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Finanças

Corporativas
Financiamento e Investimento
Empresarial
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ
AUTORIA
André de Faria Thomáz
Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas
(2006); e mestre (2011) e doutor (2018) em Administração pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná. Atuo como contabilista e como professor,
nas modalidades presencial e a distância, nas áreas de auditoria contábil
de departamentos, de finanças e de pessoal.

Durante minha atuação como contabilista, tenho vasta experiência


na área de Obrigações Acessórias e Obrigatórias. Por outro lado, ao longo
de minha experiência como docente, além de ter sido coordenador de
curso, lecionei, principalmente, as seguintes disciplinas: Contabilidade
Básica; Economia; Planejamento e Contabilidade Tributária; Contabilidade
de Custos e Análise de Custos; Gestão por Processos; Estrutura das
Demonstrações Contábeis; Análise das Demonstrações; Contabilidade
Gerencial; Teoria da Contabilidade; Contabilidade Intermediária;
Contabilidade Internacional; Auditoria; Contabilidade Empresarial; Controle
Interno; Matemática; Logística; Recursos Humanos; e Gestão de Risco.

Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência


de vida àqueles que se iniciam em suas profissões. Por isso, fui convidado
a integrar o elenco de autores independentes da editora TeleSapiens.
Estou muito feliz por poder ajudá-lo, aluno, nesta fase da vida de muito
estudo e de muito trabalho.
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Análise de Financiamento e Investimento das Empresas..........10
Alavancagem Operacional........................................................................................................10

Grau de Alavancagem Operacional.................................................................................... 12

Análise do Ponto de Equilíbrio Contábil, Financeiro e Econômico............. 14

Necessidades de Alavancagem das Empresas ............................. 20


Agentes Financeiros e suas Relações no Âmbito do Sistema Financeiro
Nacional................................................................................................................................................. 20

Segmentos do Mercado Financeiro...................................................................................26

Grupo de Investidores do Mercado Financeiro.........................................................27

Política Monetária Brasileira.....................................................................................................29

PAY-BACK e Métodos de CAPM...............................................................31


Análises de DRE como Ferramenta Financeira............................... 36
Finanças Corporativas 7

03
UNIDADE
8 Finanças Corporativas

INTRODUÇÃO
Como sabemos, a constituição do orçamento das empresas
influencia tanto sua gestão financeira quanto sua gestão administrativa.
Nesse sentido, caro aluno, você pensou no quanto as empresas dependem
das técnicas orçamentárias, com o ensejo de que o planejamento e o
financiamento de suas atividades se harmonizem?

Com o objetivo de que atinjamos essa harmonização durante o


exercício de nossa profissão, focaremos, nesta unidade, o ciclo operacional
de uma empresa. Veremos o ciclo operacional desde o ponto em que se
inicia, a compra de insumos; até o ponto em que se finaliza, o recebimento
dos retornos das vendas.

Quando pensamos em uma gestão financeira eficiente,


devemos considerar que o ciclo operacional precisa ser acompanhado
periodicamente, visto que, quanto menores forem os prazos transcorridos
entre as suas etapas, mais aprimorados estará o ciclo operacional, e
maiores serão os lucros da empresa.

O ciclo operacional engloba atividades tanto atividades de produção


quanto atividades de comercialização dos produtos, sejam bens, sejam
serviços. Assim sendo, para determinar o seu lucro líquido, uma empresa
deve, primeiramente, calcular o seu lucro operacional e descontar-lhe as
despesas financeiras, que não podem ser consideradas resultantes das
suas etapas e dos seus setores produtivos, como são os casos de impostos
e de juros sobre financiamentos. Para que o lucro líquido apresente bons
índices, bons, também, devem ser o desempenho operacional e o lucro
operacional, com os quais mantém relação diretamente proporcional.

Bons estudos!
Finanças Corporativas 9

OBJETIVOS
Olá, aluno! Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Quando finalizar esta
etapa de nossa disciplina, você terá desenvolvido, com o nosso auxílio, as
seguintes competências relacionadas às técnicas de orçamento de capital
e âss estratégias financeiras:

1. Aplicar os métodos de análise de financiamento e investimento


nas empresas, discernindo sobre as melhores alternativas de
captação de recursos financeiros.

2. Avaliar e mensurar a necessidade de alavancagem das empresas,


avaliando riscos e benefícios.

3. Aplicar os métodos do pay-back e CAPM para avaliar o resultado


de investimentos nas empresas.

4. Utilizar as DRE – Demonstrações de Resultados do Exercício como


ferramenta de análise e avaliação financeira de uma empresa.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
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Análise de Financiamento e Investimento


das Empresas

OBJETIVO:

Quando conhecem bem as suas despesas operacionais


fixas, as empresas conseguem formular estratégias para
maximizar a sua lucratividade. Trata-se, então, de praticar
o que chamamos, no título desta seção, de alavancagem
operacional. Mas, caro aluno, se tentássemos, seríamos
capazes de mensurar a alavancagem operacional de
uma empresa? Na sua opinião, os custos associados às
despesas operacionais, caso variem, impactam, de alguma
maneira, a alavancagem operacional?

Para responder a essas e a outras questões, dependeremos


de saber o que é grau de alavancagem operacional e
como está relacionado com o retorno médio operacional.
Portanto, desenvolver esses conhecimentos é o objetivo
desta unidade.

Vamos estudar os conceitos básicos e as especificidades do grau de


alavancagem operacional que está ligada diretamente ao retorno médio
do contábil, do ponto de equilíbrio contábil, financeiro e econômico e do
impacto da variação de custos no ponto de equilíbrio e na alavancagem
operacional. Motive-se e acompanhe nossos passos bem de perto!

