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Saúde Ambiental

e Vigilância Sanitária
Autoras: Profa. Dra. Olívia Beloto da Silva
Profa. Dra. Cláudia F. dos Santos Ruiz Figueiredo
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo Souza Belinelo
Profa. Raquel Machado Cavalca Coutinho
Profa. Claudia Ferreira dos Santos Ruiz Figueiredo
Professoras conteudistas: Dra. Olívia Beloto da Silva / Dra. Cláudia F. dos
Santos Ruiz Figueiredo

Profª Drª Olivia Beloto da Silva Profª Drª Claudia Ferreira dos Santos Ruiz Figueiredo

Bacharel em Enfermagem pelo Centro Universitário de Possui bacharelado e licenciatura em Ciências Biológicas
Santo André – Unia (2005), especialista em Enfermagem em pela Universidade Ibirapuera – Unib (2005), é mestre em
Nefrologia pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp Ciências Humanas (Laboratório de Fisiologia Renal) pela
(2007), mestre em Ciências Humanas (Laboratório de Fisiologia Universidade de São Paulo – USP (2008) e doutora em Ciências
Renal) pela Universidade de São Paulo – USP (2009). Doutora Humanas (Laboratório de Fisiologia Renal) pelo Departamento
em Ciências Humanas (Laboratório de Fisiologia Renal) de Fisiologia e Biofísica Humana da Universidade de São Paulo
pelo Departamento de Fisiologia e Biofísica Humana da – USP (2012).
Universidade de São Paulo – USP (2012) e, no momento, pós-
doutoranda em Ciências Humanas (Laboratório de Fisiologia de Durante os dois anos de graduação fez iniciação científica,
Epitélios) pelo Departamento de Fisiologia e Biofísica Humana inicialmente no Laboratório de Neuroanatomia (2003-2004) e
da Universidade de São Paulo – USP (início em 2012). posteriormente seguiu para o Laboratório de Fisiologia Renal
(2004-2005), ambos do Departamento de Fisiologia e Biofísica
Durante toda a graduação fez iniciação científica no Humana da Universidade de São Paulo – USP. Durante esse
Laboratório de Fisiologia Renal do Departamento de Fisiologia período, participou de diversos congressos nacionais e
e Biofísica Humana da Universidade de São Paulo – USP (de internacionais. Atualmente, é docente titular da Universidade
2003 a 2007), participando de diversos congressos nacionais Paulista (UNIP), é professora ativa nos cursos da área da saúde
e internacionais, além de estágio no exterior (Universidade da como Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia, sendo a disciplina
Califórnia – Estados Unidos). Atualmente, é docente titular de Saúde Ambiental e Vigilância Sanitária uma das ministradas.
da Universidade Paulista (UNIP), sendo a disciplina de Saúde Exerce liderança de disciplinas dentro do curso de Gestão
Ambiental e Vigilância Sanitária uma das que ministra para a ambiental. Participa de diferentes atividades no Ensino a
área da saúde. Também é professora do Instituto Técnico de Distância (EaD) da Universidade Paulista desde 2013. E a partir
Barueri – SP (ITB), onde leciona aulas teóricas e práticas para o de 2015, no EaD, iniciou sua colaboração para a Comissão de
curso Técnico de Enfermagem. Além disso, é consultora ad hoc Qualificação e Avaliação de Cursos (CQA).
da Revista Acta de Enfermagem (Unifesp) e do Journal of the
Health Sciences Institute (UNIP) e é uma das pesquisadoras do
grupo de pesquisa da UNIP, campus Alphaville – SP.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S586s Silva, Olívia Beloto da.

Saúde Ambiental e Vigilância Sanitária / Olívia Beloto da Silva,


Cláudia dos Santos Ruiz Figueiredo. – São Paulo: Editora Sol, 2017.

112 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2-051/17, ISSN 1517-9230.

1. Saúde ambiental. 2. Vigilância Sanitária. 3. Promoção da


Saúde. I. Figueiredo, Cláudia dos Santos. II. Título.

CDU 504.03

U501.00 – 19

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
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Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Kleber Nascimento de Souza
Aline Ricciardi
Sumário
Saúde Ambiental e Vigilância Sanitária

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA
E A PROMOÇÃO DA SAÚDE: ASPECTOS RELACIONADOS AO MEIO AMBIENTE.............................9
2 SUSTENTABILIDADE E PROMOÇÃO DA SAÚDE.................................................................................... 13
3 EDUCAÇÃO EM SAÚDE AMBIENTAL E EDUCAÇÃO POPULAR........................................................ 17
4 PRINCIPAIS ASPECTOS DA HISTÓRIA DA SAÚDE AMBIENTAL NO BRASIL................................ 24

Unidade II
5 FATORES RELACIONADOS À ÁGUA, À ENERGIA E AO AR QUE INTERFEREM NO MEIO
AMBIENTE E NA SAÚDE HUMANA................................................................................................................ 33
6 FATORES RELACIONADOS À PRODUÇÃO DE RESÍDUOS, À CONTAMINAÇÃO
DO SOLO E AOS RISCOS NO TRABALHO QUE INTERFEREM NO MEIO AMBIENTE
E NA SAÚDE HUMANA...................................................................................................................................... 61

Unidade III
7 AÇÕES QUE FAVORECEM O MEIO AMBIENTE E A SAÚDE HUMANA:
AÇÕES DO ÂMBITO DE ENERGIA, ÁGUA E AR.......................................................................................... 83
8 AÇÕES DE ÂMBITO DA PRODUÇÃO DE RESÍDUOS, DA CONTAMINAÇÃO
DO SOLO E DOS RISCOS NO TRABALHO QUE INTERFEREM NO MEIO
AMBIENTE E NA SAÚDE HUMANA................................................................................................................ 89
APRESENTAÇÃO

A disciplina Saúde Ambiental e Vigilância Sanitária tem como objetivo reconhecer a interdependência
existente entre o ambiente e a saúde, além do processo saúde-doença. É necessário que o aluno seja
capaz de identificar os principais problemas relacionados ao meio ambiente no processo saúde-doença
de forma individual ou coletiva, para que o método educativo permita o surgimento de indivíduos mais
preocupados com o meio ambiente e com as consequências do seu desarranjo para a qualidade de vida
da população.

Este livro-texto engloba o processo saúde-doença e o seu envolvimento com o meio ambiente,
além de abordar a importância da educação nesse processo. Ele também demonstra os principais
fatores que interferem na natureza e, consequentemente, na saúde humana. E, por fim, serão
abordadas algumas das ações que podem ser realizadas na diminuição dos danos para o meio
ambiente e para a saúde humana.

Com esse material, desejamos que você tenha uma excelente leitura e compreenda a importância
de mantermos o meio ambiente isento de danos para conseguirmos ter uma vida saudável. Além disso,
esperamos contar com a ação de todos nesse procedimento, independentemente da área de atuação.
Afinal, esse planeta nos foi somente emprestado; portanto, é nosso dever cuidar dele e garantir a
sobrevivência das gerações futuras.

Boa leitura!

INTRODUÇÃO

O que é saúde? O que é doença? O que é meio ambiente? Como os danos causados a ele podem
interferir em nossa saúde? Quais são os principais fatores que o prejudicam, e quais ações podem ser
realizadas para que isso não aconteça? Por que estudar sobre meio ambiente na graduação? São várias
as questões. Você saberia responder a todas sem dificuldade?

Sabemos que, nos dias atuais, as respostas para todas elas estão cada vez mais complexas e que
muitas ações não dependem do plano individual, mas do coletivo, o que mascara os resultados finais.
Contudo, não pense que você está sozinho se estiver fazendo algo em prol do meio ambiente. Existem
milhões de pessoas no mundo tentando mudar algo e, na verdade, essa tentativa em conjunto com a
ação nos impulsionam para dias melhores.

Assim, pensar em nossas ações sem imaginar o dia de amanhã é uma atitude intolerável
no que diz respeito ao meio ambiente, pois tudo que é realizado atualmente irá interferir
seriamente nas gerações futuras, as quais podem ter estreita ligação com você (seus filhos, netos
e sobrinhos, entre outros). Por isso, não importa qual será a sua área de atuação, o fundamental
é acreditar nas mudanças e na importância da ação, pois independentemente de como atuará
(como profissional ou cidadão), é nosso dever zelar pelo meio ambiente e fiscalizar todas as
ações que vão contra a sua proteção, para que, assim como nós, as gerações futuras possam
usufruir desse mundo tão maravilhoso.
7
Esse livro-texto tem como objetivo esclarecer alguns aspectos da relação do meio ambiente e o
processo saúde-doença, assim como ressaltar a importância da participação de todos nesse processo,
favorecendo o pensamento crítico acerca dessa temática.

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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Unidade I
1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E A
PROMOÇÃO DA SAÚDE: ASPECTOS RELACIONADOS AO MEIO AMBIENTE

Começaremos a discussão com um tema bem relevante: o que é saúde? O termo saúde foi definido
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o bem-estar físico, mental e social de um indivíduo ou
população; portanto, podemos inferir que o termo doença deva estar atrelado à ausência de uma ou de
todas as características definidoras de saúde, as quais foram citadas.

