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Resumo
1 Introdução
1
Assistente social e mestre em Políticas Sociais pela Universidade de Brasília. Especialista em Pneumologia Sanitária
pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz.
2
O’Neill J., The Review on Antimicrobial Resistance. “Tackling a crisis for the health and wealth of nations”. Londres,
Reino Unido, 2014.
3
A denominação “antibiótico” refere-se a substâncias produzidas por fungos e bactérias que são capazes de comba-
ter microrganismos infecciosos no organismo. A penicilina, por exemplo, é um antibiótico sintetizado pelos fungos
do gênero Penicillium, com função bactericida. Atualmente, as substâncias que inibem microrganismos produzidas
pela indústria farmacêutica são, em sua maioria, quimioterápicos fabricados artificialmente. A denominação “an-
timicrobianos” engloba tanto os antibióticos quanto os quimioterápicos.
4
O’Neill J., “The Review on Antimicrobial Resistance. Tackling Drug-Resistant Infections Globally: Final Report
and Recommendations”. Reino Unido, 2016.
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5
World Health Organization. “Antimicrobial resistance: global report on surveillance”. 2014.
6
O Plano de Ação Global de AMR da OMS cobre a resistência aos antibióticos de forma mais ampla e refere-se,
quando apropriado, a planos de ação para doenças virais, parasitárias e bacterianas, incluindo HIV/aids, malária e
tuberculose.
7
Brasil. Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde – Departamento de Vigilância, Prevenção e
Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico
– Aids e IST 2017.
8
O’Neill J., 2016, op. cit.
9
A morbidade refere-se à aquisição de doenças por uma população. A mortalidade refere-se apenas aos casos em
que a enfermidade leva ao óbito.
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Para atingir esse objetivo, o plano de ação global estabelece cinco ob-
jetivos estratégicos: (1) melhorar a conscientização e compreensão da
resistência antimicrobiana; (2) fortalecer o conhecimento por meio da
vigilância e da pesquisa; (3) reduzir a incidência de infecções; (4) oti-
mizar o uso de agentes antimicrobianos; e (5) assegurar investimentos
sustentáveis na luta contra a resistência antimicrobiana. Estes objetivos
10
Disponível em: <http://www.un.org/sustainabledevelopment/sustainable-development-goals/>, tradução própria.
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11
Disponível em: <http://www.wpro.who.int/entity/drug_resistance/resources/global_action_plan_eng.pdf>, tradu-
ção própria.
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2 Abordagem multilateral
12
World Health Organization. Global Action Plan on Antimicrobial Resistance. 2015.
13
Alexander Fleming; The Discovery of Penicillin. British Medical Bulletin, Volume 2, Issue 1, 1 January 1944, pp.
4-5. Disponível em: <https://doi.org/10.1093/oxfordjournals.bmb.a071032>.
14
World Health Organization, 2015. Worldwide country situation analysis: response to antimicrobial resistance.
15
World Health Day 2011: Policy briefs. Disponível em: <http://www.who.int/world-health-day/2011/policybriefs/
en/>.
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16
Documento disponível em: <http://www.who.int/antimicrobial-resistance/publications/amr_stag_meetingre-
port0913.pdf?ua=1>.
17
World Health Organization, 2014, Antimicrobial resistance: global report on surveillance 2014.
18
Alanis AJ. Resistance to antibiotics: are we in the post-antibiotic era?, Arch Med Res, 2005, vol. 36, pp. 697-705.
19
World Health Organization, 2014, Antimicrobial resistance: global report on surveillance 2014.
20
World Health Organization, 2014. World Health Assembly Resolution WHA67.25
21
Zoonoses são doenças infecciosas de animais passíveis de transmissão a seres humanos.
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dos respectivos planos de ação nacionais até maio de 2017. Seu principal objetivo foi
assegurar a continuidade da resposta no tratamento e prevenção de doenças infeccio-
sas por meio de medicamentos efetivos e seguros de forma acessível, responsável e que
priorize a abordagem de Saúde Única.