Alavancagem Operacional
A alavancagem operacional, como você, aluno, deve ter
compreendido no decorrer dos textos introdutórios, baseia-as nas
despesas e nos custos fixos e variáveis das empresas – sejam os de
caráter operacional, sejam os de caráter financeiro – para maximizar as
suas taxas de lucratividade.
Finanças Corporativas 11

Existe uma diferença muito importante entre despesa operacional


e despesa financeira: a sua decorrência das atividades organizacionais.
Enquanto uma despesa operacional provém das necessidades das etapas
e dos setores produtivos, como acontece com os gastos com os insumos,
que servem de matéria-prima para a linha de produção, as despesas
financeiras resultam dos gastos realizados e assumem a forma de juros e
de tributos. Na hipótese de contratarmos um empréstimo bancário para a
aquisição de novas máquinas, com o objetivo de expandir a capacidade
produtiva de nossas empresas, o valor do empréstimo deverá ser
considerado despesa operacional, enquanto os tributos incidentes, como
o IOF, e os juros cobrados pagos entrarão na lista de despesas financeiras.

Para caracterizar a sua alavancagem operacional, uma empresa


deve determinar quais são os custos fixos do seu processo produtivo.
A seguir, há um esquema elaborado por Kato (2012), que nos ajudará a
compreender a relação entre alavancagem operacional e custos fixos.
Figura 1 – Como se verifica a alavancagem operacional?

Fonte: Kato, 2012.

No esquema, temos duas situações: Caso 1 e Caso 2. Caso 2 nos


apresenta um cenário pessimista, com redução de vendas, ao passo que
Caso 1 é ou otimista ou realista, com aumento de vendas. Para analisar
ambos os cenários, consideremos que a previsão de vendas – indicada na
12 Finanças Corporativas

coluna entre Caso 2 e Caso 1, em que constam todas as demais previsões


– tenha sido de R$ 10.000,00.

Comparando Caso 2 e Caso 1 com as previsões, notamos que Caso


2 admite uma redução das vendas em 50%. Ao contrário, por sua vez, Caso
1 adota um aumento das vendas em 50%. Nas duas situações, devido às
próprias naturezas, os custos fixos são os mesmos, e os custos variáveis,
proporcionalmente, acompanham as taxas de evolução e de involução
das vendas: no Caso 2, caem à metade do previsto (de R$ 5.000,00,
passam para R$ 2.500,00); e, no Caso 1, equivalem a 1,5x, em que x é a
previsão (de R$ 5.000,00, passam para 1,5 X R$ 5.000,00 = R$ 7.500,00).

O Lucro Antes dos Juros e do Imposto de Renda (Lajir) equivale ao


lucro operacional e é mensura sem o desconto das despesas operacionais
e financeiras, entrando na demonstração de resultado do exercício em
questão. No Caso 2, o valor do Lucro Antes dos Juros e do Imposto de
Renda (Lajir) é igual a R$ 0,00. Por outro lado, no Caso 1, o valor dobra
de R$ 2.500,00 (previsto) para R$ 5.000,00. Isso significa que, no Caso 2,
nenhum lucro sobra após o pagamento das despesas e dos tributos.

Caro aluno, você faz ideia do que podemos concluir com base na
comparação dos Caso 2 com o Caso 1? Perceba que, como os custo fixos,
necessariamente, são iguais nos dois cenários, o Caso 1 demonstra uma
alavancagem operacional em relação ao Caso 1, uma vez que, com as
mesmas condições de produção, aumenta o lucro operacional em 50%,
quando a referência é a precisão; e em 200%, quando a referência é o
Caso 2.

Grau de Alavancagem Operacional


Aumentos no volume de vendas das empresas costumam resultar
em lucros maiores. No entanto, volume de vendas e lucratividade não
grandezas proporcionais. Basicamente, devemos entender que um
aumento de 20% no volume de vendas não implicará um aumento de
20% na lucratividade. Mas por que isso acontece? Não parece lógico
que, se aumentarmos nossas vendas, aumentaremos, também, a nossa
lucratividade? Isso não apenas parece lógico: é verdadeiro. Porém, com
Finanças Corporativas 13

um de 20% no volume das vendas, considerando que nossos custos


fixos permaneçam os mesmos – o que, em parte relevantes dos casos,
acontece –, nada nos impedirá de atingir de lucratividade maiores do que
20%.
Figura 2 – Índices de lucratividade

Fonte: Pixabay.

A lucratividade de que falamos é o índice Laji, que conhecemos


no fim da subseção anterior. Para encontrá-lo, é necessário saber como
funciona o impacto da variação das vendas sobre o Laji. Utilizaremos,
então. o cálculo do Grau de Alavancagem Operacional (GAO).

Adotando o Caso 1 de Kato (2013) – cujas vendas e cujo Lajir


aumentaram, respectivamente, 50% e 100% em relação às previsões –
temos o seguinte GAO.
14 Finanças Corporativas

Portanto, se GAO é igual a 2, sabemos que, enquanto o índice de


vendas recebeu um acréscimo de 50%, o Laji teve um crescimento de
100% (2 X 50%). Caso os custos fixos aumentassem no mesmo passo que
o volume de produção, GAO seria igual a 1, e não haveria alavancagem
de produção. Na medida em que nos fornece um número que, ao ser
multiplicado pela variação no volume de vendas, resulta no quanto
isso influenciou o lucro operacional de uma empresa, o GAO mede a
suscetibilidade do lucro operacional ao volume de vendas.

Análise do Ponto de Equilíbrio Contábil,


Financeiro e Econômico
O ponto de equilíbrio operacional é aquele em que as receitas
operacionais equivalem às despesas operacionais. Podemos estudá-lo
de três perspectivas: contábil, financeira e econômica.

A análise do ponto de equilíbrio operacional, também conhecida


como análise de custo-volume-lucro (CVL), servirá para que calculemos
o volume de vendas necessário para cobrir os custos operacionais de
nossas empresas; e para que projetemos a rentabilidade de diferentes
níveis de vendas (KATO, 2012).

O ponto de equilíbrio contábil ou operacional se estabelece quando


o volume de lucros é suficiente para pagar as despesas operacionais,
sendo o lucro operacional igual a zero. A seguir, está a equação do ponto
de equilíbrio contábil.