Diversos estudiosos tentaram justificar ou mesmo explicar, de diferentes maneiras, as causas da


doença. Se pensarmos no aspecto evolutivo, desde os primórdios, o homem precisa provar aquilo
que acredita, e na ciência isso não é diferente. Os cientistas ou intelectuais necessitam não apenas
comprovar, mas realizar uma busca intensa na literatura. A comprovação se dá por meio da realização
de experimentos (observação de algum fato), os quais, somados aos dados da literatura, permitem a
criação de uma teoria.

Teoria Mística As doenças eram causadas


por fenômenos sobrenaturais

As doenças apareciam como


Teoria dos Miasmas uma consequência de gases
ou odores provenientes do
solo ou atmosfera

Teoria da Unicausalidade As doenças eram causadas


por um agente etiológico

As doenças eram causadas


pelo agente etiológico e uma
Teoria da Multicausalidade série de outros fatores, como
físicos, psíquicos, químicos,
ambientais e sociais

Figura 1 – Esquema das principais teorias que explicam as doenças

A figura anterior demonstra as principais teorias formuladas para explicar o surgimento das doenças.
A primeira delas foi baseada em um contexto que estava além da compreensão do real. Acreditava-se
que as doenças eram causadas por fenômenos sobrenaturais, ou seja, fenômenos não controlados pelo
9
Unidade I

homem. Ela foi denominada de Teoria Mística. A evolução dos processos de observação dos indivíduos
saudáveis e dos acometidos pela doença permitiu o surgimento da Teoria dos Miasmas, que consistia na
ideia de que as doenças apareciam como consequência de gases ou odores provenientes do solo ou da
atmosfera, os quais eram levados pelo vento e espalhados para um indivíduo que, consequentemente,
adoecia. Uma vez que os fenômenos observados pela Teoria dos Miasmas eram, de certa forma,
justificáveis, ela foi utilizada por um tempo considerável, tornando-se a preferencial para a explicação
da doença.

Lembrete

Segundo a OMS, saúde é definida como bem-estar físico, mental e


social de um indivíduo ou uma população.

No entanto, em meados de 1860, com a descoberta dos agentes etiológicos (como vírus e bactérias)
por Louis Pasteur, a Teoria dos Miasmas foi desconsiderada. A sua descoberta fez surgir uma nova teoria:
a da Unicausalidade, mas ela ainda foi incapaz de responder a todas as causas de diferentes doenças, que
muitas vezes tinham um aspecto multicausal e não a presença de somente um agente etiológico. Desse
modo, estudos epidemiológicos tiveram grande importância no período, pois demonstraram que vários
fatores, incluindo o meio ambiente (e não somente a presença do vírus ou da bactéria) contribuem para
o adoecimento. Assim, até os dias atuais, a Teoria da Multicausalidade (que engloba o agente etiológico
e uma série de fatores: físicos, psíquicos, químicos, ambientais e sociais) é considerada a capaz de
explicar o surgimento da doença.

Considerando a subjetividade do termo bem-estar empregado pela OMS para a definição de


saúde, ao avaliarmos o processo saúde-doença, é necessário ponderar não somente o processo em
si, mas todas as variáveis que envolvem tanto a saúde quanto a doença de um indivíduo e/ou uma
comunidade. Para isso, não podemos deixar de discutir a evolução histórica da humanidade, pois todas
as mudanças ocorridas ao longo dos séculos XIX e XX (incluindo as econômicas, políticas, sociais e
culturais) contribuíram intensamente para o surgimento de doenças associadas ao meio ambiente, o
que indica que a transformação de uma sociedade é capaz de modificar a saúde e todos os problemas
sanitários atrelados a ela.

Podemos dizer que a saúde e a doença estão interligadas e que dependem dos mesmos fatores:
agente, hospedeiro e meio (fatores causais), os quais acompanham a evolução da humanidade e são
modificados com ela, a partir de aspectos como o ambiente ao redor, o estilo de vida, a biologia humana
e os serviços de saúde prestados à comunidade, criando um modelo mais abrangente denominado
campo de saúde. A figura a seguir elucida o indivíduo envolto por todas as causas que interferem no seu
processo saúde-doença. É importante considerar que o estilo de vida não implica, na maioria das vezes,
em uma forma voluntária do indivíduo conduzir sua vida, mas é um processo que depende de ascensão
pessoal, social e cultural.

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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Trabalho

Saneamento
básico

Educação
Estresse
Indivíduo

Saúde Dor

Moradia

Ambiente

Figura 2 – Relação do indivíduo com o meio ambiente

Quando a OMS define meio ambiente como tudo o que está ao redor do ser humano, podendo ser
físico, químico, social e cultural, mas sem interação entre eles, permite a ideia subjetiva de bem-estar,
pois ele está vinculado à realidade vivenciada por esse indivíduo. Além disso, não deve ser considerado
meio ambiente somente aquilo que é exógeno ao ser humano, mas também elementos intrínsecos a
ele, como fatores genéticos e diversos outros aspectos, que influenciam, direta ou indiretamente, no
processo saúde-doença. Assim, o meio ambiente envolve todas as coisas vivas e não vivas da Terra que
interferem no ecossistema e, consequentemente, na vida dos seres humanos.

Antigamente, não era possível imaginar o desenvolvimento de um país, qualquer que fosse, sem a
apropriação dos recursos naturais, como desmatamento, extração de ouro e prata, além do desvio de
encostas e rios, tudo para a construção das grandes metrópoles ou ferrovias. Todas essas atitudes não
passavam de equívocos de âmbito cultural, pois as pessoas acreditavam que a natureza tinha que servir
ao ser humano, sem garantir o uso dela pelas gerações futuras.

Ainda em relação ao desenvolvimento da humanidade, a criação de novas tecnologias induz um


crescimento populacional atrelado ao avanço humano. Isso vem aliado ao aumento do consumo, mas,
infelizmente, pode não estar associado a algo consciente, pois o meio ambiente ainda sofre severos
danos. Basicamente, o consumismo desenfreado e inconsciente faz com que o ser humano utilize
matéria-prima sem pensar em sustentabilidade. Um exemplo clássico é a geração do papel demonstrado
na figura a seguir. Nela, podemos observar que para tal finalidade existe uma destruição maciça de
árvores, o que diminui áreas verdes consideráveis e interfere diretamente no ecossistema. Além disso,
todo o processo da produção do papel contamina o ar, o solo e a água, indicando que o meio ambiente
sofre danos desde a extração da matéria-prima até a produção do produto final. Assim, esse modelo
de desenvolvimento humano favorece o avanço, mas prejudica indiretamente a saúde, que sofre
interferência do meio ambiente.

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Unidade I

Fábrica do papel;
Contaminação ar, solo e água

Destruição de árvores =
diminuição de áreas verdes
Matéria‑prima

Papel
Interferência no ecossistema

Figura 3 – Interferência da fabricação de matéria-prima sobre o ecossistema

A reflexão a respeito do consumo de modo sustentável precisa ser um hábito diário em nossas vidas,
pois o desenvolvimento industrial desenfreado permite que o meio ambiente perca sua capacidade de
regeneração, aquela que acontecia anteriormente à fase industrial, favorecendo uma crise ambiental
grave, idêntica à que presenciamos atualmente. Uma vez que a crise se instalou, obrigou diversos setores
da sociedade a agir em prol do meio ambiente e, consequentemente, da vida humana. Inicialmente, foi
observado que a população precisava modificar diversos costumes e valores, objetivos que somente são
alcançados por meio da educação, pois reconhecer que o ambiente faz parte do ser humano e não é
somente algo exógeno a ele exige, antes da ação, o conhecimento. De acordo com o grau de relação
do ser humano com o meio ambiente, o processo saúde-doença pode ou não ser afetado, indicando
que somente compreender a relação de saúde e meio ambiente não é o suficiente sem que exista o
entendimento de todas as variáveis e realidades envolvidas nesses processos.

Os profissionais da saúde têm grande importância na educação quando se trata do processo saúde-
doença e de sua relação com o meio ambiente. O que pode ser observado é que eles, ou até mesmo os
futuros profissionais (estudantes de graduação), são capazes de conceituar adequadamente meio ambiente
e saúde, bem como todas as variáveis que atuam sobre eles. No entanto, o que mais preocupa os estudiosos
é o fato de não conseguirem transpor todo esse conhecimento para a prática profissional; contudo, essas
pessoas compreendem a importância de se discutir tal temática durante a graduação, tornando isso
um ponto positivo. O Código Internacional de Enfermagem atribui ao enfermeiro a responsabilidade da
preservação do meio ambiente, evitando sua degradação. Apesar de essa tarefa ser legalmente conferida,
muitos deles não colaboram com esse aspecto por não conseguirem transpor a teoria para a prática. O
exemplo mencionado é interessante, pois conferir responsabilidade legal aos profissionais da saúde com o
meio ambiente é o primeiro passo para uma grande mudança, a qual se inicia na sala de aula, discutindo
questões ambientais e da saúde de maneira mais profunda, ou seja, além do contexto das patologias
associadas à falta de saneamento básico adequado e descarte de resíduos sólidos.

