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ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA EM CASOS DE HIV/AIDS

Orientador: Ramon Cardozo. Prof. Me. da Universidade Vale do Cricaré.


Cardozoramon08@gmail.com
Andressa Marinho Santos Silva. Bacharelando em Farmácia. Universidade Vale do Cricaré.
Andressa.silva@ivceduc.inmicrosoft.com
Mariana Vilella Lima Gonçalves Soares. Bacharelando em Farmácia. Universidade Vale do
Cricaré. Maiana.vilella@ivceduc.inmicrosoft.com
Mariely Barbosa Nogueira Souto. Bacharelando em Farmácia. Universidade Vale do Cricaré.
Mariely.souto@ivceduc.inmicrosoft.com
Paloma Aguiar Verly. Bacharelando em Farmácia. Universidade Vale do Cricaré.
Paloma.verly@ivceduc.inmicrosoft.com
Rodrigo Denis Ferreira de Freitas. Bacharelando em Farmácia. Universidade Vale do Cricaré.
rodrigoddenes@icloud.com
Samuel Rodrigues Viana. Bacharelando em Farmácia. Universidade Vale do Cricaré.
samuel.viana@ivceduc.onmicrosoft.com
Walan Jhones Godio. Bacharelando em Farmácia. Universidade Vale do Cricaré.
Walan.godio@ivceduc.inmicrosoft.com

Resumo: O HIV é o agente causador da Síndrome da Imunodeficiência


Adquirida (AIDS), o controle da doença é possível devido o tratamento com a
Terapia Antirretroviral - TARV, que impossibilita a replicação viral e auxilia na
reconstituição do sistema imunológico, devendo ser efetivado precocemente e
não interrompido em nenhum momento do tratamento. A adesão do paciente
ao tratamento por períodos prolongados é um desafio para a efetividade
terapêutica disponível contra a AIDS. Desta forma é de extrema importância
que haja Atenção Farmacêutica que, segundo a Organização Mundial da
Saúde, conceitua-se como a prática profissional na qual o paciente é o principal
beneficiário das ações do farmacêutico. O objetivo da atuação do farmacêutico
é de alcançar resultados terapêuticos eficientes e seguros, privilegiando a
saúde e a qualidade de vida do paciente, com a finalidade de aumentar a
efetividade do tratamento medicamentoso. Os farmacêuticos são fonte valiosa
de informação sobre a adesão. Eles podem fornecer informação educativa aos
usuários sobre seus medicamentos, como também informar a equipe de
assistência à saúde sobre falhas na reposição ou problemas no consumo do
medicamento, além de promover a relação do usuário com a sua condição e
tratamento e o cuidado quando da presença de outras doenças, como diabetes
e hipertensão, mediante acompanhamento farmacoterapêutico adequado ao
seu tratamento e a uma boa resposta imunológica.

Palavras-chave: Assistência farmacêutica. Terapia antirretroviral. DST e Aids.

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Abstract: HIV is the causative agent of Acquired Immune Deficiency Syndrome
(AIDS), control of the disease is possible due to treatment with Antiretroviral
Therapy - ART, which makes viral replication impossible and helps in the
reconstitution of the immune system, and must be carried out early and not
interrupted at any point during treatment. Patient adherence to treatment for
prolonged periods is a challenge to the therapeutic effectiveness available
against AIDS. Therefore, it is extremely important that there is Pharmaceutical
Care which, according to the World Health Organization, is conceptualized as
the professional practice in which the patient is the main beneficiary of the
pharmacist's actions. The objective of the pharmacist's work is to achieve
efficient and safe therapeutic results, prioritizing the patient's health and quality
of life, with the aim of increasing the effectiveness of drug treatment.
Pharmacists are a valuable source of information about adherence. They can
provide educational information to users about their medications, as well as
inform the health care team about failures in refilling or problems with
medication consumption, in addition to promoting the user's relationship with
their condition and treatment and care when in the presence of of other
diseases, such as diabetes and hypertension, through pharmacotherapeutic
monitoring appropriate to their treatment and a good immunological response.

