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Unidade II
5 FATORES RELACIONADOS À ÁGUA, À ENERGIA E AO AR QUE INTERFEREM
NO MEIO AMBIENTE E NA SAÚDE HUMANA
Abordaremos de forma geral os fatores que estão estreitamente relacionados com o prejuízo do
meio ambiente e, consequentemente, da vida humana.
Convidamos você a ter a seguinte reflexão: por melhor que seja a condição de vida das pessoas,
faz parte do cotidiano delas conviver com a saúde, a doença e a morte, pois, mesmo com todo o
avanço e desenvolvimento tecnológicos para aumentar a qualidade de vida, ainda existem fatores
responsáveis por causar doenças e que são independentes das ações da comunidade ou dos serviços de
saúde, como os fatores genéticos. Como nós profissionais e (também) cidadãos podemos lidar com isso?
Aos profissionais da saúde, cabem a prevenção, a promoção e o tratamento adequado dos indivíduos
acometidos por essa causa, enquanto que aos cidadãos cabe o comprometimento e cumprimento das
ações, além do compartilhamento das informações recebidas acerca da temática.
Quando passamos a compreender que o território vai além das propriedades geofísicas e que
diversos motivos, como mudanças climáticas, uso abusivo de recursos naturais, forma de organização
das grandes cidades, produção e consumo de energia, descarte de resíduos de forma inadequada, má
utilização do solo, uso de agrotóxicos, falta de planejamento dos grandes centros das cidades, poluição
visual, sonora e do ar, falta de processos de reciclagem dos resíduos e tantos outros, contribuem para
o desencadeamento da doença, podemos começar a construir alternativas para todos esses fatores a
fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Para isso, é extremamente importante que aconteça
uma inter-relação de diferentes setores do MS para uma efetiva prevenção e controle dos riscos que
todos esses fatores impõem à vida dos cidadãos. São esses setores: a Vigilância Sanitária, a Vigilância
Epidemiológica e a Saúde do Trabalhador.
Lembrete
O Canadá, em 1980, criou um termo chamado “cidade saudável”, que norteia, ainda nos dias
atuais, todas as ações de saúde realizadas pela OMS. Assim, para que uma cidade seja considerada
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saudável, necessita ser uma comunidade forte, solidária e constituída de bases de justiça social, tendo
grande participação da população nas ações e decisões no âmbito da saúde; deve haver um ambiente
favorável à qualidade de vida e saúde, limpo e seguro, satisfazendo as necessidades básicas dos cidadãos
(alimentação, moradia, trabalho, acesso a serviços de qualidade em saúde, educação e assistência social),
com uma vida cultural ativa e uma economia forte, diversificada e inovadora. Considerando todos esses
aspectos, quando pensamos em saúde e comunidade saudável, precisamos pensar na qualidade da água
e do ar, no consumo, nas fontes de energia e no estilo de vida.
Uma vez que a água, a energia e o ar são fatores determinantes para a sobrevivência, a manutenção
adequada desses elementos é essencial para a qualidade de vida do indivíduo e da comunidade. Na
era primitiva, tais recursos não custavam absolutamente nada (em termos de moeda financeira),
mas isso foi se modificando ao longo do tempo e do crescimento populacional. Para compreender
a importância desses fatores sobre o meio ambiente e a vida das pessoas, os abordaremos de forma
abrangente e descreveremos com detalhes as melhorias que podemos realizar em prol do meio ambiente
e, consequentemente, da qualidade de vida das pessoas.
A princípio falaremos da água, pois a ocorrência de diversas doenças está estreitamente ligada à
sua qualidade e à sua quantidade ofertada para a população, o que indica a sua importância na saúde
das pessoas.
Saiba mais
Para obter mais detalhes dessa pesquisa, visite o site disponível em:
Vamos refletir um pouco: qual a importância de estudarmos os nossos recursos hídricos? A água para
consumo sempre esteve disponível, mas sempre estará? Qual o grau de conscientização que possuímos a
respeito dessa substância essencial à vida? Responderemos tais perguntas na sequência.
Primeiramente, conforme já foi dito, a água para o abastecimento público é uma crescente preocupação
para a humanidade, tanto em qualidade como em quantidade. O estilo de vida e o desenvolvimento
das atividades humanas vêm, durante séculos, causando alterações significativas no meio ambiente,
influenciando a disponibilidade de uma diversidade de recursos naturais, inclusive a da água.
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Podemos dizer que a disponibilidade do nosso mais valioso recurso hídrico se encaixa em um
estado de alerta máximo. Processos crescentes de desmatamento, assoreamento, produção agrícola e
lançamento de detritos industriais e domésticos não têm levado em conta a capacidade de suporte da
natureza e, dessa forma, tem gerado sérias consequências à saúde pública.
Rios, lagos e
outros locais
(1,2%)
Oceanos
(97,5%)
Geleiras e
icebergs
(68,9%)
O perfil histórico da utilização da água como origem de vida é bem interessante. Se observarmos a
história, veremos que, desde a Antiguidade, as grandes cidades se desenvolveram em torno de mananciais.
São exemplos a Mesopotâmia, que está entre os rios Tigre e Eufrates, o Antigo Egito, que se encontra
próximo ao Rio Nilo e, com atenção especial, os romanos, que desenvolveram até sistemas de captação – os
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aquedutos – para essa água. O abastecimento de água era feito “águas acima ou a montante” e a liberação
dos dejetos era realizada “águas abaixo ou a jusante” do mesmo rio. Infelizmente, podemos perceber que,
independentemente da época, existe uma falta de cuidado com esse bem tão valioso, uma vez que, ainda
nos dias atuais, observamos que a fonte de coleta de água ainda é a mesma fonte de despejos.
Saiba mais
Exemplo de aplicação
Além de aquedutos, Roma também possuía rede de coleta de esgoto. Reflita: por que essa preocupação
com os excrementos se perdeu ao longo da história?
Para que possamos entender melhor a importância da água na vida dos seres humanos, deixaremos
a história um pouco de lado e nos concentraremos nas suas principais propriedades e características.
A água também pode ser representada por sua fórmula molecular (H2O), composta de dois átomos de
hidrogênio e um átomo de oxigênio, formando um ângulo de 104,5º. Por conter essa forma estrutural,
as moléculas de água se atraem umas pelas outras e se interligam por conexões fortes, denominadas
pontes de hidrogênio. Muitas das propriedades que conheceremos derivam dessa disposição estrutural
da molécula de água, sendo que algumas características podem ser utilizadas em conjunto, servindo
como indicadores de qualidade.
A água é abundante na maior parte da superfície terrestre e pode ser encontrada nos três estados
da matéria (sólido, líquido e gasoso) em temperaturas e pressões normais da superfície do globo
terrestre. Somente a água, o mercúrio e o petróleo são encontrados em estado líquido na natureza,
mas o mercúrio é um metal extremamente raro, e o petróleo necessita de condições especiais para sua
ocorrência (aprisionado entre rochas impermeáveis devido ao seu caráter volátil), diferentemente do
que acontece com a água.
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• térmica (calor específico): a temperatura da água muda lentamente, o que significa que grandes
quantidades de calor terão de ser empregadas para que uma massa de água sofra pequenas
elevações de temperatura. Muitas vezes não percebemos o quanto isso é benéfico para a vida, mas
as grandes massas de água, como rios e oceanos, amenizam a temperatura global por absorver
grande quantidade do calor advinda dos raios solares;
• densidade: a água diminui sua densidade à medida que congela; por isso, o gelo flutua sobre
o líquido. A densidade da água é maior que a do ar mesmo em temperaturas muito baixas, e é
por isso que a superfície de um lago pode congelar enquanto seu interior permanece em estado
líquido, garantindo a vida no ambiente aquático;
• viscosidade e tensão superficial: a água possui alta viscosidade, sendo por isso que diminui a
velocidade dos movimentos, como acontece conosco quando estamos em uma piscina. Além
disso, a ligação entre suas moléculas apresenta uma característica denominada tensão superficial,
a qual é capaz de formar uma película na superfície de um lago, por exemplo. É essa tensão que
permite a pequenos insetos flutuarem em um lago. Os detergentes são substâncias que possuem
a propriedade de romper a rigidez da película de tensão superficial;
Como dito, para abordarmos todos os assuntos a respeito da água, precisamos destacar que ela
possui propriedades (já citadas), mas também características que devem ser discutidas. Conforme os
parâmetros do MS, a avaliação da qualidade de um copo de água destinado à captação (utilização dessa
água pelo ser humano) deve ser realizada de forma integrada, considerando o conjunto de informações
de caráter físico, químico e biológico, reforçando as informações anteriores. Iniciaremos esse assunto
com algumas perguntas:
Quem nunca ouviu dizer que a água deve ser incolor, insípida e inodora? Você sabia que essas são
características físicas da água? Elas refletem principalmente a aparência da amostra. Dentre as quais,
podem ser analisadas:
• temperatura: no Brasil, os ambientes aquáticos estão na faixa de 20º a 30ºC. No Sul, durante o
inverno, essa temperatura chega a 5ºC, podendo congelar a água. No entanto, para o consumo
humano, as temperaturas elevadas são rejeitadas. Devido a esse fator, as águas subterrâneas,
captadas em grandes profundidades, necessitam de unidades de resfriamento para adequar as
condições de abastecimento;
• cor, sabor e odor: a determinação da cor reflete a existência de materiais dissolvidos; portanto,
se torna um parâmetro de análise. Essa é feita por meio de comparação com uma amostra de
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• condutividade elétrica: é a capacidade de transmitir corrente elétrica, e será maior quanto maior
for a concentração iônica no corpo de água. A condutividade será medida por unidades de
resistência “S” (Siemens) e os teores de condutividade das águas naturais estão entre 10 e 100 µS/
cm. Vale ressaltar que ambientes receptores de esgotos domésticos ou industriais podem chegar
a até 1000 µS/cm (FUNASA, 2007).