No entanto, além dos aspectos comentados, outros dificultam o aprendizado no âmbito da saúde
coletiva. São eles: baixa produção científica, déficit de recursos financeiros, desinformação da população
e resistência em relação à divisão de responsabilidades. No que se refere à baixa produção científica,
isto é, às pesquisas realizadas sobre meio ambiente e saúde, podemos observar que países como
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Estados Unidos, Rússia e Ucrânia concentram a maior parte de suas publicações envolvendo questões
ambientais. No Brasil, houve um aumento significativo de lançamentos a partir do ano 2000, indicando
um crescimento de centros e grupos de pesquisa sobre meio ambiente. No entanto, ainda existe uma
carência de publicações expressivas relacionadas à saúde e ao meio ambiente, pois esses temas são, em
sua maioria, publicados isoladamente. O que tem sido observado é que as publicações estão voltadas
para uma reflexão teórica ou ética do tema meio ambiente e não são pesquisas científicas sobre as
situações cotidianas que englobam esses assuntos.

Todas essas observações relacionadas aos tipos e à relevância das publicações demonstram a
importância da somatória de conhecimentos teóricos, práticos, metódicos e intervencionistas para
a criação de um adequado conceito acerca da temática, fugindo um pouco das ações mais comuns
do setor da saúde, que visam em sua maioria a resolução de problemas, mas somente quando eles
já estão instalados. Assim, o importante é que as ações primordiais para a promoção e prevenção
de riscos, tanto ao ambiente quanto à humanidade, sejam tomadas antes que os efeitos deletérios
sobre eles possam surgir. Um exemplo disso é a discussão da questão sanitária básica que tem sido
substituída por uma abordagem mais ambiental, favorecendo a promoção da saúde e a conservação
de todos os aspectos do meio ambiente.

2 SUSTENTABILIDADE E PROMOÇÃO DA SAÚDE

O termo geral de sustentabilidade é proveniente da habilidade de sustentar uma ou mais condições


mostradas por alguém. Quando extrapolamos essa ideia e relacionamos o ser humano com o meio
ambiente, se torna pertinente que o uso dos recursos naturais (para atingir as necessidades do momento)
não comprometa as carências das gerações futuras.

Basicamente três pilares regem a sustentabilidade. O primeiro deles é o social – que fomenta o respeito
ao ser humano, ou seja, é necessário que se estime o ser humano para que aconteça o mesmo em relação
à natureza, pois ele constitui a parte mais importante do meio ambiente. O segundo é o energético – que
determina que não existe desenvolvimento econômico sem energia, pois caso isso acontecesse, a vida
das populações se deterioraria. Por fim, o terceiro, denominado ambiental – no qual a degradação do
meio ambiente diminui o tempo de vida do ser humano, pois não há desenvolvimento econômico e o
futuro se torna instável. Assim, para que um empreendimento humano seja sustentável, ele precisa ser
ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente diverso.

Sustentabilidade
Energético

Ambiental
Social

Figura 4 – Os três pilares da sustentabilidade: social, energético e ambiental

13
Unidade I

Lembrete

O uso dos recursos naturais, a fim de atingir as necessidades do


momento, não pode comprometer as carências das gerações futuras.

A sustentabilidade está relacionada a diversas ações, como a exploração dos recursos naturais
de florestas e matas de forma controlada, garantindo o replantio, a preservação das áreas verdes, o
incentivo da produção e do consumo de produtos orgânicos e a exploração dos recursos minerais de
forma controlada, racionalizada e planejada. Além disso, é possível criar fontes de energia limpas e
renováveis (energia eólica, geotérmica e hidráulica), reciclagem de resíduos sólidos, gestão sustentável
nas empresas, consumo consciente de água e medidas que não permitam a poluição dos recursos
hídricos e facilitem a despoluição daqueles que já foram contaminados.

Um aspecto educacional muito ligado ao termo sustentabilidade é a alfabetização ecológica, que


nos faz compreender que a educação é o pilar para uma nova relação entre o ser humano e o meio
ambiente. A alfabetização ecológica implica também no conhecimento de qualquer crise relacionada
ao meio ambiente, pois o indivíduo, quando for ecologicamente alfabetizado, se tornará capaz de
diagnosticar qualquer tipo de irregularidade.

O início dos debates sobre a importância da educação ambiental no Brasil começou em Porto Alegre,
em 2003, no III Fórum Social Mundial. O físico Fritjof Capra expôs os fundamentos e as finalidades da
alfabetização ecológica, cuja essência se encontra na aprendizagem dos princípios básicos da ecologia,
que servem de referência para os indivíduos que dependem do meio ambiente.

Ecologia é o estudo das relações entre meio ambiente e seres vivos, incluindo, claro, os seres humanos.
A cada dia cresce a preocupação a respeito da relação das ações humanas sobre o meio ambiente e,
consequentemente, é importante minimizar o risco de desastres naturais.

Capra alega que o problema é de educação, não está meramente na educação; para ele, toda
educação é ambiental, pois ensinamos aos mais jovens que fazemos parte de um mundo natural. Além
disso, afirma que quando dizemos que existe uma crise ambiental, significa que ela está ocorrendo na
educação. Capra discute ainda a importância da educação ambiental para crianças. No entanto, esse tipo
de educação torna-se útil (e essencial) para os profissionais da saúde, pois a relação desgastada entre
homem e natureza tem impactos profundos na saúde, tornando cada vez mais frequente a discussão de
assuntos de ecologia nos cursos das áreas de saúde (SIQUEIRA-BATISTA; RÔÇAS, 2009).

O autor frisa a importância de não tornar o ensino da ecologia somente mais uma disciplina da grade
curricular, mas formar profissionais da saúde capazes de serem críticos na relação homem-ambiente e
que consigam transpor os ensinamentos para a prática diária. A educação para a vida sustentável passa
a ser uma pedagogia que facilita o entendimento dos fundamentos básicos da ecologia, respeitando
a natureza em um contexto multidisciplinar essencialmente motivado pela participação e experiência
de uma comunidade, justificando que a saúde da nossa terra se torna a saúde do homem. Assim a
criação de comunidades sustentáveis pode ser uma excelente alternativa para os diversos problemas
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

enfrentados nos dias atuais, porque esse tipo de comunidade utiliza os recursos naturais de forma
consciente, sem reduzir a possibilidade de uso das gerações futuras (SIQUEIRA-BATISTA; RÔÇAS, 2009).

Saiba mais

Para compreender os conceitos estabelecidos por Capra, sugerimos a


leitura do artigo Alfabetização ecológica, de Rodrigo Siqueira-Batista e
Giselle Rôças:

SIQUEIRA-BATISTA, R.; RÔÇAS, G. Alfabetização ecológica. Revista


Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 33, p. 123-25, jul/set.
2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&
pid=S0100-55022009000500014>. Acesso em: 24 fev. 2017.

Considerando que os avanços alcançados pela humanidade não podem ser retrógrados, o
ecocapitalismo se tornou a terminologia do momento, pois se apoia no capitalismo atrelado à
sustentabilidade, garantindo um consumo racional dos recursos naturais, que são importantes para as
gerações futuras. Atualmente, diversas empresas têm associado a sustentabilidade à responsabilidade
social perante a comunidade, todas baseadas no ecocapitalismo. As ações ecocapitalistas podem ser
extrapoladas inclusive para as empresas fabricantes de papel, que foram utilizadas nesse texto para
exemplificar a utilização dos recursos naturais na fabricação de matéria-prima com interferência no
ecossistema. Contudo, mesmo que exista um pensamento sustentável sobre o capitalismo por parte das
empresas, tal conduta humana ainda domina uma pequena massa da população que tem acesso fácil
aos produtos. Assim, a única forma de destacar a importância de uma comunidade mais sustentável é a
educação ambiental, que deve ocorrer independentemente da classe social.

Para compreendermos adequadamente a importância das melhorias na saúde para posteriormente


relacioná-las com o ambiente, é necessário entender a história da promoção da saúde mundial e também
a brasileira. Inicialmente podemos citar a criação da OMS ao fim da Segunda Guerra Mundial (após o
ano de 1945), que favoreceu o conceito de saúde como “um estado de completo bem-estar físico,
mental e social, e não apenas a ausência de doença” (CONSTITUIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE, [s.d.]), que é defendido por alguns estudiosos até os dias atuais. No entanto, essa visão clássica
cai por terra quando pensarmos que a formação do indivíduo vai além do corpo e da mente, ou seja, ela
sofrerá ação direta de fatores inter-relacionados, que são exógenos ao ser humano, mas que o afetam
consideravelmente.

Machado (2008, p. 52) traz uma visão geral e interessante da saúde. A autora afirma que:

A vida, a saúde e a doença são fenômenos complexos que só podem ser


compreendidos por meio de teorias que levem em conta o ser biológico,
histórico, psíquico, mental, social, cultural e ecológico que é o ser humano.
São muitos os determinantes, sendo múltiplos também os seus efeitos, o que

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Unidade I

torna o campo da saúde uma realidade complexa e heterogênea, no qual


convivem diferentes práticas, valores e atores. Nesse sentido, a saúde traz
à tona problemas que desafiam a metodologia científica da racionalidade
moderna, e só pode ser explicada por conteúdos transdisciplinares.