Keywords: Pharmaceutical care. Antiretroviral therapy. STD and AIDS.

1 INTRODUÇÃO

A emergência da AIDS e a persistente disseminação do HIV


permanecem como um dos principais desafios globais do século XXI, a
abordagem atual e as perspectivas futuras desse enfrentamento terão uma
importância fundamental na discussão global sobre saúde pública, ética e
direitos humanos. Os primeiros relatos da AIDS foram publicados em 1981, nos
Estados Unidos. Esse fato se deu a notificação de vários casos de pneumonia
por Pneumocystis carinii e de sarcoma de Kaposi, mas só em 1983 o HIV foi
realmente identificado. Desde sua descoberta nas décadas de 1980 e 1990, o
HIV/AIDS tem gerado preocupação global, exigindo ações concertadas em
áreas que abrangem desde a pesquisa médica até questões de saúde pública,
direitos humanos e estigmatização social.
A transmissão do HIV acontece durante as relações sexuais (vaginal,
anal ou oral) desprotegidas com um indivíduo soropositivo, pelo
compartilhamento de objetos perfuro cortantes contaminados, transfusão
sanguínea, de mãe para filho na gestação, parto ou amamentação. Dessa

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forma a medida mais eficaz e segura na prevenção do HIV ainda é o uso do
preservativo, mas atualmente já está disponível uma medida profilática no
combate a infecção. Recomenda-se às pessoas diagnosticadas com o vírus
HIV o início imediato do tratamento Antirretroviral, independente do estado
clínico ou imunológico, o início precoce desse tratamento ajuda a reduzir
índices de morbimortalidade, bem como diminuição da transmissão da infecção
e possibilita ações terapêuticas.
Devido à importância de seu controle, o HIV encontra-se entre uma das
prioridades em pesquisa da Organização Mundial da Saúde (ONU, 2019).
Somando-se a isto, o Ministério da Saúde (MS) publicou no final de 2018 a
Agenda de Prioridades em Pesquisa do MS (APPMS), destacando em seu eixo
nº 6 temas relativos ao HIV e seu tratamento, dentre elas: Avaliação de
métodos diagnósticos e estratégias para adesão ao Tratamento Antirretroviral
(TARV) e Análise dos fatores que interferem na adesão à Terapia
Antirretroviral.
O tratamento com antirretrovirais é fundamental para controlar a
replicação do vírus HIV e proporcionar resultados satisfatórios que são
esperados através da assistência farmacêutica. Considerada uma
ferramenta do profissional farmacêutico, a assistência farmacêutica (AF)
dispõe sobre atitudes, comportamentos, valores éticos, compromissos e
responsabilidade na prevenção, promoção, e reabilitação da saúde, na
integralidade com a equipe de saúde, objetivando o uso racional do
medicamento pelo paciente. Atualmente essa ferramenta farmacêutica
envolve fatores como: farmacoterapia correta, dispensação de qualidade,
intervenção farmacêutica em casos de reações adversas, acompanhamento e
o Uso Racional de Medicamentos (URM), auxiliando no tratamento com os
antirretrovirais.
O profissional farmacêutico desempenha um papel educativo
fundamental para explicar a importância da adesão e fornecer orientações
sobre como tomar os medicamentos específicos. Ele também podem ajudar a
resolver problemas de adesão, como efeitos colaterais, interações
medicamentosas e barreiras psicossociais, além disso, a assistência
farmacêutica contribui para o monitoramento regular da carga viral e da
contagem de células CD4 dos pacientes. Essas características são essenciais

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para avaliar a eficácia do tratamento e fazer ajustes quando necessário,
desempenhando um papel fundamental na interpretação desses resultados e
na comunicação com a equipe médica para garantir a melhor gestão do
tratamento.

