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Finanças

Corporativas
Avaliação da Saúde Financeira de
uma Empresa
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ
AUTORIA
André de Faria Thomáz
Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas
(2006); e mestre (2011) e doutor (2018) em Administração pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná. Atuo como contabilista e como professor,
nas modalidades presencial e a distância, nas áreas de auditoria contábil
de departamentos, de finanças e de pessoal.

Durante minha atuação como contabilista, tenho vasta experiência


na área de Obrigações Acessórias e Obrigatórias. Por outro lado, ao longo
de minha experiência como docente, além de ter sido coordenador de
curso, lecionei, principalmente, as seguintes disciplinas: Contabilidade
Básica; Economia; Planejamento e Contabilidade Tributária; Contabilidade
de Custos e Análise de Custos; Gestão por Processos; Estrutura das
Demonstrações Contábeis; Análise das Demonstrações; Contabilidade
Gerencial; Teoria da Contabilidade; Contabilidade Intermediária;
Contabilidade Internacional; Auditoria; Contabilidade Empresarial; Controle
Interno; Matemática; Logística; Recursos Humanos; e Gestão de Risco.

Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência


de vida àqueles que se iniciam em suas profissões. Por isso, fui convidado
a integrar o elenco de autores independentes da editora TeleSapiens.
Estou muito feliz por poder ajudá-lo, aluno, nesta fase da vida de muito
estudo e de muito trabalho.
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Falências e Recuperações das Empresas.......................................... 10
Capital e Controle Acionário...................................................................................................... 11

Registro Contábil dos Financiamentos............................................................................. 19

Projeções de Balanços e Estruturas de Capitais............................ 23


Controle de Orçamento...............................................................................................................24

Custo e Volume.................................................................................................................................27

Volume de Vendas, Custos e Lajir....................................................................28

Volume de Vendas, Custos e Ponto de Equilíbrio................................ 31

Margem de Contribuição........................................................................................33

Alavancagem Operacional e Ponto de Equilíbrio Contábil............34

Análises de Rotações e Liquidez...........................................................38


Aquisição ou Incorporação...................................................................................................... 38

Fusão........................................................................................................................................................ 40

Cisão.......................................................................................................................................................... 41

Índices Patrimoniais e Estrutura............................................................ 43


Governança Corporativa: Conceito e Contribuições..............................................43

Conformidade das Práticas de Governança Corporativa...................................47


Finanças Corporativas 7

04
UNIDADE
8 Finanças Corporativas

INTRODUÇÃO
Você sabia que a gestão de financiamentos de curto e longo prazo
auxilia na estruturação das fontes de capital que possibilita criar valor
para a empresa. Mas você sabe se existe uma estrutura ótima de capital
para as empresas? Se há uma composição de fontes de recursos que
minimize o custo de capital total e que maximize o valor da empresa para
os acionistas e para o mercado?

Existem diferentes teorias sobre estruturação de capital.


Dependendo da ótica, considera-se ou não que a estrutura do
financiamento da empresa possa influenciar no custo total e na criação
do valor.

Na prática, indicadores podem ser calculados para este fim. De


qualquer forma, para viabilizar suas operações, as empresas necessitam
captar recurso, seja exclusivamente com fonte própria, ou pela
composição com fonte de terceiros, sendo que cada uma destas fontes
tem um custo relacionado. O capital próprio é remunerado com lucros
e o capital de terceiros é remunerado pelos juros. O desafio da gestão
do financiamento é racionalizar o uso destas fontes para obter o melhor
resultado possível em termos de lucro econômico ou da geração do valor
econômico agregado.
Finanças Corporativas 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até
o término desta etapa de estudos, onde iremos juntos analisar e verificar
como as atividades de financiamento influenciam e contribuem para o
equilíbrio das finanças empresariais:

1. Compreender o cenário, contexto e consequências da falência e


da recuperação judicial das empresas.

2. Interpretar as projeções econômicas das empresas com base nos


principais indicadores extraídos do balanço contábil.

3. Analisar e interpretar a rotação e o índice de liquidez das empresas.

4. Identificar a robustez da estrutura de capitais e do balanço


patrimonial de uma empresa.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho! Lembre-se vamos juntos na troca do conhecimento.
10 Finanças Corporativas

Falências e Recuperações das Empresas

OBJETIVO:

A esta altura, sabemos que os financiamentos, se forem


bem geridos, são capazes de ajudar na estruturação das
diversas fontes de capital de uma empresa; e, também,
que certas maneiras de empregar o capital, quando forem
aplicadas aos nossos negócios, poderão ser mais eficientes
do que outras. Mas, caro aluno, você saberia dizer-nos se
alguma combinação específica das muitas fontes de capital
pode resultar em custos de capital menores e em valor da
instituição maior frente o mercado e os acionistas?

Conforme estudaremos neste capítulo, as teorias que


se debruçam sobre a estrutura de capital existem em
considerável número e, a depender de sua perspectiva,
podem, até mesmo, supor que a criação de valor no âmbito
de uma empresa e que o custo total de suas operações
não é afetados pela estrutura de capitais. Porém, em sua
maioria, as teorias considerarão que, mesmo que seja
mínima, essa interação existe e pode ser descoberta por
meio de certos índices..

Existem diferentes teorias sobre estruturação de capital. Dependendo


da ótica, considera-se ou não que a estrutura de financiamento das
empresas possa influenciar no custo total e na criação do valor. Em nossa
lida cotidiana, poderemos calcular indicadores com a capacidade de nos
revelar se isso acontece, de fato, no contexto em que atuamos.

O importante é ter em vista que os recursos financeiros deverão ser


incorporados às empresas de alguma maneira, seja por contra própria,
seja por intermédio de terceiros, independentemente da via adotada, um
custo impactará o fluxo de caixa. Enquanto gestores financeiros, caberá
a nós avaliar as fontes de capital e disponíveis e escolher a equilibra os
maiores benefícios e os menores custos.

Bons estudos!
Finanças Corporativas 11

Caro aluno, concorda conosco quando afirmamos que as empresas


devem render aos seus proprietários, pelo menos, as suas menores
expectativas de ganhos? Sim, essa afirmação é verdadeira e nos revela
uma séria preocupação: para garantir, minimamente, os menores retornos
projetados por seu proprietário, uma empresa dependerá de que capital
seja investido em sua estrutura.

Nesse sentido, a identificação de quais fontes de capital serão as


melhores escolhas para o negócio será uma decisão que se baseará
em um conhecimento profundo de todas as suas atividades financeiras.
Durante esse processo de identificação, tomaremos, como base, o custo
de capital, que resultará da combinação dos custos de oportunidade
associados tanto ao uso de capital próprio quanto ao uso de capital de
terceiros e ao custo médio ponderado de capital.

Capital e Controle Acionário


Como precisamos saber neste ponto de nossos estudos, o capital
próprio de um negócio equivale aos seus recursos financeiros de
longo prazo, os quais são desembolsados, em algum momento, pelos
proprietários ou sócios do empreendimento. Geralmente, o aporte é
registrado, no contrato social da empresa, como seu capital social.

No caso de uma sociedade anônima de capital aberto, cujo


capital social é convertido em ações ou cotas-parte (átomos do capital
social da empresa), teremos duas fontes principal de capital próprio:
vendas de ações preferenciais (sem direito a voto em assembleias, mas
com prioridade no recebimento de dividendos); e capital de acionistas
ordinários, que é composto pelas ações ordinárias (com direito a voto e
a controle proporcional da companhia, mas preferência no recebimento
de dividendos) e pela porcentagem de lucro retido (parte do lucro que
é reinvestida, diretamente, nas operações da empresa, sem qualquer
distribuições entre os acionistas, quer os preferenciais, quer os ordinários).
12 Finanças Corporativas

De forma geral, os estudiosos das Finanças Corporativas assumem


que o capital que resulta da emissão de ações de ordinárias é a forma
mais onerosa de capital próprio, por ceder, em contrapartida ao aporte
de recursos financeiros, parte do controle acionário organizacional.
Em seguida, de acordo com Hoji (2010), temos a retenção de lucros e
comercialização de ações preferenciais.
Figura 1 – Negociação de ações no mercado

Fonte: Pixabay.