QC = equilíbrio contábil

CF = custos fixos

P = preço unitário

CVunitário = custos variáveis unitários

Exemplo Suponhamos que a empresa Agatha & Filhas tenha custos


fixos de R$ 80.000,00 e custos variáveis unitários de R$ 120,00, vendendo
Finanças Corporativas 15

seus cobertores a R$ 200,00 (por unidades). Considerando esse contexto,


o valor dos cobertores é suficiente para cobrir os custos operacionais?
Para descobrir essa informação, devemos aplicar equação do ponto de
equilíbrio contábil.

Para cobrir os custos operacionais, a empresa precisa vender 1.000


unidades do produto.

Da perspectiva do ponto de equilíbrio financeiro, não observaremos


custos fixos que não sejam valores pagos pela empresa – ou seja, valores
que, em vez de serem pagos, deixam de ser recebidos, impactando,
igualmente, o ponto de equilíbrio contábil. Um caso desse tipo é o da
depreciação (D). Para realizar o cálculo do ponto de equilíbrio financeiro,
precisaremos adaptar a equação anterior à seguinte forma.

Além de cobertores, a empresa Agatha & Filhas produz outros


produtos do segmento casa, mesa e banho. Um desses é um conjunto de
duas fronhas, para o qual temos as seguintes informações.

CF = R$ 24.000,00

P = R$ 20,00

CVunitário = R$ 12,00

C = R$ 2.000,00

Portanto, para alcançar um ponto de equilíbrio que considere a


depreciação do valor dos produtos, 2.750 conjuntos de fronhas precisam
ser vendidos.

Por sua vez, o ponto de equilíbrio econômico considera o Lucro


Desejado (LD).
16 Finanças Corporativas

Agora, vamos imaginar que a empresa Agatha & Filhas deseje


ter uma margem de lucro de R$ 6.000,00 com a venda do conjunto de
fronhas. Nesse caso, atingirá o ponto de equilíbrio financeiro com a venda
de quantas unidades?

CF = R$ 24.000,00

P = R$ 20,00

CVunitário = R$ 12,00

LD (lucro desejado): R$ 6.000,00

Portanto, para alcançar o lucro desejado de R$ 6.000,00, é


necessário vender 3.750 unidades de conjunto de fronhas.

O resultado da relação (P – CV), chamado de margem de


contribuição unitária, não apenas é o denominador da equação de ponto
de equilíbrio financeiro, mas indica, ainda, se a produção será viável para
a empresa. Se for positivo, apontará que a produção será benéfica para a
empresa. Porém, nos casos em que for ou nulo ou negativo, apontará que
a produção acarretará prejuízos para a empresa.

No exemplo anterior, a margem de contribuição unitária é igual a


R$ 8,00 ((P – CV) = R$ 20,00 – R$ 12,00 = R$ 8,00), o que significa que, a
cada conjunto de fronhas vendido, a R$ 8,00 entrarão no caixa da Agatha
& Filhas com a finalidade de cobrir as despesas ou custos fixos unitários
(quantidade total de custos/quantidade de produtos vendida).

A alavancagem operacional e o ponto de equilíbrio contábil ou


operacional dependem das mesmas variáveis: receitas e despesas
operacionais. Agora, analisaremos como a variação dos custos
operacionais fixos, do custo operacional variável e do preço unitário
influenciam o ponto de equilíbrio contábil e a alavancagem operacional.
Para isso, utilizaremos um exemplo de Gitman (2006).
Finanças Corporativas 17

Figura 3 – Influência do custo operacional variável e do preço unitário sobre o ponto de


equilíbrio contábil ou operacional e sobre a alavancagem operacional

Fonte: Gitman, 2006.

Retomando a nossa empresa Agatha & Filhas, suporemos que o seu


gestor financeiro deseja testar como se sairia, frente aos consumidores,
um aumento no preço de seu edredom king size.

Com os seguintes dados, calcularemos o equilíbrio contábil antes


do aumento de preço king size e a alavancagem operacional após o
aumento de preço.

Antes do aumento de preço

Preço unitário = R$ 320,00

Custo variável unitário = R$ 300,00

Custos fixos = R$ 160.000,00


18 Finanças Corporativas

Depois do aumento de preço

Preço unitário = R$ 400,00

Custo variável unitário = R$ 300,00

Custos fixos = R$ 160.000,00

Portanto, comparando os dois cenários, com um aumento de R$


50,00 no preço unitário do edredom king size, a empresa Agatha & Filhas
deverá vender 1.600 unidades do king size para alcançar o equilíbrio
contábil, metade do que seria necessário sem o aumento do preço
unitário.

Agora, verificaremos um terceiro cenário: se as demais variáveis


permanecerem constantes, qual seria o ponto de equilíbrio contábil se o
preço unitário do edredom king size aumentasse para R$ 500,00?

Aumento do preço unitário para R$ 500,00

Preço unitário = R$ 500,00

Custo variável unitário = R$ 300,00

Custos fixos = R$ 160.000,00


Finanças Corporativas 19

Portanto, a empresa necessitaria vender 800 unidades do edredom


king size para alcançar o equilíbrio operacional, 50% a menos do na
situação anterior.

Aprendemos, com esses exemplos, que um aumento no preço


unitário de um produto pode conduzir a uma redução do equilíbrio
operacional. Mas o que tais exemplos nos informam sobre a alavancagem
operacional? Então, considerando que os custos fixos operacionais
permaneceram inalterados, o lucro operacional crescerá mais do que a
variação de preço unitário.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter
compreendido como aplicar os métodos de análise de
financiamento e investimento nas empresas, discernindo
sobre as melhores alternativas de captação de recursos
financeiros.
20 Finanças Corporativas

Necessidades de Alavancagem das


Empresas

OBJETIVO:

O funcionamento do sistema financeiro de um país define


as decisões tomadas em termos de política econômica.
Como gestores financeiros, devemos saber essa relação
se reflete nas atividades empresariais, para que sejamos
capazes de realizar previsões financeiras que atendam
tanto às exigências legais quanto às exigências da empresa
em que trabalhamos..