Os objetivos estratégicos do “Plano de Ação Global” visavam ampliar o estado
de atenção e promover mais conhecimento sobre a AMR, fortalecer a vigilância epi-
demiológica, reduzir a incidência de infecções, otimizar o uso de medicamentos an-
timicrobianos na saúde humana e animal e garantir investimento sustentável para sua
implementação. Para isso, deveriam ser promovidos o engajamento da sociedade civil
e o enfoque às estratégias de prevenção e acesso a medicamentos. Na ocasião, o Brasil
apoiou a adoção de metas graduais de implementação dos planos nacionais e a priori-
zação das ações de acesso a medicamentos como estratégia fundamental para assegurar
uma abordagem integral e efetiva do problema.
Há diversas iniciativas voltadas ao enfrentamento da AMR no plano multilateral.
Uma dessas iniciativas da qual o Brasil é membro é a “Aliança dos Campeões con-
tra a AMR22”. Instituída em 2015, às margens da AMS, por proposta do governo da
Suécia, essa coalizão teve o objetivo de engajar os governos e elevar o tratamento po-
lítico dado ao tema. O grupo propôs a realização da reunião de alto nível às margens
da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), o que acabou se concretizando em
2016. Apesar da heterogeneidade dos países do grupo, que reúne países de diferentes
graus de desenvolvimento e com diferentes abordagens sobre a saúde pública e sobre
a AMR, o Brasil apoiou a iniciativa, em reconhecimento à necessidade de promover
maior comprometimento político global no tema.
Em 2016, publicou-se o relatório final produzido pelo economista britânico Jim
O’Neill sobre AMR. O documento chamou atenção para o problema global da AMR,
propôs ações específicas para lidar com ele e levantou questões sobre a sensibilização
pública em nível global, a busca de esforços conjuntos e o financiamento internacional
sobre o tema. O relatório também apresentou temas de maior sensibilidade, sobretudo
para os países em desenvolvimento, como a oferta de novos medicamentos em substi-
tuição às drogas resistentes, a redução no uso extensivo de antimicrobianos na agricul-
tura e a criação de fundo de inovação global em investimentos. Trata-se de temáticas
com impactos potencialmente grandes para países em desenvolvimento porque, com
relação ao desenvolvimento e à oferta de novos medicamentos, há uma preocupação
natural com seu preço. A desvinculação dos custos de pesquisa e desenvolvimento em
relação ao preço e ao volume das vendas é, por essa razão, fundamental para facilitar o
acesso equitativo e a preços razoáveis a novos medicamentos, vacinas e diagnósticos.
22
O grupo é composto por África do Sul, Alemanha, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos,
Finlândia, Japão, México, Noruega, Países Baixos, Paquistão, Reino Unido, Suécia, Tailândia e Zâmbia.
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Sobre esse tema, ver o capítulo “A atuação internacional do Ministério da Saúde no tema de acesso a medicamen-
tos”, de Roberta Vargas de Moraes.
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Codex Alimentarius, que avaliam os eventuais efeitos nocivos do uso dessas substân-
cias como promotores de crescimento em animais.
Desde 2016, a União Europeia baniu o uso de antimicrobianos como promotores
de crescimento na agropecuária. A União Europeia é o maior importador de alimentos
do mundo, embora parte significativa dos alimentos importados por seus membros
venha de outros países europeus. Por essa razão, a eventual restrição europeia às im-
portações provenientes de mercados externos que continuam usando aditivos dessa
natureza poderá representar favorecimento a produtores europeus. Os limites entre as
alegadas razões de saúde e a proteção de interesses comerciais são, portanto, tênues. Sua
definição precisa ainda carece de evidências científicas robustas.
No contexto dessa nova abordagem pelos países europeus, uma série de projetos
de pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos tem sido implementada, em coor-
denação com a indústria farmacêutica europeia. O bloco, que conta com ações sobre
resistência antimicrobiana desde 2011, está na segunda fase de seu plano de combate
à AMR, que compreende os anos de 2017 a 2022. A estratégia europeia envolve temas
como meio ambiente, agricultura, pesquisa e desenvolvimento e cooperação global,
incluindo uma agenda específica para os países em desenvolvimento, especialmente na
América Latina.