Considerando que o ambiente interfere na saúde humana, a abordagem desses temas de forma
universal por meio das conferências internacionais sobre promoção da saúde é de extrema importância,
pois favorece discussões no âmbito das ações para saúde e das abordagens mais efetivas para o alcance
dos objetivos propostos nessas conferências. Setores que representam os países, como a Organização
Mundial da Saúde (OMS), a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e o Fundo das Nações Unidas
para a Infância (Unicef) são participantes ativos.

No âmbito histórico, o movimento em prol de melhorias na saúde foi iniciado em 1977. Nesse mesmo
ano, a OMS, ao realizar a 30ª Assembleia Mundial da Saúde, trouxe à tona para discussão o tema “Saúde
para Todos no Ano 2000”. Depois foi realizada a Primeira Conferência Internacional sobre Cuidados
Primários de Saúde, organizada em 1978 pela OMS e pela Unicef. Nela foi elaborada a Declaração de
Alma-Ata, documento que reafirma a saúde como um direito do ser humano. Além disso, a conferência
criou ações para diminuir a desigualdade social entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento,
colaborando para melhorias na qualidade de vida e, consequentemente, para a paz mundial.

Ao reafirmar que a saúde é um direito de todos, a Primeira Conferência Internacional permitiu que
todos, ao lutarem por ela, possam praticar a cidadania, independentemente do grau de escolaridade,
raça, sexo e idade – afinal, trata-se de algo assegurado pela legislação.

Para compreender os objetivos das principais conferências sobre saúde, realizaremos uma breve
retrospectiva. Em Ottawa, Canadá, no ano de 1986, aconteceu a Primeira Conferência Internacional
sobre Promoção da Saúde, cujo tema era “Promoção da Saúde nos Países Industrializados” – o que já
demonstrava a preocupação dessas organizações a respeito da industrialização e de seu impacto sobre o
meio ambiente. Logo em seguida, em 1988, foi realizada a II Conferência Internacional sobre Promoção
da Saúde, em Adelaide, na Austrália, cujo tema central foi “Promoção da Saúde e Políticas Públicas
Saudáveis”. Já a III Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, em Sundsvall, Suécia, no ano
de 1991, teve como tema principal a “Promoção da Saúde e Ambientes Favoráveis à Saúde”. Além disso,
ela foi a primeira a assumir a existência de uma interdependência da saúde e do ambiente, enfatizando
que o ambiente não é construído apenas por parâmetros fisicos ou químicos, mas também sociais,
econômicos, políticos e culturais. A IV Conferência Internacional, realizada em Jacarta, Indonésia, em
1997, destacou o tema “Promoção da Saúde no Século XXI”, indicando que existia uma séria preocupação
com a saúde no século XXI. Por fim, a V Conferência Internacional ocorreu na Cidade do México, no
México, em 2000, e discutiu o tema: “Promoção da Saúde: Rumo a Maior Equidade”, enfatizando a
garantia da saúde para todos.

Podemos perceber que a preocupação com a saúde é antiga, mas as ações que visem a sua melhoria
não seguiram o mesmo ritmo. Isso porque, como observado, mesmo com essas realizações, diversas
ações para melhorar a saúde ainda são necessárias, de forma global, nos dias atuais. Isso se deve ao
fato de que elas estão associadas à inovação tecnológica, a novos medicamentos e à construção ou
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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

implantação de novos serviços, como novos hospitais. No entanto, quando partimos do pressuposto que
a atenção à saúde deve ser voltada para a realidade política, cultural e social da comunidade, é possível
criar o conceito real de que o ambiente é tudo aquilo que faz parte do ser humano na sua totalidade.
Assim, é possível determinar e direcionar a assistência a essa comunidade, visando não somente a ação
curativa, mas também a de promover a saúde. É importante ressaltar que é de extrema importância que
exista uma relação intersetorial e multiprofissional, para que seja possível atingir o objetivo central:
promover a saúde de um indivíduo como um todo.

Em relação à saúde ambiental, seu contexto vai além do eu, ou seja, a ação do outro influencia
na minha saúde. Por esse motivo, ações comunitárias são extremamente importantes para que os
objetivos de promoção da saúde sejam alcançados. Para relacionarmos a ação do outro na própria
saúde, é imprescindível o entendimento de que a educação popular é capaz de modificar o processo
saúde-doença, no que diz respeito à saúde ambiental. Esses aspectos são respaldados pela Carta de
Ottawa, de 1986, a qual considera que as causas ou fatores de risco mais relevantes estão relacionados
com comportamentos individuais, estilos de vida ou tipos de trabalho e, com certeza, com o meio
ambiente (BRASIL, 2017). Dessa forma, capacitar pessoas para que aprendam a lidar com as situações
rotineiras, que possam ser causadas por diversos aspectos extrínsecos do ser humano, além da ausência
de saúde, colabora para a superação desses desafios na educação.

3 EDUCAÇÃO EM SAÚDE AMBIENTAL E EDUCAÇÃO POPULAR

Para compreendermos o contexto da educação popular, precisamos recapitular a história da saúde


e do processo de educação no Brasil. No final da década de 1950, o País possuía uma forma de governo
autoritária e dominante, favorecendo o surgimento de ações voltadas para o ensino do povo como uma
alternativa de mudança e que ainda podem ser vistas nos dias atuais. Paulo Freire foi o responsável
pelo início do trabalho de emancipação das classes menos favorecidas do Brasil, tornando possível
o ato de educar para transformar. Quando pensamos no meio ambiente, podemos inferir que essas
transformações devem estar associadas ao meio exógeno, desde o estilo de vida até as condições de
vida, que interferirão diretamente na saúde do indivíduo ou da comunidade. Para isso, Freire argumenta
que é necessário que as pessoas sejam portadoras de pensamento crítico e que se conscientizem em
todos os âmbitos da vida, pois podem ser protagonistas das próprias vidas, alterando a sua história.

O método de educação popular defendido por Paulo Freire compreende que o aprendizado é um
processo interativo entre professor e aluno, mas não pode ocorrer de forma vertical. Freire acredita que
o professor também é capaz de aprender com o aluno e que esse é portador de um conhecimento, mas
que em alguns momentos da vida precisa ser lapidado, o que caracteriza um tipo de educação horizontal.
Assim, a troca de conhecimentos favorece a educação em vários ângulos de visão, ou seja, esse modelo
de ensinamento segue os preceitos da metodologia dialógica, tornando o professor (educador) e o aluno
(educando) parceiros de acontecimentos reais da vida.

17
Unidade I

A) Sistema Vertical
Educador
B) Sistema Horizontal
“Conhecedor” de toda
a informação Educador Educando
Troca de
informações

Educando
Conhecedor e Conhecedor e
Receptor da Receptor da
informação informação
Receptor de toda a
informação do Educador

Figura 5 – Relação entre educador e educando: A) Relação vertical; B) Relação horizontal

Lembrete

Para Paulo Freire, é necessário que o educador e o educando sejam


portadores de pensamento crítico e que a relação entre ambos seja horizontal.

Para a saúde ambiental, os agentes de saúde são considerados professores pelo modelo de Freire e
podem trabalhar de forma integrada com a comunidade (alunos). Essa interação entre os agentes e a
comunidade visa à melhoria da condição de vida das pessoas que convivem nesse local e que dependem
dos serviços de saúde. Para essa abordagem, a forma de educação deve fornecer ao educando maior
conhecimento do assunto e estimulá-lo a trocar a passividade pela ação. Além disso, deve-se incentivar
esse indivíduo a possuir o saber para que consiga compartilhar o conhecimento adquirido, a fim de
desenvolver a condição de vida das pessoas da comunidade. Assim, na educação popular voltada para a
saúde, é importante que exista uma interface que reúna os saberes e as práticas médicas com o pensar
e o fazer cotidiano da população.

Historicamente, a educação em saúde visa estabelecer outro vínculo da população com a saúde, além
daquela curativa, observada ainda nos dias de hoje. Temos que compreender que mais do que a arte
médica de curar, atingir a saúde significa alcançar a plenitude no que diz respeito à promoção da saúde
e à prevenção da doença. Dessa forma, quando pensamos em educação em saúde, construímos uma
ligação da população com os problemas de saúde, tornando-a participativa e, assim, fazendo com que
se torne capaz de entender que é parte importante do processo e que forma uma corrente importante
para a justiça social. No entanto, quando pensamos no termo promoção da saúde, imediatamente
consideramos a questão médica preventiva, conceito mais abrangente nos dias atuais.

Alguns autores associam a promoção da saúde a medidas que aumentam o bem-estar e a qualidade
de vida e que estão relacionadas intimamente com a vigilância à saúde, não se limitando somente à
ausência de doença – ou seja, como capaz de agir sobre seus determinantes.