O objetivo maior de uma política econômica é incentivar o


desenvolvimento das empresas e, consequentemente, o desenvolvimento
do país. Normalmente, o controle financeiro é muito importante para que isso
aconteça, porém, em tempos em que os mercados mundiais estão integrados,
transformou-se em algo imprescindível. Nesse sentido, nesta seção,
estudaremos o Sistema Financeiro Nacional (SNF), cujas funções são controlar
e dinamizar os recursos movimentado pelos vários agentes econômicos.

Agentes Financeiros e suas Relações no


Âmbito do Sistema Financeiro Nacional
Os agentes econômicos, considerados, ao mesmo tempo,
fornecedores e captadores de recursos, constituem a dinâmica financeira
do Brasil. Para que recursos financeiros sejam oferecidos, na forma
de créditos, às empresas que necessitem de recursos financeiros, é
necessário que certos agentes reservem uma quantidade do seu capital
para esse fim, em troca de uma remuneração. Portanto, as empresas
que dependem de recursos externos para custear suas operações
devem angariá-los entre os diversos agentes econômicos do mercando,
submetendo-se ao pagamento de juros indenizatórios. Na Figura 4, há um
esquema das relações do SFN (ASSAF NETO; LIMA, 2010, p. 37).
Finanças Corporativas 21

Figura 4 – Relações no âmbito do SFN

Fonte: Assaf Neto; Lima (2010, p. 37)

Por sua vez, os governos também reservam certa quantidade


de capital para emprestar às empresas, em troca do pagamento de
juros indenizatórios. A fonte desse recurso é o pagamento de tributos,
como acontece com todas as atividades públicas. Nesse sentido, o
planejamento financeiro do nosso país conta com um órgão exclusivo, o
Conselho Monetário Nacional (CMN). Segundo Assaf Neto e Lima (2010),
Como órgão normativo, por excelência, não lhe cabem
funções executivas, sendo o responsável pela fixação das
diretrizes políticas monetária, creditícia e cambial do País.
Pelo envolvimento, o CMN acaba se transformando em
um conselho de política econômica.

Suas funções específicas são:

a. a fixação de diretrizes e regras da política cambial;

b. a regulamentação das taxas de juros e comissões,


quando necessário, para a prática das operações nas
instituições financeiras;
22 Finanças Corporativas

c. a regulação dos procedimentos para a constituição de


instituições financeiras, seus métodos de contabilização.

d. a definição de índice de capital mínimo e orientação


quanto aos tipos de crédito a serem ofertados por essas
organizações;

e. a formulação da política de moeda com o controle do


volume de dinheiro circulante na economia. (ASSAF NETO;
LIMA, 2010, p. 59)

O Banco Central do Brasil (Bacen), na cadeia da regulação das


atividades financeiras do Estado financeiro, é responsável por executar as
determinações do CMN. Foi criado pela lei 4.595, de 21 de dezembro de
1964, e funciona como fiscal do nosso sistema financeiro, monitorando a
saúde das reservas nacionais e a liquidez da nossa economia.

REFLITA:

Caro aluno, não é verdadeiro afirmar que, sem liquidez,


as empresas não conseguem financiar suas operações
cotidianas? Agora, imagine a dinâmica de uma empresa
do tamanho do Brasil, cujas movimentações atingem a
casa dos trilhões de dólares anuais. Consegue dimensionar
como é a liquidez demanda para um negócio como
esse? Apesar de ser difícil, alguém – no caso, o Conselho
Monetário Nacional – precisa preocupar-se com isso.

Segundo Pinheiro (2009), de forma detalhada, cabem ao Bacen as


seguintes funções:

1. expedir papel moeda e moeda metálica, conforme for estabelecido


pelo CMN;

2. receber os recolhimentos compulsórios dos bancos comerciais e


dos depósitos voluntários das instituições financeiras do país;

3. efetivar redescontos e empréstimos às instituições financeiras,


focando a política econômica governamental e a solução e
problemas de liquidez;

4. orientar a compensação de cheques e de outros títulos;


Finanças Corporativas 23

5. comprar e vender títulos públicos federais;

6. expedir títulos de responsabilidade própria, levando em


consideração o que for estabelecido pelo CMN;

7. controlar o crédito, sob todas as suas formas;

8. fiscalizar as instituições financeiras e as punir, se isso for necessário;

9. permitir o funcionamento de instituições financeiras privadas,


estipulando a sua dinâmica operacional;

10. fiscalizar a intervenção de outras empresas nos mercados


financeiros e no mercado de capitais;

11. controlar do fluxo de capitais estrangeiros e garantir o adequado


funcionamento do mercado cambial.

O terceiro órgão brasileiro regulador das atividades financeiras é


a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), cujo foco são as transações
financeiras ocorridas no mercado de capitais. Tais transações podem
envolver investidores internos e externos e os ambientes nacionais e
internacionais.

A lei 6.385, de 7 de dezembro de 1976, foi responsável por criar a CVM,


atribuindo-lhe a função de fiscalizar o mercado de capitais, viabilizando
as necessidades sociedades anônimas de capital aberto. Para cumprir
essa função, a CMV utiliza diferentes mecanismos de financiamento para
suprir o aporte de capital das empresas; e lhes garante uma importante
flexibilidade no relacionamento com mercados e com empresas de
vários segmentos e de distintos países. A CVM espera, em troca, que
os resultados financeiros das empresas beneficiadas contribuam para
promover a atratividade do Brasil no mercado internacional.

Entre as atividades existentes no mercado de capitais, há a


intermediação financeira, que consiste no repasse de recursos financeiros
de agentes superavitários, por intermediários, a empresas que necessitem
de financiamento, mediante o pagamento de taxas de juros. Como as taxas
de juros praticadas são maiores, a intermediação financeira atende às
expectativas dos investidores e resulta, ainda, produzirão em lucros para
24 Finanças Corporativas

os intermediários. Na Figura 4, vemos como a intermediação financeira


funciona.

Fonte: Assaf Neto e Lima (2010, p. 81).

A coluna laranja da Figura 4 indica as atividades de intermediação.