Com o objetivo de reafirmar a importância política do tema e como resultado da
mobilização dos países membros da “Aliança dos Campeões contra a AMR”, realizou-se
em 2016, às margens da 71ª AGNU, a Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre
Resistência Antimicrobiana. O evento, organizado pelo Reino Unido e copatrocinado
por África do Sul, Argentina, Austrália e Quênia, pretendeu engajar governos, indús-
tria, academia e sociedade civil no enfrentamento da AMR, reforçando a importância
da abordagem de Saúde Única e apontando para a necessidade de garantir acesso e
desenvolvimento a novos antimicrobianos. Na ocasião, os diretores-gerais da OMS e da
FAO compartilharam posicionamento contrário ao uso de promotores de crescimento
pelo setor agropecuário. Apesar da ênfase em boa parte das intervenções realizadas no
evento, não foram incluídas referências diretas sobre a redução do uso de aditivos dessa
natureza na declaração política adotada na ocasião24.
A AISA acompanhou e participou, em parceria com a área técnica responsável
no Ministério da Saúde e em coordenação com o Ministério das Relações Exteriores
(MRE), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), da elaboração das instruções que ba-
lizaram o posicionamento brasileiro na negociação dessa declaração. Ao recordar a de-
fesa tradicional do acesso a medicamentos como política de Estado adotada no âmbito
24
United Nations, 2016. Political Declaration of the high-level meeting of the General Assembly on antimicrobial
resistance. New York, USA.
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Em parte significativa dos países em desenvolvimento, o principal desafio ainda é a falta de acesso a medicamentos
e a serviços de saúde de qualidade. Por essa razão, medidas excessivamente restritivas em matéria de produção,
distribuição e venda, sem contrapartidas de acesso, poderiam agravar essa situação.
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lização dos Planos Nacionais de AMR também foi objeto da discussão, reforçando-se o
compromisso dos países em finalizar sua elaboração.
Considerando o tímido engajamento dos países na organização das estratégias de
enfrentamento à AMR, ao final de 2016, OMS, FAO e OIE publicaram um guia para
apoiar a elaboração dos planos nacionais de AMR26. Criado para viabilizar e encorajar
a participação de diferentes setores, o manual pautou-se na abordagem de Saúde Única
e, alinhado ao Plano de Ação Global, reiterou que as especificidades locais fossem con-
sideradas, além da destacar a importância de otimizar os recursos e atividades já exis-
tentes para o controle da AMR.
Até dezembro de 2017, 55 dos 194 Estados membros da OMS haviam finali-
zado seus planos nacionais de prevenção à AMR27. Na região das Américas, apenas
Argentina, Barbados, Canadá, Peru e Estados Unidos haviam apresentado seus planos
até essa data. Embora tenha finalizado o Plano Nacional de Prevenção e Controle da
Resistência aos Antimicrobianos (PAN-BR), o Brasil ainda aguarda a conclusão de trâ-
mites administrativos pelos ministérios envolvidos para sua submissão formal à OMS.
Apesar disso, algumas ações definidas pelo PAN-BR já estão em andamento e serão
detalhadas na segunda parte deste artigo.
Além de prover apoio técnico para a elaboração dos Planos Nacionais de en-
frentamento à AMR, a OMS também apoia diferentes iniciativas de combate à resis-
tência aos antimicrobianos no âmbito da organização. Algumas iniciativas existen-
tes nessa matéria são: o Sistema Global de Vigilância de Resistência Antimicrobiana
(GLASS)28, o Programa Global de Vigilância Antimicrobiana Gonocócica (GASP)29,
a Parceria Global de Pesquisa e Desenvolvimento de Antibióticos (GARDP)30, a Rede
26
WHO, OIE, FAO, 2016. “Antimicrobial resistance: A manual for developing national action plans”.
27
Disponível em: <http://www.who.int/drugresistance/action-plans/library/en/>.
28
Criado com objetivo de apoiar o Plano Global de AMR, o sistema visa realizar a coleta, a análise e o comparti-
lhamento padronizado dos dados sobre AMR, para contribuir nas tomadas de decisão. Em vigência entre 2015 a
2019, o GLASS reforça a importância da produção de evidências científicas robustas para impulsionar ações nos
níveis local, regional e global. A ferramenta também coleta, organiza e divulga dados clínicos, epidemiológicos e
laboratoriais sobre os agentes patogênicos que representam as maiores ameaças à saúde global. O Brasil aderiu ao
sistema em dezembro de 2017 e deverá reportar as primeiras informações do projeto-piloto, operacionalizado no
Paraná, em novembro de 2018.