18
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Uma vez que a saúde é considerada uma visão ampla e social, Machado (2008, p. 52) afirma que:

Por partir da saúde como fenômeno produzido socialmente, o campo de


ação da promoção não se limita ao campo específico da assistência médico-
curativa, sendo incentivadas as ações de âmbito coletivo no cotidiano da
população, dirigidas aos determinantes da saúde. Portanto, operacionalizar
a promoção requer a cooperação entre os diferentes setores envolvidos e a
articulação de suas ações: legislação, sistema tributário e medidas fiscais,
educação, habitação, serviço social, cuidados primários em saúde, trabalho,
alimentação, lazer, agricultura, transporte, planejamento urbano etc.

Ainda em relação à educação em saúde, ela pode ser protagonizada por diversos indivíduos da
sociedade, incluindo os participantes dos movimentos sociais e os profissionais, além de agentes populares
da saúde. Dessa forma, a construção do saber e as mudanças sobre os conceitos do processo saúde-
doença fazem parte da reflexão das práticas de saúde realizadas nos serviços de saúde e formulação de
diversas alternativas para os problemas encontrados pela comunidade. A educação no âmbito da saúde
ultrapassa a simples instrução curativa, ou seja, vai além da prevenção e se fortalece na promoção da
saúde, pois a participação da comunidade em todos os processos proporciona informação e educação
sanitária e aperfeiçoa hábitos e atitudes para uma melhor qualidade de vida comunitária, culminando
com melhorias individuais.

Conforme a Primeira Conferência, que proferiu que a saúde é um direito de todos, a Constituição
Brasileira determinou esse direito a seus cidadãos em 1988, criando as diretrizes que norteiam
o Sistema Único Saúde (SUS). A partir do momento que foi discutido de forma mais ampla o
conceito de saúde, foi reconhecida a importância de uma reforma sanitária que colaborasse para
a melhoria da qualidade de vida das pessoas em nosso país. Entretanto, o SUS está longe de ser
o sistema que cumpre todas as determinações da reforma sanitária, infelizmente, pois enquanto
algumas de suas áreas são bem-sucedidas, outras não o são. Esses fatos tornam perdidos os
conceitos de equidade e integralidade propostos pelo SUS.

No Ministério da Saúde, a Educação Popular é ancorada pela Coordenação Geral de Ações Populares
de Educação em Saúde do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (Deges) da Secretaria da
Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES). Até que essa Coordenação pudesse tornar forte
suas convicções e diretrizes, a continuidade do Programa de Apoio ao Fortalecimento do Controle
Social do SUS foi extremamente importante para a formação dos agentes de saúde, pois a partir daí a
Coordenação passou a atuar identificando educadores populares.

Independentemente da formação da Deges, os movimentos populares continuavam e o MS


precisava iniciar o diálogo com eles. Para isso, foram promovidos encontros estaduais com a Rede
de Educação Popular em Saúde, os quais identificaram os movimentos para articulação da luta por
melhorias na saúde. Esses episódios ocorreram até 2003, quando o Encontro Nacional permitiu a
criação da Articulação Nacional de Movimentos e práticas de Educação e Saúde (Aneps), possibilitando
a articulação aos estados.

19
Unidade I

Em 2005, ocorreram mudanças na gestão do MS que proporcionaram a criação da Coordenação


Geral de Apoio à Educação Popular e a mobilização social do Departamento de Apoio à Gestão
Participativa (Dagep) da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP), com a mesma proposta
do SGTES, mas com a missão de promover o desenvolvimento de ações que modificam a formação de
trabalhadores, além da gestão dos sistemas, organização dos serviços, qualidade da atenção e controle
social. Ademais, foi percebido que quando o MS fornece espaço para as ações de saúde e de mobilização
social, ele assume um compromisso com a comunidade em relação ao fortalecimento e à participação
da sociedade no controle em todas as esferas, mas principalmente na da saúde. Lembrando que o
ambiente interfere no processo saúde-doença, esse ministério assume um importante papel para a
sociedade e deve possuir um trabalho inter e intrainstitucional para atingir, de forma completa, todos os
âmbitos da saúde. Assim, espaços públicos são criados para que aconteçam encontros entre a sociedade
e o governo, qualificando o controle social e fortificando a participação deles no SUS. Para isso, são
utilizados princípios político-pedagógicos da educação em saúde como estratégias para a reivindicação
pelo direito à saúde, pois quando possibilitamos a autonomia individual e coletiva, percebemos que
existe uma mudança na qualidade de vida das pessoas que passam a compreender melhor o significado
dos seus direitos.

Uma das formas mais convictas de entendimento desse direito é a educação baseada na
problematização, defendida por Paulo Freire. Quando esses indivíduos determinam o problema, são
coletivamente capazes de pensar em soluções práticas e que possam ajudar toda a comunidade; mas
para isso é importante que exista uma ponte entre o governo e a sociedade, para que esses cidadãos
sejam autônomos no que diz respeito à ciência do problema. Isso pode ser observado quando existe
uma forte educação popular em saúde, pois as ações dela são capazes de criar e nortear as políticas
públicas de saúde, direcionando-as para os princípios do SUS: universalidade, integralidade, equidade,
descentralização, participação e controle social. Além disso, a educação popular é responsável pela criação
de profissionais da saúde mais comprometidos com o social, possibilitando uma gestão participativa, na
qual todos possam colaborar para a melhoria dos serviços, descentralizando a saúde.

Quando pensamos no modelo de gestão participativa, logo imaginamos algo desorganizado, em que
todos dão sua opinião e nenhuma ação é tomada de fato. No entanto, no que se refere à educação em
saúde, os profissionais são engajados em ações sociais. É possível uma reflexão crítica dos problemas
com supostas soluções, diálogo e construção compartilhada do saber, ou seja, é construída uma ponte
entre o conhecimento popular e o científico. Portanto, é pautada a importância da escuta, da fala e da
compreensão de ambas as partes.

Por ser um tema infinitamente amplo, a educação em saúde inclui desde técnicas utilizadas para
adesão de tratamentos, discussão de prescrição médica por pacientes e prevenção de comportamento
de risco até falta de higiene corporal, sedentarismo e exercício físico, favorecendo uma ação intersetorial
que necessita da ação da comunidade. Assim, o raciocínio normativo, que consiste em alguém mandar
e outro executar, não se enquadra no conceito de educação popular em saúde.

Isso pode ser observado nas epidemias. No caso da dengue, por exemplo, o problema é sempre
do vizinho, que não tampa a caixa d’água. Quando temos uma atitude normativa, não pensamos no
coletivo e nem que também se aplica a essa doença a simples falta de água corrente (que não existe
20
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

em pneus jogados em terrenos baldios), piscinas sem tratamento, cemitérios, dentre outras causas. É
função dos serviços de saúde fazer com que as pessoas acreditem que os problemas, principalmente
aqueles de ordem pública de saúde, não podem ser tratados de forma individual, pois engloba, direta ou
indiretamente, o coletivo.

Podemos atribuir essa postura a uma questão cultural, pois por várias décadas o enfoque da
educação em saúde foi o preventivo. Supostamente, esse aspecto demonstra que o comportamento
do indivíduo está atrelado às doenças modernas (crônico-degenerativas), à exposição a fatores de risco
(fumo, estresse e dor, dentre outros) e aos gastos com assistência médica, os quais causam pequenos
benefícios à saúde, considerando que o processo de adoecimento é um problema do indivíduo. Com esse
panorama, a medicina curativa acabou fracassando no que diz respeito aos problemas comunitários.
Para mudar esse perfil, a educação em saúde teve que se basear no modelo médico, que persuade as
pessoas a modificarem seus estilos de vida, adotando hábitos mais saudáveis. Esse modelo favoreceu
a criação de diversos programas para facilitar a persuasão, os quais foram baseados nos problemas de
clínica médica e de epidemiologia.

Educar vai além do termo em si; tal ação depende do que entendemos por educação e o que
esperamos dela. Além disso, a atividade educativa colabora muito para que as pessoas entendam esse
conceito. Por exemplo, se ao longo da vida o indivíduo recebeu o processo educativo de forma crítica,
ou seja, foi capaz de raciocinar a respeito de diversos assuntos e problemas, ele se tornará um adulto
crítico, participativo e criativo para enfrentar a vida e todas as circunstâncias que são atribuídas a ela,
diferentemente de um alguém que não foi educado dessa maneira. Portanto, atribuir ao cidadão desde a
sua infância um tipo de educação que forma indivíduos críticos no futuro contribui para que as pessoas,
independentemente da sua classe social, possam participar ativamente da comunidade, em todos os
seus aspectos: político, social e de saúde.

Lembrete

Educar vai além do termo em si, depende do que entendemos por


educação e o que esperamos dela.

Tão importante quanto a educação é a consideração do conhecimento do indivíduo, ou seja,


considerar que ele possui uma sabedoria básica sobre os diversos temas da saúde, mesmo que não
exista um embasamento técnico-científico sobre o assunto, pois esse é baseado na experiência de
vida. Assim, para que haja sucesso na interação entre educador e educando, o que precisará existir
é um auxílio da equipe técnica para simplesmente lapidar o conhecimento popular, favorecendo
uma troca de experiências, conforme afirma a teoria de Paulo Freire. No geral, para que o processo
educativo aconteça, será necessário que o educando (aquele que recebe a informação) e o educador
(aquele que distribui a informação) estejam em sintonia, e a comunicação é uma ferramenta
importante para esse processo.