Embora seja um pouco mais difícil compreender isso, capital


próprio tem, como dissemos acima, um custo associado: a taxa de retorno
de cada um dos investimentos realizados ou por realizar das empresas,
taxas com base nas quais é possível atingir e manter um valor específico
para a sua cota-parte. Ainda de acordo com Hoji (2010), pode ser definido
como o número que nos permitirá se o resultado de um investimento
que consideramos realizar no presente representará aumento no valor da
corta-parte. Caro aluno, isso ficou claro para você?

NOTA:

Tentaremos, então, informar isso de outro modo, garantindo


que tudo seja compreendido por você. É inerente à
atividade empresarial, seja qual for, a busca de meios de
garantir a sobrevivência da organização no mercado, que
experimenta uma fase de integração jamais vista. Até aqui,
nada há de complicado, certo?
Finanças Corporativas 13

Esses meios de garantir a sobrevivência da organização no mercado,


em quase todos os casos os casos, tomam a forma de investimentos.
Porém, não podemos realizar um novo investimento, comprometendo o
capital próprio da empresa, se não tivermos algum indício de que renderá
ganhos relevantes ao fim de um prazo. Muito menos, poderemos contratar
capital de terceiros, cujos custos são, em média, superiores aos do capital
próprio, para arcar com investimentos, a menos que os indícios de que
lucraremos com isso sejam fortes.

Por essas razões, devemos conhecer o custo associado ao uso do


capital, que, como foi definido por nós, será a taxa de retorno de cada um
dos investimentos realizados ou por realizar.

Existem casos em que, em vista de obter lucratividade, os gestores


financeiros podem decidir investir não na sua empresa, mas, sim, em
organizações alheias. O principal motivo pelo qual isso acontece é a
diversificação das operações da empresa investidora, o que, além de
poder alcançar o lucro desejado, poderá ser uma maneira importante
de combater as consequências das crises que, em certas situações, o
mercado atravessar.

Conhece, caro aluno, algum caso em que, para uma organização


qualquer, pode ser mais proveitoso investir em outro nicho do mercado
do que expandir as próprias operações? Por exemplo, isso pode ser
interessante quando a economia do país estiver em recessão. Sendo
assim, nos nichos que não tiverem sido impactados pela recessão – o que,
pelo menos, tiverem sido pouco impactos e apresentarem boas taxas de
crescimentos, poderemos encontrar companhias nas quais investir. Em
consequência disso, conforme apontamos, diversificaremos nossa matriz
de atividade, burlaremos o período de recessão e alcançaremos alguma
margem de lucratividade.
14 Finanças Corporativas

SAIBA MAIS:

Sabemos que você conhece o conceito de investimento


institucional, porque faz parte do conteúdo que estudamos.
Então, se você prestou atenção, deve ter percebido que
é desse conceito que falamos nos últimos parágrafos.
Nesse sentido, os investimentos institucionais têm o poder
de elevar o capital de empresas, proporcionando-lhes o
fôlego necessário para crescer em momentos nos quais o
seu nicho de mercado não estiver favorável.

Quando as empresas que recebem investimentos institucionais


são de pequeno porte, não é incomum que sejam engolidas pelo capital
externo, porque as más condições do mercado financeiro a tornarão
atrativas para as investidoras. Por outro, os investimentos institucionais
podem ser direcionados a empresas maiores, que, proporcionalmente,
converter-se-ão em partes menores dos seus ativos e, portanto, mais
raramente, em controle das atividades organizacionais. Ambas as
situações – investimentos de nossas instituições em empresas pequenas
e em empresas grandes – resultarão em controle acionário quando
somarem mais de 50% do total do seu capital social da empresa-alvo,
tornando-nos a companhia que gerimos responsável por suas atividades.

Exemplo Imaginemos um prédio qualquer de dez apartamentos; e


que Ricardo, um único indivíduo, seja proprietário de seis apartamentos
– 60% do total. Nesse contexto, será natural que, nas assembleias
de condomínios, sejam acatadas as decisões de Ricardo, apesar da
possibilidade de Aline, de Lúcia, de Pedro e de Roberto serem donos dos
demais apartamentos. Acontece que, frente aos votos de Aline, de Lúcia,
de Pedro e de Roberto, que serão quatro, Ricardo, por si só, terá seis e fará
à tomada de decisões no condomínio.

Considerando, mais uma vez, um prédio qualquer de dez


apartamentos, vamos supor, agora, que Ricardo tem quatro apartamentos
e que Aline é dona de outros três. Nesse novo contexto, Ricardo e
Aline, juntos, serão proprietários de 70% dos apartamentos do prédio,
sendo maioria absoluta em relação a Lúcia, a Pedro e a Roberto, que,
Finanças Corporativas 15

individualmente, têm um apartamento. Portanto, Ricardo e Aline, se


estiverem alinhados, terão o controle conjunto da administração do
condomínio. Ao mesmo tempo, se Ricardo não for um bom vizinho,
Aline finalizar sua aliança com ele e se unir a Lúcia, a Pedro e a Roberto,
combatendo Ricardo nas assembleias.

Em uma empresa, acontecerá como nos condomínios apresentados:


a maioria dos acionistas ordinários vencerá as votações. Logicamente,
qualquer empresa (ou conjunto de empresas) que detiver mais de 50% do
capital de outra (que seja 50,01%) exercerá o seu controle administrativo,
atuando como empresa controladora.
Figura 2 – Controle administrativo conjunto

Fonte: Pixabay.

Caro aluno, vamos parar um instante, para refletir: o controle


administrativo direto será o único meio pelo qual a empresa controladora
poderá exercer seu poder sobre a empresa cuja maioria das ações detém?
Não, caro aluno, o controle administrativo direto não é a única forma
de a empresa controladora exercer poder sobre outras. Existe, ainda, o
controle indireto, que não é muito bem-visto pelos demais acionistas da
empresa controlada, por terem seus direitos prejudicados. Em caso de
controle indireto, uma empresa investidora, por intermédio de uma das
empresas que controla, adquire um número majoritário de ações de uma
terceira empresária, controlando essa empresa por via da sua empresa
intermediária.
16 Finanças Corporativas

Figura 3 – Controle indireto

Fonte: Carvalho (2021).

Para que a organização de capital aberto se projeta de casos de


controle indireto, existe um mecanismo chamado tag along. Basicamente,
esse mecanismo estipula que os sócios minoritários da companhia terão
direitos iguais aos dos acionistas majoritários. Isso está previsto está
previsto na chamada Lei das S.A. (Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976) e
é utilizado para garantir que os acionistas minoritários receberão fará jus a
100% de todos os percentuais fixados, à semelhança do sócio controlador.

1.2 Investimentos, controle acionário e coligação

Caro aluno, observe a seguinte imagem, retirada de Carvalho (2021),


em que podemos observar uma rede de interações de investimentos que
envolve cinco empresas.
Figura 4 – Rede de interações de investimentos entre cinco empresas

Fonte: Carvalho (2021).

De acordo com a imagem, temos as seguintes relações entre as


empresas A, B, C D e E (CARVALHO, 2021):

•• A – é controladora direta de B, com 55% das suas ações, e coligada


a C, com 40% de suas ações.
Finanças Corporativas 17

•• B – é controlada por A diretamente (que detém 55% das suas


ações), controla D diretamente (com 55% das suas ações) e está
coligada a E (com 35% de suas ações).

•• C – está coligada a A por 40% das próprias ações e controla E


diretamente, com 51% das suas ações.

•• D – é controlada por B (que detém 55% das suas ações).

•• E – está coligada a B por 35% de suas ações) e é controlada por C


diretamente (que detém 51% das suas ações).

