respiratória são influenciadas pela má
qualidade do ar que respiramos. Isso se reflete pela falta de áreas verdes, principalmente nas grandes
metrópoles, e pelo aumento da produção de substâncias químicas que são despejadas na atmosfera.
É importante ressaltar que esses dois fatores que interferem na qualidade do ar são resultados do
desenvolvimento humano.

A atmosfera terrestre, uma fina camada de gases que envolve o planeta Terra, é mantida em seu
lugar pela gravidade e é considerada o principal fator de sustentação do ecossistema planetário. O ar
seco da atmosfera é constituído de nitrogênio, oxigênio, argônio, dióxido de carbono e outros gases
inertes. Os restantes incluem os gases do efeito estufa, como dióxido de carbono, metano, óxido nitroso
e ozônio, além do vapor d’água.

A camada de ozônio é formada pelo gás ozônio e é uma parte importante da atmosfera, pois trata-se
de uma proteção poderosa contra os raios ultravioletas (UV) provenientes do Sol. Essa camada permite
que não aconteçam maiores danos à vida dos seres vivos, ao protegê-los contra os raios UV antes que
56
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

eles atinjam a superfície da Terra. Assim, qualquer dano nessa camada, como aquela observada por
Joe Farman, na região da Antártida em meados de 1980, gera consequências irreversíveis para a vida,
como o aquecimento global. Esse, por sua vez, afeta o clima da Terra e é responsável pelo surgimento
de diversas doenças que posteriormente serão discutidas em detalhes. O efeito do aquecimento global
sobre o meio ambiente e a saúde humana estão esquematizados na figura a seguir.

Elevação da
temperatura
planetária

Alterações nos Ondas de frio Descongelamento de


regimes das chuvas e ondas de calor microrganismos

Enchentes/ Maior aglomeração/


enfermidades de doenças de transmissão Novas doenças
veiculação hídrica respiratória

Figura 14 – Inter-relações entre ambiente e saúde

A descoberta de Joe Farman iniciou uma crise ambiental importante, voltando os olhos de todas
as organizações governamentais a questões ambientais, as quais prevalecem até os dias atuais. Duas
das medidas criadas por essas organizações foram os Protocolos de Montreal (1987) e de Kyoto ou
Quioto (1997), que visam a defesa do meio ambiente, não permitindo que ações humanas sobre
eles sejam capazes de degradá-lo ou poluí-lo. Além disso, esses protocolos geraram um pensamento
ambientalista em diversos países, favorecendo a aplicação de ações que visam a educação ambiental,
como a alfabetização ecológica e a ação propriamente dita.

Em relação ao Protocolo de Montreal, que entrou em vigor em 1989, uma das suas funções é a
substituição das substâncias que afetam a camada de ozônio e, consequentemente, aumentam o efeito
estufa – ou seja, causam mais danos à camada de ozônio. Dentre as substâncias que a afetam, as mais
conhecidas são os clorofluorcarbonos (CFCs). No entanto, os halons, os tetracloretos de carbono (CTCs)
e os hidroclorofluorcarbonos (HCFCs) também compõem essa lista, pois todos eles são provenientes de
processos industriais.

Na década de 1930, os CFCs se tornaram essenciais para o desenvolvimento industrial. Contudo,


apesar do crescimento e do desenvolvimento industrial e comercial gerado pelo uso dos CFCs, foi
observado que esses compostos eram fortemente nocivos para o meio ambiente e para os seres vivos,
pois danificavam seriamente a camada de ozônio. Tais observações favoreceram a criação de medidas
para a substituição industrial desses compostos.

Já o Protocolo de Kyoto (1997) fixa metas para diminuir a poluição por queima de produtos fósseis,
os quais também são responsáveis pelo efeito estufa. Como as principais causas da poluição atmosférica
são determinadas pelas emissões de poluentes das indústrias siderúrgicas, queima de carvão e petróleo

57
Unidade II

pelas indústrias, automóveis e sistemas de aquecimento doméstico, a redução dessas emissões se faz
extremamente importante para a melhoria da qualidade do ar.

Com a criação do Protocolo de Kyoto, os países tiveram que reduzir a emissão dos gases do efeito
estufa em cerca de 5,2% entre 2008 e 2012. Além disso, os países que assinam esse protocolo devem
investir em projetos de redução das emissões em outras nações, além de estimular atividades que
favoreçam o plantio de árvores e a conservação do solo, a fim de aumentar a absorção de carbono do
ambiente. No entanto, tal protocolo é bastante limitado em suas ações de forma global, considerando
que grandes nações, como os Estados Unidos, não o assinaram mesmo sendo um dos países que mais
emitem poluentes, principalmente o CO2, na atmosfera. Já o Brasil é um dos países com maior número
de iniciativas a respeito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que diminui as consequências do
processo de geração de poluentes nos países em desenvolvimento.

No entanto, a participação do Brasil nas questões ambientais não se iniciou somente no Protocolo
de Kyoto. Bem antes dele, o País já considerava importante a proteção da camada de ozônio; por isso,
aderiu à Convenção de Viena e assinou o Protocolo de Montreal (1990). Ele afirmava que os países
desenvolvidos que, de acordo com a história, utilizaram tais substâncias no progresso de sua nação,
deveriam financiar a erradicação delas nos países em desenvolvimento.

O financiamento de todas as ações para o cumprimento das exigências do Protocolo de Montreal


é proveniente do Fundo Multilateral (FML, criado em 1990), o qual é administrado por um comitê
de caráter executivo e recebe fomento de países desenvolvidos. O Brasil é um dos países que recebe
apoio financeiro desse fundo para o desenvolvimento de suas ações contra a destruição da camada de
ozônio. No entanto, para que todas as ações fossem realizadas com seriedade, a Secretaria Nacional
de Vigilância Sanitária passou a fiscalizar, controlando e regulamentando em primeira instância, os
rótulos dos produtos que não continham CFCs. Em 1991, o Governo Federal criou o Grupo de Trabalho
do Ozônio (GTO) para a implementação do Protocolo de Montreal no Brasil. Concomitantemente, ações
no MS intervindo na produção e venda desses itens, como cosméticos e produtos higiênicos contendo
CFCs, favoreceram as ações impostas pelo protocolo no País.

Com a regulação e a aprovação do Conama (1995), foram criadas prioridades para a eliminação
dos CFCs dos produtos industrializados. Além disso, o governo federal criou o Prozon (Comitê
Executivo Interministerial para a Proteção da Camada de Ozônio), e o Ministério do Meio Ambiente
passou a coordená-lo.

Assim, considerando todos os aspectos anteriormente descritos, foi imprescindível a criação de órgãos
públicos fiscalizadores de diversos atos contra o meio ambiente e, consequentemente, contra a saúde
da população. A partir do I Seminário da Política Nacional de Saúde Ambiental (2005), foi redefinido o
documento denominado Subsídios para construção da Política Nacional de Saúde Ambiental, o qual foi
o fruto de diversos debates entre os principais órgãos controladores do meio ambiente, que são: Sistema
Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
(Singreh), Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM) da Secretaria de Vigilância em
Saúde do Ministério da Saúde, Comissão Permanente de Saúde Ambiental (Copesa) e Conselho Nacional
de Saúde (CNS), que é subsidiado pela Comissão Intersetorial de Saneamento e Meio Ambiente (Cisama).
58
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Para ficar mais claro, o quadro a seguir demonstra um resumo temporal de todas as conferências
das Nações Unidas sobre o desenvolvimento que colaboraram de alguma forma para a proteção do
meio ambiente e para a promoção da saúde humana. A última reunião aconteceu em 2015 (que não
está representada no quadro) e teve como tema Transformar nosso mundo para as pessoas e o planeta.

