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TEXTO COMPLEMENTAR:

Disciplina: Saúde Ambiental e Vigilância Sanitária


Professor: Claudia Ferreira dos Santos Ruiz Figueiredo

As superbactérias serão a próxima


pandemia?
Acordos como o da ONU e os planos nacionais de combate às bactérias super-
resistentes mostram que há consenso internacional sobre a existência do problema e
sua importância, mas a complexidade de algumas medidas e o próprio surgimento da
covid-19 estão retardando sua implementação. Apesar de o problema do uso
excessivo de antibióticos ter sido identificado, estima-se que uma em cada duas
prescrições de antibióticos é inadequada.

Os antibióticos são prescritos por médicos de todas as especialidades no mundo


inteiro. E agora as pessoas estão trabalhando mais na covid-19, sem se importar com
outros assuntos. Mas assim como temos de compatibilizar as cirurgias com o
tratamento da covid-19, temos que torná-lo compatível com um bom uso dos
antibióticos.

A quatro anos atrás, a Assembleia Geral das Nações Unidas assinou uma declaração
para coordenar os Estados-membros em face de uma grande ameaça à saúde. Até a
primeira metade do século XX, a principal causa de morte no mundo eram as infecções
por vírus e bactérias. As vacinas ajudaram os primeiros e os antibióticos reduziram
drasticamente a letalidade das últimas.
Todos os anos, cerca de 700.000 pessoas morrem de infecções causadas por
bactérias resistentes aos medicamentos disponíveis e a previsão é que esse número
cresça gradualmente nos próximos anos.

Nos hospitais, ter bactérias resistentes a muitos antibióticos antes era uma raridade e
agora é frequente.

O uso indevido desses medicamentos pela população, nos hospitais ou com os


animais, é a principal causa de que os microrganismos os tolerem melhor. Quando um
tratamento é finalizado antes da hora ou se toma um antibiótico quando não é
necessário, a bactéria sobrevive depois de ter tido contato com o fármaco e sai
reforçada para ocasiões posteriores, como se tivesse recebido um treinamento.

Outro ponto fundamental na guerra contra as bactérias é manter o armamento


atualizado. Até os anos sessenta, mais de 20 novos tipos de antibióticos foram
desenvolvidos, mas desde então a inovação neste campo diminuiu drasticamente.
Para as empresas farmacêuticas, os antibióticos são pouco rentáveis. Ao contrário dos
remédios que são sucesso de vendas, como os medicamentos contra o câncer, que
podem ser usados por longos períodos, ou as estatinas, que são prescritas durante
metade da vida, os antibióticos são usados por alguns dias e seu uso deve ser limitado
ao máximo, dificultando a recuperação do investimento.

Em um relatório de 2016, a OMS estimou que até 2050, se nenhuma medida for
tomada, as superbactérias resistentes provocarão cerca de 10 milhões de mortes,
mais do que o câncer, número que as colocaria como a primeira causa de morte global.
Ao contrário do surgimento de um novo vírus mortal, essa ameaça mundial crescerá
gradualmente e ainda há tempo para mitigar seus efeitos.
Sobre o uso desnecessário de antibióticos, em 2019, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) afirmou que a chamada resistência microbiana — que ocorre quando doenças
são resistentes aos antibióticos — poderá estar associada a 10 milhões de mortes
anuais no cenário mais dramático para 2050. Com a pandemia da COVID-19, esse
panorama poderá ser acelerado. Outros fatores, além do uso, também contribuem com
essa situação.

Mesmo sem eficácia direta para combater a COVID-19 e sem se verificar infecções
bacterianas, antibióticos ainda são amplamente usados na pandemia do novo
coronavírus (SARS-CoV2). Já havia o problema da resistência microbiana antes. Em
virtude da COVID-19, muitos antibióticos foram receitados. Em um futuro não muito
distante vamos ter um problema mais sério do que já tinhamos.

Antibióticos contra vírus?