Com base nessas relações, é possível compreender do que se trata


a coligação entre empresas, caro aluno? Acreditamos que é possível,
sim, depreender o que o conceito significa, mas preparemos uma
definição para você. Vamos lá: a coligação é uma relação de influência
de uma empresa sobre as decisões de outra de cujas ações detém um
percentual igual ou superior a 20% e menor ou igual a 50%. Assim sendo,
a empresa investidora terá um poder de voto relevante, mas não terá o
controle acionário. Devemos considerar, a título de coligação, apenas a
parte do capital da empresa com direito à voto, eliminando, pois, as ações
preferenciais. Agora, não há erros quanto à coligação entre empresas,
certo?

Além dessas, outras relação, menos óbvias do que são as anteriores,


existem entre as empresas A, B, C D e E. Em primeiro lugar, embora A
seja a empresa investidora de D, não existe relação de controle direto
entre ambas: nesse caso, A controla B diretamente, que, por sua vez, é
responsável pelo controle direto de D – portanto, caso D não apresente
uma cláusula de tag along, seus acionistas minoritários (os quais, inclusive,
podem ter sido seus proprietários antes do investimento de A em suas
ações) poderão enfrentar dificuldades para os obter percentuais a que
têm direito.

Em segundo lugar, A e E, via C não têm qualquer tipo de relação


de controle. Porquanto A seja coligada a C, apesar de essa empresa
deter 51% das ações de E, A não terá controle sobre C, nem diretamente
nem indiretamente. Por outro lado, A controla 55% das ações de B, que é
coligada a E por meio de 35% de suas ações. Logo, como A tem controle
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direto sobre B e, por essa via, coligação relevante com E; e como, por outro
lado, tem uma coligação relevante com C, que controla E diretamente, A
poderia pensar em uma estratégia para assumir o controle acionário de E,
caro aluno?

A legislação é dúbia em relação a esse assunto. De acordo com


a Lei das S.A. (BRASIL, 1976), a coligação existe apenas nos casos de
investimentos diretos, de modo que os investimentos de A via B e via C
em E não poderiam ser utilizados para o estabelecimento de um controle
acionário conjunto sobre E. Por outro lado, de acordo com a lei 11.638,
de 28 de dezembro de 2007, a coligação poderia acontecer no caso de
investimentos indiretos, o que viabilizaria o empenho de A.

Como vimos, os tentáculos de A se estendem ao controle


administrativo de todas as demais empresas, seja por via direta, seja por
via indireta. O emaranhado de relações entre as empresas chega a ser
esquisito, não é mesmo? Por que uma empresa como A teria interesse de
absorver outras empresas e mais outras empresas de tal maneira?

Um motivo bastante plausível é a lavagem de dinheiro, que


consiste na transformação de dinheiro ilícito em dinheiro lícito por meio
da passagem pelos caixas de várias empresas, sob a alegação fajuta de
prestação de serviços. Assim, o dinheiro se tornará legal e será mantido
dentro da área de influência da empresa que o lavou, no caixa de suas
controladas. Em geral, empresas de serviços são escolhidas para a
realização de lavagem de dinheiro porque se trata da negociação de
produtos intangíveis. Portanto, após a alegada prestação, apenas a nota
fiscal gerada pela transação seria prova de que grande parte dos serviços
foi realizada.

Nesse sentido, caro aluno, caso você se veja envolvido com


relações que sejam semelhantes às existentes entre A, B, C, D e E,
investigue! Se se tratar de transações legítimas de compras de ações,
cuide para que a empresa sob a sua gerência tenha todos os documentos
legais que comprovem isso, visto que os fiscalizadores estarão de olho na
sua contabilidade. No entanto, se constatar que alguma atividade é ilegal,
desligue-se da empresa e a denuncie aos órgãos competentes.
Finanças Corporativas 19

Para que possamos identificar facilmente qual é a relação existente


entre as entidades, basta nos preocuparmos com os percentuais dos
investimentos. Se ele for maior do que 50%, há o controle; se estiver
entre 20% e 50%, há a coligação; e se for menor que 20%, trata-se de um
investimento comum.

Registro Contábil dos Financiamentos


O gerenciamento dos investimentos em outras empresas nunca
deve ser o foco enquanto gestor de uma organização, exceto se o negócio
que gerimos tiver, como atividade principal, a realização de investimentos.
Ao contrário, o tempo e os recursos de que dispomos devem ser
aplicados no crescimento de nossas empresas. Portanto, nesta seção,
abordaremos sobre o registro contábil de investimentos realizações por
nossas empresas em sua própria estrutura.

NOTA:

Certos investimentos, como os de aquisição de ações de


empresas, podem ser classificados, corretamente, em
mais de um dos conjuntos de investimentos presentes no
Balanço Patrimonial. O que definirá o seu encaixe em um
grupo será a intenção da empresa com a sua realização.

Inicialmente, notemos que investimentos de curto e de longo prazo


têm, necessariamente, classificações distintas, apesar de serem do mesmo
tipo e de terem a mesma intenção. Nesse caso, o que os diferenciará será,
justamente, o prazo. Ao mesmo tempo, se o investimento for permanente
– por exemplo, no caso em que passar a fazer parte do capital da
empresa, com a emissão de novas ações no mercado –, será classificado
de outra forma. Por detrás das três formas de classificação, há o objetivo
de gerenciar os investimentos de maneira mais eficiente, adequando-os
ao contexto da empresa e aos requisitos de uma boa gestão financeira.
20 Finanças Corporativas

Um investimento poderá ser classificado como de valor justo por


meio de resultado se for adquirido com a intenção de ser revendido a curto
prazo, conforme Assaf Neto e Lima (2010) nos explicam. Geralmente, os
ativos serão inseridos nessa rubrica se forem avaliados por (i) preço justo; e
se (ii) forem mantidos para negociação. De acordo com o pronunciamento
técnico 46 da Comissão de Valores Mobiliários,
valor justo é uma mensuração baseada em mercado e
não uma mensuração específica da entidade. Para alguns
ativos e passivos, pode haver informações de mercado
ou transações de mercado observáveis disponíveis e
para outros pode não haver. Contudo, o objetivo da
mensuração do valor justo em ambos os casos é o mesmo
– estimar o preço pelo qual uma transação não forçada
para vender o ativo ou para transferir o passivo ocorreria
entre participantes do mercado na data de mensuração
sob condições correntes de mercado (ou seja, um preço
de saída na data de mensuração do ponto de vista de
participante do mercado que detenha o ativo ou o passivo).
(BRASIL, 2012)

Ao passo que todos os registros relativos aos investimentos em


ativos financeiros devem ser receber entrada a valor justo nos registros
contábeis, algo diferente acontecerá com perdas e com ganhos que
decorram dos investimentos: no último caso, uma nova aferição deverá
acontecer, para compor os resultados do período e, assim, proporcionar
uma análise contábil mais precisa dos investimentos por intermédio da
equivalência patrimonial.

Depois que identificarmos quais valores devem ser encontrados pelo


método de equivalência patrimonial, faremos outra identificação com base
nos investimentos: verificaremos que parte do patrimônio líquido da empresa
pertence a investidores. O passo seguinte será subtrair o valor do patrimônio
líquido que pertence a investidores do valor registrado para o investimento
nos livros contábeis da empresa, resultando na equivalência patrimonial.

Exemplo Desta vez, imaginemos que Ricardo, nosso proprietário


de apartamentos, adquiriu, na forma de sua empresa de investimentos, a
Blue Dragon, no início de 2020, 40% do capital social da empresa Agatha
& Filhas, que se dedica a produtos relacionados ao segmento doméstico
“cama, mesa e banho”.
Finanças Corporativas 21

Considerando que o capital da empresa Agatha & Filhas, na época


do investimento, era de R$ 3.000.000, 00; o aporte inicial de Ricardo será
de R$ 1.200.000,00. No momento em que a equivalência patrimonial foi
escriturada, contudo, o capital da empresa Agatha & Filhas havia variado
para R$ 4 milhões, o que, consequentemente, aumentou a de Ricardo
para R$ 1,6 milhão (40% de R$ 4 milhões), uma ampliação de 33% do
capital investido inicialmente.