29
O programa monitora as tendências da gonorreia resistente aos medicamentos. A resistência aos antimicrobianos
tornou a gonorreia, que é uma infecção transmitida sexualmente comum, muito mais difícil e, às vezes, impossível
de tratar. Os dados do programa apresentaram, de 2009 a 2014, evidências de resistência generalizada a quase todos
os fármacos existentes na maioria dos países. Na reunião de dezembro de 2017, o Brasil apresentou a experiência
do Projeto SenGono de testagem da resistência da gonorreia no Brasil, que também poderá servir de referência aos
demais países da América Latina e do Caribe.
30
Incubada pela “Iniciativa em Medicamentos para Doenças Negligenciadas” (DNDi) e apoiada pela OMS para in-
centivar a pesquisa e o desenvolvimento de novos antimicrobianos através de parcerias público-privadas. Visa a
desenvolver, até 2023, novos tratamentos e antimicrobianos e, ainda, aprimorar o uso de drogas já existentes. O
Brasil apoia a parceria com a GARDP e participa da fase clínica do estudo global de teste da nova droga para com-
bater o gonococo, bactéria causadora da gonorreia.
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Criada em 1996, com o apoio da OPAS, a rede busca obter dados microbiológicos confiáveis, oportunos e que
possam ser replicados para fortalecer a vigilância da AMR. Em sua fase inicial, a ReLAVRA centrou-se na vigi-
lância da resistência dos agentes patogênicos adquiridos na comunidade. A partir do ano 2000, passou a focar nos
patógenos resistentes. O Brasil envia anualmente os relatórios, utilizando as informações da base do Sistema de
Gerenciamento de Ambiente Laboratorial (GAL).
32
ONG fundada em 2000, atua para garantir tratamento e diagnóstico adequados para tuberculose, com foco nas
populações mais vulneráveis. Presente em cerca de cem países e composta por mais de 1.500 instituições, inclui
a participação de organizações internacionais especializadas, representantes da sociedade civil, fundações e setor
privado.
33
O Grupo dos 20 (G20) é constituído por representantes das dezenove maiores economias do mundo mais a União
Europeia. O fórum foi criado em 1999 como espaço para discussões econômicas e financeiras internacionais. No
contexto da crise econômica mundial iniciada em 2008, o G20 foi alçado à condição de principal foro global para
discussão de questões econômico-financeiras. Recentemente, outras áreas têm sido incorporadas às discussões no
âmbito do G20. Em 2017, durante a presidência alemã, foi realizada a primeira Reunião de Ministros da Saúde do
G20.
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mento do Plano Global de AMR como guia de ação, posição que se viu refletida no
documento final.
Além do Ministério da Saúde, outros atores governamentais também estão en-
volvidos no enfrentamento à AMR no Brasil e atuam de forma protagonista na temá-
tica, como a Anvisa, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o MAPA e o Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Na próxima seção, serão
identificados os papéis de algumas dessas instituições na resposta brasileira à AMR.
34
Portaria nº 2.616/MS/GM, de 12 de maio de 1998, Ministério da Saúde.
35
Anvisa, Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n.º 20, de 5 de maio de 2011.
36
Decreto-lei nº 467/1969.
37
MAPA, Portaria SDA nº 17/2013.
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38
MaPA, Instrução Normativa nº 30/2014.
39
Portaria 2.775/2016. Ministério da Saúde.
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40
Portaria 33/2017. Ministério da Saúde.
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Para isso, a Agência elaborou um plano de ação específico, que conta com ações da vi-
gilância sanitária para prevenção e combate à AMR. Compreendido entre 2017 a 2021,
o Plano de Ação da Vigilância Sanitária está contido no PAN-BR e foi construído pela
Comissão de Vigilância Sanitária em Resistência de Antimicrobiana, que reúne vinte
áreas distintas da Anvisa. Entre os objetivos expressos no Plano da Vigilância Sanitária
em AMR, destaca-se o aprimoramento da intervenção sanitária para qualificar a pres-
crição de antimicrobianos e reduzir seu uso sem prescrição. Outra meta é a qualificação
da rede nacional de laboratórios para vigilância e monitoramento da AMR, coordenada
com o Ministério da Saúde, os estados e os municípios e contribuirá para ampliar a
informação acerca das infecções por patógenos resistentes.