Até o momento, discutimos aspectos ligados ao estado físico da água, mas precisamos recordar que
também existem os químicos. As características químicas refletem na composição da água e, dentre elas,
se destacam:
• potencial hidrogeniônico (pH): a presença de íons de hidrogênio (H+) poderá tornar o corpo
de água mais ácido, quando houver maior quantidade de H+, ou mais alcalino, quando existir
menor quantidade de íons H+. O pH é medido em uma faixa que varia de 0 a 14; quanto mais
próximo de 0, mais ácido ele estará, e quanto mais próximo de 14, mais alcalino estará esse pH.
É importante ressaltar que a acidificação das águas pode ser uma consequência da poluição
atmosférica e formação de complexos entre os vapores de água e gases poluentes (chuvas ácidas).
Além disso, baixos valores de pH podem provocar corrosão nas redes de distribuição da água e
valores aumentados devem favorecer incrustações nessas redes. Para a vida aquática, o pH se
encontra em uma estreita faixa entre 6 e 9. O MS, por meio da Portaria nº 1.469 (BRASIL, 2000),
estabelece-se que, para águas de abastecimento humano, o pH deve se encontrar na faixa entre
6,5 e 9,5;
• dureza: medida pela presença de cátions, principalmente cálcio (Ca++) e magnésio (Mg++). É
comum encontrarmos águas duras naturais em decorrência da dissolução de rochas calcárias. No
Brasil, as águas subterrâneas mostram índice de dureza maior que as superficiais. Entretanto, a
dureza também pode resultar do despejo de efluentes industriais (nesse caso, consideramos esse
tipo de dureza como de origem antropogênica);
• micronutrientes: elementos ou compostos químicos que podem ter efeito tóxico à saúde por se
acumularem no organismo ao longo da cadeia alimentar. São eles: arsênio, cromo, chumbo, cobre
e mercúrio, dentre outros, sendo todos geralmente encontrados em despejos industriais.
Recapitulando: até o momento realizamos uma discussão abrangente sobre os aspectos físicos e
químicos da água, mas ainda faltam os biológicos. As características biológicas dela são condizentes
com os seres que habitam o meio aquático, os quais são classificados como:
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• com isso, a vegetação transpira e ocorre a evaporação da água dos oceanos, rios e lagos;
• nas nuvens carregadas de vapor de água, ocorre precipitação, constitutivo que cai em forma de
chuva, granizo ou neve e atinge o solo, os rios, os mares e o oceano;
• parte da água da chuva se infiltra no solo, formando os aquíferos subterrâneos, mas outra parte
escoa pela superfície e chega aos rios, lagos e oceanos, finalizando o ciclo.
Considerando todos esses aspectos, é natural que exista uma preocupação por parte das autoridades
com a qualidade dessa fonte de vida das pessoas. Diversas conferências internacionais realizadas em
prol do meio ambiente e da saúde humana abordaram a questão da água e de sua qualidade como um
parâmetro para a qualidade de vida dos seres humanos.
No dia 22 de março de 1992, durante a Conferência da Eco-92, a ONU instituiu o Dia Mundial da Água,
além da assinatura do documento denominado Agenda 21, que trouxe à tona debates sobre a qualidade
de vida no planeta e a divulgação da Declaração Universal dos Direitos da Água. No Brasil, tivemos o
reconhecimento dessa iniciativa pela Política Nacional de Recursos Hídricos, por meio da Lei das Águas nº
9.433 (BRASIL, 1997), que a implementa como um bem de domínio público, um recurso natural limitado e
dotado de valor econômico, além de determinar que devemos ter como diretrizes de ação a articulação dos
recursos hídricos concomitante com a gestão ambiental, o uso do solo e a proteção das bacias hidrográficas.
Em 2015, os países membros da ONU, se reuniram para traçar novas decisões a respeito do
desenvolvimento sustentável. Esse evento foi realizado para dar continuidade aos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), estipulados para entrar em vigor a partir do ano 2000 e para serem
alcançados até 2015. Os ODM primavam pelo desenvolvimento sustentável para diminuir os efeitos
das mudanças climáticas. As alterações realizadas nesse período foram inúmeras e influenciaram a
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
vida de milhares de pessoas, mas necessitamos continuar com as metas e melhorar o que ainda não foi
suficiente para o cuidado do meio ambiente e da saúde das pessoas.
Em setembro de 2015, a Assembleia Geral das Nações Unidas definiu novos objetivos e novas
metas para serem seguidas até 2030. Uma nova agenda foi estipulada para tratar do desenvolvimento
sustentável. Nela foram definidas como ODS e estipulados 17 novos objetivos que entraram em vigor
a partir de janeiro de 2016. Entre eles, temos a erradicação da pobreza, da fome e da desigualdade
social, o acesso à energia e garantia da educação a todos, o alcance da igualdade de gênero e a
utilização sustentável dos recursos naturais. A implementação do objetivo 6, que fala sobre assegurar
a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos procura assegurar o acesso
igualitário, condições dignas de abastecimento de água potável e a oportunidade de ter esgotamento
sanitário, melhorando o patamar de saúde pública da população. (ONUBR, 2016).
• o acesso universal e equitativo à água potável e segura para todos, bem como acesso a saneamento
e higiene;
• a redução pela metade da proporção de águas residuais não tratadas, eliminando despejo e
minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos;
Saiba mais
No Brasil, o estudo da hidrometria está relacionado com a geração de energia pela construção de
usinas hidrelétricas, utilizando bacias hidrográficas e volumosos rios. Contudo, o principal problema
dessa ação é a presença de sedimentos nessas águas que diminuem a vida útil das barragens. Além
disso, os mananciais que subsidiam o abastecimento de água ainda sofrem as consequências da falta de
estudos científicos que melhorem a utilização dessas fontes, pois as pequenas bacias drenam as águas
das cidades e recebem todos os tipos de dejetos provenientes de vários tipos de locais.
Em 2005, houve um marco histórico em relação ao controle de qualidade da água. O Conselho Nacional
do Meio Ambiente (Conama), sob a Resolução nº 357 (CONAMA, 2005), estabeleceu a necessidade de
avaliações toxicológicas e controle de despejos em corpos de água (o que significa qualquer acumulação
significativa de água), visando o manejo sustentável dos recursos hídricos e garantido os padrões de
qualidade dentro da sua bacia hidrográfica.
Contudo, o desenvolvimento urbano nem sempre respeitou a preservação do ciclo hidrológico natural
e a ocupação desordenada nos leitos dos rios, e o excesso de pavimentação altera a permeabilidade do
solo, o que favorece as inundações durante as épocas de maior pluviosidade. Lembrando que as enchentes
dos rios são fenômenos naturais e de frequência variável, podemos inferir com clareza que a ocupação
humana em torno dessas áreas é a principal culpada tanto pela transformação da enchente em inundação,
com perdas humanas e materiais, como pela disseminação de doenças graves de veiculação hídrica. A
qualidade das águas urbanas depende demasiadamente da prevenção das inundações, sendo necessário o
desenvolvimento de sistemas de drenagem, com paralela recuperação e revitalização das áreas ribeirinhas.
Mas até agora falamos de locais onde existe água. No entanto, apesar de toda abundância desse
recurso no planeta, existem muitos locais com escassez hídrica que exerce um grande impacto social e
econômico e afeta diretamente a saúde e sobrevivência humana.
A seca causada por efeito climático ou ação humana de impacto ambiental, como a desertificação
de áreas degradadas e a estiagem, que é um período de baixa pluviosidade, são fatores envolvidos direta
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
e indiretamente com a precariedade das condições de saúde, deixando a população vulnerável e carente,
contribuindo para a desnutrição, pobreza e ocorrência de surtos de doenças infectocontagiosas.
A seca e a estiagem são consideradas desastres extensivos, que não ocorrem de forma súbita causando
danos imediatamente visíveis. Sendo assim, o seu efeito sobre o meio ambiente, a saúde e o tempo que
influenciarão esses setores são muito difíceis de serem mensurados e prevenidos. O Brasil, apesar de contar
com uma favorável hidrologia, possui uma vasta extensão de território e uma grande parte da população
residente, principalmente no Nordeste, sofre com a estiagem e a seca (GRIGOLETTO et al., 2015).
Para a saúde, os efeitos podem exercer um resultado direto através das doenças gastrintestinais ou um
efeito indireto, em longo prazo, por meio da desnutrição. A baixa ocorrência ou ausência de pluviosidade afeta
a quantidade e qualidade dos mananciais, aumentando a ocorrência de contaminação. O ar seco favorece a
ocorrência de queimadas naturais e de doenças respiratórias devido à quantidade de poeira no ar.
Quanto à ação do poder público durante todos os anos de história brasileira, o que existe de mais
concreto ao amparo da seca no semiárido e no Nordeste foi a implantação do plano Brasil sem Miséria,
lançado em 2011, que através de um cadastro único e cruzamento com dados do bolsa família e outros
programas sociais promoveu a busca ativa de famílias em estado de maior vulnerabilidade social,
contemplando-as com o programa de água para todos. O plano Brasil Sem Miséria, dentro do seu eixo
de inclusão produtiva rural, levou à construção de cisternas nessas áreas para melhoria das condições
de saúde (IBASE, 2012).
Podemos, então, pensar que preservar e corrigir a qualidade das águas tornam-se atitudes
indispensáveis para a manutenção da saúde pública, só que para isso é necessário estabelecer e planejar
a forma de utilização de nossos recursos hídricos. Por esse motivo, temos que compreender qual a
prioridade de utilização da água. Ela será utilizada para o abastecimento urbano ou irrigação? Para a
geração de energia? Assim, como podemos definir uma prioridade?
Para responder a essas questões, é preciso compreender que cada tipo de comunidade destinará o uso da
água visando as suas necessidades específicas. Por exemplo, a utilização da água para irrigação e manutenção
das criações é altamente prioritária em áreas agrícolas, fato que não ocorre se a região for industrial ou
urbana. Além disso, conforme a Resolução nº 357 do Conama (2005), as águas doces, salinas e salobras dentro
do território nacional devem ser classificadas segundo o padrão de qualidade da água.