Quando fizermos os registros contábeis de atualização, como


aconteceu no caso de Ricardo, é necessária uma quantidade absurda
de atenção: somente os resultados de equivalência patrimonial que
tenham sido originados de lucros e de prejuízos de investimentos podem
ser analisados, porque a modalidade de registro contábil não engloba
resultados que não tenham sido obtidos.

Por fim, o custo histórico consiste em um método de análise dos


investimentos de uma empresa; e compõe o Princípio do Registro pelo
Valor Original, que faz parte da organização da atividade contábil no Brasil
(CFC, 2010, on-line). Nesse sentido, importará, para nós, que o Princípio
do Registro pelo Valor Original determina que os registros de operações
contábeis sejam feitos com base no valor original do que a empresa
houver negociado, independentemente de qual dor a sua destinação
após o processo de aquisição.
22 Finanças Corporativas

SAIBA MAIS:

Leia, a seguir, como o Conselho Federal de Contabilidade


define custo histórico:
Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a
serem pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo
valor justo dos recursos que são entregues para adquiri-
los na data da aquisição. Os passivos são registrados
pelos valores dos recursos que foram recebidos em
troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias,
pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os
quais serão necessários para liquidar o passivo no
curso normal das operações (CFC, 2010)
Nesse sentido, que tal seria se você consultasse essa
resolução e lesse, na íntegra, todos os princípios adotados
pelo Conselho Federal de Contabilidade. Isso enriqueceria
bastante os seus conhecimentos sobre as Finanças
Corporativas.

Na prática, o custo histórico visa garantir que as informações


contábeis de uma empresa recebam o menor número de interações que
for possível. Como consequência disso, a qualidade e a confiabilidade das
informações geradas a partir desses registros serão muito maiores.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter
compreendido como compreender o cenário, contexto e
consequências da falência e da recuperação judicial das
empresas.
Finanças Corporativas 23

Projeções de Balanços e Estruturas de


Capitais

OBJETIVO:

Caro aluno, para que nos tornemos aptos a compreender


a abrangência do conceito de empresa como instituição
que explora atividade econômica de maneira organizada,
devemos assumir que todas as relações desempenhadas
pelas empresas, tanto as internas quanto as externas,
constituem um sistema muito bem integrado e dinâmico. .

Nesse sentido, nós, gestores financeiros, dependeremos de


conhecer, com requinte de detalhes, todos as atividades das nossas
empresas, sabendo como, juntas, formam uma estrutura organizacional
nos moldes da definição presente no parágrafo anterior; e estando
conscientes de que todas as nossas decisões, mesmo que sejam as mais
circunscritas aos menores setores operacionais, terão influência sobre a
empresa como um todo – ou seja, terão consequências sistêmicas.

De acordo com Batista (2004, p. 58), sistema, conforme nos


interessará nesta seção, é um “conjunto de elementos interdependentes,
ou um todo organizado, ou partes que interagem formando um todo
unitário e complexo”. Por exemplo, não é verdadeiro que as empresas,
costumeiramente, são formadas por grupos de pessoas, de bens
(equipamentos, imóveis, veículos, dentre outros) e de capital? Cada um
desses grupos, no seu nível de operação, é um sistema; e, juntos, os
grupos formam a própria empresa, um sistema ainda maior.
24 Finanças Corporativas

Controle de Orçamento
A medida do crescimento de custos, para que uma empresa não
passe por sérias dificuldades financeiras, jamais pode ser maior do que a
receita operacional. Nesse caso, como se anularão, teremos uma situação
de equilíbrio que pode, novamente, ser revertida em favor do aumento
das receitas operacionais. Do contrário, o resultado será o endividamento
da empresa.

Se soubermos calcular quais são as dívidas de uma empresa


e quais são os seus índices de endividamento, caro aluno, teremos a
oportunidade de obter um panorama de quanto do negócio que gerimos
depende do aporte de capital de terceiros para render lucros (parcela do
processo produtivo movida à base de investimento externo).

Os índices de endividamento das empresas são grandezas


com as quais tanto acionistas (de ambos os tipos) quanto credores se
preocupam. Isso acontece porque os índices nos relevam o grau de
comprometimento futuro das empresas. No caso dos acionistas, elevados
graus de comprometimento futuro das empresas com capital de terceiros
– que têm prioridade legal no pagamento em relação aos dividendos
dos acionistas – significam menores dividendos a receber. Por outro lado,
no caso dos credores, elevados graus de comprometimento futuro das
empresas com capital de terceiros sinalizam a existência um cenário
futuro em que a empresa pode não ter rendimentos suficientes para pagar
os investidores e, ainda assim, quitar as dívidas que financiaram.

Em geral, dívidas de longo prazo não são bem-vistas pelos analistas


– dentre outros, economistas, administradores, contabilistas e gestores
financeiros. Você imagina por que os profissionais têm uma opinião tão
negativa em relação às dívidas de longo prazo, caro aluno? Isso se deve
ao fato de que comprometer as receitas operacionais, por um período
grande, com pagamentos cujas taxas de juros sejam altas pode prejudicar
a saúde financeira da empresa, levando-a à falência em casos mais
extremos.
Finanças Corporativas 25

Dois dos indicadores mais utilizados pelos analistas de mercado


e pelos acionistas, rentabilidade e lucratividade indicam diferentes
informações a respeitos dos retornos obtidos pela empresa:

•• rentabilidade indica qual será o lucro dos investidores com base


nos valores investidos, considerando, também, o volume de ativos
que da empresa.

•• lucratividade é a participação do lucro líquido, em determinação


exercício, na composição dos retornos obtidos, considerando,
proporcionalmente, o volume de vendas.

Caso a taxas de lucratividade e/ou de rentabilidade de uma empresa


sejam ruins, a tarefa de obter capital de terceiros se tornará complicada,
visto que são os indicadores que, em geral, definem se os investidores
aportarão ou não capital em determinado negócio.

Ebitda, sigla de earnings before interest, taxes, depreciation and


amortization, observa a geração bruta operacional de lucro. Para isso, por um
lado, é necessário avaliar somente os resultados das operações; e, por outro,
é necessário somar as depreciações e as amortizações ao lucro operacional.

A função do Ebitda é verificar se os ativos operacionais geram caixa.


Por ignorar as despesas e as receitas operacionais, adotando somente os
resultados operacionais que influenciam o caixa da empresa diretamente,
é tomado, pelos analistas financeiros, como um dos melhores indicadores
do seu tipo. No rol de receitas e de despesas operacionais ignoradas,
dentre outras, estão estas:

•• Resultado de equivalência patrimonial.

•• Imposto de Renda.

•• Amortização.

•• Contribuição Social Sobre o Lucro.

•• Exaustão.

•• Despesas operacionais não rotineiras.

•• Depreciação.
26 Finanças Corporativas

Em resumo, o Ebitda é o valor obtido após os descontos das


depreciações e das amortizações do lucro operacional. Deve ser suficiente
para o pagamento de juros e dos impostos sobre o lucro e ainda distribuir
lucros ou dividendos.

Com a constante necessidade de aprimorar os dados gerencias das


organizações, principalmente em época de concorrência acirrada, alguns
pesquisadores e consultores de empresas norte-americanas começaram,
há muito tempo, a divulgar um método alternativo de medida de
desempenho e de resultado.

Esse método, chamado de valor econômico, é fundamental para


a apresentação de informações gerenciais, vista a pouca utilizada da
contabilidade financeira nesse sentido, por se basear demais em valores
vinculados ao custo histórico. O valor econômico não é novidade como
medida de desempenho, tendo aparecido, no cenário corporativo, em
1920, no âmbito da General Motors Corporation.

Sob uma perspectiva ampla, a metodologia conhecida como EVA®


nos permite identificar duas funções importantes:

1. instrumento de mensuração de valor.

2. ferramenta de gestão.