Primeiramente, a comunicação precisa ser clara. Quando queremos dialogar, temos que pensar no
verbo comunicar-se, que nos fornece a ideia de diálogo, diferentemente do verbo comunicar, que
21
Unidade I

significa simplesmente o ato de emitir uma informação. Portanto, comunicar-se vai além da transmissão
de conhecimento, ou seja, existe uma troca, que deve ser recíproca e horizontal, como foi descrito
anteriormente, diferentemente do que acontece na figura a seguir:

O senhor conhece
algo sobre a Claro! É uma
Dengue? doença causada
por um mosquito

Educador Educando

Correto! Então você sabe


que não pode favorecer Claro!
o acúmulo de líquidos
límpidos e isentos de O que será que ele
sujidades em sua residência. quis dizer?

Educador Educando

Figura 6 – Problemas de comunicação

Portanto, a comunicação depende do emissor (aquele que emite a mensagem), da mensagem (sinais
que indicam algo e que levam à ação, por exemplo), do receptor (que recebe a mensagem) e, não podemos
nos esquecer, da bagagem de experiência (que é tudo aquilo que tanto o emissor quanto o receptor
adquiriram sobre o assunto ao longo da sua experiência de vida). Contudo, para que a mensagem seja
compreendida, o receptor precisa ser um perceptor, ou seja, se tornar ativo e realizar a ação.

O modelo mais indicado de comunicação, ou seja, aquele que é capaz de agir sempre no coletivo,
é o participativo. Ele segue a ordem de comunicação baseada no diálogo (comunicação dialógica), no
qual a comunicação entre emissor e perceptor é estabelecida de forma horizontal e ambos são, ao
mesmo tempo, emissores e perceptores. Logo, para que o ato de comunicação participativa realmente
se concretize, é necessário que o emissor não seja simplesmente um comunicador, mas um educador. A
diferença entre comunicador e educador está no ato do diálogo, pois o educador o realiza ao longo do
processo, enquanto o comunicador nem sempre consegue ser um bom educador.

Exemplo de aplicação

Para que a comunicação tenha sucesso, é preciso que exista um emissor, um receptor, uma
mensagem e uma bagagem de experiência. Reflita sobre situações no seu dia a dia que possam
comprometer a comunicação.

22
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Para a saúde, a comunicação participativa reflete em situações positivas, em que a população, com
os agentes de saúde, conseguem estabelecer vínculos e melhorar as condições de vida, tanto no âmbito
individual quanto no coletivo.

Contudo, o termo participação é subjetivo e possui vários significados. No que diz respeito à saúde,
devemos sempre nos atentar em ir além de uma simples participação simbólica (que somente inclui os
indivíduos em um sistema, sem que eles tenham participação ativa ou receptiva das ações) ou receptiva
(quando cidadãos somente recebem os serviços do Estado, sem expressar opiniões ou mesmo tomada
de decisão efetiva sobre os serviços). Precisamos ter uma participação ativa (quando os indivíduos
tomam parte das ações) e/ou real (quando indivíduos reivindicam participação em decisões sociais,
assumindo-as), pois essa última foi legalmente determinada na 8ª Conferência Nacional de Saúde, de
1986, e na Lei Orgânica da Saúde (1990), consolidando-se como o impulso para mudanças no setor da
saúde, que deve ultrapassar a barreira da teoria e tornar-se, de fato, uma prática.

Assim, todas as ações educativas devem estar associadas à situação real vivida pela comunidade e
às condições que colaboram com o agravamento do processo saúde-doença. Podemos considerar que a
educação é uma prática dependente de uma sociedade, que a instituição de saúde é limitada – mas que
devem ser elaborados planos educativos diariamente, que o profissional da saúde deve compartilhar seu
conhecimento técnico-cientifico, que o entendimento da população deve ser levado em conta e que
todo o processo depende de uma reflexão crítica de todos (população e profissionais de saúde) acerca
da problemática, buscando atitudes e, como consequência, sua resolução criativa.

É importante ressaltar que caso nós, profissionais de saúde, tenhamos uma percepção distante da
realidade, nossas ações não terão êxito. Além disso, o ato da participação não pode estar vinculado
somente ao discurso; ele tem que ser praticado. E para a realização de toda a ação, é necessário planejar.
O planejamento é um ato de forma pensada, que analisa diversas variáveis para o processo. Assim, é
possível elaborar um plano de ação que, em todas as etapas, seja passível de avaliação e que facilite a
execução de uma ação.

Aos profissionais da saúde não cabe uma educação voltada para aspectos da prevenção da
doença, dos seus sintomas e das suas consequências, pois, para esses profissionais, o processo
de educação em saúde vai além do processo saúde-doença. Mais importante do que fazer o
indivíduo compreender os aspectos epidemiológicos e/ou patológicos que o fizeram adoecer é
permitir que ele entenda todos os seus direitos, como usuário dos serviços de saúde e como
cidadão. Por exemplo, quando falamos de dengue, não podemos nos abster do cuidado e da
conscientização, pois é importante que a população conheça o ambiente em que vivem, o qual
interfere consideravelmente para o surgimento dessa doença.

O modelo participativo de educação, o qual faz o indivíduo participar, pensar e, por fim, agir,
favorece a saúde, pela promoção dela. Sobre isso, a pedagogia de Paulo Freire considera que a
capacidade das pessoas em perceber diversos problemas (aspecto problematizador) e criar soluções
originais para eles é mais interessante do que o próprio conhecimento ou comportamentos corretos
esperados da comunidade.

23
Unidade I

4 PRINCIPAIS ASPECTOS DA HISTÓRIA DA SAÚDE AMBIENTAL NO BRASIL

Com a finalidade de promover a paz e garantir o desenvolvimento, a partir de 1960, o


desenvolvimento das Nações Unidas foi uma tentativa global de criação de um sistema que facilitasse
a comunicação dos países e direcionasse as condutas no que se refere ao meio ambiente. Relacionado
ao desenvolvimento sustentável, a Assembleia Geral das Nações Unidas (Agnu) tem como finalidade
avaliar pautas discutidas em encontros e conferências, além de ter poder de transformá-las em leis,
se conveniente. Também existe o Conselho Econômico e Social (Ecosoc), que revisa e recomenda
questões de desenvolvimento social e econômico, além de implantação de metas de crescimento.
Ademais, existe a Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável (CSD) que tem como principal função
acompanhar progressos da implementação da Agenda 21 (que discutiremos adiante), provendo
recursos financeiros e tecnologia adequada.

Para compreender as políticas brasileiras de saúde, temos atualmente que verificar toda a evolução
histórica e política do nosso país, que permitiu a sua criação, pois tal evolução foi marcada por diversos
processos que anulavam a elaboração de um sistema de saúde integral e universal.

A educação sanitária se iniciou em 1924, com a formação do primeiro batalhão de saúde em


uma escola estadual, criado por Carlos Sá e César Leal Ferreira, no Rio de Janeiro. Para que existissem
mudanças no sistema de saúde, foram necessárias diversas modificações na política do País, na
tentativa de criar um sistema que atendesse à população de forma integral. As questões ambientais
começaram a ser discutidas pelo governo em 1972, com a Conferência de Estocolmo, na qual foi
declarado e discutido o plano de ação e, enfim, criado o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (Pnuma). Nela foi determinado que o meio ambiente é o conjunto de componentes físicos,
químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos e indiretos em curto ou longo prazo
sobre os seres humanos e suas atividades.

Na década de 1980, a saúde como um todo dependia do Instituto Nacional de Assistência


Médica da Previdência Social (Inamps), que cuidava da saúde no âmbito individual, e do MS,
que era o responsável pelas questões coletivas, estreitamente vinculadas à vigilância, como a
prevenção e o controle das doenças transmissíveis. Em 1981, a Política Nacional do Meio Ambiente
(Lei nº 6.938) descreveu o meio ambiente como um conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas (BRASIL, 1981).

Ainda na década de 1980, a 8ª Conferência Nacional da Saúde (realizada em 1986) foi o marco-
chave para a descentralização do sistema de saúde e a implantação de políticas de saúde para defesa e
cuidado da vida. O tema dessa conferência foi “Democracia é Saúde”, e o relatório final fundamentou o
SUS; a partir dele, o planejamento e a execução das ações passaram a ser comandadas unicamente pelo
governo e os princípios e diretrizes do sistema puderam ser fortemente empregados. Mesmo que todas as
ações fossem comandadas exclusivamente pelo governo, houve certa preferência pelo assistencialismo,
favorecendo a desvalorização do setor da vigilância, que ficou limitado na decisão das ações. Isso criou
processos de trabalho, no âmbito da prevenção e controle de doenças, autocentrados e distanciados da
tomada de decisão.
24
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Para solucionar esses conflitos, foi necessária uma reestruturação interna, principalmente
das práticas de saúde no SUS, que investiu na vigilância, dando poder de decisão nas ações de
saúde e complementando a proteção e a promoção da saúde. Em Ottawa, no ano de 1986, foram
definidas algumas propostas para melhorar o sistema de saúde, como integralidade, equidade,
responsabilidade sanitária, mobilização e participação social, educação, informação, comunicação
e sustentabilidade, mas ainda nos dias atuais o desafio é grande para que todas essas propostas
sejam alcançadas com êxito.