Quadro 1 – Resumo das conferências das Nações Unidas sobre o desenvolvimento

Ano Conferências
1990 Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre a Criança
1992 Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento
1993 Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos
1994 Conferência das Nações Unidas sobre Populações e Desenvolvimento
1995 Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Social
1996 Conferência das Nações Unidas sobre Assentos Humanos
1996 Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre Alimentação
2000 Cúpula do Milênio: Declaração e Objetivos do Milênio
2002 Conferência Internacional sobre Financiamento do Desenvolvimento
2002 Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+10
2005 Cúpula do Milênio II
2010 Cúpula do Milênio III
2012 Rio+20

Adaptado de: Buss, Ferreira Jr. (2012, p. 1481).

Em relação à outra fonte de energia não renovável, a radiação, diversos fatores podem ser considerados.
Normalmente, essa fonte é utilizada em países como o Japão, o qual não possui estrutura geofísica para
abstrair energia de outros locais, como a hidráulica. Contudo, esse tipo de energia está associado a
diversos custos que encarecem o seu uso, como o enriquecimento de urânio, a manutenção dos reatores
nucleares e a criação de processos de reprocessamento e de despejo dos resíduos radioativos – tudo para
evitar a falha do sistema, impedindo grandes desastres. Recentemente, em 2011, o Japão foi acometido
por um tsunami (em Tohoku), que devastou o país e danificou diversos reatores nucleares, causando
incerteza e medo sobre a liberação de material radioativo para o meio ambiente. Esse desastre fez os
japoneses repensarem novas formas de energia que não a nuclear.

Mas, afinal, o que é radiação? É uma forma de energia transmitida através do espaço e propagada
por meio de partículas ou ondas. As principais fontes de radiação são: equipamentos (aparelhos de raio X,
acelerador linear, micro-ondas, TV, antenas de celulares etc.), solar (luz visível, luz ultravioleta e infravermelho)
e urânio (que é um elemento naturalmente radioativo). As ondas eletromagnéticas são ondas de radiação
que se propagam com a velocidade da luz. Quanto mais curta a onda, mais energia ela tem e mais nociva
ela é. As ondas eletromagnéticas são divididas em ionizantes e não ionizantes. As radiações ionizantes
são as ondas eletromagnéticas mais rápidas, com alta frequência e que causam efeitos deletérios à saúde
humana (por exemplo, radiação ultravioleta, raio X e radiação gama). Já as radiações não ionizantes são ondas
eletromagnéticas de propagação mais lenta e com baixa frequência, como ondas de rádio, micro-ondas etc.

59
Unidade II

Entretanto, não podemos confundir radiação com radioatividade. Antes de discutirmos as diferenças,
temos que relembrar rapidamente que toda matéria é formada por átomos, conforme esquematizado
na figura a seguir. As principais características dos átomos são: um núcleo central com prótons (cargas
positivas) e nêutrons (sem carga, que dão estabilidade ao átomo) que é rodeado por elétrons (cargas
negativas), os quais estão presos em órbitas em que existe um número maior de nêutrons.
Nêutron Elétron

Próton

Orbitais

Figura 15 – Esquema do átomo estável

Quando os núcleos dos átomos instáveis ficam com excesso de energia, eles a liberam em forma de
radiação ionizante, do tipo α (alfa), β (beta) ou γ (gama). As radiações do tipo α são pouco penetrantes
e grandemente energéticas, mas podem ser barradas por uma folha de papel, enquanto as radiações
do tipo β são mais penetrantes e menos energéticas que as do tipo α, mas um pedaço de madeira já
seria o suficiente para barrá-las. Já a radiação do tipo γ não é muito energética, mas é extremamente
penetrante, sendo barrada somente por uma parede grossa de concreto ou por algum tipo de metal
(sendo, portanto, altamente penetrantes no corpo humano). Um exemplo de radiação γ é aquela gerada
por uma explosão de bomba atômica.

Os efeitos da exposição humana aos raios γ podem ser classificados como agudos (quando a
pessoa tem contato direto com o material radioativo e o aparecimento dos sintomas é imediato) ou
crônicos (quando há exposição indireta da pessoa com o material radioativo e o aparecimento dos
sintomas acontece ao longo de anos). As principais consequências da exposição do corpo ao material
radioativo estão associadas às modificações na estrutura do DNA celular, fato que causa mutações
genéticas e, consequentemente, o câncer. Já os efeitos agudos variam desde uma queimadura até o
rompimento de plaquetas.

A grande preocupação com o evento ocorrido no Japão foi a contaminação do ambiente pelo
vazamento do conteúdo radioativo das usinas, afetando a população de forma indireta, ou seja,
por meio da água e dos alimentos. Essa contaminação pode permanecer por várias gerações, como
aquela que aconteceu na explosão da bomba de Hiroshima, causando infertilidade em massa. Assim,
atitudes de gerenciamento de rejeitos radioativos são extremamente importantes para a diminuição da
contaminação dos seres humanos por radiação.

60
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

No Brasil, a história da energia nuclear se iniciou em 1930 com o intuito único e exclusivo de
pesquisar a respeito do tema. Em 1956, foi criado o Instituto de Energia Atômica, que em 1979 passou a
se chamar Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), o qual é gerido pela Comissão Nacional
de Energia Nuclear (CNEN). Em 1966, foi criado o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), em
Piracicaba (SP). No Rio de Janeiro, foi criado o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, o Conselho Nacional
de Pesquisas, a Comissão Nacional de Energia Nuclear, o Instituto de Radioproteção e Dosimetria e o
Instituto de Energia Nuclear, nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Em Belo Horizonte, em 1953, foi criado
o Instituto de Pesquisas Radiológicas e, em 1965, foi formado o Grupo do Tório, para desenvolver o
projeto de um reator de potência moderada.

A primeira vez que a energia nuclear foi utilizada no Brasil foi para o uso biomédico, por meio da
criação e utilização de radioisótopos para exames clínicos, em 1950. Em 1959 foram produzidos os
radiofármacos. Além disso, os radioativos também são utilizados na agricultura, favorecendo estudos
na área de fertilizantes e metabolismo de plantas. Outra aplicação brasileira para a energia nuclear é
na indústria metalúrgica para o controle de qualidade e produção dos produtos. A Marinha conta com
um centro experimental avançado com o intuito de desenvolver experiências na área de combustível
nuclear. Contudo, ainda nos dias atuais, existe resistência por parte da população na criação de usinas
radioativas, como uma possível fonte de energia.

6 FATORES RELACIONADOS À PRODUÇÃO DE RESÍDUOS, À CONTAMINAÇÃO


DO SOLO E AOS RISCOS NO TRABALHO QUE INTERFEREM NO MEIO
AMBIENTE E NA SAÚDE HUMANA

A cultura de tratamento de esgotos, resíduos industriais, a coleta de lixo e reciclagem vieram


muito depois na história da humanidade, e as consequências dessas práticas pouco ecológicas, nós
tentamos remediar somente agora com acordos e iniciativas governamentais como as Conferências da
Organização da Nações Unidas (ONU) para o desenvolvimento sustentável, como a de Estocolmo (1972),
a Eco 92 (1992) e a mais recente Rio+20 (2012), nas quais se procura adotar conjuntamente medidas
para diminuir a degradação do meio ambiente, instituindo o manejo sustentável de nossos recursos
naturais e a educação ambiental para que cada indivíduo tenha consciência de seu papel na sociedade.