O uso correto e racional dos medicamentos é de suma importância e


isso influencia diretamente na expectativa de vida do paciente trazendo
benefícios sociais e econômicos e eliminando patologias. Justamente o uso
racional dos medicamentos antirretrovirais (ARVs) eficazes, transformaram o
HIV de uma sentença de morte em uma condição crônica gerenciável. Quando
essa prática é falha, ela ocasiona aumento nos gastos da saúde pública,
resultando em problemas relacionados a medicamentos. Dessa forma o
objetivo do trabalho proposto é trazer conhecimento sobre essa epidemia e
abordar os serviços farmacêuticos prestados ao dispensar e atender pacientes
portadores de HIV/AIDS, e apresentar a importância da conduta farmacêutica.

2 MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma pesquisa exploratória baseada em


publicações e legislações através da plataforma Google Acadêmico. Para
realização da pesquisa bibliográfica foram utilizadas como descritores os
seguintes termos: HIV; Aids; medicamentos para HIV; assistência farmacêutica
no tratamento de HIV; legislação para tratamento de HIV.
Para inclusão na redação do trabalho foi considerada total relação entre
o tratamento por terapia medicamentosa e o papel do farmacêutico na
assistência aos pacientes no cenário nacional.

3 O VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV)

HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador


da AIDS, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo
de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. E é alterando
o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo. Depois de se

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multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção
(BRASIL, 2022).
Ter o HIV não é a mesma coisa que ter AIDS. Há muitos soropositivos
que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença.
Mas podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais
desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe
para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não tomam as devidas
medidas de prevenção. Por isso, é sempre importante fazer o teste e se
proteger em todas as situações (BRASIL, 2022).

3.1 BIOLOGIA DO VÍRUS

Os vírus da imunodeficiência humana (HIV-1 e HIV-2) são retrovírus


pertencentes à família dos lentivírus. Essa família inclui vírus capazes de
provocar infecções persistentes, com evolução lenta. Por isso, produzem
degeneração progressiva do sistema imune (BRASIL,2014).
De suas formas conhecidas, o HIV-1 é a forma responsável pela AIDS
humana, já o HIV-2 é um microorganismo similar ao vírus HIV-1 em causa de
imunossupressão, porém, menos virulento. O HIV-1 está distribuído por todo o
mundo, enquanto o HIV-2 está confinado a algumas partes da África (RANG et
al, 2016).
Figura 1 - Representação esquemática da classificação do HIV.

Fonte: BRASIL. Manual Técnico para o Diagnóstico da Infecção pelo HIV. Ministério
da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites
Virais. Brasília, 2013.

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O vírus apresenta algumas características próprias. Dentre elas, a
existência de uma camada mais externa, o envelope, que contém lipídeos e
proteínas. As proteínas virais encontradas no envelope são as glicoproteínas
120 (gp120) e 41 (gp41). A gp120 é a mais externa, responsável pela ligação
do vírus com as células hospedeiras. Ela está ligada à gp41, que atravessa o
envelope viral (BRASIL, 2014).

Figura 2 - Representação esquemática da estrutura do HIV-1.

Fonte: BRASIL. Manual Técnico para o Diagnóstico da Infecção pelo HIV. Ministério
da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites
Virais. Brasília, 2013.

Na parte interna do envelope viral, existe uma estrutura proteica


constituída pela proteína 17 (p17). A estrutura seguinte é o cerne ou capsídeo
viral, constituído pela proteína p24, que envolve duas fitas de RNA (genoma
viral) e as enzimas transcriptase reversa, integrase2 e protease3. As proteínas
e glicoproteínas virais são identificadas por números que correspondem ao seu
peso molecular em quilodaltons. Por exemplo, a gp120 tem 120 quilodaltons, a
p17 tem 17 quilodaltons. Essas proteínas (ou os anticorpos4 contra elas) são
detectadas em testes laboratoriais (BRASIL, 2014).

Figura 3 – Tabela das principais proteínas do HIV com importância diagnóstica.

