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Aluno: Arthur Tinoco

Resenha - “Um Sonho Intenso” (2015)

O documentário “Um Sonho Intenso”, dirigido por José Mariani, aborda uma grande
reflexão sobre o processo de desenvolvimento ocorrido no Brasil desde o início do século XX
até o século XXI. A película conta com uma grande quantidade de especialistas em economia
brasileira e em história, contando com nomes como Carlos Lessa, José Murilo de Carvalho,
Adalberto Cardoso, Celso Amorim, João Manuel Cardoso de Melo, Maria da Conceição
Tavares, Francisco de Oliveira, José Augusto Ribeiro, Lena Lavinas e Ricardo Bielschowsky.
Durante todo seu tempo de exibição (aproximadamente 1h50m), ouvimos os entrevistados
acerca das decisões dos governos e partes envolvidas no longo processo desenvolvimentista
brasileiro. É interessante notar que a maioria dos entrevistados pelo documentário são mais
ligados à esquerda brasileira, o que é confirmado em algumas situações. Mesmo assim (ou
talvez por causa disso), os envolvidos não se privam de fazer críticas ao governo Lula ou ao
PT, como por exemplo Francisco de Oliveira dizendo que o partido é “nacionalista do grande
empresário”. O documentário é feito em ordem cronológica, abordando o período dos anos 10
do século passado inicialmente, tratando sobre a chamada “república das Bananas”. Para Lessa,
o Brasil não era uma república das bananas, pois todo o capital envolvido, seja pelas ferrovias,
pelos portos, pelos produtores e pelo escoamento, era capital interno, financiado pelas
oligarquias brasileiras. E isto é um ponto interessante do início do século para o país: por conta
da grande participação do capital interno, as oligarquias governavam apenas para si mesmas,
com os governos se preocupando mais com câmbio, empréstimos e incentivos à economia
cafeicultora, não necessariamente a população em geral. Adalberto Cardoso diz que “até 1930,
não havia existido um governo que se preocupasse com o povo em si, apenas em economia das
elites.”, o que é algo repercutido e se prova constante no Brasil durante quase todo o século
XX. A virada no modelo de economia praticado no Brasil se dá durante o primeiro governo de
Vargas, a partir de 1930. Vargas tinha ideias muito arraigadas sobre o desenvolvimento da
chamada “indústria pesada” no país, que abrange (principalmente) aço, petróleo, química
pesada e energia elétrica. indústria leve já existe antes de 30, indo para o lado cafeeiro. Após
30, a burguesia paulista começa a pesar mais. E isso permite que o Brasil comece a se
industrializar. Por conta da participação brasileira na Segunda Guerra, Vargas negocia com os
EUA para manter o preço dos produtos exportados pelo Brasil (Minério de Ferro, Manganês,
Café, Açúcar e Borracha) a um custo menor do que o esperado, em troca da construção da CSN
em Volta Redonda, ao final da guerra. Por conta das alianças que eram necessárias no período,
a associação de Vargas com as antigas oligarquias levava o Brasil a um estranho estado de
desenvolvimento elevado em alguns aspectos e um atraso arcaico e conservador em outras.
Isso se dá pela aliança engenhada por Vargas entre as elites oligárquicas e os setores urbanos
modernos. Depois de uma rápida tentativa liberal com o governo Dutra, onde os planos de
Getúlio foram temporariamente suspensos, o segundo governo Vargas priorizava a criação de
não apenas as indústrias, mas também de todo o arcabouço institucional, que foi fundamental
para o projeto urbano-industrial que foi traçado durante a segunda metade do século XX.
Vargas também escolhe, já em seu segundo mandato, por um modelo rodoviário de integração
do país, bem como a estatização do petróleo, via Petrobras e com o financiamento de obras de
infraestrutura internas, com investimento pesado em energia elétrica. Apesar de ser
considerado o pai do desenvolvimentismo no Brasil, não é verdade que a indústria pesada
começa em 1955 com JK. Ela é iniciada por Vargas, com a construção da FNM (Fabrica
Nacional de Motores) e a Alcalis (química Pesada), além da Petrobras, nos anos de 1951 até
1954.