Saiba mais
A reportagem da revista Exame, a seguir, propicia uma inter-relação
com o conteúdo visto até o momento:
BARBOSA, V. O que ficou como herança da Rio+20. Revista eletrônica
exame.com. 13 ago. 2012. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/
meio-ambiente-e-energia/noticias/o-que-ficou-da-rio-20-depois-que-a-
poeira-baixou?page=1>. Acesso em: 24 fev. 2017.

Com o crescimento populacional e os novos padrões de consumo humano, houve um aumento


significativo da produção de resíduos, principalmente da metade do século XX em diante. Isso não seria
61
Unidade II

motivo de preocupação se o crescimento da produção seguisse o ritmo de absorção desses resíduos


pela natureza, mas infelizmente não é o que acontece. Isso pode ser observado considerando os dados
do IBGE (de 1989 a 2000), que demonstraram que a população brasileira aumentou cerca de 16%, mas
a produção de resíduos aumentou cerca de 48%; logo, a produção de resíduos cresce mais do que a
população do país (IBGE, 2008). Contudo, apesar de a produção de produtos colaborar altamente para a
geração de resíduos, ela não é a única responsável. Podemos atribuir outra parcela de culpa ao consumo
desses produtos, ou seja, existe um alto grau de descarte, que muitas vezes não sofrem degradação.

Em relação aos resíduos sólidos, o Ministério do Interior publicou a Portaria nº 53 (BRASIL, 1979),
que estabeleceu condutas para o descarte de resíduos sólidos domiciliares, de natureza industrial, de
saúde e demais resíduos no país. Contudo, outras políticas nacionais estão envolvidas com o tema, como
a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31/08/1981), a Política Nacional de Saúde (Lei
Orgânica da Saúde nº 8.080, de 19/09/1990), a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795,
de 27/04/1999), a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433, de 08/01/1997), a Lei de Crimes
Ambientais (Lei nº 9.605, de 12/02/1998), o Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257, de 10/07/2001), a Política
Nacional de Saneamento Básico (Lei nº 11.445, de 05/01/2007) e a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(Lei nº 12.305, de 02/08/2010).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de 02/08/2010) tem como objetivos:

• a proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;

• a não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como a
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;

• o estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços;

• a adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar


impactos ambientais;

• a redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;

• o incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e


insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados;

• a gestão integrada de resíduos sólidos;

• a articulação entre as diferentes esferas do poder público, e delas com o setor empresarial, com
vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos;

• a capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;

• a regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação dos serviços públicos


de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com adoção de mecanismos gerenciais e
econômicos que assegurem a recuperação dos custos dos serviços prestados, como forma de
garantir sua sustentabilidade operacional e financeira;

62
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

• a prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para produtos reciclados e recicláveis,


bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões de consumo social e
ambientalmente sustentáveis;

• a integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

• o estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto;

• o incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para


a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a
recuperação e o aproveitamento energético e o estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo
sustentável (BRASIL, 2010a).

De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, o meio ambiente é um direito de todos;


portanto, é um dever de todos os cidadãos fiscalizar as atitudes contra ele, principalmente as
humanas. Colaboram com a fiscalização órgãos governamentais como o Ministério Público, o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Delegacia
de Meio Ambiente e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Além disso, a Constituição, em seu
artigo 225, parágrafo 3º, estabelece que:

As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente


sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados (BRASIL, 1988).

Já a Lei de Crime Ambiental (Lei nº 9.605, de 1998) prevê:

Art. 54. – Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem
ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a
mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: [...]

§ 2º Se o crime: [...]

V – ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou


detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências
estabelecidas em leis ou regulamentos:

Pena – reclusão, de um a cinco anos (BRASIL, 1998).

Assim, atividades que prejudicam o meio ambiente são ampliadas para o descarte inadequado dos
resíduos, pois essa conduta é responsável por um dano severo ao meio ambiente e à saúde humana
(por exemplo, pela contaminação do lençol freático). É importante ressaltar que as ações de reversão
do dano são mais difíceis e mais custosas do que a prevenção. Apesar disso, em nível federal, não existe

63
Unidade II

documento legal que estabeleça critérios rígidos para o descarte dos resíduos sólidos. Assim, a gestão
inadequada desses resíduos segue os preceitos da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA – Lei nº
6.938, de 1991). Contudo, o Conama publicou uma Resolução (nº 313, de 2002), que institui o Inventário
Nacional de Resíduos e estabelece critérios para o tratamento de alguns tipos de resíduos. São exemplos
a regulação do tratamento térmico de resíduos e o licenciamento ambiental, que é extremamente
importante para as atividades que geram resíduos sólidos.

Para que aconteça a gestão dos resíduos sólidos, primeiramente, é necessário conhecer o conceito
de resíduo sólido e saber diferenciá-lo de lixo. Lixo é tudo aquilo que é descartado porque não tem
mais utilidade, enquanto que resíduo é a sobra de algum produto que não necessariamente pode ser
desprezado e não tem mais utilidade. É importante ressaltar que falar em resíduo sólido não se relaciona
ao estado sólido, em si.

Até o ano de 2010, quando não existia a Política Nacional de Resíduos Sólidos, eram utilizadas as
normas técnicas (NBRs), que foram publicadas no Brasil pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) para definir resíduos sólidos. Portanto, a norma técnica NBR 10.004 para a classificação dos
resíduos sólidos (que foi revisada em 2004) os define como:

Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de


origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de
varrição. Ficam incluídos nessa definição os lodos provenientes de sistemas
de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de
controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades
tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de
água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em
face à melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010a).

Por sua vez, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de 02/08/2010) os define como:

Todo material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades


humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe
proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido,
bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades
tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos
d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis
em face da melhor tecnologia disponível.

Além disso, o Artigo 13 da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010a),
classifica esses resíduos de acordo com a origem e periculosidade, conforme esquematizado na figura
a seguir:

64
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Classificação dos resíduos sólidos

Perigosos
Quanto à
periculosidade
Não perigosos
Quanto à origem

Doméstica Sólidos Serviços Serviços Agrossilvo- Mineração


urbanos públicos de de saúde pastoris
saneamento
Limpeza básico Transporte
urbana
Sólidos Resíduos Construção
comerciais e industriais civil
de prestadores
de serviço

Figura 16 – Classificação dos resíduos

Ainda em relação à classificação dos resíduos sólidos, o quadro a seguir esquematiza a divisão
conforme a periculosidade. Eles podem ser divididos em perigosos ou não perigosos, e podem ainda ser
inertes e não inertes.

Quadro 2 – Classificação dos resíduos de acordo com a periculosidade

Classificação dos resíduos de acordo com a periculosidade


Classe I Classe II
Perigosos Não perigosos (que podem ser):
a) inertes
b) não inertes

Conforme citado, de forma geral, os resíduos são derivados da produção de matéria-prima.


Entretanto, dependendo do tipo de matéria-prima utilizada, poderá gerar resíduos perigosos ou não
perigosos, conforme esquematizado na figura a seguir:

65
Unidade II

Matérias‑primas

Processos produtivos

Produto Resíduo

Inerte
Não perigosos
Não inerte Perigosos

Inflamável Tóxico Corrosivo Reativo

Figura 17 – Esquema da produção de matéria-prima e de resíduos

Saiba mais

Para conhecer com detalhes a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei


nº 12.305, de 02/08/2010), sugerimos o acesso ao site:

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional


de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá
outras providências. Brasília, 2010a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 11 nov. 2016.