Em relação às questões ambientais, foi criado em 1987 o protocolo de Montreal, sobre o controle das
emissões de gases ou outras substâncias envolvidas com a destruição da camada de ozônio. No mesmo
ano, foi realizada a Comissão de Brundtland para discutir o desenvolvimento sustentável e foi criado
o informe intitulado Nosso Futuro Comum. Em 1988, foi criado o Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) e, em 1989, foi realizada a Convenção da Basileia, que
discutiu a movimentação entre as fronteiras de dejetos perigosos.

Outros aspectos contribuíram para que a vigilância pudesse atuar fortemente na saúde. Uma delas
foi a criação do Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi), em 1990, que treinou o pessoal técnico
responsável vinculado aos serviços municipais e estaduais de epidemiologia, permitindo a participação
de instituições de ensino e pesquisa, financiamento das pesquisas e integralização de serviços para
a implantação do monitoramento de doenças não transmissíveis, em relação às ações de proteção e
promoção da saúde no âmbito da vigilância. Além disso, houve um forte financiamento por parte do
governo para as ações de educação e saúde do SUS, e existiram outros eventos e/ou convenções que
discutiram questões que englobam tanto o meio ambiente quanto a saúde humana, dando destaque
para o pré-Rio 92.

Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, denominada Rio 92,
os governos se uniram na tentativa de integrar o meio ambiente e o desenvolvimento, criando diversos
documentos, como a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Carta da Terra e
a Agenda 21. A Carta da Terra declarou os princípios éticos e fundamentais para a formação de uma
sociedade justa, sustentável e, além disso, pacífica. Essa carta demonstrou a ânsia de uma ação concreta
em relação à sustentabilidade e pautou alguns desafios para o futuro, como mudanças de valores e
modos de vida.

No ano de 2012, ocorreu a Rio+20, cujos temas foram o desenvolvimento sustentável e a


erradicação da pobreza. Na realidade, o último faz parte da sustentabilidade, pois está associado
a programas de desenvolvimento sustentável. De 2003 a 2012, a pobreza no Brasil diminuiu, de
12% para 4,8%, devido aos programas do governo, como o Bolsa Família. Há também o Bolsa
Verde, que atrela sustentabilidade e erradicação da pobreza. Seu nome oficial é Programa de
Apoio à Conservação Ambiental, e é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), que
incentiva a conservação do ecossistema (manutenção e uso sustentável do meio ambiente), por
meio da concessão de uma bolsa mensal e participação dessa população em ações de capacitação
ambiental, social, educacional, técnica e profissional.

25
Unidade I

Seguindo os preceitos do SUS de descentralização, em 1999, a Portaria nº 1.399 GM/MS regulamentou


as definições de responsabilidades de cada esfera de governo (federal, estadual e municipal), tornando
as ações mais efetivas e favorecendo a participação da população nelas. Adicionalmente, foi criada
em 2003 a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do MS, que ficou responsável pela coordenação do
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Dentre as estratégias de ação da Vigilância Sanitária estão:

• a regulamentação dos procedimentos de serviços e produtos de interesse da saúde pela


elaboração de leis, decretos, portarias e normas técnicas baseadas nos riscos sanitários
à saúde da população, a fim de determinar diretrizes e organizar serviços e práticas da
vigilância em saúde;

• a comunicação e a educação em saúde, pois são essenciais para as ações com foco em
problemas sanitários encontrados em empresas e/ou estabelecimentos, esclarecendo suas
responsabilidades sanitárias, bem como a conscientização e a participação da sociedade
nesse processo;

• a articulação e a integração com diversos órgãos que podem ou não ter ação direta com a saúde;

• a inspeção e a fiscalização para que as ações da Vigilância Sanitária sejam sustentadas, favorecendo
o conhecimento real da problemática que afeta a saúde da população. Assim, existe a possibilidade
de definir estratégias e ações que promovam a resolução desses problemas.

A Secretaria de Vigilância em Saúde foi criada para diminuir a fragmentação de todas as ações,
colaborando para que ocorresse uma organização adequada do órgão e, consequentemente, do SUS.
Portanto, a coordenação das atividades de vigilância epidemiológica e de controle de doenças que
estavam sob responsabilidade do Cenepi e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) acabou sendo
transferida para essa secretaria, a qual está conectada ao MS.

Programas de prevenção e controle de doenças, como todas as sexualmente transmissíveis, Aids,


dengue, malária, hepatites virais, hanseníase, tuberculose, dentre outras são coordenados pela SVS.
Além disso, a sua esfera de ações não se atribui somente a esses programas, mas também ao Programa
Nacional de Imunizações (PNI), investigação e ação sobre surtos de doenças no âmbito nacional, rede
nacional de laboratórios de saúde pública e os sistemas de notificação compulsória, mortalidade e
nascidos vivos. Logo, é importante ressaltar que os profissionais da saúde têm um papel fundamental na
detecção dessas doenças, para que a SVS possa agir e diminuir a disseminação da doença, colaborando
com o tratamento.

Contudo, além da área epidemiológica, a SVS atua na promoção da saúde, vigilância de doenças e
agravos não transmissíveis, vigilância em saúde ambiental e monitoramento da saúde da população.
Todas essas funções da SVS estão elucidadas na figura a seguir:

26
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Vigilância Epidemiológica Programas de prevenções


de doenças transmissíveis e controle de doenças
e não transmissíveis

Imunizações Promoção da saúde


Secretaria de
Vigilância em
Laboratórios de Saúde Vigilância em
Saúde Pública saúde ambiental

Investigação e resposta Informações


a surtos de referência epidemiológicas e
nacional situações da saúde

Figura 7 – Áreas de atuação da Vigilância Sanitária

Existe um grupo técnico que está apto a avaliar todas as medidas implementadas, bem como
destinação dos recursos, ações e resultados das ações. Esse grupo foi criado em 2003, com o início
da SVS.

A SVS determina uma meta anual para o controle e prevenção de doenças para todas as
esferas de governo, garantindo o acesso da população aos serviços de saúde, diminuindo
a morbimortalidade e, por fim, aumentando a qualidade de vida das pessoas. Todas as metas
definidas, bem como as atividades a serem realizadas e os recursos financeiros, considerando as
diferentes regiões do País, recebem o nome de Programação Pactuada Integrada de Vigilância em
Saúde (PPI-VS) que está atrelado à SVS, às Secretarias Estaduais da Saúde (SES) e às Secretarias
Municipais da Saúde (SMS).

Exemplos de sucesso dessa programação pactuada para o controle de doenças são o da paralisia, que
contribuiu para a diminuição da poliomielite; e o do sarampo, que proporcionou um aumento de ações
para o âmbito de doenças exantemáticas.

Saiba mais

Para conhecer mais sobre as diretrizes da Vigilância Sanitária e as


políticas públicas de saúde, recomendamos a leitura da obra “Políticas
públicas de educação ambiental e a atuação dos Conselhos de Meio
Ambiente no Brasil”:

NOVICKI, V.; SOUZA, D. B. de. Políticas públicas de educação ambiental


e a atuação dos Conselhos de Meio Ambiente no Brasil: perspectivas e
desafios. Avaliação e políticas públicas em Educação. Rio de Janeiro, v. 18,
n. 69, p. 711-736, out./dez. 2010.

27
Unidade I

Existem algumas políticas específicas de incentivo voltadas para ação da SVS, como:

• ações do Programa Nacional de DST e Aids – que representa um instrumento de fundamental


importância para a descentralização das condutas em saúde para Aids pelo SUS;

• rede de laboratórios em saúde pública – realiza diagnóstico de patógenos e desempenha função


primordial nas áreas de vigilância epidemiológica, ambiental e sanitária;

• Centros de Controle de Zoonoses – que exercem atividades voltadas aos vetores (como Aedes), aos
hospedeiros (como cães e gatos), aos animais sinantrópicos – que convivem junto e se adaptam
ao homem (como roedores, baratas e pulgas) e os animais peçonhentos (como escorpiões, aranhas
e abelhas).

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação é também uma abordagem da SVS, englobando


diversas patologias que podem agir ao nível individual e coletivo. Como a criação da SVS favoreceu a
colaboração do MS para ações de ordem coletiva, é de extrema importância que os profissionais da
saúde conheçam as doenças de notificação compulsória, para que os devidos órgãos possam atuar de
forma rápida e precisa.

As doenças e agravos de notificação imediata são: botulismo, antraz, cólera, febre amarela, febre do
Nilo Ocidental, hantaviroses, influenza humana por outro subtipo, peste, poliomielite, raiva humana,
sarampo, síndrome febril íctero-hemorrágica aguda, síndrome respiratória aguda grave, varíola e
tularemia (enfermidade infecciosa aguda). Além disso, em caso de confirmação, são notificados o tétano
neonatal e surtos de agravos inusitados, difteria, doença de Chagas aguda, doença meningocócica e
influenza humana. Adicionalmente, doenças que podem preceder o contágio dos humanos, como
epizootias em primatas não humanos.