As águas doces são divididas em 5 classes (especial, 1, 2, 3 e 4), determinadas pelo grau de
tratamento necessário para seu uso de forma prioritária ao abastecimento humano, mas que possuem
vários outros parâmetros de destinação, como a proteção das comunidades aquáticas, a recreação de
contato primário (como natação e mergulho), a irrigação de hortaliças, culturas arbóreas, frutíferas e
cerealista, a atividade pesqueira, a atividade pecuária e a navegação. Considerando as águas destinadas
ao abastecimento e ao consumo humano, teremos as seguintes divisões:
• classe 3: águas que necessitam de tratamento convencional ou avançado para consumo humano,
mas que sem ele também podem ser destinadas à recreação de contato secundário;
• classe 4: águas que não serviriam para consumo, mas que podem ser destinadas à navegação.
Como o crescimento populacional demanda quantidades cada vez maiores de água potável, está
atrelado a ele o comprometimento/degradação dos mananciais. Embora exista a tecnologia para
o tratamento da água destinada ao consumo humano, ela se torna mais dispendiosa à medida que
a população cresce sem planejamento e infraestrutura urbana, pois, na maioria dos casos, a taxa de
implantação de rede de coleta e tratamento de esgotos não acompanha a taxa de crescimento urbano.
Para compreender como acontece o sistema de captação de águas para o abastecimento, podemos
observar a figura a seguir, que esquematiza todos os processos de distribuição de água, a qual deve,
antes de chegar aos domicílios, passar por uma estação de tratamento. Assim, quando ela chegar nas
casas será utilizada para consumo e outras atividades, como banhos, limpeza, lavagem de carros e
calçadas, piscinas e caixas d’água, entre outras.
Coleta de esgoto
Em áreas servidas por redes de coletas de esgoto doméstico, são coletadas pelas redes as águas
que foram destinadas às atividades diversas, como a água da chuva e o esgoto industrial, de acordo
com a região. As águas coletadas contendo esgotos, lixo, substâncias poluentes ou contaminantes são
destinadas a uma nova e diferenciada estação de tratamento, denominada estação de tratamento de
esgoto (ETE). Esse material volta para a natureza somente após o seu tratamento, mas o seu retorno
nem sempre acontece no mesmo manancial onde foi captado, pois tal ação dependerá da capacidade
de assimilação do corpo de água.
Vale a pena ressaltar que o crescimento populacional não demanda apenas a água, mas também o
fornecimento dos alimentos envolvendo as áreas de agricultura e pecuária predatórias. Lembrando que
o Brasil tem um amplo território destinado a essas culturas de subsistência, é natural que exista uma
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
preocupação em relação à qualidade da água dos mananciais, pois eles recebem águas de drenagem de
agricultura e pecuária, ricas em adubos, pesticidas, herbicidas e aditivos químicos.
Considerando todos esses aspectos, as doenças de veiculação hídrica são extremamente preocupantes
e consideradas problemas de saúde pública. Elas têm a água como a principal fonte de agentes infecciosos,
sendo que alguns patógenos têm seu ciclo de vida total na água. Existem ainda aqueles que desenvolvem
seu ciclo em um hospedeiro (um inseto) e esse necessita de água em seu ciclo biológico. Em humanos,
tais doenças comprometem principalmente o aparelho digestório, e os agentes causadores mais comuns
são bactérias, fungos, vírus, helmintos e protozoários. É importante ainda ressaltar que algumas doenças
podem ter origem hídrica, mas sendo derivadas da alta concentração de algum componente químico. Um
exemplo é o saturnismo, provocado pelo excesso de chumbo na água (KOBIYAMA; MOTA; CORSEUIL, 2008).
Existe também um problema associado aos efluentes industriais, que liberam uma grande
quantidade de produtos químicos no meio ambiente. A legislação vigente e o monitoramento da
poluição ambiental já possuem diretrizes a respeito do tratamento desses efluentes e sua liberação
para o meio. No entanto, ainda apresenta lacunas que os estudos mais recentes pretendem dar
subsídios para que tais normas melhorem.
A respeito desse assunto, você consegue responder o que seria uma substância classificada como
desregulador endócrino? Ela pode afetar o funcionamento do sistema nervoso? Que pode afetar seu
sistema imunológico? E o que os efluentes industriais têm a ver com essas questões?
Como as estações de tratamento de água e de esgoto são projetadas para diminuir a carga
orgânica e os organismos patogênicos, a presença e permanência dos desreguladores endócrinos
no meio aquático é continuada. Devido a esse fato, outros tipos de tratamento de efluentes,
principalmente os industriais, vêm ganhando espaço, como os processos oxidativos, a ozonização
associada ao peróxido de hidrogênio, nanofiltração em membranas, osmose reversa, reatores com
lâmpadas UV. No entanto, essas novidades ainda são onerosas e discute-se a obrigatoriedade do
tratamento dos efluentes industriais antes da sua disposição ao ambiente e até onde a legislação
consegue cobrar esse controle das empresas.
Entre os desreguladores endócrinos já identificados, podemos citar o BPA, uma substância da classe
dos bisfenóis, que imita a ação de estrógenos. Esse composto é largamente utilizado na fabricação de
plásticos e produtos dentários e se acumula no tecido adiposo, o que pode levar o organismo à obesidade.
Uma outra substância já identificada são os ftalatos utilizados na produção de plásticos, brinquedos e
cosméticos que podem afetar o sistema reprodutivo (PONTELLI; NUNES; OLIVEIRA, 2016).
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Unidade II
Observação
Contudo, muitas doenças não estão associadas somente à ingestão de água contaminada
propriamente dita, pois são determinadas por um tempo de incubação da doença que acontece por
dias ou semanas. Essas doenças também podem se propagar por contato indireto, como aquelas que
ocorrem em casos de alimentos que foram lavados com água contaminada.
As doenças de veiculação hídrica podem ser agrupadas pela forma de transmissão: pela
água, pela falta de limpeza e higienização com a água, por vetores que se relacionam com a
água e associadas a ela; logo, constituem quatro grupos principais. Com base em dados da
Fundação Nacional de Saúde (Funasa), segue um breve resumo das principais doenças com
seus agentes etiológicos (2002).
O primeiro grupo tem as doenças transmitidas pela ingestão de água contaminada. Seguem as
principais doenças:
• cólera (agente etiológico: bactéria Vibrio cholerae): incubação de aproximadamente três dias, com
sintomas de diarreia com fezes semelhantes à água de arroz, sede, dores abdominais;
• febre tifoide (agente etiológico: bactéria Salmonella typhi): incubação de até 2 semanas, com
sintomas de infecção geral, febre contínua, manchas rosadas e diarreia;
Nesse primeiro grupo, estão ainda a giardíase (agente etiológico: Giardia lamblia) e as diarreias,
que podem ter diferentes agentes etiológicos (Escherichia coli, Rotavírus A e B, Balantidium coli e
Cryptosporidium, entre outros). A principal forma de prevenção para essas doenças do primeiro grupo é
o tratamento da água para abastecimento.
O segundo grupo de doenças apresenta aquelas transmitidas pela falta de limpeza e higienização,
associadas ao abastecimento insuficiente de água. Dentre elas, estão as doenças infecciosas na pele e
nos olhos (tracoma) e as verminoses, causadas por parasitas intestinais.
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
As formas de prevenção para essas doenças do segundo grupo são: realização de medidas de higiene
pessoal (lavar as mãos antes de se alimentar, beber água tratada), instalação de coleta de esgoto,
instalação de melhorias sanitárias domiciliares e limpeza de reservatórios domésticos de água.
No terceiro grupo, destacamos as doenças associadas à água quando uma parte do ciclo de vida do
agente etiológico depende de um vetor aquático. Dessa forma, o transmissor da doença penetra na pele
ou é ingerido pelo indivíduo. São as principais doenças do terceiro grupo:
As formas de prevenção para esse terceiro grupo incluem inspeção sanitária, eliminando focos de
criadouro dos mosquitos, proteção de mananciais e destino adequado de resíduos sólidos.
O quarto grupo é formado por doenças associadas à água, as quais são transmitidas por insetos
(vetores) que se relacionam com ela. São exemplos:
A forma de prevenção das doenças desse quarto grupo engloba o controle de vetores e hospedeiros
intermediários, eliminando condições que possam favorecer seus criadouros.
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Considerando que existem relações estreitas entre alguns fenômenos observados nas grandes
metrópoles (enchentes, poluição de mananciais, falta de tratamento de água, alta produção e
armazenamento inadequado de resíduos sólidos) com a doença, o levantamento de questões sobre
saneamento básico e descarte adequado de resíduos são tão importantes quanto aquelas relacionadas
à distribuição de água adequada à população, pois podem ser consideradas responsáveis por impactos
profundos na saúde dos indivíduos, bem como nos serviços de saúde utilizados por eles. Assim, diversas
ações de educação em saúde voltadas para essas questões, tendo como foco principal o meio ambiente
e o processo saúde-doença, são perfeitamente justificadas.
No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2008) demonstram que cerca de
55,2% da população possui rede de coleta e tratamento de esgoto. Quando esse estudo relacionou o serviço
de esgotamento sanitário com aqueles de distribuição de água (99,4%), manejo de resíduos sólidos (100%)
e de águas pluviais (94,5%), pôde-se observar que os índices em relação ao esgoto foram bem inferiores
aos demais. Esses dados demonstram que o setor de saneamento tem o pior índice de desenvolvimento,
acarretando sérios efeitos para a saúde e, consequentemente, para a vida das pessoas. Além disso, há um
sério impacto nos serviços de saúde, pois o SUS recebe por mês uma porcentagem altíssima de pessoas
acometidas por doenças relacionadas à falta do serviço de saneamento básico.