Em relação aos resíduos da classe I, considerados perigosos, podemos acrescentar que são os
resíduos de ordem física, química ou infectocontagiosa que podem acarretar danos à saúde das
pessoas e prejuízos graves ao meio ambiente, quando não são manipulados da forma adequada ou
dentro dos preceitos legais. Assim, para que um resíduo seja classificado como perigoso, ou seja,
componha a classe I, ele precisa ser inflamável, corrosivo, reativo, tóxico, patogênico, carcinogênico,
teratogênico e/ou mutagênico. São exemplos de resíduos perigosos: óleo lubrificante usado ou
contaminado, óleo de corte e usinagem usado, equipamentos descartados e contaminados com
óleo, lodos de galvanoplastia (tratamento superficial em metais), lodos gerados no tratamento de
efluentes líquidos de pintura industrial, efluentes líquidos ou resíduos originados do processo de
preservação da madeira, acumuladores elétricos à base de chumbo (baterias), lâmpada com vapor
de mercúrio (lâmpadas fluorescentes) e todos os resíduos provenientes dos serviços de saúde.

66
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Os resíduos da classe II são considerados não perigosos e podem ser divididos em não inertes
(classe II A) ou inertes (classe II B). Os resíduos não inertes são aqueles capazes de se biodegradar,
serem combustíveis ou solúveis em água. O lixo comum (proveniente de restaurantes, banheiros,
escritórios, dentre outros) é um dos exemplos desse tipo de resíduo. Já os resíduos inertes são aqueles
que não podem se solubilizar em água, ou seja, não sofrem transformações de qualquer tipo (física,
química ou biológica). Resíduos obtidos de obra civil (entulho) é um dos exemplos de resíduo inerte.

Os quadros a seguir demonstram alguns exemplos da origem do resíduo, locais que o reproduzem
e os tipos de resíduo produzido.

Quadro 3 – Exemplos da origem dos resíduos, locais produtores e os tipos de resíduos

Origem do resíduo Exemplos de locais produtores Exemplos de resíduo produzido


Restos de alimento, jornais, revistas,
embalagens vazias, frascos de vidros,
papel e absorventes higiênicos, fraldas
descartáveis, preservativos, embalagens
Domiciliar Residências contendo tintas, solventes, pesticidas,
óleos lubrificantes, medicamentos,
pilhas, bateria, lâmpadas fluorescentes,
dentre outros.
Supermercados, bancos, lojas, bares, Assemelham-se aos resíduos
Comerciais e Prestadores de Serviços restaurantes domésticos
Serviços de limpeza de vias públicas Podas, resíduos difusos (descartados
Limpeza Pública, Sólidos Urbanos e (inclui varrição e capina), praças, pela população): entulho, papéis,
Serviços de Saneamento Básico praias, galerias, córregos, terrenos embalagens gerais, alimentos,
baldios, feiras livres, animais cadáveres, fraldas etc.

Adaptado de: Brasil (2006, p. 21).

Quadro 4 – Outros exemplos da origem dos resíduos, locais produtores e os tipos de


resíduos

Origem do resíduo Exemplos de locais produtores Exemplos de resíduo produzido


Indústrias: metalúrgica, elétrica, Varia de acordo com a matéria-prima a ser
Industrial química, de papel e celulose, têxtil, produzida, mas vão desde lodos, cinzas,
dentre outras. borrachas até metais, vidros, fibras e cerâmica.
Podem ser reutilizáveis e recicláveis (solos,
tijolos, telhas, placas de revestimentos),
Construção, reformas, reparos, recicláveis para outra destinação (plásticos,
Construção Civil demolições, reparação e escavação papel/papelão, metais, vidros, madeiras etc.), não
de terrenos. recicláveis, perigosos (amianto, tintas, solventes,
óleos) e resíduos contaminados (reformas de
clínicas radiológicas e unidades industriais).
Resíduos infectantes (cultura, vacina vencida,
sangue e hemoderivados, tecidos, órgão, resíduos
Serviços de Saúde
Atividades médico-assistencial que entraram em contato com pacientes
humana ou animal. (secreções, refeições etc.), dentre outros. Resíduos
especiais (rejeitos radioativos, medicamento
vencido, contaminado, dentre outros).

Adaptado de: Brasil (2006, p. 22).

67
Unidade II

Além desses exemplos, existem os resíduos de transporte (que incluem aqueles gerados em terminais
de transporte, navios, aviões, ônibus e trens), os agrossilvopastoris (que são gerados nas atividades
agropecuárias e silviculturais, incluindo os insumos utilizados nessas atividades) e os de mineração (que
são gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios).

Em se tratando de resíduos perigosos, destacam-se os metais pesados e os biológicos infectantes,


os quais são capazes de contaminar água, solo e ar, mas não são produzidos exclusivamente pelas
indústrias ou clínicas médicas. Alguns resíduos sólidos perigosos também são descartados em domicílios
e comércios. Os metais pesados estão associados à poluição e toxicidade e são utilizados na indústria
eletrônica, maquinários e utensílios diários da vida cotidiana, como pilhas, baterias, equipamentos
eletrônicos em geral, lâmpadas fluorescentes, pigmentos e tintas, medicamentos, dentre outros. Já os
biológicos são aqueles pertencentes à microbiota natural do corpo humano, como a Escherichia coli, e
podem estar presentes nos resíduos sólidos urbanos.

O contato com os agentes contaminantes presentes nos resíduos sólidos pode contaminar os seres
vivos por inalação, por contato direto com a pele e mucosas e por ingestão. Portanto, é muito importante
que exista um sistema público de limpeza urbana, que inclui coleta, tratamento e disposição final dos
resíduos sólidos de forma adequada, pois uma vez que todas as práticas humanas refletem na geração
de resíduos, a administração e o planejamento do descarte desses resíduos é um grande desafio para as
políticas públicas. É possível diminuir os impactos do descarte de resíduos para o meio ambiente e para
a saúde humana, utilizando um adequado plano de gerenciamento.

Como descrito anteriormente, a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos foi implementada
com o intuito de gerenciar e administrar de forma adequada os resíduos sólidos, não incluindo
os rejeitos radioativos. Além disso, a esses resíduos se aplicam as normas estabelecidas pelo
Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS),
Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e Sistema Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro). Em relação à destinação final dos resíduos, a Lei
nº 12.305 preconiza que:

[...] a destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a


compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras
destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e
do Suasa, entre elas a disposição final, observando normas operacionais
específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança
e a minimizar os impactos ambientais adversos (BRASIL, 2010a).

O gerenciamento adequado dos resíduos sólidos é de extrema importância para o meio ambiente
e para a saúde das pessoas. Em relação aos resíduos de saúde, essa importância triplica, uma vez que
seu descarte inadequado está associado a severos danos à saúde das pessoas por contaminação, fatos
discutidos desde 1990, com a criação de uma lei de gerenciamento desses resíduos pelo Conama.

Adicionalmente, de acordo com a norma da ABNT (2004), NBR 10.004, os resíduos sólidos de
saúde são classificados como perigosos (classe I), pois apresentam riscos à saúde humana no que
68
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

diz respeito à sua patogenicidade, toxicidade, reatividade, corrosividade e inflamabilidade. Esses


resíduos são caracterizados como todos aqueles produzidos das atividades médico-hospitalares
assistenciais e de pesquisa da área de saúde, os quais podem ser compostos por materiais
biológicos, químicos e perfurocortantes, além de serem contaminados por agentes patogênicos de
acordo com a Resolução do Conama nº 358 (2005), necessitando, assim, de processo diferenciado
em seu manejo e tratamento prévio à sua decomposição final.

