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Páginas 108-132
Atualmente, estão sendo aplicados conceitos de poder social e sua distribuição a
muitos assuntos sociais. De uma maneira relacionada, estão sendo levantadas crescentemente
perguntas com respeito aos direitos constitucionais e humanos de prisioneiros, pacientes
mentais, e outros assuntos de controle institucional Isto é o que deve ser esperado, dado este
clima intelectual e social, no qual os procedimentos de modificação de comportamento usados
em instituições (e em outros lugares) deveriam ocorrer sob análise. Faz-se desnecessário dizer
que estes procedimentos, não foram indicados para passarem por tais análises, partindo do
pressuposto de que estas análises fariam parte de uma inspeção maior. Contudo, o uso de
termos como "controle", "controle social", "condicionamento" e a relação explícita dos
procedimentos com um sistema conceitual derivado do laboratório animal parece lhes fazer
alvos de escolha, como também de oportunidade. Qualquer leitor está atento à indignação que
estes termos gerarão quando foram simplesmente usados como parte de um sistema conceitual
e aplicado na teoria do comportamento humano. Não há nada de novo sobre isto. O que existe
de novo é a ligação dos argumentos filosóficos antigos ao uso atual da análise de
comportamento aplicada. Esta confluência é composta pela aplicação do termo "modificação
de comportamento" com uma variedade de práticas institucionais questionáveis cujos
proponentes recorrem ao sistema conceitual e sua aplicação como justificação. O caminho
atual é o desafio de renovar o sistema conceitual e suas aplicações. Isto ameaça afetar as
oportunidades de pesquisas básicas como também o desenvolvimento de modelos sociais
úteis. Conseqüentemente, isto não é um assunto trivial de preocupação só para os estudantes e
médicos da modificação do comportamento.
Um exemplo do desentendimento gerado pela aplicação abstrata é determinado pelas
revisões do livro de Skinner (1971). Com poucas exceções, estas revisões foram
caracterizadas por enganos e menos distorções bondosas à respeito da experimentação
humana, do behaviorismo, e condicionamento. Nenhum trabalho, é claro, está além da crítica,
mas as revisões mostraram mais das posturas dos autores que do livro revisado. Em um nível
mais prático, Wexler (1973) revisou algumas relações recentemente entre modificação de
comportamento e a lei, com ênfase especial em pacientes em manicômios. Ele refletiu
algumas perguntas sérias que foram levantadas acerca destes procedimentos. Entre estas
perguntas está a que questiona, até que ponto as economias e a potência de quem reforça pode
estar acima da privação dos pacientes, e possa privar os pacientes do direito constitucional e
humano. Wexler não é desatento ao fato de que eliminação de tais procedimentos pode trazer
problemas terapêuticos. Estas questões e outras que ele notou perturbaram muitos membros
da comunidade de analistas do comportamento aplicados e outros. Estes são assuntos
importantes e Wexler os levantou com habilidade e entendimento. A pesquisa dele esteve
completa e sua erudição em lei e análise de comportamento, imponente. Se o artigo estiver
perturbando, também é alívio achar uma discussão desta natureza livre de distorções,
enganos, ou hipocrisia que caracterizaram muitas outras discussões. A revisão dele é,
conseqüentemente, uma contribuição impressionante e importante para o campo e deveriam
ser lidos seus pontos principais, desde que, somente esse germano presente à discussão será
considerado aqui. O campo da análise de comportamento é afortunado para ter em caminho
tal investigação feita por um estudante que entende isto.
Um foco da discussão de Wexler, e a preocupação legal que reflete, está nos assuntos
constitucionais (cf. Sen. Ervin, 1973) levantados por agentes de instituições que
intencionalmente aplicam técnicas de controle de comportamento explícitas em quem é, em
essência, uma populaç;ão cativa. Esta população, sujeita ao controle institucional, pode ser
vista, legalmente, como estando sob coerção e assim pode ser privada de direitos
constitucionais e da liberdade de consentir ou divergir. O assunto fica crítico quando a arena
para consentir ou divergir é a submissão a procedimentos de controle de comportamento que
podem moldar e controlar a direção do futuro consentimento ou divergência e, realmente,
controlar suas escolhas. Contra-argumentos filosóficos de que toda escolha é controlada, é
fora de questão quando se viu o tamanho do problema, em termos constitucionais. Em forma
de questão, isto poderia ser declarado: por que uma pessoa foi classificada como um paciente,
uma instituição ou seus agentes foram autorizados para o privarem de seus direitos de
consentir ou divergir, especialmente nessas áreas em que o assunto é aceitar ou não aceitar a
implantação do sistema de valor institucional que diz respeito à própria pessoa? Nosso
sistema político é caracterizado por uma suspeita bem-justificada de seu potencial para dano
quando os poderes estão concentrados e tenta-se separar e difundir estes poderes, instituir
exigências e preponderância, junto com outras proteções, inclusive processos legais. Até que
ponto se registram tantas exigências em uma instituição, e existe um processo legal devido
que especifica quais comportamentos estão dentro da esfera da instituição, e quais são
reservados a qual paciente? Que seguranças institucionais além da integridade pessoal e da
sujeira do sistema existem contra o abuso de poder? E se a modificação de comportamento
está promovendo o poder do controle eficiente, alguns de seus partidários (e oponentes,
também) reivindicarão isto.