O EVA® ajuda gerentes a transformar suas estratégias em um


conjunto de ações que possam maximizar o valor da empresa. De acordo
com Assaf Neto e Lima (2010), trata-se de uma fórmula simples em que
o custo do capital empregado pela empresa tem papel fundamental. A
maioria das empresas usa o capital próprio como se não tivesse custo
e, por isso, não lhe dá um valor contábil apropriado. Essa é, de fato, uma
das grandes diferenças entre os conceitos de lucro contábil e de lucro
econômico.

Dessa maneira, uma das contribuições mais importantes do índice


EVA® foi trazer à luz o fato de que o capital próprio tem um custo,
embora não tão aparente quanto o custo de capital de terceiros. Para
obter sucesso na competição pelos recursos escassos do mercado de
capitais, a empresa deve oferecer, para seus acionistas, no mínimo, um
Finanças Corporativas 27

retorno igual ao de outros investimentos. Isso significa, portanto, que não


basta ter lucro líquido positivo e certo nível de lucro por ação. Para muito
além disso, a empresa precisa ganhar o suficiente para cobrir o custo do
capital de terceiros e o custo de oportunidade do capital próprio antes de
começar a criar valor.

Custo e Volume
Como sabemos, uma das preocupações constantes dos gerentes
financeiros é avaliar como a variação dos custos fixos e dos custos variáveis
se reflete no lucro das suas empresas. Quando estudamos a relação dos
conceitos de custo, de volume e de lucro, a influência dos custos fixos e
dos custos variáveis sobre o lucro se torna mais visível.
Figura 5 – Jornada do gestor financeiro em busca de lucros maiores

Fonte: Pixabay.

Em uma empresa, a estrutura de custo sempre estará ligada com


o preço de mercado dos produtos vendidos. Logo, dessa ligação perene,
retiramos as condições necessárias para esboçar estratégias em favor do
aumento positivo das margens de lucro e contra projetos com taxas de
crescimento negativos. No segundo caso, as estratégias poderão visar
tanto à finalização dos projetos, caso sejam avaliados como dispendiosos;
quanto à sua reformatação, casos suas projeções possam ser melhoradas
mediante novas atividades de planejamento.
28 Finanças Corporativas

Sem dúvida, em um mercado globalizado e altamente competitivo


como o atual, o conhecimento profundo das relações custo/volume/
lucro é uma das ferramentas mais poderosas da contabilidade gerencial a
serviço da gestão empresarial.

A análise dos custos fixos e variáveis possibilita uma visão abrangente


dos gastos relacionados com os volumes produzidos e vendidos pela
empresa em determinado período. A partir daí, é possível verificar pontos
essenciais nos volumes, bem como a tomada de decisões de aumento ou
diminuição nos volumes de produção.

A análise da tríade custo/volume/lucro dependerá de conceitos de


gerenciamento de rentabilidade, os quais, a esta altura, são nossos velhos
conhecidos.

1. Alavancagem operacional.

2. Ponto de equilíbrio.

3. Margem de contribuição.

Vejamos como a tríade custo/volume/lucro e os demais conceitos


estão relacionados, caro aluno.

Volume de Vendas, Custos e Lajir


Primeiramente, precisamos ter em mente que aumentos no volume
de vendas das empresas costumam resultar em lucros maiores. No
entanto, volume de vendas e lucratividade não grandezas proporcionais.
Até aqui, está tudo bem simples, não é? Pois então, um aumento de 20%
no volume de vendas não implicará um aumento de 20% na lucratividade.

Mas por que isso acontece? Não parece lógico que, se aumentarmos
nossas vendas, aumentaremos, também, a nossa lucratividade? Isso não
apenas parece lógico: é verdadeiro. Porém, com um percentual de 20%
no volume (quantidade) de vendas, considerando que nossos custos
fixos permaneçam os mesmos – o que, em parte relevantes dos casos,
acontece –, nada nos impedirá de atingir de lucratividade maiores do que
20%.
Finanças Corporativas 29

A lucratividade de que falamos é o índice Lajir (lucro antes dos juros


e imposto de renda). Para encontrá-lo, é necessário saber como funciona
o impacto da variação das vendas sobre o Lajir. Utilizaremos, então, o
cálculo do Grau de Alavancagem Operacional (GAO). Por sua vez, antes
de aprendermos como o GAO é obtido, devemos utilizar este exemplo de
Kato (2013), visto por nós anteriormente.

Preste muita atenção às etapas que percorremos até chegar ao


GAO, caro aluno, porque serão complexas. Tentaremos dividi-las com
bastante clareza, para facilitar a sua aprendizagem.

•• Etapa 1: Conhecer a Fórmula do o Lajir


Figura 6 – Exemplo de Kato (2013)

Fonte: Kato (2012).

No esquema, temos duas situações: Caso 1 e Caso 2. Caso 2 nos


apresenta um cenário pessimista, com redução de vendas, ao passo que
Caso 1 é ou otimista ou realista, a depender da perspectiva do gestor
financeiro, com aumento de vendas.

Para analisar ambos os cenários, consideremos que a previsão de


vendas – indicada na coluna entre Caso 2 e Caso 1, em que constam todas
as demais previsões – tenha sido de R$ 10.000,00.
30 Finanças Corporativas

Comparando Caso 2 e Caso 1 com as previsões, notamos que Caso


2 admite uma redução das vendas em 50%. Ao contrário, por sua vez, Caso
1 adota um aumento das vendas em 50%. Nas duas situações, devido às
próprias naturezas, os custos fixos são os mesmos, e os custos variáveis,
proporcionalmente, acompanham as taxas de evolução e de involução
das vendas: no Caso 2, caem à metade do previsto (de R$ 5.000,00,
passam para R$ 2.500,00); e, no Caso 1, equivalem a 1,5x, em que x é a
previsão (de R$ 5.000,00, passam para 1,5 X R$ 5.000,00 = R$ 7.500,00).

O Lucro Antes dos Juros e do Imposto de Renda (Lajir) equivale


ao lucro operacional e é mensurado sem o desconto das despesas
operacionais e financeiras, entrando na demonstração de resultado do
exercício em questão. No Caso 2, o valor do Lucro Antes dos Juros e do
Imposto de Renda (Lajir) é igual a R$ 0,00. Por outro lado, no Caso 1, o
valor dobra de R$ 2.500,00 (previsto) para R$ 5.000,00. Isso significa que,
no Caso 2, nenhum lucro sobra após o pagamento das despesas e dos
tributos.

NOTA:

Caro aluno, você faz ideia do que podemos concluir com


base na comparação do Caso 2 com o Caso 1?

Perceba que, como os custo fixos, necessariamente,


são iguais nos dois cenários, o Caso 1 demonstra uma
alavancagem operacional em relação ao Caso 1, uma vez
que, com as mesmas condições de produção, aumenta o
lucro operacional em 50%, quando a referência é a precisão;
e em 200%, quando a referência é o Caso 2.

•• Etapa 2: conhecer a fórmula do GAO

Caro aluno, para calcular GAO, adotaremos a seguinte fórmula.


Finanças Corporativas 31

Sendo assim, descobrimos o motivo de as variações do Lajir e do


volume de vendas serem importantes a ponto de acionarmos, mais uma
vez, o exemplo de Kato (2013), certo?

Adotando o Caso 1 de Kato (2013), poderemos calcular o GAO.

•• Etapa 3: calculando o GAO

No Caso 1 de Kato (2013), as vendas e o Lajir aumentaram,


respectivamente, 50% e 100% em relação às previsões. Então, temos o
seguinte GAO.

Se GAO é igual a 2, sabemos que, enquanto o índice de vendas


recebeu um acréscimo de 50%, o Laji teve um crescimento de 100% (2 X
50%).

Caso os custos fixos aumentassem no mesmo passo que o volume


de produção, GAO seria igual a 1, e não haveria alavancagem de produção.

Na medida em que nos fornece um número que, ao ser multiplicado


pela variação no volume de vendas, resulta no quanto isso influenciou
o lucro operacional de uma empresa, o GAO mede a suscetibilidade do
lucro operacional ao volume de vendas.