Em relação aos resíduos de serviços de saúde, eles podem ser divididos em:

• grupo A: resíduos com presença de agentes biológicos que, por suas características de maior
virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. Por exemplo: peças anatômicas,
bolsas transfusionais, resíduos de atendimento de saúde, meios de cultura e resíduos de laboratórios,
dentre outros;

• grupo B: resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao
meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade
e toxicidade. Por exemplo: produtos hormonais, desinfetantes e reagentes para laboratório etc.;

• grupo C: materiais radioativos resultantes de laboratórios de pesquisa e ensino na área de saúde,


laboratórios de análises clínicas e serviços de medicina nuclear e radioterapia que contenham
radionuclídeos em quantidade superior aos limites de eliminação;

• grupo D: materiais que não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio
ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Por exemplo: sobras de alimentos,
papel sanitário, fraldas e resíduos da parte administrativa, dentre outros;

• grupo E: materiais perfurocortantes e escarificantes. Por exemplo: lâminas de bisturi e


agulhas etc.

Os locais de destinação final para os resíduos sólidos estão descritos a seguir:

• aterro controlado: local onde se despeja o lixo coletado pelo serviço de limpeza urbana; após a
jornada de trabalho, todos os resíduos são cobertos com camadas de terra, evitando danos ao
meio ambiente, à saúde pública e à segurança das pessoas;

• aterro de resíduos da construção civil e de resíduos inertes: instalações nas quais se aplicam
técnicas e princípios de engenharia para a disposição de resíduos de construção civil e inertes no
solo. Essa condição não permite danos ao ambiente e à saúde humana, pois todos os resíduos são
confinados e reduzidos ao menor volume possível. Tal procedimento visa a segregação (ato de
separar ou isolar contato de algo ou alguém) dos materiais, possibilitando o uso deles no futuro,
ou mesmo a utilização da área aterrada para outros objetivos;

• aterro sanitário: nessas instalações, os resíduos sólidos urbanos são depositados no solo (sob
controle técnico e operacional permanente), garantindo que tanto os resíduos como os seus
69
Unidade II

líquidos e gases não causem danos à saúde e ao meio ambiente. Esse tipo de instalação deve ser
localizado, projetado, instalado, operado e monitorado de acordo com a legislação ambiental;

• aterro sanitário industrial: instalações de destinação final ou transitória de resíduos industriais


por meio de sua adequada disposição, evitando o contato tanto dos resíduos quanto dos seus
líquidos e gases no solo e diminuindo os riscos ao meio ambiente e à saúde humana. Uma vez
que o potencial de agressão ambiental e à saúde dos resíduos de origem industrial depende das
características desses resíduos, dos processos envolvidos e do estado físico em que se apresentam,
cada aterro sanitário industrial deverá ser projetado, operado e monitorado de acordo com os
tipos de resíduos. Além disso, esses aterros têm que estar credenciados para receber, processar
e estocar os resíduos de forma tanto provisória como definitiva sobre o solo ou em estanques
distintos entre si, prevenindo a interação ou reação entre os resíduos.

Ainda nos dias atuais, existem maneiras incorretas de acondicionamento dos resíduos sólidos, como
os vazadouros a céu aberto (local de disposição do lixo onde ele é colocado sobre o terreno sem qualquer
cuidado ou técnica especial, não tendo, portanto, proteção ao meio ambiente e à saúde da população)
e os vazadouros em áreas alagadas (que são corpos d’água utilizados para a disposição do lixo).

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2008) demonstraram que cerca de 50% dos
municípios brasileiros ainda utilizam os lixões como forma de descarte/acondicionamento dos resíduos,
como demonstrado na figura a seguir. Apesar de observar uma queda desse número em relação há 20
anos, os dados atuais ainda refletem a precariedade do sistema de descarte e acondicionamento dos
resíduos, o que está estritamente relacionado à cultura, educação e consciência da população.

110 Vazadouro a céu aberto


(Lixões)
80 Aterro controlado

Aterro sanitário
Porcentagem (%)

60

40

20

1989 2000 2008

Figura 18 – Destino final dos resíduos sólidos no Brasil por unidades de destino (1989/2008)

Em relação à disposição inadequada dos resíduos sólidos, Nordeste e Norte se destacaram por
possuírem o maior índice de destinação do lixo aos lixões (89 e 85%, respectivamente), enquanto Sul
e Sudeste têm a menor destinação desses resíduos aos lixões (15 e 18%, respectivamente). O destaque
negativo no Norte foi para o estado do Pará, onde cerca de 94% do lixo é acondicionado em lixões. Já

70
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

o Nordeste possui três estados que contêm acima de 96% do acondicionamento do seu lixo em lixões,
conforme demonstrado na figura a seguir. Do Sudeste, o estado de São Paulo se destacou por possuir a
destinação de somente 7% do seu lixo para os lixões, enquanto que o Rio de Janeiro teve o pior índice
de destinação do lixo para os lixões (cerca de 33%). Tais dados indicam um avanço significativo dessa
temática em São Paulo e a necessidade de grandes mudanças para os demais estados, inclusive o Rio de
Janeiro. Contudo, o Sul é o maior destaque positivo, uma vez que seus três estados possuem destinação
dos lixos para aterros sanitários e controlados (acima de 79%).
100
Região Norte
Região Nordeste
80
Região Sudeste
Região Sul
Porcentagem (%)

60

40

20

Figura 19 – Destino final dos resíduos sólidos para os lixões

Quando avaliamos a destinação final dos resíduos sólidos de serviços de saúde, os dados do IBGE
demonstram que cerca de 61% dos municípios depositam esses resíduos em lixões ou aterros com os
outros tipos de resíduos misturados. Mas quando dividimos esses municípios em regiões, Sul e Sudeste
possuem o menor índice de depósito desses resíduos em lixões comuns (cerca de 40%), enquanto Norte
e Nordeste possuem o maior índice (acima de 65%), o que pode ser observado na figura a seguir.
100
Região Norte
Região Nordeste
80
Região Sudeste
Região Sul
Porcentagem (%)

60

40

20

Figura 20 – Destino final dos resíduos sólidos de saúde em lixões

71
Unidade II

Uma das complicações do inadequado descarte dos resíduos sólidos é a contaminação do solo, mas
esse tipo de dano depende também de outro fator: a falta de planejamento urbano.

Quando pensamos em planejamento urbano, precisamos ter em mente que esse processo é
importante para a qualidade de vida das pessoas que residem em uma área urbana (cidades
ou grandes bairros), pois ele permite tanto a criação quanto o desenvolvimento de programas
que melhoram diversos aspectos, como educação, saneamento básico e destinação dos resíduos
sólidos, dentre outros. Claro que esse processo é mais efetivo quando as ações são executadas
antes do aumento da população local, mas isso não impede que ele seja realizado mesmo quando
os cidadãos já habitam os grandes centros urbanos.

A preocupação com a desordem do crescimento populacional e o planejamento urbano acontece


desde o começo do século XX, pois em dez anos houve um rápido aumento da população brasileira
nos grandes centros urbanos, sendo que no ano 2000 cerca de 80% da população brasileira total
habitavam as grandes cidades. Ao longo da história da humanidade, o conceito de ocupação da
terra tem sido atrelado ao seu usufruto, mas nos dias atuais tal ocupação está além desse aspecto,
ou seja, tem características de habitações irregulares ou informais. A forma como acontecem as
ocupações caracterizam o planejamento urbano, desde a ocupação da terra até a aquisição de
infraestrutura e de serviços.