O termo poluição é comumente definido como qualquer alteração da composição ou das características do
meio, fato que causa perturbações no ecossistema. Essa definição prejudica o sentido etimológico da palavra
poluir (que vem do latim poluere e quer dizer sujar) e não atende também a objetivos práticos, ligados ao
controle da qualidade do meio ambiente. Um ponto importante para refletir é a introdução de uma grande
quantidade de água doce, ainda que perfeitamente limpa, em um ambiente marinho. Essa ação causa
profundas perturbações no ecossistema ali existente. Seria apropriado considerarmos esse fato como poluição
e a água limpa introduzida como um poluente? Além disso, o lançamento de organismos patogênicos ou
de substâncias tóxicas que não alteram o aspecto estético, mas prejudicam a utilização da água, também
poderia ser considerado poluição? Para respondermos essas questões, discutiremos adiante que a ação direta
de substâncias ou seres nocivos ao homem/animais aquáticos tem uma denominação particular.
exalação de odores e presença de materiais flutuantes ou em suspensão era responsável pela transmissão
de doenças e mortandade de peixes, o que na verdade pode ser apenas coincidência.
A água poluída – no sentido original do termo, baseado em um parâmetro estético –, pode não causar
um distúrbio ecológico, assim como certos matériais bastante profundos podem ocorrer em águas que não
são poluídas. Uma maneira objetiva de enfrentar essas dificuldades seria criar um vínculo entre o conceito de
poluição e a noção de utilidade da água. Poluir é sujar, alterar as características estéticas a ponto de prejudicar
sua utilização normal, seja como água potável ou fonte de alimentos para uma diversidade de seres aquáticos.
Assim, a noção instintiva de poluição é baseada na alteração das qualidades originais das águas
das nascentes dos rios. A identificação estética é possível porque as águas que recebem detritos e,
eventualmente, matérias fecais contendo seres patogênicos se tornam realmente mais turvas e coloridas,
por vezes malcheirosas. Estabeleceu-se assim uma correlação entre o aspecto da água e a transmissão
de doenças, o que não deixa de ter seu significado popular principalmente em rios que cortam zonas
mais densamente povoadas (BRANCO; ROCHA, 1984).
É importante salientar que os agentes poluidores não são apenas compostos de natureza química
específica e tóxica. A ação nociva dos agentes pode englobar a quantidade deles ou ainda o seu caráter
biodegradável. Além disso, o grau de dispersão, de diluição e de proporção entre volume de despejos e
da fonte receptora também são importantes para caracterizar a ação nociva dos agentes poluidores. Por
exemplo, o excesso de matéria orgânica vinda dos esgotos domésticos pode provocar a superpopulação
de microrganismos, como bactérias e fungos e, ao mesmo tempo, estabelecer uma concorrência pela
disponibilidade de oxigênio entre seres aeróbios presentes no corpo de água.
Quando pensamos no termo contaminação, temos que relacioná-lo com a introdução de substâncias
nocivas, as quais podem causar alterações no meio aquático. São exemplos: compostos organoclorados
e organossintéticos, a matéria orgânica em excesso, organismos patogênicos e metais pesados. Ainda
em relação à contaminação, também existem ações contaminantes específicas de compostos tóxicos
que estão presentes em certas classes de despejos industriais, além das fontes naturais, como sementes,
folhas, frutos e raízes, as quais podem conter substâncias tóxicas, incluindo cianetos (mandioca brava)
e alcaloides (atropina da planta beladona, ricina da mamona).
Os corpos de água ainda podem receber produtos originados da prática agrícola, como os defensivos
agrícolas e a celulose, que, apesar de ser um produto vegetal, é amplamente usada em escalas industriais
e resistentes à decomposição, aos detergentes sintéticos e aos metais pesados. Na maioria dos casos,
esses materiais são considerados compostos recalcitrantes, ou seja, são compostos biologicamente
resistentes e conhecidos como “não biodegradáveis”. Devido à resistência, eles acabam se aglomerando
no meio aquático e favorecendo seu acúmulo no organismo dos seres humanos, uma vez que a água
contaminada com esses produtos é utilizada para os afazeres comuns.
Com base em dados da Anvisa (BRASIL, 2011a), os primeiros relatos de uso de defensivos agrícolas
foram em meados de 1900. Esses compostos eram considerados organoclorados e o mais utilizado
era o diclorodifeniltricloroetano, também conhecido como DDT. A utilização do DDT persiste até os
dias atuais e vale ressaltar que esse composto agrícola é substancialmente resistente à biodegradação
49
Unidade II
por até 30 anos. Os organoclorados em contato com a pele, vias respiratórias e aparelho digestivo
afetam o sistema nervoso e causam tremores, convulsões, vômitos, insônia e dermatites. Atualmente,
uma das formas de proteção contra esses compostos tem sido a substituição dos organoclorados (mais
resistentes) por organofosforados de biodegradação mais rápida. No Brasil, a proibição do uso de DDT
aconteceu somente em meados de 2009, quando foi sancionada uma lei.
Como citado, o desenvolvimento humano de grandes áreas urbanas favorece diversos danos ao meio
ambiente, como lançamento de esgotos, uso de defensivos agrícolas, fertilizantes, resíduos industriais,
desmatamento e erosão do solo, os quais demonstram uma crescente tendência à aceleração do processo
de eutrofização de lagos e represas. A eutrofização é um processo que ocorre em pequenas bacias
de drenagem que possuem um aporte variável de minerais. Esse manejo, ocorrendo de forma lenta
e natural, enriquece a água, pois em lagos e represas, o período de residência da água é maior e com
movimentação menor, favorecendo o crescimento de microrganismos e vegetais. Nos rios, ao contrário,
existe correnteza, caracterizando um movimento constante da água – o que dificulta a proliferação de
microrganismos, mas não é o suficiente para impedir esse efeito. Assim, podemos dizer que é menos
usual encontrarmos um rio eutrofizado.
Águas em processo de eutrofização, como demonstra a figura a seguir, possuem excesso de minerais
e matéria orgânica, favorecendo o crescimento desordenado de várias espécies de algas, principalmente
as cianofíceas, que formam uma faixa espessa e opaca sobre a superfície do corpo de água, dificultando
a entrada de luz e impedindo que suas camadas internas realizem fotossíntese. Esse feito traz como
consequência a diminuição da concentração de oxigênio disponível, sendo responsável pela morte de
peixes e outras espécies aeróbias. As algas que cobrem a superfície realizam fotossíntese, mas o oxigênio
produzido se perde para a atmosfera.
Excesso de material
Materiais drenados Resíduos
orgânico no esgoto
(solo/adubos) industriais
(nitrogênio e fósforo)
Diminuição Formação
Barreira à Aumento de
da taxa de de lodo
diminuição organismos
fotossíntese (material em
de luz anaeróbicos
interna decomposição)
50
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Algumas espécies de algas produzem substâncias tóxicas, enquanto outras podem alterar o odor e
o sabor da água. A mortalidade dos peixes favorece o aumento da proliferação de insetos e mosquitos,
além de proporcionar o crescimento de aguapés (plantas aquáticas) nas margens dos leitos, as quais, após
seu ciclo de desenvolvimento, têm suas folhas, caules e raízes mergulhados e acabam se decompondo
e formando um lodo no fundo desse leito – o que causa prejuízos ao abastecimento e às estações de
tratamento.
Usualmente, o aumento das algas está associado com a oferta de nitrogênio e de fósforo. Os
esgotos domésticos, adubos agrícolas drenados e alguns resíduos industriais são ricos em nitrogênio
– que ainda pode ser fixado diretamente do ar atmosférico pelas mesmas algas cianofíceas. Nas
mesmas condições, o fósforo é encontrado em quantidades menores, mas o seu consumo pelas algas
é muito inferior ao de nitrogênio.
Lembrete
Como descrito anteriormente, o esgoto despejado em um corpo de água pode ser estabilizado
(decomposto) por um processo natural. Hipoteticamente, se considerarmos que todo o esgoto gerado
pelos estados e servido pela bacia hidrográfica do Rio Amazonas fosse despejado diretamente nele,
seria fácil de entender que essa bacia teria condições de estabilizar todo esse esgoto, pois o volume de
água suportaria tal condição. Mas se considerarmos uma região populosa, como a sudeste, que despeja
todo o seu esgoto diretamente sobre um rio, como ele ficaria? Como exemplo, podemos destacar no
estado de São Paulo os rios Tietê e Pinheiros, que há algumas décadas serviram para pesca e navegação
turística, mas, atualmente, estão sem vida, por motivo de que ainda existe uma parcela do esgoto (que
é despejado nesses rios) sem tratamento.
Observação
No entanto, o principal aspecto que precisa ser melhorado é a oferta de saneamento básico, pois se
torna primordial o tratamento do esgoto antes de sua devolução aos corpos de água, uma vez que existe
uma correlação entre os poluentes encontrados no esgoto e algumas consequências no meio ambiente
e na saúde.
Sólidos em suspensão
Sólidos flutuantes
Patogênicos
• caracterização: coliformes;
• efluente: doméstico;
• consequências: doenças de veiculação hídrica.
Nutrientes
52
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Metais pesados
• efluente: industrial;
• efluente: reutilizados;
53
Unidade II
Excrementos
Solo Água
(evacuações) (mananciais)
Doença
Ainda em relação às doenças, os vetores podem transferir um agente infeccioso de uma população
animal portadora de doença aos seres humanos. Geralmente isso ocorre devido à picada de pessoas
contaminadas por insetos que, em seguida, picam alguém sadio.
Saiba mais
54
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
O impacto da falta de saneamento básico na saúde e sobre o meio urbano é evidente, mas a
prevalência das doenças é maior na população carente que, por falta de recursos, instala sua moradia
em locais de risco, sem abastecimento de água, sem coleta de esgoto e, na maioria dos casos, em locais
que deveriam ser destinados à preservação ambiental. No entanto, não podemos descartar o papel da
classe social de maior aquisição econômica, pois ela contribui em relação ao consumismo e produção
de resíduos sólidos (lixo), cuja destinação também constitui um grande problema ambiental, que será
discutido com mais detalhes posteriormente.