Do lado esquerdo, há a captação de recursos junto aos investidores,
em troca do pagamento de juros; e, do lado direito, há o empréstimo às
empresas, em troca de taxas de juros maiores do que as anteriores. A
diferença entre as taxas de juros pagas aos investimentos e pagas pelas
empresas representa o lucro dos intermediadores. Alguns dos principais
elementos de intermediação que encontramos no SFN são os seguintes:

a. bancos comerciais, cuja finalidade é atender às carências


financeiras dos diversos agentes financeiros que compõem o
mercado. Atualmente, são as maiores instituições financeiras do
país;

b. bancos de investimentos, que suprem, com suas operações, a


médio e a longo prazos, o capital fixo das empresas as operações
realizadas a médio e longo prazos para a formação do capital fixo;

SAIBA MAIS:

Assaf Neto e Neto (2010) apontam as funções gerais dos


bancos de investimentos.
1. fortalecimento do capital das empresas, tanto do
capital fixo quando do capital de giro;
2. financiamento das operações produtivas;
3. ordenação dos diferentes setores econômicos;
4. maior eficiência empresarial.
Finanças Corporativas 25

c. sociedades cooperativas, que reúnem grupos de trabalhos de um


mesmo segmento, com o objetivo de que a parceria os beneficie
mutuamente, sem visar ao lucro diretamente;

d. sociedades de crédito, de financiamento e de investimento (SCFI),


cujas atividades são financiadas por meio da colocação de letras
de câmbio – por exemplo, financiam bens de consumo duráveis
por meio de crédito direto ao consumidor (CDC).

De acordo com Frescura (2010), as operações autorizadas para as


sociedades de crédito podem ser divididas em operações de ponta de
captação, em operações de ponta de empréstimos e em operações de
ponta de serviços.

A operações de ponta de captação têm as seguintes funções


(FRESCURA, 2010):

• Reunir recursos financeiros isentos de remuneração por juros


e com taxas menores, independentemente das instituições de
origem, desde que o repasse seja legal).

• Retirando a exigência de emissão de certificado, tornar os


depósitos mais interessantes para seus associados.

• Arrecadar empréstimos e repasses instituições nacionais e


internacionais do mercado financeiro, utilizando, se forem
necessários, depósitos interbancários.

Por sua vez, as operações da ponta de empréstimos têm as


seguintes funções (FRESCURA, 2010):

• Distribuição de créditos em troca de garantias, como acontece


no crédito rural, sendo uma opção exclusiva dos associados das
sociedades de crédito.

• Injeção de recursos financeiros no mercado, considerando as


características e as exigências legais de cada tipo de investimento.

Por fim, as operações da ponta de serviços têm, dentre outras, as


seguintes funções (FRESCURA, 2010):

• Serviços técnicos para outras cooperativas de créditos.


26 Finanças Corporativas

• Administração dos recursos de cooperativas singulares filiadas,


caso se trate de uma cooperativa central de crédito.

• Serviços de cobrança, de custódia, de pagamentos e de


recebimentos de instituições públicas e privadas.

• Serviços de correspondente no Brasil, de acordo com as


prerrogativas legais.

• Assessoramento na busca de crédito da instituição contratante,


com o intuito de tornar possível a conceção de crédito, e na busca
de melhores taxas de juros junto ao Tesouro Nacional, como forma
de liquidar o crédito contratado com os credores originais e de
pagá-lo com condições melhores.

• Distribuição de cotas de fundos de investimentos.

Para a execução e para o acompanhamento das atividades dos


intermediários financeiros, o mercado financeiro se divide em três
segmentos, cujas responsabilidade são bastante específicas.

Segmentos do Mercado Financeiro


Como acabamos de mencionar, o mercado financeiro está
segmentado em quatro partes: mercado de crédito, mercado cambial e
mercado de capitais.

O mercado de crédito engloba as operações contratadas de bancos


e de sociedades de crédito que tenham a finalidade de suprir a demanda
por capital fixo, que inclui a aquisição de bens, e por capital de giro, de
acordo com o interesse de pessoas jurídicas (empresas) e de pessoas
físicas.

Por seu turno, a função do mercado cambial é mais complexa:


controlar, nas negociações internacionais, a aplicação de moedas
estrangeiras. Necessariamente, tais negociações serão de importação e
de exportação, cujos dados serão compilados pelos agentes reguladores
desse mercado. Duas são as principais atividades de tais agentes
reguladores: converter moedas estrangeiras em moeda nacional, a fim de
viabilizar as transações; e controlar as taxas de juros, com vistas a gerir o
Finanças Corporativas 27

seu impacto sobre a economia e a combater a desvalorização, baseando-


se no valor das moedas brasileiros frente ao da moeda nacional.

Por fim, o mercado de capitais é o mais importante para o nosso


desenvolvimento econômico. Relacionado, diretamente, ao crescimento
das operações financeiras em território brasileiro, é controlado pelo
SFN. Dentre outras, cumpre a função de distribuir títulos mobiliários,
capitalizando as instituições empresariais e movimentando a nossa
economia.

Apesar de ser controlado pelo SFN, o mercado de capitais depende


da integração e da atuação de diversos agentes econômicos, como
empresas e investidores. Na condição de agentes normatizadores, temos,
ainda, a CVM e a Bolsa de Valores; e, na condição de agentes operacionais,
temos, dentre outros, os investidores (institucionais, pessoas jurídicas e
pessoas físicas), as sociedades anônimas de capital aberto e agentes
autônomos de investimento.

Grupo de Investidores do Mercado


Financeiro
Existem seis tipos de grupos de investidores institucionais:

a. fundos mútuos de investimentos;

b. fundos externos de investimentos;

c. sociedades de capitalização;

d. sociedades seguradoras;

e. clubes de investimentos em ações;

f. entidades de previdência privada.