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Fonte: BRASIL. Manual Técnico para o Diagnóstico da Infecção pelo HIV. Ministério da
Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.
Brasília, 2013.

3.2 ETAPAS DA INFECÇÃO PELO HIV

A infecção inicial ocorre nas células T CD4 +. A partícula viral aproxima-


se das células e as gp120 do vírus ligam-se nos receptores CD4. Essa ligação
desestabiliza a gp120 e expõe sua alça V3, que interage com um correceptor
denominado CCR5. À medida em que a infecção progride, outras células são
infectadas como, por exemplo, os linfócitos T que apresentam receptores CD4
e correceptores CXCR4 (BRASIL, 2014).
Após a ligação entre o vírus e a célula, ocorre a ativação da proteína
gp41 e a fusão entre o envoltório viral e a membrana celular, permitindo a
penetração do vírus. No citoplasma celular, ocorre o afrouxamento do capsídeo
viral e início da síntese do cDNA pela enzima transcriptase reversa (BRASIL,
2014).
No final, o RNA viral é transformado em DNA de fita dupla, por ação da
enzima transcriptase reversa. Ao DNA de fita dupla, liga-se à enzima integrase
e, juntos, migram para o núcleo da célula. Dentro do núcleo, a integrase insere
o DNA viral no DNA da célula hospedeira (BRASIL, 2014).
O DNA viral inserido é denominado DNA proviral. A partir desse
momento, o vírus passa a controlar a síntese celular, iniciando, no núcleo da
célula hospedeira, a produção de RNA mensageiro viral. Os RNAs
mensageiros serão utilizados na síntese das proteínas e do genoma viral.

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Todos os RNAs produzidos saem do núcleo para o citoplasma da célula
(BRASIL, 2014).

No citoplasma, as proteínas são sintetizadas como grandes moléculas


precursoras (Gag, Gag-Pol e Env), que posteriormente são cortadas por ação
de enzimas proteases celulares e virais, durante o processo de maturação viral.
É o que acontece, por exemplo, com a glicoproteína gp160 que, depois de
cortada por uma protease celular, dá origem às glicoproteínas gp120 e gp41.
Em seguida, o genoma e as proteínas virais migram para a extremidade do
citoplasma, onde serão reunidas para formar novas partículas virais. Todos os
componentes do vírus são reunidos próximos à membrana celular e as
partículas saem da célula hospedeira por brotamento, quando adquirem o
envoltório. Fora da célula, o processo de maturação das partículas virais será
completado pela clivagem das moléculas de Gag e Gag-Pol, feita pela protease
do HIV, tornando os vírus capazes de infectar novas células (BRASIL, 2010).

Figura 4 - Diagrama esquemático de infecção de uma célula T CD4+ por um vírion HIV,
com os locais de ação das duas principais classes de fármacos anti-HIV.

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Fonte: H.P Rang, J.M. Ritter, R. J. Flower e G. Henderson. Rang & Dale:
Farmacologia. 8ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2016.

As células CD4 + podem desempenhar papel direto no controle da


replicação do HIV, por exemplo na destruição das células-alvo (Norris et al,
2004). A perda progressiva dessas células é a característica que define a
infecção pelo HIV (RANG et al, 2016).

Figura 5 - Esboço esquemático da evolução da infecção pelo HIV.

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Fonte: H.P Rang, J.M. Ritter, R. J. Flower e G. Henderson. Rang & Dale:
Farmacologia. 8ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2016.

3.2 TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAIS (ARV)

Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980


para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos
ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico. Por isso, o uso
regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida
das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções
por doenças oportunistas. (MINISTÉRIO DA SAÚDE,2010)
Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente os ARV a todas as pessoas
vivendo com HIV que necessitam de tratamento. Atualmente, existem 22
medicamentos, em 38 apresentações farmacêuticas (OLIVEIRA et al, 2022).

Tabela 1 – Antivirais para tratamento de HIV.