Além das ações na área de saúde animal contempladas no PAN-BR, o MAPA
também organizou um plano específico sobre AMR na agropecuária, cujos objetivos
são fortalecer o conhecimento e a base científica, monitorar o uso de antimicrobianos
por meio de vigilância integrada de AMR e promover práticas agropecuárias susten-
táveis. O plano está em fase de validação e pauta-se pela atuação de forma integrada,
proporcional, factível e sustentável. Algumas ações desenvolvidas já estão adequa-
das ao contexto de Saúde Única, a exemplo do “Programa Nacional de Prevenção da
Resistência aos Antimicrobianos em Animais”, projeto estratégico do Plano de Defesa
Agropecuária no biênio 2016-2017.
O posicionamento do MAPA sobre temas relativos à AMR é cauteloso em relação
a recomendações que não estejam fundamentadas em base científica sólida, como, por
exemplo, o banimento generalizado dos aditivos melhoradores do desempenho na pro-
dução agropecuária. O banimento indiscriminado, segundo os especialistas do setor,
poderia aumentar o uso de antimicrobianos terapêuticos em animais e gerar riscos de
inocuidade alimentar por aumento da contaminação de carcaças. Para a pasta, também
há desconhecimento sobre seu impacto na produtividade e na saúde pública. Ademais,
as ações propostas pelo MAPA objetivam, ainda, maior enfoque aos antimicrobianos
criticamente importantes para a OMS.
Apesar de contemplar essas diferentes perspectivas, inerentes ao modelo de abor-
dagem de Saúde Única, o PAN-BR busca equilibrar o posicionamento dos diferentes
setores envolvidos para a construção de um posicionamento nacional único acordado
em relação a essa matéria. Para a definição de posições do Brasil em foros internacio-
nais que tratam da AMR, a AISA mantém estreito contato e coordenação com as insti-
tuições supramencionadas, com vistas a defender um posicionamento governamental
coeso com os interesses nacionais e respaldado nas práticas e nas experiências domés-
ticas. Essa práxis fortalece o posicionamento do Brasil como ator engajado em matéria
de AMR no plano global.
O Brasil esteve ativamente envolvido desde o princípio das discussões da OMS
que levaram à aprovação do Plano de Ação Global, atuou em conjunto com os países
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do G77 para assegurar a aprovação de uma declaração de alto nível que contemplasse os
interesses e as necessidades dos países em desenvolvimento no âmbito da Assembleia
Geral da ONU, em 2016, e segue coordenando posições sobre a matéria com os demais
BRICS no âmbito do G20. Ao promover a abordagem de Saúde Única como balizadora
do posicionamento do Brasil sobre essa matéria no âmbito internacional, a AISA baseia
essas ações em princípios coerentes com a atuação tradicional do Brasil em matéria
de saúde nos foros multilaterais. Consequentemente, a projeção internacional do país
como ator importante para discussão dessa matéria é fortalecida. Para o benefício do
posicionamento histórico da política externa brasileira, o multilateralismo é, dessa ma-
neira, reconhecido como espaço apropriado para a discussão e a adoção de decisões
que impactam as realidades de todos os países, atentando-se, de maneira especial, aos
interesses e às necessidades dos países em desenvolvimento, em prol da saúde das po-
pulações mais vulneráveis.
Os principais desafios impostos ao PAN-BR residem na instituição das estratégias
de prevenção e controle da AMR como política de Estado e na garantia de financiamen-
to para sua implementação. A execução descentralizada do plano também é um desafio
importante, sobretudo pelos papéis desempenhados pelos estados e municípios bra-
sileiros na tarefa. Cabe a todas as instituições governamentais envolvidas na temática
promover a conscientização de todos – indivíduos, profissionais da saúde, agricultores,
empresários e gestores públicos – para que o problema seja adequadamente enfrentado.