Pode parecer estranho antibióticos serem citados como tratamento para um vírus,
mas, no caso da COVID-19, eles não impactam diretamente o coronavírus. Os
antibióticos não funcionam contra vírus, eles funcionam apenas em infecções
bacterianas. A Covid-19 é causada por um vírus, portanto os antibióticos não
funcionam.
No caso da COVID-19, os antibióticos são prescritos, em alguns casos, de forma
preventiva. Isso porque muitos pacientes podem apresentar uma eventual infecção
concomitante por alguma bactéria, ou seja, uma coinfecção. No entanto, essa segunda
doença pode passar despercebida, já que não é o foco do tratamento.

O que os especialistas defendem é que os profissionais de saúde só devem receitar


antibióticos após a confirmação de uma infecção por bactérias ou fungos, de
preferência por exame de cultura bacteriana. Em outras palavras, é o uso quando
necessário.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que um animal é a provável fonte de


transmissão do coronavírus de 2019 (COVID-19), que infectou milhares de pessoas
em todo o mundo e pressionou a economia global. As doenças transmitidas de animais
para seres humanos estão em ascensão e pioram à medida que habitats selvagens
são destruídos pela atividade humana. Cientistas sugerem que habitats degradados
podem incitar e diversificar doenças, já que os patógenos se espalham facilmente para
rebanhos e seres humanos.

Segundo a OMS, os morcegos são os mais prováveis transmissores do COVID-19.


Porém, também é possível que o vírus tenha sido transmitido aos seres humanos a
partir de outro hospedeiro intermediário, seja um animal doméstico ou selvagem. Os
coronavírus são zoonóticos, o que significa que são transmitidos de animais para
pessoas. Mas, devido à falta de imunidade das pessoas ao vírus, a covid-19 já infectou
milhões de pessoas em todo o mundo.

O relatório “Fronteiras 2016 sobre questões emergentes de preocupação ambiental”


do PNUMA mostra que as zoonoses ameaçam o desenvolvimento econômico, o bem-
estar animal e humano e a integridade do ecossistema. Nos últimos anos, várias
doenças zoonóticas emergentes foram manchete no mundo por causarem ou
ameaçarem causar grandes pandemias, como ebola, gripe aviária, febre do Vale do
Rift, febre do Nilo Ocidental e zika vírus.

Para impedir o surgimento de zoonoses, é fundamental endereçar as múltiplas


ameaças aos ecossistemas e à vida selvagem, entre elas, a redução e fragmentação
de habitats, o comércio ilegal, a poluição, a proliferação de espécies invasoras e, cada
vez mais, as mudanças climáticas.

Independentemente da doença, o uso de medicamentos de forma inadequada pode


selecionar e melhorar geneticamente um agente infeccioso, a partir de suas mutações.
Esse processo pode, por exemplo, "criar" superbactérias, quando elas se tornam mais
fortes e resistentes aos medicamentos comuns, como alguns antibióticos. É nesse
cenário que pesquisadores alertam sobre o uso desenfreado de antibióticos no
tratamento da COVID-19, quando prescritos sem necessidade.

Preocupada com os possíveis cenários, a OMS publicou, em maio de 2020, um guia


para tratamento da COVID-19, em que recomendava não utilização dos antibióticos no
tratamento em casos suspeitos ou leves de infecção por coronavírus. Em casos
moderados, a organização oriente que o uso só deve ser feito após indícios de uma
infecção bacteriana.
O uso generalizado de antibióticos deve ser desencorajado, uma vez que sua
aplicação pode levar a taxas maiores de resistência bacteriana, o que vai impactar o
volume de doenças e mortes durante a pandemia de COVID-19 e além", afirma o
documento da OMS.

Fonte: Disponível em: < http://www.ufjf.br/zoologiaitinerante/2020/04/08/zoonoses-e-coronavirus/ >


Acessado em 20/11/2020
Fonte: Disponível em: < https://www.portaldaenfermagem.com.br/noticias-read?id=8985 > Acessado
em 20/11/2020

Fonte: Disponível em: < https://canaltech.com.br/saude/uso-inadequado-de-antibioticos-contra-a-


covid-pode-contribuir-com-superbacterias-173252/ > Acessado em 20/11/2020

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