Assim, a falta de coleta e a disposição inadequada do lixo podem ser consideradas fontes de alimento,
abrigo e proliferação de macrovetores de doenças. Segundo Barros et al. (1995), ratos, baratas, suínos
e aves são considerados os macrovetores mais comuns em ambientes urbanos com pouca estrutura de
saneamento básico. Podemos destacar algumas enfermidades relacionadas ao lixo. São elas:
• leptospirose, peste bubônica e tifo murino: são transmitidas por ratos e pulgas que vivem no
corpo do rato, por meio da mordida, pela urina e pelas fezes desses roedores;
• febre tifoide, cólera, amebíase, disenteria, giardíase, ascaridíase, amebíase e salmonelose: são
transmitidas por moscas, por via mecânica, por meio de asas, patas e corpo desses insetos e
também por suas fezes e saliva;
• malária, febre amarela, leishmaniose, dengue, zika, chikungunya e filariose: são transmitidas por
mosquitos, por meio da picada das fêmeas;
• febre tifoide, giardíase e cólera: também podem ser transmitidas por baratas, por via mecânica,
por meio das asas, patas, corpo e pelas fezes desses insetos;
• cisticercose, toxoplasmose, triquinelose e teníase: são transmitidas por suínos e gado, por meio da
ingestão de carne contaminada;
• toxoplasmose: transmitida por cães, gatos e aves, por meio de sua urina e fezes.
Ainda sobre os macrovetores, é interessante salientar que, para serem contaminados, eles entraram
em contato com o agente infeccioso e, portanto, o transportarão em seu corpo, nas asas, patas e
penas. Além disso, esses macrovetores podem ter ingerido material contaminado, transmitindo o agente
infeccioso por meio de sua saliva, picada, urina e fezes. Dentre os mosquitos (pernilongos), apenas as
fêmeas são hematófagas (se alimentam de sangue); elas transmitem a doença por meio da picada,
enquanto os machos se alimentam de néctar de flores e sucos de vegetais.
Dengue, chikungunya e zika têm sido doenças virais de grande preocupação sanitária, principalmente
no Brasil. Recentemente, foi descoberto que o mesmo mosquito pode transmitir as três doenças.
Contudo, a zika tem sido de grande preocupação, pois está associada à microcefalia em bebês de mães
que foram contaminadas, durante a gestação.
55
Unidade II
O MS tem observado de perto os números dos indivíduos infectados pelas três doenças. No primeiro
semestre de 2016, cerca de 1.294.583 pessoas foram contaminadas com dengue no País inteiro, sendo
que o Nordeste lidera o ranking, com mais de 20% do total de casos. Em se tratando de Chikungunya,
em 2015 foram confirmados 13.236 casos da doença, enquanto que somente no primeiro semestre de
2016, foram 122.762 casos. Novamente, o Nordeste foi o líder do ranking para Chikungunya. Em relação
ao Zika, foram confirmados 64.311 casos somente no primeiro semestre de 2016. No que se refere às
gestantes, foram confirmados 5.647 casos. Contudo, para o Zika, o Centro-oeste lidera o ranking dos
casos (BRASIL, 2016).
Outro fator que contribui para a degradação do meio ambiente é a forma e o tipo de energia que
utilizamos. Na Antiguidade, a energia elétrica era obtida da queima de lenha para as necessidades
domésticas e o aquecimento do local. Contudo, o crescimento populacional obrigou a criação de outras
fontes de energia mais viáveis, pois o consumo energético aumentou significativamente. As energias
derivadas da água e dos ventos passaram a ser utilizadas, mas não eram suficientes para suprir toda a
população, principalmente nas grandes metrópoles. Entretanto, isso foi modificado após a Revolução
Industrial, período em que a energia começou a ser obtida a partir de carvão, petróleo e gás – que são
caros e ainda têm efeitos deletérios ao meio ambiente.
Ainda nos dias atuais, os padrões de consumo de energia da população são baseados na utilização de
fontes de energia não renováveis, como as fósseis (petróleo, carvão e gás) e as nucleares (radiação), que
possuem efeitos sobre a camada de ozônio e causam impacto direto na vida das pessoas. Para modificar
essa situação, são necessárias a conscientização e a criação de outras fontes de energia, as renováveis
(provenientes da hidráulica, da eólica e da produção de etanol), que serão abordadas posteriormente.
Os objetivos são demonstrar os malefícios de algumas ações humanas sobre o meio ambiente e sobre
a vida da população, apontaremos o impacto das fontes de energia não renováveis sobre o ambiente e
o ser humano.
A qualidade do ar se enquadra como outro fator importante para a saúde humana, além da qualidade
da água e do tratamento de esgoto. Diversas doenças de ordem respiratória são influenciadas pela má
qualidade do ar que respiramos. Isso se reflete pela falta de áreas verdes, principalmente nas grandes
metrópoles, e pelo aumento da produção de substâncias químicas que são despejadas na atmosfera.
É importante ressaltar que esses dois fatores que interferem na qualidade do ar são resultados do
desenvolvimento humano.
A atmosfera terrestre, uma fina camada de gases que envolve o planeta Terra, é mantida em seu
lugar pela gravidade e é considerada o principal fator de sustentação do ecossistema planetário. O ar
seco da atmosfera é constituído de nitrogênio, oxigênio, argônio, dióxido de carbono e outros gases
inertes. Os restantes incluem os gases do efeito estufa, como dióxido de carbono, metano, óxido nitroso
e ozônio, além do vapor d’água.
A camada de ozônio é formada pelo gás ozônio e é uma parte importante da atmosfera, pois trata-se
de uma proteção poderosa contra os raios ultravioletas (UV) provenientes do Sol. Essa camada permite
que não aconteçam maiores danos à vida dos seres vivos, ao protegê-los contra os raios UV antes que
56
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
eles atinjam a superfície da Terra. Assim, qualquer dano nessa camada, como aquela observada por
Joe Farman, na região da Antártida em meados de 1980, gera consequências irreversíveis para a vida,
como o aquecimento global. Esse, por sua vez, afeta o clima da Terra e é responsável pelo surgimento
de diversas doenças que posteriormente serão discutidas em detalhes. O efeito do aquecimento global
sobre o meio ambiente e a saúde humana estão esquematizados na figura a seguir.
Elevação da
temperatura
planetária
A descoberta de Joe Farman iniciou uma crise ambiental importante, voltando os olhos de todas
as organizações governamentais a questões ambientais, as quais prevalecem até os dias atuais. Duas
das medidas criadas por essas organizações foram os Protocolos de Montreal (1987) e de Kyoto ou
Quioto (1997), que visam a defesa do meio ambiente, não permitindo que ações humanas sobre
eles sejam capazes de degradá-lo ou poluí-lo. Além disso, esses protocolos geraram um pensamento
ambientalista em diversos países, favorecendo a aplicação de ações que visam a educação ambiental,
como a alfabetização ecológica e a ação propriamente dita.
Em relação ao Protocolo de Montreal, que entrou em vigor em 1989, uma das suas funções é a
substituição das substâncias que afetam a camada de ozônio e, consequentemente, aumentam o efeito
estufa – ou seja, causam mais danos à camada de ozônio. Dentre as substâncias que a afetam, as mais
conhecidas são os clorofluorcarbonos (CFCs). No entanto, os halons, os tetracloretos de carbono (CTCs)
e os hidroclorofluorcarbonos (HCFCs) também compõem essa lista, pois todos eles são provenientes de
processos industriais.
Já o Protocolo de Kyoto (1997) fixa metas para diminuir a poluição por queima de produtos fósseis,
os quais também são responsáveis pelo efeito estufa. Como as principais causas da poluição atmosférica
são determinadas pelas emissões de poluentes das indústrias siderúrgicas, queima de carvão e petróleo
57
Unidade II
pelas indústrias, automóveis e sistemas de aquecimento doméstico, a redução dessas emissões se faz
extremamente importante para a melhoria da qualidade do ar.
Com a criação do Protocolo de Kyoto, os países tiveram que reduzir a emissão dos gases do efeito
estufa em cerca de 5,2% entre 2008 e 2012. Além disso, os países que assinam esse protocolo devem
investir em projetos de redução das emissões em outras nações, além de estimular atividades que
favoreçam o plantio de árvores e a conservação do solo, a fim de aumentar a absorção de carbono do
ambiente. No entanto, tal protocolo é bastante limitado em suas ações de forma global, considerando
que grandes nações, como os Estados Unidos, não o assinaram mesmo sendo um dos países que mais
emitem poluentes, principalmente o CO2, na atmosfera. Já o Brasil é um dos países com maior número
de iniciativas a respeito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que diminui as consequências do
processo de geração de poluentes nos países em desenvolvimento.
No entanto, a participação do Brasil nas questões ambientais não se iniciou somente no Protocolo
de Kyoto. Bem antes dele, o País já considerava importante a proteção da camada de ozônio; por isso,
aderiu à Convenção de Viena e assinou o Protocolo de Montreal (1990). Ele afirmava que os países
desenvolvidos que, de acordo com a história, utilizaram tais substâncias no progresso de sua nação,
deveriam financiar a erradicação delas nos países em desenvolvimento.
Com a regulação e a aprovação do Conama (1995), foram criadas prioridades para a eliminação
dos CFCs dos produtos industrializados. Além disso, o governo federal criou o Prozon (Comitê
Executivo Interministerial para a Proteção da Camada de Ozônio), e o Ministério do Meio Ambiente
passou a coordená-lo.