Volume de Vendas, Custos e Ponto de Equilíbrio


O ponto de equilíbrio operacional é aquele em que as receitas
operacionais equivalem às despesas operacionais. Podemos estudá-lo
de três perspectivas: contábil, financeira e econômica.

A análise do ponto de equilíbrio operacional, também conhecida


como análise de custo-volume-lucro (CVL), servirá para que calculemos
o volume de vendas necessário para cobrir os custos operacionais de
nossas empresas; e para que projetemos a rentabilidade de diferentes
níveis de vendas (KATO, 2012).

O ponto de equilíbrio contábil ou operacional se estabelece quando


o volume de lucros é suficiente para pagar as despesas operacionais,
32 Finanças Corporativas

sendo o lucro operacional igual a zero. A seguir, está a equação do ponto


de equilíbrio contábil.

QC = equilíbrio contábil

CF = custos fixos

P = preço unitário

CVunitário = custos variáveis unitários

Vamos supor que a empresa Agatha & Filhas tenha custos fixos de
R$ 80.000,00 e custos variáveis unitários de R$ 120,00, vendendo seus
cobertores a R$ 200,00 (por unidades). Considerando esse contexto,
o valor dos cobertores é suficiente para cobrir os custos operacionais?
Para descobrir essa informação, devemos aplicar equação do ponto de
equilíbrio contábil.

Para cobrir os custos operacionais, a empresa precisa vender 1.000


unidades do produto.

Da perspectiva do ponto de equilíbrio financeiro, não observaremos


custos fixos que não sejam valores pagos pela empresa – ou seja, valores
que, em vez de serem pagos, deixam de ser recebidos, impactando,
igualmente, o ponto de equilíbrio contábil. Um caso desse tipo é o da
depreciação (D). Para realizar o cálculo do ponto de equilíbrio financeiro,
precisaremos adaptar a equação anterior à seguinte forma.

Além de cobertores, a empresa Agatha & Filhas produz outros


produtos do segmento casa, mesa e banho. Um desses é um conjunto de
duas fronhas, para o qual temos as seguintes informações.

CF = R$ 24.000,00
Finanças Corporativas 33

P = R$ 20,00

CVunitário = R$ 12,00
C = R$ 2.000,00

Portanto, para alcançar um ponto de equilíbrio que considere a


depreciação do valor dos produtos, 2.750 conjuntos de fronhas precisam
ser vendidos.

Por sua vez, o ponto de equilíbrio econômico considera o Lucro


Desejado (LD).

Vamos imaginar agora, que a empresa Agatha & Filhas deseje


ter uma margem de lucro de R$ 6.000,00 com a venda do conjunto de
fronhas. Nesse caso, atingirá o ponto de equilíbrio financeiro com a venda
de quantas unidades?

CF = R$ 24.000,00

P = R$ 20,00

CVunitário = R$ 12,00
LD (lucro desejado): R$ 6.000,00

Portanto, para alcançar o lucro desejado de R$ 6.000,00, é


necessário vender 3.750 unidades de conjunto de fronhas.

Margem de Contribuição
O resultado da relação (P – CV), chamado de margem de
contribuição unitária, não apenas é o denominador da equação de ponto
de equilíbrio financeiro, mas indica, ainda, se a produção será viável para
a empresa. Se for positivo, apontará que a produção será benéfica para a
34 Finanças Corporativas

empresa. Porém, nos casos em que for ou nulo ou negativo, apontará que
a produção acarretará prejuízos para a empresa.

No exemplo anterior, a margem de contribuição unitária é igual a


R$ 8,00 ((P – CV) = R$ 20,00 – R$ 12,00 = R$ 8,00), o que significa que, a
cada conjunto de fronhas vendido, a R$ 8,00 entrarão no caixa da Agatha
& Filhas com a finalidade de cobrir as despesas ou custos fixos unitários
(quantidade total de custos/quantidade de produtos vendida).

Caro aluno, você sabe em que facilidade a margem de contribuição


resulta para o gestor financeiro. Conhecendo essa margem, o gestor
financeiro se torna capaz de escolher entre os sistemas de custeio (1)
direto e (2) por absorção, que se diferenciam (Quadro 1) pela forma como
os custos unitários são alocados em relação aos estoques.
Quadro 1 – Diferenças entre sistemas de custeio

Direto Por absorção


i. Separa os custos em dois i. Separa os custos em dois grupos
grupos: fixos e variáveis
ii. Por outro lado, separa os custos em
ii. Separa os custos, também, diretos e em indiretos
em diretos e em indiretos
iii. Utiliza tanto os custos diretos quan-
iii. Utiliza somente os custos di- to os indiretos de uma unidade de de-
retos de uma unidade de deter- terminado produto
minado produto
iv. Adota um critério administrativo ex-
iv. Adota um critério administra- terno
tivo interno
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

Alavancagem Operacional e Ponto de Equilíbrio


Contábil
A alavancagem operacional e o ponto de equilíbrio contábil ou
operacional dependem das mesmas variáveis: receitas e despesas
operacionais. Agora, analisaremos como a variação dos custos
operacionais fixos, do custo operacional variável e do preço unitário
influenciam o ponto de equilíbrio contábil e a alavancagem operacional.
Para isso, utilizaremos um exemplo de Gitman (2006).
Finanças Corporativas 35

Figura 7 – Influência do custo operacional variável e do preço unitário sobre o ponto de


equilíbrio contábil ou operacional e sobre a alavancagem operacional

Fonte: Gitman (2006).

Retomando a nossa empresa Agatha & Filhas, suporemos que o seu


gestor financeiro deseja testar como se sairia, frente aos consumidores,
um aumento no preço de seu edredom king size.

Com os seguintes dados, calcularemos o equilíbrio contábil antes


do aumento de preço king size e a alavancagem operacional após o
aumento de preço.

Antes do aumento de preço

Preço unitário = R$ 320,00

Custo variável unitário = R$ 300,00

Custos fixos = R$ 160.000,00

Depois do aumento de preço

Preço unitário = R$ 400,00


36 Finanças Corporativas

Custo variável unitário = R$ 300,00

Custos fixos = R$ 160.000,00

Portanto, comparando os dois cenários, com um aumento de R$


50,00 no preço unitário do edredom king size, a empresa Agatha & Filhas
deverá vender 1.600 unidades do king size para alcançar o equilíbrio
contábil, metade do que seria necessário sem o aumento do preço
unitário.

Agora, verificaremos um terceiro cenário: se as demais variáveis


permanecerem constantes, qual seria o ponto de equilíbrio contábil se o
preço unitário do edredom king size aumentasse para R$ 500,00?

Aumento do preço unitário para R$ 500,00

Preço unitário = R$ 500,00

Custo variável unitário = R$ 300,00

Custos fixos = R$ 160.000,00


Finanças Corporativas 37

Portanto, a empresa necessitaria vender 800 unidades do edredom


king size para alcançar o equilíbrio operacional, 50% a menos do na
situação anterior.

Aprendemos, com esses exemplos, que um aumento no preço


unitário de um produto pode conduzir a uma redução do equilíbrio
operacional. Mas o que tais exemplos nos informam sobre a alavancagem
operacional? Então, considerando que os custos fixos operacionais
permaneceram inalterados, o lucro operacional crescerá mais do que a
variação de preço unitário.

Considerando que cada unidade vendida de determinado produto


oferece uma contribuição unitária para cobrir os custos fixos e alcançar
lucro, pode-se, com certa facilidade, simular situações de quantidades
vendidas, determinando, assim, qual o volume de vendas que deve ser
atingido para determinado resultado.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos
resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido
como interpretar as projeções econômicas das empresas
com base nos principais indicadores extraídos do balanço
contábil.
38 Finanças Corporativas

Análises de Rotações e Liquidez

OBJETIVO:

Na Administração Financeira, é comum a aquisição, a


incorporação e a cisão de empresas – divisão de uma
empresa em, pelo menos, duas. Esta seção se debruçará
sobre cada um desses conceitos, esclarecendo-os para
você, caro aluno..