Principais efeitos
Classificação Fármaco Indicação
adversos
Abacavir, Em geral em Múltiplos efeitos,
didanosina, combinação com incluindo: efeitos
Inibidores
entricitabina, outros dermatológicos;
nucleosídicos da
lamivudina, antirretrovirais. alterações GI; sobre o
transcriptase reversa
estavudina, tenofovir, SNC e efeitos
zidovudina. relacionados;
Inibidores não Efavirenz, etravirina, musculatura esquelética

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nucleosídicos da
transcriptase nevirapina, rilpivirina.
reversa.
Atazanavir,
darunavir,
e efeitos hematológicos;
Inibidores de fosamprenavir,
efeitos metabólicos,
protease indinavir, lopinavir,
incluindo pancreatite,
ritonavir, saquinavir,
lesão hepática, acidose
timpranavir
lática e lipodistrofia. O
Inibidor da fusão do
Efeitos sobre o SNC,
HIV às células Enfurvitida
metabolismo e GI.
hospedeiras
Refratário a Principalmente
Inibidor de integrase Raltegravir outros alterações GI e
tratamentos metabólicas.
Antagonista de Principalmente
Dependente de
receptor de Maraviroque alterações GI e sobre o
CCR5
quimiocina (CCR5) SNC.
Fonte: RANG, et al., 2016.

Os medicamentos são usados em combinação e a terapia bem-


sucedida baseia-se na inibição da replicação do HIV, redução da carga viral
e restauração da contagem de CD4 (CACHAY, 2023).

3.1.1. Assistência Farmacêutica

Assistência Farmacêutica (AF) é definida como o: conjunto de atividades


relacionadas com o medicamento, destinado a apoiar as ações de saúde
demandadas por uma comunidade. Envolve o abastecimento de medicamentos
em todas e em cada uma de suas etapas constitutivas, a conservação e o
controle de qualidade, a segurança e a eficácia terapêutica dos medicamentos,
o acompanhamento e a avaliação da utilização, a obtenção e a difusão de
informação sobre medicamentos e a educação permanente dos profissionais
de saúde, do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de
medicamentos (BRASIL, 2004).
É um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação
da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo

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essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional. Este conjunto envolve a
pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem
como a sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação,
garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação
de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da
melhoria da qualidade de vida da população (BRASIL, 2006).
A Resolução nº 308 de 2 de maio de 1997, do Conselho Federal de
Farmácia, ainda define a Assistência Farmacêutica, no âmbito de farmácias e
drogarias, como sendo o conjunto de ações e serviços com vistas a assegurar
a assistência terapêutica integral, a promoção e recuperação da saúde, nos
estabelecimentos públicos e privados que desempenham atividades de projeto,
pesquisa, manipulação, produção, conservação, dispensação, distribuição,
garantia e controle de qualidade, vigilância sanitária e epidemiológica de
medicamentos e produtos farmacêuticos (BRASIL, 1997).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Segundo definição da Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa, RDC


nº 67, de 8 de outubro de 2007, a Atenção Farmacêutica é um modelo de
prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica.
Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades,
compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças e na
promoção e recuperação da saúde, de forma integrada com a equipe de saúde.
É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma
farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis,
voltados para a melhoria da qualidade de vida (BRASIL, 2007).
Essa interação também deve envolver as concepções dos sujeitos,
respeitadas as suas especificidades biopsicossociais, sob a ótica da
integralidade das ações de saúde. De acordo com a Organização Mundial da
Saúde, a Atenção Farmacêutica é um conceito de prática profissional no qual o
paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico.
A atenção é o compêndio das atitudes, dos comportamentos, dos
compromissos, das inquietudes, dos valores éticos, das funções, dos
conhecimentos, das responsabilidades e das habilidades do farmacêutico na