As transações de tais grupos de investidores institucionais no


mercado de capitais dependem do intermédio de títulos mobiliários, que
representam o capital social das organizações e podem, por isso, ser
negociados nas formas de ações, de bônus, de debêntures e de outros
títulos.
28 Finanças Corporativas

Em 2008, a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e a Bolsa de


Valores de São Paulo, foram fundidas na BM&F Bovespa S. A., que, no
Brasil, com as das sociedades corretoras, detém a responsabilidade
sobre esse mercado. As bolsas de valores, de um modo geral, visam
aos interesses públicos e são formadas por sociedades anônimas de
ações constituídas como entidades jurídicas. Por sua vez, as sociedades
corretoras trabalham com pregões determinados por seus clientes e
negociam títulos e valores mobiliários.

As bolsas de valores funcionam de acordo com a lei da oferta e da


procura e, sempre que isso for possível, priorizam a liquidez dos títulos
negociados, buscando, em função das oscilações diárias do mercado
financeiro, as melhor es precificações para os ativos.

De acordo com Pinheiro (2009), os principais requisitos de uma


bolsa de valores são os listados a seguir:

a. livre concorrência, expressa na forma da diversidade e do número


de participantes;

b. oferta de produtos homogêneos, o que facilitará as contratações;

c. transparência nas operações, condição essencial para que tenham


credibilidade frente aos agentes do mercado.

Das operações de uma bolsa de valores, participam, no mínimo,


três agentes:

• os especuladores, aproveitarão a volatilidade do mercado para


manipular ativos, a fim de auferir lucros em curto prazo;

• os investidores, investirão capital em empresas em empresas


presentes no mercado, a fim de auferir lucros em médio e em
longo prazos;

• os gestores financeiros, que tentam encontrar créditos com os


menores custos, com os melhores prazos e com os menores ricos
associados.
Finanças Corporativas 29

Política Monetária Brasileira


A evolução das atividades econômicas de um país determina o
crescimento dos agentes e, consequentemente, a melhoria dos índices
financeiros nacionais e globais. Assim, forma-se uma economia integrada
e favorável à criação de negócios, sendo impulsionada pela globalização.

A abertura financeira de mercados, necessariamente, é controlada


por normas legais, as quais devem antever a valorização da moeda nacional
frente às moedas estrangeiras e como propiciar esse acontecimento. Aos
mecanismos planejados para valorizar a moeda nacional, damos o nome
política monetária.
Figura5 – Valorização do Dólar

Fonte: Pixabay.

Normalmente, a responsabilidade sobre a política monetária de


um país é de seu Banco Central, que controla os meios de pagamento,
os títulos públicos e as taxas de juros. Isso impactará, de forma direta,
tanto a oferta de crédito no mercado financeiro quanto o custo de sua
contratação.
30 Finanças Corporativas

Com mercados globais, a entrada de recursos que possam ser


utilizados em novas políticas econômica costuma beneficiar todos os
países. Contudo, as crises financeiras apresentam igual tendência de
impactar as políticas monetárias dos países.

A injeção de dinheiro no mercado por parte dos Bancos Centrais,


que pode acontecer por meio da redução das taxas básicas de juros,
pode ser um fator desencadeador de crises econômicas, espelhando-
se por todo o globo terrestre e prejudicando a estabilidade econômica.
Sabe como isso acontece, aluno? Taxas de juros pequenas incentivam o
consumo de bens, o que conduzir a um grande índice de inadimplência,
caso os indivíduos consumam mais do que sua renda é capaz de suportar.
Na sequência, como a inadimplência reduz a lucratividade das empresas,
o governo lhes concede subsídios financeiros para que permanecem no
mercado. Isso aconteceu, por exemplo, em 2008, nos Estados Unidos, e
o que surgiu como uma crise imobiliária nacional se transformou em uma
crise global de enormes proporções.

Em tais cenários de incertezas econômicas, os mecanismos de


gestão da política monetária de um país devem ser revistos, como forma
garantir mais solidez para as operações do mercado. Nesse sentido,
o principal aliado do Estado, das empresas e dos investidores serão
mecanismos de gestão da política monetária que tratem os setores do
mercado de maneira desigual, garantindo-lhe que as suas necessidades
específicas sejam atendidas.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter
compreendido como avaliar e mensurar a necessidade de
alavancagem das empresas, avaliando riscos e benefícios.
Finanças Corporativas 31

PAY-BACK e Métodos de CAPM

OBJETIVO:

Nesta seção, você verá que as operações das empresas


dependem de desembolsos frequentes, ao mesmo tempo
em que a entrada de recursos também é constante. Trata-
se, portanto, do capital de giro e dos seus retornados.

O maior problema da gestão do capital de giro é o fato de os


prazos de pagamentos e de recebimentos tendem a não coincidir, que
pode conduzir as empresas a situações em que deverão arcar com as
obrigações com credores sem terem recebido os valores devidos por
seus clientes, comprometendo então, todo o seu capital de giro.

A partir dos ativos circulantes (recursos financeiros a receber) e dos


passivos circulantes (recursos financeiros a desembolsar), as empresas
conseguem calcular a sua rentabilidade e os seus riscos. Normalmente,
os investidores somente aportam capital em negócios arriscados se a
rentabilidade for atrativa.

Também chamado de capital circulante líquido (CCL), o capital


de giro é o mantém as operações cotidianas das empresas, incluindo
os recursos financeiros necessários, por exemplo, para arcar com as
dívidas com forneceres e com os salários dos funcionários, as quais são
fundamentais para que as instituições funcionem.

Como dissemos, ativos circulantes correspondem ao que as


empresas detêm para financiar suas operações em curto prazo, ao passo
que os passivos circulantes são as dívidas com as quais a empresa deve
arcar em curto prazo, a fim de tornar as suas operações possíveis.

De acordo com Assaf Neto e Lima, (2010), em uma empresa, quanto


maior forem os ativos circulantes em comparação com os passivos
circulantes, maior será sua liquidez, o que garantirá que suas obrigações
sejam pagas em dia.
32 Finanças Corporativas

A administração da liquidez depende de o gestor financeiro


conhecer os ciclos de caixa da empresa:

a. ciclo operacional (CO), que é o período entre a compra dos


insumos e o retorno do investimento;

b. ciclo de conversão de caixa é o período entre o pagamento das


obrigações com fornecedores e o retorno do investimento. Quanto
mais longo for o ciclo de conversão de caixa, maior será o capital
de giro de que a empresa necessitará dispor.