Aquisição ou Incorporação
A aquisição costuma ser confundida como uma junção de empresas,
situação em uma organização, após negociar os procedimentos de como
isso se dará com outra, absorve o seu patrimônio. Como veremos, esse
é um caso bastante restrito, enquanto a aquisição, consideravelmente, é
mais ampla.

Basicamente, uma aquisição conta com dois protagonistas, um


adquirente e um adquirido e pode ser definida como a operação em que
um adquirente toma o controle de um ou de mais adquiridos. Caro aluno,
o conceito continua semelhante ao de absorção, não continua? Faremos
um esforço para que essas informações fiquem mais claras para você.
Figura 8 – Aquisição: incorporação de uma empresa por outra

Fonte: Pixabay.
Finanças Corporativas 39

A aquisição é uma operação que pode ser realizada por qualquer


empresa e não envolve somente o patrimônio de outra. Obrigatoriamente,
relacionará um adquirente e um adquirido, no mínimo; e, quando for
finalizada, a empresa adquirida deixará de existir. Além disso, diferentes
tipos societários podem participar de uma operação de aquisição, tanto
como adquirentes quanto como adquiridas. Ainda, está prevista na Lei
das S.A. (BRASIL, 2015) e é regulada pelo Comitê de Pronunciamentos
Contábeis (CPC, 2011).

Por outro lado, no caso da absorção de patrimônio, que pode


acontecer por várias razões, nenhuma dessas características, exceto a
participação de diferentes tipos societários, estará presente. Destacamos
que nada do que é estipulado em uma absorção de patrimônio implica o
necessário fechamento da empresa cujo patrimônio foi absorvido.

Existem diferentes formas por meio das quais viabilizar uma


operação de aquisição, dentre as quais há as três seguintes:

1. Aquisição dos ativos líquidos de uma entidade, que acontece


por meio da compra, no mercado de ações, de todas as cotas-
ação ordinárias de uma empresa – neste caso, forçosamente, a
empresa cujas ações são compradas passa a se comportar como
uma subsidiária da empresa adquirente ou investidora, visto que a
totalidade de seu capital social pertence a tal empresa.

2. Aquisições das ações de uma entidade em quantidade suficiente


para que o seu controle acionário seja tomado – nesta caso, nem
todo o capital social da empresa adquirida pertencerá à empresa
adquirente, mas apenas uma parte majoritária. Então, a empresa
manterá parte dos sócios ordinários antigos, ao passo que a sua
administração, formalmente, passará às mãos da empresa sócia
majoritária.

3. Cisão para a distribuição do patrimônio a terceiros.

4. Aquisição ou incorporação reversa, que, no Brasil, é mais comum


no contexto das empresas estatais – neste caso, a operação é
realizada em três fases: aquisição do controle da estatal por uma
empresa concessionária, criação de uma sociedade “veículo”, cujo
40 Finanças Corporativas

capital está aportado na empresa concessionária, e incorporação,


pela entidade concessionária, da entidade “veículo”.

Fusão
A fusão se trata de um negócio multilateral, como é o caso da
aquisição: requer, pelo menos, dois protagonistas para acontecer. Porém,
se, na seção anterior, vimos que uma das empresas incorporará a outra,
que deixará de existir; nesta situação, as duas (ou todas as empresas,
se houver mais) empresas fundidas deixam de existir, originando uma
organização nova e detentora de todos os bens, de todas as obrigações e
de todos os direitos das anteriores.

A legislação societária (BRASIL, 2015), em seu artigo 228, estabelece


que “fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades
para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e
obrigações”, corroborando que afirmamos acima.
Figura 9 – Cálculos referentes à operação cisão

Fonte: Pixabay.

Apesar de a nova empresa herdar todos os bens, de todas as


obrigações e de todos os direitos das anteriores das que foram fundidas,
Finanças Corporativas 41

isso não acontecerá com os aspectos contábeis. Nesse sentido, todas as


contas patrimoniais, sejam representativas de ativos, sejam representativas
de passivos, são zeradas, transmitindo sobre os itens patromoniais para a
empresa a ser criada.

A conta que receberá a contraparte contábil é denominada “conta


corrente de fusão”. Após cumprir a sua função no interstício entre as
empresas fundidas e a criação de outra empresa, será zerada e substituída
pelas contas que comporão o patrimônio líquido da nova organização.
Prestemos atenção, pois, ao fato de que todos os componentes do Balanço
Patrimonial da nova organização deverão ser zerados, evidenciando o
patrimônio de uma empresa que existirá deste momento em diante, em
nada mais associada às que lhe deram origem.

Cisão
A última operação de reorganização societária que estudaremos é a
cisão. Na prática, consiste na redução da estrutura de uma empresa, a fim
de que outra (ou várias outras) sejam criadas. Caso a cisão seja somente
de um fragmento do patrimônio da empresa, teremos uma cisão parcial.
Por outro lado, se a cisão for de todo o patrimônio da empresa, que,
inclusive, deixará de existir na sua forma antiga, teremos uma cisão total.

No artigo 229 da Lei das S.A. (BRASIL, 2015), encontramos que a


cisão consiste em uma transferência de parcelas do patrimônio de uma
empresa para uma ou mais sociedades, empresa essa que, no caso de uma
cisão total (distribuição de todas as parcelas do seu patrimônio), deixará
de existir; e, no caso de uma cisão parcial, existirá em concomitância com
a empresa (ou empresas) que foram beneficiadas como o seu patrimônio.

Normalmente, a cisão utilizada como uma estratégia de crescimento


organizacional. Sabe por isso acontece, caro aluno? Em nosso país,
existem certos incetivos públicos para empresas cujas operações não
estejam consolidadas. Por isso, é mais vantajoso para os acionistas cindir
uma empresa que alcança a maturidade de suas operações, para que
continuem a aproveitar os incetivos públicos. Essa manobra é totalmente
42 Finanças Corporativas

legal: visa a empregar a legislação brasileira a serviço das nossas empresas


e do seu planejamento tributário.

O planejamento tributário é uma alternativa inteligente de economia


para o caso de cisão, visto que tem a capacidade de auxiliar a empresa a
aproveitar os créditos de impostos, como ICMS e IPI; e, ainda, de permitir
a base de outros impostos seja reduzida, enquanto os pagamentos serão
feitos de forma simplificada.

Em relação aos registros contábeis, a cisão não quase não se


distingue da fusão e da incorporação. Dissemos quase, não foi? No caso
de haver cisão total, existe uma particularidade: como haverá a extinção
das atividades da empresa cindida, os lançamentos contábeis das
empresas resultantes serão muito semelhantes aos de um negócio fruto
de incorporação.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter
compreendido como analisar e interpretar a rotação e o
índice de liquidez das empresas.
Finanças Corporativas 43

Índices Patrimoniais e Estrutura


OBJETIVO:
A expressão “governança corporativa” vem da expressão
inglesa “corporate governance”. Muitos países têm notado a
importância do tema recentemente, embora seja discutido
há mais de uma década, em função da sua preocupação
com as empresas radicadas em seu território e com a sua
fatia do mercado internacional. Aprender o que é e em que
o contribui serão os objetivos desta seção..

Governança Corporativa: Conceito e


Contribuições
Sabemos muito bem que boas práticas de transparência são
fundamentais para aumentar a confiança dos investidores interessados em
nossos negócios, certo, caro aluno? O aumento da transparência, portanto,
será acompanhado de um proporcional crescimento da confiabilidade
das nossas empresas frente ao mercado, ambos os indicadores sendo
tomados, além disso, como uma demonstração de que a nossa gestão
lida, adequadamente, com os recursos financeiros de que dispõe.
Figura 10 – Cálculo de impostos

Fonte: Pixabay.
44 Finanças Corporativas

Falamos várias coisas, mas não dissemos o que transparência e


confiabilidade têm em comum com a governança corporativa. Caro aluno,
você arriscaria um palpite? Quando consolidamos uma gestão adequada
dos recursos financeiros a nosso dispor, estaremos, necessariamente,
alinhados com a legislação fiscal e com a legislação societária, alinhamento
esse que, comumente, é conhecido como governança corporativa.