Assim, considerando todos os aspectos anteriormente descritos, foi imprescindível a criação de órgãos
públicos fiscalizadores de diversos atos contra o meio ambiente e, consequentemente, contra a saúde
da população. A partir do I Seminário da Política Nacional de Saúde Ambiental (2005), foi redefinido o
documento denominado Subsídios para construção da Política Nacional de Saúde Ambiental, o qual foi
o fruto de diversos debates entre os principais órgãos controladores do meio ambiente, que são: Sistema
Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
(Singreh), Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM) da Secretaria de Vigilância em
Saúde do Ministério da Saúde, Comissão Permanente de Saúde Ambiental (Copesa) e Conselho Nacional
de Saúde (CNS), que é subsidiado pela Comissão Intersetorial de Saneamento e Meio Ambiente (Cisama).
58
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Para ficar mais claro, o quadro a seguir demonstra um resumo temporal de todas as conferências
das Nações Unidas sobre o desenvolvimento que colaboraram de alguma forma para a proteção do
meio ambiente e para a promoção da saúde humana. A última reunião aconteceu em 2015 (que não
está representada no quadro) e teve como tema Transformar nosso mundo para as pessoas e o planeta.
Ano Conferências
1990 Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre a Criança
1992 Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento
1993 Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos
1994 Conferência das Nações Unidas sobre Populações e Desenvolvimento
1995 Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Social
1996 Conferência das Nações Unidas sobre Assentos Humanos
1996 Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre Alimentação
2000 Cúpula do Milênio: Declaração e Objetivos do Milênio
2002 Conferência Internacional sobre Financiamento do Desenvolvimento
2002 Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+10
2005 Cúpula do Milênio II
2010 Cúpula do Milênio III
2012 Rio+20
Em relação à outra fonte de energia não renovável, a radiação, diversos fatores podem ser considerados.
Normalmente, essa fonte é utilizada em países como o Japão, o qual não possui estrutura geofísica para
abstrair energia de outros locais, como a hidráulica. Contudo, esse tipo de energia está associado a
diversos custos que encarecem o seu uso, como o enriquecimento de urânio, a manutenção dos reatores
nucleares e a criação de processos de reprocessamento e de despejo dos resíduos radioativos – tudo para
evitar a falha do sistema, impedindo grandes desastres. Recentemente, em 2011, o Japão foi acometido
por um tsunami (em Tohoku), que devastou o país e danificou diversos reatores nucleares, causando
incerteza e medo sobre a liberação de material radioativo para o meio ambiente. Esse desastre fez os
japoneses repensarem novas formas de energia que não a nuclear.
Mas, afinal, o que é radiação? É uma forma de energia transmitida através do espaço e propagada
por meio de partículas ou ondas. As principais fontes de radiação são: equipamentos (aparelhos de raio X,
acelerador linear, micro-ondas, TV, antenas de celulares etc.), solar (luz visível, luz ultravioleta e infravermelho)
e urânio (que é um elemento naturalmente radioativo). As ondas eletromagnéticas são ondas de radiação
que se propagam com a velocidade da luz. Quanto mais curta a onda, mais energia ela tem e mais nociva
ela é. As ondas eletromagnéticas são divididas em ionizantes e não ionizantes. As radiações ionizantes
são as ondas eletromagnéticas mais rápidas, com alta frequência e que causam efeitos deletérios à saúde
humana (por exemplo, radiação ultravioleta, raio X e radiação gama). Já as radiações não ionizantes são ondas
eletromagnéticas de propagação mais lenta e com baixa frequência, como ondas de rádio, micro-ondas etc.
59
Unidade II
Entretanto, não podemos confundir radiação com radioatividade. Antes de discutirmos as diferenças,
temos que relembrar rapidamente que toda matéria é formada por átomos, conforme esquematizado
na figura a seguir. As principais características dos átomos são: um núcleo central com prótons (cargas
positivas) e nêutrons (sem carga, que dão estabilidade ao átomo) que é rodeado por elétrons (cargas
negativas), os quais estão presos em órbitas em que existe um número maior de nêutrons.
Nêutron Elétron
Próton
Orbitais
Quando os núcleos dos átomos instáveis ficam com excesso de energia, eles a liberam em forma de
radiação ionizante, do tipo α (alfa), β (beta) ou γ (gama). As radiações do tipo α são pouco penetrantes
e grandemente energéticas, mas podem ser barradas por uma folha de papel, enquanto as radiações
do tipo β são mais penetrantes e menos energéticas que as do tipo α, mas um pedaço de madeira já
seria o suficiente para barrá-las. Já a radiação do tipo γ não é muito energética, mas é extremamente
penetrante, sendo barrada somente por uma parede grossa de concreto ou por algum tipo de metal
(sendo, portanto, altamente penetrantes no corpo humano). Um exemplo de radiação γ é aquela gerada
por uma explosão de bomba atômica.
Os efeitos da exposição humana aos raios γ podem ser classificados como agudos (quando a
pessoa tem contato direto com o material radioativo e o aparecimento dos sintomas é imediato) ou
crônicos (quando há exposição indireta da pessoa com o material radioativo e o aparecimento dos
sintomas acontece ao longo de anos). As principais consequências da exposição do corpo ao material
radioativo estão associadas às modificações na estrutura do DNA celular, fato que causa mutações
genéticas e, consequentemente, o câncer. Já os efeitos agudos variam desde uma queimadura até o
rompimento de plaquetas.
A grande preocupação com o evento ocorrido no Japão foi a contaminação do ambiente pelo
vazamento do conteúdo radioativo das usinas, afetando a população de forma indireta, ou seja,
por meio da água e dos alimentos. Essa contaminação pode permanecer por várias gerações, como
aquela que aconteceu na explosão da bomba de Hiroshima, causando infertilidade em massa. Assim,
atitudes de gerenciamento de rejeitos radioativos são extremamente importantes para a diminuição da
contaminação dos seres humanos por radiação.
60
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
No Brasil, a história da energia nuclear se iniciou em 1930 com o intuito único e exclusivo de
pesquisar a respeito do tema. Em 1956, foi criado o Instituto de Energia Atômica, que em 1979 passou a
se chamar Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), o qual é gerido pela Comissão Nacional
de Energia Nuclear (CNEN). Em 1966, foi criado o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), em
Piracicaba (SP). No Rio de Janeiro, foi criado o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, o Conselho Nacional
de Pesquisas, a Comissão Nacional de Energia Nuclear, o Instituto de Radioproteção e Dosimetria e o
Instituto de Energia Nuclear, nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Em Belo Horizonte, em 1953, foi criado
o Instituto de Pesquisas Radiológicas e, em 1965, foi formado o Grupo do Tório, para desenvolver o
projeto de um reator de potência moderada.
A primeira vez que a energia nuclear foi utilizada no Brasil foi para o uso biomédico, por meio da
criação e utilização de radioisótopos para exames clínicos, em 1950. Em 1959 foram produzidos os
radiofármacos. Além disso, os radioativos também são utilizados na agricultura, favorecendo estudos
na área de fertilizantes e metabolismo de plantas. Outra aplicação brasileira para a energia nuclear é
na indústria metalúrgica para o controle de qualidade e produção dos produtos. A Marinha conta com
um centro experimental avançado com o intuito de desenvolver experiências na área de combustível
nuclear. Contudo, ainda nos dias atuais, existe resistência por parte da população na criação de usinas
radioativas, como uma possível fonte de energia.
Saiba mais
A reportagem da revista Exame, a seguir, propicia uma inter-relação
com o conteúdo visto até o momento:
BARBOSA, V. O que ficou como herança da Rio+20. Revista eletrônica
exame.com. 13 ago. 2012. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/
meio-ambiente-e-energia/noticias/o-que-ficou-da-rio-20-depois-que-a-
poeira-baixou?page=1>. Acesso em: 24 fev. 2017.
Em relação aos resíduos sólidos, o Ministério do Interior publicou a Portaria nº 53 (BRASIL, 1979),
que estabeleceu condutas para o descarte de resíduos sólidos domiciliares, de natureza industrial, de
saúde e demais resíduos no país. Contudo, outras políticas nacionais estão envolvidas com o tema, como
a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31/08/1981), a Política Nacional de Saúde (Lei
Orgânica da Saúde nº 8.080, de 19/09/1990), a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795,
de 27/04/1999), a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433, de 08/01/1997), a Lei de Crimes
Ambientais (Lei nº 9.605, de 12/02/1998), o Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257, de 10/07/2001), a Política
Nacional de Saneamento Básico (Lei nº 11.445, de 05/01/2007) e a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(Lei nº 12.305, de 02/08/2010).
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de 02/08/2010) tem como objetivos:
• a não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como a
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;
• a articulação entre as diferentes esferas do poder público, e delas com o setor empresarial, com
vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos;
62
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
• a integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
Art. 54. – Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem
ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a
mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: [...]
§ 2º Se o crime: [...]
Assim, atividades que prejudicam o meio ambiente são ampliadas para o descarte inadequado dos
resíduos, pois essa conduta é responsável por um dano severo ao meio ambiente e à saúde humana
(por exemplo, pela contaminação do lençol freático). É importante ressaltar que as ações de reversão
do dano são mais difíceis e mais custosas do que a prevenção. Apesar disso, em nível federal, não existe
63
Unidade II
documento legal que estabeleça critérios rígidos para o descarte dos resíduos sólidos. Assim, a gestão
inadequada desses resíduos segue os preceitos da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA – Lei nº
6.938, de 1991). Contudo, o Conama publicou uma Resolução (nº 313, de 2002), que institui o Inventário
Nacional de Resíduos e estabelece critérios para o tratamento de alguns tipos de resíduos. São exemplos
a regulação do tratamento térmico de resíduos e o licenciamento ambiental, que é extremamente
importante para as atividades que geram resíduos sólidos.
Para que aconteça a gestão dos resíduos sólidos, primeiramente, é necessário conhecer o conceito
de resíduo sólido e saber diferenciá-lo de lixo. Lixo é tudo aquilo que é descartado porque não tem
mais utilidade, enquanto que resíduo é a sobra de algum produto que não necessariamente pode ser
desprezado e não tem mais utilidade. É importante ressaltar que falar em resíduo sólido não se relaciona
ao estado sólido, em si.