Para colaborar no processo de educação em saúde voltado para o tema meio ambiente, a Agência
Nacional da Saúde (Anvisa) tem como missão, pela Lei nº 9.782/99, proteger e promover a saúde da
população, garantindo a segurança sanitária de produtos e serviços e participando da construção de
seu acesso.

A Anvisa possui, além da ação regulatória, a função de coordenar o Sistema Nacional de Vigilância
Sanitária (SNVS), que tem a responsabilidade de controlar, normatizar e fiscalizar ações em vigilância
sanitária, bem como (no âmbito nacional) estar vinculada ao MS e integrar o SUS, absorvendo seus
princípios e diretrizes. Assim, pode-se considerar a Anvisa como um instrumento que o SUS dispõe para
realizar seu objetivo de prevenção e promoção da saúde.

Além disso, existe o Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo (CVS-SP/SES) que tem a função de
regular e executar ações de acordo com as necessidades do estado de São Paulo, enquanto que, em
âmbito municipal, existe a Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa/SMS, criada em 2003), que
realiza as ações de acordo com as necessidades do município.

28
SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Vale a pena ressaltar que as autoridades sanitárias (formadas por pessoas credenciadas e que
compõem a equipe de Vigilância Sanitária) executam atividades de inspeção e fiscalização. Ao
considerarem risco à saúde, podem exercer o poder de polícia, como aplicação de intimação e infração,
interdição de estabelecimentos e apreensão de produtos e equipamentos, dentre outros, exercendo a
autoridade sanitária.

São áreas de atuação da Anvisa: locais de produção e comercialização de alimentos, saneamento


básico, lojas e áreas de lazer, locais públicos, fábricas, medicamentos e controle de vetores e pragas
urbanas e zoonoses.

Resumo

A OMS define o termo saúde como o bem-estar físico, mental e


social de um indivíduo ou população. Assim, o termo doença está
atrelado à ausência de uma ou de todas as características definidoras
de saúde. Podemos dizer que a saúde e a doença estão interligadas e
que dependem dos mesmos fatores: agente, hospedeiro e meio (fatores
causais), os quais acompanham e são modificados com a evolução da
humanidade, como ambiente ao redor, estilo de vida, biologia humana
e serviços de saúde prestados à comunidade, criando um modelo mais
abrangente denominado campo de saúde. O meio ambiente, portanto,
envolve todas as coisas vivas e não vivas da Terra que interferem no
ecossistema e, consequentemente, na vida dos seres humanos.

O desenvolvimento da humanidade permite a criação de novas


tecnologias, as quais induzem um crescimento populacional atrelado
ao aumento do consumo de forma não consciente, prejudicando
potencialmente o meio ambiente. Logo, a reflexão a respeito do consumo
de forma sustentável precisa ser um hábito diário em nossas vidas, pois
o desenvolvimento industrial desenfreado permite que o meio ambiente
perca sua capacidade de regeneração, como aquela que acontecia
anteriormente à fase industrial, favorecendo uma crise ambiental grave,
idêntica àquela que presenciamos atualmente. Dessa forma, considerando
tais aspectos, os profissionais da saúde têm grande importância na
educação da população quando se trata do processo saúde-doença e sua
relação com o meio ambiente.

Quando relacionamos o ser humano com o meio ambiente, torna-se


pertinente o pensamento de que o uso dos recursos naturais (para atingir
as necessidades do momento) não pode comprometer as necessidades
das gerações futuras. Isso se deve ao fato de que, tratando-se da saúde
ambiental, o contexto de saúde vai além do eu, ou seja, a ação do outro
influencia na saúde do indivíduo. Por esse motivo, ações comunitárias
29
Unidade I

voltadas para saúde são extremamente importantes para que os objetivos


de promovê-la sejam alcançados. Para associarmos a ação do outro na
própria saúde, é imprescindível o entendimento de que a educação
popular é capaz de modificar o processo saúde-doença no que diz respeito
à saúde ambiental.

Uma vez que, historicamente, a educação em saúde visa estabelecer


outro vínculo da população com a saúde além daquela curativa (observada
ainda nos dias atuais), compreender as políticas de saúde brasileira se torna
essencial para esse processo. Temos que compreender toda a evolução
histórica e política do nosso país que permitiu a criação desse sistema, pois
tal evolução foi marcada por diversos processos que anulavam a criação de
um sistema de saúde integral e universal.

Dentre as diversas conferências internacionais que trataram do


processo saúde-doença e meio ambiente que contribuíram para a
progressão das políticas públicas de saúde no país e no mundo, a mais
recente foi realizada no ano de 2012, denominada Rio+20. Ela teve
como temas principais o desenvolvimento sustentável e a erradicação
da pobreza, que faz parte da sustentabilidade, pois está associada aos
programas de desenvolvimento sustentável.

Além das conferências internacionais, nosso país conta com


a SVS, criada para diminuir a fragmentação de todas as ações,
colaborando para que ocorresse uma organização adequada do
órgão e, consequentemente, do SUS. Essa secretaria determina uma
meta anual para o controle e a prevenção de doenças em todas as
esferas de governo, garantindo o acesso da população aos serviços
de saúde, diminuindo a morbimortalidade e, por fim, aumentando
a qualidade de vida das pessoas. Para colaborar no processo e
educação em saúde (voltado para o tema meio ambiente), foi criada
a Anvisa, que tem como missão proteger e promover a saúde da
população, garantindo a segurança sanitária de produtos e serviços
e participando da construção de seu acesso.

Vale a pena ressaltar que as autoridades sanitárias (formadas por


pessoas credenciadas e que formam a equipe de Vigilância Sanitária)
executam atividades de inspeção e fiscalização. Assim, ao considerarem
risco à saúde, podem exercer a autoridade sanitária com poder de polícia,
como aplicação de intimação e infração, interdição de estabelecimentos,
apreensão de produtos e equipamentos, dentre outros.

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SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Exercícios

Questão 1. (Enade 2016) A partir das ideias sugeridas pela charge, avalie as asserções a seguir e a
relação proposta entre elas.

Figura 8

I – A adoção de posturas de consumo sustentável, com descarte correto dos resíduos gerados,
favorece a preservação da diversidade biológica.

PORQUE

II – Refletir sobre os problemas socioambientais resulta em melhoria da qualidade de vida.

A respeito dessas afirmativas, assinale a opção correta:


A) As afirmativas I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.
B) As afirmativas I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I.
C) A afirmativa I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
D) A afirmativa I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
E) As afirmativas I e II são proposições falsas.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

Justificativa: a afirmativa I é verdadeira, uma vez que a sustentabilidade visa a manutenção dos
recursos naturais, garantindo seu usufruto atual e futuro. Os resíduos sólidos correspondem a um
31
Unidade I

problema ambiental e de saúde pública, devem ser gerenciados de maneira correta para preservação
do meio ambiente e do bem-estar da população. Já a afirmativa II é incorreta, pois não basta refletir
sobre os problemas socioambientais para melhorar as condições de vida da população. É necessária uma
mudança de atitude, e cada indivíduo tem que colaborar e participar da adoção de medidas sustentáveis.

Questão 2. (Enade 2016) O Ministério da Saúde do Brasil tem investigado as possíveis associações
entre os casos de microcefalia em recém-nascidos e o Zika vírus desde as primeiras notificações, em
outubro de 2015. É comprovado que o Zika vírus atravessa a barreira placentária; o Zika vírus também já
foi identificado em natimortos e recém-nascidos com microcefalia ou outras malformações do sistema
nervoso central (SNC). Apesar das evidências disponíveis até o momento indicarem fortemente que o
Zika vírus está relacionado à ocorrência de microcefalia, não há como afirmar que a presença desse vírus
durante a gestação leva, inevitavelmente, ao desenvolvimento de microcefalia no feto. Nesse contexto,
todos os profissionais de saúde, com destaque para o enfermeiro que está diretamente envolvido com
a gestão e operacionalização dos serviços de saúde, devem atentar para as ações de vigilância em saúde
no combate aos casos de microcefalia e demais malformações do SNC em recém-nascidos. Cabe destacar
que não deve ser desprezada a investigação de outras causas, além do Zika vírus, para fins de diagnóstico
diferencial e estudos da possível associação entre as infecções e o resultado fetal em discussão.

A partir dessas informações, avalie as afirmativas a seguir, acerca de possíveis causas congênitas
de microcefalia.

I. Trauma disruptivo, como o acidente vascular encefálico hemorrágico, pode causar microcefalia.

II. A microcefalia pode ser causada por doenças infecciosas como sífilis, toxoplasmose e rubéola.

III. O efeito teratogênico do álcool pode provocar microcefalia.

IV. Fetos de mulheres com diabetes materna mal controlada podem apresentar microcefalia.

V. A microcefalia pode ser provocada pela hipertensão arterial materna.

É correto apenas o que se afirma em:

A) IV e V.

B) I, II e III.

C) I, IV e V.

D) II, III e V.

E) I, II, III, IV e V.

Resolução desta questão na plataforma.


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