Antes de comentarmos os aspectos relacionados ao planejamento urbano no Brasil, precisamos


recapitular um pouco de sua história. Os primeiros relatos sobre tal procedimento surgiram cerca
de 3.500 a.C., sendo que a Grécia foi um dos seus cenários iniciais. Os historiadores contemplam
o grego Hippodamus (498-408 a.C.) como o pai do planejamento urbano. Além disso, Aristóteles
comentou que Hippodamus foi quem criou a divisão das cidades, a construção de casas privadas
e os arranjos das cidades com ruas retangulares e retilíneas, os quais foram aplicados nas ruas
de Pireu (Grécia). Diversas outras civilizações são apontadas como iniciantes do planejamento
urbano, como as pré-colombianas e a do Vale do Indo; mas o destaque vai para a civilização
romana, que utilizou tais estratégias voltadas para defesa militar. O plano de construção das
cidades era: uma praça quadrada central com serviços urbanos cercados por ruas, onde tudo era
cercado por muro com o intuito de garantir a defesa do povo. Pelo menos duas ruas em diagonal
cruzam a praça quadrada, diminuindo o tempo necessário para a locomoção do povo, e um rio
corre dentro da cidade para o fornecimento de água, despejo de esgoto e meio de transporte.
Interessantemente, essa estrutura de cidade ainda pode ser observada nos dias atuais em algumas
cidades europeias, como Roma, conforme visto na figura a seguir.

72
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Figura 21 – Modelo de cidade planejada desde a Antiguidade: Roma

Na Idade Média, o crescimento populacional estava vinculado à religião; assim, as cidades


se desenvolviam ao redor das igrejas, pois a religião era parte da vida política, social e cultural
das pessoas. Com o crescimento populacional, pequenas vilas foram se formando ao redor dos
grandes muros que protegiam as cidades. A Revolução Industrial (séculos XVII e XIX) trouxe,
com a criação de fábricas nas grandes cidades, um aumento populacional considerável, pois as
pessoas buscavam outras oportunidades de vida e de trabalho além daquelas encontradas no
campo. Dessa forma, instalou-se a necessidade de melhorias nas condições de vida dessas pessoas,
reivindicações dos reformistas sociais (os quais batalhavam por melhores condições de vida) e
zoneamento e criação de áreas verdes comuns. Além disso, a industrialização proporcionou a
separação das áreas comerciais e residenciais e favoreceu a criação de municipalidades e governos
para melhoria da condição de vida das pessoas.

Algumas cidades modernas podem servir de modelo de planejamento urbano, como Brasília (Brasil)
e Chicago (Estados Unidos). Essa última pode ser observada na figura a seguir:

Figura 22 – Chicago (EUA): modelo de cidade moderna planejada

73
Unidade II

Mas, afinal, de quem é a responsabilidade do planejamento urbano no Brasil? A partir do século


XIX, o planejamento urbano é de responsabilidade do governo, que tem como função a contratação de
arquitetos especializados. A Constituição prevê (de acordo com o Artigo 21, inciso XIX):

[...] que é competência privativa da União instituir diretrizes para o


desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e
transportes urbanos, cabendo à União estabelecer as normas gerais de
direito urbanístico, no âmbito da competência legislativa concorrente com
os estados (BRASIL, 2001).

A institucionalização do planejamento urbano nas administrações municipais aconteceu a partir da


década de 1970, com o intuito de promover o equilíbrio das cidades na questão de todos os processos
de urbanização. O zoneamento é um dos instrumentos do planejamento urbano que visa a divisão do
conjunto do território urbanizado em zonas diferenciadas, como as comerciais e as residenciais.

Quando as cidades são construídas de forma desordenada, as consequências desse crescimento


se propagam para o ambiente e para a saúde da população, como descrito anteriormente. A falta de
pavimentação das vias, por exemplo, acarreta sérios danos à saúde e à qualidade de vida humanas,
pois essa ação é de extrema importância para a circulação das pessoas pela cidade. Contudo, a
impermeabilização dos solos pode representar grandes riscos para eventos de erosão, assoreamentos,
alagamentos, inundações e proliferação de problemas de saúde pública. Dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (2008) demonstraram que somente cerca de 40% dos municípios são
pavimentados no Brasil. Além disso, o uso do solo urbano de forma inadequada colabora para a
ocorrência de alagamentos e inundações.

A poluição do solo vai além da disposição dos resíduos sólidos em aterros inadequados ou falta
de pavimentação das vias públicas. Esse tipo de poluição é dividido em urbana e rural. A disposição
inadequada dos resíduos sólidos é uma das formas mais comuns de poluição do solo em áreas urbanas;
já em relação à rural, podemos destacar o uso de agrotóxicos, queimadas, desmatamentos e má
utilização do solo, os quais são capazes de gerar danos irreversíveis ao solo, como a falta de fertilidade
e a contaminação da água.

Em relação aos agrotóxicos, os principais são os herbicidas e os pesticidas, que possuem em sua
fórmula a dioxina – a qual é responsável pelo surgimento de câncer, defeitos congênitos e doenças de
pele. Além disso, os fertilizantes também contribuem com a poluição do solo, pois possuem em sua
composição nitratos e fosfatos, que vão se acumulando no solo e contaminando-o.

A erosão do solo consiste na ação de diversos fatores, os quais provocam a sua desagregação.
Esses acontecimentos são gerados pelo uso de solos desprotegidos da cobertura vegetal, causados
por diversos fatores:

• desmatamento e retirada completa da vegetação, deixando o solo descoberto;

• plantio de forma incorreta;


74
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

• plantio de culturas não adaptadas às características da terra;

• pisoteio excessivo do gado em pastagens;

• queimadas;

• compactação do solo pelo movimento de máquinas e veículos;

• urbanização/impermeabilização do solo.

Assim, diversos eventos podem contribuir para a contaminação do solo e, consequentemente, para
a geração de danos ao meio ambiente e à saúde humana.

Contudo, nós não estamos somente suscetíveis a problemas que afetam nossa saúde. Ao iniciarmos
nossa vida no campo do trabalho, executando-o ou não, podemos nos deparar com diversas situações
que podem agir contra a nossa saúde, diminuindo a nossa qualidade de vida. Já foram citados fatores
que colaboram com a contaminação da água, do ar e do solo, mas existem outros que podem estar
associados aos elementos essenciais à vida, os quais também conseguem afetar nossa saúde.

Uma vez que consideramos a saúde como um patrimônio do trabalhador, podemos relacioná-la
como uma condição essencial e fundamental para o trabalho e para a vida, pois ela é a ferramenta
para o desenvolvimento das relações de produção. Se o nosso corpo funciona como uma máquina, ele
precisa de manutenção. Mas antes de abordarmos os fatores que podem afetar nossa saúde e que estão
vinculados ao ar, à água e ao solo, temos que conhecer quais os riscos que qualquer ser humano está
suscetível, principalmente em seu ambiente de trabalho. O Ministério do Trabalho classifica cinco riscos
à saúde do trabalhador, que são:

• risco para acidente: considerado um tipo de risco em fatores capazes de colocar os trabalhadores
em situação de risco ou vulnerabilidade. Essas situações podem afetar a integridade e o
bem-estar físico, psíquico e social do indivíduo. São exemplos: falta de proteção em equipamentos
e máquinas, risco de explosão e incêndio, além de planta física inadequada, dentre outros;

• risco ergonômico: é um tipo de risco que interfere nas condições psicofisiológicas do trabalhador.
Essa interferência causa desconforto, afetando drasticamente a saúde e, consequentemente, a
vida do indivíduo. São exemplos: levantamento de peso, carga de trabalho excessiva, monotonia,
movimentos repetitivos, postura inadequada etc.;

• risco físico: está intimamente ligado com a exposição do trabalhador aos agentes de risco físico.
São exemplos: ruído, calor, frio, pressão, umidade, radiação e vibração, dentre outros;

• risco químico: envolve o contato dos trabalhadores aos riscos químicos, compostos ou produtos
que podem penetrar no organismo desses trabalhadores, como poeiras, fumos, gases, neblinas,
névoas, vapores etc.;

75
Unidade II

• risco biológico: é um tipo de risco no qual os trabalhadores são expostos aos agentes biológicos.
São eles: bactérias, vírus, fungos, parasitas, dentre outros.