Até o ano de 2010, quando não existia a Política Nacional de Resíduos Sólidos, eram utilizadas as
normas técnicas (NBRs), que foram publicadas no Brasil pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) para definir resíduos sólidos. Portanto, a norma técnica NBR 10.004 para a classificação dos
resíduos sólidos (que foi revisada em 2004) os define como:
Por sua vez, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de 02/08/2010) os define como:
Além disso, o Artigo 13 da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010a),
classifica esses resíduos de acordo com a origem e periculosidade, conforme esquematizado na figura
a seguir:
64
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Perigosos
Quanto à
periculosidade
Não perigosos
Quanto à origem
Ainda em relação à classificação dos resíduos sólidos, o quadro a seguir esquematiza a divisão
conforme a periculosidade. Eles podem ser divididos em perigosos ou não perigosos, e podem ainda ser
inertes e não inertes.
65
Unidade II
Matérias‑primas
Processos produtivos
Produto Resíduo
Inerte
Não perigosos
Não inerte Perigosos
Saiba mais
Em relação aos resíduos da classe I, considerados perigosos, podemos acrescentar que são os
resíduos de ordem física, química ou infectocontagiosa que podem acarretar danos à saúde das
pessoas e prejuízos graves ao meio ambiente, quando não são manipulados da forma adequada ou
dentro dos preceitos legais. Assim, para que um resíduo seja classificado como perigoso, ou seja,
componha a classe I, ele precisa ser inflamável, corrosivo, reativo, tóxico, patogênico, carcinogênico,
teratogênico e/ou mutagênico. São exemplos de resíduos perigosos: óleo lubrificante usado ou
contaminado, óleo de corte e usinagem usado, equipamentos descartados e contaminados com
óleo, lodos de galvanoplastia (tratamento superficial em metais), lodos gerados no tratamento de
efluentes líquidos de pintura industrial, efluentes líquidos ou resíduos originados do processo de
preservação da madeira, acumuladores elétricos à base de chumbo (baterias), lâmpada com vapor
de mercúrio (lâmpadas fluorescentes) e todos os resíduos provenientes dos serviços de saúde.
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Os resíduos da classe II são considerados não perigosos e podem ser divididos em não inertes
(classe II A) ou inertes (classe II B). Os resíduos não inertes são aqueles capazes de se biodegradar,
serem combustíveis ou solúveis em água. O lixo comum (proveniente de restaurantes, banheiros,
escritórios, dentre outros) é um dos exemplos desse tipo de resíduo. Já os resíduos inertes são aqueles
que não podem se solubilizar em água, ou seja, não sofrem transformações de qualquer tipo (física,
química ou biológica). Resíduos obtidos de obra civil (entulho) é um dos exemplos de resíduo inerte.
Os quadros a seguir demonstram alguns exemplos da origem do resíduo, locais que o reproduzem
e os tipos de resíduo produzido.
67
Unidade II
Além desses exemplos, existem os resíduos de transporte (que incluem aqueles gerados em terminais
de transporte, navios, aviões, ônibus e trens), os agrossilvopastoris (que são gerados nas atividades
agropecuárias e silviculturais, incluindo os insumos utilizados nessas atividades) e os de mineração (que
são gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios).
O contato com os agentes contaminantes presentes nos resíduos sólidos pode contaminar os seres
vivos por inalação, por contato direto com a pele e mucosas e por ingestão. Portanto, é muito importante
que exista um sistema público de limpeza urbana, que inclui coleta, tratamento e disposição final dos
resíduos sólidos de forma adequada, pois uma vez que todas as práticas humanas refletem na geração
de resíduos, a administração e o planejamento do descarte desses resíduos é um grande desafio para as
políticas públicas. É possível diminuir os impactos do descarte de resíduos para o meio ambiente e para
a saúde humana, utilizando um adequado plano de gerenciamento.
Como descrito anteriormente, a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos foi implementada
com o intuito de gerenciar e administrar de forma adequada os resíduos sólidos, não incluindo
os rejeitos radioativos. Além disso, a esses resíduos se aplicam as normas estabelecidas pelo
Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS),
Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e Sistema Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro). Em relação à destinação final dos resíduos, a Lei
nº 12.305 preconiza que:
O gerenciamento adequado dos resíduos sólidos é de extrema importância para o meio ambiente
e para a saúde das pessoas. Em relação aos resíduos de saúde, essa importância triplica, uma vez que
seu descarte inadequado está associado a severos danos à saúde das pessoas por contaminação, fatos
discutidos desde 1990, com a criação de uma lei de gerenciamento desses resíduos pelo Conama.
Adicionalmente, de acordo com a norma da ABNT (2004), NBR 10.004, os resíduos sólidos de
saúde são classificados como perigosos (classe I), pois apresentam riscos à saúde humana no que
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Em relação aos resíduos de serviços de saúde, eles podem ser divididos em:
• grupo A: resíduos com presença de agentes biológicos que, por suas características de maior
virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. Por exemplo: peças anatômicas,
bolsas transfusionais, resíduos de atendimento de saúde, meios de cultura e resíduos de laboratórios,
dentre outros;
• grupo B: resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao
meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade
e toxicidade. Por exemplo: produtos hormonais, desinfetantes e reagentes para laboratório etc.;
• grupo D: materiais que não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio
ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Por exemplo: sobras de alimentos,
papel sanitário, fraldas e resíduos da parte administrativa, dentre outros;
• aterro controlado: local onde se despeja o lixo coletado pelo serviço de limpeza urbana; após a
jornada de trabalho, todos os resíduos são cobertos com camadas de terra, evitando danos ao
meio ambiente, à saúde pública e à segurança das pessoas;
• aterro de resíduos da construção civil e de resíduos inertes: instalações nas quais se aplicam
técnicas e princípios de engenharia para a disposição de resíduos de construção civil e inertes no
solo. Essa condição não permite danos ao ambiente e à saúde humana, pois todos os resíduos são
confinados e reduzidos ao menor volume possível. Tal procedimento visa a segregação (ato de
separar ou isolar contato de algo ou alguém) dos materiais, possibilitando o uso deles no futuro,
ou mesmo a utilização da área aterrada para outros objetivos;
• aterro sanitário: nessas instalações, os resíduos sólidos urbanos são depositados no solo (sob
controle técnico e operacional permanente), garantindo que tanto os resíduos como os seus
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Unidade II
líquidos e gases não causem danos à saúde e ao meio ambiente. Esse tipo de instalação deve ser
localizado, projetado, instalado, operado e monitorado de acordo com a legislação ambiental;
Ainda nos dias atuais, existem maneiras incorretas de acondicionamento dos resíduos sólidos, como
os vazadouros a céu aberto (local de disposição do lixo onde ele é colocado sobre o terreno sem qualquer
cuidado ou técnica especial, não tendo, portanto, proteção ao meio ambiente e à saúde da população)
e os vazadouros em áreas alagadas (que são corpos d’água utilizados para a disposição do lixo).
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2008) demonstraram que cerca de 50% dos
municípios brasileiros ainda utilizam os lixões como forma de descarte/acondicionamento dos resíduos,
como demonstrado na figura a seguir. Apesar de observar uma queda desse número em relação há 20
anos, os dados atuais ainda refletem a precariedade do sistema de descarte e acondicionamento dos
resíduos, o que está estritamente relacionado à cultura, educação e consciência da população.
Aterro sanitário
Porcentagem (%)
60
40
20
Figura 18 – Destino final dos resíduos sólidos no Brasil por unidades de destino (1989/2008)
Em relação à disposição inadequada dos resíduos sólidos, Nordeste e Norte se destacaram por
possuírem o maior índice de destinação do lixo aos lixões (89 e 85%, respectivamente), enquanto Sul
e Sudeste têm a menor destinação desses resíduos aos lixões (15 e 18%, respectivamente). O destaque
negativo no Norte foi para o estado do Pará, onde cerca de 94% do lixo é acondicionado em lixões. Já
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
o Nordeste possui três estados que contêm acima de 96% do acondicionamento do seu lixo em lixões,
conforme demonstrado na figura a seguir. Do Sudeste, o estado de São Paulo se destacou por possuir a
destinação de somente 7% do seu lixo para os lixões, enquanto que o Rio de Janeiro teve o pior índice
de destinação do lixo para os lixões (cerca de 33%). Tais dados indicam um avanço significativo dessa
temática em São Paulo e a necessidade de grandes mudanças para os demais estados, inclusive o Rio de
Janeiro. Contudo, o Sul é o maior destaque positivo, uma vez que seus três estados possuem destinação
dos lixos para aterros sanitários e controlados (acima de 79%).
100
Região Norte
Região Nordeste
80
Região Sudeste
Região Sul
Porcentagem (%)
60
40
20
Quando avaliamos a destinação final dos resíduos sólidos de serviços de saúde, os dados do IBGE
demonstram que cerca de 61% dos municípios depositam esses resíduos em lixões ou aterros com os
outros tipos de resíduos misturados. Mas quando dividimos esses municípios em regiões, Sul e Sudeste
possuem o menor índice de depósito desses resíduos em lixões comuns (cerca de 40%), enquanto Norte
e Nordeste possuem o maior índice (acima de 65%), o que pode ser observado na figura a seguir.
100
Região Norte
Região Nordeste
80
Região Sudeste
Região Sul
Porcentagem (%)
60
40
20
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Unidade II
Uma das complicações do inadequado descarte dos resíduos sólidos é a contaminação do solo, mas
esse tipo de dano depende também de outro fator: a falta de planejamento urbano.
Quando pensamos em planejamento urbano, precisamos ter em mente que esse processo é
importante para a qualidade de vida das pessoas que residem em uma área urbana (cidades
ou grandes bairros), pois ele permite tanto a criação quanto o desenvolvimento de programas
que melhoram diversos aspectos, como educação, saneamento básico e destinação dos resíduos
sólidos, dentre outros. Claro que esse processo é mais efetivo quando as ações são executadas
antes do aumento da população local, mas isso não impede que ele seja realizado mesmo quando
os cidadãos já habitam os grandes centros urbanos.