No entanto, o desenvolvimento do país durante o governo de Juscelino é muito


acentuado. O projeto de Brasil idealizado por Vargas e continuado por JK envolvia o famoso
“tripé” econômico, aonde o capital estrangeiro e o capital nacional estavam associados ao
capital estatal para garantir a industrialização. O projeto de JK consegue juntar todos os setores
políticos (a direita, os comunistas, o PTB) debaixo do projeto de industrialização,
aprofundamento do capitalismo e enriquecimento do país o que é tratado pelos especialistas
como “espantoso”. O problema, de acordo com Conceição Tavares, é que o desenvolvimento
cresce junto com o subdesenvolvimento do país. O país reproduzia o subdesenvolvimento à
medida que o país se desenvolvia, pois, este desenvolvimento era voltado para as classes
médias. O programa desenvolvimentista brasileiro foi uma modernização conservadora, nas
palavras da economista, o que atrasava consideravelmente a possibilidade de se pensar em um
Brasil coeso e estruturado, levando a divisão entre “os dois Brasis: o do sudeste e o do norte e
nordeste”. O desenvolvimento pregado por JK levava também a um aumento acentuado da
inflação, por conta dos gastos com a construção de novas estradas e também com a construção
da nova capital, Brasília. A inflação no governo de JK era de cerca de 30%, o que era muito
mais alto que nos governos anteriores. Durante o (breve) governo de Jânio em 1961, por conta
do plano de maxidesvalorização cambial, a inflação cresceu para 50%. Jânio teria tentado
acalmar os conservadores com uma economia interna ortodoxa, e aos progressistas com a PEI.
No entanto, isso causou um desgaste extremo com os dois lados e causou sua renúncia.

Ao longo do documentário, também é feita uma análise sobre os anos da ditadura e


como se comportavam do ponto de vista econômico. Para eles, algumas realizações do
governo democratico foram estendidas aos governos ditadores, como foi por exemplo as
reformas do Estado do Plano Trienal, do governo de Jango. Apesar disso, esse
desenvolvimentismo autoritário (como afirma Carlos Lessa) liberou a movimentação de
capitais, deixando o país vulnerável ás crises externas, as vezes se resultarem em crises
cambiais. Nos governos de Collor e FHC, por sua vez, são apontadas diversas críticas sobre a
venda das estatais, dentro de um discurso de aumentar a eficiência das empresas. Temos como
um exemplo dessa história a venda da Vale da Rio Doce, por 3.38 bilhões de reais, venda esta
de uma empresa altamente eficiente. Nesse sentido, podemos observar que em nada a eficiência
estava em pauta, mas sim o movimento do capital financeiro, como apontou Luiz Gonzaga
Belluzo. Conclui-se que o desenvolvimento brasileiro na realidade foi uma modernização
conservadora, pois em nada diminuiu as desigualdades, aumentando o abismo entre a elite e os
mais pobres.

Passando pela era Lula, destaca-se o momento que Adalberto Cardoso chama de Sonho
de Vargas, por ter o povo no poder. "Vargas disse: Um dia vocês erão o governo. [...] E o Lula
é a concretização deste projeto". Neste momento, vemos a incorporação dos pobres no
consumo, além da valorização do salário mínimo e da expansão de crédito. No entanto, o
período atual, do governo Bolsonaro, volta-se a modernização conservadora, com reduções de
direitos trabalhistas, venda de estatais (como a Embraer) e diminuição do poder de compra do
salário mínimo. Nesse sentido, o governo Bolsonaro é próximo dos governos anteriores ao de
Lula, mantendo o status quo que vêm desde o período inicial de nossa modernização.

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