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prestação da farmacoterapia, com objetivo de alcançar resultados terapêuticos
definidos na saúde e na qualidade de vida do paciente. Durante a dispensação
é possível identificar as pessoas que necessitam de abordagem especial, de
acordo com os fatores de risco e o histórico de utilização inadequada dos
medicamentos. Nesses casos, pode-se encaminhar o usuário para o
acompanhamento farmacêutico individual ou coletivo (RODRIGUES, et al.,
2015)
O princípio da integralidade considera as ações de promoção à saúde e
prevenção de doenças, além do tratamento e reabilitação. Logo, deve-se
promover a articulação com outras políticas públicas como forma de assegurar
uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que repercutem na saúde e
na qualidade de vida dos indivíduos (BRASIL, 2001).
Pelo Protocolo de Assistência Farmacêutica em DST/HIV/Aids de 2010,
as estratégias de Assistência Farmacêutica devem ter como referência a
integralidade. Portanto, a participação do farmacêutico na equipe
multidisciplinar é essencial para promover ações qualificadas de cuidado
integral, principalmente no que diz respeito à recuperação da saúde. Sugerem-
se:

● Estratégias de adesão à terapia antiretroviral (TARV);

● Orientações de uso e conservação dos antiretrovirais (ARV);

● Identificação, manejo e notificação de eventos adversos;

● Observância de interações medicamentosas;

● Acompanhamento farmacoterapêutico individual do usuário;

● Participação ativa nas discussões de casos clínicos e elaboração

de propostas terapêuticas;

● Gerenciamento e abastecimento logísticos para garantir acesso

aos medicamentos e insumos necessários à demanda, inclusive


em outros estabelecimentos que utilizam ARV, como

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maternidades e unidades de referência para profilaxia pós
exposição (ocupacional, sexual e outras).
A Lei nº 9.313/96 regulamenta o acesso universal de medicamentos
ARV. A resposta adequada à epidemia pode alcançar maior eficácia mediante
a estruturação da rede para desempenhar diversas ações, tais como:
prevenção; acolhimento e aconselhamento; diagnóstico precoce; facilidade no
acesso a serviços de saúde; informações com qualidade; gerenciamento
adequado dessas informações. Para garantir o acesso a medicamentos e
insumos (preservativos masculino e feminino, gel lubrificante, kit de redução de
danos, material educativo, dentre outros) é indispensável um conjunto de
informações precisas para subsidiar a programação, aquisição, distribuição e
manutenção do abastecimento regular (consumo, estoque, cobertura) que
favoreçam a sustentabilidade da política pública, aliada à facilidade de uso dos
serviços, ambiente de atendimento adequado e com qualidade (BRASIL, 2010).
Segundo Protocolo de Assistência Farmacêutica em DST/HIV/Aids de
2010, o acompanhamento e orientações envolvem um processo de escuta,
individualizado ou coletivo, centrado nas necessidades do usuário. Pressupõe
a capacidade de estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores,
visando ao resgate dos recursos internos de pessoas vivendo com HIV e aids,
para que ela mesma tenha possibilidade de reconhecer-se como sujeito de sua
própria saúde e transformação. As orientações farmacêuticas pautam-se por
uma atitude de escuta ativa e de comunicação clara e objetiva. São objetivos
da orientação:

● Prover informações sobre os medicamentos;

● Auxiliar o usuário a lidar com a sua condição e aderir à terapia;

● Desenvolver a capacidade do indivíduo para reconhecer e tomar

decisões sobre a própria saúde, percebendo riscos e adotando


práticas mais seguras.