72
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Algumas cidades modernas podem servir de modelo de planejamento urbano, como Brasília (Brasil)
e Chicago (Estados Unidos). Essa última pode ser observada na figura a seguir:
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Unidade II
A poluição do solo vai além da disposição dos resíduos sólidos em aterros inadequados ou falta
de pavimentação das vias públicas. Esse tipo de poluição é dividido em urbana e rural. A disposição
inadequada dos resíduos sólidos é uma das formas mais comuns de poluição do solo em áreas urbanas;
já em relação à rural, podemos destacar o uso de agrotóxicos, queimadas, desmatamentos e má
utilização do solo, os quais são capazes de gerar danos irreversíveis ao solo, como a falta de fertilidade
e a contaminação da água.
Em relação aos agrotóxicos, os principais são os herbicidas e os pesticidas, que possuem em sua
fórmula a dioxina – a qual é responsável pelo surgimento de câncer, defeitos congênitos e doenças de
pele. Além disso, os fertilizantes também contribuem com a poluição do solo, pois possuem em sua
composição nitratos e fosfatos, que vão se acumulando no solo e contaminando-o.
A erosão do solo consiste na ação de diversos fatores, os quais provocam a sua desagregação.
Esses acontecimentos são gerados pelo uso de solos desprotegidos da cobertura vegetal, causados
por diversos fatores:
• queimadas;
• urbanização/impermeabilização do solo.
Assim, diversos eventos podem contribuir para a contaminação do solo e, consequentemente, para
a geração de danos ao meio ambiente e à saúde humana.
Contudo, nós não estamos somente suscetíveis a problemas que afetam nossa saúde. Ao iniciarmos
nossa vida no campo do trabalho, executando-o ou não, podemos nos deparar com diversas situações
que podem agir contra a nossa saúde, diminuindo a nossa qualidade de vida. Já foram citados fatores
que colaboram com a contaminação da água, do ar e do solo, mas existem outros que podem estar
associados aos elementos essenciais à vida, os quais também conseguem afetar nossa saúde.
Uma vez que consideramos a saúde como um patrimônio do trabalhador, podemos relacioná-la
como uma condição essencial e fundamental para o trabalho e para a vida, pois ela é a ferramenta
para o desenvolvimento das relações de produção. Se o nosso corpo funciona como uma máquina, ele
precisa de manutenção. Mas antes de abordarmos os fatores que podem afetar nossa saúde e que estão
vinculados ao ar, à água e ao solo, temos que conhecer quais os riscos que qualquer ser humano está
suscetível, principalmente em seu ambiente de trabalho. O Ministério do Trabalho classifica cinco riscos
à saúde do trabalhador, que são:
• risco para acidente: considerado um tipo de risco em fatores capazes de colocar os trabalhadores
em situação de risco ou vulnerabilidade. Essas situações podem afetar a integridade e o
bem-estar físico, psíquico e social do indivíduo. São exemplos: falta de proteção em equipamentos
e máquinas, risco de explosão e incêndio, além de planta física inadequada, dentre outros;
• risco ergonômico: é um tipo de risco que interfere nas condições psicofisiológicas do trabalhador.
Essa interferência causa desconforto, afetando drasticamente a saúde e, consequentemente, a
vida do indivíduo. São exemplos: levantamento de peso, carga de trabalho excessiva, monotonia,
movimentos repetitivos, postura inadequada etc.;
• risco físico: está intimamente ligado com a exposição do trabalhador aos agentes de risco físico.
São exemplos: ruído, calor, frio, pressão, umidade, radiação e vibração, dentre outros;
• risco químico: envolve o contato dos trabalhadores aos riscos químicos, compostos ou produtos
que podem penetrar no organismo desses trabalhadores, como poeiras, fumos, gases, neblinas,
névoas, vapores etc.;
75
Unidade II
• risco biológico: é um tipo de risco no qual os trabalhadores são expostos aos agentes biológicos.
São eles: bactérias, vírus, fungos, parasitas, dentre outros.
Para os riscos físico, químico e biológico, as vias de exposição são as mesmas, ou seja, o trabalhador
está exposto a esses riscos pela inalação (nariz) ou via oral (boca), ocular (olhos) e dérmica (pele).
Vale ressaltar que todos esses riscos podem ser reduzidos com o uso dos equipamentos de proteção
individual (EPIs). O uso deles também é essencial para os profissionais da área da saúde.
Segundo as leis referentes ao trabalho, Lei nº 5.452, artigo 192, (BRASIL, 1943), o indivíduo que estiver em
um ambiente de trabalho insalubre poderá receber adicional de 40% do salário. Além disso, para as regiões do
País que ainda não adotaram a medida antifumo em ambientes fechados, alguns trabalhadores podem receber
a insalubridade caso não sejam fumantes e em seu ambiente de trabalho seja permitido fumar. Isso porque
todos os indivíduos não fumantes (conhecidos também como fumantes passivos) que convivem com fumantes,
principalmente no ambiente de trabalho, podem sofrer os mesmos riscos do tabaco que indivíduos fumantes.
Sobre os movimentos repetitivos, o MS adverte que eles causam inflamação quando executados sem
pausa. Para identificar esse tipo de acometimento, foi criada a sigla LER/Dort, que significa lesão por esforço
repetitivo e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Dentre as lesões, há aquelas que atingem
músculos, tendões e membros superiores. Não há uma causa determinada para o seu surgimento, mas
fatores como repetições de movimentos, posturas inadequadas por longo tempo, esforço físico, pressão
mecânica sobre algumas partes do corpo, impactos, vibração e frio, dentre outros, conseguem acarretar
esse tipo de problema. Uma vez comprovada a LER/Dort, a empresa pode pagar multa para os funcionários.
Em relação aos prejuízos no equilíbrio emocional do trabalhador, o grande responsável por esse dano
na saúde é o assédio moral. Quando falamos em assédio moral ou violência moral, temos como conceito
a exposição do trabalhador a situações vexatórias, que podem prejudicar o ambiente de trabalho,
diminuir a autoestima do trabalhador e ainda atentar contra a dignidade dessa pessoa. Tais situações
podem contribuir para o aumento no número de suicídios, pois a maioria dos trabalhadores que sofrem
assédio moral desenvolve depressão.
Quando pensamos no efeito do barulho sobre a saúde do trabalhador, não podemos deixar de associar
esse tipo de risco físico com doenças cardíacas, uma vez que um estudo realizado na Alemanha (com
cerca de quatro mil pacientes que trabalham ou vivem em locais com alto nível de barulho) demonstrou
que cerca de 50% desses indivíduos podem sofrer ataques cardíacos.
e Responsabilidade Social, realizada no Instituto Ethos para promover e aplicar práticas de promoção do
Trabalho Decente e do Pacto Contra o Trabalho Escravo.
Fica claro que, segundo as leis trabalhistas, tanto a empresa quanto os seus funcionários têm
responsabilidade em relação aos danos à saúde do trabalhador. A empresa tem que fornecer os EPIs
corretos para cada tipo de trabalho a ser realizado, instruir os funcionários para a utilização dos EPIs,
fiscalizar o seu uso e repor aqueles danificados. Já os funcionários têm como obrigação usar e conservar
os EPIs fornecidos pela empresa. Como uma alternativa para a prevenção de acidentes de trabalho,
algumas empresas possuem a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa).
Resumo
78
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Nós não estamos somente suscetíveis a esses tipos de problemas que afetam
nossa saúde. Ao iniciarmos nossa vida no campo do trabalho, executando-o
ou não, nos deparamos com diversas situações que podem agir contra a
nossa saúde, diminuindo a qualidade de vida, e com fatores que podem estar
associados aos elementos essenciais à vida, também afetando nossa saúde.
Exercícios
Micro-ondas - 2,5%
Autoclave - 21,9%
Considerando o destino final dos RSS, conforme ilustrado no gráfico, assinale a opção correta.
A) O tratamento dos RSS por incineração exige mecanismos de controle ambiental das emissões
atmosféricas, regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
B) O tratamento dos RSS por incineração é o mais utilizado pelos municípios brasileiros, pois reduz
o volume de rejeito a ser destinado aos aterros sanitários.
C) A esterilização dos RSS por autoclave é uma forma de tratamento de baixo custo e mais eficiente
que a incineração para tratamento de resíduos radioativos.
D) A destinação dos RSS para aterros, valas sépticas e lixões representa a segunda opção mais
utilizada pelos municípios para tratamento desses resíduos, em consonância com a Política
Nacional de Resíduos Sólidos.
E) O tratamento dos RSS por micro-ondas é adequado para resíduos químicos, os quais podem ser,
posteriormente, dispostos em aterros sanitários, sem risco à saúde e ao meio ambiente.
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: não cabe à Anvisa o controle de emissões gasosas. Para tal, são responsáveis órgãos
como a Cetesb.
B) Alternativa correta.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: os resíduos radioativos dos serviços de saúde são recolhidos pela Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN), a qual se responsabiliza pelo seu gerenciamento.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: os RSS não podem ser destinados diretamente aos aterros sanitários devido ao
risco de contaminação biológica. É necessário que ocorra uma descontaminação por autoclave e
muitas vezes incineração.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: os resíduos químicos devem ser controlados, devem reagir com outros materiais para
terem seus agentes ativos anulados, e muitas vezes são recolhidos por empresas especializadas.
B) As águas dos aquíferos brasileiros estão protegidas pela legislação e pelo uso racional de
fertilizantes e agrotóxicos em todo o país.
C) A extração das águas de aquíferos em território nacional está liberada de outorga, dada a
abundância de recursos hídricos no Brasil.
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Unidade II
D) As águas dos aquíferos brasileiros são naturalmente protegidas da contaminação por agrotóxicos,
pois são filtradas pelo solo.
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