Para os riscos físico, químico e biológico, as vias de exposição são as mesmas, ou seja, o trabalhador
está exposto a esses riscos pela inalação (nariz) ou via oral (boca), ocular (olhos) e dérmica (pele).
Vale ressaltar que todos esses riscos podem ser reduzidos com o uso dos equipamentos de proteção
individual (EPIs). O uso deles também é essencial para os profissionais da área da saúde.

Segundo as leis referentes ao trabalho, Lei nº 5.452, artigo 192, (BRASIL, 1943), o indivíduo que estiver em
um ambiente de trabalho insalubre poderá receber adicional de 40% do salário. Além disso, para as regiões do
País que ainda não adotaram a medida antifumo em ambientes fechados, alguns trabalhadores podem receber
a insalubridade caso não sejam fumantes e em seu ambiente de trabalho seja permitido fumar. Isso porque
todos os indivíduos não fumantes (conhecidos também como fumantes passivos) que convivem com fumantes,
principalmente no ambiente de trabalho, podem sofrer os mesmos riscos do tabaco que indivíduos fumantes.

Sobre os movimentos repetitivos, o MS adverte que eles causam inflamação quando executados sem
pausa. Para identificar esse tipo de acometimento, foi criada a sigla LER/Dort, que significa lesão por esforço
repetitivo e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Dentre as lesões, há aquelas que atingem
músculos, tendões e membros superiores. Não há uma causa determinada para o seu surgimento, mas
fatores como repetições de movimentos, posturas inadequadas por longo tempo, esforço físico, pressão
mecânica sobre algumas partes do corpo, impactos, vibração e frio, dentre outros, conseguem acarretar
esse tipo de problema. Uma vez comprovada a LER/Dort, a empresa pode pagar multa para os funcionários.

Em relação aos prejuízos no equilíbrio emocional do trabalhador, o grande responsável por esse dano
na saúde é o assédio moral. Quando falamos em assédio moral ou violência moral, temos como conceito
a exposição do trabalhador a situações vexatórias, que podem prejudicar o ambiente de trabalho,
diminuir a autoestima do trabalhador e ainda atentar contra a dignidade dessa pessoa. Tais situações
podem contribuir para o aumento no número de suicídios, pois a maioria dos trabalhadores que sofrem
assédio moral desenvolve depressão.

Quando pensamos no efeito do barulho sobre a saúde do trabalhador, não podemos deixar de associar
esse tipo de risco físico com doenças cardíacas, uma vez que um estudo realizado na Alemanha (com
cerca de quatro mil pacientes que trabalham ou vivem em locais com alto nível de barulho) demonstrou
que cerca de 50% desses indivíduos podem sofrer ataques cardíacos.

Um exemplo de exposição dérmica acontece quando os profissionais que trabalham diretamente


com cimento podem adquirir dermatoses que causam ressecamento, irritação e feridas nas mãos, pés
ou pele, o que talvez produza reações alérgicas no local de exposição. Os trabalhadores acometidos
pela dermatose durante o expediente de trabalho devem ser tratados no SUS e a empresa deve emitir
um comunicado de acidente de trabalho (CAT), pois somente assim o trabalhador terá garantido o seu
salário e o tratamento integral da dermatose.

Tão importante quanto as condições de trabalho e a diminuição de riscos a esses profissionais é a


erradicação do trabalho escravo, o que foi discutido em 2006 na Conferência Internacional de Empresas
76
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

e Responsabilidade Social, realizada no Instituto Ethos para promover e aplicar práticas de promoção do
Trabalho Decente e do Pacto Contra o Trabalho Escravo.

Fica claro que, segundo as leis trabalhistas, tanto a empresa quanto os seus funcionários têm
responsabilidade em relação aos danos à saúde do trabalhador. A empresa tem que fornecer os EPIs
corretos para cada tipo de trabalho a ser realizado, instruir os funcionários para a utilização dos EPIs,
fiscalizar o seu uso e repor aqueles danificados. Já os funcionários têm como obrigação usar e conservar
os EPIs fornecidos pela empresa. Como uma alternativa para a prevenção de acidentes de trabalho,
algumas empresas possuem a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa).

Resumo

A água para o abastecimento público é uma crescente preocupação


para a humanidade, tanto em qualidade como em quantidade. O planeta é
composto de ¾ de água e ¼ de continente, sendo que 97,5% dessa água é
encontrada nos mares e oceanos, o restante é água doce.

A substância água possui algumas propriedades intrínsecas como:


calor específico, densidade, viscosidade, tensão superficial e dissolução.
Ela também tem características físicas, químicas e biológicas. Dentre as
características físicas, estão: cor, sabor, odor, turbidez, presença de sólido e
condutividade elétrica. Dentre os aspectos químicos, há: pH, acidificação,
alcalinidade, dureza, oxigênio dissolvido e micronutrientes. Por fim, dentre
os atributos biológicos, temos: microrganismos de importância sanitária e
comunidades hidrobiológicas.

A degradação dos mananciais ocorre pela poluição da água, relacionada


à proporção entre o volume de despejos e o da fonte receptora, bem como
a contaminação, processos pelos quais estão referentes à introdução de
substâncias nocivas e/ou resistentes à degradação no meio.

A eutrofização é um processo crescente e preocupante que ocorre


devido ao excesso de minerais e matéria orgânica, principalmente
nitrogênio e fósforo, favorecendo o crescimento desordenado de várias
espécies de algas, mas principalmente de algas cianofíceas que acabam
formando uma camada espessa e opaca sobre a superfície do corpo de
água, dificultando a entrada de luz e impedindo que camadas internas
realizem fotossíntese – o que diminui a concentração de oxigênio
disponível e, consequentemente, a vida.

O tratamento da água é um processo importante para que possamos


utilizar essa fonte de vida. Em casos em que não há rede de tratamento e a
coleta de água é feita diretamente de poços artesianos ou em locais onde
77
Unidade II

se armazena água da chuva (cisternas), o tratamento da água pode ser


caseiro com a sua fervura por 20 minutos após o início da ebulição.

Um grande desafio à preservação dos mananciais atualmente é a


questão do saneamento. É primordial o tratamento dos esgotos antes de
sua devolução aos corpos de água, uma vez que existe uma correlação entre
os poluentes encontrados e algumas consequências ao meio ambiente e à
saúde humana.

A educação ambiental direcionada ao contexto social e sanitário


agrupa vários valores, como prevenir doenças melhorando noções de
higiene pessoal. A melhora comportamental traz consequências no campo
social, ambiental e econômico, como a redução do número de internações
hospitalares, da mortalidade infantil e do gasto público com medicamentos
e internações. Isso porque as doenças de veiculação hídrica têm a água
como fonte de agentes infecciosos e podem ser transmitidas pela ingestão
de água contaminada, pela falta de limpeza e higienização de alimentos
e também por insetos (vetores) que se relacionam com a água, além de
estarem associadas ao seu abastecimento insuficiente.

As doenças de veiculação hídrica ou vinculadas ao esgoto muitas vezes


se relacionam com a presença de vetores, que podem se proliferar com
a presença de resíduos sólidos (lixo) cuja destinação também constitui
um grande problema ambiental. Os vetores podem transferir um agente
infeccioso de uma população animal portadora de doença aos humanos.
Usualmente, o controle de vetores é realizado de forma química ou biológica
pela Vigilância Sanitária.