O cálculo do ciclo de caixa avalia duas grandezas: o prazo médio de


renovação de estoques (PMRE) e o prazo médio de recebimento de
vendas (PMRV).

Começaremos por PMRE, cujo cálculo é feito com esta fórmula.

Como modo de compreender a dinâmica do cálculo, suponhamos


que sejamos donos de uma fábrica de automóveis e que focamos o
nosso setor produtivo em apenas um modelo, considerado a sensação
do momento pela imprensa especializada. Como margem de segurança,
adotamos, como saldo médio de nosso estoque, o valor de R$ 15.000,00,
que nos foi apontado, por nosso gestor financeiro, como suficiente para
cobrir os custos produtivos e manter o capital de giro sadio. Entretanto,
surfando na popularidade de nosso modelo de carro, pusemos R$
90.000,00 como o seu valor de venda. Substituindo as variáveis pelos
números que determinamos, teremos o seguinte:
PMRE = 15.000,00 X 360

90.000,00

PMRE = 60 dias

Por sua vez, o cálculo do PMRV depende do valor total a ser


recebido de um cliente, cuja notação será VTC; do prazo concedido para o
pagamento, cuja notação será PP; e do valor da receita bruta da empresa,
Finanças Corporativas 33

cuja notação será VRB. A seguinte fórmula indica como as variáveis devem
ser relacionadas.

Retomando o nosso exemplo da fábrica de carros, imaginaremos,


desta vez, que um único cliente, que deseja montar uma frota de carros de
aluguel arrojada, adquiriu 120 de nossos carros da moda a R$ 90.000,00
por unidade, solicitando, em troca, um prazo de 180 dias para quitar a
dívida. Assim, consultamos nosso gestor financeiro e descobrimos que a
nossa renda bruta, no período de 180 dias, seria de R$ 10.800.000,00, que
equivale à venda de 120 carros. Substituindo as notações pelos números
que adotamos, teremos o seguinte.

PMRV = 10.800.000,00X 180

9.000.000

PMRV = 216

Sendo assim, de acordo com os números que obtivemos, CCO será


calculado da seguinte forma.

CCO = PMRE + PMRV

CCO = 60 = 216

CCO = 276

Portanto, levará 276 entre a compra dos insumos e o retorno do


investimento.

Por sua vez, O CCC é encontrado por meio da seguinte fórmula.

Já aprendemos a calcular CO. Mas e o PMPF? Você se lembra


como é calculado? PMPF demandará que conheçamos o valor a ser pago
aos fornecedores, cuja notação será VPF; o período compreendido pela
análise (PA), que será igual ao concedido ao cliente que comprou dez de
nossos carros (180 dias); e o montante de compras, cuja notação será MC.
Resulta, da organização dessas informações, a seguinte fórmula.
34 Finanças Corporativas

Começaremos a esmiuçar a fórmula por MC. Para isso, teremos de


descobrir o custo das mercadorias vendidas (CMV), o estoque inicial (EI)
e o estoque final (EF), visto que o cálculo de MC corresponde à fórmula
seguinte.

Retomando o exemplo da fábrica de automóveis, no início dos 180


dias, tínhamos um EI de 60 carros, gastando, para produzir cada carro, R$
12.000,00 com fornecedores. Sendo assim, o nosso EI era estimado em
60 X 12.000, que equivale a R$ 720.000,00.

Porém, como acompanhávamos a demanda crescente por nosso


modelo de carro, compramos (C) R$ 960.000,00 em insumos, prevendo
que precisaríamos desses materiais à mão. Sendo assim, ao fim dos 180
dias, havíamos produzido – na verdade, convertemos R$ 960.000,00
em insumos em R$ 960.000,00 em carros – 80 carros, ao passo que
totalizamos 120 carros vendidos (R$ 1.440.000,00): tínhamos 60 em
estoque, produzimos 80 e vendemos 120, restando-nos 20 carros em
estoque (R$ 240.000,00). Organizando essas informações, conseguimos
construir a seguinte fórmula.

Substituindo as notações pelos números que adotamos, teremos


o seguinte:

CMV = (720.000 + 960.000) – 240.000

CMV = 1.440.000,00

Como o valor de CMV em mãos, podemos substitui-lo na fórmula


de MC.

MC = (1.440.000,00 + 720.000) – 240.000

MC = 1.920.000
Finanças Corporativas 35

Agora, sabemos que MC equivale a R$ 1.920.000,00 e podemos


passar à fórmula de PMPF. Retomando o que vimos há pouco, PMPF
observará o valor a ser pago aos fornecedores (VPF = 960.000); o período
compreendido pela análise (PA = 180 dias); e o montante de compras (MC
= 1.920.000).

PMPF = 960.000 X 180

1.920.000

PMPF = 90

Assim, aplicando a fórmula anterior, temos o seguinte.

CCC = CO – PMPF

CCC = 276 – 90

CCC = 186

Portanto, nessa situação, o período entre o pagamento das


obrigações com fornecedores e o retorno do investimento dura 186 dias.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos
resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido
como aplicar os métodos do pay-back e CAPM para avaliar
o resultado de investimentos nas empresas.
36 Finanças Corporativas

Análises de DRE como Ferramenta


Financeira

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


como utilizar as DRE – Demonstrações de Resultados do
Exercício como ferramenta de análise e avaliação financeira
de uma empresa. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!.

A estrutura de capitais de uma empresa dependerá da proporção


dos recursos de terceiros em relação aos recursos próprios. Nesse
sentido, costuma ser classifica em ruim, em razoável e em boa.

Quando o ativo fixo de uma empresa é financiado, em sua totalidade,


por recursos próprios e, apesar disso, sobram recursos financeiros para
serem utilizados como capital de giro, dizemos que a sua estrutura de
capital é boa. Temos um exemplo dessa situação na Figura 5.
Figura 5 – Estrutura de capital boa

PASSIVO CIRCULANTE

ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE

ATIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Fonte: Assaf Neto e Lima (2010).