4.1 A assistência farmacêutica e o uso racional de medicamentos.

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O Uso racional de medicamentos consiste na necessidade de o paciente
receber o medicamento adequado, apropriado, na dose correta, pelo período
adequado, com baixo custo, para ele e a comunidade. O uso de medicamento
de ser racional, sem exageros, de forma devidamente discriminada, orientada,
sem interrupção por conta própria. Ainda vale considerar que a prescrição deve
ser efetiva e coerente com o tempo de tratamento, de movo a evitar
desperdícios (CARVALHO, 2017).
Nos últimos anos, tem sido observada importante diminuição das
internações hospitalares em decorrência de infecções oportunistas e da
mortalidade associada ao HIV no Brasil, devido ao uso da terapia antirretroviral.
Para que a terapia seja eficaz e consiga proporcionar uma melhoria na
qualidade de vida, é necessário que os usuários tenham uma excelente adesão
aos esquemas que lhes foram prescritos (BRASIL, 2010).
A promoção da adesão ao tratamento transcende o simples controle da
ingestão de medicamentos. Deve ser compreendida de forma mais ampla,
incluindo, entre outros aspectos, o fortalecimento das pessoas vivendo com
HIV e Aids, o estabelecimento de vínculo com a equipe de saúde, o acesso à
informação, o acompanhamento clínico e laboratorial, a adequação aos hábitos
e necessidades individuais e o compartilhamento das decisões relacionadas à
própria saúde, inclusive para pessoas que não fazem uso de TARV (BRASIL,
2010 apoud BRASIL, 2007d).
Cada indivíduo deve estar bem informado sobre o vírus, seu ciclo
biológico, os medicamentos a serem receitados, o modo como estes agem e
como estocá-los adequadamente, os efeitos adversos possíveis e as
interações com alimentos, medicamentos, álcool e outras drogas e plantas. O
usuário também deve ter ciência de que o primeiro tratamento é o que tem a
melhor chance de sucesso. Essas informações devem ser transmitidas em
linguagem acessível, levando em consideração seu grau de instrução ou nível
de entendimento (BRASIL, 2010).
O uso de medicamentos é resultado de um processo de decisão racional
que leva em conta diversos determinantes, da disponibilidade à crença no
tratamento (BRASIL, 2010 apoud HAAIJER-RUSKAMP; HEMMINKI, 1993)
como resultado da dinâmica de aprendizagem social vivida (BRASIL, 2010

15
apoud BRAWLEY; CULOS-REED, 2000) e da forma de construir seu
enfrentamento à doença (BRASIL, 2010 apoud DOWELL; HUDSON, 1997).

5 CONCLUSÃO

Com base na disseminação da informação para prevenir a infecção e da


melhoria do atendimento aos pacientes de HIV/Aids, o Brasil prioriza a adoção
de políticas públicas que abracem a causa. Pode destacar-se o acesso
universal e gratuito à insumos de prevenção e medicamentos utilizados na
terapia, como previsto pela Lei 9.313/96.
A integralidade passa, portanto, a ser pilar que preconiza a qualidade de
vida dos portadores de HIV, em defesa da promoção de hábitos saudáveis,
reinserção social, direito de vivenciar a sexualidade e relações afetivas, além
de uma adequada adesão ao tratamento por longo prazo, entre outros.
No âmbito da Assistência Farmacêutica, as intervenções e informações
disseminadas à equipe multidisciplinar são de impacto coletivo, especialmente
em relação à otimização da farmacoterapia, promovendo o uso racional de
medicamentos e evidenciando que o farmacêutico se faz indispensável em
conhecimento, habilidades e ações.
O acesso à informação e a personalização da terapia que atenda as
necessidades individuais dos pacientes de HIV/Aids pelo acompanhamento
clínico e laboratorial, favorecem um vínculo com a equipe de saúde, inclusive o
farmacêutico, fundamental para adesão ao tratamento e na prevenção dos
danos causados pelo uso inadequado da TARV. À medida em que esse
acompanhamento sistemático se firma, os resultados da farmacoterapia se
tornam mais favoráveis ao aumento da sobrevida desses pacientes, bem como,
de sua qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose,


Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Assuntos HIV/AIDS
Acesso em: 31 set. 2023

16
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde
Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais. Universidade Federal de Santa
Catarina. Diagnóstico do HIV. Brasília, 2014. Acesso em: 31 set. 2023

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Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo de Assistência
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https://www.academia.edu/12353432/Impacto_do_atendimento_farmac
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Acesso em: 05 out. 2023

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