NOTA:

Ao afirmamos que a gestão adequada está alinhada com a


legislação fiscal e com a legislação societária, desejamos
destacar que esses são critérios que definem a gestão
adequada. Portanto, sem esses critérios, poderemos
ter gestões de quaisquer tipos que formos capazes de
conceber, mas nenhum poderá ser considerado adequado.

Será que você, caro aluno, conseguiu imaginar o que é governança


corporativa? Trata-se de um conjunto de práticas cujo objetivo é o de
maximizar o desempenho de um negócio, protegendo, para isso, as
partes interessadas: credores, investidores e, também, funcionários. A
consequência mais óbvia de se implementar tais práticas é facilitar o
acesso da empresa ao capital, visto que a empresa se transformará em
um dos focos de interesse do mercado.

A análise das práticas de governança corporativa, quando é


aplicada ao mercado de capitais, envolve, principalmente, transparência
na prestação de contas, confiabilidade frente ao mercado e equidade no
tratamento dos tipos de acionistas. No caso dos investidores, que são os
principais afetados por essas práticas, veremos, como resultado dessa
aplicação, decisões de investimento mais assertivas. Como a governança
corporativa determina as formas como poderão atuar nas empresas, a sua
influência no desempenho empresarial será maior e mais clara para todos
os envolvidos.

Nesse contexto, aplicar as técnicas cumprirá o objetivo de aumentar


o valor de mercado da organização que receberá o investimento,
Finanças Corporativas 45

expandindo, também, o patrimônio do investidor. Tudo isso é possível


porque a governança corporativa reduz o custo de capital das empresas,
tornando-se atrativa para o mercado de capitais e tendo as suas operações
ampliadas. Assim, apesar de obter juros sobre o seu capital menores,
devido à redução do custo de capital para a empresa, o investidor lucrará
na forma de receitas operacionais.

IMPORTANTE:

Quando investidores aportam o seu capital nas empresas,


sujeitam-se ao que é conhecido como risco de apropriação
indevida. Já ouviu falar disso, caro aluno? É uma situação
em que parte dos lucros rendidos por um investimento são
retidos, indevidamente, pelos gestores de uma empresa.
As práticas de gestão corporativa são apreciadas pelos
investidores na medida em que coíbem esse tipo de
sonegação, protegendo-os contra a ganância dos gestores
e dos acionistas.

Até este momento, discutimos a importância da transparência e


da confiabilidade para o crescimento de uma empresa e como mantêm
relação com as práticas de governança contábil. Ainda não abordamos,
portanto, o que é o conceito de equidade no tratamento dos tipos de
acionistas.

Começaremos por uma definição da palavra “equidade”, que,


afinal de contas, não é tão comum assim. Equidade, de acordo com
Oxford Languages (2021), é uma “virtude de quem ou do que (atitude,
comportamento, fato etc.) manifesta senso de justiça, imparcialidade,
respeito à igualdade de direitos”. Logo, conseguimos perceber que
equidade e justiça tem uma relação íntima, mas não somos capazes,
ainda, de determinar que relação é essa.
46 Finanças Corporativas

Figura 11 – Justiça

Fonte: Pixabay.

Avançando um pouco mais, podemos estabelecer que o conceito


de equidade com o qual trabalharemos será um pouco mais restrito do que
esse e muito menos parecido com o conceito de igualdade. Assumiremos
que equidade é uma adaptação dos normas existentes à realidade de
cada indivíduo ou agente presente em um meio, respeitando, para isso,
os critérios de justiça. Por sua vez, a igualdade proclama apenas que as
mesmas normas devem valer para os indivíduos, sem haver exceções.

NOTA:

Ficou clara, para você, a diferença entre equidade e


igualdade, caro aluno? Então, você deve ter compreendido
que, enquanto a igualdade preza pela extensão das mesmas
normas a todos os indivíduos, a equidade prevê, de um
modo mais prático, que as normas precisam ser adaptadas
à realidade de cada indivíduo e de cada meio, visto que,
de indivíduos que não têm as mesmas condições, não se
esperar comportamentos idênticos em relação às normas.
Finanças Corporativas 47

Avançando, pela segunda e última vez, em relação ao conceito de


equidade, podemos, finalmente, admitir o que é equidade no tratamento
dos tipos de acionistas. Trata-se de adequar as normas (as empresariais,
no caso de uma empresa; e as legais, no caso da Justiça) ao contexto
de cada participantes do mercado, assegurando-lhes a proteção dos
direitos de acesso à informação contábil, sem a adoção de práticas
discriminatórias entre tipos de investidores, entre tipos de acionistas,
entre tipos de funcionários e entre quaisquer outros agentes.

Os agentes da governança corporativa devem prestar contas de


seus atos administrativos, a fim de justificar sua eleição, remuneração e
desempenho. Também devem zelar pela continuidade da empresa, por
meio de decisões que privilegiem a perenidade e a sustentabilidade em
relação ao resultado a curto prazo, sem deixar de considerar sua função
social e seu dever de contribuir para ações educativas e culturais, ao
mesmo tempo em que respeita o meio ambiente.

Conformidade das Práticas de Governança


Corporativa
Anteriormente, mencionamos que a gestão adequada de
uma empresa, necessariamente, obedece às leis da sociedade e
aos regulamentos corporativos. A isso, damos, também, o nome de
conformidade. Dentre outras coisas, a conformidade será fundamental
para que as operações de uma empresa adentrem o mercado
internacional, tendo em vista que a conformidade perpassará, também,
pelos indicadores de transparência e de confiabilidade da empresa.

Portanto, podemos afirmar que, se uma empresa, ao aplicar as


técnicas de governança corporativa, atingiu o patamar de conformidade,
houve, por parte dos diferentes mercados, dos investidores e dos
diversos agentes financeiros, um reconhecimento do seu potencial e da
sua seriedade, elementos-chave da investida de qualquer empresa no
mercado internacional.
48 Finanças Corporativas

Figura 12 – Conformidade

Fonte: Pixabay.

Com vistas a se elevar ao patamar da conformidade, uma


empresa deve investir em um modelo de governança corporativa que,
minimamente, paute-se nas seguintes boas práticas:

•• Atribuição de papéis e de responsabilidades a todos os agentes


em seu âmbito.

•• Explicitação dos padrões de desempenho esperados para cada


papel atribuído.

•• Definição de uma estrutura organizacional coerente e de como é


atravessada pela gestão de processos.

•• Delimitação de cada tarefa presente na organização.

•• Determinação de objetivos organizacionais em função do tempo


que demorarão para ser atingidos (curto, médio e longo prazos).

•• Adoção de mecanismos de controle condizentes com os objetivos


institucionais.

•• Instituição de mecanismos de avaliação e de recompensa de


todos os agentes sob a sua gerência.
Finanças Corporativas 49

Com base nessas boas práticas, você conseguiu ter uma visão
de como a governança corporativa atua? Então, antes de finalizarmos
esta unidade, esclarecemos isso para você. A criação de regras para os
diferentes relacionamentos que existem em uma empresa, estabelecendo
uma hierarquia entre os papéis, é o princípio da gestão corporativa. Isso
significa que os papéis sobre os quais recai a responsabilidade de decidir,
de autorizar e de exigir, os chamados gestores funcionais, devem ter total
controle sobre todos os segmentos e sobre todos os níveis da empresa.
Abaixo, os gerentes de processos coordenarão atividades e responderão
às demandas dos gestores funcionais. Por fim, há os funcionários, que
executarão os procedimentos de produção, de acordo com as instruções
recebidas dos gerentes de processos.

Com a manutenção de uma hierarquia rígida na cadeia da tomada


de decisões, a governança corporativa prima por um ambiente respeitoso,
harmônico e organizado, distribuindo essas qualidades por toda a
empresa.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter
compreendido como identificar a robustez da estrutura de
capitais e do balanço patrimonial de uma empresa.
50 Finanças Corporativas

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