Finanças Corporativas 37

Por outro, há empresas cujos ativos de longo prazo são financiados,


parcialmente, por capital de terceiros, sobrando recursos financeiros para
serem utilizados como capital de giro. Temos um exemplo dessa segunda
situação, conhecida como estrutura de capitais razoável, na Figura 6.
Figura 6 – Estrutura de capitais razoável

PASSIVO CIRCULANTE
ATIVO CIRCULANTE

PASSIVO CIRCULANTE

ATIVO NÃO CIRCULANTE

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Fonte: Assaf Neto e Lima (2010).

Por fim, existe a possibilidade de os recursos próprios de uma


empresa não darem conta do financiando dos ativos de longo prazo (ativos
não circulantes) e, por isso, serem menores do que os investimentos de
terceiros. Nesse casp, teremos uma estrutura de capitais ruim, como
indica a Figura 7.
Figura 7 – Estrutura de capitais ruim

PASSIVO CIRCULANTE
ATIVO CIRCULANTE

PASSIVO CIRCULANTE

ATIVO NÃO CIRCULANTE

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Fonte: Assaf Neto e Lima (2010).


38 Finanças Corporativas

O índice de participação de capitais de terceiros revelará, então,


qual é a proporção de recursos de terceiros em relação ao capital próprio.
A equação utilizada para obtê-lo é a seguinte.

Normalmente, para que a situação de uma empresa seja boa, esse


índice deverá ter resultado em um número pequeno, visto que apontará
que o uso de recursos próprios é maior do que o terceiros. Nessa situação,
temos o uso de uma modalidade de capital menos onerosa.

Dois dos indicadores mais utilizados pelos analistas de mercado


e pelos acionistas, rentabilidade e lucratividade indicam diferentes
informações a respeitos dos retornos obtidos pela empresa:

• rentabilidade indica qual será o lucro dos investidores com base


nos valores investidos, considerando, também, o volume de ativos
que da empresa.

• lucratividade é a participação do lucro líquido, em determinação


exercício, na composição dos retornos obtidos, considerando,
proporcionalmente, o volume de vendas.

Caso a taxas de lucratividade e/ou de rentabilidade de uma empresa


sejam ruins, a tarefa de obter capital de terceiros se tornará complicada,
visto que são os indicadores que, em geral, definem se os investidores
aportarão ou não capital em determinado negócio.

Ebitda, sigla de earnings before interest, taxes, depreciation and


amortization, observa a geração bruta operacional de lucro. Para isso, por
um lado, é necessário avaliar somente os resultados das operações; e,
por outro, é necessário somar as depreciações e as amortizações ao lucro
operacional.

A função do Ebitda é verificar se os ativos operacionais geram caixa.


Por ignorar as despesas e as receitas operacionais, adotando somente os
resultados operacionais que influenciam o caixa da empresa diretamente,
é tomado, pelos analistas financeiros, como um dos melhores indicadores
Finanças Corporativas 39

do seu tipo. No rol de receitas e de despesas operacionais ignoradas,


dentre outras, estão estas:

• Resultado de equivalência patrimonial.

• Imposto de Renda.

• Amortização.

• Contribuição Social Sobre o Lucro.

• Exaustão.

• Despesas operacionais não rotineiras.

• Depreciação.

Em resumo, o Ebitda é o valor obtido após os descontos das


depreciações e das amortizações do lucro operacional. Deve ser suficiente
para o pagamento de juros e dos impostos sobre o lucro e ainda distribuir
lucros ou dividendos.

Com a constante necessidade de aprimorar os dados gerencias das


organizações, principalmente em época de concorrência acirrada, alguns
pesquisadores e consultores de empresas norte-americanas começaram,
há muito tempo, a divulgar um método alternativo de medida de
desempenho e de resultado.

Esse método, chamado de valor econômico, é fundamental para


a apresentação de informações gerenciais, vista a pouca utilizada da
contabilidade financeira nesse sentido, por se basear demais em valores
vinculados ao custo histórico. O valor econômico não é novidade como
medida de desempenho, tendo aparecido, no cenário corporativo, em
1920, no âmbito da General Motors Corporation.

Sob uma perspectiva ampla, a metodologia conhecida como EVA®


nos permite identificar duas funções importantes:

1. instrumento de mensuração de valor;

2. ferramenta de gestão.

O EVA® ajuda gerentes a transformar suas estratégias em um


conjunto de ações que possam maximizar o valor da empresa. De acordo
40 Finanças Corporativas

com Assaf Neto e Lima (2010), trata-se de uma fórmula simples em que
o custo do capital empregado pela empresa tem papel fundamental. A
maioria das empresas usa o capital próprio como se não tivesse custo
e, por isso, não lhe dá um valor contábil apropriado. Essa é, de fato, uma
das grandes diferenças entre os conceitos de lucro contábil e de lucro
econômico.

Dessa maneira, uma das contribuições mais importantes do índice


EVA® foi trazer à luz o fato de que o capital próprio tem um custo,
embora não tão aparente quanto o custo de capital de terceiros. Para
obter sucesso na competição pelos recursos escassos do mercado de
capitais, a empresa deve oferecer, para seus acionistas, no mínimo, um
retorno igual ao de outros investimentos. Isso significa, portanto, que não
basta ter lucro líquido positivo e certo nível de lucro por ação. Para muito
além disso, a empresa precisa ganhar o suficiente para cobrir o custo do
capital de terceiros e o custo de oportunidade do capital próprio antes de
começar a criar valor.

RESUMINDO:

Qualquer organização utiliza recursos financeiros para


suprir suas despesas e seus custos operacionais. Muito
se discute sobre a apuração do lucro, porém, para que o
resultado alcançado seja satisfatório durante o exercício
financeiro, a empresa precisa dispor, frequentemente, de
recursos para administrar o processo operacional.
Finanças Corporativas 41

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