Ainda nos dias atuais, os padrões de consumo de energia da população


são baseados na utilização de fontes de energia não renováveis, como as
fósseis (petróleo, carvão e gás) e as nucleares (radiação), as quais possuem
efeitos sobre a camada de ozônio e causam impacto direto na vida das
pessoas. Para modificar essa situação, é necessária a conscientização
e a criação de outras fontes de energia: as renováveis (provenientes da
hidráulica, eólica e produção de etanol).

A qualidade do ar se enquadra como outro fator importante para a saúde


humana. Diversas doenças de ordem respiratória são influenciadas pela má
qualidade do ar, e isso se reflete pela falta de áreas verdes, principalmente,
nas grandes metrópoles, e pelo aumento da produção de substâncias
químicas que são despejadas para a atmosfera. É importante ressaltar que
esses dois fatores que interferem na qualidade do ar são resultados do
desenvolvimento humano.

78
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Vários encontros internacionais ocorreram para discutir a diminuição


da poluição do ar, como o Protocolo de Montreal, que tem como função
a substituição das substâncias que afetam a camada de ozônio (e,
consequentemente, aumentam o efeito estufa), e o Protocolo de Kyoto,
que fixa metas para diminuir a poluição por queima de produtos fósseis (os
quais também são responsáveis pelo efeito estufa).

Com o crescimento populacional e os novos padrões de consumo


humano, houve um aumento significativo da produção de resíduos,
principalmente, da metade do século XX em diante. Contudo, isso não seria
motivo de preocupação se o crescimento da produção seguisse o ritmo
de absorção desses resíduos pela natureza, mas infelizmente não é isso
que acontece. Atividades que prejudicam o meio ambiente são ampliadas
para o descarte inadequado dos resíduos, e essa conduta é responsável por
um dano severo ao meio ambiente e à saúde humana – por exemplo, pela
contaminação do lençol freático. É importante ressaltar que as ações de
reversão do dano são mais difíceis e custosas do que a sua prevenção.

Uma das complicações do inadequado descarte dos resíduos sólidos é


a contaminação do solo, que não implica somente no descarte inadequado
dos resíduos sólidos, pois depende também da falta de planejamento urbano.

Quando pensamos em planejamento urbano, precisamos ter em mente


que esse processo é importante para a qualidade de vida das pessoas que
residem dentro de uma área urbana (cidades ou grandes bairros), pois
ele permite tanto a criação quanto o desenvolvimento de programas
que melhoram diversos aspectos, como educação, saneamento básico e
destinação dos resíduos sólidos, dentre outros.

Nós não estamos somente suscetíveis a esses tipos de problemas que afetam
nossa saúde. Ao iniciarmos nossa vida no campo do trabalho, executando-o
ou não, nos deparamos com diversas situações que podem agir contra a
nossa saúde, diminuindo a qualidade de vida, e com fatores que podem estar
associados aos elementos essenciais à vida, também afetando nossa saúde.

Uma vez que consideramos a saúde como um patrimônio do trabalhador,


podemos relacioná-la como uma condição essencial e fundamental ao
trabalho e à vida, pois ela é a ferramenta para o desenvolvimento das
relações de produção. Portanto, se o nosso corpo funciona como uma
máquina, ele precisa de manutenção.

Para os riscos físico, químico e biológico, as vias de exposição são as mesmas,


ou seja, o trabalhador está exposto a esses riscos por inalação (nariz) e por via
oral (boca), ocular (olhos) e dérmica (pele). Vale ressaltar que todos esses riscos
79
Unidade II

à saúde são reduzidos com o uso dos equipamentos de proteção individual


(EPIs). O uso deles também é essencial para profissionais da área da saúde.

Exercícios

Questão 1. Os resíduos sólidos hospitalares representam um perigo à saúde e ao meio ambiente,


bem como um problema para os administradores hospitalares. O controle de tratamento desses resíduos
é imprescindível devido à presença de materiais altamente contaminantes e, por vezes, radioativos.
No gráfico a seguir é apresentado o destino final dos resíduos sólidos de saúde (RSS) coletados pelos
municípios brasileiros em 2014.

Incineração - 44,5% Aterros, valas sépticas


e lixões - 31,1%

Micro-ondas - 2,5%

Autoclave - 21,9%

Figura 23 – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública. Panorama Nacional


de Resíduos Sólidos. São Paulo, 2015 (adaptado)

Considerando o destino final dos RSS, conforme ilustrado no gráfico, assinale a opção correta.

A) O tratamento dos RSS por incineração exige mecanismos de controle ambiental das emissões
atmosféricas, regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

B) O tratamento dos RSS por incineração é o mais utilizado pelos municípios brasileiros, pois reduz
o volume de rejeito a ser destinado aos aterros sanitários.

C) A esterilização dos RSS por autoclave é uma forma de tratamento de baixo custo e mais eficiente
que a incineração para tratamento de resíduos radioativos.

D) A destinação dos RSS para aterros, valas sépticas e lixões representa a segunda opção mais
utilizada pelos municípios para tratamento desses resíduos, em consonância com a Política
Nacional de Resíduos Sólidos.

E) O tratamento dos RSS por micro-ondas é adequado para resíduos químicos, os quais podem ser,
posteriormente, dispostos em aterros sanitários, sem risco à saúde e ao meio ambiente.

Resposta correta: alternativa B.

80
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: não cabe à Anvisa o controle de emissões gasosas. Para tal, são responsáveis órgãos
como a Cetesb.

B) Alternativa correta.

Justificativa: a incineração além de diminuir o volume do material, também elimina todas as


possibilidades de sobrevivência de microrganismos patogênicos, permitindo assim que as cinzas possam
ser dispostas em aterros sanitários.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: os resíduos radioativos dos serviços de saúde são recolhidos pela Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN), a qual se responsabiliza pelo seu gerenciamento.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: os RSS não podem ser destinados diretamente aos aterros sanitários devido ao
risco de contaminação biológica. É necessário que ocorra uma descontaminação por autoclave e
muitas vezes incineração.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: os resíduos químicos devem ser controlados, devem reagir com outros materiais para
terem seus agentes ativos anulados, e muitas vezes são recolhidos por empresas especializadas.

Questão 2. O aumento da produtividade na agricultura moderna tem gerado impactos ambientais


que comprometem a sustentabilidade dos ecossistemas em médio e longo prazos. Os fertilizantes,
largamente utilizados para o aumento da produtividade agropastoril, estão associados à eutrofização
dos rios e lagos, à acidificação dos solos, à contaminação de aquíferos e reservatórios de água e à
geração de gases associados ao efeito estufa. A respeito desse tema, assinale a opção correta.

A) As águas dos aquíferos brasileiros apresentam parâmetros de qualidade satisfatórios e sua


disponibilidade é constante.

B) As águas dos aquíferos brasileiros estão protegidas pela legislação e pelo uso racional de
fertilizantes e agrotóxicos em todo o país.

C) A extração das águas de aquíferos em território nacional está liberada de outorga, dada a
abundância de recursos hídricos no Brasil.

81
Unidade II

D) As águas dos aquíferos brasileiros são naturalmente protegidas da contaminação por agrotóxicos,
pois são filtradas pelo solo.

E) A intensidade do uso de fertilizantes, a disponibilidade e a qualidade das águas subterrâneas são


indicadores de sustentabilidade para a agricultura.

Resolução desta questão na plataforma.

82

Você também pode gostar