Estas perguntas não são desnecessárias. Em minhas várias viagens ao redor do país eu
vi e recebi de primeira-mão, informações de várias instituições mentais.
Alguns relatórios foram caracterizados como tendo soluções engenhosas que eu achei
útes. Mas em uma instituição, os pacientes estavam dormindo no chão, porque eles não
estavam participando dos comportamentos institucionalmente decretados e não estavam
adquirindo os símbolos pelos quais eles poderiam comprar espaço na cama. Quais são os
limites no desenvolvimento das conseqüências? Em outro, foi diagnosticado um paciente que
abusava no uso de drogas, e que concomitantemente, era considerado como tendo uma
"personalidade inadequada". Foi decidido ajudá-lo a ficar mais adequado, utilizando as
conseqüências para moldar seu sotaque sulista e transformá-lo num sotaque mais culto da
região do Meio Oeste. Quais são os limites de comportamentos? Contudo, em outro caso, a
hospitalização de um paciente com depressão foi relacionada à desintegração de apoios
externos: a esposa dele tinha iniciado ação de divórcio, o sócio dele tinha fugido com os
fundos da empresa, e os amigos dele e filhos o tinham abandonado. Foi decidido aliviar a
depressão dele reforçando atividades de atenção (como ping pong) especificadas em uma lista
e também decidiu-se extinguir suas referências legítimas, impedindo sua tristeza, fazendo
com que ele as ignorasse. Quais são os limites para re-arranjar as contingências? Em todos os
três casos os agentes institucionais não foram treinados em modificação de comportamento,
mas os programas eram aprovados como tal pela instituição. Em outros casos, pessoas bem
treinadas foram envolvidas. É desnecessário dizer que a insuficiência profissional não é
limitada a qualquer orientação psicológica em particular, mas o assunto é importante em
qualquer discussão sobre ética, legalidade, ou relações humanas.
Estes três exemplos são atribuíveis a treinamentos inadequados. A incompetência
demonstrada pode ser comparada a uma miscelânea e confusão feita na interpretação de
sonhos por alguém que leu um livro psicanalítico sobre interpretação de sonho. Parece ser
inevitável que abusos tenham acontecido, dada a avidez com que a modificação de
comportamento foi buscada e dada a rapidez com que alguns de seus procedimentos se
disseminaram. Dada a existência de determinado mercado, livros e manuais para públicos
diversos se proliferaram, e muitos destes fazem afirmações sem suporte nas evidências
presentes ou são inadequados. A falta de público com conhecimento nesta área leva a uma
extensão e a uma alteração na identificação do próprio campo, de forma que a cirurgia de
cérebro para mudar comportamento é identificado como um procedimento de modificação de
comportamento. Os neurocirurgiões claro que poderiam não identificar os próprios
procedimentos assim, mas médicos de controles punitivos e outros, freqüentemente
identificam seus procedimentos. Analistas experimentais e da análise aplicada do
comportamento têm razão de estarem preocupados: como pessoas, na possibilidade de dano
individual ou ineficácia que pode resultar; como cidadãos, com os assuntos constitucionais
envolvidos; e como profissionais; nas disciplinas nas situações que podem ser afetadas.
Considerando a constitucionalidade um assunto, nós abriremos nossa discussão com
uma análise da constituição como um guia para uma discussão de assuntos éticos e legais
levantadas pela análise do comportamento aplicada. Os argumentos que serão desenvolvidos
são que suas proteções proporcionam um guia excelente para o desenvolvimento de um
programa de aplicação efetiva da análise do comportamento para problemas de nível social e
que a violação destes direitos pode ser contra-produtivos ao paciente, aos objetivos dos
agentes institucionais cujos incentivos são terapêuticos, e para os objetivos terapêuticos da
sociedade que mantêm a relação paciente-terapeuta (programador, professor, etc.). Porém, tal
violação pode servir para outros fins que, em nossa sociedade pelo menos, não são
considerados consoantes com o contrato social assumido para sustentar a política adotada.
UM MODELO CONSTRUTIVO
Enquanto o laboratório experimental operante foi citado como a fonte principal para as
exigências processuais e conceituais das áreas clínicas e outras de intervenção social, pode ser
mais instrutivo considerar as contribuições da instrução programada. Dizendo em termos
simples, nós não podemos ver o terapeuta como uma máquina de reforço, mas como um
consultor de programa, isto é, um professor ou guia que tenta deixar as variáveis explícitas.
A Instrução Programada (p.i.) deriva, é claro, do laboratório experimental operante. Os
quatro elementos básicos de um bom programa instrucional são achados nos procedimentos
de modelação de comportamento ou de fading (desaparecimento gradual do estímulo) no
laboratório animal. Realmente, o p.i. serviu para articular procedimentos utilizados para trazer
o comportamento animal para algum nível em que fosse possível se fazer pesquisa.