Como consequência desse êxito doméstico, o papel desempenhado pelo Brasil sobre
essa matéria no plano internacional será fortalecido.
4 Considerações finais
A introdução da última classe de novo antibiótico foi registrada há quase três dé-
cadas41. Apesar das inúmeras iniciativas recentes para o enfrentamento à AMR, ainda
falta mensurar a magnitude e o impacto das infecções causadas pelos patógenos resis-
tentes na saúde humana e na saúde animal.
Como demonstrado pela evolução de tratativas e abordagens sobre AMR nos fo-
ros internacionais, o conflito e a concorrência de interesses pode representar, por vezes,
obstáculo à sedimentação de uma perspectiva definitiva dessa agenda no plano global.
A abordagem proposta para o enfrentamento da AMR, marcada pelo caráter multisse-
torial, acrescenta desafios à busca de consensos.
De um lado, a indústria farmacêutica justifica a lacuna em inovação pelos baixos
incentivos ao desenvolvimento de medicamentos e métodos diagnósticos inovadores;
41
Disponível em: <https://www.gov.uk/government/publicaKons/health-matters-antimicrobial-resistance/health-
-matters-antimicrobial-resistance_>. Acesso em: 27 jun. 2018.
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de outro, as populações mais vulneráveis e com acesso limitado aos sistemas de saúde
padecem por agravos decorrentes do baixo investimento e do reduzido interesse co-
mercial, em razão do preço elevado para desenvolvimento de novas drogas; por seu
turno, governos de países em desenvolvimento carecem de mecanismos financeiros e
tecnológicos que encurtem as distâncias entre ofertantes e demandantes desses insu-
mos de saúde.
Para o Brasil, o equilíbrio entre a eficácia dos antimicrobianos e a expansão do
acesso a medicamentos, vacinas e métodos de diagnóstico é parte fundamental da pro-
moção do acesso universal à saúde. Por essa razão, o país defende que, de modo a
garantir a disponibilidade de acesso aos antimicrobianos, não pode haver retrocessos
em matéria de propriedade intelectual, logro histórico dos países em desenvolvimento
no âmbito dos foros multilaterais apropriados. Para o Brasil, o uso de medicamentos
genéricos, o licenciamento voluntário e o recurso a flexibilidades de propriedade in-
telectual previstas no Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual
Relacionados ao Comércio (TRIPS) são fatores que contribuem para promover o aces-
so à saúde e devem ser preservados nos mecanismos eventualmente estabelecidos para
enfrentar a AMR. Sem negar o devido reconhecimento dos direitos de propriedade
intelectual e a valorização da inovação, da pesquisa e do desenvolvimento em matéria
de saúde pública, o que o Brasil defende é que se deve promover a desvinculação entre
os valores investidos em pesquisa e os preços finais do produto, como medida para
evitar que novos insumos e tecnologias tenham preços exorbitantes que dificultem ou
impeçam o acesso a elas pelas populações mais vulneráveis.
Considerando a multiplicidade de iniciativas de países, foros e organizações no
combate a AMR, o protagonismo da OMS na discussão é uma posição defendida pelo
Brasil, para que haja mais equilíbrio entre os interesses e as necessidades dos países em
diferentes níveis de desenvolvimento.
A esse cenário somam-se os desafios de construção e implementação de planos
nacionais de enfrentamentos à AMR de maneira coordenada e objetiva. Compete aos
países promover o aprimoramento da vigilância da resistência antibacteriana, a cola-
boração entre redes e centros de pesquisa nessa matéria e a integração entre a saúde
humana e a animal.
Nesse contexto, a atuação da Assessoria de Assuntos Internacionais de Saúde tem
sido instrumental para os avanços alcançados pelo país sobre essa matéria no plano
internacional e na construção de consenso interno a respeito dos aspectos técnicos e
políticos relacionados a essa temática sensível. Em âmbito nacional, a participação da
AISA na elaboração do PAN-BR e no apoio às áreas técnicas afetas tem possibilitado
visão mais ampliada sobre a discussão da AMR na agenda de saúde global, permitin-
do a construção de um posicionamento único de país que conta com respaldo inter-
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